SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 60
Baixar para ler offline
1
2
MEDIAÇÃO ESCOLAR DE PARES
Semeando a paz entre os jovens
Corinna Schabbel, Ph.D.
Willis Harmann House
Lançamento: outubro 2002
3
DEDICO ESTE LIVRO
A Cynthia e Victor, meus filhos
Representando todos os jovens deste País
In Memorian
Libby Douvan, Ph.D.
4
AGRADEÇO
O texto que ora trago ao público é parte do que foi originalmente produzido como
tese de doutorado, apresentada ao programa Human and Organizational Development do
Fielding Institute em Santa Bárbara, Califórnia.
É o resultado de um trabalho conjunto. Sem o bom-humor, a ironia e as
provocações reflexivas de meu mentor Lenneal Henderson, Ph.D. de meu co-orientador
Barnett Pierce, Ph.D. não chegaria às conclusões que agora apresento.
Como este trabalho é uma construção coletiva em um momento e lugar, minha
especial gratidão aos alunos e professores que participaram da pesquisa e me permitiram
entrar em seus territórios e desvendar suas realidades, tornado-se os alicerces e motivo de
minha construção.
5
PRÓLOGO
Todo livro tem uma história e uma razão para ter sido escrito. As razões que me
levaram a escrever este livro estão ancoradas em meu próprio processo de aprendizagem
enquanto mulher, mãe, professora e cidadã preocupada com o futuro de nossos jovens.
Em 1997conheci Sara Cobb que me convidou a fazer o doutorado no Fielding
Institute na Califórnia. Fui aprovada em Janeiro de 1998 para o programa Human and
Organizationa Development (Desenvolvimento Humano e Organizacional). Participar do
programa provocou uma ruptura em minha maneira de pensar e ver o mundo. Desde então,
vivo em crise intelectual. Há muitos anos sentia-me insatisfeita com o mecanicismo no
domínio da Psicologia e da Educação e nunca conseguira me deparar com um texto, um
autor ou uma escola que o substituísse. Nas minhas andanças e pesquisas bibliográficas
para desenvolver o tema que havia escolhido para o meu trabalho de doutorado, comecei a
encontrar a resposta para o meu dilema ao estudar Humberto Maturana, Francisco Varella e
Ludwig Wittgenstein. Fiquei entusiasmada ao ler seus escritos e por encontrar no Fielding
interlocutores provocadores e apreciativos para com meus questionamentos e minhas
dúvidas. Aos poucos, senti-me mais confiante e incentivada por um grande amigo,
Bradford Keeney, terminei o doutorado, perseverei as leituras sobre os novos paradigmas e
acrescentei muitas leituras sobre espiritualidade e etnografia. Num misto de encantamento
e desânimo por não ter tempo suficiente para ler todas as pilhas de papéis e livros que me
esperavam a cada fim-de-semana, viví algumas crises importantes e uma certa confusão
mental... era o próprio exemplo do caos. Como depois do caos vem uma nova ordem,
comecei a perceber a importância das novas idéias em minha vida pessoal e profissional.
Desde o meu primeiro livro, quando me propus a retomar a holística, perdida no
emaranhado da vida contemporânea, percebi que buscava novas idéias para a minha
atividade profissional. Foi quando ocorreu me encontro com a mediação. O que havia
aprendido quanto à teoria e às técnicas de psicoterapia não me traziam a satisfação esperada
no trabalho com as pessoas em conflito. Havia um espaço a ser preenchido, meu modelo
mental estava incompleto o que passou a me afligir em muitos momentos, inclusive no
trabalho. A resposta à minha angústia veio através de uma observação feita por minha filha
6
e, alguns dias depois pelo meu filho: “Mãe, você é séria.” Fiquei chateada e tive um
insight. A razão, uma idéia subversiva em nossa sociedade que teve sua origem em Platão,
colocou na sombra, durante séculos, a verdadeira origem dos fenômenos humanos: o amor.
Falo aqui do amor enquanto domínio emocional humano assim como o conhecer é o
domínio cognitivo do homem. Passei a compreender a dimensão do amor em um seminário
com Vittorio Guidano. Para ele, há que se entender o amor como o espaço emocional onde
vivem os “animais intersubjetivos” como o homem sendo que no espaço intersubjetivo o
que conta são os encontros e desencontros, o apego e a separação das figuras significativas
em nossas vidas. Trata-se de transformar o homo sapiens em homo psicologicus, um ser
sintonizado com os outros ou simplesmente pessoas em relação.
Nas ciências, durante muito tempo, o amor foi dissociado da evolução. Pensar,
sentir e agir estudados de maneira dissociada foram de suma importância para se
compreender os fenômenos humanos. Porém, para se compreender os fenômenos humanos
em nosso mundo contemporâneo implica em valorizar relações baseadas no amor. A partir
de relações interpessoais mais amorosas, cada um de nós tem maiores possibilidades de
transcender a arrogância e a solidão, tornando-nos seres mais solidários.
Com este trabalho pretendo acreditar mais no sorriso da criança. Ao nascer, somos
emoção e nela investimos para estabelecer relações de amor com outros seres humanos e
aprender o valor dos vínculos afetivos e sua permanência em nossas vidas.
Pretendo também acreditar mais nos jovens e em suas reflexões como fontes
valiosas para a origem de uma nova consciência moral profundamente enraizada nos afetos.
Assim, ao acreditar na criança e no jovem, o papel do educador inclui o
desenvolvimento de uma cultura do diálogo, do respeito, do consenso e da paz num
ambiente escolar onde todas as pessoas - alunos, professores e administradores - tenham a
disponibilidade para aprender habilidades que lhe sirvam para evitar enfrentamentos
inúteis, bem como para reparar de maneira pacífica os relacionamentos desgastados ou
deteriorados.
A difusão de conceitos como responsabilidade social e voluntariado nas escolas
trouxeram experiências pioneiras para adolescentes integrando-os com a comunidade
consigo. A implantação de programas de mediação nas escolas irá contemplar jovens e
educadores com as possibilidades de diálogo mais conscientes.
7
Espero com esta obra, semear a mediação escolar não como mais uma técnica da
moda, mas sim como um processo de aprendizagem dirigido a tratar conflitos de maneira
pacífica onde nossas crianças e jovens aprendam que a escuta, o respeito mútuo, a
tolerância, a cooperação e o diálogo são aspectos naturais das relações entre pessoas que
convivem em sociedade.
8
SOMOS SERES EM RELAÇÃO
Pessoas e grupos sociais se relacionam através da comunicação. A partir da
revolução cibernética a linguagem deixa de ser tão somente um sistema semântico e
sintáxico passando a fazer parte do rol de comportamentos humanos. Linguagem é ação e
como tal dá ênfase emocional ao conteúdo da conversação, aproxima ou afasta pessoas.
A criança ao aprender sua língua materna está aprendendo uma forma de vida
começando a fazer parte de um sistema de práticas compartilhadas. A aprendizagem ocorre
através do diálogo permitindo que o conhecimento seja assimilado de acordo com a
estrutura e visão de mundo do aprendiz. Em outras palavras, o conhecimento adquirido no
espaço social da escola favorece a reflexão e a cooperação, facilita a mudança e o
crescimento. A educação por sua vez, se constitui em um processo dialógico contínuo
baseado nas experiências primárias onde família, escola e comunidade são os agentes
externos que auxiliam na organização dos pensamentos, das emoções, dos processos
intelectuais a partir da experiência imediata. Para que os alunos se sintam confortáveis no
espaço da escola, o professor ao ser receptivo permite que o aluno se aproxime para que
juntos criem e recriem uma caminhada formadora baseada na solidariedade e no respeito
mútuo.
A comunicação oral e corporal amplia as fronteiras pessoais, permite a expressão, o
aprendizado e a socialização. A linguagem enquanto processo interativo constrói espaços
compartilhados de pessoas em relação que, para Maturana, tem uma função criadora, não
enquanto filosofia, mas como uma forma existencial e biológica, uma condição do ser
humano.
Para Wittgenstein o aprendizado da linguagem se dá a partir dos jogos de
linguagem que permitem o desenvolvimento da habilidade de comunicação em um
contexto estruturado. Os jogos de linguagem formam os significados que vão além de sua
referência prévia, uma vez que são destituídos de essências absolutas. A atividade social é
que imprime um significado às palavras. Para conhecer a linguagem é preciso desenvolver
a capacidade de penetrar em várias redes de convenções que formam a base da
intersubjetividade e comunicação significativa e participativa entre pessoas.
9
Viver em relação implica na construção de um conhecimento de nós
mesmos e do mundo circundante a partir de atividades sociais nas quais se criam e recriam
diferentes categorias da experiência como o verdadeiro ou o falso, o real ou o irreal, o
certo ou o errado, o subjetivo ou o objetivo, a vivência e a explicação e assim por diante. O
cotidiano relacional é construído a partir da percepção EU-OUTRO, flui na emoção e na
linguagem, torna possíveis os encontros entre pessoas se constrói visões de ser, pertencer
e relacionar.. Também interferem nas relações sociais as mudanças de significado
ocorridas no contexto, como mudanças do perfil demográfico, a competitividade social e a
diversidade de modelos de família, mudanças que desafiam, a cada instante, crenças,
comportamentos, moral e sentimentos os quais, embora apareçam como que
desvinculados de uma época histórica estão profundamente enraizados nos mitos e crenças
sociais e familiares.
A concepção circular dos fenômenos sociais, a visão de seres humanos enquanto
sistemas estruturalmente determinados pressupõe que o humano se constitui no
entrelaçamento do racional com o emocional e espiritual e expressa-se no fazer humano.
Compreendendo melhor os significados compartilhados pelos jovens, a dinâmica do
discurso, bem como as emoções a ele subjacentes, instrumentos de cunho artesanal que
incluem o brincar ( onde as regras emergem a cada momento), o jogar ( onde as regras são
pré-estabelecidas) e o aprender (assimilação e acomodação de conteúdos) onde se inclui a
participação de educandos e educadores, privilegia o auto-conhecimento e o diálogo.
Se através da comunicação nos aproximamos uns dos outros também é pela
comunicação que nos afastamos. A partir de um afastamento, cria-se um espaço fértil para a
divergência e para o conflito. Professor e alunos compartilham a sala de aula enquanto
espaço social de aprendizagem e interação. É parte do mundo existencial de relações de
cada um. As divergências que surgem em sala de aula entre professor e aluno ou entre
alunos são freqüentes e, na maioria das vezes, o professor não é bem sucedido na sua
tentativa de resolver a questão. Assim, ao invés de incentivar o diálogo, incentiva-se a
discussão, uma segunda forma de discurso. Na discussão a questão pode ser analisada e
dissecada pelos participantes, mas a regra do jogo é vencer e, nesse caso, a idéia ou visão
de um dos participantes irá prevalecer e será aceita pelo grupo. Em contrapartida, no
10
diálogo os participantes exploram a questão para chegar a resultados comuns que vão além
de suas visões individuais.
Dialogar é explorar, participar e aceitar as incoerências de nosso pensamento.
Enquanto a discussão busca um acordo ou uma conclusão, o diálogo busca uma
compreensão maior da questão ou uma síntese. No âmbito da pragmática da comunicação
humana, tanto o diálogo quanto a discussão co-existem e são necessários para tomada de
decisões e para se chegar a um consenso. Também fazem parte do processo de
comunicação a indagação e reflexão. Na indagação estamos em interação direta com outras
pessoas para esclarecer dúvidas, buscar informações adicionais, ou seja, fazer perguntas
para aumentar nosso conhecimento sobre a questão. Refletir significa desacelerar nossos
pensamentos, evitar “castelos de areia” e concentrar-se na questão. Quando um grupo é
convidado a tomar uma decisão ou analisar uma questão importante, é preciso haver
discussão, porém pautada na reflexão e não na emoção. Ponderam-se visões alternativas
que levam à convergência e à ação. Quando o grupo é convidado a desenvolver um projeto,
resolver um impasse, os diálogos são adequados para uma compreensão mais ampla do
assunto. Não se busca um acordo ou conclusão, mas a transformação pela reflexão de
maneira que novas ações surgem como conseqüência.
Os resultados de uma pesquisa realizada com alunos regulares de um curso
profissionalizante (rapazes e moças) mostraram que os jovens estão muito preocupados
com o macro-contexto social e conversam em grupos a respeito o que facilita a educação
para a cidadania, já que compartilham as preocupações dos familiares e educadores no que
se refere às condições sócio-econômicas atuais. Assim sendo, torna-se possível
implementar nas escolas programas que permitam a esses jovens desenvolverem redes de
conversações e reflexão para minimizar e prevenir os conflitos escolares. A partir de uma
nova consciência social, menos dogmática, a resolução de controvérsias e conflitos se dará
a partir de idéias orientadoras de senso coletivo enfatizando a noção de que todos são
responsáveis pela sua comunidade contemplando o auto-respeito e a integração que
minimiza situações conflitantes já que somos como somos em congruência com nosso meio
e que nosso meio é como é em congruência conosco. ( Maturana).
Trabalhar com adolescentes tem sido uma tarefa gratificante sempre cheia de
surpresas e questionamentos. Durante o período em que preparei o material de campo para
11
o doutorado e, posteriormente, ao investigar a viabilidade de se tornarem mediadores,
tenho me deparado com os desencontros havidos ao se tentar definir o jovem e o adulto
contemporâneos. Os conflitos entre gerações são alvo tanto da ciência quanto da arte
deixando marcas indeléveis em nossa memória quanto à provocação dos mais jovens, sua
irreverência, suas crenças arraigadas em um modelo político melhor, suas paixões
desenfreadas e sua falta de limites. Quantas mudanças sociais e políticas podem ser
creditadas a eles? Muitas, em muitos lugares, em épocas diferentes. Nas últimas décadas o
significado de ser jovem ou manter-se jovem vem mudando à medida que juventude vem
sendo vendida como uma espécie de mercadoria, inclusive, em prateleiras de
supermercado.
A cultura jovem é hoje praticada por pessoas de todas as idades o que vem
dificultando a identificação dos jovens a partir de um determinado padrão de consumo,
comportamento ou valorização de determinados signos como sendo um referencial ou
significado dos adolescentes de nossa sociedade. Como entender o significado social do
ser jovem associada à indecisa condição de ser adolescente?
A adolescência, classicamente definida como um estado de rebeldia, revolta,
transitoriedade, turbulência emocional, tensão, ambigüidade e inquietude podem ser
resumidas em um único conceito: necessidade de mudança. Para mudar provocam o caos
em suas próprias vidas e nas vidas de quem com eles convive. Aos poucos, reorganizam-se
e ingressam no mundo adulto cheios de vontade de vencer e serem bem-sucedidos através
de suas próprias escolhas. Assim, entre encontros e desencontros consigo mesmo e com o
outro, vão encontrando e desenvolvendo sua identidade a uma velocidade incrível em
virtude dos recursos tecnológicos que têm à disposição para acessar todo e qualquer tipo de
informação, tornam-se práticos-reflexivos obedecendo ao ritmo de seu tempo interior e
biológico. Muitos colocam a paciência de seus pais, professores e demais adultos
pertencentes à sua rede social à prova pois – na visão dos adultos - sempre têm uma
exigência a fazer, são vistos como mal-agradecidos, vestem-se de forma inadequada,
ostentam hábitos aborrecidos, recusam-se a comunicar-se de forma inteligível e assim por
diante. Aos próprios olhos, estão sendo totalmente naturais e adequados.
12
Se professores e diretores de escola ouviram com reservas a proposta da mediação
de pares, a maioria do grupo consultado (67,4% dos entrevistados) ficou entusiasmada com
a possibilidade de aprenderem a negociar. Ter recursos mais eficientes para resolver seus
próprios problemas e questões e ainda poderem ajudar colegas em situação mais difíceis
poderia também ajuda-los nas relações com os irmãos e com os pais. Também salientaram
a importância dos professores criarem em sala de aula um clima adequado tentando
conversar mais e utilizar menos o uso coercitivo, impositivo ou repressivo de sua
autoridade e também parar de ameaçar com castigo e sanções. Segundo os alunos, os
professores que mais gostam são aqueles que mantém a disciplina da classe na base da
conversa e da participação de todos na aula.... um tipo de aula onde todos podem se expor
sem vergonha ou medo de errar.
Quanto aos professores, muitos se sentem despreparados para mudar a rotina das
aulas, pois em muitas escolas, faltam ferramentas pedagógicas e, quando as têm, faltam-
lhes técnicas eficientes para ensinar aos alunos para que sejam os protagonistas na busca
de solução aos problemas e conflitos que surgem em sala de aula. Acabam utilizando
métodos coercitivos e punitivos que não resolvem, apenas transferem o problema para o
coordenador ou para a diretoria da escola.
A mediação enquanto um processo de comunicação possibilita-nos considerar a sua
aplicação no âmbito da escola como algo mais pretensioso não redutível à mera solução dos
conflitos intra-escolares. Refiro-me aqui à necessidade da prevenção e não apenas à solução
destes.
Essa possibilidade existe à medida que entendermos ser possível implementar a
mediação não apenas como uma técnica e sim um método pedagógico, válido para todos os
atores sociais do sistema educativo: pais, alunos, docentes, diretores, administradores, etc.
Um método baseado na escuta, na aceitação, na compreensão e no respeito por todos os
membros do sistema. Este enfoque prioriza a formação participativa, o compromisso social
e o protagonismo cidadão em prol de uma educação que tenha por meta formar jovens
comprometidos com a sua realidade familiar, social, política, econômica e cultural.
A mediação compreendida como um método de ensino irá privilegiar a
comunicação interpessoal em todos os níveis, possibilitando a reflexão e o pensamento
13
complexo. Sob esta ótica a mediação escolar, neste princípio de século XXI, nos permitirá
conhecer e compreender melhor o outro com vistas ao respeito e à igualdade de
possibilidades para todos os participantes do sistema educativo que dará à escola mais uma
função: a capacitação social de seus alunos e sua família e uma educação voltada para
valores e uma distribuição mais eqüitativa de poder.
14
CONVERSAR
Cada um de nós participa durante toda a vida de uma trama interpessoal e cria um
modelo particular de equilíbrio no qual nos sentimos confortáveis e que constitui um
padrão de referência. Este padrão de referência é determinado pela hereditariedade e
experiência. Sempre que nos afastamos significativamente do ponto ideal de equilíbrio,
procuramos agir de maneira à retornar à situação de equilíbrio que nos é familiar.
Experiências passadas, o momento presente, pensamentos e sentimentos ativam-se
ao conversarmos com colegas, amigos e até mesmo com desconhecidos. A troca de
expressões como “Oi, como vai?”, “ Que bom te ver aqui”, “Puxa, você está resfriada de
novo, porque não vai ao médico?” “ Parabéns pelas sua redação” são comuns em nosso
cotidiano e, quase sempre, não nos damos conta de sua complexidade quanto à formação de
nossa rede de relações e a qualidade da comunicação que estabelecemos com nossos
interlocutores. Relações recíprocas proporcionam experiências prazerosas, fonte de nutrição
emocional, oportunidade de compartilhar lembranças, histórias e experiências.
Não podemos negar a presença do outro em nossas vidas e nós não podemos negar
nossa habilidade para escolher com quem queremos coexistir e compartilhar experiência.
Ambas as ações ocorrem no meio social e na dinâmica de ser com os outros.
Nas escolas, as diferentes atividades pedagógicas, lúdicas e desportivas incentivam
e despertam os interesses das crianças e jovens. Cada um deles se manifesta a partir da
ativação das expectativas sobre a probabilidade de alcançar o objetivo de forma que as
cognições e as emoções associadas evoquem um certo grau de motivação para a realização
da tarefa. Estas, ao eliciar ansiedades associadas a fracasso e/ou sucesso determinam a
ação e, conseqüentemente, a qualidade da comunicação usando expressões particulares
ligadas a valores, suposições e preferências já aprendidas anteriormente.
Em termos genéricos, pode-se considerar uma boa comunicação aquela pautada no
respeito mútuo Para se estabelecer um padrão de conversação criativo é importante saber
ouvir o que implica em respeitar tanto as próprias idéias quanto as idéias do outro,
estabelecendo-se um jogo de ganhos mútuos.
15
Vejamos alguns exemplos de hábitos que desenvolvemos ao longo da vida e que
prejudicam uma comunicação completa tornando-se barreiras e bloqueando o surgimento
de novos significados. Julgar, precipitar soluções e ignorar as preocupações do interlocutor
são as barreiras mais comuns. Eis alguns exemplos:
CRITICA: “Bem, você mesmo criou esta situação, se vira”
DESQUALIFICAÇÃO: “Você é estúpido mesmo”
DIAGNÓSTICO: “Você só está dizendo isto porque se sente
culpado.”
Estas respostas são julgamentos que fazem prevalecer o ponto de vista de um dos
interlocutores. O outro, vai se sentir incompreendido, inseguro podendo reagir de maneira
defensiva ou auto-protetora..
ORDENAR: "Faça sua tarefa agora.”
AMEAÇA: "Vou mandá-la falar com a Diretora."
LIÇÃO DE MORAL: "Você deveria pedir desulpas."
VERBORRAGIA: “Quando aconteceu? Como foi? Onde foi?
Você está arrependido?"
CONSELHO: "No seu lugar, eu iria…"
Cada uma das tentativas acima dá indícios de que um dos interlocutores quer resolver o
problema do outro. São formas de manipulação e coerção. Mesmo que intenção seja boa, a
solução oferecida denota uma superficialidade, pouca importância ao fato ou problema.
Este tipo de respostas ao invés de resolver, aumenta a questão e perpetuam ao conflito ou
criam um novo conflito ao mesmo que tempo que desqualificam o outro podendo provocar
ansiedade ou ressentimento.
16
DIVERTIR-SE "Se você acha que o que fez é grave, deixe-me
contar o que aconteceu comigo."
ARGUMENTAÇÃO LÓGICA: "Se você largou as chaves no
carro, é óbvio que seria roubado ."
CONFIRMAÇÃO: "Você sabe como lidar com o problema.
Você sai dessa."
Estes três exemplos evitam que a pessoa expresse sua real preocupação e permite
que os interlocutores mantenham uma distância emocional no sentido de evitar tópicos
desconfortáveis. Tais respostas são confortáveis para aquele que se protege do contato
emocional, mas não oferecem qualquer tipo de apoio ao outro.
Mesmo sendo consideradas barreiras para uma boa comunicação, o impacto das
expressões acima não é obrigatoriamente negativo, pois irá depender das pessoas, do
espaço social e do momento que ocorrem. Porém, cabe ressaltar que havendo atrito,
hostilidade e stress, estes desencadeiam respostas desagradáveis dando origem a uma
controvérsia e até mesmo a uma disputa.
Qualquer pessoa ao se sentir ameaçada ou acuada terá mais dificuldade em se
expressar pelo diálogo ou ser compreensivo diante de uma situação. Ao invés de promover
a expressão de pensamentos e sentimentos verdadeiros, criam bloqueios que irão dificultar
a troca efetiva de informações. A rede de conversação que se cria estará baseada em
posições defensivas a partir do ressentimento, da auto-estima rebaixada que pode
desencadear o conformismo e a aceitação – característico da discussão como vimos acima.
– o que inibe as habilidades de solução de problemas. Estima-se que 90% das pessoas se
utilizam os recursos exemplificados quando conversam sobre um problema ou uma
necessidade.
O espaço social das relações pessoais no qual vivemos é muito importante na
formação de nossa identidade, evolui com cada um de nós ao longo de nossa vida.
Frustrações, pressões externas como mudanças em nossa rede social são fatores que podem
levar ao desequilíbrio, reações inesperadas e até mesmo a um desajustamento emocional.
A fonte mais comum de frustração pode ser a dificuldade ou o impedimento da satisfação
17
de um motivo. Estas barreiras podem ser situacionais, interpessoais e intrapessoais. As
barreiras intrapessoais1
podem levar a reações psicológicas que se manifestam por meio de
raiva e agressão, medo ou ansiedade, ou fuga da situação geradora de frustração. Porém,
estas reações não levam à solução da frustração e sim criam as distorções cognitivas ou
mecanismos de defesa.
A complexidade das relações humanas e as limitações individuais mostram que 1)
para que a percepção2
seja ativada é necessário levar em conta que as reações individuais
diferem diante de uma mesma situação provocando reações diversas que são influenciadas
pelas experiências passadas de cada um e 2) o fenômeno de vigilância e defesa3
ligados a
bloqueios e dificuldades pessoais geram ansiedade, tensão e angústia que podem
comprometer o diálogo.
1
interpessoais: fatores que não pertencem à pessoa que percebe e intrapessoais: fatores que pertencem à
pessoa que percebe
2
percepção: processo psicológico em que a pessoa aprende a realidade exterior a si própria. Envolve
pensamento e memória e sofre as limitações dos órgãos sensoriais além de outras limitações pessoais. e
ambientais.
3
fenômenos psicológicos que influenciam a percepção de estímulos geradores de angústia, ansiedade e
tensões.
18
PROTEGER
A proteção dos pais inclui proteção de doença, dano, transtorno emocional e
responsabilidades sociais. Ameaças comuns à vida podem provocar (a) medo, a resposta
emocional para a ameaça de dano físico, doença desastre econômico ou rejeição social e (b)
tristeza, sentido de perda ou privação de algo tangível como bens materiais, ou de algo
intangível como o afeto de outra pessoa. A intensidade desses sentimentos ativa o sistema
afetivo da criança ou do jovem na procura de proteção contra ameaça. A procura por
proteção nos pais cria, no decorrer da infância e adolescência vínculos de afetivos para os
quais os pais – figuras de apego - formam as bases para a integração da criança em seus
relacionamentos futuros. Também é crucial na formação da criança como elas arcam com a
angústia do meio em que vivem quando separados dos pais. Em outras palavras o
significado dado à qualidade dos afetos vividos nas relações com os pais será replicado
primeiramente na escola e posteriormente em outros contextos da sociedade.
Proteger a criança é dever da família, da escola e toda a comunidade. Crianças e
jovens vivendo em regiões de alto risco (seqüestro, roubo, assaltos e outras formas de
violência à pessoa) são submetidos à crescente vigilância dos pais criando esquemas de
superproteção e provocando tensão, ansiedade e reações agressivas por parte das crianças e
jovens. A função básica da família é ser um espaço seguro para o desenvolvimento afetivo,
social e biológico de seus filhos.
Famílias saudáveis que vivem em ambientes inseguros enfatizam a necessidade de
segurança, acidentes, desemprego e muitas outras ameaças sociais alteram o
funcionamento da família mobilizada pelo medo. O controle excessivo, porém, coloca em
risco a confiança na proteção que os filhos sentem. Em alguns casos, jovens continuam
sendo tratados como crianças incapazes e, em outros, crianças de pré-escola são
sobrecarregadas com regras de proteção de risco que não conseguem compreender. Ambos
os casos comprometem a habilidade de adaptação ao ambiente. A maneira como os pais
apóiam socialmente seus filhos influencia o desenvolvimento de suas habilidades para se
defender diante de riscos e perigos.
Os pais e outros adultos podem tender a ser pró-ativos ou reativos diante dos riscos.
Pais predominantemente pró-ativos previnem seus filhos antecipando situação de perigo
19
antes que elas aconteçam. Comportamentos pró-ativos são importantes para o
desenvolvimento, porém, muitas vezes, a vigilância é estendida para assuntos que vão além
das questões de segurança fazendo com que pais invadam a privacidade dos filhos em
qualquer situação. Por outro lado, atitudes reativas que atendem um pedido da criança ou
do jovem envolvem a habilidade dos pais de se colocarem no lugar de seus filhos e
perceber o perigo ou a dúvida sob a ótica destes. Em ambientes mais seguros, as respostas
reativas às necessidades dos filhos são vistas como bastante razoáveis, mas se as ameaças
externas são grandes, o comportamento pró-ativo é mais interessante e eficaz.
20
HOSTILIZAR
Poucos são os jovens que se sentem compreendidos pelos pais, ou melhor, pelos
adultos em geral. Discussões e disputas são inevitáveis, pois crianças, jovens e adultos têm
visões diferentes de mundo.
As coisas podem ser semelhantes ou diferentes e ambos são abstrações apoiadas
por significados consolidados, revisados ou abandonados de acordo com as experiências da
vida. A experiência está apoiada na replicações de eventos nos quais a linguagem tem um
papel importante e pessoas se comunicam muitas vezes só pela emoção. Assim, quando
adultos interagem com os jovens e interpretam a raiva como sendo petulância ou reação a
um ressentimento infantil, os jovens ao interpretar a reação dos pais como abandono,
reagem e o ciclo do conflito se estabelece pela escassez ou ausência do diálogo.
Jovens habitantes das selvas de concreto das principais metrópoles do mundo são
produtos da falta de tempo, da falta de habilidade e paciência dos pais que juntamente com
a pobreza, abuso, racismo, droga e faltas de moradia ingredientes que não faltam na
violência urbana. Para estas famílias e estes jovens, violência é um modo de vida em que a
lei é matar ou morrer, conquistar ou ser conquistado.
Os filhos também se sentem responsáveis ou se culpam quando o conflito entre os
pais é intenso. Elas se sentem ameaçadas temendo pela sua própria segurança, pela
segurança de um dos seus pais. A expectativa sobre o futuro tende a ter significados hostis
e difíceis, podendo, assim, restringir o desenvolvimento de relações positivas com seu
grupo de pares.
Em uma sociedade economicamente instável, muitos jovens têm um despertar
prematuro para a vida adulta provocado pela falta dos insumos básicos para a sobrevivência
da família. São jovens que saem trabalhar durante o dia, estudam à noite sendo a frustração,
aborrecimento, irritabilidade associados à desilusão e ao descontentamento. Aprendem que
a vida é dura, mas não para todos. Sentem-se injustiçados e abandonados. Ficam com raiva
e acreditam que “o inferno são os outros.”
21
SOCIALIZAR
Em algum nível as pessoas dependem umas das outras. Dependemos dos outros para
satisfazer nossas necessidades, e um dilema crucial surge quando percebemos que um
resultado positivo depende da presença dos outros. O valor do “nós” é desconhecido
durante o período da adolescência quando os jovens sentem-se prisioneiros das opiniões e
sugestões dos pais. O “nós” é rejeitado pois os jovens lutam para mostrar como são
independentes e capazes porque a idéia de metas interdependentes, orientadas por adultos
não é compatível com a visão de mundo deles. Eles se comportam, usando respostas pré-
reflexivas manifestas pelo silêncio ou por posturas agressivas do tipo “tudo ou nada”.
A agressão pode ser relacionada à competição. Lorenz argumentou que os humanos
são programados para se ocupar dessa forma de competição. Como pais nós enfatizamos
uma variedade de mecanismos sociais como jogos, esportes, estratificação social e
declarações de que ganhar é importante... Reforçamos a competitividade. Porém, se a
competição vai além do que é saudável (para excitação intelectual e crescimento) e de
diversão (recreação), a bem-orquestrada relação entre o jovem, seus pares e adultos entra
em um campo de batalhas e disputas.
O jovem procura sua própria voz que é parte integrante de sua identidade.
Preocupo-me com o modo como nós expressamos nossos sentimentos e pensamentos em
conversações com crianças e jovens, pois o como nos comunicamos irá integrar o processo
de construção da identidade onde o “eu-cognitivo” gera decisões, significados, avaliações
e sucessões temporais que descrevem nossas competências, preferências e valores. O “eu-
corpo” é a casa dos sentimentos e das emoções e o “eu-relacional” alimenta e conecta os
outros dois. Desta forma, excesso de argumentos baseados na crítica, na desvalorização, e
em acusações podem desdobrar-se em guerras completas e fecham todos os canais de
comunicação mantendo uma coerência interna alicerçada em distorções e incongruências
no binômio pensamento-emoção.
Normalmente um conflito tem um assunto principal e vários secundários.
Metaforicamente pode-se vê-lo como sendo um cometa se aproximando: seu corpo é o
assunto principal, e o rabo, todos os assuntos tácitos envolvidos. Na vida doméstica e na
escola, assuntos como fazer tarefas e apresentações para os colegas, limpar o quarto, lavar a
22
louça, usar ou não o carro dos pais, são assuntos que levam às reações de “tudo ou nada”
por parte das crianças e jovens e “ganhar ou ganhar” por parte dos adultos. Nesta arena,
questões objetivas tendem a ficar pessoais porque as pessoas envolvidas interpretam metas
que são relacionadas a necessidades, significados e motivações subjetivas criando
verdadeiras torres de babel,o inverso do exemplo abaixo:
Filha: Pai, estas conversas são sérias?
Pai: Claro que são.
Filha: Não são uma espécie de jogo que tu jogas comigo?
Pai: De maneira nenhuma....são uma espécie de jogo que
jogamos juntos.
Filha: Então não são sérias!
Pai: Não me queres dizer o que entedes pelas palavras sérias
e jogo?
........................................
fonte: Metadiálogos de G. Bateson,1972
O senso de identidade desdobra-se pela atividade reflexiva que se inicia ao redor
dos 14-15 anos. Cada pessoa influencia e é influenciada por outra pessoa em interações
sociais. Embora haja semelhanças formais importantes entre a organização da identidade e
a sociedade, há evidências de que quando as pessoas refletem sobre si mesmas, suas
características pessoais, domínios de competência, valores morais, e metas, são envolvidos
tanto aspectos pessoais (subjetivos e estruturais) quanto a preocupação de como as outras
pessoas irão reagir e interpretar a escolha pessoal.
O aprendizado acontece na arena das interações sociais, e aprender desperta uma
variedade de processos que ocorrem em dois níveis de interação dinâmica: o domínio
externo que contém as fontes de informação, ajuda, recursos, e modelos; e o domínio
interno que contém o progresso pessoal em todos os níveis do eu. Aprendizagem e
desenvolvimento se dão a partir de uma tensão entre dialéticas de uma fase atual
consolidada e um potencial, fase futura de desenvolvimento. Cada movimento de mudança
ou transformação implica numa fase de preparação e outra de consolidação.
23
O propósito primário da linguagem é a comunicação e expressão de pensamentos e
desejos e aprender uma língua consiste em aprender a compartilhar certas atitudes em
relação às coisas ao nosso redor, desenvolver um senso de relevância, um senso de
coerência para tornar a comunicação possível. Trata-se de um processo circular como
vimos no exemplo acima para explicar ou descrever a imagem de mundo em determinado
momento Um certo grau de regularidade no uso de tais conceitos e as regras gramaticais
(sintaxe e semântica) estabelecem certas práticas lingüísticas relacionadas a formas de vida.
A essência da linguagem humana é dar significados ou explicações para o mundo. Os jogos
de linguagem são compostos de reações primárias que formam os protótipos de modos de
pensar que formam um sistema completo de comunicação humana. Uma vez que um
simples jogo é aprendido, a aquisição de novos depende daqueles já incorporados. As
habilidades sociais vão sendo armazenadas na estrutura cognitiva por acomodação criando
famílias de semelhança responsáveis pelo repertório de possibilidades, referências e atos
intencionais além do entendimento das diferenças entre possibilidades e ação.
Nas atividades da escola criam-se inúmeras situações de “prontidão-para-ação” para
responder a uma situação (real ou imaginária) Quando nos deparamos com uma situação
inesperada é que nos damos conta de nossas habilidades para enveredar por um atalho
apropriado para fazer a transição e retornar à estrada principal. Os desarranjos da vida
cotidiana e nossa habilidade em rearranjá-los contribuem para a autonomia e cooperação.
Como um ser humano aprende o significado dos nomes de
sensações? – da palavra dor, por exemplo. Aqui há uma possibilidade:
palavras estão conectadas com o primitivo, o natural, expressões das
sensações e usadas em seu lugar.
Uma criança se machuca e chora; então os adultos falam com
ela: doeu? Os adultos estão ensinando à criança um significado para a
dor. Assim será que você está dizendo que a palavra dor realmente
significa chorar? Ao contrário: a expressão verbal de dor substitui
chorar e não a descreve.
Wittgenstein, 1945
24
O ESPAÇO SOCIAL DA ESCOLA
As escolas estão inseridas nos sistema educativo de uma sociedade e, em seu
sentido mais amplo, respondem às necessidades oriundas da realidade social de sua
comunidade e contribuem para o desenvolvimento pleno da personalidade dos alunos
incentivando a formação de cidadãos livres, responsáveis, autônomos e solidários para o
progresso social e participação democrática na vida em sociedade.
Ser cidadão e ser livre implica em respeitar o outro e suas idéias, estar aberto ao
diálogo e à troca de opiniões.
Porém, o nosso cotidiano (na escola e fora dela) tem sido muito diferente.
Diariamente somos torpedeados por um número crescente de situações de desrespeito,
intolerância, agressão e vandalismo, algumas de extrema violência, exercidas
indiscriminadamente, sobre homens, mulheres, crianças, velhos, minorias étnicas, animais e
bens públicos, ou privados. Estes atos, muitas vezes, protagonizados por adolescentes e
mesmo por crianças em idade escolar, conduziram à necessidade de repensar o papel da
Escola, no contexto atual.
Embora a escola não seja o único meio formativo, desempenha um papel relevante
no processo educativo, uma vez que assegura o prolongamento da estrutura familiar na
formação dos papéis sociais dos alunos.
Falar de mediação nas escolas brasileiras é falar de uma nova cultura que implica na
mudança de alguns aspectos da cultura atual. A mediação, embora antiga como a
humanidade, foi relegada ao ostracismo pela mesma sociedade que entregou de maneira
incondicional à autoridade do Estado os mecanismos de solução de conflitos. Será
indispensável fazer avançar simultaneamente um processo educativo para que a sociedade
compreenda e possa avaliar as novas ferramentas que ajudarão a todos a atingir a paz social
a partir de mecanismos que vejam os conflitos como oportunidades de crescimento.
25
As escolas contemporâneas vêm sendo cada vez mais solicitadas a ter
responsabilidade ativa na educação para a vida. Pode-se dizer que elas passam a assumir
um papel mais complexo no que se refere à solução de conflitos. Ao invés de atuarem
como interventores de conflito na definição clássica do binômio vigiar e punir, passam a
atuar como supervisores de soluções permitindo a construção de uma nova estrutura como a
mediação escolar que irá se preocupar em mostrar as vantagens da cooperação e da
responsabilidade mútua, do trabalho voluntário fornecendo, ao mesmo tempo, proteção
contra a tendência dos alunos de querer encontrar alguém que os proteja ou alguém mais
poderoso para resolver o problema por eles.
Depois da família, a escola constitui o primeiro espaço de socialização de crianças e
de jovens sendo responsável pela transição do espaço privado e íntimo da família para o
espaço público na qual os alunos têm acesso às primeiras experiências de formação,
aprendizagem e encontro com os demais atores sociais. Na escola se ensina e se aprende o
exercício da cidadania para poder conviver em um projeto democrático de sociedade. Neste
sentido, a escola torna-se o epicentro de experiências entre pares e grupos e de aprendizado
sendo, ao mesmo tempo, cenário e palco das relações que se estabelecem entre alunos,
professores, administradores e pais.
Pesquisas realizadas em escolas da península Ibérica e alguns países da América do
Sul têm detectado um aumento considerável nas situações de agressão e violência entre
crianças do primeiro período escolar um fenômeno que, muitas vezes, não é percebido
pelos professores. Estas investigações também confirmam que, ao atingirem um nível
extremo de gravidade, os problemas são tratados, na maioria das vezes, com medidas de
caráter punitivo pouco eficazes.
A punição do aluno, o uso do poder por parte do corpo docente e dos diretores da
escola atinge, na maioria das vezes, somente a ponta de um iceberg e não resolvem o
problema. A criança e o jovem espelham na escola comportamentos aprendidos em casa.
Além disso, muitos estudantes agem de modo agressivo como efeito de conflitos familiares,
ou ainda, muitos pais estimulam os filhos a reagir com agressividade em resposta aos atos
26
provocativos dos colegas. A dificuldade em dar solução aos conflitos é motivada: pelas
características dos instrumentos vigentes para solucioná-los e a forma de administra-los. Ao
invés da solução, ocorre uma ruptura da aliança entre o aluno e a escola.
Infelizmente, a maioria das escolas ainda oferece um sistema de transmissão de
conhecimentos calcado em práticas tediosas que desprezam as diferenças entre os alunos o
que tem colaborado muito para que a educação para a cidadania se esvazie ou se resuma a
umas poucas atividades tornando-se um discurso inconseqüente, porém presente nos planos
pedagógicos. Inúmeras são as micro penalidades aplicadas aos alunos. O envolvimento dos
educadores na educação dos jovens freqüentemente se resume à mera repetição de fatos ou
procedimentos, desprezando o potencial reflexivo e a curiosidade do jovem em explorar
novos campos.
Falta comunicação. As crianças e os jovens cada vez mais cedo estão voltados para
si mesmas. Como aprender a tratar de seus semelhantes se as estruturas familiares e as
instituições religiosas se fragmentaram a tal ponto que muitas precisam buscar padrões
externos que lhes ensinem como agir. Faltam-lhes modelos, exemplos que ensinem a tratar
pessoas dentro de um contexto democrático, sustentável, justo e participativo.
É reconhecida a necessidade de intervenções mais precoces, na prevenção e na
solução de problemas geradores de conflitos entre alunos e que freqüentemente conduzem a
situações de agressão e de violência verbal e/ou física.
Em seu senso mais lato, conflitar tem o significado de estar em oposição a alguma
coisa ou pessoa. Socialmente, qualquer atitude aversiva para com oura pessoa, seja por
palavras ou ações é considerada um conflito.
ESPECTRO DO CONFLITO
PAZ GUERRA
Hostilidade violência física
0 100
27
Os fatores que geram e mantêm um conflito, na esfera das relações humanas, de
acordo com o espectro acima, são:
1. seu raio de ação está entre a atitude violenta impulsiva
(randômica) e a violência planejada, organizada. Quanto
mais intenso o conflito, os atos violentos são planejados
estrategicamente, como no caso de guerras.
2. quanto à ação, oscila entre a hostilidade não verbalizada à
violência física. A hostilidade internalizada e não expressa
provoca conflitos mais sutis, mais difíceis de serem abordados
em virtude dos conteúdos subjetivos subjacentes.
3. quanto à identificação com o agressor oscila entre uma
identificação difusa, agressores inespecíficos à um grupo
definido de agressores como podemos ver gangues rivais.
4. quanto ao nível de stress pessoal e do contexto. Quanto mais
adverso for o contexto maior sra o nível de stress da
comunidade que, conseqüentemente se irradia através de
conflitos.
Um dos processos de intervenção precoce em conflitos escolares consiste em ajudar
as crianças e jovens a gerenciar suas diferenças de forma eficaz, extraindo de cada situação
o que ela tem de positivo para obter respostas mais criativas.
Em resposta ao crescimento da violência e delinqüência juvenil bem como ao
aumento dos divórcios e das crises familiares surgem no cenário global (México, Colômbia,
Uruguai, Argentina, USA, Portugal, Espanha, Alemanha entre outros) os programas para
implantação e implementação da mediação escolar. Esses programas visam administrar
disputas entre grupos no ambiente escolar, incluir habilidades de comunicação e resolução
de problemas no currículo da escola para se tornar, em um segundo momento, um programa
preventivo voltado à criação de normas pacíficas de interação social na cultura da escola.
Brigas, agressões físicas e violência passam a ser formas inaceitáveis de resolver conflitos.
28
Solução significa resultado, além de condição e recursos encontrados pelas pessoas
depois que um conflito, disputa, desentendimento é esclarecido e posto de lado. Educadores
e pais ao buscarem soluções estarão preocupados com justiça e cooperação e não punição
ou retaliação. Assim, a solução exige passar do conflito para uma ação de cooperação,
respeito pelos interesses de todos, empenho em relacionamentos duradouros que dêem
sustentabilidade à sociedade a partir de uma visão de futuro que evite recriminações,
retaliações, castigos e danos. Querer encontrar uma solução viável e duradoura é querer
aprender e ter coragem para mudar, mesmo sabendo que conflitos e rupturas são inevitáveis
em nossas vidas.
Diferenças e conflitos não desaparecerão de nossas vidas... Fazem parte da
aprendizagem social e da vida.
29
A MEDIAÇÃO E O MEDIADOR
Mediação palavra que vem do latim mediatione, interveniência, intermediação, é
um dos meios voluntários de solução de conflitos, por intermédio do qual duas ou mais
pessoas buscam obter uma solução consensual que possibilite preserva o relacionamento
entre elas.
No final da década de 80, a mediação surge no cenário brasileiro como uma
ferramenta nova, baseada na aplicação de conhecimentos oriundos da sociologia, do direito,
da psicologia, para se tornar uma prática voltada à solução de conflitos na esfera privada.
Trata-se, portanto, de uma prática interdisciplinar que visa, principalmente, a
construção de um espaço entre pessoas em conflito que permita perceber e reconhecer as
diferenças, discutir as divergências, negociar convergências possíveis, criar vínculos,
transformar possibilidades a partir do diálogo onde os participantes reconhecem a si
mesmos e reconhecem a perspectiva do outro como protagonistas de experiências e
comportamentos. Apropriando-se de seu próprio poder de pessoas –empoderamento --
pertencentes a um grupo social criam possibilidades para a retomada do crescimento e
desenvolvimento das relações estagnadas pelo conflito.
Ao atuar, o mediador tem como ponto central para o seu trabalho de facilitação,
pessoas cuja comunicação, por motivos diversos, se deteriorou. Em um contexto
controverso, as diferenças, ao invés de levar a um entendimento, levam a desencontros e
discussões que dificultam ou impossibilitam uma negociação razoável da questão..
Apesar da globalização estar tomando conta de inúmeros espaços em nossas vidas,
permanecem diferenças culturais importantes entre as sociedades contemporâneas. No
contexto mais amplo da mediação é importante avaliar as diferenças sócio-culturais das
pessoas participantes do processo pois elas se constituem e são constituídas pelo sistema de
crenças compartilhado que engloba, entre outras particularidades, a) a visão de mundo, b) a
30
ontologia da realidade ou crenças sobre a natureza do mundo e causalidade, c) a
epistemologia tácita ou teorias de conhecimento que formam seu arcabouço intelectual e d)
a estruturação dos processos cognitivos e emocionais que constituem o seu potencial
humano.
A mediação, por ser baseada num acordo de vontades e transcender a solução do
conflito tem como fio condutor transformar um contexto adversarial em colaborativo.
Seguindo alguns princípios básicos que a norteiam enquanto processo.
PRINCÍPIOS NORTEADORES
• Caráter voluntário: respeita o princípio da autonomia da vontade das partes;
• Diligência dos procedimentos: assegurar a qualidade do processo e cuidar
ativamente de todos seus princípios norteadores incluindo boa fé e lealdade
das práticas aplicadas;
• Flexibilidade: tanto na linguagem como nos procedimentos de modo que
atenda às necessidades tanto do contexto quanto das pessoas envolvidas no
processo;
• Segurança e sigilo: os fatos, as experiências compartilhadas, as
possibilidades para a solução do conflito e as escolhas que ocorrem durante
a mediação são sigilosos e privilegiados sempre respeitando o princípio da
autonomia da vontade das partes nos termos por ela convencionados.
Como a mediação atua em processos de alto nível de complexidade (processos de
tomada de decisão, resolução de problemas e autonomia) que são operações mentais
representadas na consciência de cada pessoa, portanto, experiências subjetivas de caráter
reflexivo cujos significados podem referir-se a conteúdos diversos, consoante as outras
pessoas, às circunstâncias e ao contexto. Tanto a introspecção quanto a reflexão criam os
significados utilizados nos processos de tomada de decisão e resolução de problemas. Estes
significados são verbalmente codificados, porém, considerando seu caráter retrospectivo,
deixa a experiência consciente vulnerável a omissões, racionalizações e interpretações do
31
sujeito que descreve, então o que julga ter feito ou ouvido é expresso pela linguagem e
dimensionado de acordo com as experiências autobiográficas e narrativas.
Assim sendo, o processamento da informação se dá a partir de processos cognitivos
que são semelhantes a todos os seres humanos. A plasticidade dos processos cognitivos
torna-os maleáveis e particulares a cada pessoa em determinado grupo social havendo
também, variações de acordo com as diferenças culturais que incluem visão de mundo,
hábitos, sistemas de pensamento e padrões de comunicação.
A metafísica cultural estrutura e orienta o modus vivendi e modus operandi dos
atores sociais. Tanto a organização social quanto as práticas sociais influenciam o
desenvolvimento e o uso de processos cognitivos que podem ter características dialéticas
ou lógicas. Ao estudar as diferentes escolas filosóficas clássicas, observar a atuação de
colegas com profissões de origem diversas a atuando como mediadores verifiquei que
duas grandes correntes de pensamento estruturam e organizam as sociedades,
diferenciando-as tanto na organização social quanto na estrutura cognitiva de seus membros
o que nos leva a acreditar na existência de uma correlação entre fatores sociais, cognição e
expressão afetiva.
Escola holística ou Oriental cujo pensamento é
predominantemente dialético e a compreensão do
comportamento é fenomenológica e
Escola Grega ou Ocidental que privilegia o raciocínio lógico
formal, analítico e a necessidade de categorização e regras
para compreensão do comportamento humano.
Por caminhos diferentes, ambas as escolas têm investigado a formação e o
desenvolvimento do pensamento humano, das emoções e da espiritualidade.
As sociedades holísticas – como as de filosofia taoísta e confucionista – enfatizam
a importância da vida em comunidade, isto é, o indivíduo é parte de uma rede social e o
comportamento individual é guiado pela expectativa do grupo. A harmonia do grupo é
valorizada para que as expectativas e os deveres para com todos sejam atendidas. Assim,
confrontações, debates e a linguagem adversarial ficam desencorajadas. Embora os
chineses tenham sido autores de descobertas importantes como sistemas de irrigação, a
32
cartografia quantitativa e técnicas de imunização estas não repousam em uma teoria
científica de investigação, mas sim como o resultado de reflexões práticas em estreita
relação com os movimentos da natureza e nas relações circulares de causa e efeito. O
confucionismo defende que conhecimento e sistemas de pensamento pressupõe uma ação
ou comportamento como conseqüência esperada e natural. A filosofia chinesa prioriza a
intuição e a observação empírica para a construção de seus sistemas de saber. Prevalece
uma visão holística do ser e do existir, não se fazendo distinção entre natureza, humano e
espiritualidade. Em resumo, em sociedades de pensamento holístico
a) a visão do contexto é sempre o todo;
b) a observação dos fenômenos leva sempre em consideração o objeto e o seu
campo ou a figura e o fundo;
c) explica e prevê eventos com base nas relações figura/fundo ou causa e efeito
sempre numa fenomenologia circular.
O conhecimento é, portanto, adquirido a partir da experiência dentro de uma
dialética que enfatiza os processos de mudança, o reconhecimento da contradição e da
necessidade de múltiplas perspectivas que possibilite encontrar o caminho do meio entre
proposições paradoxais.
Uma sociedade organizada sob a égide da dialética
desencoraja a confrontação e o debate e coloca aquele se
envolve em uma ação contra outro em situação difícil
perante a comunidade.
A característica mais marcante presente em todos os períodos que compõem a
escola Grega consiste no exercício do poder individual transmitido pela linhagem
masculina e preocupado em perpetuar o culto da tribo, da família ou da fratria. Pessoas,
envolvidas socialmente, desenvolvem uma prática social baseada na individualidade e,
embora acreditassem na influência dos deuses em suas vidas, o agir humano era baseado
no princípio da arrogância onde cada cidadão desenvolvia suas capacidades vivendo de
acordo com estas escolhas, porém, sempre em consonância com a leis criadas por um
conselho de cidadãos que poderiam, a qualquer momento, ser submetidas ao debate e
33
alteradas mediante uma argumentação coerente. A sociedade foi se constituindo a partir de
pequenos grupos funcionais que foram se integrando a outros até formarem a cidade.
Observa-se que na formação de um espaço social mais amplo, nenhum dos grupos
constituintes perdeu sua individualidade ou independência. Acima dos grupos criou-se um
governo comum constituído pelas possibilidades de argumentação e debate de idéias, pois
a partir do argumento os espaços sociais poderiam ser modificados e adaptados ao
momento. Assim, a vida privada submete-se ao Estado e à religião.
No que concerne à natureza, a preocupação centrava-se na necessidade de se criar
modelos dos objetos e fenômenos da natureza. A categorização dos objetos, as leis
genéricas para explicar a natureza e sistematizar tanto a descrição quanto prever a
replicação eram centrais à cultura grega tornando-se os alicerces da cultura ocidental.
A visão de um mundo racional pressupõe que a
natureza é um sistema racional (ordenado), regido por leis que
um método científico (racional) pode descobrir. Exclui o acaso,
porém através da teoria da probabilidade, permite a
imprevisibilidade.
A história e cultura gregas são um exemplo da estreita relação que existe entre as
idéias produzidas pela inteligência humana e o estado social de seu povo. Partindo da
religião, o Estado grego consagra a família e forma uma entidade maior, a cidade
organizada e regulamentada do mesmo modo que foi organizada a família.
Aspectos psicosociais da vida em sociedade dos antigos Chineses e Gregos estão,
ainda hoje, representados nos sistemas de pensamento das principais culturas da
atualidade: culturas voltadas para o coletivismo e culturas voltadas ao individualismo.
Suas crenças metafísicas são o reflexo de suas práticas sociais dando origem às diferentes
abordagens para as questões científicas, matemáticas e filosóficas: o sistema holístico ou
34
sintético de pensamento de questionamento dialético e o pensamento analítico de
questionamento lógico-formal.
SISTEMA HOLÍSTICO SISTEMA ANALÍTICO
ênfase na totalidade ênfase na parte
caráter organicista caráter mecanicista
emoção e intuição razão e sensação
linguagem poético-metafórica linguagem matemática
inclinação dedutiva inclinação indutiva
sincronicidade relação causal
sociedade coletivista sociedade individualista
A Pragmática da Comunicação Humana4
, dá à linguagem o estatuto de
comportamento considerando que existe uma relação entre comportamentos latentes e os
comportamentos manifestos, ou seja, a organização do comportamento manifesto é
determinado por operações mentais individuais e significativas a partir de uma experiência
sensorial em dado contexto.
Através da linguagem o indivíduo toma decisões e resolve problemas sendo que a
seqüência de operações cognitivas se aplica ao problema tal como a pessoa (consciente ou
não) o põe a si próprio permitindo que as atividades de representação simbólica sejam
construídas e transformadas tanto a partir de estímulos do ambiente que irão acionar os
dados episódicos (dados autobiográficos) e conhecimentos semânticos (conjunto de
conhecimentos formais e informais) armazenados na memória como conseqüência de
processos de aprendizagem.
Se a organização social influencia os processos cognitivos das pessoas tanto a
dialética quanto a lógica são instrumentos utilizados na solução de conflitos. Pessoas
inseridas em um contexto onde a existência social está construída sobre os alicerces da
harmonia ao serem confrontadas com situações contraditórias (polaridades de opinião)
tentarão transcender a contradição para encontrar um caminho intermediário. Em suma, o
exercício da dialética leva à busca de solução entre os possíveis atendendo os princípios
4
Trabalhos liderados por Gregory Bateson, Don Jackson e Paul Watzlawick em Palo Alto nos anos 60 e que
deram origem ao livro The Pragmatics of Human Communication,.
35
da harmonia social. Em contrapartida, pessoas inseridas em um contexto no qual predomina
o raciocínio lógico e analítico, desenvolverão regras e categorias para conduzir debates e
argumentos de acordo com a estrutura do princípio de não contradição. Resolvem seus
conflitos baseados em regras pré-estabelecidas que, nem sempre, atendem às necessidades
do contexto. Em resumo, as diferenças sociais entre as culturas orientadas para o coletivo e
às orientadas para o individual estão presentes em nossas relações cotidianas. Como os
processos de aprendizagem dependem das trocas intersubjetivas, pode-se dizer que fatores
sociais influenciam a metafísica, a epistemologia e, também, o desenvolvimento de
habilidades cognitivas que irão influenciar o comportamento dos indivíduos quando diante
de situações de conflito.
A atividade social é que imprime um significado às
palavras. Para conhecer a linguagem é preciso desenvolver a
capacidade de penetrar em várias redes de convenções que
formam a base da intersubjetividade e comunicação significativa e
participativa entre pessoas.
A concepção de linguagem enquanto ação e instrumento de trabalho para o mediador fez-
me reconhecer e aceitar como princípio norteador de meu trabalho o papel das múltiplas
diferenças que co-existem em uma comunidade (raça, credo, condição sócio-econômica,
cultura de origem, mitos, crenças e costumes). Ao mediar jovens de diferentes substratos
sociais passei a entender melhor porque os estudantes discutem tão freqüentemente na
defensiva ou até mesmo através de brigas de pouca importância. Por outro lado, a
estabilidade das amizades entre jovens (grupos de pares) que vivem nas ruas baseiam-se na
necessidade de reduzir a solidão, a insegurança e no apoio mútuo para eles resistirem à
autoridade. Até que eles descubram quem eu era, o que estava fazendo ali, são desconfiados
e interagem utilizando principalmente jogos de linguagem reativos, agressivos e evitando
ou rejeitando o contato. Quando fui aceita, o tom mudou. Passaram a contar histórias de
amor e de esperança em um futuro mais luminoso utilizando jogos volitivos, teleológicos e
criativos.
36
Este estudo deu-me uma nova linguagem e me fez pensar profundamente em como
desenvolver um trabalho que pudesse contribuir para o desenvolvimento dos potenciais
positivos, voltados ao bem coletivo e ancorado no diálogo e no re-enquadre positivo de
historias de sofrimento, violência e dor. Conversando com professores, funcionários
administrativos e operacionais de diversas escolas e tendo entrevistado alguns diretores de
escolas públicas e privadas confirmei minha suposição de que muitos ainda trabalham
depositando informação nos recipientes vazios que são os alunos. Lembro-me então de
Paulo Freire que denunciou o poder desumanizador da dinâmica opressiva do método
bancário de educação e o quanto fica evidente que a falta de participação dos alunos do
ensino médio em processos decisórios de sua comunidade, inclusive na escola, acende a
resistência e, conseqüentemente a hostilidade, agressão e violência.
A linguagem, os significados sociais compartilhados ajudam a amoldar a qualidade
dos vínculos nas crianças sendo parte daquilo que viveram. Mais adiante, quando
adolescentes, criam sua própria linguagem para proteger seus “segredos” de estranhos.
Nossas convicções, sistemas conceituais, habilidades técnicas, rotinas estão embutidas em
nossa linguagem cotidiana e vice-versa. As transformações (mais profundas que mudanças
porque vão além do comportamento) não são independentes do contexto e seus produtos
porque são formados e transformados continuamente em resposta às nossas práticas
culturais e institucionais que os conservam e os transmitem.
Uma das forças do construcionismo social é a relatividade da realidade o que
permite planejar modelos de intervenção adequados às pessoas e ao contexto atendendo às
necessidades locais e explorando ativamente as possibilidades.
A escola é um dos contextos sociais onde tanto a cultura quanto os costumes e as
crenças de uma sociedade se transformam de forma gradativa. Regras rigorosas que
acanham são questionadas e abrem espaços para idéias mais elevadas que levam ao
falecimento de um regime abrindo um espaço social diferente, onde novas regras e critérios
de relacionamento se abrem.
37
O contexto escolar, mesmo diante das pressões sociais voltadas para a cultura do
individualismo e da arrogância5
, continua mantendo suas características coletivistas o que
vem a beneficiar a introdução da mediação escolar de pares.
5
Arrogância com sentido de adrogare, pretender para si, ou seja, a busca desenfreada de crescimento
ilimitado por um lado que leva aos excessos onde para muitos a essência da vida e a fé está na técnica e na
expansão de poder. Trata-se de uma ingênua luta contra a finitude humana.
38
MEDIAÇÃO DE PARES
Os programas de mediação de pares começaram a ser desenvolvidos no final da
década de 70 e início da década de 80 como parte dos projetos de não violência promovidos
pelos quacres nas escolas da cidade de Nova York. Depois se expandiram para outras
comunidades em vários países do mundo.
A mediação de pares é um processo que capacita um grupo de alunos de uma escola
para atuarem como mediadores nas disputas de seus pares. Por estarem inseridos na escola
e serem colegas, a mediação de pares não é aplicável a todos os contextos e também não é
apropriada para todos os tipos de disputa. Porém, trata-se de um instrumento valioso para
que alunos assumam um controle maior sobre suas vidas e habilidades para resolver
problemas e disputas. Na mediação de pares, o conflito é considerado positivo sendo
essencial para proporcionar desafios e possibilidades de crescimento.
Objetivos da Mediação de Pares
Criar vínculos cooperativos e senso de comunidade na
escola;
Melhorar o ambiente de na aula pela diminuição da
hostilidade e tensão;
Desenvolver o senso de coletivismo;
Melhorar as relações professor/aluno;
Incrementar a participação dos alunos nos projetos da
escola e da comunidade;
Resolver conflitos menores entre pares que interferem
nos processos educativos;
Valorizar os alunos incrementando a auto-estima;
Mudar os parâmetros de comunicação e linguagem;
Incentivar valores e responsabilidades pelo todo.
39
No âmbito da escola a mediação não pode ser entendida como uma nova maneira de
resolver conflitos, pois se trata muito mais de uma metodologia de ensino onde se privilegia
a comunicação interpessoal em todos os níveis, possibilitando a reflexão e o pensamento
complexo. Em cada escola, particular ou pública, existe uma grande diversidade de
constelações familiares, culturais, econômicas, religiosas, éticas e morais. Temos uma
tendência cultural em agrupar por semelhanças e construir categorias. Toda classificação e
categorização tende a promover a separação, a discriminação. Mais do que nunca, a
sociedade pede a aceitação do outro como diferente de nós mesmos. O respeito pela
diferença também inclui a necessidade de aceitar olhares diferentes, reflexões diferentes e
conclusões diferentes no contexto da escola. Fazemos parte de um mundo diverso e
complexo e a educação sabe disso, as escolas estão em processo de aprende-lo!
Desenvolver e implementar um programa de mediação de pares em uma escola
significa aceitar a complexidade que considera todas as experiências como multifacetadas
que incluem os aspectos biológicos, étnicos, culturais, sociais, familiares, religiosos e
espirituais. A partir da compreensão dos fenômenos complexos que ocorrem dentro da
escola e em seu em torno, a mediação de pares pode vir a tornar-se uma realidade pois esta
implica em um sistema de comunicação mais simétrico onde todos os envolvidos
compartilhem de forma mais eqüitativa a distribuição do poder. A mediação de pares em
sua meta função leva alunos e o corpo docente a exercerem a democracia desenvolvendo
nos jovens as aptidões para viver e construir os valores da democracia que transcende os
limites da escola para instalar-se na família e em toda a comunidade.
Trata-se de um processo que envolve o todo onde todos se beneficiam e todos são
responsáveis pelo que acontece, seja por ação ou por omissão.
Formar jovens idôneos no manejo de deveres e direitos como pessoa e como
membro de uma sociedade continua sendo tarefa da escola e da família. Como o espaço
social da escola é mais amplo que o da família, a mediação de pares se apresenta com um
bom começo para um processo de transformação das relações.
40
Estamos dispostos a compartilhar a idéia de uma
distribuição mais democrática do poder dentro da escola?
Elementos Fundamentais de um projeto
1. Seleção de alunos para serem
treinados
2. Equipe de Supervisão
3. Instrutores
4. Procedimento de recepção dos
casos
5. Divulgação do programa para os
alunos
6. Divulgação para familiares e
comunidade
7. Logística do programa
8. Implementação do Programa
9. Avaliação d Programa
10. Disciplinas optativas
no programa
41
CENÁRIO ATUAL
Há uma preocupação compartilhada por todos os profissionais engajados na
implantação e implementação de programas de mediação de pares principalmente durante
os Congressos na Itália (2000), México e Espanha (2001) e nos encontros setoriais da
ACR/2002 (Association for Conflict Resolution) em se encontrar procedimentos eficientes
para resolver os conflitos que se apresentam no cotidiano das escolas sejam estes entre
alunos ou entre alunos e professores. A maioria dos casos apresentados referiam-se à
agressão e à violência e apresentados sob o tema indisciplina escolar.
Os problemas de conduta observados tornaram-se tão sistemáticos que podem ser
observados nas mais diversas situações e não mais enquanto casos esporádicos. Desta
feita, não basta preocupar-se com os aspectos evolutivos da criança e do jovem e de suas
possíveis patologias, mas sim irmos mais além buscando as origens destes conflitos.
Aqueles que trabalham no contato direto com os alunos são obrigados a cada vez
mais utilizar parte de seu tempo destinado ao ensino para resolver o número cada vez maior
de disputas entre alunos. Quando os profissionais das escolas se propõem a ajudar a
resolver os conflitos considerados socialmente graves e que ultrapassam os portões da
escola, geralmente são rechaçados e fracassam no seu intento. A cada ano que passa fica
evidente o quanto o desencontro entre os sistemas escola e família produzem
conseqüências negativas na formação dos jovens. Muitas crianças chegam despreparadas à
escola, sem saber como participar responsavelmente das atividades em sala de aula e
acabam replicando a falta de limites e os modelos aprendidos em casa para resolver suas
disputas com os colegas como o uso de força física e a agressão por palavras
desrespeitando seu grupo de pares e os professores. É grande o número de escolas que
estão investindo parte de seu orçamento em itens de segurança como câmeras de televisão,
rastreamento por satélite dos ônibus escolares, identificação dos alunos por cartões
42
magnéticos, e pessoal de segurança. Porém, o peso da burocracia dificulta a implantação
de um programa de mediação.
A mediação escolar pode resolver não só muitos dos problemas que afligem os
dirigentes e administradores das escolas, como reciclar possibilidades, ou seja, aprender
com as experiências passadas e desenvolver metodologias que já sem mostraram eficientes
em outros países.
Acredito ser importante reiterar que não existe e possibilidade de se desenvolver um
modelo de programa de mediação de pares e sim um programa para cada escola, já que este
deve levar em conta o desenvolvimento social e o contexto dos alunos. Jovens e adultos
têm percepções diferentes do conflito, porém não se pode achar que crianças e jovens
sejam atores sociais inocentes.
A violência entre os jovens é crescentemente diversa. Alguns participam de gangues
e outros são solitários. Os valores da mística masculina (dureza, domínio, repressão da
empatia e competitividade) têm diferentes manifestações em diferentes ambientes. James
Garbarino6
, psicólogo e pesquisador em N. York afirma que muitos meninos e jovens
desenvolvem comportamentos anti-sociais provocados pelos estereótipos sociais da
masculinidade e por não terem permissão para falar de suas angústias, uma característica
do papel feminino. Por outro lado, Carol Gilligan7
ao entrevistar meninas conclui que
existe um excesso de preocupação com a aparência física por um lado e como estão sendo
solicitadas a serem bem-sucedidas profissionalmente, sentem-se “obrigadas” a escolher
carreiras masculinas o que é uma fonte de stress que desencadeiam conflitos em sala de
aula.
Na periferia, roubos, assaltos, tráfico de drogas e chacinas. Na classe média e alta,
brigas em danceterias, rachas nas ruas de madrugada, drogas e sexo sem proteção. O que
têm em comum é viver em grandes centros urbanos além de compartilharem o abandono
6
tem desenvolvido um extenso trabalho para investigar as origens da violência juvenil masculina – Family
Life Development Center, Cornell University
7
pesquidadora da School of Education, Harvard University
43
emocional dos pais ou um alto grau de exigência que faz com que se sintam tiranizados,
sentem-se impotentes diante dos adultos e os agridem na maioria das vezes agredindo a si
mesmos. Quando são testemunhas de disputas familiares e brigas dos pais ou irmãos o
trauma vicário deixa cicatrizes que causam irritação, ressentimento, hostilidade, agressão,
raiva e transtornos psicológicos.
Também é comum que a escola, por falta de alternativa, tenha que se preocupar em
auxiliar seus alunos com questões relativas à fragilidade do sistema familiar. As principais
mudanças demográficas que aconteceram desde a revolução industrial tiveram impacto nas
famílias e lares, dando origem a uma maior variedade de estruturas familiares. Fatores
como fertilidade, casamento, coabitação e divórcio deram origem a fenômenos
relacionados ao aumento da vida solitária, decadência econômica e importância crescente
da criança e da juventude.
Tradicionalmente a família oferece um ambiente seguro para as crianças se
desenvolverem psicológica e socialmente. Do ponto de vista dos pais, eles provêm o fórum
para o amor, apoio mútuo, e estrutura para educar as crianças. Para a sociedade, as famílias
provêm o habitat natural, no qual as crianças aprendem as habilidades sociais necessárias
para viver com os outros –irmãos, parentes e pais – e, na adolescência, aprendem a viver
como adultos integrando-se na sociedade mais ampla.
Os padrões mutantes de estruturas familiares, com pais solteiros, divorciados ou
recasados muitas vezes colocam crianças e jovens ainda dependentes como mais adultos do
que seus pais no gerenciamento da casa, da própria vida e da vida de um dos pais—o mais
frágil muitas vezes vítima de abuso. Isto quando não se tornam instrumentos de
manipulação de adultos que, consciente ou inconscientemente lançam mão dos filhos para
atender a desejos próprios, fato muito comum nas crises de separação e divórcio. Não se
pode subestimar o dano causado a uma criança que vive em clima de hostilidade e
violência, mesmo que ela não seja maltratada!
44
Mais de oito milhões de vezes a cada ano a polícia desta
nação confronta-se com uma vítima que há pouco foi agredida por
um companheiro. Agressão doméstica é a forma mais freqüente de
violência encontrada pela polícia do que todas as outras formas de
violência combinadas.
Relatório da Universidade de Berkeley, 1994
Quando os pais se separam, as famílias empobrecem. Esta é uma realidade global.
Pobreza e desemprego estão afetando nossas crianças e jovens de maneiras diversas.
Finanças limitadas afetam o desempenho escolar porque muitas famílias não dispõem dos
recursos necessários que conduzem ao sucesso acadêmico e quando o conseguem os
sacrifícios são enormes. Renda limitada também significa perder amigos, animais de
estimação, contato com familiares e viver em áreas onde a qualidade de vida é mais pobre.
O emprego é a principal fonte de apoio econômico para a maioria das famílias, mas limita o
tempo disponível para a integração familiar. Além disso, as tarefas familiares podem
significar um constrangimento no local de trabalho. Crianças e jovens de famílias
interrompidas sofrem as conseqüências quando seus pais se separam e levam estas questões
para a sala de aula.
Embora os professores tenham feito sua formação para educar, vêm sendo cada vez
mais pressionados por alunos, pais e outros membros da comunidade para prestar
assistência ao pai que perdeu o emprego, à mãe que vítima de violência ou ao próprio aluno
cujos pais estão se separando ou m familiar que está doente ou faleceu. São problemas cuja
solução não está em suas mãos, mas acaba se debatendo com as questões pois não tem a
quem delegar.
A maior parte das crianças e jovens da FEBEM provém de
famílias encabeçadas por um único parental –mães. Somente 15%
destas vivem em favelas e 72,6% destas famílias vivem na cidade de
São Paulo há mais de 20 anos morando em suas casas próprias nos
arredores da cidade.
Adorno, 1998
45
UMA PROPOSTA DE PROGRAMA
A proposta ora apresentada sugere um programa de mediação de pares que, como o
próprio nome já diz, não conta com a participação de mediadores externos, isto é, outros
profissionais da comunidade atuando como mediadores nas questões entre alunos e entre
alunos e professores.
Para que o programa seja bem sucedido são importantes alguns passos preliminares:
1. Promover encontros de trabalho formada por pessoas da escola e da comunidade
para, através do diálogo em grupo criar a filosofia e a pedagogia a ser utilizada
como meta-conceitos do programa. Quanto maior a congruência entre a linha
pedagógica e disciplinar da escola, sua filosofia de trabalho e a mediação de pares,
maiores serão as chances do programa ser aceito pelos alunos, seus familiares e pela
escola como um todo.
2. Será que os alunos-mediadores terão verdadeiramente a oportunidade de mediar
casos, pois o benefício de um programa de mediação de pares que não seja efetivo
não trará benefício para o todo.
3. Será que o corpo docente e administrativo da escola está preparado para enfrentar a
mudança? Uma vez implantado o programa, é importante a disciplina do corpo
docente para encaminhar os casos à mediação e não continuar resolvendo
problemas em sala de aula pelos métodos antigos. Acreditar na capacidade dos
mediadores de pares e no seu potencial é um dos passo importantes para que o
programe funcione.
4. Da mesma maneira que um treinador de futebol, natação ou ginástica olímpica, a
escola vai precisar de um coordenador do programa. Seria interessante que a pessoa
escolhida para esta função permanecesse o maior número de horas possíveis dentro
da escola, estar comprometido com o programa, ser apreciativo para com os acertos
46
e erros dos alunos mediadores e ter a capacitação necessária para atuar como coach
em mediação. Este coordenador não exerce o papel de formador de mediadores.
Uma característica importante em um programa desta envergadura é a habilidade da
escola em elaborar políticas em relação aos casos que podem ou não ser mediados e esta
política deverá estar em consonância com as demais políticas e procedimentos do
regulamento da escola. Os casos que não são atendidos pela mediação de pares são aqueles
que fogem ao escopo da área privada, ou seja, onde a intervenção do poder público é
necessária, como por exemplo: alunos portando armas, lutas corporais nas quais armas
foram utilizadas, abuso sexual, ataques físicos graves com uso de armas ou não. Nestes
casos permanece a eventualidade de uma sanção penal. Também não são mediáveis os
casos envolvendo psicopatologias graves.
A mediação de pares atua no campo da mediação cidadã: esta não se dirige aos
delinqüentes e às vítimas, não coloca em pauta reparações e indenizações, não tem espadas
e nem divisas. O aluno mediador aprende a conhecer que o conflito não é um mal em si,
mas uma oportunidade onde ao se abrir uma brecha para a solução pelo diálogo, mesmo
que o clima inicialmente não seja de harmonia suave, pois toda passagem é custosa e não se
estabelece sem esforço. Cabe à equipe de treinamento, ao coordenador, ao coach e aos
adultos da escola despertar nos alunos o interesse em solucionar seus problemas
despertando a paz e a boa convivência dentro da escola e fora dela.
Definida a filosofia e a metodologia para a implantação do programa e tendo em
mente os objetivos da mediação escolar:
1. Melhoria das relações aluno e professor, aluno e sua família;
2. Melhoria do ambiente em sala de aula pela diminuição das tensões;
3. Desenvolvimento de pensamento crítico, habilidades para solucionar problemas
e assertividade;
4. Desenvolver ambiente cooperativo e senso de comunidade na escola;
47
5. Resolver disputas entre pares que interferem no clima da escola e nos processos
de educação;
6. Dar mais tempo ao professor para cuidar de seus afazeres para os quais foi
formado.
Pode-se então iniciar implementação do programa para o qual sugiro quatro fases:
Planejamento e Alcance do Programa
O primeiro passo é escolher o coordenador do programa que poderá ser um membro
do staff da escola, um professor conselheiro, pais ou membros da comunidade que queiram
ser voluntários. As responsabilidades do coordenador seriam:
- cuidar da divulgação e da continuidade do processo de aprendizado
para a mediação de toda a escola;
- supervisionar as atividades relacionadas ao programa;
- preparar o regulamento da mediação de pares;
- manter a escola e a comunidade informada sobre os progressos do
programa.
O programa de ação e estratégias de alcance do programa.nesta primeira etapa
incluiriam os seguintes tópicos:
• Recursos para o programa: considerar recursos necessários para
curto e longo prazo. Inicialmente considerar recursos para
honorários do coordenador e coach, custos com treinamento,
eventuais professores substitutos durante o treinamento, e
despesas diversas (livros, material impresso para divulgação,
cópias, camisetas para os mediadores, etc.).
• Caso a escola não tenha em seu staff ou entre os pais, localizar no
mercado e selecionar profissionais para:
48
a. Ministrar palestras para o corpo docente e
administrativo sobre a nova proposta.
b. Implementar as habilidades de solução de problemas,
assertividade e técnicas de comunicação para os
profissionais e alunos da escola na forma de oficinas.
c. Treinar os alunos –mediadores.
d. Indicar o coach para o programa.
• Juntamente com professores conselheiros e alunos representantes
de classe definir o sistema de seleção de alunos para o
treinamento levando em consideração a diversidade (gênero,
etnia, religião, idade, posição sócio-econômica, etc).
• Treinamento dos alunos mediadores.
• Divulgar o programa dentro da escola e para a comunidade em
geral.
• Avaliação dos alunos treinados e escalonar o trabalho dos
mediadores fora de seu horário de aulas. A mediação de pares
deve ocorrer o mais próximo possível do evento, ou seja, é
importante ter mediadores disponíveis na hora dos intervalos e na
saída do período.
• Definir a política de sigilo. A preservação do sigilo sobre os
assuntos conversados durante a mediação é um dos pontos altos
para o sucesso do programa. É importante que os alunos
mediadores tenham livre acesso ao coordenador e ao coach para
conversar sobre os mais diversos assuntos, pois ambos também
estão inseridos no compromisso de sigilo do programa. Devem
constar do regulamento os assuntos que não serão mantidos em
sigilo, porém tomando cuidado para não ampliar demais esta
lista, já que os alunos deixarão de acreditar nas vantagens da
mediação.
• Atualização e continuidade de treinamentos. Geralmente os
alunos mediadores pertencem às duas últimas séries da escola,
49
podendo haver exceções de forma que para a fluidez do
programa, treinamentos e atualizações devem ser programados
anualmente.
Estrutura Inicial e Divulgação
Durante a primeira fase da implementação os alunos-mediadores já treinados
promoverão encontros de trabalho para exercícios de simulação juntamente com o coach
para que se estabeleça um bom rapport entre eles. Nessa fase o coach prepara o modus
operandi das mediações (cartilha da mediação, locais, agenda, registros dos casos) para,
posteriormente, supervisionar as mediações e orientar os alunos mediadores.
Paralelamente forma-se uma comissão mista de alunos, professores, membros da
administração e pais para desenvolver campanha de divulgação que pode ser uma atividade
inserida na programação de artes ou outra disciplina relacionada ao tema.
Treinamento
Os treinamentos serão organizados a partir do programa desenvolvido e adaptado
para o contexto da escola e da comunidade na qual está inserida. A experiência americana
(ACR-Peer mediation Section) em treinamento de alunos sugere um número médio de
horas, ou seja, entre 18 e 25 horas de treinamento para alunos do ensino médio e entre 8 e
15 horas para alunos das sétimas e oitavas séries do ensino fundamental.
Supervisão
Após a conclusão dos treinamentos, os alunos qualificados ao começarem a mediar
os casos terão todo o apoio do coordenador e/ou do coach para conduziram as primeiras
entrevistas, marcar os encontros de mediação, submeter seus casos à supervisão quando
sentirem necessidade e dar continuidade a seus treinamentos e manter o processo educativo
voltado para à solução de conflitos escolares em toda a escola.
50
Vantagens do programa
Pode-se dizer que em três anos o programa atinja seu potencial desejado, ou seja,
quando o programa atende a pelo menos 10% da população de estudantes em um ano;
quando 1/3 dos conflitos são resolvidos pelos alunos e quando o copo docente e
administrativo perceber que a mediação de pares se tornou parte da cultura da escola. Estes
valores são relativos, pois cada escola é um caso singular, particular e integrado em sua
comunidade.
A partir do momento em que toda a escola compartilha a idéia da mediação de
pares, mesmo que os alunos mais jovens não sejam convidados para o treinamento é
importante que eles recebam, como parte do programa, o treinamento nas habilidades
básicas como escuta ativa, pensamento crítico, colocar-se no lugar do outro, habilidades de
comunicação e assertividade. A cultura da mediação na escola compartilhada por todos
efetivamente diminui as condutas antisociais frente ao conflito desde que possam aplicar o
aprendido em seu dia-a-dia. A resolução de conflitos ensina aos jovens que todos sentem
raiva, medo, angústia, tristeza e alegria e que a expressão das emoções pode se dar por
caminhos mais violentos. Quando as emoções ganham espaço e falar sobre elas passa a ser
natural, os alunos mostram-se mais solidários quando vêem colegas passando por situações
pelas quais já passaram sentindo-se motivados para conversar e descobrir que um mesmo
problema pode ser resolvido de maneiras diversas.
Por outro lado, o professor não precisa mais atuar como agente da ordem. A
necessidade de averiguar discussões e brigas, dar sermões, insistir em pedido de desculpas,
julgar e punir cai vertiginosamente, sobrando-lhe mais tempo para se dedicar ao seu
trabalho específico.
Junto às famílias e a comunidade a escola passa a ser parceira na construção de
uma mentalidade voltada para a importância do bem-estar coletivo onde cada um é
51
responsável para solucionar seus problemas despertando para a paz e uma boa convivência
em sociedade.
A idéia de um universo organizado cede lugar às concepções de evolução e auto-
organização permanente dos fenômenos do universo em todos os setores da sociedade
contemporânea. Há uma interdependência de todos os eventos ou transformações: nenhuma
transformação acontece em um espaço isolado do todo. A escola, como toda a vida em
comunidade ganha uma nova roupagem. O ser humano se constrói na cultura, a
plasticidade do sistema biológico humano permite-o se adaptar a uma variedade ilimitada
de sistemas sociais. O que diferencia a capacidade de adaptação dos atores sociais são as
emoções. É pela vivência emocional que aprendemos a gravar os significados de nossa
cultura, nossos valores e objetivo. Em todas as fases da vida, aprendemos e reaprendemos
com as vivências emocionais. Crianças e jovens
52
COMEMORAÇÃO DE FIM DE CURSO: FESTA OU VIAGEM?
Um grupo de alunos do terceiro grau do ensino médio havia sido escolhido para
participar da comissão de formatura. Eram dois rapazes e duas moças. Entusiasmados com
o fim do curso e de terem um bom motivo para uma grande comemoração, decidiram pr
unanimidade que iram promover algo MUITO DIFERENTE E
ESPECIAL...INESQUECÍVEL!
Foram trocando idéias com outros colegas, com alguns parentes e BOMBA: vamos
curtir uma semana viajando para a chapada dos Veadeiros. Ecoturismo está em alta,
estaremos in.
Programaram uma reunião com todos os colegas, fizeram convite lindo, cheio de
fotos da chapada, do acampamento e chamaram o agente de viagens para “vender a idéia”.
Alguns colegas reclamaram, outros acharam o preço um absurdo nesta época de incertezas,
mas as técnicas de vendas do agente de viagem “colaram”. VENDERAM A IDÉIA,
fecharam o pacote.
Quando o carne de pagamento chegou, algumas das meninas que estavam sonhando
com um baile de formatura, pois os pais não puderam lhes proporcionar a festa de 15 anos,
ficaram revoltadas e foram conversar com a psicóloga da escola. Na verdade, tinham
concordado com a viagem e não tinham e só quando os pais acharam o preço da “festa”
um absurdo é que se tocaram o quanto agiram contra a vontade. E agora? O que Fazer?
A escola sugeriu convocar uma nova reunião de todos os formandos para com o
auxílio de um professor conversar sobre o mal-estar.
O professor explica ao grupo que irão trabalhar o conflito a partir da mediação.
Explica o processo, seu papel de mediador insistindo na sua posição de facilitador
eqüidistante e na responsabilidade dos alunos em chegar a uma solução . Em seguida, a
partir de perguntas abertas permite que os alunos exponham suas idéias sobre a viagem,
sobre a festa e sobre o problema. A partir dos relatos, parafraseia o que ouviu para que os
alunos pudessem ouvir de um terceiro a história do conflito. Ficou definido que havia um
53
grupo que queria a festa tradicional em um clube e outro grupo que preferia a viagem para
a chapada.
Uma vez definido o conflito e identificados os grupos ( dois grupos queriam a festa,
um grupo queria a viagem e um grupo ficou indiferente) o mediador passou a explorar
ambas as situações quanto às vantagens, desvantagens e procurou separar pessoas dos
interesses em jogo.
Em seguida o conflito foi redefinido; as novas idéias anotadas na lousa para que
todos pudessem ver o “mapa” da disputa e tomar consciência sobre o porquê das posições,
sobre os interesses e as necessidades e puderam perceber que as diferenças em como
comemorar o término do curso havia se transformado na arena de coisas mais antigas.
Desde o ano anterior, havia sempre um grupo nas aulas de educação física e artes
(aulas conjuntas das duas turmas de terceiro ano) que sempre tomava a dianteira nas
escolhas das atividades a serem escolhidas. Como a maioria dos colegas entrava na “onda”
deles, ganhavam sempre. A partir da técnica, coloque-se no lugar do outro, os grupos
começaram a ver os sentimentos dos demais e o quanto as posturas adotadas incomodavam
aos demais.
Conversou-se um pouco sobre o que estava latente ao conflito. Seguiu-se uma
tempestade de idéias e os grupos tiveram a oportunidade de conversar entre si para chegar a
uma conclusão por consenso que seria depois compartilhada com os demais dentro das
premissas: não criticar e respeito à opinião do outro. Finalmente escolheram uma terceira
alternativa, financeiramente mais viável a todos e seria uma oportunidade do grupo se
conhecer melhor: um final de semana em um hotel-fazenda com jantar de gala e dança.
Aqui a mediação foi utilizada com objetivo de resolver uma questão importante
para os alunos e também para a escola. Também funcionou como uma aprendizagem.
Como produto desse processo, o relacionamento do grupo melhorou durante o restante do
ano letivo.
Acreditamos que o professor mediador pode criar espaço para que seus alunos
aprendam a gerenciar conflitos de grupos. Porém quando a questão é entre dois alunos, a
mediação de pares traz resultados gratificantes.
54
APRENDIZAGEM PELO CONFLITO
A intenção primeira em uma proposta de mediação de pares é procurar dar um
passo um pouco maior quando o tema são conflitos entre crianças e jovens dentro da
escola. A sugestão não está em administrar conflitos e sim trabalha-los enquanto
oportunidade e soluciona-los ou minimiza-los sob a ótica construcionista.
Nesse sentido, só poderemos treinar os alunos mediadores para auxiliar seus colegas
a vivenciarem face a face suas dificuldades e expuserem seus sentimentos não verbalizados
como raiva, mágoa, ou frustração. O momento de tensão criado no ambiente seguro da
mediação é concreto e na busca da compreensão encontram-se as alternativas para sua
solução. Novas técnicas pedagógicas irão incorporar o afeto e a emoção à teotria da
aprendizagem, visando modificações nas atitudes, nas relações mais profundas e
duradouras. Quanto aos alunos das escola, podem tornar-se sementes para a nova ordem
social e planetária.
Quando crianças internalizam os diálogos que ocorrem em sua rede social, as
palavras são mais do que palavras, trazem em seu bojo elementos sociais e culturais
adjacentes. Assim, o desenvolvimento dos modelos mentais na criança, antes de serem
internalizados, ocorrem num plano social através do diálogo integrando-se posteriormente,
como o modelo individual. Como pleiteava Vygotzky e posteriormente Gergen, primeiro
ocorre o interspicológico (entre pessoas) e depois o intrapsicológico (dentro da criança).
Comunicamus ergo sum
Gergen, 1994
O construcionismo, na tentativa de articular o que existe utilizando a linguagem
obrigam-nos a entrar em um mundo de significados sociais onde o mapa não é o território.
Em outras palavras, as palavras não são imagens, mapas ou réplicas de essências que
existem independentemente de nossa atividade interpretativa. Na escola, como em ouros
espaços sociais, o fazer é refazer. Quando nascemos já temos esquemas conceituais que nos
servem para lançar os primeiros olhares no mundo e os conceitos e categorias aprendidos
são compartilhados por todas as pessoas à medida que desenvolvem o uso da linguagem no
55
espaço da cultura. Sendo a linguagem um fenômeno relacional, o processo de mediação se
transforma na arte de contar e recontar histórias enfatizando técnicas que privilegiem o
diálogo, a negociação, a pragmática social, as práticas culturais e a distribuição de poder.
Como fatores situacionais influenciam os comportamentos das pessoas estes variam
em função de suas atividades ou quais as pessoas que estão à sua volta. Como a mediação
de pares ocorre dentro do espaço da escola e entre alunos, as palavras e expressões
utilizadas para contar a história do conflito fazem sentido a todos facilitando a
compreensão dos comportamentos, dos sentimentos e dos pensamentos resultando em uma
interação que lembra a dança circular na qual os movimentos se traduzem em uma resposta
simétrica aos movimentos do outro.
CCOONNTTAARR AA
HHIISSTTOORRIIAA
((ppaarrtteess))
++
OOuuvviirr aa HHiissttóórriiaa
(mediador)
RReeccoonnttaarr aa
hhiissttóórriiaa
((mmeeddiiaaddoorr))
++
OOuuvviirr aa hhiissttóórriiaa
((ppaarrtteess))
FFaazzeerr ppeerrgguunnttaass
EEssccllaarreecceerr
IIddeennttiiffiiccaarr ffaattooss
ee ccaauussaass
IIddeennttiiffiiccaarr
ppoossssiibbiilliiddaaddeess
((ttooddooss))
BBuussccaarr mmeellhhoorr
aalltteerrnnaattiivvaa
..........
UUmmaa nnoovvaa
hhiissttóórriiaa
((ttooddooss))
1
2
3
4 CONFLITO
56
Processos culturais tanto podem limitar como ampliar a nossa humanidade. Às
vezes, é preciso começar pela margem e não pelo centro para encontrar alternativas para
podermos refazer experiências, as nossas e as dos outros. A mudança é mais fácil de ser
bem-sucedida se começarmos pela margem, a fronteira de ordens já estabelecidas. A
transformação está no centro.
57
BIBLIOGRAFIA
Adorno, S (1998). Gerenciamento Público da vida urbana: a justiça em ação em M.E.
Marques (org) São Paulo sem medo: um diagnóstico da vida urbana (p. 227-244). Rio de
Janeiro: Garamond.
Arendt, H. (1970). On Violence. Orlando/Florida: Harvest.
Ariés, P ( 1973). História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Guanabara-
Koogan.
Atlan, H.( 1994). Com Razão ou Sem Ela: Intercrítica da Ciência e do Mito, Lisboa;
Instituto Piaget.
Bateson, G. (1972) Metadiálogos. Lisboa: Gradiva,
Berkeley Research ( 1994). Domestic violence: spousal abuse. Proprietary document San
Francisco, CA: Berkeley Research.
Bonino, L. (1998). Micromachismos. Madrid: Cemone.
Botura, W.( 1997). Agressões Silenciosas: O contágio pela Comunicação. São Paulo:
Editora OLM
Cobb, S. (1997). The Domestication of Violence in Mediation, Law and Society Review,
vol 31, nr. 3: pp.397-440.
Cohen, R. (1995). Student resolving Conflict: Peer Mediation in Schools, School Mediation
Associates/USA.
Crittenden, P.M.( 1992). Quality of Attachment in Preschool Years. Development and
Psychopathology, 4: pp 209-241.
Damasio, A ( 1994). O erro de Descartes: emoção, razão, e cérebro humano. Lisboa:
Publicações Europa-América.
Duque, D.H. (2001) Conflicto y Escuela, Medellin: IPC.
Freire, P (1970). Pedagogia do Oprimido . Montevideo: Tierra Nueva.
Freire, P. (1998). A Pedagogia da Esperança, São Paulo: Ed. Paz e Terra.
Freire, P. (1991). A Educação na Cidade. São Paulo: Cortez Editores.
Gilligan, C (1982/1993). In a Different Voice. Cambridge: Harvard University Press.
Goodman, A. (1994). Basic Skills for the new Mediator. Rockville: Solomon Press.
58
Goodwin, B. (1994). How the Leopard changed its Spots, The Evolution of Complexity,
N.Y.: Touchstone.
Garbarino, J.(1999). Lost Boys: when our Sons turn violent and how we can save them.
N.Y.: Free Press.
Gergen, K.J. (1994). Realities and Relationships: soundings in social construction.
Cambridge: Harvard University Press.
Guidano, V ( 1991). The Self in Process. New York: Guilford Press.
H.H. Dalai Lama(2002). Compassion or Competition: a Discussion of Human Values in
Business and Economics. Rotterdam: Asoka Publishers.
Joyce-Moniz, L (1993). Psicopatologia do desenvolvimento do adolescente e do adulto.
Lisboa: Mc Graw Hill.
La Taillade, JJ & Jacobson, N S(1997). Domestic violence: antisocial behavior in the
family in D.M. Stoff , J. Breitling, and J.D. Maser (eds.) Handbook of antisocial behavior,
pp. 534-550. New York: John Wiley & Sons.
Lang, M. & Taylor, A.(2000). The Making of a Mediator. S. Francisco: Jossey-Bass.
Lazlo, E.(1996). The Systems View of The World, a holistic vision of our time. N.Y.:
Hampton Press.
Lorenz, K (1966). On Aggression. New York: Harcourt Brace Jovanovich.
Luhman, N. (1995). Social Systems. Stanford: Stanford University Press.
Lungman, S. (1996). La Mediación Escolar. Buenos Aires: Lugar Editorial.
Mahoney, M (1991/1998). Processos Humanos de Mudança ( Human Change Processes ).
Porto Alegre: Artes Médicas.
Maturana, H. (1999). Ontologia da Realidade. Belo Horizonte: Ed. UFMG.
Maturana, H. (1999). Emoções e Linguagem na Educação e na Política. Belo Horizonte:
Ed. UFMG.
Piaget, J (1965). Études Sociologiques. Geneva: Librarie Deoz.
Piaget, J. (1937, 1963a). A construção do real na criança . Rio de Janeiro: Zahar.
Porro, B. (1999). La Resolucion de Conflictos en el Aula. Buenos Aires: Paidós.
Schabbel, C. (1994). Redescobrindo a Holística, uma identidade que se perdeu. São Paulo:
Iglu.
Mediação escolar de pares
Mediação escolar de pares

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Desenvolvimento de Habilidades Sociemocionais nos professores
Desenvolvimento de Habilidades Sociemocionais nos professores Desenvolvimento de Habilidades Sociemocionais nos professores
Desenvolvimento de Habilidades Sociemocionais nos professores Flavio Santos
 
Conflitos na adolescência - Blog Desafio da Psicopedagogia
Conflitos na adolescência - Blog Desafio da PsicopedagogiaConflitos na adolescência - Blog Desafio da Psicopedagogia
Conflitos na adolescência - Blog Desafio da PsicopedagogiaPaulo Martins
 
Apresentação auto estima grupo 1
Apresentação auto estima grupo 1Apresentação auto estima grupo 1
Apresentação auto estima grupo 1pedagogicosjdelrei
 
Gestão de Conflitos - Diferentes Abordagens para Conseguir Melhores Resultados
Gestão de Conflitos - Diferentes Abordagens para Conseguir Melhores ResultadosGestão de Conflitos - Diferentes Abordagens para Conseguir Melhores Resultados
Gestão de Conflitos - Diferentes Abordagens para Conseguir Melhores ResultadosRenato Martinelli
 
Desenvolvimento das-competencias-socioemocionais-
Desenvolvimento das-competencias-socioemocionais-Desenvolvimento das-competencias-socioemocionais-
Desenvolvimento das-competencias-socioemocionais-cidoca123
 
Ansiedade, como vencê la
Ansiedade, como vencê laAnsiedade, como vencê la
Ansiedade, como vencê laIsaias Christal
 
Gestão Escolar: enfrentando os desafios cotidianos
Gestão Escolar: enfrentando os desafios cotidianosGestão Escolar: enfrentando os desafios cotidianos
Gestão Escolar: enfrentando os desafios cotidianosUlisses Vakirtzis
 
A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLAA FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLAAclecio Dantas
 
Ansiedade, Depressão & superação
Ansiedade, Depressão & superaçãoAnsiedade, Depressão & superação
Ansiedade, Depressão & superaçãoRafael Almeida
 
Formacao gestao de_conflitos_16h_ar
Formacao gestao de_conflitos_16h_arFormacao gestao de_conflitos_16h_ar
Formacao gestao de_conflitos_16h_arAlcino Rodrigues
 
Função e Atuação do Gestor Escolar
Função e Atuação do Gestor EscolarFunção e Atuação do Gestor Escolar
Função e Atuação do Gestor Escolarwr1996
 
Sessão de formação - gestão de conflitos: dinâmicas de grupo - I
Sessão de formação - gestão de conflitos: dinâmicas de grupo - ISessão de formação - gestão de conflitos: dinâmicas de grupo - I
Sessão de formação - gestão de conflitos: dinâmicas de grupo - ICristina Couto Varela
 

Mais procurados (20)

Apresentação1 autoestima AUTOESTIMA
Apresentação1 autoestima AUTOESTIMA Apresentação1 autoestima AUTOESTIMA
Apresentação1 autoestima AUTOESTIMA
 
Professores Autoestima
Professores AutoestimaProfessores Autoestima
Professores Autoestima
 
Autoestima
AutoestimaAutoestima
Autoestima
 
Comunicação não violenta
Comunicação não violentaComunicação não violenta
Comunicação não violenta
 
Desenvolvimento de Habilidades Sociemocionais nos professores
Desenvolvimento de Habilidades Sociemocionais nos professores Desenvolvimento de Habilidades Sociemocionais nos professores
Desenvolvimento de Habilidades Sociemocionais nos professores
 
Dinâmica de grupo
Dinâmica de grupoDinâmica de grupo
Dinâmica de grupo
 
Conflitos na adolescência - Blog Desafio da Psicopedagogia
Conflitos na adolescência - Blog Desafio da PsicopedagogiaConflitos na adolescência - Blog Desafio da Psicopedagogia
Conflitos na adolescência - Blog Desafio da Psicopedagogia
 
Apresentação bullying
Apresentação bullyingApresentação bullying
Apresentação bullying
 
Apresentação auto estima grupo 1
Apresentação auto estima grupo 1Apresentação auto estima grupo 1
Apresentação auto estima grupo 1
 
Gestão de Conflitos - Diferentes Abordagens para Conseguir Melhores Resultados
Gestão de Conflitos - Diferentes Abordagens para Conseguir Melhores ResultadosGestão de Conflitos - Diferentes Abordagens para Conseguir Melhores Resultados
Gestão de Conflitos - Diferentes Abordagens para Conseguir Melhores Resultados
 
Desenvolvimento das-competencias-socioemocionais-
Desenvolvimento das-competencias-socioemocionais-Desenvolvimento das-competencias-socioemocionais-
Desenvolvimento das-competencias-socioemocionais-
 
Ansiedade, como vencê la
Ansiedade, como vencê laAnsiedade, como vencê la
Ansiedade, como vencê la
 
Gestão Escolar: enfrentando os desafios cotidianos
Gestão Escolar: enfrentando os desafios cotidianosGestão Escolar: enfrentando os desafios cotidianos
Gestão Escolar: enfrentando os desafios cotidianos
 
Comunicação Não Violenta
Comunicação Não ViolentaComunicação Não Violenta
Comunicação Não Violenta
 
A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLAA FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
 
Ansiedade, Depressão & superação
Ansiedade, Depressão & superaçãoAnsiedade, Depressão & superação
Ansiedade, Depressão & superação
 
Formacao gestao de_conflitos_16h_ar
Formacao gestao de_conflitos_16h_arFormacao gestao de_conflitos_16h_ar
Formacao gestao de_conflitos_16h_ar
 
Auto estima.ppt 2014 (hj)
Auto estima.ppt 2014 (hj)Auto estima.ppt 2014 (hj)
Auto estima.ppt 2014 (hj)
 
Função e Atuação do Gestor Escolar
Função e Atuação do Gestor EscolarFunção e Atuação do Gestor Escolar
Função e Atuação do Gestor Escolar
 
Sessão de formação - gestão de conflitos: dinâmicas de grupo - I
Sessão de formação - gestão de conflitos: dinâmicas de grupo - ISessão de formação - gestão de conflitos: dinâmicas de grupo - I
Sessão de formação - gestão de conflitos: dinâmicas de grupo - I
 

Destaque

Mediação prática e resultados - Dra. rita andréa guimarães
Mediação prática e resultados - Dra. rita andréa guimarãesMediação prática e resultados - Dra. rita andréa guimarães
Mediação prática e resultados - Dra. rita andréa guimarãesadventocongressos
 
Fases do processo de mediação
Fases do processo de mediaçãoFases do processo de mediação
Fases do processo de mediaçãoCátia Silva
 
Meditação - A Arte de Viver
Meditação - A Arte de ViverMeditação - A Arte de Viver
Meditação - A Arte de ViverDaniel Cukier
 
Técnicas de questionamento em Mediação de Conflitos
Técnicas de questionamento em Mediação de ConflitosTécnicas de questionamento em Mediação de Conflitos
Técnicas de questionamento em Mediação de ConflitosCorinna Schabbel
 
Meditação e a arte de viver nas Escolas
Meditação e a arte de viver nas EscolasMeditação e a arte de viver nas Escolas
Meditação e a arte de viver nas EscolasElis de Castro Alonso
 
Equipes Autogerenciadas e Meditação no Google
Equipes Autogerenciadas e Meditação no GoogleEquipes Autogerenciadas e Meditação no Google
Equipes Autogerenciadas e Meditação no GoogleAlércio Bressano
 
Palestra sobre Meditação
Palestra sobre MeditaçãoPalestra sobre Meditação
Palestra sobre Meditaçãoannedecio
 
Meditação
Meditação Meditação
Meditação annemader
 
Slide meditacao pronto
Slide meditacao prontoSlide meditacao pronto
Slide meditacao prontoAnanda Medina
 
Power point como meditar
Power point como meditarPower point como meditar
Power point como meditarAgatedb
 
meditação_yoga_2015
meditação_yoga_2015meditação_yoga_2015
meditação_yoga_2015Cuca Righini
 
Meditação Simplesmente em português
Meditação Simplesmente em portuguêsMeditação Simplesmente em português
Meditação Simplesmente em portuguêsDada Rainjitananda
 
COMO DOMINAR SUAS EMOÇÕES E TORNÁ-LAS POSITIVAS
COMO DOMINAR SUAS EMOÇÕES E TORNÁ-LAS POSITIVASCOMO DOMINAR SUAS EMOÇÕES E TORNÁ-LAS POSITIVAS
COMO DOMINAR SUAS EMOÇÕES E TORNÁ-LAS POSITIVASMarciano R. Santos
 

Destaque (20)

Passo a-passo de meditação
Passo a-passo de meditaçãoPasso a-passo de meditação
Passo a-passo de meditação
 
Mediação prática e resultados - Dra. rita andréa guimarães
Mediação prática e resultados - Dra. rita andréa guimarãesMediação prática e resultados - Dra. rita andréa guimarães
Mediação prática e resultados - Dra. rita andréa guimarães
 
Meditação
Meditação Meditação
Meditação
 
Fases do processo de mediação
Fases do processo de mediaçãoFases do processo de mediação
Fases do processo de mediação
 
Meditação - A Arte de Viver
Meditação - A Arte de ViverMeditação - A Arte de Viver
Meditação - A Arte de Viver
 
Curso de meditação
Curso de meditaçãoCurso de meditação
Curso de meditação
 
Técnicas de questionamento em Mediação de Conflitos
Técnicas de questionamento em Mediação de ConflitosTécnicas de questionamento em Mediação de Conflitos
Técnicas de questionamento em Mediação de Conflitos
 
Meditação e a arte de viver nas Escolas
Meditação e a arte de viver nas EscolasMeditação e a arte de viver nas Escolas
Meditação e a arte de viver nas Escolas
 
Equipes Autogerenciadas e Meditação no Google
Equipes Autogerenciadas e Meditação no GoogleEquipes Autogerenciadas e Meditação no Google
Equipes Autogerenciadas e Meditação no Google
 
Meditacao e Mediunidade
Meditacao e MediunidadeMeditacao e Mediunidade
Meditacao e Mediunidade
 
Palestra sobre Meditação
Palestra sobre MeditaçãoPalestra sobre Meditação
Palestra sobre Meditação
 
Trabalho ..
Trabalho ..Trabalho ..
Trabalho ..
 
Chi kung, tai chi chuan e meditação em oncologia
Chi kung, tai chi chuan e meditação em oncologiaChi kung, tai chi chuan e meditação em oncologia
Chi kung, tai chi chuan e meditação em oncologia
 
Meditação
Meditação Meditação
Meditação
 
Slide meditacao pronto
Slide meditacao prontoSlide meditacao pronto
Slide meditacao pronto
 
Como meditar?
Como meditar?Como meditar?
Como meditar?
 
Power point como meditar
Power point como meditarPower point como meditar
Power point como meditar
 
meditação_yoga_2015
meditação_yoga_2015meditação_yoga_2015
meditação_yoga_2015
 
Meditação Simplesmente em português
Meditação Simplesmente em portuguêsMeditação Simplesmente em português
Meditação Simplesmente em português
 
COMO DOMINAR SUAS EMOÇÕES E TORNÁ-LAS POSITIVAS
COMO DOMINAR SUAS EMOÇÕES E TORNÁ-LAS POSITIVASCOMO DOMINAR SUAS EMOÇÕES E TORNÁ-LAS POSITIVAS
COMO DOMINAR SUAS EMOÇÕES E TORNÁ-LAS POSITIVAS
 

Semelhante a Mediação escolar de pares

Indicações de leitura
Indicações de leituraIndicações de leitura
Indicações de leituraFDernandes
 
Impressões "Interação"
Impressões "Interação"Impressões "Interação"
Impressões "Interação"Carina
 
Afetividade e aprendizagem a relação professor aluno
Afetividade e aprendizagem a relação professor alunoAfetividade e aprendizagem a relação professor aluno
Afetividade e aprendizagem a relação professor alunoGeisa Gomes
 
Livro reflexões sobre_educação_online
Livro reflexões sobre_educação_onlineLivro reflexões sobre_educação_online
Livro reflexões sobre_educação_onlineelmara
 
Apresentacao vygotsky 1
Apresentacao vygotsky 1Apresentacao vygotsky 1
Apresentacao vygotsky 1Nuap Santana
 
Abordagens sociopolíticas da educação
Abordagens sociopolíticas da educaçãoAbordagens sociopolíticas da educação
Abordagens sociopolíticas da educaçãoEdilene Pina
 
Aula iejo d om_valentino_ pedagogia da autonomia
Aula iejo   d om_valentino_ pedagogia da autonomiaAula iejo   d om_valentino_ pedagogia da autonomia
Aula iejo d om_valentino_ pedagogia da autonomiaNadia Leal
 
O Jovem e o seu Direito de Aprendizagem
O Jovem e o seu Direito de AprendizagemO Jovem e o seu Direito de Aprendizagem
O Jovem e o seu Direito de AprendizagemJomari
 
Projeto de contação de histórias
Projeto de contação de históriasProjeto de contação de histórias
Projeto de contação de históriasAmanda Freitas
 
AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...
AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...
AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...LeonardoCarrizo11
 
AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...
AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...
AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...LeonardoCarrizo11
 
Reconhecimento Intersubjetivo em Redes Sociais na Internet
Reconhecimento Intersubjetivo em Redes Sociais na InternetReconhecimento Intersubjetivo em Redes Sociais na Internet
Reconhecimento Intersubjetivo em Redes Sociais na InternetVanessa Nogueira
 
Mathew Lipman, Ann Margaret Sharp e outros - Filosofia para Crianças.pdf
Mathew Lipman, Ann Margaret Sharp e outros - Filosofia para Crianças.pdfMathew Lipman, Ann Margaret Sharp e outros - Filosofia para Crianças.pdf
Mathew Lipman, Ann Margaret Sharp e outros - Filosofia para Crianças.pdfElizabete Vidal
 
Saberes e Pilares da Educação -PUC RJ
Saberes e Pilares da Educação -PUC RJSaberes e Pilares da Educação -PUC RJ
Saberes e Pilares da Educação -PUC RJclaudiante
 
Artigo leitura
Artigo   leituraArtigo   leitura
Artigo leituraMarcos2rr
 
Interatividade e interpessoalidade nas relações
Interatividade e interpessoalidade nas relaçõesInteratividade e interpessoalidade nas relações
Interatividade e interpessoalidade nas relaçõesConceição Rosa
 

Semelhante a Mediação escolar de pares (20)

Indicações de leitura
Indicações de leituraIndicações de leitura
Indicações de leitura
 
Impressões "Interação"
Impressões "Interação"Impressões "Interação"
Impressões "Interação"
 
Afetividade e aprendizagem a relação professor aluno
Afetividade e aprendizagem a relação professor alunoAfetividade e aprendizagem a relação professor aluno
Afetividade e aprendizagem a relação professor aluno
 
Livro reflexões sobre_educação_online
Livro reflexões sobre_educação_onlineLivro reflexões sobre_educação_online
Livro reflexões sobre_educação_online
 
Apresentacao vygotsky 1
Apresentacao vygotsky 1Apresentacao vygotsky 1
Apresentacao vygotsky 1
 
Abordagens sociopolíticas da educação
Abordagens sociopolíticas da educaçãoAbordagens sociopolíticas da educação
Abordagens sociopolíticas da educação
 
Aula iejo d om_valentino_ pedagogia da autonomia
Aula iejo   d om_valentino_ pedagogia da autonomiaAula iejo   d om_valentino_ pedagogia da autonomia
Aula iejo d om_valentino_ pedagogia da autonomia
 
Jc 73 net
Jc 73  netJc 73  net
Jc 73 net
 
Jc 73 net
Jc 73  netJc 73  net
Jc 73 net
 
O Jovem e o seu Direito de Aprendizagem
O Jovem e o seu Direito de AprendizagemO Jovem e o seu Direito de Aprendizagem
O Jovem e o seu Direito de Aprendizagem
 
Projeto de contação de histórias
Projeto de contação de históriasProjeto de contação de histórias
Projeto de contação de histórias
 
AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...
AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...
AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...
 
AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...
AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...
AD1 - 2022.2 - Didática - Leonardo Areal Carrizo - 22111080048 - Sarah Soares...
 
Reconhecimento Intersubjetivo em Redes Sociais na Internet
Reconhecimento Intersubjetivo em Redes Sociais na InternetReconhecimento Intersubjetivo em Redes Sociais na Internet
Reconhecimento Intersubjetivo em Redes Sociais na Internet
 
Mathew Lipman, Ann Margaret Sharp e outros - Filosofia para Crianças.pdf
Mathew Lipman, Ann Margaret Sharp e outros - Filosofia para Crianças.pdfMathew Lipman, Ann Margaret Sharp e outros - Filosofia para Crianças.pdf
Mathew Lipman, Ann Margaret Sharp e outros - Filosofia para Crianças.pdf
 
Comportamento humano assertivo
Comportamento humano assertivoComportamento humano assertivo
Comportamento humano assertivo
 
Saberes e Pilares da Educação -PUC RJ
Saberes e Pilares da Educação -PUC RJSaberes e Pilares da Educação -PUC RJ
Saberes e Pilares da Educação -PUC RJ
 
Artigo leitura
Artigo   leituraArtigo   leitura
Artigo leitura
 
Interatividade e interpessoalidade nas relações
Interatividade e interpessoalidade nas relaçõesInteratividade e interpessoalidade nas relações
Interatividade e interpessoalidade nas relações
 
Educação Inclusiva
Educação InclusivaEducação Inclusiva
Educação Inclusiva
 

Mediação escolar de pares

  • 1. 1
  • 2. 2 MEDIAÇÃO ESCOLAR DE PARES Semeando a paz entre os jovens Corinna Schabbel, Ph.D. Willis Harmann House Lançamento: outubro 2002
  • 3. 3 DEDICO ESTE LIVRO A Cynthia e Victor, meus filhos Representando todos os jovens deste País In Memorian Libby Douvan, Ph.D.
  • 4. 4 AGRADEÇO O texto que ora trago ao público é parte do que foi originalmente produzido como tese de doutorado, apresentada ao programa Human and Organizational Development do Fielding Institute em Santa Bárbara, Califórnia. É o resultado de um trabalho conjunto. Sem o bom-humor, a ironia e as provocações reflexivas de meu mentor Lenneal Henderson, Ph.D. de meu co-orientador Barnett Pierce, Ph.D. não chegaria às conclusões que agora apresento. Como este trabalho é uma construção coletiva em um momento e lugar, minha especial gratidão aos alunos e professores que participaram da pesquisa e me permitiram entrar em seus territórios e desvendar suas realidades, tornado-se os alicerces e motivo de minha construção.
  • 5. 5 PRÓLOGO Todo livro tem uma história e uma razão para ter sido escrito. As razões que me levaram a escrever este livro estão ancoradas em meu próprio processo de aprendizagem enquanto mulher, mãe, professora e cidadã preocupada com o futuro de nossos jovens. Em 1997conheci Sara Cobb que me convidou a fazer o doutorado no Fielding Institute na Califórnia. Fui aprovada em Janeiro de 1998 para o programa Human and Organizationa Development (Desenvolvimento Humano e Organizacional). Participar do programa provocou uma ruptura em minha maneira de pensar e ver o mundo. Desde então, vivo em crise intelectual. Há muitos anos sentia-me insatisfeita com o mecanicismo no domínio da Psicologia e da Educação e nunca conseguira me deparar com um texto, um autor ou uma escola que o substituísse. Nas minhas andanças e pesquisas bibliográficas para desenvolver o tema que havia escolhido para o meu trabalho de doutorado, comecei a encontrar a resposta para o meu dilema ao estudar Humberto Maturana, Francisco Varella e Ludwig Wittgenstein. Fiquei entusiasmada ao ler seus escritos e por encontrar no Fielding interlocutores provocadores e apreciativos para com meus questionamentos e minhas dúvidas. Aos poucos, senti-me mais confiante e incentivada por um grande amigo, Bradford Keeney, terminei o doutorado, perseverei as leituras sobre os novos paradigmas e acrescentei muitas leituras sobre espiritualidade e etnografia. Num misto de encantamento e desânimo por não ter tempo suficiente para ler todas as pilhas de papéis e livros que me esperavam a cada fim-de-semana, viví algumas crises importantes e uma certa confusão mental... era o próprio exemplo do caos. Como depois do caos vem uma nova ordem, comecei a perceber a importância das novas idéias em minha vida pessoal e profissional. Desde o meu primeiro livro, quando me propus a retomar a holística, perdida no emaranhado da vida contemporânea, percebi que buscava novas idéias para a minha atividade profissional. Foi quando ocorreu me encontro com a mediação. O que havia aprendido quanto à teoria e às técnicas de psicoterapia não me traziam a satisfação esperada no trabalho com as pessoas em conflito. Havia um espaço a ser preenchido, meu modelo mental estava incompleto o que passou a me afligir em muitos momentos, inclusive no trabalho. A resposta à minha angústia veio através de uma observação feita por minha filha
  • 6. 6 e, alguns dias depois pelo meu filho: “Mãe, você é séria.” Fiquei chateada e tive um insight. A razão, uma idéia subversiva em nossa sociedade que teve sua origem em Platão, colocou na sombra, durante séculos, a verdadeira origem dos fenômenos humanos: o amor. Falo aqui do amor enquanto domínio emocional humano assim como o conhecer é o domínio cognitivo do homem. Passei a compreender a dimensão do amor em um seminário com Vittorio Guidano. Para ele, há que se entender o amor como o espaço emocional onde vivem os “animais intersubjetivos” como o homem sendo que no espaço intersubjetivo o que conta são os encontros e desencontros, o apego e a separação das figuras significativas em nossas vidas. Trata-se de transformar o homo sapiens em homo psicologicus, um ser sintonizado com os outros ou simplesmente pessoas em relação. Nas ciências, durante muito tempo, o amor foi dissociado da evolução. Pensar, sentir e agir estudados de maneira dissociada foram de suma importância para se compreender os fenômenos humanos. Porém, para se compreender os fenômenos humanos em nosso mundo contemporâneo implica em valorizar relações baseadas no amor. A partir de relações interpessoais mais amorosas, cada um de nós tem maiores possibilidades de transcender a arrogância e a solidão, tornando-nos seres mais solidários. Com este trabalho pretendo acreditar mais no sorriso da criança. Ao nascer, somos emoção e nela investimos para estabelecer relações de amor com outros seres humanos e aprender o valor dos vínculos afetivos e sua permanência em nossas vidas. Pretendo também acreditar mais nos jovens e em suas reflexões como fontes valiosas para a origem de uma nova consciência moral profundamente enraizada nos afetos. Assim, ao acreditar na criança e no jovem, o papel do educador inclui o desenvolvimento de uma cultura do diálogo, do respeito, do consenso e da paz num ambiente escolar onde todas as pessoas - alunos, professores e administradores - tenham a disponibilidade para aprender habilidades que lhe sirvam para evitar enfrentamentos inúteis, bem como para reparar de maneira pacífica os relacionamentos desgastados ou deteriorados. A difusão de conceitos como responsabilidade social e voluntariado nas escolas trouxeram experiências pioneiras para adolescentes integrando-os com a comunidade consigo. A implantação de programas de mediação nas escolas irá contemplar jovens e educadores com as possibilidades de diálogo mais conscientes.
  • 7. 7 Espero com esta obra, semear a mediação escolar não como mais uma técnica da moda, mas sim como um processo de aprendizagem dirigido a tratar conflitos de maneira pacífica onde nossas crianças e jovens aprendam que a escuta, o respeito mútuo, a tolerância, a cooperação e o diálogo são aspectos naturais das relações entre pessoas que convivem em sociedade.
  • 8. 8 SOMOS SERES EM RELAÇÃO Pessoas e grupos sociais se relacionam através da comunicação. A partir da revolução cibernética a linguagem deixa de ser tão somente um sistema semântico e sintáxico passando a fazer parte do rol de comportamentos humanos. Linguagem é ação e como tal dá ênfase emocional ao conteúdo da conversação, aproxima ou afasta pessoas. A criança ao aprender sua língua materna está aprendendo uma forma de vida começando a fazer parte de um sistema de práticas compartilhadas. A aprendizagem ocorre através do diálogo permitindo que o conhecimento seja assimilado de acordo com a estrutura e visão de mundo do aprendiz. Em outras palavras, o conhecimento adquirido no espaço social da escola favorece a reflexão e a cooperação, facilita a mudança e o crescimento. A educação por sua vez, se constitui em um processo dialógico contínuo baseado nas experiências primárias onde família, escola e comunidade são os agentes externos que auxiliam na organização dos pensamentos, das emoções, dos processos intelectuais a partir da experiência imediata. Para que os alunos se sintam confortáveis no espaço da escola, o professor ao ser receptivo permite que o aluno se aproxime para que juntos criem e recriem uma caminhada formadora baseada na solidariedade e no respeito mútuo. A comunicação oral e corporal amplia as fronteiras pessoais, permite a expressão, o aprendizado e a socialização. A linguagem enquanto processo interativo constrói espaços compartilhados de pessoas em relação que, para Maturana, tem uma função criadora, não enquanto filosofia, mas como uma forma existencial e biológica, uma condição do ser humano. Para Wittgenstein o aprendizado da linguagem se dá a partir dos jogos de linguagem que permitem o desenvolvimento da habilidade de comunicação em um contexto estruturado. Os jogos de linguagem formam os significados que vão além de sua referência prévia, uma vez que são destituídos de essências absolutas. A atividade social é que imprime um significado às palavras. Para conhecer a linguagem é preciso desenvolver a capacidade de penetrar em várias redes de convenções que formam a base da intersubjetividade e comunicação significativa e participativa entre pessoas.
  • 9. 9 Viver em relação implica na construção de um conhecimento de nós mesmos e do mundo circundante a partir de atividades sociais nas quais se criam e recriam diferentes categorias da experiência como o verdadeiro ou o falso, o real ou o irreal, o certo ou o errado, o subjetivo ou o objetivo, a vivência e a explicação e assim por diante. O cotidiano relacional é construído a partir da percepção EU-OUTRO, flui na emoção e na linguagem, torna possíveis os encontros entre pessoas se constrói visões de ser, pertencer e relacionar.. Também interferem nas relações sociais as mudanças de significado ocorridas no contexto, como mudanças do perfil demográfico, a competitividade social e a diversidade de modelos de família, mudanças que desafiam, a cada instante, crenças, comportamentos, moral e sentimentos os quais, embora apareçam como que desvinculados de uma época histórica estão profundamente enraizados nos mitos e crenças sociais e familiares. A concepção circular dos fenômenos sociais, a visão de seres humanos enquanto sistemas estruturalmente determinados pressupõe que o humano se constitui no entrelaçamento do racional com o emocional e espiritual e expressa-se no fazer humano. Compreendendo melhor os significados compartilhados pelos jovens, a dinâmica do discurso, bem como as emoções a ele subjacentes, instrumentos de cunho artesanal que incluem o brincar ( onde as regras emergem a cada momento), o jogar ( onde as regras são pré-estabelecidas) e o aprender (assimilação e acomodação de conteúdos) onde se inclui a participação de educandos e educadores, privilegia o auto-conhecimento e o diálogo. Se através da comunicação nos aproximamos uns dos outros também é pela comunicação que nos afastamos. A partir de um afastamento, cria-se um espaço fértil para a divergência e para o conflito. Professor e alunos compartilham a sala de aula enquanto espaço social de aprendizagem e interação. É parte do mundo existencial de relações de cada um. As divergências que surgem em sala de aula entre professor e aluno ou entre alunos são freqüentes e, na maioria das vezes, o professor não é bem sucedido na sua tentativa de resolver a questão. Assim, ao invés de incentivar o diálogo, incentiva-se a discussão, uma segunda forma de discurso. Na discussão a questão pode ser analisada e dissecada pelos participantes, mas a regra do jogo é vencer e, nesse caso, a idéia ou visão de um dos participantes irá prevalecer e será aceita pelo grupo. Em contrapartida, no
  • 10. 10 diálogo os participantes exploram a questão para chegar a resultados comuns que vão além de suas visões individuais. Dialogar é explorar, participar e aceitar as incoerências de nosso pensamento. Enquanto a discussão busca um acordo ou uma conclusão, o diálogo busca uma compreensão maior da questão ou uma síntese. No âmbito da pragmática da comunicação humana, tanto o diálogo quanto a discussão co-existem e são necessários para tomada de decisões e para se chegar a um consenso. Também fazem parte do processo de comunicação a indagação e reflexão. Na indagação estamos em interação direta com outras pessoas para esclarecer dúvidas, buscar informações adicionais, ou seja, fazer perguntas para aumentar nosso conhecimento sobre a questão. Refletir significa desacelerar nossos pensamentos, evitar “castelos de areia” e concentrar-se na questão. Quando um grupo é convidado a tomar uma decisão ou analisar uma questão importante, é preciso haver discussão, porém pautada na reflexão e não na emoção. Ponderam-se visões alternativas que levam à convergência e à ação. Quando o grupo é convidado a desenvolver um projeto, resolver um impasse, os diálogos são adequados para uma compreensão mais ampla do assunto. Não se busca um acordo ou conclusão, mas a transformação pela reflexão de maneira que novas ações surgem como conseqüência. Os resultados de uma pesquisa realizada com alunos regulares de um curso profissionalizante (rapazes e moças) mostraram que os jovens estão muito preocupados com o macro-contexto social e conversam em grupos a respeito o que facilita a educação para a cidadania, já que compartilham as preocupações dos familiares e educadores no que se refere às condições sócio-econômicas atuais. Assim sendo, torna-se possível implementar nas escolas programas que permitam a esses jovens desenvolverem redes de conversações e reflexão para minimizar e prevenir os conflitos escolares. A partir de uma nova consciência social, menos dogmática, a resolução de controvérsias e conflitos se dará a partir de idéias orientadoras de senso coletivo enfatizando a noção de que todos são responsáveis pela sua comunidade contemplando o auto-respeito e a integração que minimiza situações conflitantes já que somos como somos em congruência com nosso meio e que nosso meio é como é em congruência conosco. ( Maturana). Trabalhar com adolescentes tem sido uma tarefa gratificante sempre cheia de surpresas e questionamentos. Durante o período em que preparei o material de campo para
  • 11. 11 o doutorado e, posteriormente, ao investigar a viabilidade de se tornarem mediadores, tenho me deparado com os desencontros havidos ao se tentar definir o jovem e o adulto contemporâneos. Os conflitos entre gerações são alvo tanto da ciência quanto da arte deixando marcas indeléveis em nossa memória quanto à provocação dos mais jovens, sua irreverência, suas crenças arraigadas em um modelo político melhor, suas paixões desenfreadas e sua falta de limites. Quantas mudanças sociais e políticas podem ser creditadas a eles? Muitas, em muitos lugares, em épocas diferentes. Nas últimas décadas o significado de ser jovem ou manter-se jovem vem mudando à medida que juventude vem sendo vendida como uma espécie de mercadoria, inclusive, em prateleiras de supermercado. A cultura jovem é hoje praticada por pessoas de todas as idades o que vem dificultando a identificação dos jovens a partir de um determinado padrão de consumo, comportamento ou valorização de determinados signos como sendo um referencial ou significado dos adolescentes de nossa sociedade. Como entender o significado social do ser jovem associada à indecisa condição de ser adolescente? A adolescência, classicamente definida como um estado de rebeldia, revolta, transitoriedade, turbulência emocional, tensão, ambigüidade e inquietude podem ser resumidas em um único conceito: necessidade de mudança. Para mudar provocam o caos em suas próprias vidas e nas vidas de quem com eles convive. Aos poucos, reorganizam-se e ingressam no mundo adulto cheios de vontade de vencer e serem bem-sucedidos através de suas próprias escolhas. Assim, entre encontros e desencontros consigo mesmo e com o outro, vão encontrando e desenvolvendo sua identidade a uma velocidade incrível em virtude dos recursos tecnológicos que têm à disposição para acessar todo e qualquer tipo de informação, tornam-se práticos-reflexivos obedecendo ao ritmo de seu tempo interior e biológico. Muitos colocam a paciência de seus pais, professores e demais adultos pertencentes à sua rede social à prova pois – na visão dos adultos - sempre têm uma exigência a fazer, são vistos como mal-agradecidos, vestem-se de forma inadequada, ostentam hábitos aborrecidos, recusam-se a comunicar-se de forma inteligível e assim por diante. Aos próprios olhos, estão sendo totalmente naturais e adequados.
  • 12. 12 Se professores e diretores de escola ouviram com reservas a proposta da mediação de pares, a maioria do grupo consultado (67,4% dos entrevistados) ficou entusiasmada com a possibilidade de aprenderem a negociar. Ter recursos mais eficientes para resolver seus próprios problemas e questões e ainda poderem ajudar colegas em situação mais difíceis poderia também ajuda-los nas relações com os irmãos e com os pais. Também salientaram a importância dos professores criarem em sala de aula um clima adequado tentando conversar mais e utilizar menos o uso coercitivo, impositivo ou repressivo de sua autoridade e também parar de ameaçar com castigo e sanções. Segundo os alunos, os professores que mais gostam são aqueles que mantém a disciplina da classe na base da conversa e da participação de todos na aula.... um tipo de aula onde todos podem se expor sem vergonha ou medo de errar. Quanto aos professores, muitos se sentem despreparados para mudar a rotina das aulas, pois em muitas escolas, faltam ferramentas pedagógicas e, quando as têm, faltam- lhes técnicas eficientes para ensinar aos alunos para que sejam os protagonistas na busca de solução aos problemas e conflitos que surgem em sala de aula. Acabam utilizando métodos coercitivos e punitivos que não resolvem, apenas transferem o problema para o coordenador ou para a diretoria da escola. A mediação enquanto um processo de comunicação possibilita-nos considerar a sua aplicação no âmbito da escola como algo mais pretensioso não redutível à mera solução dos conflitos intra-escolares. Refiro-me aqui à necessidade da prevenção e não apenas à solução destes. Essa possibilidade existe à medida que entendermos ser possível implementar a mediação não apenas como uma técnica e sim um método pedagógico, válido para todos os atores sociais do sistema educativo: pais, alunos, docentes, diretores, administradores, etc. Um método baseado na escuta, na aceitação, na compreensão e no respeito por todos os membros do sistema. Este enfoque prioriza a formação participativa, o compromisso social e o protagonismo cidadão em prol de uma educação que tenha por meta formar jovens comprometidos com a sua realidade familiar, social, política, econômica e cultural. A mediação compreendida como um método de ensino irá privilegiar a comunicação interpessoal em todos os níveis, possibilitando a reflexão e o pensamento
  • 13. 13 complexo. Sob esta ótica a mediação escolar, neste princípio de século XXI, nos permitirá conhecer e compreender melhor o outro com vistas ao respeito e à igualdade de possibilidades para todos os participantes do sistema educativo que dará à escola mais uma função: a capacitação social de seus alunos e sua família e uma educação voltada para valores e uma distribuição mais eqüitativa de poder.
  • 14. 14 CONVERSAR Cada um de nós participa durante toda a vida de uma trama interpessoal e cria um modelo particular de equilíbrio no qual nos sentimos confortáveis e que constitui um padrão de referência. Este padrão de referência é determinado pela hereditariedade e experiência. Sempre que nos afastamos significativamente do ponto ideal de equilíbrio, procuramos agir de maneira à retornar à situação de equilíbrio que nos é familiar. Experiências passadas, o momento presente, pensamentos e sentimentos ativam-se ao conversarmos com colegas, amigos e até mesmo com desconhecidos. A troca de expressões como “Oi, como vai?”, “ Que bom te ver aqui”, “Puxa, você está resfriada de novo, porque não vai ao médico?” “ Parabéns pelas sua redação” são comuns em nosso cotidiano e, quase sempre, não nos damos conta de sua complexidade quanto à formação de nossa rede de relações e a qualidade da comunicação que estabelecemos com nossos interlocutores. Relações recíprocas proporcionam experiências prazerosas, fonte de nutrição emocional, oportunidade de compartilhar lembranças, histórias e experiências. Não podemos negar a presença do outro em nossas vidas e nós não podemos negar nossa habilidade para escolher com quem queremos coexistir e compartilhar experiência. Ambas as ações ocorrem no meio social e na dinâmica de ser com os outros. Nas escolas, as diferentes atividades pedagógicas, lúdicas e desportivas incentivam e despertam os interesses das crianças e jovens. Cada um deles se manifesta a partir da ativação das expectativas sobre a probabilidade de alcançar o objetivo de forma que as cognições e as emoções associadas evoquem um certo grau de motivação para a realização da tarefa. Estas, ao eliciar ansiedades associadas a fracasso e/ou sucesso determinam a ação e, conseqüentemente, a qualidade da comunicação usando expressões particulares ligadas a valores, suposições e preferências já aprendidas anteriormente. Em termos genéricos, pode-se considerar uma boa comunicação aquela pautada no respeito mútuo Para se estabelecer um padrão de conversação criativo é importante saber ouvir o que implica em respeitar tanto as próprias idéias quanto as idéias do outro, estabelecendo-se um jogo de ganhos mútuos.
  • 15. 15 Vejamos alguns exemplos de hábitos que desenvolvemos ao longo da vida e que prejudicam uma comunicação completa tornando-se barreiras e bloqueando o surgimento de novos significados. Julgar, precipitar soluções e ignorar as preocupações do interlocutor são as barreiras mais comuns. Eis alguns exemplos: CRITICA: “Bem, você mesmo criou esta situação, se vira” DESQUALIFICAÇÃO: “Você é estúpido mesmo” DIAGNÓSTICO: “Você só está dizendo isto porque se sente culpado.” Estas respostas são julgamentos que fazem prevalecer o ponto de vista de um dos interlocutores. O outro, vai se sentir incompreendido, inseguro podendo reagir de maneira defensiva ou auto-protetora.. ORDENAR: "Faça sua tarefa agora.” AMEAÇA: "Vou mandá-la falar com a Diretora." LIÇÃO DE MORAL: "Você deveria pedir desulpas." VERBORRAGIA: “Quando aconteceu? Como foi? Onde foi? Você está arrependido?" CONSELHO: "No seu lugar, eu iria…" Cada uma das tentativas acima dá indícios de que um dos interlocutores quer resolver o problema do outro. São formas de manipulação e coerção. Mesmo que intenção seja boa, a solução oferecida denota uma superficialidade, pouca importância ao fato ou problema. Este tipo de respostas ao invés de resolver, aumenta a questão e perpetuam ao conflito ou criam um novo conflito ao mesmo que tempo que desqualificam o outro podendo provocar ansiedade ou ressentimento.
  • 16. 16 DIVERTIR-SE "Se você acha que o que fez é grave, deixe-me contar o que aconteceu comigo." ARGUMENTAÇÃO LÓGICA: "Se você largou as chaves no carro, é óbvio que seria roubado ." CONFIRMAÇÃO: "Você sabe como lidar com o problema. Você sai dessa." Estes três exemplos evitam que a pessoa expresse sua real preocupação e permite que os interlocutores mantenham uma distância emocional no sentido de evitar tópicos desconfortáveis. Tais respostas são confortáveis para aquele que se protege do contato emocional, mas não oferecem qualquer tipo de apoio ao outro. Mesmo sendo consideradas barreiras para uma boa comunicação, o impacto das expressões acima não é obrigatoriamente negativo, pois irá depender das pessoas, do espaço social e do momento que ocorrem. Porém, cabe ressaltar que havendo atrito, hostilidade e stress, estes desencadeiam respostas desagradáveis dando origem a uma controvérsia e até mesmo a uma disputa. Qualquer pessoa ao se sentir ameaçada ou acuada terá mais dificuldade em se expressar pelo diálogo ou ser compreensivo diante de uma situação. Ao invés de promover a expressão de pensamentos e sentimentos verdadeiros, criam bloqueios que irão dificultar a troca efetiva de informações. A rede de conversação que se cria estará baseada em posições defensivas a partir do ressentimento, da auto-estima rebaixada que pode desencadear o conformismo e a aceitação – característico da discussão como vimos acima. – o que inibe as habilidades de solução de problemas. Estima-se que 90% das pessoas se utilizam os recursos exemplificados quando conversam sobre um problema ou uma necessidade. O espaço social das relações pessoais no qual vivemos é muito importante na formação de nossa identidade, evolui com cada um de nós ao longo de nossa vida. Frustrações, pressões externas como mudanças em nossa rede social são fatores que podem levar ao desequilíbrio, reações inesperadas e até mesmo a um desajustamento emocional. A fonte mais comum de frustração pode ser a dificuldade ou o impedimento da satisfação
  • 17. 17 de um motivo. Estas barreiras podem ser situacionais, interpessoais e intrapessoais. As barreiras intrapessoais1 podem levar a reações psicológicas que se manifestam por meio de raiva e agressão, medo ou ansiedade, ou fuga da situação geradora de frustração. Porém, estas reações não levam à solução da frustração e sim criam as distorções cognitivas ou mecanismos de defesa. A complexidade das relações humanas e as limitações individuais mostram que 1) para que a percepção2 seja ativada é necessário levar em conta que as reações individuais diferem diante de uma mesma situação provocando reações diversas que são influenciadas pelas experiências passadas de cada um e 2) o fenômeno de vigilância e defesa3 ligados a bloqueios e dificuldades pessoais geram ansiedade, tensão e angústia que podem comprometer o diálogo. 1 interpessoais: fatores que não pertencem à pessoa que percebe e intrapessoais: fatores que pertencem à pessoa que percebe 2 percepção: processo psicológico em que a pessoa aprende a realidade exterior a si própria. Envolve pensamento e memória e sofre as limitações dos órgãos sensoriais além de outras limitações pessoais. e ambientais. 3 fenômenos psicológicos que influenciam a percepção de estímulos geradores de angústia, ansiedade e tensões.
  • 18. 18 PROTEGER A proteção dos pais inclui proteção de doença, dano, transtorno emocional e responsabilidades sociais. Ameaças comuns à vida podem provocar (a) medo, a resposta emocional para a ameaça de dano físico, doença desastre econômico ou rejeição social e (b) tristeza, sentido de perda ou privação de algo tangível como bens materiais, ou de algo intangível como o afeto de outra pessoa. A intensidade desses sentimentos ativa o sistema afetivo da criança ou do jovem na procura de proteção contra ameaça. A procura por proteção nos pais cria, no decorrer da infância e adolescência vínculos de afetivos para os quais os pais – figuras de apego - formam as bases para a integração da criança em seus relacionamentos futuros. Também é crucial na formação da criança como elas arcam com a angústia do meio em que vivem quando separados dos pais. Em outras palavras o significado dado à qualidade dos afetos vividos nas relações com os pais será replicado primeiramente na escola e posteriormente em outros contextos da sociedade. Proteger a criança é dever da família, da escola e toda a comunidade. Crianças e jovens vivendo em regiões de alto risco (seqüestro, roubo, assaltos e outras formas de violência à pessoa) são submetidos à crescente vigilância dos pais criando esquemas de superproteção e provocando tensão, ansiedade e reações agressivas por parte das crianças e jovens. A função básica da família é ser um espaço seguro para o desenvolvimento afetivo, social e biológico de seus filhos. Famílias saudáveis que vivem em ambientes inseguros enfatizam a necessidade de segurança, acidentes, desemprego e muitas outras ameaças sociais alteram o funcionamento da família mobilizada pelo medo. O controle excessivo, porém, coloca em risco a confiança na proteção que os filhos sentem. Em alguns casos, jovens continuam sendo tratados como crianças incapazes e, em outros, crianças de pré-escola são sobrecarregadas com regras de proteção de risco que não conseguem compreender. Ambos os casos comprometem a habilidade de adaptação ao ambiente. A maneira como os pais apóiam socialmente seus filhos influencia o desenvolvimento de suas habilidades para se defender diante de riscos e perigos. Os pais e outros adultos podem tender a ser pró-ativos ou reativos diante dos riscos. Pais predominantemente pró-ativos previnem seus filhos antecipando situação de perigo
  • 19. 19 antes que elas aconteçam. Comportamentos pró-ativos são importantes para o desenvolvimento, porém, muitas vezes, a vigilância é estendida para assuntos que vão além das questões de segurança fazendo com que pais invadam a privacidade dos filhos em qualquer situação. Por outro lado, atitudes reativas que atendem um pedido da criança ou do jovem envolvem a habilidade dos pais de se colocarem no lugar de seus filhos e perceber o perigo ou a dúvida sob a ótica destes. Em ambientes mais seguros, as respostas reativas às necessidades dos filhos são vistas como bastante razoáveis, mas se as ameaças externas são grandes, o comportamento pró-ativo é mais interessante e eficaz.
  • 20. 20 HOSTILIZAR Poucos são os jovens que se sentem compreendidos pelos pais, ou melhor, pelos adultos em geral. Discussões e disputas são inevitáveis, pois crianças, jovens e adultos têm visões diferentes de mundo. As coisas podem ser semelhantes ou diferentes e ambos são abstrações apoiadas por significados consolidados, revisados ou abandonados de acordo com as experiências da vida. A experiência está apoiada na replicações de eventos nos quais a linguagem tem um papel importante e pessoas se comunicam muitas vezes só pela emoção. Assim, quando adultos interagem com os jovens e interpretam a raiva como sendo petulância ou reação a um ressentimento infantil, os jovens ao interpretar a reação dos pais como abandono, reagem e o ciclo do conflito se estabelece pela escassez ou ausência do diálogo. Jovens habitantes das selvas de concreto das principais metrópoles do mundo são produtos da falta de tempo, da falta de habilidade e paciência dos pais que juntamente com a pobreza, abuso, racismo, droga e faltas de moradia ingredientes que não faltam na violência urbana. Para estas famílias e estes jovens, violência é um modo de vida em que a lei é matar ou morrer, conquistar ou ser conquistado. Os filhos também se sentem responsáveis ou se culpam quando o conflito entre os pais é intenso. Elas se sentem ameaçadas temendo pela sua própria segurança, pela segurança de um dos seus pais. A expectativa sobre o futuro tende a ter significados hostis e difíceis, podendo, assim, restringir o desenvolvimento de relações positivas com seu grupo de pares. Em uma sociedade economicamente instável, muitos jovens têm um despertar prematuro para a vida adulta provocado pela falta dos insumos básicos para a sobrevivência da família. São jovens que saem trabalhar durante o dia, estudam à noite sendo a frustração, aborrecimento, irritabilidade associados à desilusão e ao descontentamento. Aprendem que a vida é dura, mas não para todos. Sentem-se injustiçados e abandonados. Ficam com raiva e acreditam que “o inferno são os outros.”
  • 21. 21 SOCIALIZAR Em algum nível as pessoas dependem umas das outras. Dependemos dos outros para satisfazer nossas necessidades, e um dilema crucial surge quando percebemos que um resultado positivo depende da presença dos outros. O valor do “nós” é desconhecido durante o período da adolescência quando os jovens sentem-se prisioneiros das opiniões e sugestões dos pais. O “nós” é rejeitado pois os jovens lutam para mostrar como são independentes e capazes porque a idéia de metas interdependentes, orientadas por adultos não é compatível com a visão de mundo deles. Eles se comportam, usando respostas pré- reflexivas manifestas pelo silêncio ou por posturas agressivas do tipo “tudo ou nada”. A agressão pode ser relacionada à competição. Lorenz argumentou que os humanos são programados para se ocupar dessa forma de competição. Como pais nós enfatizamos uma variedade de mecanismos sociais como jogos, esportes, estratificação social e declarações de que ganhar é importante... Reforçamos a competitividade. Porém, se a competição vai além do que é saudável (para excitação intelectual e crescimento) e de diversão (recreação), a bem-orquestrada relação entre o jovem, seus pares e adultos entra em um campo de batalhas e disputas. O jovem procura sua própria voz que é parte integrante de sua identidade. Preocupo-me com o modo como nós expressamos nossos sentimentos e pensamentos em conversações com crianças e jovens, pois o como nos comunicamos irá integrar o processo de construção da identidade onde o “eu-cognitivo” gera decisões, significados, avaliações e sucessões temporais que descrevem nossas competências, preferências e valores. O “eu- corpo” é a casa dos sentimentos e das emoções e o “eu-relacional” alimenta e conecta os outros dois. Desta forma, excesso de argumentos baseados na crítica, na desvalorização, e em acusações podem desdobrar-se em guerras completas e fecham todos os canais de comunicação mantendo uma coerência interna alicerçada em distorções e incongruências no binômio pensamento-emoção. Normalmente um conflito tem um assunto principal e vários secundários. Metaforicamente pode-se vê-lo como sendo um cometa se aproximando: seu corpo é o assunto principal, e o rabo, todos os assuntos tácitos envolvidos. Na vida doméstica e na escola, assuntos como fazer tarefas e apresentações para os colegas, limpar o quarto, lavar a
  • 22. 22 louça, usar ou não o carro dos pais, são assuntos que levam às reações de “tudo ou nada” por parte das crianças e jovens e “ganhar ou ganhar” por parte dos adultos. Nesta arena, questões objetivas tendem a ficar pessoais porque as pessoas envolvidas interpretam metas que são relacionadas a necessidades, significados e motivações subjetivas criando verdadeiras torres de babel,o inverso do exemplo abaixo: Filha: Pai, estas conversas são sérias? Pai: Claro que são. Filha: Não são uma espécie de jogo que tu jogas comigo? Pai: De maneira nenhuma....são uma espécie de jogo que jogamos juntos. Filha: Então não são sérias! Pai: Não me queres dizer o que entedes pelas palavras sérias e jogo? ........................................ fonte: Metadiálogos de G. Bateson,1972 O senso de identidade desdobra-se pela atividade reflexiva que se inicia ao redor dos 14-15 anos. Cada pessoa influencia e é influenciada por outra pessoa em interações sociais. Embora haja semelhanças formais importantes entre a organização da identidade e a sociedade, há evidências de que quando as pessoas refletem sobre si mesmas, suas características pessoais, domínios de competência, valores morais, e metas, são envolvidos tanto aspectos pessoais (subjetivos e estruturais) quanto a preocupação de como as outras pessoas irão reagir e interpretar a escolha pessoal. O aprendizado acontece na arena das interações sociais, e aprender desperta uma variedade de processos que ocorrem em dois níveis de interação dinâmica: o domínio externo que contém as fontes de informação, ajuda, recursos, e modelos; e o domínio interno que contém o progresso pessoal em todos os níveis do eu. Aprendizagem e desenvolvimento se dão a partir de uma tensão entre dialéticas de uma fase atual consolidada e um potencial, fase futura de desenvolvimento. Cada movimento de mudança ou transformação implica numa fase de preparação e outra de consolidação.
  • 23. 23 O propósito primário da linguagem é a comunicação e expressão de pensamentos e desejos e aprender uma língua consiste em aprender a compartilhar certas atitudes em relação às coisas ao nosso redor, desenvolver um senso de relevância, um senso de coerência para tornar a comunicação possível. Trata-se de um processo circular como vimos no exemplo acima para explicar ou descrever a imagem de mundo em determinado momento Um certo grau de regularidade no uso de tais conceitos e as regras gramaticais (sintaxe e semântica) estabelecem certas práticas lingüísticas relacionadas a formas de vida. A essência da linguagem humana é dar significados ou explicações para o mundo. Os jogos de linguagem são compostos de reações primárias que formam os protótipos de modos de pensar que formam um sistema completo de comunicação humana. Uma vez que um simples jogo é aprendido, a aquisição de novos depende daqueles já incorporados. As habilidades sociais vão sendo armazenadas na estrutura cognitiva por acomodação criando famílias de semelhança responsáveis pelo repertório de possibilidades, referências e atos intencionais além do entendimento das diferenças entre possibilidades e ação. Nas atividades da escola criam-se inúmeras situações de “prontidão-para-ação” para responder a uma situação (real ou imaginária) Quando nos deparamos com uma situação inesperada é que nos damos conta de nossas habilidades para enveredar por um atalho apropriado para fazer a transição e retornar à estrada principal. Os desarranjos da vida cotidiana e nossa habilidade em rearranjá-los contribuem para a autonomia e cooperação. Como um ser humano aprende o significado dos nomes de sensações? – da palavra dor, por exemplo. Aqui há uma possibilidade: palavras estão conectadas com o primitivo, o natural, expressões das sensações e usadas em seu lugar. Uma criança se machuca e chora; então os adultos falam com ela: doeu? Os adultos estão ensinando à criança um significado para a dor. Assim será que você está dizendo que a palavra dor realmente significa chorar? Ao contrário: a expressão verbal de dor substitui chorar e não a descreve. Wittgenstein, 1945
  • 24. 24 O ESPAÇO SOCIAL DA ESCOLA As escolas estão inseridas nos sistema educativo de uma sociedade e, em seu sentido mais amplo, respondem às necessidades oriundas da realidade social de sua comunidade e contribuem para o desenvolvimento pleno da personalidade dos alunos incentivando a formação de cidadãos livres, responsáveis, autônomos e solidários para o progresso social e participação democrática na vida em sociedade. Ser cidadão e ser livre implica em respeitar o outro e suas idéias, estar aberto ao diálogo e à troca de opiniões. Porém, o nosso cotidiano (na escola e fora dela) tem sido muito diferente. Diariamente somos torpedeados por um número crescente de situações de desrespeito, intolerância, agressão e vandalismo, algumas de extrema violência, exercidas indiscriminadamente, sobre homens, mulheres, crianças, velhos, minorias étnicas, animais e bens públicos, ou privados. Estes atos, muitas vezes, protagonizados por adolescentes e mesmo por crianças em idade escolar, conduziram à necessidade de repensar o papel da Escola, no contexto atual. Embora a escola não seja o único meio formativo, desempenha um papel relevante no processo educativo, uma vez que assegura o prolongamento da estrutura familiar na formação dos papéis sociais dos alunos. Falar de mediação nas escolas brasileiras é falar de uma nova cultura que implica na mudança de alguns aspectos da cultura atual. A mediação, embora antiga como a humanidade, foi relegada ao ostracismo pela mesma sociedade que entregou de maneira incondicional à autoridade do Estado os mecanismos de solução de conflitos. Será indispensável fazer avançar simultaneamente um processo educativo para que a sociedade compreenda e possa avaliar as novas ferramentas que ajudarão a todos a atingir a paz social a partir de mecanismos que vejam os conflitos como oportunidades de crescimento.
  • 25. 25 As escolas contemporâneas vêm sendo cada vez mais solicitadas a ter responsabilidade ativa na educação para a vida. Pode-se dizer que elas passam a assumir um papel mais complexo no que se refere à solução de conflitos. Ao invés de atuarem como interventores de conflito na definição clássica do binômio vigiar e punir, passam a atuar como supervisores de soluções permitindo a construção de uma nova estrutura como a mediação escolar que irá se preocupar em mostrar as vantagens da cooperação e da responsabilidade mútua, do trabalho voluntário fornecendo, ao mesmo tempo, proteção contra a tendência dos alunos de querer encontrar alguém que os proteja ou alguém mais poderoso para resolver o problema por eles. Depois da família, a escola constitui o primeiro espaço de socialização de crianças e de jovens sendo responsável pela transição do espaço privado e íntimo da família para o espaço público na qual os alunos têm acesso às primeiras experiências de formação, aprendizagem e encontro com os demais atores sociais. Na escola se ensina e se aprende o exercício da cidadania para poder conviver em um projeto democrático de sociedade. Neste sentido, a escola torna-se o epicentro de experiências entre pares e grupos e de aprendizado sendo, ao mesmo tempo, cenário e palco das relações que se estabelecem entre alunos, professores, administradores e pais. Pesquisas realizadas em escolas da península Ibérica e alguns países da América do Sul têm detectado um aumento considerável nas situações de agressão e violência entre crianças do primeiro período escolar um fenômeno que, muitas vezes, não é percebido pelos professores. Estas investigações também confirmam que, ao atingirem um nível extremo de gravidade, os problemas são tratados, na maioria das vezes, com medidas de caráter punitivo pouco eficazes. A punição do aluno, o uso do poder por parte do corpo docente e dos diretores da escola atinge, na maioria das vezes, somente a ponta de um iceberg e não resolvem o problema. A criança e o jovem espelham na escola comportamentos aprendidos em casa. Além disso, muitos estudantes agem de modo agressivo como efeito de conflitos familiares, ou ainda, muitos pais estimulam os filhos a reagir com agressividade em resposta aos atos
  • 26. 26 provocativos dos colegas. A dificuldade em dar solução aos conflitos é motivada: pelas características dos instrumentos vigentes para solucioná-los e a forma de administra-los. Ao invés da solução, ocorre uma ruptura da aliança entre o aluno e a escola. Infelizmente, a maioria das escolas ainda oferece um sistema de transmissão de conhecimentos calcado em práticas tediosas que desprezam as diferenças entre os alunos o que tem colaborado muito para que a educação para a cidadania se esvazie ou se resuma a umas poucas atividades tornando-se um discurso inconseqüente, porém presente nos planos pedagógicos. Inúmeras são as micro penalidades aplicadas aos alunos. O envolvimento dos educadores na educação dos jovens freqüentemente se resume à mera repetição de fatos ou procedimentos, desprezando o potencial reflexivo e a curiosidade do jovem em explorar novos campos. Falta comunicação. As crianças e os jovens cada vez mais cedo estão voltados para si mesmas. Como aprender a tratar de seus semelhantes se as estruturas familiares e as instituições religiosas se fragmentaram a tal ponto que muitas precisam buscar padrões externos que lhes ensinem como agir. Faltam-lhes modelos, exemplos que ensinem a tratar pessoas dentro de um contexto democrático, sustentável, justo e participativo. É reconhecida a necessidade de intervenções mais precoces, na prevenção e na solução de problemas geradores de conflitos entre alunos e que freqüentemente conduzem a situações de agressão e de violência verbal e/ou física. Em seu senso mais lato, conflitar tem o significado de estar em oposição a alguma coisa ou pessoa. Socialmente, qualquer atitude aversiva para com oura pessoa, seja por palavras ou ações é considerada um conflito. ESPECTRO DO CONFLITO PAZ GUERRA Hostilidade violência física 0 100
  • 27. 27 Os fatores que geram e mantêm um conflito, na esfera das relações humanas, de acordo com o espectro acima, são: 1. seu raio de ação está entre a atitude violenta impulsiva (randômica) e a violência planejada, organizada. Quanto mais intenso o conflito, os atos violentos são planejados estrategicamente, como no caso de guerras. 2. quanto à ação, oscila entre a hostilidade não verbalizada à violência física. A hostilidade internalizada e não expressa provoca conflitos mais sutis, mais difíceis de serem abordados em virtude dos conteúdos subjetivos subjacentes. 3. quanto à identificação com o agressor oscila entre uma identificação difusa, agressores inespecíficos à um grupo definido de agressores como podemos ver gangues rivais. 4. quanto ao nível de stress pessoal e do contexto. Quanto mais adverso for o contexto maior sra o nível de stress da comunidade que, conseqüentemente se irradia através de conflitos. Um dos processos de intervenção precoce em conflitos escolares consiste em ajudar as crianças e jovens a gerenciar suas diferenças de forma eficaz, extraindo de cada situação o que ela tem de positivo para obter respostas mais criativas. Em resposta ao crescimento da violência e delinqüência juvenil bem como ao aumento dos divórcios e das crises familiares surgem no cenário global (México, Colômbia, Uruguai, Argentina, USA, Portugal, Espanha, Alemanha entre outros) os programas para implantação e implementação da mediação escolar. Esses programas visam administrar disputas entre grupos no ambiente escolar, incluir habilidades de comunicação e resolução de problemas no currículo da escola para se tornar, em um segundo momento, um programa preventivo voltado à criação de normas pacíficas de interação social na cultura da escola. Brigas, agressões físicas e violência passam a ser formas inaceitáveis de resolver conflitos.
  • 28. 28 Solução significa resultado, além de condição e recursos encontrados pelas pessoas depois que um conflito, disputa, desentendimento é esclarecido e posto de lado. Educadores e pais ao buscarem soluções estarão preocupados com justiça e cooperação e não punição ou retaliação. Assim, a solução exige passar do conflito para uma ação de cooperação, respeito pelos interesses de todos, empenho em relacionamentos duradouros que dêem sustentabilidade à sociedade a partir de uma visão de futuro que evite recriminações, retaliações, castigos e danos. Querer encontrar uma solução viável e duradoura é querer aprender e ter coragem para mudar, mesmo sabendo que conflitos e rupturas são inevitáveis em nossas vidas. Diferenças e conflitos não desaparecerão de nossas vidas... Fazem parte da aprendizagem social e da vida.
  • 29. 29 A MEDIAÇÃO E O MEDIADOR Mediação palavra que vem do latim mediatione, interveniência, intermediação, é um dos meios voluntários de solução de conflitos, por intermédio do qual duas ou mais pessoas buscam obter uma solução consensual que possibilite preserva o relacionamento entre elas. No final da década de 80, a mediação surge no cenário brasileiro como uma ferramenta nova, baseada na aplicação de conhecimentos oriundos da sociologia, do direito, da psicologia, para se tornar uma prática voltada à solução de conflitos na esfera privada. Trata-se, portanto, de uma prática interdisciplinar que visa, principalmente, a construção de um espaço entre pessoas em conflito que permita perceber e reconhecer as diferenças, discutir as divergências, negociar convergências possíveis, criar vínculos, transformar possibilidades a partir do diálogo onde os participantes reconhecem a si mesmos e reconhecem a perspectiva do outro como protagonistas de experiências e comportamentos. Apropriando-se de seu próprio poder de pessoas –empoderamento -- pertencentes a um grupo social criam possibilidades para a retomada do crescimento e desenvolvimento das relações estagnadas pelo conflito. Ao atuar, o mediador tem como ponto central para o seu trabalho de facilitação, pessoas cuja comunicação, por motivos diversos, se deteriorou. Em um contexto controverso, as diferenças, ao invés de levar a um entendimento, levam a desencontros e discussões que dificultam ou impossibilitam uma negociação razoável da questão.. Apesar da globalização estar tomando conta de inúmeros espaços em nossas vidas, permanecem diferenças culturais importantes entre as sociedades contemporâneas. No contexto mais amplo da mediação é importante avaliar as diferenças sócio-culturais das pessoas participantes do processo pois elas se constituem e são constituídas pelo sistema de crenças compartilhado que engloba, entre outras particularidades, a) a visão de mundo, b) a
  • 30. 30 ontologia da realidade ou crenças sobre a natureza do mundo e causalidade, c) a epistemologia tácita ou teorias de conhecimento que formam seu arcabouço intelectual e d) a estruturação dos processos cognitivos e emocionais que constituem o seu potencial humano. A mediação, por ser baseada num acordo de vontades e transcender a solução do conflito tem como fio condutor transformar um contexto adversarial em colaborativo. Seguindo alguns princípios básicos que a norteiam enquanto processo. PRINCÍPIOS NORTEADORES • Caráter voluntário: respeita o princípio da autonomia da vontade das partes; • Diligência dos procedimentos: assegurar a qualidade do processo e cuidar ativamente de todos seus princípios norteadores incluindo boa fé e lealdade das práticas aplicadas; • Flexibilidade: tanto na linguagem como nos procedimentos de modo que atenda às necessidades tanto do contexto quanto das pessoas envolvidas no processo; • Segurança e sigilo: os fatos, as experiências compartilhadas, as possibilidades para a solução do conflito e as escolhas que ocorrem durante a mediação são sigilosos e privilegiados sempre respeitando o princípio da autonomia da vontade das partes nos termos por ela convencionados. Como a mediação atua em processos de alto nível de complexidade (processos de tomada de decisão, resolução de problemas e autonomia) que são operações mentais representadas na consciência de cada pessoa, portanto, experiências subjetivas de caráter reflexivo cujos significados podem referir-se a conteúdos diversos, consoante as outras pessoas, às circunstâncias e ao contexto. Tanto a introspecção quanto a reflexão criam os significados utilizados nos processos de tomada de decisão e resolução de problemas. Estes significados são verbalmente codificados, porém, considerando seu caráter retrospectivo, deixa a experiência consciente vulnerável a omissões, racionalizações e interpretações do
  • 31. 31 sujeito que descreve, então o que julga ter feito ou ouvido é expresso pela linguagem e dimensionado de acordo com as experiências autobiográficas e narrativas. Assim sendo, o processamento da informação se dá a partir de processos cognitivos que são semelhantes a todos os seres humanos. A plasticidade dos processos cognitivos torna-os maleáveis e particulares a cada pessoa em determinado grupo social havendo também, variações de acordo com as diferenças culturais que incluem visão de mundo, hábitos, sistemas de pensamento e padrões de comunicação. A metafísica cultural estrutura e orienta o modus vivendi e modus operandi dos atores sociais. Tanto a organização social quanto as práticas sociais influenciam o desenvolvimento e o uso de processos cognitivos que podem ter características dialéticas ou lógicas. Ao estudar as diferentes escolas filosóficas clássicas, observar a atuação de colegas com profissões de origem diversas a atuando como mediadores verifiquei que duas grandes correntes de pensamento estruturam e organizam as sociedades, diferenciando-as tanto na organização social quanto na estrutura cognitiva de seus membros o que nos leva a acreditar na existência de uma correlação entre fatores sociais, cognição e expressão afetiva. Escola holística ou Oriental cujo pensamento é predominantemente dialético e a compreensão do comportamento é fenomenológica e Escola Grega ou Ocidental que privilegia o raciocínio lógico formal, analítico e a necessidade de categorização e regras para compreensão do comportamento humano. Por caminhos diferentes, ambas as escolas têm investigado a formação e o desenvolvimento do pensamento humano, das emoções e da espiritualidade. As sociedades holísticas – como as de filosofia taoísta e confucionista – enfatizam a importância da vida em comunidade, isto é, o indivíduo é parte de uma rede social e o comportamento individual é guiado pela expectativa do grupo. A harmonia do grupo é valorizada para que as expectativas e os deveres para com todos sejam atendidas. Assim, confrontações, debates e a linguagem adversarial ficam desencorajadas. Embora os chineses tenham sido autores de descobertas importantes como sistemas de irrigação, a
  • 32. 32 cartografia quantitativa e técnicas de imunização estas não repousam em uma teoria científica de investigação, mas sim como o resultado de reflexões práticas em estreita relação com os movimentos da natureza e nas relações circulares de causa e efeito. O confucionismo defende que conhecimento e sistemas de pensamento pressupõe uma ação ou comportamento como conseqüência esperada e natural. A filosofia chinesa prioriza a intuição e a observação empírica para a construção de seus sistemas de saber. Prevalece uma visão holística do ser e do existir, não se fazendo distinção entre natureza, humano e espiritualidade. Em resumo, em sociedades de pensamento holístico a) a visão do contexto é sempre o todo; b) a observação dos fenômenos leva sempre em consideração o objeto e o seu campo ou a figura e o fundo; c) explica e prevê eventos com base nas relações figura/fundo ou causa e efeito sempre numa fenomenologia circular. O conhecimento é, portanto, adquirido a partir da experiência dentro de uma dialética que enfatiza os processos de mudança, o reconhecimento da contradição e da necessidade de múltiplas perspectivas que possibilite encontrar o caminho do meio entre proposições paradoxais. Uma sociedade organizada sob a égide da dialética desencoraja a confrontação e o debate e coloca aquele se envolve em uma ação contra outro em situação difícil perante a comunidade. A característica mais marcante presente em todos os períodos que compõem a escola Grega consiste no exercício do poder individual transmitido pela linhagem masculina e preocupado em perpetuar o culto da tribo, da família ou da fratria. Pessoas, envolvidas socialmente, desenvolvem uma prática social baseada na individualidade e, embora acreditassem na influência dos deuses em suas vidas, o agir humano era baseado no princípio da arrogância onde cada cidadão desenvolvia suas capacidades vivendo de acordo com estas escolhas, porém, sempre em consonância com a leis criadas por um conselho de cidadãos que poderiam, a qualquer momento, ser submetidas ao debate e
  • 33. 33 alteradas mediante uma argumentação coerente. A sociedade foi se constituindo a partir de pequenos grupos funcionais que foram se integrando a outros até formarem a cidade. Observa-se que na formação de um espaço social mais amplo, nenhum dos grupos constituintes perdeu sua individualidade ou independência. Acima dos grupos criou-se um governo comum constituído pelas possibilidades de argumentação e debate de idéias, pois a partir do argumento os espaços sociais poderiam ser modificados e adaptados ao momento. Assim, a vida privada submete-se ao Estado e à religião. No que concerne à natureza, a preocupação centrava-se na necessidade de se criar modelos dos objetos e fenômenos da natureza. A categorização dos objetos, as leis genéricas para explicar a natureza e sistematizar tanto a descrição quanto prever a replicação eram centrais à cultura grega tornando-se os alicerces da cultura ocidental. A visão de um mundo racional pressupõe que a natureza é um sistema racional (ordenado), regido por leis que um método científico (racional) pode descobrir. Exclui o acaso, porém através da teoria da probabilidade, permite a imprevisibilidade. A história e cultura gregas são um exemplo da estreita relação que existe entre as idéias produzidas pela inteligência humana e o estado social de seu povo. Partindo da religião, o Estado grego consagra a família e forma uma entidade maior, a cidade organizada e regulamentada do mesmo modo que foi organizada a família. Aspectos psicosociais da vida em sociedade dos antigos Chineses e Gregos estão, ainda hoje, representados nos sistemas de pensamento das principais culturas da atualidade: culturas voltadas para o coletivismo e culturas voltadas ao individualismo. Suas crenças metafísicas são o reflexo de suas práticas sociais dando origem às diferentes abordagens para as questões científicas, matemáticas e filosóficas: o sistema holístico ou
  • 34. 34 sintético de pensamento de questionamento dialético e o pensamento analítico de questionamento lógico-formal. SISTEMA HOLÍSTICO SISTEMA ANALÍTICO ênfase na totalidade ênfase na parte caráter organicista caráter mecanicista emoção e intuição razão e sensação linguagem poético-metafórica linguagem matemática inclinação dedutiva inclinação indutiva sincronicidade relação causal sociedade coletivista sociedade individualista A Pragmática da Comunicação Humana4 , dá à linguagem o estatuto de comportamento considerando que existe uma relação entre comportamentos latentes e os comportamentos manifestos, ou seja, a organização do comportamento manifesto é determinado por operações mentais individuais e significativas a partir de uma experiência sensorial em dado contexto. Através da linguagem o indivíduo toma decisões e resolve problemas sendo que a seqüência de operações cognitivas se aplica ao problema tal como a pessoa (consciente ou não) o põe a si próprio permitindo que as atividades de representação simbólica sejam construídas e transformadas tanto a partir de estímulos do ambiente que irão acionar os dados episódicos (dados autobiográficos) e conhecimentos semânticos (conjunto de conhecimentos formais e informais) armazenados na memória como conseqüência de processos de aprendizagem. Se a organização social influencia os processos cognitivos das pessoas tanto a dialética quanto a lógica são instrumentos utilizados na solução de conflitos. Pessoas inseridas em um contexto onde a existência social está construída sobre os alicerces da harmonia ao serem confrontadas com situações contraditórias (polaridades de opinião) tentarão transcender a contradição para encontrar um caminho intermediário. Em suma, o exercício da dialética leva à busca de solução entre os possíveis atendendo os princípios 4 Trabalhos liderados por Gregory Bateson, Don Jackson e Paul Watzlawick em Palo Alto nos anos 60 e que deram origem ao livro The Pragmatics of Human Communication,.
  • 35. 35 da harmonia social. Em contrapartida, pessoas inseridas em um contexto no qual predomina o raciocínio lógico e analítico, desenvolverão regras e categorias para conduzir debates e argumentos de acordo com a estrutura do princípio de não contradição. Resolvem seus conflitos baseados em regras pré-estabelecidas que, nem sempre, atendem às necessidades do contexto. Em resumo, as diferenças sociais entre as culturas orientadas para o coletivo e às orientadas para o individual estão presentes em nossas relações cotidianas. Como os processos de aprendizagem dependem das trocas intersubjetivas, pode-se dizer que fatores sociais influenciam a metafísica, a epistemologia e, também, o desenvolvimento de habilidades cognitivas que irão influenciar o comportamento dos indivíduos quando diante de situações de conflito. A atividade social é que imprime um significado às palavras. Para conhecer a linguagem é preciso desenvolver a capacidade de penetrar em várias redes de convenções que formam a base da intersubjetividade e comunicação significativa e participativa entre pessoas. A concepção de linguagem enquanto ação e instrumento de trabalho para o mediador fez- me reconhecer e aceitar como princípio norteador de meu trabalho o papel das múltiplas diferenças que co-existem em uma comunidade (raça, credo, condição sócio-econômica, cultura de origem, mitos, crenças e costumes). Ao mediar jovens de diferentes substratos sociais passei a entender melhor porque os estudantes discutem tão freqüentemente na defensiva ou até mesmo através de brigas de pouca importância. Por outro lado, a estabilidade das amizades entre jovens (grupos de pares) que vivem nas ruas baseiam-se na necessidade de reduzir a solidão, a insegurança e no apoio mútuo para eles resistirem à autoridade. Até que eles descubram quem eu era, o que estava fazendo ali, são desconfiados e interagem utilizando principalmente jogos de linguagem reativos, agressivos e evitando ou rejeitando o contato. Quando fui aceita, o tom mudou. Passaram a contar histórias de amor e de esperança em um futuro mais luminoso utilizando jogos volitivos, teleológicos e criativos.
  • 36. 36 Este estudo deu-me uma nova linguagem e me fez pensar profundamente em como desenvolver um trabalho que pudesse contribuir para o desenvolvimento dos potenciais positivos, voltados ao bem coletivo e ancorado no diálogo e no re-enquadre positivo de historias de sofrimento, violência e dor. Conversando com professores, funcionários administrativos e operacionais de diversas escolas e tendo entrevistado alguns diretores de escolas públicas e privadas confirmei minha suposição de que muitos ainda trabalham depositando informação nos recipientes vazios que são os alunos. Lembro-me então de Paulo Freire que denunciou o poder desumanizador da dinâmica opressiva do método bancário de educação e o quanto fica evidente que a falta de participação dos alunos do ensino médio em processos decisórios de sua comunidade, inclusive na escola, acende a resistência e, conseqüentemente a hostilidade, agressão e violência. A linguagem, os significados sociais compartilhados ajudam a amoldar a qualidade dos vínculos nas crianças sendo parte daquilo que viveram. Mais adiante, quando adolescentes, criam sua própria linguagem para proteger seus “segredos” de estranhos. Nossas convicções, sistemas conceituais, habilidades técnicas, rotinas estão embutidas em nossa linguagem cotidiana e vice-versa. As transformações (mais profundas que mudanças porque vão além do comportamento) não são independentes do contexto e seus produtos porque são formados e transformados continuamente em resposta às nossas práticas culturais e institucionais que os conservam e os transmitem. Uma das forças do construcionismo social é a relatividade da realidade o que permite planejar modelos de intervenção adequados às pessoas e ao contexto atendendo às necessidades locais e explorando ativamente as possibilidades. A escola é um dos contextos sociais onde tanto a cultura quanto os costumes e as crenças de uma sociedade se transformam de forma gradativa. Regras rigorosas que acanham são questionadas e abrem espaços para idéias mais elevadas que levam ao falecimento de um regime abrindo um espaço social diferente, onde novas regras e critérios de relacionamento se abrem.
  • 37. 37 O contexto escolar, mesmo diante das pressões sociais voltadas para a cultura do individualismo e da arrogância5 , continua mantendo suas características coletivistas o que vem a beneficiar a introdução da mediação escolar de pares. 5 Arrogância com sentido de adrogare, pretender para si, ou seja, a busca desenfreada de crescimento ilimitado por um lado que leva aos excessos onde para muitos a essência da vida e a fé está na técnica e na expansão de poder. Trata-se de uma ingênua luta contra a finitude humana.
  • 38. 38 MEDIAÇÃO DE PARES Os programas de mediação de pares começaram a ser desenvolvidos no final da década de 70 e início da década de 80 como parte dos projetos de não violência promovidos pelos quacres nas escolas da cidade de Nova York. Depois se expandiram para outras comunidades em vários países do mundo. A mediação de pares é um processo que capacita um grupo de alunos de uma escola para atuarem como mediadores nas disputas de seus pares. Por estarem inseridos na escola e serem colegas, a mediação de pares não é aplicável a todos os contextos e também não é apropriada para todos os tipos de disputa. Porém, trata-se de um instrumento valioso para que alunos assumam um controle maior sobre suas vidas e habilidades para resolver problemas e disputas. Na mediação de pares, o conflito é considerado positivo sendo essencial para proporcionar desafios e possibilidades de crescimento. Objetivos da Mediação de Pares Criar vínculos cooperativos e senso de comunidade na escola; Melhorar o ambiente de na aula pela diminuição da hostilidade e tensão; Desenvolver o senso de coletivismo; Melhorar as relações professor/aluno; Incrementar a participação dos alunos nos projetos da escola e da comunidade; Resolver conflitos menores entre pares que interferem nos processos educativos; Valorizar os alunos incrementando a auto-estima; Mudar os parâmetros de comunicação e linguagem; Incentivar valores e responsabilidades pelo todo.
  • 39. 39 No âmbito da escola a mediação não pode ser entendida como uma nova maneira de resolver conflitos, pois se trata muito mais de uma metodologia de ensino onde se privilegia a comunicação interpessoal em todos os níveis, possibilitando a reflexão e o pensamento complexo. Em cada escola, particular ou pública, existe uma grande diversidade de constelações familiares, culturais, econômicas, religiosas, éticas e morais. Temos uma tendência cultural em agrupar por semelhanças e construir categorias. Toda classificação e categorização tende a promover a separação, a discriminação. Mais do que nunca, a sociedade pede a aceitação do outro como diferente de nós mesmos. O respeito pela diferença também inclui a necessidade de aceitar olhares diferentes, reflexões diferentes e conclusões diferentes no contexto da escola. Fazemos parte de um mundo diverso e complexo e a educação sabe disso, as escolas estão em processo de aprende-lo! Desenvolver e implementar um programa de mediação de pares em uma escola significa aceitar a complexidade que considera todas as experiências como multifacetadas que incluem os aspectos biológicos, étnicos, culturais, sociais, familiares, religiosos e espirituais. A partir da compreensão dos fenômenos complexos que ocorrem dentro da escola e em seu em torno, a mediação de pares pode vir a tornar-se uma realidade pois esta implica em um sistema de comunicação mais simétrico onde todos os envolvidos compartilhem de forma mais eqüitativa a distribuição do poder. A mediação de pares em sua meta função leva alunos e o corpo docente a exercerem a democracia desenvolvendo nos jovens as aptidões para viver e construir os valores da democracia que transcende os limites da escola para instalar-se na família e em toda a comunidade. Trata-se de um processo que envolve o todo onde todos se beneficiam e todos são responsáveis pelo que acontece, seja por ação ou por omissão. Formar jovens idôneos no manejo de deveres e direitos como pessoa e como membro de uma sociedade continua sendo tarefa da escola e da família. Como o espaço social da escola é mais amplo que o da família, a mediação de pares se apresenta com um bom começo para um processo de transformação das relações.
  • 40. 40 Estamos dispostos a compartilhar a idéia de uma distribuição mais democrática do poder dentro da escola? Elementos Fundamentais de um projeto 1. Seleção de alunos para serem treinados 2. Equipe de Supervisão 3. Instrutores 4. Procedimento de recepção dos casos 5. Divulgação do programa para os alunos 6. Divulgação para familiares e comunidade 7. Logística do programa 8. Implementação do Programa 9. Avaliação d Programa 10. Disciplinas optativas no programa
  • 41. 41 CENÁRIO ATUAL Há uma preocupação compartilhada por todos os profissionais engajados na implantação e implementação de programas de mediação de pares principalmente durante os Congressos na Itália (2000), México e Espanha (2001) e nos encontros setoriais da ACR/2002 (Association for Conflict Resolution) em se encontrar procedimentos eficientes para resolver os conflitos que se apresentam no cotidiano das escolas sejam estes entre alunos ou entre alunos e professores. A maioria dos casos apresentados referiam-se à agressão e à violência e apresentados sob o tema indisciplina escolar. Os problemas de conduta observados tornaram-se tão sistemáticos que podem ser observados nas mais diversas situações e não mais enquanto casos esporádicos. Desta feita, não basta preocupar-se com os aspectos evolutivos da criança e do jovem e de suas possíveis patologias, mas sim irmos mais além buscando as origens destes conflitos. Aqueles que trabalham no contato direto com os alunos são obrigados a cada vez mais utilizar parte de seu tempo destinado ao ensino para resolver o número cada vez maior de disputas entre alunos. Quando os profissionais das escolas se propõem a ajudar a resolver os conflitos considerados socialmente graves e que ultrapassam os portões da escola, geralmente são rechaçados e fracassam no seu intento. A cada ano que passa fica evidente o quanto o desencontro entre os sistemas escola e família produzem conseqüências negativas na formação dos jovens. Muitas crianças chegam despreparadas à escola, sem saber como participar responsavelmente das atividades em sala de aula e acabam replicando a falta de limites e os modelos aprendidos em casa para resolver suas disputas com os colegas como o uso de força física e a agressão por palavras desrespeitando seu grupo de pares e os professores. É grande o número de escolas que estão investindo parte de seu orçamento em itens de segurança como câmeras de televisão, rastreamento por satélite dos ônibus escolares, identificação dos alunos por cartões
  • 42. 42 magnéticos, e pessoal de segurança. Porém, o peso da burocracia dificulta a implantação de um programa de mediação. A mediação escolar pode resolver não só muitos dos problemas que afligem os dirigentes e administradores das escolas, como reciclar possibilidades, ou seja, aprender com as experiências passadas e desenvolver metodologias que já sem mostraram eficientes em outros países. Acredito ser importante reiterar que não existe e possibilidade de se desenvolver um modelo de programa de mediação de pares e sim um programa para cada escola, já que este deve levar em conta o desenvolvimento social e o contexto dos alunos. Jovens e adultos têm percepções diferentes do conflito, porém não se pode achar que crianças e jovens sejam atores sociais inocentes. A violência entre os jovens é crescentemente diversa. Alguns participam de gangues e outros são solitários. Os valores da mística masculina (dureza, domínio, repressão da empatia e competitividade) têm diferentes manifestações em diferentes ambientes. James Garbarino6 , psicólogo e pesquisador em N. York afirma que muitos meninos e jovens desenvolvem comportamentos anti-sociais provocados pelos estereótipos sociais da masculinidade e por não terem permissão para falar de suas angústias, uma característica do papel feminino. Por outro lado, Carol Gilligan7 ao entrevistar meninas conclui que existe um excesso de preocupação com a aparência física por um lado e como estão sendo solicitadas a serem bem-sucedidas profissionalmente, sentem-se “obrigadas” a escolher carreiras masculinas o que é uma fonte de stress que desencadeiam conflitos em sala de aula. Na periferia, roubos, assaltos, tráfico de drogas e chacinas. Na classe média e alta, brigas em danceterias, rachas nas ruas de madrugada, drogas e sexo sem proteção. O que têm em comum é viver em grandes centros urbanos além de compartilharem o abandono 6 tem desenvolvido um extenso trabalho para investigar as origens da violência juvenil masculina – Family Life Development Center, Cornell University 7 pesquidadora da School of Education, Harvard University
  • 43. 43 emocional dos pais ou um alto grau de exigência que faz com que se sintam tiranizados, sentem-se impotentes diante dos adultos e os agridem na maioria das vezes agredindo a si mesmos. Quando são testemunhas de disputas familiares e brigas dos pais ou irmãos o trauma vicário deixa cicatrizes que causam irritação, ressentimento, hostilidade, agressão, raiva e transtornos psicológicos. Também é comum que a escola, por falta de alternativa, tenha que se preocupar em auxiliar seus alunos com questões relativas à fragilidade do sistema familiar. As principais mudanças demográficas que aconteceram desde a revolução industrial tiveram impacto nas famílias e lares, dando origem a uma maior variedade de estruturas familiares. Fatores como fertilidade, casamento, coabitação e divórcio deram origem a fenômenos relacionados ao aumento da vida solitária, decadência econômica e importância crescente da criança e da juventude. Tradicionalmente a família oferece um ambiente seguro para as crianças se desenvolverem psicológica e socialmente. Do ponto de vista dos pais, eles provêm o fórum para o amor, apoio mútuo, e estrutura para educar as crianças. Para a sociedade, as famílias provêm o habitat natural, no qual as crianças aprendem as habilidades sociais necessárias para viver com os outros –irmãos, parentes e pais – e, na adolescência, aprendem a viver como adultos integrando-se na sociedade mais ampla. Os padrões mutantes de estruturas familiares, com pais solteiros, divorciados ou recasados muitas vezes colocam crianças e jovens ainda dependentes como mais adultos do que seus pais no gerenciamento da casa, da própria vida e da vida de um dos pais—o mais frágil muitas vezes vítima de abuso. Isto quando não se tornam instrumentos de manipulação de adultos que, consciente ou inconscientemente lançam mão dos filhos para atender a desejos próprios, fato muito comum nas crises de separação e divórcio. Não se pode subestimar o dano causado a uma criança que vive em clima de hostilidade e violência, mesmo que ela não seja maltratada!
  • 44. 44 Mais de oito milhões de vezes a cada ano a polícia desta nação confronta-se com uma vítima que há pouco foi agredida por um companheiro. Agressão doméstica é a forma mais freqüente de violência encontrada pela polícia do que todas as outras formas de violência combinadas. Relatório da Universidade de Berkeley, 1994 Quando os pais se separam, as famílias empobrecem. Esta é uma realidade global. Pobreza e desemprego estão afetando nossas crianças e jovens de maneiras diversas. Finanças limitadas afetam o desempenho escolar porque muitas famílias não dispõem dos recursos necessários que conduzem ao sucesso acadêmico e quando o conseguem os sacrifícios são enormes. Renda limitada também significa perder amigos, animais de estimação, contato com familiares e viver em áreas onde a qualidade de vida é mais pobre. O emprego é a principal fonte de apoio econômico para a maioria das famílias, mas limita o tempo disponível para a integração familiar. Além disso, as tarefas familiares podem significar um constrangimento no local de trabalho. Crianças e jovens de famílias interrompidas sofrem as conseqüências quando seus pais se separam e levam estas questões para a sala de aula. Embora os professores tenham feito sua formação para educar, vêm sendo cada vez mais pressionados por alunos, pais e outros membros da comunidade para prestar assistência ao pai que perdeu o emprego, à mãe que vítima de violência ou ao próprio aluno cujos pais estão se separando ou m familiar que está doente ou faleceu. São problemas cuja solução não está em suas mãos, mas acaba se debatendo com as questões pois não tem a quem delegar. A maior parte das crianças e jovens da FEBEM provém de famílias encabeçadas por um único parental –mães. Somente 15% destas vivem em favelas e 72,6% destas famílias vivem na cidade de São Paulo há mais de 20 anos morando em suas casas próprias nos arredores da cidade. Adorno, 1998
  • 45. 45 UMA PROPOSTA DE PROGRAMA A proposta ora apresentada sugere um programa de mediação de pares que, como o próprio nome já diz, não conta com a participação de mediadores externos, isto é, outros profissionais da comunidade atuando como mediadores nas questões entre alunos e entre alunos e professores. Para que o programa seja bem sucedido são importantes alguns passos preliminares: 1. Promover encontros de trabalho formada por pessoas da escola e da comunidade para, através do diálogo em grupo criar a filosofia e a pedagogia a ser utilizada como meta-conceitos do programa. Quanto maior a congruência entre a linha pedagógica e disciplinar da escola, sua filosofia de trabalho e a mediação de pares, maiores serão as chances do programa ser aceito pelos alunos, seus familiares e pela escola como um todo. 2. Será que os alunos-mediadores terão verdadeiramente a oportunidade de mediar casos, pois o benefício de um programa de mediação de pares que não seja efetivo não trará benefício para o todo. 3. Será que o corpo docente e administrativo da escola está preparado para enfrentar a mudança? Uma vez implantado o programa, é importante a disciplina do corpo docente para encaminhar os casos à mediação e não continuar resolvendo problemas em sala de aula pelos métodos antigos. Acreditar na capacidade dos mediadores de pares e no seu potencial é um dos passo importantes para que o programe funcione. 4. Da mesma maneira que um treinador de futebol, natação ou ginástica olímpica, a escola vai precisar de um coordenador do programa. Seria interessante que a pessoa escolhida para esta função permanecesse o maior número de horas possíveis dentro da escola, estar comprometido com o programa, ser apreciativo para com os acertos
  • 46. 46 e erros dos alunos mediadores e ter a capacitação necessária para atuar como coach em mediação. Este coordenador não exerce o papel de formador de mediadores. Uma característica importante em um programa desta envergadura é a habilidade da escola em elaborar políticas em relação aos casos que podem ou não ser mediados e esta política deverá estar em consonância com as demais políticas e procedimentos do regulamento da escola. Os casos que não são atendidos pela mediação de pares são aqueles que fogem ao escopo da área privada, ou seja, onde a intervenção do poder público é necessária, como por exemplo: alunos portando armas, lutas corporais nas quais armas foram utilizadas, abuso sexual, ataques físicos graves com uso de armas ou não. Nestes casos permanece a eventualidade de uma sanção penal. Também não são mediáveis os casos envolvendo psicopatologias graves. A mediação de pares atua no campo da mediação cidadã: esta não se dirige aos delinqüentes e às vítimas, não coloca em pauta reparações e indenizações, não tem espadas e nem divisas. O aluno mediador aprende a conhecer que o conflito não é um mal em si, mas uma oportunidade onde ao se abrir uma brecha para a solução pelo diálogo, mesmo que o clima inicialmente não seja de harmonia suave, pois toda passagem é custosa e não se estabelece sem esforço. Cabe à equipe de treinamento, ao coordenador, ao coach e aos adultos da escola despertar nos alunos o interesse em solucionar seus problemas despertando a paz e a boa convivência dentro da escola e fora dela. Definida a filosofia e a metodologia para a implantação do programa e tendo em mente os objetivos da mediação escolar: 1. Melhoria das relações aluno e professor, aluno e sua família; 2. Melhoria do ambiente em sala de aula pela diminuição das tensões; 3. Desenvolvimento de pensamento crítico, habilidades para solucionar problemas e assertividade; 4. Desenvolver ambiente cooperativo e senso de comunidade na escola;
  • 47. 47 5. Resolver disputas entre pares que interferem no clima da escola e nos processos de educação; 6. Dar mais tempo ao professor para cuidar de seus afazeres para os quais foi formado. Pode-se então iniciar implementação do programa para o qual sugiro quatro fases: Planejamento e Alcance do Programa O primeiro passo é escolher o coordenador do programa que poderá ser um membro do staff da escola, um professor conselheiro, pais ou membros da comunidade que queiram ser voluntários. As responsabilidades do coordenador seriam: - cuidar da divulgação e da continuidade do processo de aprendizado para a mediação de toda a escola; - supervisionar as atividades relacionadas ao programa; - preparar o regulamento da mediação de pares; - manter a escola e a comunidade informada sobre os progressos do programa. O programa de ação e estratégias de alcance do programa.nesta primeira etapa incluiriam os seguintes tópicos: • Recursos para o programa: considerar recursos necessários para curto e longo prazo. Inicialmente considerar recursos para honorários do coordenador e coach, custos com treinamento, eventuais professores substitutos durante o treinamento, e despesas diversas (livros, material impresso para divulgação, cópias, camisetas para os mediadores, etc.). • Caso a escola não tenha em seu staff ou entre os pais, localizar no mercado e selecionar profissionais para:
  • 48. 48 a. Ministrar palestras para o corpo docente e administrativo sobre a nova proposta. b. Implementar as habilidades de solução de problemas, assertividade e técnicas de comunicação para os profissionais e alunos da escola na forma de oficinas. c. Treinar os alunos –mediadores. d. Indicar o coach para o programa. • Juntamente com professores conselheiros e alunos representantes de classe definir o sistema de seleção de alunos para o treinamento levando em consideração a diversidade (gênero, etnia, religião, idade, posição sócio-econômica, etc). • Treinamento dos alunos mediadores. • Divulgar o programa dentro da escola e para a comunidade em geral. • Avaliação dos alunos treinados e escalonar o trabalho dos mediadores fora de seu horário de aulas. A mediação de pares deve ocorrer o mais próximo possível do evento, ou seja, é importante ter mediadores disponíveis na hora dos intervalos e na saída do período. • Definir a política de sigilo. A preservação do sigilo sobre os assuntos conversados durante a mediação é um dos pontos altos para o sucesso do programa. É importante que os alunos mediadores tenham livre acesso ao coordenador e ao coach para conversar sobre os mais diversos assuntos, pois ambos também estão inseridos no compromisso de sigilo do programa. Devem constar do regulamento os assuntos que não serão mantidos em sigilo, porém tomando cuidado para não ampliar demais esta lista, já que os alunos deixarão de acreditar nas vantagens da mediação. • Atualização e continuidade de treinamentos. Geralmente os alunos mediadores pertencem às duas últimas séries da escola,
  • 49. 49 podendo haver exceções de forma que para a fluidez do programa, treinamentos e atualizações devem ser programados anualmente. Estrutura Inicial e Divulgação Durante a primeira fase da implementação os alunos-mediadores já treinados promoverão encontros de trabalho para exercícios de simulação juntamente com o coach para que se estabeleça um bom rapport entre eles. Nessa fase o coach prepara o modus operandi das mediações (cartilha da mediação, locais, agenda, registros dos casos) para, posteriormente, supervisionar as mediações e orientar os alunos mediadores. Paralelamente forma-se uma comissão mista de alunos, professores, membros da administração e pais para desenvolver campanha de divulgação que pode ser uma atividade inserida na programação de artes ou outra disciplina relacionada ao tema. Treinamento Os treinamentos serão organizados a partir do programa desenvolvido e adaptado para o contexto da escola e da comunidade na qual está inserida. A experiência americana (ACR-Peer mediation Section) em treinamento de alunos sugere um número médio de horas, ou seja, entre 18 e 25 horas de treinamento para alunos do ensino médio e entre 8 e 15 horas para alunos das sétimas e oitavas séries do ensino fundamental. Supervisão Após a conclusão dos treinamentos, os alunos qualificados ao começarem a mediar os casos terão todo o apoio do coordenador e/ou do coach para conduziram as primeiras entrevistas, marcar os encontros de mediação, submeter seus casos à supervisão quando sentirem necessidade e dar continuidade a seus treinamentos e manter o processo educativo voltado para à solução de conflitos escolares em toda a escola.
  • 50. 50 Vantagens do programa Pode-se dizer que em três anos o programa atinja seu potencial desejado, ou seja, quando o programa atende a pelo menos 10% da população de estudantes em um ano; quando 1/3 dos conflitos são resolvidos pelos alunos e quando o copo docente e administrativo perceber que a mediação de pares se tornou parte da cultura da escola. Estes valores são relativos, pois cada escola é um caso singular, particular e integrado em sua comunidade. A partir do momento em que toda a escola compartilha a idéia da mediação de pares, mesmo que os alunos mais jovens não sejam convidados para o treinamento é importante que eles recebam, como parte do programa, o treinamento nas habilidades básicas como escuta ativa, pensamento crítico, colocar-se no lugar do outro, habilidades de comunicação e assertividade. A cultura da mediação na escola compartilhada por todos efetivamente diminui as condutas antisociais frente ao conflito desde que possam aplicar o aprendido em seu dia-a-dia. A resolução de conflitos ensina aos jovens que todos sentem raiva, medo, angústia, tristeza e alegria e que a expressão das emoções pode se dar por caminhos mais violentos. Quando as emoções ganham espaço e falar sobre elas passa a ser natural, os alunos mostram-se mais solidários quando vêem colegas passando por situações pelas quais já passaram sentindo-se motivados para conversar e descobrir que um mesmo problema pode ser resolvido de maneiras diversas. Por outro lado, o professor não precisa mais atuar como agente da ordem. A necessidade de averiguar discussões e brigas, dar sermões, insistir em pedido de desculpas, julgar e punir cai vertiginosamente, sobrando-lhe mais tempo para se dedicar ao seu trabalho específico. Junto às famílias e a comunidade a escola passa a ser parceira na construção de uma mentalidade voltada para a importância do bem-estar coletivo onde cada um é
  • 51. 51 responsável para solucionar seus problemas despertando para a paz e uma boa convivência em sociedade. A idéia de um universo organizado cede lugar às concepções de evolução e auto- organização permanente dos fenômenos do universo em todos os setores da sociedade contemporânea. Há uma interdependência de todos os eventos ou transformações: nenhuma transformação acontece em um espaço isolado do todo. A escola, como toda a vida em comunidade ganha uma nova roupagem. O ser humano se constrói na cultura, a plasticidade do sistema biológico humano permite-o se adaptar a uma variedade ilimitada de sistemas sociais. O que diferencia a capacidade de adaptação dos atores sociais são as emoções. É pela vivência emocional que aprendemos a gravar os significados de nossa cultura, nossos valores e objetivo. Em todas as fases da vida, aprendemos e reaprendemos com as vivências emocionais. Crianças e jovens
  • 52. 52 COMEMORAÇÃO DE FIM DE CURSO: FESTA OU VIAGEM? Um grupo de alunos do terceiro grau do ensino médio havia sido escolhido para participar da comissão de formatura. Eram dois rapazes e duas moças. Entusiasmados com o fim do curso e de terem um bom motivo para uma grande comemoração, decidiram pr unanimidade que iram promover algo MUITO DIFERENTE E ESPECIAL...INESQUECÍVEL! Foram trocando idéias com outros colegas, com alguns parentes e BOMBA: vamos curtir uma semana viajando para a chapada dos Veadeiros. Ecoturismo está em alta, estaremos in. Programaram uma reunião com todos os colegas, fizeram convite lindo, cheio de fotos da chapada, do acampamento e chamaram o agente de viagens para “vender a idéia”. Alguns colegas reclamaram, outros acharam o preço um absurdo nesta época de incertezas, mas as técnicas de vendas do agente de viagem “colaram”. VENDERAM A IDÉIA, fecharam o pacote. Quando o carne de pagamento chegou, algumas das meninas que estavam sonhando com um baile de formatura, pois os pais não puderam lhes proporcionar a festa de 15 anos, ficaram revoltadas e foram conversar com a psicóloga da escola. Na verdade, tinham concordado com a viagem e não tinham e só quando os pais acharam o preço da “festa” um absurdo é que se tocaram o quanto agiram contra a vontade. E agora? O que Fazer? A escola sugeriu convocar uma nova reunião de todos os formandos para com o auxílio de um professor conversar sobre o mal-estar. O professor explica ao grupo que irão trabalhar o conflito a partir da mediação. Explica o processo, seu papel de mediador insistindo na sua posição de facilitador eqüidistante e na responsabilidade dos alunos em chegar a uma solução . Em seguida, a partir de perguntas abertas permite que os alunos exponham suas idéias sobre a viagem, sobre a festa e sobre o problema. A partir dos relatos, parafraseia o que ouviu para que os alunos pudessem ouvir de um terceiro a história do conflito. Ficou definido que havia um
  • 53. 53 grupo que queria a festa tradicional em um clube e outro grupo que preferia a viagem para a chapada. Uma vez definido o conflito e identificados os grupos ( dois grupos queriam a festa, um grupo queria a viagem e um grupo ficou indiferente) o mediador passou a explorar ambas as situações quanto às vantagens, desvantagens e procurou separar pessoas dos interesses em jogo. Em seguida o conflito foi redefinido; as novas idéias anotadas na lousa para que todos pudessem ver o “mapa” da disputa e tomar consciência sobre o porquê das posições, sobre os interesses e as necessidades e puderam perceber que as diferenças em como comemorar o término do curso havia se transformado na arena de coisas mais antigas. Desde o ano anterior, havia sempre um grupo nas aulas de educação física e artes (aulas conjuntas das duas turmas de terceiro ano) que sempre tomava a dianteira nas escolhas das atividades a serem escolhidas. Como a maioria dos colegas entrava na “onda” deles, ganhavam sempre. A partir da técnica, coloque-se no lugar do outro, os grupos começaram a ver os sentimentos dos demais e o quanto as posturas adotadas incomodavam aos demais. Conversou-se um pouco sobre o que estava latente ao conflito. Seguiu-se uma tempestade de idéias e os grupos tiveram a oportunidade de conversar entre si para chegar a uma conclusão por consenso que seria depois compartilhada com os demais dentro das premissas: não criticar e respeito à opinião do outro. Finalmente escolheram uma terceira alternativa, financeiramente mais viável a todos e seria uma oportunidade do grupo se conhecer melhor: um final de semana em um hotel-fazenda com jantar de gala e dança. Aqui a mediação foi utilizada com objetivo de resolver uma questão importante para os alunos e também para a escola. Também funcionou como uma aprendizagem. Como produto desse processo, o relacionamento do grupo melhorou durante o restante do ano letivo. Acreditamos que o professor mediador pode criar espaço para que seus alunos aprendam a gerenciar conflitos de grupos. Porém quando a questão é entre dois alunos, a mediação de pares traz resultados gratificantes.
  • 54. 54 APRENDIZAGEM PELO CONFLITO A intenção primeira em uma proposta de mediação de pares é procurar dar um passo um pouco maior quando o tema são conflitos entre crianças e jovens dentro da escola. A sugestão não está em administrar conflitos e sim trabalha-los enquanto oportunidade e soluciona-los ou minimiza-los sob a ótica construcionista. Nesse sentido, só poderemos treinar os alunos mediadores para auxiliar seus colegas a vivenciarem face a face suas dificuldades e expuserem seus sentimentos não verbalizados como raiva, mágoa, ou frustração. O momento de tensão criado no ambiente seguro da mediação é concreto e na busca da compreensão encontram-se as alternativas para sua solução. Novas técnicas pedagógicas irão incorporar o afeto e a emoção à teotria da aprendizagem, visando modificações nas atitudes, nas relações mais profundas e duradouras. Quanto aos alunos das escola, podem tornar-se sementes para a nova ordem social e planetária. Quando crianças internalizam os diálogos que ocorrem em sua rede social, as palavras são mais do que palavras, trazem em seu bojo elementos sociais e culturais adjacentes. Assim, o desenvolvimento dos modelos mentais na criança, antes de serem internalizados, ocorrem num plano social através do diálogo integrando-se posteriormente, como o modelo individual. Como pleiteava Vygotzky e posteriormente Gergen, primeiro ocorre o interspicológico (entre pessoas) e depois o intrapsicológico (dentro da criança). Comunicamus ergo sum Gergen, 1994 O construcionismo, na tentativa de articular o que existe utilizando a linguagem obrigam-nos a entrar em um mundo de significados sociais onde o mapa não é o território. Em outras palavras, as palavras não são imagens, mapas ou réplicas de essências que existem independentemente de nossa atividade interpretativa. Na escola, como em ouros espaços sociais, o fazer é refazer. Quando nascemos já temos esquemas conceituais que nos servem para lançar os primeiros olhares no mundo e os conceitos e categorias aprendidos são compartilhados por todas as pessoas à medida que desenvolvem o uso da linguagem no
  • 55. 55 espaço da cultura. Sendo a linguagem um fenômeno relacional, o processo de mediação se transforma na arte de contar e recontar histórias enfatizando técnicas que privilegiem o diálogo, a negociação, a pragmática social, as práticas culturais e a distribuição de poder. Como fatores situacionais influenciam os comportamentos das pessoas estes variam em função de suas atividades ou quais as pessoas que estão à sua volta. Como a mediação de pares ocorre dentro do espaço da escola e entre alunos, as palavras e expressões utilizadas para contar a história do conflito fazem sentido a todos facilitando a compreensão dos comportamentos, dos sentimentos e dos pensamentos resultando em uma interação que lembra a dança circular na qual os movimentos se traduzem em uma resposta simétrica aos movimentos do outro. CCOONNTTAARR AA HHIISSTTOORRIIAA ((ppaarrtteess)) ++ OOuuvviirr aa HHiissttóórriiaa (mediador) RReeccoonnttaarr aa hhiissttóórriiaa ((mmeeddiiaaddoorr)) ++ OOuuvviirr aa hhiissttóórriiaa ((ppaarrtteess)) FFaazzeerr ppeerrgguunnttaass EEssccllaarreecceerr IIddeennttiiffiiccaarr ffaattooss ee ccaauussaass IIddeennttiiffiiccaarr ppoossssiibbiilliiddaaddeess ((ttooddooss)) BBuussccaarr mmeellhhoorr aalltteerrnnaattiivvaa .......... UUmmaa nnoovvaa hhiissttóórriiaa ((ttooddooss)) 1 2 3 4 CONFLITO
  • 56. 56 Processos culturais tanto podem limitar como ampliar a nossa humanidade. Às vezes, é preciso começar pela margem e não pelo centro para encontrar alternativas para podermos refazer experiências, as nossas e as dos outros. A mudança é mais fácil de ser bem-sucedida se começarmos pela margem, a fronteira de ordens já estabelecidas. A transformação está no centro.
  • 57. 57 BIBLIOGRAFIA Adorno, S (1998). Gerenciamento Público da vida urbana: a justiça em ação em M.E. Marques (org) São Paulo sem medo: um diagnóstico da vida urbana (p. 227-244). Rio de Janeiro: Garamond. Arendt, H. (1970). On Violence. Orlando/Florida: Harvest. Ariés, P ( 1973). História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Guanabara- Koogan. Atlan, H.( 1994). Com Razão ou Sem Ela: Intercrítica da Ciência e do Mito, Lisboa; Instituto Piaget. Bateson, G. (1972) Metadiálogos. Lisboa: Gradiva, Berkeley Research ( 1994). Domestic violence: spousal abuse. Proprietary document San Francisco, CA: Berkeley Research. Bonino, L. (1998). Micromachismos. Madrid: Cemone. Botura, W.( 1997). Agressões Silenciosas: O contágio pela Comunicação. São Paulo: Editora OLM Cobb, S. (1997). The Domestication of Violence in Mediation, Law and Society Review, vol 31, nr. 3: pp.397-440. Cohen, R. (1995). Student resolving Conflict: Peer Mediation in Schools, School Mediation Associates/USA. Crittenden, P.M.( 1992). Quality of Attachment in Preschool Years. Development and Psychopathology, 4: pp 209-241. Damasio, A ( 1994). O erro de Descartes: emoção, razão, e cérebro humano. Lisboa: Publicações Europa-América. Duque, D.H. (2001) Conflicto y Escuela, Medellin: IPC. Freire, P (1970). Pedagogia do Oprimido . Montevideo: Tierra Nueva. Freire, P. (1998). A Pedagogia da Esperança, São Paulo: Ed. Paz e Terra. Freire, P. (1991). A Educação na Cidade. São Paulo: Cortez Editores. Gilligan, C (1982/1993). In a Different Voice. Cambridge: Harvard University Press. Goodman, A. (1994). Basic Skills for the new Mediator. Rockville: Solomon Press.
  • 58. 58 Goodwin, B. (1994). How the Leopard changed its Spots, The Evolution of Complexity, N.Y.: Touchstone. Garbarino, J.(1999). Lost Boys: when our Sons turn violent and how we can save them. N.Y.: Free Press. Gergen, K.J. (1994). Realities and Relationships: soundings in social construction. Cambridge: Harvard University Press. Guidano, V ( 1991). The Self in Process. New York: Guilford Press. H.H. Dalai Lama(2002). Compassion or Competition: a Discussion of Human Values in Business and Economics. Rotterdam: Asoka Publishers. Joyce-Moniz, L (1993). Psicopatologia do desenvolvimento do adolescente e do adulto. Lisboa: Mc Graw Hill. La Taillade, JJ & Jacobson, N S(1997). Domestic violence: antisocial behavior in the family in D.M. Stoff , J. Breitling, and J.D. Maser (eds.) Handbook of antisocial behavior, pp. 534-550. New York: John Wiley & Sons. Lang, M. & Taylor, A.(2000). The Making of a Mediator. S. Francisco: Jossey-Bass. Lazlo, E.(1996). The Systems View of The World, a holistic vision of our time. N.Y.: Hampton Press. Lorenz, K (1966). On Aggression. New York: Harcourt Brace Jovanovich. Luhman, N. (1995). Social Systems. Stanford: Stanford University Press. Lungman, S. (1996). La Mediación Escolar. Buenos Aires: Lugar Editorial. Mahoney, M (1991/1998). Processos Humanos de Mudança ( Human Change Processes ). Porto Alegre: Artes Médicas. Maturana, H. (1999). Ontologia da Realidade. Belo Horizonte: Ed. UFMG. Maturana, H. (1999). Emoções e Linguagem na Educação e na Política. Belo Horizonte: Ed. UFMG. Piaget, J (1965). Études Sociologiques. Geneva: Librarie Deoz. Piaget, J. (1937, 1963a). A construção do real na criança . Rio de Janeiro: Zahar. Porro, B. (1999). La Resolucion de Conflictos en el Aula. Buenos Aires: Paidós. Schabbel, C. (1994). Redescobrindo a Holística, uma identidade que se perdeu. São Paulo: Iglu.