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Sháshtra, introdução aos Upanishada. Mandukya e Maitri Upanishada
Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 08-04-2014 Página 1
Sháshtra – Sabedoria antiga hindu
…Há dois caminhos que levam à Perfeição. O primeiro é o caminho do
conhecimento e o segundo, o da acção. Uns preferem o primeiro, e outros, o
segundo desses dois caminhos. Sabe, porém, que considerados do alto, ambos
são um só caminho.” - Bhagavada Gíta
1. Os Sháshtra do Hinduísmo
Sháshtra - a sabedoria antiguíssima hindu. Divide-se em 2 grandes grupos:
 Shruti,
 Smrti.
1.1 Shruti
Shruti é a mais antiga, de cerca de 3.000 A.C., o seu nome significa “Aquilo que é intuitivo” e refere-se ao
conhecimento que é recebido do Cosmos (intuito, “por inspiração divina”).
O Shruti contém Os Veda – Sabedoria, os livros mais antigos do Hinduísmo e provavelmente da
Humanidade. São atribuídos a Shiva:
 Karma Kanda – Rituais
 Upásana Kanda – Meditação
 Jñána Kanda – Auto conhecimento.
Os mais antigos são Rg Veda; Yajur Veda e Sáma Veda – Trayi, ante ariano. Atharva Veda - mais recente
(época ariana).
1. No começo, nem o não-ser nem o ser eram.
Também não havia o espaço obscuro nem a abóbada
luminosa.
O que se ocultava? Onde? Sobre que protecção?
O que era água? Abismo profundo?
2. No começo não havia nem morte nem imortalidade.
Não havia nenhum signo distintivo da noite ou do dia.
O Uno respirava, sem agitação e sustinha-se a si próprio.
Nenhum outro estava para além.
3. No começo as trevas estavam escondidas pelas trevas.
Sem nenhum traço distintivo tudo era um fluir indistinto.
Aquele princípio vital, aquele fluir envolto na obscuridade.
Surgiu finalmente através do poder do calor.
4. No começo o desejo intenso surgiu
Tornando-se a primeira semente do pensamento.
Poetas sábios que procuravam mentalmente no seu
coração
Descobriram a unidade do ser e do não-ser.
5. O raio de luz que estava estendido nas trevas.
Mas o que é que estava em cima e o que estava em baixo?
Poderes seminais tornavam férteis forças poderosas.
Por baixo estava a força e em cima a infinita extensão.
6. Mas afinal quem sabe? Quem o pode assegurar donde
é que tudo veio?
Como a criação se deu?
Os próprios deuses surgiram depois da criação.
Quem sabe realmente de onde tudo surgiu?
7. Desde que a criação surgiu –
Aquele que a formou ou talvez não
Aquele que a contempla na abóbada do céu,
Só ele sabe ou talvez não.
(Rg Veda X, 129, Hino da Criação)
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Dos Veda fazem parte: Mantra, Áranyaka, Bráhmana e Upanishada (Os Upanishada são extensões ou
explicações de cada um dos quatro Vedas).
Sob a forma escrita o Yoga aparece pela 1ª vez já no período ariano, citado informalmente nos
Upanishada (à letra – sentar-se junto).
1.2 Smrti
Smrti, século III A.C., significa Memória, “Aquilo que se ouviu”. O Smrti divide-se em
5 partes:
 Smrti – Códigos de Lei;
 Itihása – Épicos: Mahábhárata que contem o Bhagavada Gíta, Rámáyana, entre
outros;
 Purána – Lendas e Crónicas;
 Ágamá – manuais do culto Védico;
 Darshana – Pontos de Vista ou Sistemas Filosóficos.
2. Darshana
Os Darshana são Pontos de Vista ou Sistemas Filosóficos hindu. Tratam de vários caminhos para chegar à
Verdade. “Ekam Sadviprá Bahudhá Vadanti – A Verdade é única, os Sábios a vêem em diversas
formas”. (Rg Veda, I, Hino 164, verso 46).
Existem 6 Darshana, em 3 grupos:
1º Sámkhya (Kapila)
Yoga (Patañjali)
2º Mímánsá (Púrna) (Jaimini)
Vedánta (Uttara Mímánsá) (Bádaráyana)
3º Nyáya (Gotama)
Veisheshika (Kanáda)
O Yoga e o Sámkhya Darshana estão indissociavelmente ligados e mantêm um diálogo constante. O Yoga
encontra no Sámkhya os seus fundamentos teóricos.
3. Definição do Sámkhya
A palavra Sámkhya significa número, razão, enumeração.
É o sistema filosófico teórico mais antigo. A tradição Sámkhya é:
 Naturalista, ou seja, atribui a causas naturais todos os efeitos;
 “Não especulativa”;
 Advaita - não dual.
É essencialmente a descrição da Cosmogénese – para além e para aquém do
hidrogénio – e da inerente Antropogénese.
O antes do início do Universo e para além da sua existência.
Sámkhya é o acesso ao Conhecimento e ao Poder (Bala) através da observação e
desvendar da Natureza. Contém todas as Chaves - os Segredos do Universo são os
Segredos do Ser Humano e vice-versa, desvendando os Mistérios do Ser Humano,
desvelam-se os Segredos Cósmicos.
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3.1 Princípios do Sámkhya
Sámkhya cataloga e enumera todos os níveis da Manifestação.
Sistema filosófico completo e auto-suficiente. Permite ao homem atingir a
finalidade última da existência, através do conhecimento exaustivo dos princípios
constituintes do Universo e do Ser individual – EU.
Todo o processo da manifestação do Universo, a Criação, começa a partir da
interacção de Purusha com Prakrti.
3.2 Estrutura
A estrutura do Sámkhya compreende 25 Tattva que participam nos processos
de manifestação.
Purusha (1) Múla (raíz) Prakrti (Natureza, substância) (2)
Pradhána, (o Fundamento, “o que está posto
antes de todas as coisas”)
Não Produzido e Não Produtor
Princípio Criador, a causa incausada – todo o
efeito está contido na sua causa. Não se envolve
na Criação, inspirador e contagiador.
Não Produzida e Produtora
Natureza Primordial dinâmica e criadora, não
manifesta, a grande e fecunda Mãe Cósmica.
Prakrti toca a música e cria melodia – VIDA!
“Purusha é aquilo que vê, testemunha, ele está
isolado, livre, indiferente, simples espectador
inactivo” (Sámkhya Káriká, 19).
Não se imiscui na criação.
Om – Mahá OM, Big Bang,
Expansão Universal.
Inicia-se
Kála – espaço e
Kali – tempo.
Vikrti – Manifestação, Mãe Natureza virgem, a
Prakrti já manifesta
3 Guna (qualidade)
Trimurti, inicialmente encontravam-se diluídos
num perfeito equilíbrio, Pralaya
Sattva
Equilíbrio,
perfeição
Rajas
Energia, força
vital, movimento
Tamas
Inércia,
matéria
Gere mundo
orgânico
Gere mundo
inorgânico
Mahát (3) - primeira grande produção
Grande Princípio, substância primordial, de que é feito todo o Universo. Hiranya Garbha – o Ovo
Dourado, reflexo de Purusha em Vikrti. É o dispensador do Prána para toda a criação
Buddhí (4) - segunda grande produção
Intelecto, a inteligência pura, a base da inteligência de todos os seres. Está para além da
individualidade. Purusha é reflectido em Buddhí, mas mantém-se puro, como consciência absoluta
Os 3 guna formam Antahkarana – ser interior e Ahamkára ou Asmita – individualidade, factor de
individualização do EU
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11 Indriya – faculdades individuais
Manas (5) - Mente, faculdade mental
individualizada
Jñanendriya Karmendriya Tanmátra Bhúta
Faculdades de
compreensão, que
proporcionam
sensações, produzidos e
não produtores
Faculdades de acção,
produzidos e não
produtores
Qualidades sensíveis,
produzidos e
produtores
Elementos densos,
produzidos e não
produtores
Shrotra - Audição
(ouvido) (6)
Vaka - Palavra (voz)
(11)
Shabda - Som (16) Ákásha – éter (21)
Tvaka - Tacto (pele) (7) Pani - Preensão
(mãos) (12)
Sparsha - Tacto (17) Váyu – gás ou ar (22)
Chakshuh - Visão (olhos)
(8)
Páda - Locomoção
(pés) (13)
Rúpa - Forma (18) Tejas – luz ou fogo (23)
Rasana - Gustação /
Paladar (língua) (9)
Payu - Excreção
(ânus) (14)
Rasa - Gosto (19) Ápas ou Jala – líquido
ou água (24)
Ghrana - Olfacto (nariz)
(10)
Upastahani - Prazer
(sexo) (15)
Gandha - Cheiro (20) Prithivi ou Bhur, Bhu –
sólido ou terra (25)
“Nenhuma forma nova supera as possibilidades de existência que já se encontram no Universo. Nada
se cria, no sentido ocidental da palavra. A criação existe desde toda a eternidade e não poderá jamais
ser destruída, mas retornará ao seu aspecto inicial de equilíbrio absoluto, – na grande reabsorção ou
dissolução final, Mahá Pralaya.” (O Yoga, Mircea Eliade)
Desenvolvimento em Shesha:
KALPA (forma) – é um dia cósmico, expansão e contracção
(decaimento) do Universo.
Em cada Kalpa existem quatro (4) YUGA, ou seja idades ou
eras: KRITA OU SATYA, TETRÁ, DVÁPARA e KÁLI.
No SATYA-YUGA, onde todas as virtudes humanas
possuem força total e os males são desconhecidos. No TETRÁ-YUGA as virtudes humanas perdem um
quarto de sua potencialidade. No DVÁPARA-YUGA as virtudes são quebradas pela metade. No KÁLI-YUGA
sobra apenas um quarto da força das virtudes e esta é encontrada no coração (AMOR Universal) e na
força de vontade. (Começou em 20 de Fevereiro de 3102 A.C.).
Mahá Pralaya (a grande dissolução) – á a noite cósmica, encerra um ciclo completo. Tem a mesma
duração do Kalpa.
O Sámkhya define-se como um sistema completo, auto-suficiente, que permite ao homem atingir a
finalidade última da existência, através do conhecimento exaustivo dos princípios constituintes do
Universo e do Ser individual – EU. No entanto, as últimas Verdades do Sámkhya somente são atingidas
nos estados de elevação de consciência, Suprema Consciência - Samádhi.
Sámkhya tem a sua aplicação natural nos métodos do Yoga. Por outro lado, todo o esforço do yogi é
incompreensível se não tivemos em conta o Sámkhya.
Sámkhya / Yoga = Sabedoria / Poder (da Sabedoria).
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4. Principais relatos do Yoga nos Sháshtra Upanishada
Em Shruti, período pré-clássico
Os textos samskrta mais antigos nos quais o Yoga é explicitamente
mencionado são alguns Upanishada, de aproximadamente 1500-300 a.C.
Upanishada, a letra “sentar-se junto”, relatam diálogos nos quais um
mestre transmite aos seus discípulos o conhecimento da realidade
imutável do ser (do EU).
Existem 108 Upanishada clássicos, dos quais 12 são mais importantes.
Nos Upanishada se estabelece um conceito do Absoluto muito além dos
deuses e do cosmos manipulados pelo rito daquela época, e muito além
da linguagem e da mente. Nestes textos, pela primeira vez, as disciplinas
do Yoga, tal como posteriormente no Yoga Sútra do Patañjali, adquirem
o seu sentido e propósito.
Os conceitos apresentados nos Upanishada resumem-se:
O homem comum é dotado de avidya (uma espécie de “ignorância original”), ligado a mayá
(ilusão que o mundo produz através dos sentidos), desconhece a sua verdadeira essência. Esta
ignorância prende o homem à ronda eterna de renascimentos, samsára. A vontade de saber,
inerente a todo ser humano, leva-o procurar o conhecimento junto a um mestre, guru.
Para alcançar o conhecimento (vidya), libertando-se das categorias dualistas e relativizadas, o
homem precisa de passar por uma evolução cognitiva e vivencial. Para isso utiliza os métodos de
Yoga.
No Maitri, Svetasvatara e Katha-Upanishada é mencionada a importância dos métodos do Yoga, mas
sem explicações pormenorizadas: o conhecimento exacto era transmitido oralmente, directamente do
mestre ao discípulo.
5. Mandukya Upanishada
O Mandukya Upanishada é um dos mais antigos Upanishada e é o mais curto.
Escrito em prosa, em doze versos, explica a palavra sagrada OM (AUM), os três estados de
consciência (vigília, sonho e o sono profundo) e o quarto estado, de iluminação.
Trata-se de um Upanishada muito importante que por si só revela o caminho para Samádhi
(iluminação, suprema consciência humano-cósmica) e contém a abordagem fundamental para o
entendimento da realidade.
Jiva - Antahkarana – ser interior.
Atman – Purusha (individual, sobre o coração, “essência do Ser)
Brahman – Purusha (cósmico).
1. Determina o significado da sílaba OM (AUM), através da qual se pode conhecer a essência
do Atman.
2. Estabelece, através da razão, a irrealidade da dualidade.
3. Demonstra, através da razão, a verdade sobre a Não-Dualidade, ao ser destruída a visão
dual da realidade.
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4. Reforça o Conhecimento da Realidade Não-Dual.
Segundo Feuerstein, a sílaba sagrada OM é um antigo mantra,
concebido como composto de quatro unidades (mátra) – A, U,
M e o eco nasalizado no som M. Esses quatro mátras são
simbolicamente correlacionados aos quatro estados básicos de
consciência, que são a vigília, o sonho, o sono profundo e o
estado transcendental, chamado o “Quarto” (chaturtha, turya).
Segundo Mircea Eliade, em Yoga: Imortalidade e Liberdade, “A
Mandukya oferece pela primeira vez um sistema de relação
entre os estados de consciência, as letras místicas e, como bem
apontou Heinrich Zimmer ... os quatro yuga....a Mandukya
marca o triunfo de um longo trabalho de síntese, a saber, integração de vários níveis de
referência: upanishadico, yoguico, místico, cosmológico.”
INVOCAÇÃO OM... Com os nossos ouvidos, ouçamos o que é bom. Com os nossos olhos,
contemplemos vossa integridade. Tranquilos no corpo, possamos nós, que vos veneramos,
encontrar descanso. Om Shánti Shánti Shánti
1 HARI OM! Om, esta palavra representa o todo universal visível. Sua explicação é a seguinte:
tudo quanto ocorreu, está ocorrendo e ocorrerá, em verdade tudo isso é o som OM. E o que está
além desses três estados do mundo temporal, isso também, em verdade, é o som OM.
(Comentário: sugere a existência de duas esferas ou planos de existência: a) o plano material e visível,
onde as manifestações temporais e espaciais surgem e desaparecem; b) o plano transcendente e
intemporal, o plano do Ser imperecível, insondável pela razão, situado acima e ao mesmo tempo,
identificado com o primeiro. Ambos são simbolizados pela sílaba OM.)
2 Tudo isto (dito com um gesto do braço, indicando o universo que nos rodeia) é Brahman. Este
Atman (colocando a mão sobre o coração) também é Brahman. Este Atman tem quatro partes
(pada).
(Comentário: apresenta a doutrina da não-dualidade (como Sámkhya). A essência dos fenómenos
macroscópicos é idêntica à dos fenómenos microscópicos. O complexo universo com todas as suas
manifestações, abrangendo do grosseiro ao subtil, a vida e sua complexidade, podem ser abordados a
partir do interior da consciência humana, ou a partir de fora.)
3 A primeira parte é Vaishvanara. Seu campo de definição é o estado ou consciência de vigília, a
consciência dos objectos externos. Essa consciência está voltada para fora através das portas dos
sentidos. Tem sete membros e dezanove bocas, que são o desfrutador (bhuj, come, se alimenta)
da matéria grosseira (sthula).
(Comentário: referência ao estado de vigília, o estado de consciência do homem integrado ao mundo
fenoménico. A referência ao número [de] sete [membros] do Atman Universal [são]: 1) a cabeça (o céu);
2) o olho (o sol); 3) a respiração (o vento); 4) o torso (o espaço); 5) os rins (a água); 6) os pés (a terra); 7)
a boca (o fogo). As dezanove bocas referidas no texto, são identificadas como sendo os cinco sentidos
(Jñanendriya), as cinco faculdades de acção (karmendriya); os cinco tipos de Prana (Prána, Apána, Udána,
Samána e Vyána) e os quatro componentes da mente ou seja: manas, a mente; buddhi, o intelecto;
ahmakara, o ego ou individualidade; chitta, a substância mental.)
4 A segunda parte do Atman é Taijasa (o Resplandescente). Seu campo ou estado de consciência
é o estado de sonho. Essa consciência está voltada para dentro. Tem sete membros e dezanove
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bocas, que são o desfrutador de objectos subtis (pravivikta – o seleccionador, o requintado, o
que é incomum).
(Comentário: refere-se ao Eu que sonha, contemplando os objectos subtis, luminosos, magicamente
evanescentes e belos, no mundo situado por trás das pálpebras. Taijasa se alimenta das recordações
oníricas, assim como Vaishvanara se alimenta dos objectos grosseiros do mundo. Seus “membros” e
“boca” correspondem aos daqueles que desfrutam a consciência de vigília.)
5 Quando aquele que dorme não deseja nada desejável nem percebe nenhum sonho, isso é o
sono profundo (susupta). O Conhecedor, cujas experiências se tornaram unificadas nesse campo
de sono sem sonho, é a terceira parte do Eu, é o terceiro estado de consciência. Esse estado de
consciência é o Prajna. Ele é uma massa indiferente (ghana) de consciência que consiste em
grande beatitude e se alimenta de bem-aventurança (como os estados de consciência anteriores
se alimentam do grosseiro e do sutil). Sua única boca é o espírito (cetomukha).
(Comentário: Descreve a glória do Prajna, o “Conhecedor”, Senhor da consciência do sono sem sonho. É
o terceiro campo ou estado de consciência.)
6 Este é o Senhor de Tudo (sarvesvara): o Onisciente (sarvajna); o Governante Interior
(antaryami); a Fonte (yoni) de tudo. Este é o começo e o fim de todos os seres. Nele, os seres se
originam, nele, os seres finalmente desaparecem.
(Comentário: é o verso mais profundo. Faz referência ao Eu real que finalmente tem que se conhecer. É o
quarto estado ou nível do Eu, situado além do nível do sono sem sonho.)
7 O que é conhecido como quarta parte é Turya: Turya não é a consciência que está voltada para
fora nem a consciência que está voltada para dentro, nem é as duas coisas reunidas; não é uma
massa indiferenciada de consciência adormecida; não conhece nem desconhece porque é
invisível, inefável, inatingível, indescritível, destituída de características, inconcebível, indefinível,
tendo por essência única a segurança do seu próprio Eu (eka-atman-pratyayasara); a pacificação
de toda existência diferenciada e relativa (prapanca-upasama); a completa quietude (santa), a
cessação de todos os fenômenos; é todo paz e bem-aventurança, não dual, sem segundo
(advaita). Este é o Ser (Atman) que deve ser realizado.
(Comentário: cada um dos níveis de consciência dissolveram-se um no outro, à medida que a ampliação
do discernimento se desloca de um nível para o seguinte. Os quatro níveis ou estados de consciência,
reunidos, constituem o conjunto da existência de “quatro pés”, “bem afirmada”, solitária, que é o Eu
(Atman). Cada nível está apoiado sobre as mesmas bases dos anteriores. Nessa viagem, a ênfase dada ao
mundo exterior que se desloca para o interior da consciência. Os estados inferiores e os superiores
coexistem.)
8 Este mesmo Ser (Atman), é agora descrito como a sílaba OM (AUM); as quatro partes acima
descritas do Eu são idênticas aos componentes de sílaba, e os componentes da sílaba são
idênticos às quatro partes do Eu. As letras da sílaba são A, U e M.
9 Vaishvanara, o estado de consciência comum a todos os homens – cujo campo de definição é
o estado de vigília – é o som A, a primeira letra de AUM, porque tudo abarca e é o primeiro.
Quem assim sabe (ya evam veda) abrange todos os objectos desejáveis e se torna o primeiro
dentre os grandes.
10 Taijasa (o Resplandescente), cujo campo de definição é o estado de sonho, representa o som
da letra U, porque é o estrato dos outros dois, contendo suas qualidades. Quem assim
Sháshtra, introdução aos Upanishada. Mandukya e Maitri Upanishada
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compreende, obtém Conhecimento Superior; em sua família, ninguém nasce ignorante de
Brahman.
11 Prajna (o Conhecedor), cujo campo de definição é o sono profundo, é o som da letra M, porque
é a medida na qual tudo entra, tornando-se uno. Quem assim sabe, é capaz de medir tudo e
contém tudo dentro de si mesmo.
12 Turya é o quarto estado cujo campo de definição é destituído de som e sem partes, não está
relacionado a nada; é a cessação dos fenómenos; é impronunciável; é o repouso último de todas
as manifestações diferenciadas, é pacífico e bem-aventurado, não-dual. OM (AUM) é
verdadeiramente o Atman. Quem sabe isto, une o seu Ser com o Atman – sim, quem sabe isto.
Comentário: Os cinco últimos versos analisam os quatro estados de consciência, as quatro partes ou
quatro pés do Eu, relacionando-os com a sílaba OM, idêntica ao Eu. OM pode ser examinado como AUM.
O = estado de vigília; U = estado de sonho; M = estado de sono sem sonho. O silêncio, designado por
Turiya, é o quarto estado de consciência. Os quatro estados reunidos formam o conjunto total global do
Atman-Brahman (Purusha, estado de Samádhi) dado pela sílaba OM. Quando se pronuncia a sílaba OM,
o som nasce, cresce e descreve em tonalidade, chegando finalmente ao silêncio total. O silêncio deve ser
integrado ao conjunto total da sílaba OM. Analogamente, o mesmo ocorre com os quatro estados de
consciência do ser, como transformações da existência única.
O que é o estado Turiya?
Bhagavan Ramana Maharshi: Existem apenas três estados, vigília, sonho e sono. Turiya não é
um quarto estado, ele é o que sublinha esses três. Mas as pessoas não o compreendem de
imediato. Por isso, é dito que esse é o quarto estado e é a única Realidade. Na verdade ele não
está à parte de tudo, pois forma o substrato de todos os acontecimentos, ele é a única verdade e
é o teu próprio Ser.
Os três estados aparecem como fenómenos fugazes sobre ele e depois se afundam para dentro
dele. Portanto, eles são irreais. As imagens em um cinema são apenas sombras passando sobre
tela. Elas tem seu aparecimento, se movem para frente e para trás, mudam de uma para outra,
dessa forma são irreais, enquanto que a tela o tempo todo mantém-se inalterada. Da mesma
forma, numa pintura: as imagens são irreais e a tela é real.
Assim também é connosco: o mundo dos fenómenos, dentro ou fora, são apenas fenómenos
passageiros e não são independentes de nosso Ser. Somente o hábito de olhar para eles como
sendo reais e localizados fora de nós é que é responsável por deixar escondido o nosso verdadeiro
Ser e aparente todo o restante.
A única Realidade sempre presente, o Ser, ao ser encontrado, fará todas as outras coisas irreais
desaparecerem, deixando como resíduo o conhecimento de que elas não são nada além do Ser.
Turiya é apenas um outro nome para o Ser. Cientes dos estados de vigília, sonho e sono,
continuamos inconscientes do nosso próprio Ser. No entanto, o Ser está aqui e agora, é a única
Realidade. Não há nada mais. Enquanto dura a identificação com o corpo o mundo parece estar
fora de nós. Apenas realize o Ser e ele não estará mais fora.
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6. Maitri (ou Maitráyána ou Maitráyaṇíya) Upanishada
Este Upanishada faz parte dos 12 mais
importantes, supõe-se que foi escrito em séc. II
a.C. (provavelmente, na mesma altura do
Bhagavada Gita).
Palavra samskrta Maitri significa amigo,
amizade, bondade, amor incondicional,
benevolência, afabilidade ou boa vontade.
Maitri é o amor que tem a capacidade de levar
felicidade ao outro, generosidade amorosa e
compaixão.
Maitri é o nome de um rishi, um sábio, que iniciou a linhagem chamada Maitrayaniya.
O Maitri Upanishada é considerado como a base para o desenvolvimento posterior do Sámkhya
darshana, refere-se aos guna, explica a sua natureza, o atman, a relação entre atman e brahman.
Preconiza a prática de um sistema completo de Yoga chamado Shadanga, ou “seis partes”, cujas
técnicas são:
1) pránáyáma (controlo do prána, da energia vital),
2) pratyáhara (abstracção dos sentidos),
3) dhyána (meditação, pelo controlo da frequência das ondas mentais),
4) dharana (concentração),
5) tarka (questionamento contemplativo),
6) samádhi (iluminação, suprema consciência humano-cósmica).
Esta forma de expor o sistema, e as próprias práticas descritas, evidenciam que o Maitri é uma
espécie de antecipação de todo o Yoga posterior, desde o sistema de Patañjali ao Sapta Sadhana
(sete práticas) da Gheranda Samhita. Essa organização das diferentes práticas do Yoga em etapas
ou membros é comum a quase todos os sistemas técnicos e continua sendo usada até hoje, como
uma tentativa de sistematizar a miríade de técnicas que o Yoga desenvolveu desde sua origem
para facilitar o caminho dos praticantes.
OM é a vibração primordial, o som do qual emana o Universo, a substância essencial que constitui
todos os outros mantras, sendo o mais poderoso de todos eles e o gérmen ou a raiz de todos os
sons da natureza. O pranava OM, para o Hinduísmo, contém o conhecimento dos Vedas e é
considerado o corpo sonoro do Absoluto.
O OM é considerado também o símbolo do Yoga sendo, por isso, vocalizado nas práticas.
“Entoar o mantra OM liberta o poder cósmico que está por trás de todas as energias (...) e
desperta a vibração do amor dentro de nós." Yogananda
Sháshtra, introdução aos Upanishada. Mandukya e Maitri Upanishada
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Os ensinamentos que foram revelados pelo sábio Maitri.
M.U.VI.29 “Este segredo, por demais misterioso, não deverá
ser transmitido a ninguém que não seja um filho ou um
discípulo e que não tenha ainda alcançado a serenidade”.
M.U.VI.19 Há algo para além da nossa mente e que habita em
silêncio na nossa mente. É o supremo mistério que ultrapassa
o pensamento”.
M.U.VI.23 “Deus é som e silêncio. O seu nome é OM. Entrega-
te, por isso, à contemplação – contemplação nele, em silêncio”.
M.U.VI,25 “A unificação (estabilização) da respiração, da mente e dos (órgãos dos) sentidos,
seguida pelo abandono de todas as formas de existência, isso é chamado de Yoga”.
M.U.VI,34 ”Tal como o fogo, sem combustível, encontra a paz no seu lugar de repouso, assim
também, quando os pensamentos se tornam silêncio, a alma encontra a paz na sua própria
origem… O pensamento deve ser purificado pelo esforço. Tornamo-nos aquilo que pensamos
pelo poder do pensamento, este é o mistério eterno… A mente tem dois estados: pura e impura.
É pura quando livre dos desejos, e impura pelo contacto com o desejo. A mente deve ser
controlada dentro do coração, até atingir seu fim, que é a sabedoria, que é a Liberação. Tudo o
restante é apenas uma continuação de nós que nos prendem a esta vida”.

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  • 1. Sháshtra, introdução aos Upanishada. Mandukya e Maitri Upanishada Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 08-04-2014 Página 1 Sháshtra – Sabedoria antiga hindu …Há dois caminhos que levam à Perfeição. O primeiro é o caminho do conhecimento e o segundo, o da acção. Uns preferem o primeiro, e outros, o segundo desses dois caminhos. Sabe, porém, que considerados do alto, ambos são um só caminho.” - Bhagavada Gíta 1. Os Sháshtra do Hinduísmo Sháshtra - a sabedoria antiguíssima hindu. Divide-se em 2 grandes grupos:  Shruti,  Smrti. 1.1 Shruti Shruti é a mais antiga, de cerca de 3.000 A.C., o seu nome significa “Aquilo que é intuitivo” e refere-se ao conhecimento que é recebido do Cosmos (intuito, “por inspiração divina”). O Shruti contém Os Veda – Sabedoria, os livros mais antigos do Hinduísmo e provavelmente da Humanidade. São atribuídos a Shiva:  Karma Kanda – Rituais  Upásana Kanda – Meditação  Jñána Kanda – Auto conhecimento. Os mais antigos são Rg Veda; Yajur Veda e Sáma Veda – Trayi, ante ariano. Atharva Veda - mais recente (época ariana). 1. No começo, nem o não-ser nem o ser eram. Também não havia o espaço obscuro nem a abóbada luminosa. O que se ocultava? Onde? Sobre que protecção? O que era água? Abismo profundo? 2. No começo não havia nem morte nem imortalidade. Não havia nenhum signo distintivo da noite ou do dia. O Uno respirava, sem agitação e sustinha-se a si próprio. Nenhum outro estava para além. 3. No começo as trevas estavam escondidas pelas trevas. Sem nenhum traço distintivo tudo era um fluir indistinto. Aquele princípio vital, aquele fluir envolto na obscuridade. Surgiu finalmente através do poder do calor. 4. No começo o desejo intenso surgiu Tornando-se a primeira semente do pensamento. Poetas sábios que procuravam mentalmente no seu coração Descobriram a unidade do ser e do não-ser. 5. O raio de luz que estava estendido nas trevas. Mas o que é que estava em cima e o que estava em baixo? Poderes seminais tornavam férteis forças poderosas. Por baixo estava a força e em cima a infinita extensão. 6. Mas afinal quem sabe? Quem o pode assegurar donde é que tudo veio? Como a criação se deu? Os próprios deuses surgiram depois da criação. Quem sabe realmente de onde tudo surgiu? 7. Desde que a criação surgiu – Aquele que a formou ou talvez não Aquele que a contempla na abóbada do céu, Só ele sabe ou talvez não. (Rg Veda X, 129, Hino da Criação)
  • 2. Sháshtra, introdução aos Upanishada. Mandukya e Maitri Upanishada Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 08-04-2014 Página 2 Dos Veda fazem parte: Mantra, Áranyaka, Bráhmana e Upanishada (Os Upanishada são extensões ou explicações de cada um dos quatro Vedas). Sob a forma escrita o Yoga aparece pela 1ª vez já no período ariano, citado informalmente nos Upanishada (à letra – sentar-se junto). 1.2 Smrti Smrti, século III A.C., significa Memória, “Aquilo que se ouviu”. O Smrti divide-se em 5 partes:  Smrti – Códigos de Lei;  Itihása – Épicos: Mahábhárata que contem o Bhagavada Gíta, Rámáyana, entre outros;  Purána – Lendas e Crónicas;  Ágamá – manuais do culto Védico;  Darshana – Pontos de Vista ou Sistemas Filosóficos. 2. Darshana Os Darshana são Pontos de Vista ou Sistemas Filosóficos hindu. Tratam de vários caminhos para chegar à Verdade. “Ekam Sadviprá Bahudhá Vadanti – A Verdade é única, os Sábios a vêem em diversas formas”. (Rg Veda, I, Hino 164, verso 46). Existem 6 Darshana, em 3 grupos: 1º Sámkhya (Kapila) Yoga (Patañjali) 2º Mímánsá (Púrna) (Jaimini) Vedánta (Uttara Mímánsá) (Bádaráyana) 3º Nyáya (Gotama) Veisheshika (Kanáda) O Yoga e o Sámkhya Darshana estão indissociavelmente ligados e mantêm um diálogo constante. O Yoga encontra no Sámkhya os seus fundamentos teóricos. 3. Definição do Sámkhya A palavra Sámkhya significa número, razão, enumeração. É o sistema filosófico teórico mais antigo. A tradição Sámkhya é:  Naturalista, ou seja, atribui a causas naturais todos os efeitos;  “Não especulativa”;  Advaita - não dual. É essencialmente a descrição da Cosmogénese – para além e para aquém do hidrogénio – e da inerente Antropogénese. O antes do início do Universo e para além da sua existência. Sámkhya é o acesso ao Conhecimento e ao Poder (Bala) através da observação e desvendar da Natureza. Contém todas as Chaves - os Segredos do Universo são os Segredos do Ser Humano e vice-versa, desvendando os Mistérios do Ser Humano, desvelam-se os Segredos Cósmicos.
  • 3. Sháshtra, introdução aos Upanishada. Mandukya e Maitri Upanishada Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 08-04-2014 Página 3 3.1 Princípios do Sámkhya Sámkhya cataloga e enumera todos os níveis da Manifestação. Sistema filosófico completo e auto-suficiente. Permite ao homem atingir a finalidade última da existência, através do conhecimento exaustivo dos princípios constituintes do Universo e do Ser individual – EU. Todo o processo da manifestação do Universo, a Criação, começa a partir da interacção de Purusha com Prakrti. 3.2 Estrutura A estrutura do Sámkhya compreende 25 Tattva que participam nos processos de manifestação. Purusha (1) Múla (raíz) Prakrti (Natureza, substância) (2) Pradhána, (o Fundamento, “o que está posto antes de todas as coisas”) Não Produzido e Não Produtor Princípio Criador, a causa incausada – todo o efeito está contido na sua causa. Não se envolve na Criação, inspirador e contagiador. Não Produzida e Produtora Natureza Primordial dinâmica e criadora, não manifesta, a grande e fecunda Mãe Cósmica. Prakrti toca a música e cria melodia – VIDA! “Purusha é aquilo que vê, testemunha, ele está isolado, livre, indiferente, simples espectador inactivo” (Sámkhya Káriká, 19). Não se imiscui na criação. Om – Mahá OM, Big Bang, Expansão Universal. Inicia-se Kála – espaço e Kali – tempo. Vikrti – Manifestação, Mãe Natureza virgem, a Prakrti já manifesta 3 Guna (qualidade) Trimurti, inicialmente encontravam-se diluídos num perfeito equilíbrio, Pralaya Sattva Equilíbrio, perfeição Rajas Energia, força vital, movimento Tamas Inércia, matéria Gere mundo orgânico Gere mundo inorgânico Mahát (3) - primeira grande produção Grande Princípio, substância primordial, de que é feito todo o Universo. Hiranya Garbha – o Ovo Dourado, reflexo de Purusha em Vikrti. É o dispensador do Prána para toda a criação Buddhí (4) - segunda grande produção Intelecto, a inteligência pura, a base da inteligência de todos os seres. Está para além da individualidade. Purusha é reflectido em Buddhí, mas mantém-se puro, como consciência absoluta Os 3 guna formam Antahkarana – ser interior e Ahamkára ou Asmita – individualidade, factor de individualização do EU
  • 4. Sháshtra, introdução aos Upanishada. Mandukya e Maitri Upanishada Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 08-04-2014 Página 4 11 Indriya – faculdades individuais Manas (5) - Mente, faculdade mental individualizada Jñanendriya Karmendriya Tanmátra Bhúta Faculdades de compreensão, que proporcionam sensações, produzidos e não produtores Faculdades de acção, produzidos e não produtores Qualidades sensíveis, produzidos e produtores Elementos densos, produzidos e não produtores Shrotra - Audição (ouvido) (6) Vaka - Palavra (voz) (11) Shabda - Som (16) Ákásha – éter (21) Tvaka - Tacto (pele) (7) Pani - Preensão (mãos) (12) Sparsha - Tacto (17) Váyu – gás ou ar (22) Chakshuh - Visão (olhos) (8) Páda - Locomoção (pés) (13) Rúpa - Forma (18) Tejas – luz ou fogo (23) Rasana - Gustação / Paladar (língua) (9) Payu - Excreção (ânus) (14) Rasa - Gosto (19) Ápas ou Jala – líquido ou água (24) Ghrana - Olfacto (nariz) (10) Upastahani - Prazer (sexo) (15) Gandha - Cheiro (20) Prithivi ou Bhur, Bhu – sólido ou terra (25) “Nenhuma forma nova supera as possibilidades de existência que já se encontram no Universo. Nada se cria, no sentido ocidental da palavra. A criação existe desde toda a eternidade e não poderá jamais ser destruída, mas retornará ao seu aspecto inicial de equilíbrio absoluto, – na grande reabsorção ou dissolução final, Mahá Pralaya.” (O Yoga, Mircea Eliade) Desenvolvimento em Shesha: KALPA (forma) – é um dia cósmico, expansão e contracção (decaimento) do Universo. Em cada Kalpa existem quatro (4) YUGA, ou seja idades ou eras: KRITA OU SATYA, TETRÁ, DVÁPARA e KÁLI. No SATYA-YUGA, onde todas as virtudes humanas possuem força total e os males são desconhecidos. No TETRÁ-YUGA as virtudes humanas perdem um quarto de sua potencialidade. No DVÁPARA-YUGA as virtudes são quebradas pela metade. No KÁLI-YUGA sobra apenas um quarto da força das virtudes e esta é encontrada no coração (AMOR Universal) e na força de vontade. (Começou em 20 de Fevereiro de 3102 A.C.). Mahá Pralaya (a grande dissolução) – á a noite cósmica, encerra um ciclo completo. Tem a mesma duração do Kalpa. O Sámkhya define-se como um sistema completo, auto-suficiente, que permite ao homem atingir a finalidade última da existência, através do conhecimento exaustivo dos princípios constituintes do Universo e do Ser individual – EU. No entanto, as últimas Verdades do Sámkhya somente são atingidas nos estados de elevação de consciência, Suprema Consciência - Samádhi. Sámkhya tem a sua aplicação natural nos métodos do Yoga. Por outro lado, todo o esforço do yogi é incompreensível se não tivemos em conta o Sámkhya. Sámkhya / Yoga = Sabedoria / Poder (da Sabedoria).
  • 5. Sháshtra, introdução aos Upanishada. Mandukya e Maitri Upanishada Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 08-04-2014 Página 5 4. Principais relatos do Yoga nos Sháshtra Upanishada Em Shruti, período pré-clássico Os textos samskrta mais antigos nos quais o Yoga é explicitamente mencionado são alguns Upanishada, de aproximadamente 1500-300 a.C. Upanishada, a letra “sentar-se junto”, relatam diálogos nos quais um mestre transmite aos seus discípulos o conhecimento da realidade imutável do ser (do EU). Existem 108 Upanishada clássicos, dos quais 12 são mais importantes. Nos Upanishada se estabelece um conceito do Absoluto muito além dos deuses e do cosmos manipulados pelo rito daquela época, e muito além da linguagem e da mente. Nestes textos, pela primeira vez, as disciplinas do Yoga, tal como posteriormente no Yoga Sútra do Patañjali, adquirem o seu sentido e propósito. Os conceitos apresentados nos Upanishada resumem-se: O homem comum é dotado de avidya (uma espécie de “ignorância original”), ligado a mayá (ilusão que o mundo produz através dos sentidos), desconhece a sua verdadeira essência. Esta ignorância prende o homem à ronda eterna de renascimentos, samsára. A vontade de saber, inerente a todo ser humano, leva-o procurar o conhecimento junto a um mestre, guru. Para alcançar o conhecimento (vidya), libertando-se das categorias dualistas e relativizadas, o homem precisa de passar por uma evolução cognitiva e vivencial. Para isso utiliza os métodos de Yoga. No Maitri, Svetasvatara e Katha-Upanishada é mencionada a importância dos métodos do Yoga, mas sem explicações pormenorizadas: o conhecimento exacto era transmitido oralmente, directamente do mestre ao discípulo. 5. Mandukya Upanishada O Mandukya Upanishada é um dos mais antigos Upanishada e é o mais curto. Escrito em prosa, em doze versos, explica a palavra sagrada OM (AUM), os três estados de consciência (vigília, sonho e o sono profundo) e o quarto estado, de iluminação. Trata-se de um Upanishada muito importante que por si só revela o caminho para Samádhi (iluminação, suprema consciência humano-cósmica) e contém a abordagem fundamental para o entendimento da realidade. Jiva - Antahkarana – ser interior. Atman – Purusha (individual, sobre o coração, “essência do Ser) Brahman – Purusha (cósmico). 1. Determina o significado da sílaba OM (AUM), através da qual se pode conhecer a essência do Atman. 2. Estabelece, através da razão, a irrealidade da dualidade. 3. Demonstra, através da razão, a verdade sobre a Não-Dualidade, ao ser destruída a visão dual da realidade.
  • 6. Sháshtra, introdução aos Upanishada. Mandukya e Maitri Upanishada Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 08-04-2014 Página 6 4. Reforça o Conhecimento da Realidade Não-Dual. Segundo Feuerstein, a sílaba sagrada OM é um antigo mantra, concebido como composto de quatro unidades (mátra) – A, U, M e o eco nasalizado no som M. Esses quatro mátras são simbolicamente correlacionados aos quatro estados básicos de consciência, que são a vigília, o sonho, o sono profundo e o estado transcendental, chamado o “Quarto” (chaturtha, turya). Segundo Mircea Eliade, em Yoga: Imortalidade e Liberdade, “A Mandukya oferece pela primeira vez um sistema de relação entre os estados de consciência, as letras místicas e, como bem apontou Heinrich Zimmer ... os quatro yuga....a Mandukya marca o triunfo de um longo trabalho de síntese, a saber, integração de vários níveis de referência: upanishadico, yoguico, místico, cosmológico.” INVOCAÇÃO OM... Com os nossos ouvidos, ouçamos o que é bom. Com os nossos olhos, contemplemos vossa integridade. Tranquilos no corpo, possamos nós, que vos veneramos, encontrar descanso. Om Shánti Shánti Shánti 1 HARI OM! Om, esta palavra representa o todo universal visível. Sua explicação é a seguinte: tudo quanto ocorreu, está ocorrendo e ocorrerá, em verdade tudo isso é o som OM. E o que está além desses três estados do mundo temporal, isso também, em verdade, é o som OM. (Comentário: sugere a existência de duas esferas ou planos de existência: a) o plano material e visível, onde as manifestações temporais e espaciais surgem e desaparecem; b) o plano transcendente e intemporal, o plano do Ser imperecível, insondável pela razão, situado acima e ao mesmo tempo, identificado com o primeiro. Ambos são simbolizados pela sílaba OM.) 2 Tudo isto (dito com um gesto do braço, indicando o universo que nos rodeia) é Brahman. Este Atman (colocando a mão sobre o coração) também é Brahman. Este Atman tem quatro partes (pada). (Comentário: apresenta a doutrina da não-dualidade (como Sámkhya). A essência dos fenómenos macroscópicos é idêntica à dos fenómenos microscópicos. O complexo universo com todas as suas manifestações, abrangendo do grosseiro ao subtil, a vida e sua complexidade, podem ser abordados a partir do interior da consciência humana, ou a partir de fora.) 3 A primeira parte é Vaishvanara. Seu campo de definição é o estado ou consciência de vigília, a consciência dos objectos externos. Essa consciência está voltada para fora através das portas dos sentidos. Tem sete membros e dezanove bocas, que são o desfrutador (bhuj, come, se alimenta) da matéria grosseira (sthula). (Comentário: referência ao estado de vigília, o estado de consciência do homem integrado ao mundo fenoménico. A referência ao número [de] sete [membros] do Atman Universal [são]: 1) a cabeça (o céu); 2) o olho (o sol); 3) a respiração (o vento); 4) o torso (o espaço); 5) os rins (a água); 6) os pés (a terra); 7) a boca (o fogo). As dezanove bocas referidas no texto, são identificadas como sendo os cinco sentidos (Jñanendriya), as cinco faculdades de acção (karmendriya); os cinco tipos de Prana (Prána, Apána, Udána, Samána e Vyána) e os quatro componentes da mente ou seja: manas, a mente; buddhi, o intelecto; ahmakara, o ego ou individualidade; chitta, a substância mental.) 4 A segunda parte do Atman é Taijasa (o Resplandescente). Seu campo ou estado de consciência é o estado de sonho. Essa consciência está voltada para dentro. Tem sete membros e dezanove
  • 7. Sháshtra, introdução aos Upanishada. Mandukya e Maitri Upanishada Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 08-04-2014 Página 7 bocas, que são o desfrutador de objectos subtis (pravivikta – o seleccionador, o requintado, o que é incomum). (Comentário: refere-se ao Eu que sonha, contemplando os objectos subtis, luminosos, magicamente evanescentes e belos, no mundo situado por trás das pálpebras. Taijasa se alimenta das recordações oníricas, assim como Vaishvanara se alimenta dos objectos grosseiros do mundo. Seus “membros” e “boca” correspondem aos daqueles que desfrutam a consciência de vigília.) 5 Quando aquele que dorme não deseja nada desejável nem percebe nenhum sonho, isso é o sono profundo (susupta). O Conhecedor, cujas experiências se tornaram unificadas nesse campo de sono sem sonho, é a terceira parte do Eu, é o terceiro estado de consciência. Esse estado de consciência é o Prajna. Ele é uma massa indiferente (ghana) de consciência que consiste em grande beatitude e se alimenta de bem-aventurança (como os estados de consciência anteriores se alimentam do grosseiro e do sutil). Sua única boca é o espírito (cetomukha). (Comentário: Descreve a glória do Prajna, o “Conhecedor”, Senhor da consciência do sono sem sonho. É o terceiro campo ou estado de consciência.) 6 Este é o Senhor de Tudo (sarvesvara): o Onisciente (sarvajna); o Governante Interior (antaryami); a Fonte (yoni) de tudo. Este é o começo e o fim de todos os seres. Nele, os seres se originam, nele, os seres finalmente desaparecem. (Comentário: é o verso mais profundo. Faz referência ao Eu real que finalmente tem que se conhecer. É o quarto estado ou nível do Eu, situado além do nível do sono sem sonho.) 7 O que é conhecido como quarta parte é Turya: Turya não é a consciência que está voltada para fora nem a consciência que está voltada para dentro, nem é as duas coisas reunidas; não é uma massa indiferenciada de consciência adormecida; não conhece nem desconhece porque é invisível, inefável, inatingível, indescritível, destituída de características, inconcebível, indefinível, tendo por essência única a segurança do seu próprio Eu (eka-atman-pratyayasara); a pacificação de toda existência diferenciada e relativa (prapanca-upasama); a completa quietude (santa), a cessação de todos os fenômenos; é todo paz e bem-aventurança, não dual, sem segundo (advaita). Este é o Ser (Atman) que deve ser realizado. (Comentário: cada um dos níveis de consciência dissolveram-se um no outro, à medida que a ampliação do discernimento se desloca de um nível para o seguinte. Os quatro níveis ou estados de consciência, reunidos, constituem o conjunto da existência de “quatro pés”, “bem afirmada”, solitária, que é o Eu (Atman). Cada nível está apoiado sobre as mesmas bases dos anteriores. Nessa viagem, a ênfase dada ao mundo exterior que se desloca para o interior da consciência. Os estados inferiores e os superiores coexistem.) 8 Este mesmo Ser (Atman), é agora descrito como a sílaba OM (AUM); as quatro partes acima descritas do Eu são idênticas aos componentes de sílaba, e os componentes da sílaba são idênticos às quatro partes do Eu. As letras da sílaba são A, U e M. 9 Vaishvanara, o estado de consciência comum a todos os homens – cujo campo de definição é o estado de vigília – é o som A, a primeira letra de AUM, porque tudo abarca e é o primeiro. Quem assim sabe (ya evam veda) abrange todos os objectos desejáveis e se torna o primeiro dentre os grandes. 10 Taijasa (o Resplandescente), cujo campo de definição é o estado de sonho, representa o som da letra U, porque é o estrato dos outros dois, contendo suas qualidades. Quem assim
  • 8. Sháshtra, introdução aos Upanishada. Mandukya e Maitri Upanishada Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 08-04-2014 Página 8 compreende, obtém Conhecimento Superior; em sua família, ninguém nasce ignorante de Brahman. 11 Prajna (o Conhecedor), cujo campo de definição é o sono profundo, é o som da letra M, porque é a medida na qual tudo entra, tornando-se uno. Quem assim sabe, é capaz de medir tudo e contém tudo dentro de si mesmo. 12 Turya é o quarto estado cujo campo de definição é destituído de som e sem partes, não está relacionado a nada; é a cessação dos fenómenos; é impronunciável; é o repouso último de todas as manifestações diferenciadas, é pacífico e bem-aventurado, não-dual. OM (AUM) é verdadeiramente o Atman. Quem sabe isto, une o seu Ser com o Atman – sim, quem sabe isto. Comentário: Os cinco últimos versos analisam os quatro estados de consciência, as quatro partes ou quatro pés do Eu, relacionando-os com a sílaba OM, idêntica ao Eu. OM pode ser examinado como AUM. O = estado de vigília; U = estado de sonho; M = estado de sono sem sonho. O silêncio, designado por Turiya, é o quarto estado de consciência. Os quatro estados reunidos formam o conjunto total global do Atman-Brahman (Purusha, estado de Samádhi) dado pela sílaba OM. Quando se pronuncia a sílaba OM, o som nasce, cresce e descreve em tonalidade, chegando finalmente ao silêncio total. O silêncio deve ser integrado ao conjunto total da sílaba OM. Analogamente, o mesmo ocorre com os quatro estados de consciência do ser, como transformações da existência única. O que é o estado Turiya? Bhagavan Ramana Maharshi: Existem apenas três estados, vigília, sonho e sono. Turiya não é um quarto estado, ele é o que sublinha esses três. Mas as pessoas não o compreendem de imediato. Por isso, é dito que esse é o quarto estado e é a única Realidade. Na verdade ele não está à parte de tudo, pois forma o substrato de todos os acontecimentos, ele é a única verdade e é o teu próprio Ser. Os três estados aparecem como fenómenos fugazes sobre ele e depois se afundam para dentro dele. Portanto, eles são irreais. As imagens em um cinema são apenas sombras passando sobre tela. Elas tem seu aparecimento, se movem para frente e para trás, mudam de uma para outra, dessa forma são irreais, enquanto que a tela o tempo todo mantém-se inalterada. Da mesma forma, numa pintura: as imagens são irreais e a tela é real. Assim também é connosco: o mundo dos fenómenos, dentro ou fora, são apenas fenómenos passageiros e não são independentes de nosso Ser. Somente o hábito de olhar para eles como sendo reais e localizados fora de nós é que é responsável por deixar escondido o nosso verdadeiro Ser e aparente todo o restante. A única Realidade sempre presente, o Ser, ao ser encontrado, fará todas as outras coisas irreais desaparecerem, deixando como resíduo o conhecimento de que elas não são nada além do Ser. Turiya é apenas um outro nome para o Ser. Cientes dos estados de vigília, sonho e sono, continuamos inconscientes do nosso próprio Ser. No entanto, o Ser está aqui e agora, é a única Realidade. Não há nada mais. Enquanto dura a identificação com o corpo o mundo parece estar fora de nós. Apenas realize o Ser e ele não estará mais fora.
  • 9. Sháshtra, introdução aos Upanishada. Mandukya e Maitri Upanishada Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 08-04-2014 Página 9 6. Maitri (ou Maitráyána ou Maitráyaṇíya) Upanishada Este Upanishada faz parte dos 12 mais importantes, supõe-se que foi escrito em séc. II a.C. (provavelmente, na mesma altura do Bhagavada Gita). Palavra samskrta Maitri significa amigo, amizade, bondade, amor incondicional, benevolência, afabilidade ou boa vontade. Maitri é o amor que tem a capacidade de levar felicidade ao outro, generosidade amorosa e compaixão. Maitri é o nome de um rishi, um sábio, que iniciou a linhagem chamada Maitrayaniya. O Maitri Upanishada é considerado como a base para o desenvolvimento posterior do Sámkhya darshana, refere-se aos guna, explica a sua natureza, o atman, a relação entre atman e brahman. Preconiza a prática de um sistema completo de Yoga chamado Shadanga, ou “seis partes”, cujas técnicas são: 1) pránáyáma (controlo do prána, da energia vital), 2) pratyáhara (abstracção dos sentidos), 3) dhyána (meditação, pelo controlo da frequência das ondas mentais), 4) dharana (concentração), 5) tarka (questionamento contemplativo), 6) samádhi (iluminação, suprema consciência humano-cósmica). Esta forma de expor o sistema, e as próprias práticas descritas, evidenciam que o Maitri é uma espécie de antecipação de todo o Yoga posterior, desde o sistema de Patañjali ao Sapta Sadhana (sete práticas) da Gheranda Samhita. Essa organização das diferentes práticas do Yoga em etapas ou membros é comum a quase todos os sistemas técnicos e continua sendo usada até hoje, como uma tentativa de sistematizar a miríade de técnicas que o Yoga desenvolveu desde sua origem para facilitar o caminho dos praticantes. OM é a vibração primordial, o som do qual emana o Universo, a substância essencial que constitui todos os outros mantras, sendo o mais poderoso de todos eles e o gérmen ou a raiz de todos os sons da natureza. O pranava OM, para o Hinduísmo, contém o conhecimento dos Vedas e é considerado o corpo sonoro do Absoluto. O OM é considerado também o símbolo do Yoga sendo, por isso, vocalizado nas práticas. “Entoar o mantra OM liberta o poder cósmico que está por trás de todas as energias (...) e desperta a vibração do amor dentro de nós." Yogananda
  • 10. Sháshtra, introdução aos Upanishada. Mandukya e Maitri Upanishada Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 08-04-2014 Página 10 Os ensinamentos que foram revelados pelo sábio Maitri. M.U.VI.29 “Este segredo, por demais misterioso, não deverá ser transmitido a ninguém que não seja um filho ou um discípulo e que não tenha ainda alcançado a serenidade”. M.U.VI.19 Há algo para além da nossa mente e que habita em silêncio na nossa mente. É o supremo mistério que ultrapassa o pensamento”. M.U.VI.23 “Deus é som e silêncio. O seu nome é OM. Entrega- te, por isso, à contemplação – contemplação nele, em silêncio”. M.U.VI,25 “A unificação (estabilização) da respiração, da mente e dos (órgãos dos) sentidos, seguida pelo abandono de todas as formas de existência, isso é chamado de Yoga”. M.U.VI,34 ”Tal como o fogo, sem combustível, encontra a paz no seu lugar de repouso, assim também, quando os pensamentos se tornam silêncio, a alma encontra a paz na sua própria origem… O pensamento deve ser purificado pelo esforço. Tornamo-nos aquilo que pensamos pelo poder do pensamento, este é o mistério eterno… A mente tem dois estados: pura e impura. É pura quando livre dos desejos, e impura pelo contacto com o desejo. A mente deve ser controlada dentro do coração, até atingir seu fim, que é a sabedoria, que é a Liberação. Tudo o restante é apenas uma continuação de nós que nos prendem a esta vida”.