SlideShare uma empresa Scribd logo
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 1
FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios.
FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios.
FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios.
FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios.
FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios.
FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios.
REDESCOBRINDOAPALAVRADEDEUS
ANDANDO NAS PEGADAS DO NAZARENO, POR
VALDIR STEUERNAGEL
J U L H O – AG OSTO 2 01 1 • A N O X L I V • N º 3 3 1
Entrevista:RussellShedd
Avivamento é uma admissão de
carência e deficiência em uma área
doutrinária ou prática
A maior denominação
evangélica do Brasil
Assembleia de Deus — 100 anos
2 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 3
Deus tem saudades
			daqueles que o deixam!
Abertura
E
m certa altura da história do Antigo Testamento,
na época de Jeremias, por volta do ano 627
antes de Cristo, o povo eleito se desprendeu e
saiu da presença de Deus, renunciou os compromissos
religiosos, pôs-se do lado de fora da aliança e da cerca
que os protegia, repudiou a própria história (iniciada há
mais de mil anos, com a chamada de Abraão) e desertou
para o lado oposto. Não é necessário usar tantos verbos
para explicar o que aconteceu. Basta dizer, em uma
linguagem mais clara, que Israel apostatou da fé.
Isso tem se repetido tanto na história dos hebreus
como na história da igreja. A pesquisa da American
Physical Society mostra que daqui a menos de 40
anos o cristianismo e as outras religiões poderão ser
radicalmente extintos em nove países ricos — Canadá,
Austrália, Áustria, Finlândia, Irlanda, Holanda, Nova
Zelândia, Suíça e República Tcheca. Todos esses países
são cristãos — alguns católicos e outros protestantes.
Trata-se, portanto, de uma acentuada e generalizada
apostasia, que combina com a previsão mencionada por
Paulo: “O Espírito de Deus diz claramente que, nos
últimos tempos, alguns abandonarão a fé [por darem]
atenção a espíritos enganadores e a ensinamentos que
vêm de demônios” (1Tm 4.1, NTLH).
A apostasia é algo muito sério. Entre os apóstatas
mais notáveis do período bíblico estão o rei Acaz
(2Cr 29.19), o rei Manassés (2Cr 33.19), Demas
(2Tm 4.10), Himeneu e Alexandre (1Tm 1.19-20).
Há muitas razões para a apostasia. Uma delas é a
força destruidora da perseguição religiosa. As ameaças,
a tortura, a prisão e o martírio têm feito alguns cristãos
renunciarem a fé. Às vezes apenas “da boca para fora”,
mas não no íntimo. O relaxamento moral progressivo,
por sua vez, pode descambar na apostasia. Daí a
exortação: “Se continuarmos a pecar de propósito,
depois de conhecer a verdade, já não há mais sacrifício
que possa tirar os nossos pecados” (Hb 10.26, NTLH).
A intensificação dos poderes demoníacos, por meio
de falsos profetas, falsos mestres, falsos cristãos e falsos
milagres, pode roubar a fé de muitos. O Apocalipse diz
que todos ficarão maravilhados com a cura da besta que
havia sido golpeada mortalmente e, então, se porão ao
lado dela (Ap 13.3).
É difícil, mas pode acontecer que o apóstata
venha a se arrepender e volte para o aprisco. Pela
instrumentalidade dos profetas, Deus se dirige às
gerações apóstatas de maneira comovente. Às vezes,
ele recorda os bons tempos anteriores à apostasia: “Eu
me lembro bem de como você procurava me agradar
e demonstrar o seu amor, como uma jovem noiva, [e
quando] me seguia fielmente, através do deserto onde
planta nenhuma podia nascer” (Jr 2.2, BV). Outras
vezes, ele reclama com ternura: “O meu povo cometeu
dois pecados: Eles abandonaram a mim, a fonte de
água fresca, e cavaram cisternas, cisternas rachadas
que deixam vazar a água da chuva” (Jr 2.13, NTLH).
Quando convém, ele fala mais energicamente e faz
promessas de renovo: “Venham cá, vamos discutir este
assunto [pois] os seus pecados os deixaram manchados
de vermelho, manchados de vermelho escuro; mas eu
os lavarei, e vocês ficarão brancos como a neve, brancos
como a lã” (Is 1.18, NTLH).
A evangelização pretende alcançar os que nunca
ouviram o anúncio das boas-novas. A reevangelização,
por sua vez, quer alcançar aqueles que saíram do
meio de nós, mas, a rigor, ainda não eram dos nossos
(1Jo 2.19). É possível que “com laços de amor e de
bondade” (Os 11.4) Deus os traga de volta!
4 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
H
á algum tempo me encontrei com um amigo e irmão
assembleiano em frente ao templo da Igreja Presbiteriana de
Viçosa. Ele olhou em direção à igreja e me perguntou de chofre:
“Como vai esta geladeira?”. Devo ter dado uma resposta conciliatória.
Talvez tenha dito que a geladeira estava estragada e não esfriava nem
congelava as ovelhas. Meu amigo não falava por mal. Sua frase exprimia
um preconceito das igrejas pentecostais contra as igrejas históricas —
preconceito existente também em sentido inverso.
Ultimato se alegra com o centenário das Assembleias de Deus no
Brasil, celebrado no mês de junho em todo o país, especialmente em
Belém do Pará, onde tudo começou. Nada mais justo e oportuno do que
deixar o leitor por dentro da caminhada dos assembleianos brasileiros,
desde a organização de sua primeira igreja, em junho de 1911, até hoje.
Temos ainda outros pratos cheios nesta edição. Em sua coluna,
Alderi Matos diz que “o cristianismo tem uma concepção elevada do
ser humano e afirma a dignidade e até mesmo a sacralidade da vida”
(p. 61). A exortação de Catito aos casais é muito oportuna: “Nosso
‘irmão’ mais próximo é o nosso cônjuge e amá-lo significa dar a vida
por ele” (p. 41). Ricardo Barbosa encoraja os que andam pelo caminho
apertado: “O caminho estreito é o caminho da criação, da redenção,
o caminho de Jesus” (p. 32). A propósito do PLC 122, Robinson
Cavalcanti reafirma que a sexualidade deve ser entendida “como um dom
de Deus, a ser exercitada no matrimônio heterossexual monogâmico
vitalício”. Rubem Amorese é cauteloso ao falar do reino dos céus:
“Suponho que a hierarquia do poder do reino dos céus é mantida pela
submissão voluntária e a autoridade é exercida sobre aqueles que a ela se
sujeitam voluntariamente” (p. 66).
Valdir Steuernagel escreve da Galileia, de frente para o mar de
Tiberíades. O cenário o faz recordar e dividir com o leitor momentos
especiais da vida de Jesus (p. 56).
Por fim, temos uma das pérolas pentecostais (p. 24), escrita em 1930
por Paulo Leivas Macalão: “Quantos pregadores mencionam ao pecador
a cor e o perfume da rosa, mas se esquecem de avisá-lo dos espinhos”.
Elben César
Carta ao leitor
ISSN 1415-3165
Revista Ultimato – Ano XLIV – Nº 331
Julho-Agosto 2011
www.ultimato.com.br
Publicação evangélica destinada à evangelização e
edificação, não denominacional, Ultimato relaciona
Escritura com Escritura e acontecimentos com Escrituras.
Visa contribuir para criar uma mentalidade bíblica e
estimular a arte de encarar os acontecimentos sob uma
perspectiva cristã. Pretende associar a teoria com a
prática, a fé com as obras, a evangelização com a ação
social, a oração com a ação, a conversão com santidade
de vida, o suor de hoje com a glória por vir.
Circula em meses ímpares
Diretor de redação e jornalista responsável:
Elben M. Lenz César – MTb 13.162 MG
Arte: Liz Valente
Impressão: Plural
Tiragem: 35.000 exemplares
Colunistas: Alderi Matos • Bráulia Ribeiro
Carlos “Catito” Grzybowski • Carlinhos Veiga
Dagmar Fuchs Grzybowski • Ed René Kivitz • Jorge Barro
Marcos Bontempo • Marina Silva • Paul Freston
René Padilla • Ricardo Barbosa de Sousa
Robinson Cavalcanti • Rubem Amorese
Valdir Steuernagel
Notícias: Lissânder Dias
Participam desta edição: Frederico Rocha
Janet Susan • Russell Shedd
Publicidade: anuncio@ultimato.com.br
Assinaturas e edições anteriores:
atendimento@ultimato.com.br
Reprodução permitida: Favor mencionar a fonte.
Os artigos não assinados são de autoria da redação.
Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro
da Associação de Editores Cristãos (AsEC)
Editora Ultimato
Telefone: (31) 3611-8500
Caixa Postal 43
36570-000 — Viçosa, MG
Administração/Marketing: Klênia Fassoni
Ana Cláudia Nunes • Ariane Gomes dos Santos
Daniela Cabral • Ivny Monteiro • Lucas Rolim Menezes
EDITORIAL/PRODUÇÃO/ULTIMATO ONLINE:
Marcos Bontempo • Bernadete Ribeiro
Djanira Momesso César • Gláucia Siqueira
Lissânder Dias • Mariana Furst • Pabline Félix
FINANÇAS/CIRCULAÇÃO: Emmanuel Bastos
Aline Melo • Ana Paula Fernandes • Cristina Pereira
Daniel César • Edson Ramos • Jair Avillez
Luís Carlos Gonçalves • Rodrigo Duarte
Solange dos Santos
VENDAS: Lúcia Viana • Henife Oliveira
Lucinéia Campos • Romilda Oliveira • Tatiana Alves
Vanilda Costa
ESTAGIÁRIOS: Bruno Menezes • Cláudia Alvarenga
Jaklene Batista • Juliani Lenz
fundada em 1968
4 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
Geladeira
estragada
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 5
6 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
75.
“
Ninguém deve buscar os seus próprios
interesses e sim os interesses dos outros”
(1Co 10.24, NTLH). O pastor de almas é muito
mais comprometido com os outros do que
qualquer outra pessoa. Ele precisa cuidar das ovelhas e
cuidar do rebanho, como faz o pastor mencionado no
Salmo 23. A diferença entre o mercenário e o bom pastor
é que aquele abandona as ovelhas em situação de risco e
este toma conta delas, a ponto de dar a própria vida por
elas (Jo 10.11). O pastor precisa cuidar da igreja de Deus
(1Tm 3.5).
Diante dessa obrigação, pode parecer estranho e
contraditório o conselho de Paulo a Timóteo: “Cuide
de você mesmo e tenha cuidado com o que ensina”
(1Tm 4.16, NTLH). Em outras versões lê-se: “Atente
bem para a sua própria vida e para a doutrina” (NVI),
“Mantenha-se vigilante em tudo quanto faz e pensa”
(BV), “Vela por ti e pelo teu ensino” (Matos Soares),
“Olha por ti e pela instrução dos outros” (EPC), “Presta
atenção a ti mesmo e à doutrina” (BJ).
Não há contradição alguma. Para cuidar bem dos
outros, Timóteo precisava primeiro cuidar bem dele e
de sua pregação. Assim ele seria bem sucedido diante de
Deus e do rebanho. Antes dessa exortação, Paulo havia
feito outras: “Você será um bom servo de Cristo Jesus,
alimentando-se espiritualmente com as doutrinas da fé
e com o verdadeiro ensinamento que você tem seguido”
e “Para progredir na vida cristã, faça sempre exercícios
espirituais” (1Tm 4.6-7, NTLH).
Tudo está muito claro: Timóteo deveria juntar a
ortopraxia (cuidado com a conduta) com a ortodoxia
(cuidado com a doutrina). Em nenhuma outra parte
da Bíblia esses dois cuidados estiveram tão próximos
um do outro. O filho de Paulo na fé seria um aleijado
se desprezasse a ortodoxia e se agarrasse a ortopraxia e
vice-versa. O jovem pastor deveria ser “um exemplo na
maneira de falar, de agir, no amor, na fé e na pureza”
(isso é ortopraxia) e não ter nada a ver com “ideias tolas
nem mitos e lendas absurdas” (isso é ortodoxia), como
está escrito no mesmo capítulo (1Tm 4.7, 12). Timóteo
deveria tratar “as mulheres jovens como irmãs, com
toda pureza” (1Tm 5.2) tanto como “zelar pela pureza
do evangelho que ele ficou encarregado de pregar”
(1Tm 1.11).
A tentação que sempre existiu é a de separar a
ortopraxia da ortodoxia ou a ortodoxia da ortopraxia.
A pessoa que só pensa em teologia não dará a menor
importância à piedade e será seca demais. A pessoa que
só pensa em piedade não dará a mínima importância à
teologia e será vulnerável demais.
Pastorais
Viva a fé e
	 viva a conduta!
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 7
GunnarVingren e Daniel Berg: os
pioneiros das Assembleias de Deus
O “colégio de Jesus” e a educação
teológica das Assembleias de Deus
Questões éticas sob o ponto de
vista assembleiano
O crescimento assombroso das
Assembleias de Deus no Brasil e
suas possíveis razões
Os assembleianos não podem
sobrecarregar demais e os outros
não podem aliviar demais
“Eu sou de São Cristóvão” e “Eu
sou de Madureira”
3 Abertura
4 Carta ao leitor
6 Pastorais
8 Cartas
12 Frases
12 Números
16 Mais do que notícias
18 Notícias
36 Meio ambiente e fé cristã
42 De hoje em diante...
43 Novos acordes
44 Altos papos
46 Caminhos da missão
58 Cidade em foco
63 Vamos ler!
CAPA
SEÇÕES
Sumário
ABREVIAÇÕES:
AS21 - Almeida Século 21; BH - Bíblia Hebraica;
BJ - A Bíblia de Jerusalém; BP - A Bíblia do Peregrino;
BV - A Bíblia Viva; CNBB - Tradução da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil; CT - Novo Testamento
(Comunidade de Taizé); EP - Edição Pastoral; EPC -
Edição Pastoral - Catequética; HR – Tradução de Huberto
Rohden; KJ - King James (Nova Tradução Atualizada
dos Quatro Evangelhos); NTLH - Nova Tradução na
Linguagem de Hoje; TEB - Tradução Ecumênica da
Bíblia. As referências bíblicas não seguidas de indicação
foram retiradas da Edição Revista e Atualizada, da
Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova Versão
Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional.
O caminho do coração
32 Não basta dizer, é preciso fazer
Ricardo Barbosa de Sousa
Da linha de frente
34 A linguagem de missões que prejudica
o Reino, Bráulia Ribeiro
Cotidiano
38 O leitor pergunta, Ed René Kivitz
Missão integral
40 O poder para a missão, René Padilla
Casamento e família
41 Você conhece o amor?, “Catito” Grzybowski
e Dagmar Fuchs Grzybowski
Entrevista
48 Russell Shedd
Avivamento é uma admissão de carência e
deficiência em uma área doutrinária ou
prática
Ética
50 A vontade de Deus e os desejos não
realizados, Paul Freston
Reflexão
52 Os evangélicos e a pororoca gay
Robinson Cavalcanti
Redescobrindo a Palavra de Deus
56 Andando nas pegadas do Nazareno
Valdir Steuernagel
História
60 Fé cristã: o verdadeiro humanismo
Alderi Souza de Matos
Ponto final
66 Fios de prata, Rubem Amorese
22
25
26
27
28
29
• artigos exclusivos
• boletins editoriais
• devocionais
• estudos bíblicos
• lançamentos
• novidades
• promoções
NeiNeves
Centro de Convenções Centenário, da
Assembleia de Deus, em Belém, PA
Um ponto de encontro
www.ultimato.com.br
8 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
Cartas
Pascal
Eu estava descontente com boa parte das matérias
de Ultimato há algum tempo, pois não estavam
sendo úteis para o amadurecimento da minha
fé cristã. No entanto, a edição de maio/junho foi
extraordinária, especialmente a matéria de capa,
Fé, razão, pecado e redenção no pensamento de
Blaise Pascal. Parabéns e continuem assim. Apro-
veito para dizer que não é verdade que Ultimato
fez ou faz campanha de ódio contra os homosse-
xuais, como diz a carta de João Kouffi, publicada
na mesma edição. A revista tem mantido de forma
coerente a posição bíblica sobre o assunto.
João Antonio de Almeida, Tatuí, SP
A edição de maio/junho, cuja matéria de capa
é sobre a pessoa e o pensamento de Blaise
Pascal, é uma das melhores desde que me tornei
assinante! Tão boa que meu filho de 17 anos está
entusiasmado.
Vitório Pinto, Magé, RJ
A cada dia que passa a noiva (igreja) se coloca à
frente do Noivo e torna-se menos cristocêntrica,
mais mundana e denominacional e perde o foco. A
liderança da igreja precisa falar mais a respeito do
Noivo que da noiva. Aprende-se muito sobre cos-
tumes e pouco sobre princípios bíblicos irrevogá-
veis. Maravilhoso o artigo Pascal — Jesus Cristo é
o centro para onde tudo converge (“Capa”, maio/
junho de 2011). Precisamos ler as Escrituras com
sede do Noivo. Parabéns a Ultimato, que não
negocia com a verdade, mas leva-a a sério.
Pr. Marcelo, Duartina, SP
Cotidiano
Parabenizo Ed Rene Kivitz pelo texto lúcido sobre
oração (maio/junho de 2011). É um dos mais
inspirados e objetivos que li sobre o assunto ulti-
mamente. Parabenizo também Paul Freston pelo
excelente artigo sobre Gregório (“Ética”). Ultimato
inspira minha vida e ministério.
Obede Silva, Fortaleza, CE
Entrevista
A entrevista Islamismo e democracia não são in-
compatíveis (maio/junho de 2011) poderia ter sido
esclarecedora. Porém, devido ao pequeno espaço
concedido a Ramez Atallah, as respostas foram
superficiais. Fiquei desapontado com o conteúdo.
Walbervan Pontes, Fortaleza, CE
O prolongamento da dor
No texto O prolongamento da dor (“Abertura”, maio/
junho de 2011), Elben César interpreta literalmente
o versículo: “O choro pode durar a noite inteira,
mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5). Segundo
ele, a dor pode durar mais de um dia, mais de uma
semana etc. Todavia, parece claro que o autor
bíblico queira mostrar a possibilidade de o sofri-
mento se prolongar, como uma noite de sofrimento
demora a passar. Porém, a promessa da graça e
do alívio também se cumprirá, como o sol sempre
chega, mesmo depois de uma longa noite.
Djaik Neves, Jataí, GO
Em defesa da teologia
Gostei muito do artigo Em defesa da teologia
(“História”, maio/junho de 2011), de Alderi Souza de
Matos. Ele consegue falar de vários assuntos com
profundidade. A declaração de que “a teologia é
uma tarefa imprescindível e absolutamente essen-
cial” é ousada e desafiadora. Aprendi a admirar o
autor pelos artigos que ele escreve para Ultimato.
Jean de Oliveira, Nova Cruz, RN
A espiritualidade cristã e a cultura
narcisista
Parabenizo Ultimato por ser um canal de bênção
e de reflexão sobre o cristianismo do dia-a-dia. Ao
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 9
ler o artigo A espiritualidade cristã e a cultura
narcisista, de Ricardo Barbosa (“O caminho
do coração”, maio/junho de 2011), lembrei-me
do texto de Mateus 5.3: “Bem-aventurados os
humildes de espírito, porque deles é o reino dos
céus”. Interpreto este versículo assim: felizes os
que se esvaziam de si mesmos e se enchem de
Deus. O comportamento narcisista tem afetado
os cristãos. Estes exibem o “grande eu” nos sites
de relacionamentos e nos cargos que ocupam
nas igrejas, os quais os enchem de orgulho, por
serem seguidos e elogiados. Com isso, acabam
perdendo o sentido do cristianismo.
Renan Souza, Poá, SP
Altos papos
Interessante a reflexão e a aplicação feita por
Manu Magalhães em Hitler, Roberto Jefferson
e eu (“Altos papos”, março/abril de 2011).
Faço uma única ressalva: ao dizer que Jesus,
como nós, tinha sede de poder e de aceitação,
ela apresenta características de Jesus que
eu simplesmente não consigo encontrar nos
Evangelhos, nem fazendo um esforço exegético.
Quanto à primeira (sede de poder), sugiro que
se leia Mateus 26.53 e João 10.18; em relação
à segunda (sede de aceitação), a sugestão é
João 6.67.
Antônio Alves, Americana, SP
O artigo Hitler, Roberto Jefferson e eu, de Manu
Magalhães (“Altos papos”, março/abril de 2011),
me confrontou com o real, verdadeiro e vivo
perdão de Deus, que também devemos exercer
em nossos relacionamentos. Levou-me a perceber
o significado do perdão de Deus na minha vida e o
lugar que ele tem na vida cristã.
Fabiano Portela, João Pessoa, PB
Sugestão de pauta
Gostaria que Ultimato fosse menos elitizada e
falasse mais sobre a vida do povo evangélico. E
também que escrevesse sobre os crentes que pre-
gam nos trens, nas ruas, nos presídios. Continuem
publicando matérias sobre homossexualismo,
aborto, eutanásia e casamento.
Joubert da Conceição, Duque de Caxias, RJ
Igreja Anglicana
Saiu uma reportagem, em cadeia nacional,
dizendo que a Igreja Anglicana, apesar do nome
diferente, é uma extensão da Igreja Católica. A
informação procede?
Evandro César, Carolina, MA
— A Igreja Anglicana é uma igreja reformada, ou
protestante, que mantém o episcopado histórico,
os sacramentos e a liturgia. Tem em comum com
as Igrejas Orientais e a de Roma alguns aspectos
estéticos exteriores, mas não a teologia. Ela des-
cende da Igreja Celta autônoma dos primeiros seis
séculos, localizada nas Ilhas Britânicas. Esteve,
posteriormente, sob a autoridade papal, da qual
se desvinculou quando da Reforma Protestante do
Século 16. Está presente hoje em 165 países, com
80 milhões de seguidores, e tem a Sé de Cantuária
como símbolo de unidade.
Dom Robinson Cavalcanti, bispo anglicano da
Diocese de Recife, PE
Cartas da prisão
Acabo de escrever um livro: Dados Importantes da
Vida de Paulo. Foram nove meses de pesquisa bí-
blica. Quero continuar esse trabalho, mas preciso
do apoio de alguma editora.
Pr. Rovilson Alves (Raio 3, cela 301, Estrada
Municipal Iperó/Tatuí, km 5,5, Iperó, SP)
A matéria de capa sobre sofrimento (novembro/
dezembro de 2010) foi muito marcante para mim,
pois o meu sofrimento não representa quase nada
se comparado ao daqueles que estiveram em
campos de concentração. Graças a Deus, minha
mãe, que era da Iugoslávia, conseguiu extradição
durante a Segunda Guerra. Quanto a mim, estou
preso desde 1995. Tenho 54 anos e estou nos
caminhos do Senhor desde 1998, quando ele me
tirou dos braços da morte, curou minhas feridas
10 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
Cartas
(levei vários tiros) e fez de mim um novo homem.
Hoje faço a obra de Deus na prisão.
Mário Garcia, Riolândia, SP
Quando fui preso, em junho de 2008, achei que
o mundo tinha acabado para mim. Três dias
depois tomei a decisão de me enforcar. Tentei por
três ou quatro vezes e não consegui. Depois de
tudo isso, entendi que a vida não acaba quando
achamos que ela acabou. Comecei a viver um dia
após o outro. Hoje sou feliz. Conheci a Palavra
de Deus.
José da Silva, Sorocaba, SP
Quem sou eu? Um miserável pecador, ex-viciado
e ex-assaltante. Sou apenas um presidiário arre-
pendido, pagando por seus erros, esquecido pela
família, abandonado pela sociedade e rejeitado
por todos. E ainda condenado à morte, pois há 18
anos sou soropositivo. Por algum tempo pensei
em desistir de tudo. Entrei em uma depressão
profunda. Porém, Jesus me mostrou que ele é o
médico e eu sou o doente. Estou condenado a
18 anos de reclusão, dos quais já cumpri 10. Na
prisão concluí o ensino fundamental e o médio.
Tenho orado e lido muito. Não vejo a hora de sair
de cabeça erguida para pregar o evangelho. Ulti-
mato tem abençoado muito a vida dos presos.
Paulo Henrique de Almeida, Casa Branca, SP
Oro todos os dias por vocês. Gostaria que Ultimato
publicasse a seguinte reflexão: Certa vez, um
homem pediu a Deus uma flor e uma borboleta.
Porém, Deus lhe deu um cacto e uma lagarta. O
homem ficou triste, pois não entendeu o porquê
de seu pedido vir errado. Então pensou: “Também,
com tantas pessoas para atender...”. E resolveu
não questionar. Passado algum tempo, foi verificar
o pedido que deixara esquecido. Para sua surpre-
sa, do espinhoso e frio cacto havia nascido uma
bela flor, e a horrível lagarta transformara-se em
uma linda borboleta. Ele reconheceu que Deus age
certo. Assim é a nossa vida. Hoje pode ser triste,
mas amanhã iremos sorrir. Porque Deus é o nosso
ajudador.
Pr. Samuel de Moura, Itirapina, SP
Sou pastor evangélico. Não vigiei o suficiente e es-
tou preso em um presídio no Rio de Janeiro, onde
faço a obra de Deus (leia Mateus 25.36). Gostaria
de receber sempre a revista Ultimato.
Pr. César Mesquita, Rio de Janeiro, RJ
— Para o leitor compreender melhor o drama
dos irmãos encarcerados, que sempre escrevem
a Ultimato, sugerimos o filme Um sonho de
liberdade. Ele conta a história de um banqueiro
que foi condenado à prisão perpétua e que tinha
a habilidade de resolver problemas do dia-a-dia
dele e dos outros. A Bíblia diz: “Não se esqueçam
daqueles que estão na prisão. Sofram com eles,
como se vocês próprios estivessem aprisionados
com eles” (Hb 13.3).
Voz profética
Agradeço a Deus pela voz profética de Ultimato
nos dias de hoje. É bom saber que ainda há
cristãos que preferem combater a hipocrisia, o
narcisismo, o egoísmo e proclamar a mensagem
da insignificância e da irrelevância do ser humano
frente aos seus méritos; e, ainda, apresentar
o caminho da graça maravilhosa de Jesus, da
necessidade de confissão, do quebrantamento e
da humildade diante de Deus e das pessoas.
Pr. Tiago Schwanz, Serra, ES
Lei Muadji
Foi aprovado na Comissão de Direitos Humanos
da Câmara dos Deputados, por unanimidade, o
PL 1057/2007 — Lei Muadji —, que visa proteger
as crianças indígenas em situação de risco. Ele
abrange crianças que nasceram com deficiência
física ou mental, gêmeos, filhos de mãe solteira
e outros casos de crianças discriminadas, de
acordo com a tradição de cada povo indígena. Em
algumas etnias, elas ainda correm risco de serem
rejeitadas, abandonadas na mata ou mortas por
membros da própria família, devido à pressão
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 11
Fale conosco
Cartas à Redação
•	 cartas@ultimato.com.br
•	 Cartas à Redação, Ultimato,
Caixa Postal 43, 36570-000, Viçosa, MG
Inclua seu nome completo, endereço, e-mail
e número de telefone. As cartas poderão
ser editadas e usadas em mídia impressa e
eletrônica.
Economize Tempo. Faça pela Internet
Para assinaturas e livros acesse
www.ultimato.com.br
Assinaturas
•	 atendimento@ultimato.com.br
•	 31 3611-8500
•	 Ultimato, Caixa Postal 43, 36570-000,
Viçosa, MG
Edições Anteriores
•	 atendimento@ultimato.com.br
•	 www.ultimato.com.br
interna. Em algumas comunidades há relatos de
mais de duzentas crianças nessas condições
que foram mortas. A aprovação foi uma vitória
da vida!
Damares Regina Alves, assessora jurídica
da Frente Parlamentar da Família e Apoio à
Vida e conselheira do Movimento Atini —
Voz pela Vida
Revistas para missionários
Enviamos os exemplares que recebemos de
Ultimato a missionários que estão na Ásia,
Europa, África e alguns países mais fechados
ao evangelho. No Brasil, enviamos para aqueles
que trabalham com povos indígenas no Ama-
zonas. Separamos um a dois exemplares para
os departamentos da base da Missão AMEM
em Belo Horizonte. O conteúdo da revista é
excelente e cremos que tem edificado a vida dos
missionários, especialmente os que estão longe
do país de origem.
Angélica, Belo Horizonte, MG
— Em parceria com agências missionárias, Ulti-
mato é enviada a 342 missionários em campo.
Carta dos editores
Ricardo Gondim escreveu por 16 anos na
revista Ultimato. Sua estreia foi com o artigo
A pós-modernidade, seus desafios e oportunidades,
na edição de março de 1996. Seus textos logo
conquistaram os leitores. Seu artigo mais recente,
na edição de maio de 2011, é uma declaração de
amor à literatura.
Como os demais articulistas, Ricardo Gondim
nunca recebeu pagamento por seus escritos. Em
julho de 2008, ele esteve conosco no Encontro de
Amigos, quando celebramos os 40 anos da revista,
aqui em Viçosa, MG. Além de sua seção “Reflexão”
na revista, a Editora Ultimato publicou três livros
de sua autoria: Orgulho de Ser Evangélico — que
é também título de seu artigo publicado na edição
de julho de 2000 —, O Que os Evangélicos (Não)
Falam e Eu Creio, Mas Tenho Dúvidas.
Temos respeito e carinho pelo pastor Ricardo
Gondim. Suas posições e alertas à igreja brasileira
fazem parte da história ministerial da Editora Ultima-
to. Em meados de maio nos reunimos com o pastor
Ricardo em seu escritório na Igreja Betesda, em São
Paulo, quando comunicamos a ele a descontinuação
de sua participação na revista.
Estamos gratos a Deus pelo tempo que
caminhamos juntos. Os leitores podem continuar
a encontrar o pastor Ricardo Gondim em seu site
(www.ricardogondim.com.br) e também em vários
outros canais de comunicação que reproduzem
seus escritos.
Dos editores
12 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
“A criação inteira, inclusive a
humanidade, encontra o seu
devido propósito e lugar unicamente no
relacionamento vivo com Jesus Cristo.
Timóteo Carriker, missiólogo
FRASES
“O cuidador-mor, Jesus Cristo, deixou-se
ser denominado de curador ferido.
Ferido pelas feridas que curava, mas, sobretudo,
para ser modelo para um bom cuidador.
Cleydemir de Oliveira Santos, psicólogo, autor
de Ainda Dá Para Ser Feliz
“Avida é traumática por natureza. Nem
todos os traumas podem ser evitados.
Mas com fé em Deus todos os traumas podem
ser superados.
Ailton Gonçalves Desidério, pastor, psicólogo
especializado em psicanálise
“Ovalor da verdade não pode ser medido
pela atração que ela tem, nem pela
popularidade. Se popularidade fosse critério de
validade, Jesus não teria morrido.
Antonio Silva Paixão, padre, por ocasião
do 4° Encontro Nacional de Jornalismo em
Brasília, DF
“Os familiares mentem a si mesmos e
para o paciente, fazendo de conta
que está tudo bem e que ele, a qualquer
momento, sairá daquela situação. O assistente
religioso, por sua vez, tem uma conversa que
pende mais para o lado transcendente, menos
concreto e algumas vezes indefinido.
Anísio Baldessin, capelão do Instituto do
Câncer em São Paulo, SP
“O trabalho por um mundo melhor constitui
uma parte intrínseca do culto da igreja
a Deus. Quando levamos a cabo ações de justiça,
de paz e de dar de comer aos famintos, estamos
realizando atos que engrandecem a Deus, porque
eles engrandecem a dignidade de cada ser
humano.
Olav Fykse Tveit, pastor, secretário-geral do
Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra, Suíça
“O s orçamentos das igrejas não têm
espaço para missões. As finanças,
sempre apertadas, há muito tempo foram
comprometidas com salários e construções caras.
Russell Shedd, filho de missionários e
missionário no Brasil
“O homem moderno foi condenado a ser
manipulado pelo excesso de comunicação,
a oferta maior do que a procura. O mundo
virtual é um salto sem rede no espaço. Uma
bobeira pode terminar em tragédia.
Carlos Heitor Cony, escritor
“N o horror da dor, a prepotência diminui
e é possível enxergar as próprias
fragilidades. Sem reconhecer a própria fragilidade,
não é possível conseguir forças para construir o
consenso capaz de mudar.
Dilma Rousseff, quando ministra de Minas e
Energia
”
”
”
”
” ”
”
”
”
NÚMEROS
1.600.000.000
de exemplares da Palavra de Deus
já foram distribuídos graciosamente
pelos Gideões Internacionais ao redor
do mundo, desde a sua fundação em
1899
114
anos era a idade de Walter Breuning,
o homem mais velho do mundo, ao
morrer de causas naturais em um
hospital americano no dia 15 de abril
de 2011
500.000
das 600 mil cidades e vilas da Índia
não têm sequer um pregador do
evangelho. A evangelização do país
começou há dois milênios, com o
apóstolo Tomé
1.300.000
haitianos desalojados pelo terremoto
de janeiro de 2010 ainda vivem sob
lonas de plástico
15.000.000
de crianças e adolescentes espalhados
pelo mundo são órfãos de pais que
morreram infectados com o vírus HIV
nos últimos 20 anos
370
pessoas são infectadas com o vírus
HIV a cada hora ao redor do mundo
(50% delas são jovens com idade
entre 15 e 24 anos)
70%
das crianças negras nos Estados
Unidos são filhas de mães solteiras
(há mais ou menos 60 anos elas eram
entre 13% e 15%)
Ultimatoimagem
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 13
14 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
Mulheres bonitas
E
m uma
correspondência de
pastor para pastor,
o mais idoso escreve para o
mais novo: “[Quero] que
elas [as mulheres da igreja]
se enfeitem”.
Ao mesmo tempo que
permite e encoraja as
irmãs a se adornarem, o
pastor idoso faz algumas
restrições. Elas não devem
gastar muito dinheiro com
roupas de luxo, penteados
complicados e jóias
caras, como as de ouro
e pérolas. Como cristãs,
elas devem optar por um
estilo de vida simples.
Embora recomende
também “roupas decentes
e simples” para evitar a
concupiscência masculina,
o pastor parece mais
preocupado com o
desperdício de dinheiro.
Para realçar a beleza,
as mulheres devem usar
outros enfeites: “Que
[elas] se enfeitem com
boas ações, como devem
fazer as mulheres que
dizem que são dedicadas
a Deus”. Nada melhor
do que associar a beleza
exterior à interior. Afinal,
na época de Davi, “não
havia ninguém tão famoso
por sua beleza como
Absalão” (2Sm 14.25), mas
que, por dentro, era como
os fariseus que lavavam o
prato e o copo apenas por
fora (Mt 23.25).
O pastor mais velho
chama-se Paulo, o mais
novo, Timóteo. As frases
citadas são da Primeira
Carta de Paulo a Timóteo,
capítulo 2, versículos 9
e 10, escrita há mais de
1.900 anos.
+DO QUE NOTíCIAS
O
clamor condenatório
da secularização
da consciência,
principalmente das lideranças
eclesiais da Igreja Católica,
é proferido não por uma
voz masculina nem por um
membro do clero. Quem
analisa a questão e “abre a
boca” é uma mulher e leiga,
a doutoranda em teologia
pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro,
Arlene Denise Bacarji. Segundo
ela, o maior problema da igreja
ainda não é o povo simples:
“São os universitários, os
intelectuais, as lideranças da
igreja — agentes pastorais,
clero, teólogos — que levam
à quebra da plausibilidade da
igreja com sua secularização
da consciência, sua riqueza
de ‘opiniões’, muitas vezes
contrárias à própria igreja”.
Na opinião de Arlene,
a primeira coisa a fazer é
“lembrar que Deus age na
história mais do que os seres
humanos pensam e mais do
que eles pretendem com sua
autonomia no agir, a qual faz
com que a providência divina
fique sem espaço a partir da
modernidade”.
Para resistir a essa
embaraçosa situação, é preciso
trazer de volta a santidade,
esquecida atualmente:
Não existe
santidade sem
relação vertical
com Deus
“A santidade é a forma muitas
vezes silenciosa de transformar
os outros por meio do
evangelho”. Ela começa “com
o simples desejo de ser santo”.
Arlene é uma entusiasta da
santidade, pois esta “salva a
igreja, salva o povo de Deus,
salva a teologia. Somente
em busca da santidade o
teólogo poderá fazer teologia,
unindo fé e razão, fidelidade
e questionamento, pesquisa
e certezas. Mas não existe
santidade sem oração, sem
interiorização da Palavra, sem
contemplação, sem relação
vertical com Deus, além da
horizontal”.
A autora do artigo “A
secularização da consciência”,
publicado no segundo semestre
de 2010 na Coletânea, revista
de filosofia e teologia da
Faculdade de São Bento do Rio
de Janeiro, não é pessimista:
“A ação de Deus na história,
principalmente na história da
igreja, irá, independentemente
da vontade de alguns, de
poucos ou de muitos, levar a
igreja, por meio dos fiéis que
ouvem o Espírito Santo, ao
testemunho fiel da palavra
objetiva de Cristo”.
Sem dúvida, a palavra da
quase doutora em teologia
é oportuna também para os
protestantes.
ValentinaJori
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 15
+DO QUE NOTíCIAS
R
elações
homossexuais
não promíscuas
não liberam a prática
homossexual. Elas
continuam fora da
normalidade, levando-se em
conta o que está prescrito
nas Escrituras Sagradas.
Enquanto os cristãos
consideram a Bíblia como
sua regra de fé e conduta,
não há absolutamente
como abrir uma brecha ao
relacionamento sexual entre
um homem e outro homem,
entre uma mulher e outra
mulher, mesmo que um seja
fiel ao outro e que uma seja
fiel à outra.
Não é necessário trazer à
lembrança as muitas passa-
gens bíblicas que condenam
a prática homossexual. Basta
consultar a primeira das
Cartas Pastorais de Paulo.
Logo no início, o apóstolo
diz que “a lei é boa, se for
usada como se deve”. E con-
tinua: “Devemos lembrar,
S
egundo Kaiser
Santos, da empresa
de segurança
Zapos, muitos clientes
pedem que os guarda-
costas de suas mulheres e
filhas sejam evangélicos e
casados. Naturalmente eles
esperam que o profissional
tenha sério compromisso
com Jesus Cristo e,
simultaneamente, com a
esposa. Trata-se de uma
dupla segurança: a proteção
da fé e a do casamento. Isso
lembra-nos o conselho de
Paulo a Timóteo: “Trate as
mulheres mais velhas como
mães, e as moças como
irmãs, tendo pensamentos
puros” (1Tm 5.2, BV).
Percebe-se que a conduta
irrepreensível na área do
sexo é tão necessária no
meio religioso quanto
no secular. No entanto,
o mercado da segurança
privada está se abrindo cada
vez mais para as mulheres. A
imagem de seis seguranças
femininas no cortejo da
presidente Dilma Rousseff
fez com que aumentasse o
número de mulheres nos
cursos de segurança pessoal.
Evitar a promiscuidade na
relação gay é bom, mas não
é suficiente
Os
guarda-
costas
e os
jovens
pastores
MiguelSaavedra
é claro, que as leis são feitas
não para pessoas corretas,
mas para os marginais e os
criminosos, os ateus e os que
praticam o mal e para os que
não respeitam a Deus nem a
religião”. Em seguida, Paulo
menciona alguns compor-
tamentos que devem ser
corrigidos por causa das tais
leis. A lista não é pequena.
Os que precisam de lei para
se controlarem são os assassi-
nos, os imorais, os homos-
sexuais, os sequestradores,
os mentirosos, os que dão
falso testemunho e “os que
fazem qualquer outra coisa
que é contra o verdadeiro
ensinamento”. Por último,
o apóstolo diz que “esse
ensinamento se encontra
no evangelho que Deus me
encarregou de anunciar, isto
é, na boa notícia que vem
do Deus bendito e glorioso”
(1Tm 1.8-11, NTLH).
Não são só os parri-
cidas, os matricidas, os
demais assassinos e os
sequestradores que
precisam da força da lei
para serem contidos, tanto
em seu próprio benefício
quanto em benefício geral.
A lei é boa também para os
mentirosos, os que dão fal-
so testemunho e os homos-
sexuais (algumas traduções
preferem usar os sinônimos
pederastas, sodomitas ou
infames).
As Escrituras proíbem as
relações sexuais promíscuas
e, de igual modo, o rela-
cionamento homossexual.
A lei é o instrumento para
prevenir desmandos. E a
graça de Deus é o instru-
mento para fazer o que a
lei não consegue fazer: dar
ao pecador a possibilidade
do perdão e da “metanoia”
(conversão religiosa e mo-
ral). A conversão nada mais
é do que a invasão da graça
divina na vida humana,
produzindo uma verdadeira
ressurreição, não física, mas
moral e espiritual.
16 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
+DO QUE NOTíCIAS
Perguntas de
ontem válidas hoje
M
artyn Lloyd-Jones
(1889–1981), um
dos mais influentes
pregadores do século 20,
morreu precisamente há 30
anos. Antes de morrer pediu à
esposa e aos dois filhos: “Não
orem por cura, não tentem me
impedir de ir para a glória”.
Estava com 82 anos. Depois
de ser médico assistente da
casa real, em Londres, Lloyd-
Jones abandonou a medicina
e tornou-se pastor de uma
pequena igreja presbiteriana
no País de Gales. Por causa de
seu estilo próprio de pregar,
acabou assumindo o pastorado
da Capela de Westminster, em
Londres, não muito distante
do Palácio de Buckingham.
Seus sermões de 50 minutos
a uma hora de duração (pela
manhã e à noite) atraíam muita
gente, inclusive não poucos
universitários. Lloyd-Jones
levava em alta conta a Palavra
de Deus e a unção sobrenatural
do Espírito Santo. Ainda há
1.600 palestras suas gravadas
e disponíveis, além de vários
livros de sua autoria, entre eles
o pequeno Por que Deus Permite
a Guerra?, Depressão Espiritual
e os dois volumes de Estudos
no Sermão do Monte. Neste,
o pregador galês faz quatro
perguntas embaraçosas ao leitor:
Qual é o seu desejo supremo?
Anseia pelos benefícios e
bênçãos da vida cristã e da
salvação, ou tem anelo mais sério
e profundo?
Você procura resultados
terrenos e carnais, ou espera
conhecer a Deus e tornar-se cada
vez mais semelhante ao Senhor
Jesus Cristo?
Você tem fome e sede de quê?
De riqueza, dinheiro, categoria,
posição, publicidade?
Face ao interesse pelo
evangelho mais por causa
de curas e prosperidade, as
perguntas de Lloyd-Jones são
bastante atuais.
“Vocês são
irmãos e não
deviam estar
brigando!”
Q
Quando
Moisés, aos
40 anos,
recusou ser tratado
como filho da filha
de Faraó e se dispôs a
tirar o povo da terra
do Egito, ele viu dois
israelitas brigando e,
tentando apartar a
briga, disse: “Vocês são
irmãos e não deviam
estar brigando assim!
Isso está errado!”
(At 7.26, BV). Os dois
homens estavam sob
a dura e demorada
opressão egípcia.
Eles esperavam por
um libertador que os
tirasse do Egito e os
levasse para Canaã.
Mesmo assim, um
espancava o outro. O
mais forte maltratava
o mais fraco de tal
modo que Moisés
tentou apartar a briga
(Êx 2.13).
Hoje as atitudes
não são diferentes.
Somos irmãos em
Cristo e brigamos.
Participamos da Mesa
do Senhor e brigamos.
Lemos a mesma
Bíblia e cantamos
os mesmos hinos e
brigamos. Estamos
todos sob a mesma
graça e brigamos.
Temos o mesmo
perdão e a mesma
esperança e brigamos.
Vamos para o mundo
inteiro pregar o
evangelho e brigamos.
Estamos sob as
mesmas tentações
da carne, do curso
deste mundo e das
forças espirituais
do mal e brigamos.
Somos membros do
mesmo corpo — o
corpo de Cristo — e
brigamos. Segundo
o bispo Robinson
Cavalcanti, chegamos
ao século 16 com
apenas quatro ramos
da igreja, terminamos
a Reforma Protestante
com uma dúzia a
mais, começamos
o século 19 com
aproximadamente
cem e atingimos
a escandalosa
cifra de 38 mil
ao adentrarmos o
século 21.
Capela de Westminster
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 17
18 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
Milhares de evangélicos em protesto
contra a exploração sexual infantil
NOTíCIAS
Rússia é
o país da
Europa
que mais
acredita em
Deus
Um levantamento realizado
em abril pelo Public Opinion
Fund (Fundo de Opinião
Pública) constatou que
82% dos russos se dizem
cristãos, enquanto apenas
13% afirma não acreditar
em nenhuma divindade.
Este resultado torna a Rússia
o país europeu que mais
crê em Deus, duas décadas
após o colapso do regime
soviético ateu.
Porém, segundo a
pesquisa, 50% dos russos
pertencem à Igreja Ortodoxa
Russa, enquanto 27%
deles não fazem parte de
nenhuma instituição de fé
organizada. Entre os jovens
de idade entre 18 e 24 anos,
o número de cristãos não
filiados é de 34%.
“Seria mais correto
descrever a Rússia como um
país de crentes, mas não um
país de pessoas religiosas”,
diz Mikhail Tarusin,
chefe do departamento
de sociologia do Instituto
de Projetos Públicos, em
Moscou. “Nós fomos um
Estado oficialmente ateu
por 74 anos, e levaremos
algum tempo para nos
recuperar disso. Acho que
a porcentagem de pessoas
realmente religiosas não
passa de 20%”, afirma
Tarusin.
por Lissânder Dias
(entre evangélicos e não-evangélicos)
participaram das marchas e passeatas. As
cidades que aderiram ao movimento foram:
São Paulo, SP, Manaus, AM, Curitiba, PR,
Londrina, PR, Fortaleza, CE, Recife, PE,
Belo Horizonte, MG e Cuiabá, MT.
A manifestação faz parte da
Campanha de
Enfrentamento
à Exploração
Sexual de
Crianças e
Adolescentes
no Turismo,
liderada pela
Rede Evangélica
Nacional de Ação
Social (RENAS).
A rede chama
a atenção da
população para o risco de intensificação
do problema com a chegada da Copa
do Mundo de Futebol no Brasil, em
2014. “Estamos nesta mobilização há
nove meses. Estou grata a Deus e a todos
que participaram. Valeu o esforço pelas
crianças! Valeu o esforço pelo reino de
Deus! Nós vencemos!”, diz Débora Fahur,
uma das coordenadoras da RENAS.
Milhares de evangélicos foram às ruas para
participar das Marchas contra a Exploração
Sexual de Crianças e Adolescentes realizadas
em doze cidades brasileiras. Em dez delas
a manifestação ocorreu exatamente no dia
18 de maio, o dia nacional de combate ao
problema. Os manifestantes se reuniram
em praças,
percorreram
ruas, visitaram
a câmara
municipal,
fizeram
manifestações
culturais,
oraram, se
uniram a outras
organizações
e prefeituras e
divulgaram o
Disque Denúncia 100, para casos de abuso
e violência sexual de crianças. A mídia
nacional repercutiu bem as manifestações.
Pelo menos nove matérias e entrevistas
foram veiculadas em canais de televisão.
Somadas todas as manifestações,
inclusive as realizadas em conjunto
com prefeituras e organizações não-
governamentais, cerca de 97 mil pessoas
Sociedade Bíblica vai lançar Bíblia
com notas sobre pobreza e justiça
A Bíblia Sagrada
Pobreza e Justiça será
lançada pela Sociedade
Bíblica do Brasil (SBB)
em setembro no Encontro Nacional
da Rede Evangélica Nacional de Ação
Social (RENAS). A publicação traz
versículos em destaque e cinquenta
tópicos com temas ligados à pobreza
e justiça, organizados em um roteiro
que estimula a pesquisa, a imaginação
e a meditação.
No texto introdutório, os editores
incentivam o leitor a encontrar também
outros textos relacionados ao assunto.
Ainda na introdução lemos que: “Deus tem
um interesse apaixonado pela justiça, a fim
de combater a pobreza. A preocupação com
os pobres e a ênfase na conduta honesta e
justa fluem pela Bíblia como um rio”.
No dia 10 de junho, a SBB vai
comemorar a marca mundial inédita de
100 milhões de Bíblias impressas em sua
gráfica.
Participantes da Marcha contra a
Exploração Sexual de Crianças
e Adolescentes em São Paulo
acendem velas, simbolizando
casos de abuso e exploração
GustavoFelício
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 19
20 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
No dia da sua morte, David Wilkerson
diz que não há acidentes
NOTíCIAS
O que os missionários fazem nas férias?
“O pranto durará algumas negras e terríveis
noites, mas no meio dessa escuridão logo se
ouvirá o sussurro do Pai: ‘Eu estou contigo.
Verás que tudo era parte do meu plano.
Não foi um acidente. Deixe que eu lhe
abrace nessa hora de dor’”.
Em mensagem publicada dois dias
após a morte de David, seu filho Gary
afirmou: “A última missão do meu pai na
terra foi defender os mais pobres entre os
pobres. Ele fundou o projeto Please Pass
the Bread (Por Favor, Dê-me Pão), que está
salvando milhares de crianças por meio
de 56 programas em oito países. Se meu
pai tivesse vivo hoje, ele nos convidaria
a entregar a nossa vida a Jesus, a amar
a Deus profundamente e a nos doar às
necessidades do próximo”.
Davi Wilkerson, pastor norte-americano,
fundador do mundialmente conhecido
ministério de recuperação de dependentes
químicos “Desafio Jovem” e autor de um
dos livros evangélicos mais populares, A
Cruz e o Punhal, morreu em um acidente
de carro no dia 27 de abril, no Texas,
Estados Unidos. Enquanto tentava fazer
uma ultrapassagem, teve seu veículo
atingido por uma carreta que vinha na
direção oposta. Wilkerson tinha 79 anos.
Sua esposa, Gwen, também estava no
carro, mas passa bem.
A pastoral de Wilkerson, publicada
em seu site oficial, no dia da sua morte,
consola todos os que “passam pelo vale da
sombra da morte”. Imaginando a voz de
Deus aos que sofrem, Wilkerson escreveu:
Anglicanos
marcam 2ª
conferência
global para
discutir
futuro da
denominação
A Fellowship of Confessing
Anglicans (Fraternidade de
Anglicanos Confessantes —
FCA), que se reuniu em abril
deste ano em Nairóbi, no
Quênia, decidiu convocar
uma nova Conferência
Global sobre o Futuro do
Anglicalismo (GAFCON II).
O evento vai acontecer em
2013 e será precedido por
um encontro de lideranças
em Nova York, em 2012.
A primeira conferência
aconteceu em 2008, em
Jerusalém. Na ocasião, os
participantes assinaram a
Declaração de Jerusalém,
um documento que
reafirma o apoio à chamada
“fé ortodoxa”. Entre as
afirmações, o documento
declara “reconhecer que
Deus criou o ser humano
como homem e mulher
e o imutável padrão de
matrimônio cristão entre um
homem e uma mulher como
o lugar apropriado para a
intimidade sexual é a base da
família”.
A Igreja Anglicana sofre
atualmente com divisões por
causa de temas controversos,
como a ordenação de
homossexuais.
Fontes: The Christian Science Monitor,
CIM, SBB, RENAS, FCA
Cerca de cinquenta missionários
transculturais se reuniram para a 6ª consulta
do Cuidado Integral do Missionário,
realizada entre 13 e 15 de maio, em Assis,
SP. O objetivo foi discutir a qualidade do
tempo gasto durante o período de licença,
quando retornam temporariamente à terra
natal. É comum
ouvir a reclamação
de que os
missionários não
têm muito tempo
para descansar e
cuidar da saúde
porque precisam
divulgar o
trabalho realizado
em igrejas e para
mantenedores.
“Ter momentos
de refrigério, estar com familiares e amigos,
ir ao culto somente para participar —
louvar a Deus, desfrutar da comunhão dos
irmãos e ouvir a Palavra — são atividades
importantíssimas para que o missionário
e sua família ‘recarreguem as baterias’
antes de voltar ao campo”, diz Renata,
missionária no Senegal.
Na consulta, os participantes definiram
um termo que explica melhor o tempo de
retorno ao país de origem do missionário:
Licença para Atualização e Renovo (LAR).
Eles
acreditam
que com
este termo
será mais
fácil
comunicar
às igrejas
e agências
como o
missionário
pode gastar
seu tempo
em casa.
A consulta foi promovida pelo Cuidado
Integral do Missionário (CIM), um
departamento da Associação de Missões
Transculturais Brasileiras (AMTB).
Participantes da 6ª Consulta Cuidado Integral do Missionário
ArquivoCIM/AMTB
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 21
C
om um pouco de exagero, de cada dez
brasileiros, um é assembleiano. Hoje, é
possível que o número de membros da
Convenção Geral das Assembleias de Deus no
Brasil, somado com os outros muitos ministérios
independentes, chegue a 15 milhões. No final
de julho deverá haver um acréscimo de 100
mil novos assembleianos, que serão batizados
em todo o país como parte da comemoração
do primeiro centenário da denominação. As
Assembleias de Deus são, de longe, a maior
denominação do Brasil — 50% dos evangélicos.
Capa
A maior denominação
evangélica do Brasil
Assembleia de Deus — 100 anos
22 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
Da Suécia para os Estados Unidos e
daí para o Brasil
Gunnar Vingren e Daniel Berg
nasceram em uma época difícil
na história da Suécia. Entre 1867
e 1886, quase 450 mil suecos
deixaram o país por causa da
escassez de alimentos e de empregos.
A maioria imigrou para o meio-oeste
dos Estados Unidos. Era a chamada
“febre dos Estados Unidos”. Embora
a situação tivesse melhorado, Daniel
Capa
Gunnar Vingren e Daniel Berg
os pioneiros das Assembleias de Deus no Brasil
Daniel Berg e Gunnar Vingren
viajou para lá em
1902, com 18
anos, e Gunnar,
no ano seguinte,
com 24. Os dois
se conheceram em
uma igreja sueca em
Chicago, no ano
de 1909, dez anos
depois da morte do
famoso evangelista
Dwight L. Moody,
que viveu naquela
cidade. A essa
altura, Gunnar
já tinha feito
teologia em um
seminário batista
sueco e pastoreava
uma igreja em
Menominee,
no Michigan, e
Daniel trabalhava
em uma quitanda
em Chicago. Em
uma conferência
realizada na
Primeira Igreja Batista Sueca de
Chicago, Gunnar passou pela
experiência do chamado batismo com
o Espírito Santo e falou em línguas. A
partir daí, começou a pregar a doutrina
pentecostal; porém, metade da igreja
de Menominee não o quis mais como
pastor. Assumiu, então, o pastorado de
outra igreja batista sueca, dessa vez em
South Bend, na fronteira de Indiana
com Michigan, e a transformou em
uma igreja pentecostal. Uma de suas
ovelhas era Adolf Ulldin, que, pouco
depois, anunciou-lhe o que ouvira
da parte de Deus a respeito de seu
ministério além-mar. Por inspiração
do Espírito Santo, Daniel foi visitar
Gunnar em South Bend e ali ouviu
a mesma profecia, que também
foi dirigida a ele. Em obediência à
orientação recebida, ambos viajaram
para Nova York e lá encontraram,
de fato, o navio Clement, que sairia
na data indicada por Adolf: 5 de
novembro de 1910. Por falta de
recursos, compraram uma passagem de
terceira classe. Duas semanas depois,
com miseráveis 90 dólares no bolso,
desembarcaram em Belém do Pará,
sem saber uma palavra em português e
sem alguém para recebê-los no porto.
Assim começou a obra das Assembleias
de Deus no Brasil.
Verão de janeiro a dezembro
Enquanto as denominações
protestantes históricas começaram
seu trabalho na região Sudeste
(congregacionais, presbiterianos,
metodistas e salvacionistas), no Rio
Grande do Sul (luteranos e episcopais)
e na Bahia (batistas), a Assembleia
de Deus começou no extremo Norte
do país. Os missionários pioneiros
eram todos suecos, ao contrário do
que acontecia da Bahia para o Sul,
onde quase todos eram americanos e
britânicos.
O Pará é 2,7 vezes maior que a
Suécia, que tinha, na época, mais de
5,5 milhões de habitantes. Em vez
das precisas quatro estações, com as
quais estavam acostumados, Gunnar
ArquivoCEMP/CPAD
Inauguração do templo da Assembleia
de Deus, em Belém, PA (1926)
ArquivoCEMP/CPAD
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 23
e Daniel encontraram aqui um verão
contínuo. Na Suécia, eles adoravam
participar da festa que celebrava a
volta do verão, entre os dias 19 e 26 de
junho, dançando a noite toda ao redor
de mastros com enfeites coloridos. Os
dois jovens missionários chegaram ao
Pará exatamente quando começou o
declínio da economia na Amazônia,
devido à queda da produção de
borracha, provocada pelos mercados
asiáticos.
Gunnar e Daniel eram muito
diferentes no aspecto físico e nos dotes
pessoais. Cinco anos mais jovem,
Daniel tinha muita saúde e resistência
física. Era “um ganhador de almas
incomum”, como diz Geziel Gomes.
Praticava com sucesso a colportagem
(venda de Bíblias) e o evangelismo
pessoal de casa em casa, quase de
ilha em ilha, e “de enfermaria em
enfermaria”, quando já tinha 78 anos
e estava internado em um hospital na
Suécia. Além da mala cheia de Bíblias
e folhetos, carregava sempre o violão,
ao som do qual cantava hinos em
português e em sueco para evangelizar.
Em compensação, Gunnar era mais
preparado e se tornou, naturalmente,
o líder do trabalho. Ele era quem mais
pregava, quem mais batizava e quem
ia consolidando e ampliando a obra
com a organização de novos pontos de
pregação e congregações. Morreu trinta
anos antes de Daniel, quando faltava
um mês e meio para completar 54 anos.
“A mensagem completa do evangelho”
Os missionários evangélicos do século
19 foram, em parte, beneficiados pela
chamada pré-evangelização, realizada
pela Igreja Católica Romana nos 300
anos anteriores à sua chegada ao Brasil
(de 1549 a 1855). Os missionários
pentecostais foram muito beneficiados
pela evangelização realizada pelos
missionários evangélicos nos 55 anos
anteriores ao início de seu trabalho (de
1855 a 1910). Em alguns poucos casos,
o trabalho das Assembleias de Deus
começava com a pentecostalização de
uma igreja evangélica já existente, como
aconteceu com a Igreja Batista Sueca
de South Bend, no início de 1910. Em
outros casos, começava com alguns
crentes que deixavam suas congregações
de origem para abraçar a “novidade”
pentecostal. Foi o que aconteceu em
Belém do Pará e em muitos lugares
por esse Brasil afora, especialmente
nos primeiros anos. Todavia, a maior
parte da membresia das Assembleias de
Deus procedia das trevas da ignorância
religiosa e das trevas do pecado e da
incredulidade.
Gunnar Vingren, Daniel Berg e
a geração de pastores nacionais que
surgiu com eles não anunciavam apenas
Jesus. Pregavam “a salvação em Jesus
e o batismo com o Espírito Santo”.
Esta era “a mensagem completa do
evangelho”. Tal pregação certamente
encontrava guarida entre os cristãos
que, à semelhança dos discípulos de
Éfeso, nem sequer sabiam da existência
do Espírito Santo (At 19.2), por
culpa da omissão de seus pastores.
Encontrava guarida também entre os
cristãos cujos pastores atribuíam toda
honra ao Espírito Santo sem, contudo,
usar a nomenclatura teológica dos
pentecostais.
O folheto de 27 páginas de Raimundo
Nobre
Por certo período houve muito
desgaste emocional e de tempo por
causa do atrito entre as denominações
plantadas na segunda metade do
século 19 e as Assembleias de Deus.
Houve atitudes precipitadas, exageros
e falta de amor de ambas as partes. O
encarregado da congregação batista
de Belém, Raimundo Nobre, acolheu
os dois suecos no porão de sua casa
e permitiu a participação deles nos
cultos, o que redundou na divisão da
igreja. Aborrecido e preocupado com
a situação, Raimundo escreveu um
folheto de 27 páginas contra a pregação
de Gunnar e Daniel, e mandou
imprimir 20 mil exemplares, que foram
enviados para as igrejas evangélicas de
todo o Brasil. Gunnar ensinava que a
prova do batismo com o Espírito Santo
era falar em línguas. Anos depois, a
declaração de fé oficial das Assembleias
de Deus amenizou a questão, afirmando
que falar em outras línguas conforme a
vontade soberana de Deus é evidência
do batismo com o Espírito. Da parte
dos pentecostais, havia muita ênfase
em línguas, revelações, curas e milagres.
Daniel chamou de milagre o fato de um
peixe ter pulado para dentro do barco
quando os passageiros estavam com
muita fome.
Cem mil batizados em 36 anos
A primeira igreja pentecostal foi
organizada há exatos cem anos, em 18
de junho de 1911, seis meses depois da
chegada dos dois suecos ao Pará, com
o nome de Missão da Fé Apostólica,
o mesmo nome dado por William
Seymour à igreja da rua Azuza, em
Chicago, cinco anos antes. O nome
Assembleia de Deus foi adotado seis
anos e meio depois, em janeiro de 1918.
Nenhuma denominação evangélica
experimentou um crescimento
tão rápido e tão grande como as
Assembleias de Deus. Nos quatro
primeiros anos (1911-1914) houve
384 batismos “nas águas”. No final da
primeira década, a nova denominação
estava estabelecida em sete estados
das regiões Norte (Pará e Amazonas)
e Nordeste (Ceará, Rio Grande do
Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas).
Na década de 20, os assembleianos
ocuparam os demais estados do Norte
e Nordeste e começaram o trabalho nas
regiões Sudeste (Espírito Santo, Rio de
Janeiro e Minas Gerais) e Sul (Paraná
e Rio Grande do Sul). Em 33 anos de
história (de 1911 a 1944), já estavam
instalados em todos os estados da
Federação. Na ocasião da 8ª Convenção
Nacional das Assembleias de Deus,
realizada em São Paulo, em 1947, o
Brasil já era contado como o terceiro
país em número de crentes pentecostais
em todo o mundo, com 100 mil fiéis
batizados.
24 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
Capa
Pérolas pentecostais Deus chama quem
quer, quando quer e
como querMais do que nunca, o verdadeiro profeta de Deus nos nossos
dias é aquele que faz o que Deus quer que seja feito.
Owe Lindeskär, pastor da Igreja Filadélfia, em Estocolmo
(1993)
Há muitas igrejas novas que pensam que barulho produz
poder, mas a Palavra de Deus nos ensina que é o poder de
Deus que gera barulho.
Humberto Schimitt, pastor da Assembleia de Deus de
Porto Alegre (2001)
O trem que está indo para a cidade celestial trafega sobre
dois trilhos: o trilho de sangue [aquele que foi construído
com o sacrifício de Jesus] e o trilho de fogo [aquele que foi
construído no dia de Pentecostes].
Nils Kastberg, missionário sueco (1930)
A igreja que pratica a cura divina tem de viver em maior
consagração e santificação do que aquela que não a pratica.
Frida Vingren, esposa de Gunnar Vingren (1930)
Quantos pregadores mencionam ao pecador a cor e
o perfume da rosa, mas se esquecem de avisá-lo dos
espinhos.
Paulo Leivas Macalão, presidente da Convenção Geral de
1937 (1930)
O livro de Atos pode ser resumido em três palavras:
ascensão, descensão e extensão do evangelho. Cristo subiu,
o Espírito Santo desceu e nós propagamos o evangelho.
Myer Pearlman, teólogo pentecostal e escritor de origem
judaica (1932)
Qualquer religião que nega a salvação do homem por meio
do sangue de Jesus é uma religião falsa.
Bernhard Johnson Jr., fundador da Escola Teológica das
Assembleias de Deus (1970)
Um grande vazio existe na vida da igreja e nas igrejas.
Essa é a questão que não pode ser indefinidamente adiada.
Tornou-se coisa comum lamentar a ausência e a ênfase
acerca do Espírito Santo na teologia e na vida da igreja.
Donald Gee, na abertura da Conferência Mundial
Pentecostal, em Helsinque, Dinamarca (1965)
O método audiovisual divino [“Vocês são o sal da terra”
e “Vocês são a luz do mundo”] deve ser usado [na
evangelização] para que os homens não somente ouçam,
mas também vejam.
Ângelo Estevam de Souza, líder da Assembleia de Deus em
São Luiz do Maranhão (1981)
O americano Ashbel era filho de
médico. Os suecos Gunnar
e Daniel eram filhos de sitiante e
jardineiro, respectivamente. Os três
nasceram em lares evangélicos e
foram criados no temor do Senhor:
Ashbel era presbiteriano; Gunnar e
Daniel, batistas. A vida de Ashbel
foi afetada por um avivamento re-
ligioso ocorrido em Harrisburg, na
Pensilvânia, na primeira metade de
1855; as vidas de Gunnar e Daniel,
por um avivamento ocorrido em
Chicago, por volta de 1909. Como
consequência, os três se consagra-
ram ao Senhor. O que chamou a
atenção de Ashbel para missões
transculturais foi um sermão de seu
professor de teologia sistemática,
Charles Hodge, pregado na capela
do Seminário Teológico de Prince-
ton, uma cidadezinha entre Nova
York e Filadélfia, no estado de
Nova Jersey, na primavera de 1855.
Ashbel tinha então 22 anos. O que
chamou a atenção de Gunnar e
Daniel para missões transculturais
foi uma profecia de um patrício e
irmão na fé chamado Adolf Ulldin,
proferida na cozinha da casa deste
em South Bend, uma cidade no ex-
tremo norte do estado de Indiana,
no verão de 1910. Naquele ano,
Gunnar tinha 31 anos e Daniel, 26.
Os três eram solteiros e sentiram
Caderno de música de Gunnar Vingren
ArquivoCEMP/CPAD
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 25
claramente o chamado de Deus
para exercerem seus ministérios
no Brasil. O que levou Ashbel
a se decidir pelo Brasil foi o
desafio a ele apresentado pelo
secretário da Junta de Missões
Estrangeiras da Igreja Presbi-
teriana dos Estados Unidos. O
que levou Gunnar e Daniel a
se decidirem pelo Brasil foram
os detalhes da visão de Adolf
Ulldin: Deus os estava chaman-
do para um lugar, em alguma
parte do globo, que se chamava
Pará, de clima muito diferente,
e a viagem seria em um navio
que sairia de Nova York em
5 de novembro daquele ano.
Depois de pesquisarem em uma
biblioteca, os dois jovens suecos
descobriram que o Pará era um
estado do Norte do Brasil. Os
três, ainda solteiros, vieram para
o Brasil: Ashbel desembarcou
no Rio de Janeiro em agosto de
1859; Gunnar e Daniel desem-
barcaram em Belém do Pará,
meio século depois, em novem-
bro de 1910. Em obediência às
indicações do Senhor, o ameri-
cano Ashbel Green Simonton
fundou a Igreja Presbiteriana
do Brasil, e os suecos Gunnar
Vingren e Daniel Berg funda-
ram as Assembleias de Deus no
Brasil. Até hoje há quem julgue
fantástico demais o chamado de
Gunnar e Daniel. Entre estes
estão os membros das denomi-
nações históricas. Até hoje há
quem julgue racional demais o
chamado de Ashbel. Entre estes
estão os membros das denomi-
nações pentecostais. O certo,
porém, é que Deus é soberano
e fala “muitas vezes e de muitas
maneiras” (Hb 1.1), até mesmo
por meio de uma jumenta
(Nm 22.28). O que se requer,
em todos os casos, é a autentici-
dade do processo, que o tempo
se encarrega de mostrar, como
explicou ao Sinédrio o sábio
Gamaliel (At 5.33-39).
O “colégio de
Jesus” e a educação
teológica das
Assembleias de Deus
N
ão foi fácil mudar a mentali-
dade das Assembleias de Deus
quanto ao preparo formal de
seus pastores e líderes. Em uma reunião
realizada na Assembleia de Deus em São
Cristóvão, no Rio de Janeiro, em maio
de 1943, com a presença de 93 obreiros,
o missionário Lawrence Olson propôs
a abertura de institutos bíblicos, escolas
teológicas e seminários pelo país. Paulo
Leiva Macalão, pastor da Assembleia de
Deus em Madureira, afirmou que seria
perigoso investir na educação teoló-
gica do obreiro. Segundo ele, a muita
sabedoria, o muito estudo e o intelectu-
alismo poderiam esfriar espiritualmente
a alma.
Cinco anos depois, na Convenção
Geral de 1948, realizada em Natal, RN,
o assunto voltou ao plenário e encon-
trou várias objeções. Para Francisco
Pereira, “um instituto bíblico é uma fá-
brica de pregadores, sendo que, segundo
Efésios 4.11, o ministério é dado pelo
Senhor”. O pastor Eugênio Pires argu-
mentou: “Temos uma escola, a de Jesus,
que não pode nem deve ser orientada
por determinada pessoa”. O missionário
sueco Gustavo Nordlund aproveitou a
ocasião para afirmar que não sentia falta
de um seminário por causa do “colé-
gio de Jesus”, onde começou e ainda
permanecia.
Passados 18 anos, na Convenção
Geral de 1966, realizada em Santo
André, SP, o pastor João Pereira de
Andrade e Silva declarou que “o melhor
educandário é o colégio do Espírito
Santo”. O pastor Anselmo Silvestre,
de Belo Horizonte, reafirmou que em
um seminário os candidatos correm o
risco de ficarem com a cabeça cheia e
o coração vazio. O último a falar foi o
pastor Antônio Petronilo dos Santos:
“Os institutos bíblicos desejam realizar
um trabalho psicológico nas Assembleias
de Deus no Brasil”. Petronilo afirmou
ainda que eles são desnecessários, pois,
“nestes 55 anos, as Assembleias de Deus
no Brasil cresceram imensamente sem o
concurso dos institutos bíblicos”.
Foi o missionário sueco Gustav
Bergström, naturalizado americano que,
na Convenção Geral de 1937, pediu a
criação de uma escola bíblica anual, com
duração de pelo menos dois meses, para
todos os obreiros e aspirantes ao minis-
tério. Uma delas só aconteceu oito anos
mais tarde, em Belém do Pará, com 101
alunos. Essas escolas foram os primeiros
seminários teológicos pentecostais infor-
mais com cursos de curta duração.
Mais tarde, começaram a surgir
outros em todo o país. O mais antigo é
o Instituto Bíblico das Assembleias de
Deus (IBAD), em Pindamonhangaba,
SP, fundado em 1958, que já formou
mais de 5 mil alunos e alunas. O Insti-
tuto Bíblico das Assembleias de Deus
no Amazonas (IBADAM), com sede em
Manaus, e a Escola de Educação Teoló-
gica das Assembleias de Deus (EETAD),
em Campinas, SP, foram fundados em
1979. O primeiro já formou mais de
1.500 alunos, e o segundo, mais de 40
mil (graças ao programa de educação por
extensão e à distância, com quatrocentos
núcleos espalhados pelo Brasil e outros
dez países). O campus da EETAD ocupa
uma área de 53 mil metros quadrados.
Em junho de 1989, surgiu a Escola de
Missões da Assembleia de Deus no Brasil
(EMAD), hoje sediada em Campo Lim-
po Paulista, SP.
26 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
Capa
Questões éticas sob
o ponto de vista
assembleiano
Em agosto de 1999, líderes assembleianos de todas as regiões do país reuniram-se
no Rio de Janeiro para discutir o posicionamento das Assembleias de Deus no Brasil
frente a certas questões difíceis e polêmicas. As resoluções a seguir foram acatadas
pela Convenção Geral e publicadas no jornal Mensageiro da Paz e na revista Obreiro.
Aborto
Foram rechaçadas as interrupções
de gestação por motivos egoístas
ou razões eugênicas. O aborto
provocado é crime, pois a vítima
não pode defender-se. Ele não seria
configurado como transgressão à
Palavra de Deus em três casos: por
motivos naturais, acidentais ou
terapêuticos (para salvar a vida da
mãe).
Homossexualismo
Tanto o homossexualismo
masculino quanto o feminino são
abominação ao Senhor.
Hermafroditismo
Embora não exista na Bíblia
nenhum caso semelhante e em
nossos dias haja poucos portadores
desse distúrbio (uma anomalia
genética que dota uma pessoa
de órgãos sexuais masculino e
feminino simultaneamente),
não há nenhum problema para a
igreja em receber pessoas nessas
condições: pelo contrário, deve-
se incentivar o tratamento para a
definição do sexo predominante.
Luta armada
Segundo a Bíblia, não constitui
pecado o cristão participar de
uma guerra servindo nas Forças
Armadas de seu país. Porém, se for
o caso de uma guerra injusta, as
opiniões se dividem.
Eutanásia
Essa prática é pecado, pois o dever
do cristão é amenizar o sofrimento
e não deixar a cargo dos médicos a
responsabilidade de decidir sobre a vida
ou a morte de uma pessoa. Deve-se
empregar esforços para preservar a vida,
mesmo que seja a de um moribundo.
Deus não ouviu as orações de Elias e
Jonas, quando eles lhe pediram a morte.
Pena de morte
O Novo Testamento concede ao
Estado o direito de estabelecer a pena
capital. Neste caso, ela não pode ser
considerada pecado, desde que seja
feita a justiça. Todavia, a prática da
pena de morte não é o melhor meio
punitivo, nem uma medida essencial ao
cristianismo. O ideal seria que as igrejas
se pronunciassem não favoráveis à pena
capital. Em casos de crime hediondo, a
prisão perpétua seria mais indicada.
Homossexualismo
Tanto o homossexualismo masculino
quanto o feminino são abominação ao
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 27
O crescimento
assombroso das
Assembleias de Deus
no Brasil e suas
possíveis razões
As Assembleias de Deus crescem
por causa da importância dada
à pessoa e à obra do Espírito
Santo. Seus membros levam a
sério o revestimento com o poder
sobrenatural do Espírito para
testemunhar e realizar o trabalho do
Senhor, como Jesus mesmo ordenou
(Lc 24.49; At 1.4-5). “O Espírito
Santo é a razão do avanço da igreja”,
lembrou José Wellington Bezerra da
Costa, na abertura da Convenção
Geral de janeiro de 2003, no Estádio
Rei Pelé, em Maceió, AL. Porém,
pode acontecer, às vezes, de os
assembleianos se lembrarem mais
do batismo do que da plenitude do
Espírito, mais do poder do que do
fruto do Espírito. (Ver O poder para
a missão, de René Padilla, pág. 40)
As Assembleias de Deus
crescem por causa do seu ardor
evangelístico. A evangelização faz
parte da cultura assembleiana. Na
Convenção Geral de 1981, realizada
no Estádio Felippe Drummond
(conhecido como “Mineirinho”), em
Belo Horizonte, MG, o missionário
Bernhard Johnson declarou que as
maiores necessidades das Assembleias
de Deus no Brasil são “preservar
a agressividade evangelística que
as tem caracterizado e preservar
a doutrina”. O mesmo disse
Alcebíades Pereira Vasconcelos,
de Manaus, AM: “Mais do que
nunca, a Assembleia de Deus
precisa arrepender-se e, ajoelhada,
confessar a Deus o seu pecado de
omissão evangelística”. Na mesma
oportunidade, o missionário John
Peter Kolenda lembrou que o alvo
de qualquer despertamento religioso
é a evangelização e aproveitou
para dar uma alfinetada: “Quando
estamos preocupados com a
evangelização, não se oferecem
tantas oportunidades para a
contenda”.
As Assembleias de Deus crescem
por causa da oração. Para ganhar
50 milhões de almas para Cristo,
preparar 100 mil novos obreiros e
estabelecer 50 mil novas igrejas na
chamada “década da colheita”, foi
necessário “levantar um exército de 3
milhões de intercessores”, conforme
foi dito na Convenção de 1990. A
prática da oração é outro ponto forte
entre os assembleianos. Em 1943,
houve um forte apelo para as igrejas
começarem a orar todos os dias, pela
manhã, das 4 às 5 horas e das 5 às 6
horas, em favor de um avivamento
no país. Nesse mesmo ano lançou-se
o Círculo de Oração, uma reunião
de oração semanal que começava
de manhã e durava até às 16 horas.
Depois de algumas décadas, o
Círculo de Oração passou a ser
uma atividade mais desenvolvida
pelas mulheres, em um dia útil da
semana, à tarde.
As Assembleias de Deus
crescem porque começaram com
missionários pobres (imigrantes
suecos nos Estados Unidos) e se
infiltraram nas camadas mais
desfavorecidas do país. Seus
obreiros sabem falar a linguagem dos
pobres e oferecem não só salvação
para a alma, mas também esperança
de cura para o corpo. Chamam
a atenção para o sobrenatural (o
fenômeno de línguas estranhas, a
expulsão de demônios, o dom de
profecia e os possíveis milagres de
cura). As classes sociais que eles
atingem têm menos resistência
ao evangelho, menos satisfações a
dar, menos distrações para tomar o
tempo da religião. Além de tudo,
elas acreditam fervorosamente na
existência de Deus e enxergam
com mais facilidade suas próprias
carências pessoais e familiares,
sociais e afetivas. Pelo menos era
assim até pouco tempo. O país
deve às Assembleias de Deus e a
várias outras igrejas evangélicas a
diminuição do analfabetismo e a
recuperação de marginais.
NhandejaraAguiar
Igreja Assembleia de Deus em Belém, PA
28 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
Capa
Os assembleianos não podem
sobrecarregar demais e os
outros não podem aliviar demais
N
o dia 4 de junho de 1946,
há exatamente 65 anos, a
Assembleia de Deus em São
Cristóvão, no Rio de Janeiro, no
que diz respeito aos usos e costu-
mes, resolveu, por unanimidade,
entre outras coisas, o seguinte:
1.	 Não será permitida a nenhu-
ma irmã membro dessa igreja
fazer sobrancelha, usar cabelo
solto, cortado, tingido, com
permanente ou outras extrava-
gâncias de penteado, conforme
usa o mundo; que se penteiem
simplesmente como convém às
que professam a Cristo como
Salvador e Rei.
2.	 Os vestidos devem ser suficien-
temente compridos para cobrir
o corpo com todo o pudor e
modéstia, sem decotes exage-
rados; e as mangas devem ser
compridas.
3.	 Recomenda-se às irmãs que
usem meias, especialmente as
esposas dos pastores, anciãos,
diáconos, professores de escola
dominical, e as que cantam no
coro ou tocam.
4.	 As irmãs [da sede e das con-
gregações a ela filiadas] que
não obedecerem ao que acima
foi exposto serão desligadas
da comunhão por um período
de três meses. Terminado este
prazo, e não havendo obedeci-
do à resolução da igreja, serão
cortadas definitivamente por
pecado de rebelião.
5.	 Nenhuma irmã será acei-
ta em comunhão se não
obedecer a estas regras de boa
moral, separação do mundo e uma
vida santa com Jesus.
Essas regras de comportamento,
exclusivamente femininas, lidas quatro
meses depois na convenção geral
daquele ano, causou estranheza e
desconforto. Soube-se mais tarde que as
resoluções da igreja em São Cristóvão
foram influenciadas pelas críticas que
ela recebeu da Assembleia de Deus
de Madureira, também no Rio de
Janeiro. Naquela época, os crentes de
Madureira, que já observavam todas
as regras, consideravam as irmãs de
São Cristóvão muito “liberais” em sua
forma de se vestir e se pentear. Além do
mais, a igreja de São Cristóvão havia
sido pastoreada por dois missionários
suecos (Gunnar Vingren e Otto
Nelson), tidos como os mais rígidos em
matéria de vestimentas.
Quase 30 anos depois, a Conven-
ção Geral de 1975 aprovou, também
por unanimidade, que todas as igrejas
do país a ela filiadas se abstenham do
seguinte:
1.	 Uso de cabelo comprido pelos
membros do sexo masculino.
2.	 Uso de traje masculino por parte
dos membros ou congregados do
sexo feminino.
3.	 Uso de pintura nos olhos, unhas e
na face.
4.	 Corte de cabelo por parte das irmãs
(membros ou congregados).
5.	 Sobrancelhas alteradas.
6.	 Uso de minissaias e outras roupas
contrárias ao bom testemunho de
vida cristã.
Na mesma oportunidade, a
conferência desaconselhou o uso de
aparelho de televisão, “tendo em vista
a má qualidade da maioria dos progra-
mas”, e de bebidas alcoólicas.
Desde o princípio houve regras
quanto aos costumes nas Assembleias
de Deus, mas elas nunca haviam sido
colocadas de forma oficial. Segundo
o presidente da convenção, havia “a
necessidade de mantermos de pé não
somente nossas doutrinas, mas também
os costumes usados em nossas igrejas
sobre vestuário”.
Na abertura da Convenção de 1993,
o presidente José Wellington Bezerra
da Costa conclamou a todos “para que
fechassem as portas para os costumes
malévolos que, sutilmente, introduzem
o mundo, a carne e o pecado na Igreja
do Senhor”. Na mesma assembleia, o
pastor da Assembleia de Deus de São
Luís do Maranhão chamou a atenção
dos convencionais para que retornassem
ao “velho método”, considerado por
muitos ultrapassado, porém usado pelo
Espírito Santo na igreja primitiva, com
resultados surpreendentes. Dois anos
depois, na Convenção de 1995, o pas-
tor de Indaiatuba, SP, chegou a propor
a exclusão de todos os pastores e igrejas
consideradas “liberais”, e que só ficas-
sem os considerados “conservadores”.
Em agosto de 1999, o 5° Encontro
de Líderes das Assembleias de Deus
(ELAD), realizado na sede da Conven-
ção Geral, no Rio de Janeiro, discutiu
o posicionamento da denominação em
relação aos costumes e a outras ques-
tões. O grande trunfo dessa reunião foi
mostrar a diferença entre doutrina e
costumes:
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 29
“Eu sou de São
Cristóvão” e “Eu
sou de Madureira”
Quanto à origem, a doutrina é
divina e o costume é humano.
Quanto ao alcance, a doutrina é
geral e o costume é local. Quanto
ao tempo, a doutrina é imutável e
o costume é temporário. A dou-
trina bíblica gera bons costumes,
mas bons costumes não geram
doutrina bíblica. Igrejas há que
têm um somatório imenso de
bons costumes, mas quase nada
de doutrina. Isso é muito peri-
goso! Seus membros naufragam
com facilidade por não terem o
lastro espiritual da Palavra.
Esse mesmo documento
lembra que “doutrina é o ensino
bíblico normativo, terminan-
te, final, derivado das Sagradas
Escrituras como regra de fé e
prática da vida para a igreja e seus
membros”. Os costumes, por sua
vez, “são em si sociais, humanos,
regionais e temporais, porque
ocorrem na esfera humana,
sendo inúmeros deles gerados
ou influenciados pelas etnias,
etariedade, tradições, crendices,
individualismo, humanismo,
estrangeirismo e ignorância”.
Segundo Paulo Romeiro,
pastor assembleiano ordenado
nos Estados Unidos em 1984, “os
usos e costumes não estão mortos.
Há muitos pastores, obreiros e
igrejas que lutam para mantê-
-los, enquanto outros lutam para
bani-los”.
Os assembleianos não podem
sobrecarregar seus adeptos colo-
cando sobre eles regras concernen-
tes aos usos e costumes. Os outros
cristãos, por sua vez, não podem
abrir mão das coisas essenciais.
A essa conclusão chegaram os
apóstolos e presbíteros do famoso
concílio de Jerusalém
(At 15.1-21). Porém, tanto uns
como outros só terão sucesso
verdadeiro se apelarem para a
renovação interior provocada pela
santificação progressiva, e não
por força da lei. (Veja Mulheres
bonitas, pág. 14)
H
á quase 40 anos alguém gritou que
as Assembleias de Deus no Brasil
corriam perigo e que esse risco
deveria ser proclamado. Por causa dele,
os servos de Deus, em vez de toscanejar,
deveriam se precaver e se colocar em
prontidão. O alerta foi dado no Mensageiro
da Paz, órgão oficial da denominação,
em janeiro de 1973, por João Pereira de
Andrade e Silva, duas vezes diretor da
Casa Publicadora das Assembleias de Deus
(CPAD). Na época, a preocupação era
com os ventos de doutrina, as inovações
diversas, a aceitação de costumes que “não
nos são lícitos”, a falta de santidade etc.
João Pereira dizia que o perigo estava
às portas. E estava mesmo. Ele era e
é o mesmo que rondava a igreja de
Corinto: a grande quantidade de partidos
dentro da comunidade. Provavelmente,
o pastor John Phillip, preletor inglês
especialmente convidado para pregar
durante a Convenção
Geral de 1981 — no
Estádio Jornalista Felipe
Drummond (conhecido
por “Mineirinho”), em
Belo Horizonte, MG —,
pressentiu o problema.
Na abertura da reunião,
ele abordou o assunto
A liderança segundo o
conceito bíblico e baseou-
se exatamente no terceiro
capítulo da Primeira Carta de Paulo
aos Coríntios. Phillip referiu-se aos
partidos existentes naquela igreja: o grupo
fundador (“Eu sou de Paulo”), o grupo
intelectual (“Eu sou de Apolo”), o grupo
tradicionalista (“Eu sou de Pedro”) e o
grupo dos falsamente piedosos (“Eu sou de
Cristo”). O pregador visitante terminou sua
mensagem assim: “Tanto o grande Paulo
como o eloquente Apolo não passavam
de dois jardineiros. Tudo o que você pode
ter é um pedaço de pau para furar o chão
e nele plantar a semente, ou um balde
d’água com que regar as plantas. Nada
mais. De fato, nós mesmos nada somos.
Por isso precisamos uns dos outros. De
nada adianta plantar, se não houver quem
regue. De nada vale regar, se ninguém
plantou. Somos, isto sim, cooperadores.
Juntos formamos uma grande unidade
com Deus”.
As palavras de João
Pereira e de John Phillip
foram proféticas, tanto
para ontem como para
hoje. Antes, o atrito era
entre os megaministérios:
“Eu sou de São Cristóvão”,
“Eu sou de Madureira”,
“Eu sou de Belém”, “Eu
sou do Brás”. Hoje, ele é
personalizado: “Eu sou
de José Wellington”, “Eu sou de Manoel
Ferreira”, “Eu sou de Samuel Câmara”, “Eu
sou de Silas Malafaia”. Antes, era dentro
das quatro paredes da denominação.
Hoje, é público (usam-se inclusive os
programas evangélicos de televisão). Em
sã consciência, nenhum asssembleiano
tem condições de repetir o que John
Phillip disse há trinta anos no Mineirinho:
Placa de sinalização turística alusiva
ao centenário das Assembleias de
Deus no Brasil
NhandejaraAguiar
NeiNeves
Centro de Convenções Centenário
30 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
Capa
“Juntos formamos uma grande
unidade com Deus”.
Nesses 100 anos de história,
a unidade sempre foi difícil nas
Assembleias de Deus (bem como
em outras denominações). De
vez em quando, havia um clamor
em favor da unidade, como o
do pastor Altomires Sotero da
Cunha, que, na Convenção Geral
de 1971, propôs que a liderança
de Madureira visitasse a igreja
de São Cristóvão e vice-versa,
“para selar a paz”, o que de fato
aconteceu. Nessa ocasião, “houve
perdão e abraços e muita alegria”.
Contudo, 18 anos depois, em
setembro de 1989, aconteceu a
maior e mais importante divisão
das Assembleias de Deus no
Brasil, com o desligamento do
Ministério de Madureira e suas
convenções.
É consenso
que as divisões
assembleianas
nunca
aconteceram
por questões
doutrinárias,
mas por disputas
de campos
territoriais ou
por cargos. Essa
é a opinião de Paulo Romeiro,
que desenvolve uma pesquisa
sobre os movimentos pentecostais
brasileiros para a Universidade
Presbiteriana Mackenzie.
Segundo o assembleiano
Gedeon Freire de Alencar, diretor
pedagógico do Instituto Cristão
de Estudos Contemporâneos
e doutorando em ciências da
religião (PUC-SP), “uma igreja
que nunca teve uma direção
nacional instituída, abriu
espaço para figuras isoladas se
fortalecerem”1
. O problema
é complexo e pecaminoso,
porque envolve uma rivalidade
entre os megaministérios e
seus pastores presidentes. Os
chamados “ministérios” são como
As Assembleias
de Deus não
aceitam a teologia
da prosperidade
D
ois anos antes da organização da
Igreja Universal do Reino de Deus
(IURD) e por ocasião da Conven-
ção Geral das Assembleias de Deus de 1975,
o pastor Francisco Assis Gomes declarou
que era “necessário ter muito cuidado com
certos grupos pentecostais, por causa das
doutrinas que anunciam”. Foi uma palavra
oportuna, pois uma dessas doutrinas ina-
ceitáveis é a teologia da prosperidade, que
tomou conta de todas as igrejas neopente-
costais do país. A esse propósito, Ultimato
perguntou a Paulo Romeiro, autor do livro
Supercrentes; o evangelho segundo Kenneth
Hagin, Valnice Milhomens e os profetas
da prosperidade, diretor da Agência de
Informações Religiosas (AGIR) e professor
do Programa de Pós-graduação em Ciências
da Religião da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, se as Assembleias de Deus,
eventualmente, poderiam fazer alguma
abertura para a teologia da prosperidade.
Obtivemos a seguinte resposta:
Embora as Assembleias de Deus sejam
oficialmente contra a teologia da prosperi-
dade, não conseguem barrar, totalmente, a
influência dessa vertente doutrinária no seu
bojo. Por ser muito grande e pela grande
difusão da teologia da prosperidade na
mídia evangélica, torna-se difícil filtrar tudo
o que passa pelos púlpitos de suas igrejas e
pelas suas publicações. Já existem pregado-
res assembleianos que estão constantemente
usando na televisão os jargões da teologia
da prosperidade, tais como “eu profetizo”,
“eu declaro”, “eu determino”, “eu decreto”,
“eu sou profeta de Deus para a sua vida”
etc. Muitas de suas pregações são mensagens
motivacionais ou de autoajuda. Como já ex-
pus, o gigantismo da denominação dificulta
o patrulhamento doutrinário em todas as
esferas de sua atuação.
denominações dentro de uma
mesma denominação.
Em junho, duas
comemorações separadas do
centenário foram realizadas
na mesma cidade, onde tudo
começou, Belém do Pará: uma no
dia 10, no Centro de Convenções
e Feiras da Amazônia, e a outra
no dia 16, no Estádio Olímpico
do Pará (Mangueirão).
Na primeira comemoração,
presidida por José Wellington
Bezerra, a tensão diminuiu com
a presença de Samuel Câmara,
pastor da Assembleia de Deus de
Belém. Na segunda, presidida por
Samuel Câmara, ela foi de igual
modo reduzida pela presença de
José Wellington.
A reconciliação dos diferentes
grupos pode ser difícil. Porém,
de acordo com
Alfredo Borges,
“quando Deus
exige do homem
coisas que
ele [com suas
próprias forças]
não poder fazer
sem uma graça
especial, ele
mesmo, junto
com a ordem
providencia ao mesmo tempo
essa graça”.2
Em meio ao barulho das
comemorações, seria bom ouvir o
apelo de Paulo endereçado a duas
ovelhas na mesma situação dos
assembleianos: “E agora eu quero
suplicar àquelas duas estimadas
senhoras, Evódia e Síntique: “Por
favor, com a ajuda do Senhor,
vivam em harmonia” (Fp 2.2,
BV). (Veja Vocês são irmãos e não
deviam estar brigando, pág. 16)
Notas
1.	 ALENCAR, Gedeon Freire. Assembleias
de Deus; origem, implantação e
militância (1911-1946). São Paulo: Arte
Editorial. p. 131.
2.	 TEIXEIRA, Alfredo Borges. Meditações
cristãs. São Paulo: Editora Metodista,
1967. p. 187.
NhandejaraAguiar
1988 – ano de inauguração do templo
da Assembleia de Deus em Belém, PA
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 31
32 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
feita”. Todos os que estão no inferno
foi porque o escolheram. Sem essa
autoescolha não haveria inferno.
Alma alguma que desejar sincera e
constantemente a alegria irá perdê-
la. Os que buscam encontram. Para
aqueles que batem, a porta é aberta.
Jesus afirma na conclusão do
sermão que “nem todo o que me diz:
Senhor, Senhor! entrará no reino dos
céus, mas aquele que faz a vontade de
meu Pai, que está nos céus” (v. 21).
Existe uma diferença entre os sinais
do poder e da ação de Deus e os sinais
de que pertencemos a ele. Deus pode
expulsar demônios usando qualquer
pessoa. Os milagres são sinais do poder
de Deus, não de que pertencemos a
ele. Os sinais de nosso pertencimento
são os frutos da obediência, do praticar
aquilo que Jesus ensinou. São estes
os frutos que Jesus espera encontrar
naqueles que dizem: Senhor, Senhor!
Fé em Jesus não é fé real enquanto não
fazemos o que ele nos manda fazer.
Nosso problema com o Sermão
do Monte é mais com aquele que
ensina do que com o ensino em si.
Confiamos neste Senhor? Cremos que
ele é bom? Estamos seguros de que ele
realmente sabe o que necessitamos? Se
não confiamos nele, vamos achar suas
palavras bonitas de se ouvir e boas para
se falar — mas não reais para se viver.
O julgamento para aqueles crentes
que ouvem, mas não praticam, será a
ausência da comunhão divina: “Nunca
vos conheci”.
Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana
do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em
Brasília. É autor de Janelas para a Vida e O Caminho do
Coração.
caminho largo é o imposto. Chega
a nós pela imposição da maioria,
da propaganda, daqueles que não
suportam seguir sozinhos pelo
caminho da perdição e da destruição.
O caminho largo não é congruente
com aquilo que fomos criados para ser.
O caminho estreito é o do reino
preparado para nós antes da fundação
do mundo. Jesus não diz que quem
não andar pelo caminho estreito será
punido. É o próprio caminho largo
que nos conduz à morte. Seguir pelo
caminho largo ou procurar entrar pelo
estreito é uma escolha que fazemos.
O caminho estreito envolve o
ouvir e o fazer. Na parábola dos dois
construtores, a diferença não está no
ouvir — ambos ouviram. A diferença
está no fazer. Existem duas opções:
ouvir as palavras de Jesus e não
praticá-las ou ouvi-las e praticá-las. A
casa que cai é composta por crentes
que consideram as palavras de Jesus
bonitas para se ouvir, boas para se
falar e ensinar, mas irreais para serem
praticadas. Como diz C. S. Lewis em
O Grande Abismo:
Só há duas espécies de pessoas no
final: as que dizem a Deus: “Seja
feita a tua vontade”, e aqueles a
quem Deus diz: “A tua vontade seja
O CAMINHO DO CORAçãO Ricardo Barbosa
A casa que cai é
composta por crentes que
consideram as palavras
de Jesus bonitas para se
ouvir, boas para se falar e
ensinar, mas irreais para
serem praticadas
M
uitos gostariam
que o Sermão do
Monte terminasse
com a conhecida
“lei áurea” — “Tudo
quanto, pois, quereis que os homens
vos façam, assim fazei-o vós também a
eles; porque esta é a Lei e os Profetas”
(Mt 7.12). E o mais famoso sermão de
Jesus terminaria com um bom resumo
de tudo o que ele havia acabado de
ensinar.
Porém, Mateus não termina assim.
Ele segue com uma recomendação e
conclui com uma pequena parábola,
na qual Jesus deixa claro o que ele
espera dos seus ouvintes. Uma forma
de entender a conclusão desse sermão
são os pronomes: “nem todo o que me
diz”, “aquele que faz a vontade do meu
Pai”, “hão de dizer-me”, “apartai-vos
de mim”, “ouve as minhas palavras”.
Eles nos levam a considerar quem
ensina, e não apenas o que se ensina.
São essas palavras que formarão o texto
que definirá o julgamento, que terá
como fundamento o que as pessoas
fizeram com suas palavras.
Jesus começa sua recomendação
dizendo: “Entrai pela porta estreita”
(v. 13). Não é simplesmente um
convite, mas um imperativo. No final
do sermão, Jesus afirma que existem
duas portas e dois caminhos. Um
deles leva à morte; o outro, à vida.
Jesus reconhece, com tristeza, que são
poucos os que entram pelo caminho
estreito (v. 14).
O caminho estreito é o herdado. É
o caminho da criação, da redenção, o
caminho de Jesus. Não é algo imposto
a nós, é o caminho que Jesus trilhou
e que agora nos convida a trilhar. O
Não basta dizer, é preciso fazer
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 33
34 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
fizemos ainda muito progresso quanto
a nossa linguagem. As tribos ainda
são “primitivas”, a África é uma ferida
sangrenta, muçulmanos são mouros
terroristas e a China é o gigante
desajeitado que inspira desconfiança.
Mesmo que alguns possam
argumentar que os estereótipos tenham
algo de verdade, quando cremos no
reino concordamos com a imago Dei.
A imagem de Deus nas pessoas e
nos povos tem que ser o pressuposto
que usamos para vê-los. E deve ser
mais forte do que as concepções
terrenas. Quando preconceitos nos
guiam, esperamos o pior, duvidamos,
superprotegemos. Se entendermos o
valor e a capacidade conferida pela
imago Dei, seremos levados a outro
nível de relacionamento. Esperar o
sonho de Deus ser expresso nas pessoas
e nos povos nos conduz ao respeito, à
mutualidade, a parcerias verdadeiras,
ao reino.
Lembro-me de um pastor amigo me
dizendo que a maior parte das cartas
missionárias que recebia poderia ser
intitulada “Meu sofrimento”. Para
fazer minha luz brilhar mais forte,
pinto as trevas ao meu redor mais
É
a apoteose da conferência
missionária. O público é
internacional. Delegados
de todos os continentes
da Terra estão presentes,
adorando a Deus a plenos pulmões.
Estou sentada ao lado de um casal
africano bem vestido, com turbantes e
bijuterias artesanais. Estamos unidos
e temos uma emoção de reino, de
estarmos cumprindo o plano de
Deus para a humanidade. As culturas
diferentes são uma bênção para o
reino, não um tropeço. Os povos
do mundo se completam na sua
diversidade. Estamos diante do trono.
O louvor termina e nos sentamos.
Começa um filme para a promoção
de um ministério de misericórdia na
África. Em alta definição desfilam
crianças com costelas expostas, mães
com seios vazios, miséria, fome,
doenças, falta de esperança, vergonha.
Abaixo minha cabeça. Não consigo
mais olhar nos olhos dos africanos ao
meu lado. A sensação de igualdade do
reino se foi. Tudo o que sobra são os
ricos e os pobres, os escolhidos e os
não-escolhidos, os que podem dar e os
que só recebem de cabeça baixa.
Na hora da oração pergunto ao
casal:
— Como vocês se sentem depois disto?
A mulher me responde:
— Infelizmente, para sobreviver, me
acostumei...
Alguns anos já se passaram. Muitas
missões já mudaram seu paradigma de
“países receptores e países enviadores”
para “todos em todo lugar”. Porém não
densas. “Admire quão santo sou à luz
de quão terrível este povo é”. Esse é um
hábito comum desde o missionário que
descreve a comida horrível e exótica que
comeu entre os selvagens até o pastor
que enfatiza o testemunho de pecado
das ovelhas antes de se juntarem à sua
maravilhosa igreja.
Jesus não era assim. Ele encontrava
beleza, fé e generosidade onde
aparentemente não havia nenhuma. Ele
louvou os fariseus na frente dos judeus
que os desprezavam, honrou mulheres
diante de homens que não lhes davam
valor, contou a história do publicano
que alcançou perdão em contraposição
ao religioso que não o obteve, se gabou
da fé do centurião, o epítome do anti-
Deus para o judeu de sua época.
O povo-alvo para Jesus era honrado,
cheio de fé, corajoso e honesto. Jesus
trabalhou para gerar entre as pessoas
respeito e apreciação mútua.
Como mudar o hábito de usar essa
linguagem missionária baseada em
preconceitos e que não promove o
reino? A regra continua sendo a mesma
proposta por Jesus: “O que você não
quer que seja feito a você, não faça
aos outros”. Se você não quer que seu
país seja referência de malandragem,
promiscuidade sexual e corrupção
política, então não estereotipe o país,
a cultura, o comportamento moral e a
economia de seu próximo (Fp 4.8).
Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta
anos. Hoje mora em Kailua-Kona, no Havaí, com sua
família e está envolvida em projetos internacionais de
desenvolvimento na Ásia. É autora de Chamado Radical.
braulia_ribeiro@yahoo.com
A linguagem de missões
que prejudica o Reino
Bráulia RibeiroDA LINHA DE FRENTE
A imagem de Deus
nas pessoas e nos
povos tem que
ser o pressuposto
que usamos para
vê-los
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 35
36 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
Ainda sem cuidar
MEIO AMBIENTE E fé cristã Marina Silva
Na maior parte do Brasil o mesmo
modelo de cultivo da terra vem sendo
usado desde o descobrimento. São 500
anos de uma tecnologia muito baixa,
que significa a derrubada, a queima e
a exploração até que o solo se esgote.
Esse modelo tem se agravado devido à
contaminação das águas com agrotó-
xicos e às emissões de gases de efeito
estufa.
A remoção de vegetação das encos-
tas, topo de morros e margens de rios
é feita sem nenhum senso de prote-
ção. O resultado são rios assoreados,
encostas que desabam sobre casas,
plantações e estradas, e muitas vidas
perdidas a cada ano. Além da alteração
no regime das chuvas, pois as florestas
têm um papel fundamental no equilí-
brio climático.
O Código Florestal não diz respeito
apenas às áreas rurais. Há áreas de pro-
teção permanente (APPs) também em
regiões urbanas. Ainda temos na me-
mória as cenas de destruição e dor do
deslizamento do Morro do Bumba, em
Niterói, e da pousada em Angra dos
Reis, ou das enchentes em São Paulo,
onde as calhas dos rios imprensadas
por construções em local inadequado
transbordaram e trouxeram tantas
perdas para quem já tem tão pouco.
Se o texto aprovado na Câmara,
que seguiu para debate no Senado,
ficar como está, vai permitir que toda
essa situação se agrave muito. O proje-
to anistia quem desmatou ilegalmente
as áreas de florestas que deveriam, pela
sua importância ecológica para toda a
sociedade, ser preservadas. Beneficia
especialmente os grandes produtores,
desobrigando-os da recomposição da
reserva legal e da APP, e cria condições
E
stamos vivendo um
momento importante na
história de nosso país.
Uma das principais leis
de nosso ordenamento
jurídico, o Código Florestal, está em
discussão no Congresso Nacional.
Este momento enseja a expressão de
cosmovisões de todos os envolvidos no
debate e é impressionante o que vem
à luz. Embora esteja claro em Gênesis
2.15 que o ser humano foi autorizado
a lavrar e cuidar do jardim onde foi
posto, em geral só se dá ouvidos para
o lavrar. É como se fosse uma herança
cultural pela metade. Desenvolvemos o
domínio sem o cuidado.
para que novos desmatamentos possam
acontecer e sejam legalizados. Com
isso, todos os esforços feitos pelo poder
público e pela sociedade para barrar a
destruição de nossos ecossistemas natu-
rais caem por terra. Esse retrocesso está
camuflado no texto, em uma redação
capciosa, de modo que somente advo-
gados especialistas na questão ambiental
conseguem compreender o verdadeiro
objetivo da lei, que é isentar o setor
rural e outros setores econômicos da
obrigação constitucional de preservar o
meio ambiente e conservar nossas flo-
restas para as atuais e futuras gerações.
Há parlamentares que não comun-
gam da cosmovisão cristã, no entanto
orientaram seu voto pelo princípio de
usar com cuidado. Causa estranheza
que aqueles que creem no dever de
respeitar a terra porque ela perten-
ce a Deus — como está escrito em
Levítico 25.23 — tenham, com poucas
exceções, votado sim a esse texto, que é
alinhado com os interesses de setores re-
sistentes a entender que sem a proteção
do meio ambiente não haverá futuro
para o Brasil.
A Câmara dos Deputados votou
essa importante lei sem a dimensão do
cuidado, fazendo o país retroagir ao
modelo agrícola do século 19, quando
tínhamos pouca informação científica
sobre o regime das águas, as necessida-
des do solo, a engenharia das chuvas, os
efeitos dos gases poluentes no clima.
Tomara que o tempo de discussão
no Senado possa recolocar nosso país
no século 21 e que a voz do Senhor seja
ouvida na terra.
Marina Silva é professora de história e ex-senadora
pelo PV/AC.
Causa estranheza que aqueles que
creem no dever de respeitar a terra
porque ela pertence a Deus tenham
votado sim ao Código Florestal
LizValente
Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 37
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331
Ult331

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Juvenis lição 13 - 2° trimestre 2015
Juvenis   lição 13 - 2° trimestre 2015Juvenis   lição 13 - 2° trimestre 2015
Juvenis lição 13 - 2° trimestre 2015
Joel de Oliveira
 
Lição 3 - O problema da fome no mundo contemporâneo
Lição 3 - O problema da fome no mundo contemporâneoLição 3 - O problema da fome no mundo contemporâneo
Lição 3 - O problema da fome no mundo contemporâneo
Erberson Pinheiro
 
Roteiro homilético da quarta feira de cinzas – ano b – roxo – 18.02.2015
Roteiro homilético da quarta feira de cinzas – ano b – roxo – 18.02.2015Roteiro homilético da quarta feira de cinzas – ano b – roxo – 18.02.2015
Roteiro homilético da quarta feira de cinzas – ano b – roxo – 18.02.2015
José Luiz Silva Pinto
 
Lbj lição 5 Ordenanças da igreja
Lbj lição 5   Ordenanças da igrejaLbj lição 5   Ordenanças da igreja
Lbj lição 5 Ordenanças da igreja
boasnovassena
 
Lição 13 a manifestação da graça da salvação 3º trimestre de 2015
Lição 13    a manifestação da graça da salvação 3º trimestre de 2015Lição 13    a manifestação da graça da salvação 3º trimestre de 2015
Lição 13 a manifestação da graça da salvação 3º trimestre de 2015
Andrew Guimarães
 
O Rosto da Misericórdia - Bula Misericordiae Vultus - Ano Santo
O Rosto da Misericórdia - Bula Misericordiae Vultus - Ano SantoO Rosto da Misericórdia - Bula Misericordiae Vultus - Ano Santo
O Rosto da Misericórdia - Bula Misericordiae Vultus - Ano Santo
Antonio De Assis Ribeiro
 
Roteiro homilético do 11.º domingo do tempo comum – ano c
Roteiro homilético do 11.º domingo do tempo comum – ano cRoteiro homilético do 11.º domingo do tempo comum – ano c
Roteiro homilético do 11.º domingo do tempo comum – ano c
José Luiz Silva Pinto
 
Colossences 1 (parte 05) e cap. 02 (parte 01)
Colossences 1 (parte 05) e cap. 02 (parte 01)Colossences 1 (parte 05) e cap. 02 (parte 01)
Colossences 1 (parte 05) e cap. 02 (parte 01)
Joel Silva
 
Roteiro homilético do 17.º domingo do tempo comum ano c (1)
Roteiro homilético do 17.º domingo do tempo comum  ano c (1)Roteiro homilético do 17.º domingo do tempo comum  ano c (1)
Roteiro homilético do 17.º domingo do tempo comum ano c (1)
José Luiz Silva Pinto
 
Lbj lição 6 O sustento da igreja
Lbj lição 6   O sustento da igrejaLbj lição 6   O sustento da igreja
Lbj lição 6 O sustento da igreja
boasnovassena
 
BOLETIM Nº 75
BOLETIM Nº 75BOLETIM Nº 75
BOLETIM Nº 75
imelriocasca
 
Boletim Abril 2012
Boletim Abril 2012Boletim Abril 2012
Boletim Abril 2012
willams
 
PRELEÇÃO_LIÇÃO 8 - A IMPUREZA DA IGREJA DE CORINTO
PRELEÇÃO_LIÇÃO 8 -  A IMPUREZA DA IGREJA DE CORINTOPRELEÇÃO_LIÇÃO 8 -  A IMPUREZA DA IGREJA DE CORINTO
PRELEÇÃO_LIÇÃO 8 - A IMPUREZA DA IGREJA DE CORINTO
Pastor Natalino Das Neves
 
LBJ Lição 13 - O que posso fazer por minha igreja
LBJ Lição 13 - O que posso fazer por minha igrejaLBJ Lição 13 - O que posso fazer por minha igreja
LBJ Lição 13 - O que posso fazer por minha igreja
Natalino das Neves Neves
 
EBD Jovens - Aula 04 Paulo e o Caracter Cristão
EBD Jovens - Aula 04 Paulo e o Caracter CristãoEBD Jovens - Aula 04 Paulo e o Caracter Cristão
EBD Jovens - Aula 04 Paulo e o Caracter Cristão
fa.sodre
 
Colossences 1 (parte 2)
Colossences 1 (parte 2)Colossences 1 (parte 2)
Colossences 1 (parte 2)
Joel Silva
 
Missão como transmissao da "Alegria do Evangelho"
Missão como transmissao da "Alegria do Evangelho"Missão como transmissao da "Alegria do Evangelho"
Missão como transmissao da "Alegria do Evangelho"
Jeremias Moisés
 
Deus de Misericordia
Deus de MisericordiaDeus de Misericordia
Deus de Misericordia
CatequeseSagrado
 
Colossences 3 (parte 2)
Colossences 3 (parte 2)Colossences 3 (parte 2)
Colossences 3 (parte 2)
Joel Silva
 
Lição 9 - Dízimos e ofertas
Lição 9 - Dízimos e ofertasLição 9 - Dízimos e ofertas
Lição 9 - Dízimos e ofertas
Ailton da Silva
 

Mais procurados (20)

Juvenis lição 13 - 2° trimestre 2015
Juvenis   lição 13 - 2° trimestre 2015Juvenis   lição 13 - 2° trimestre 2015
Juvenis lição 13 - 2° trimestre 2015
 
Lição 3 - O problema da fome no mundo contemporâneo
Lição 3 - O problema da fome no mundo contemporâneoLição 3 - O problema da fome no mundo contemporâneo
Lição 3 - O problema da fome no mundo contemporâneo
 
Roteiro homilético da quarta feira de cinzas – ano b – roxo – 18.02.2015
Roteiro homilético da quarta feira de cinzas – ano b – roxo – 18.02.2015Roteiro homilético da quarta feira de cinzas – ano b – roxo – 18.02.2015
Roteiro homilético da quarta feira de cinzas – ano b – roxo – 18.02.2015
 
Lbj lição 5 Ordenanças da igreja
Lbj lição 5   Ordenanças da igrejaLbj lição 5   Ordenanças da igreja
Lbj lição 5 Ordenanças da igreja
 
Lição 13 a manifestação da graça da salvação 3º trimestre de 2015
Lição 13    a manifestação da graça da salvação 3º trimestre de 2015Lição 13    a manifestação da graça da salvação 3º trimestre de 2015
Lição 13 a manifestação da graça da salvação 3º trimestre de 2015
 
O Rosto da Misericórdia - Bula Misericordiae Vultus - Ano Santo
O Rosto da Misericórdia - Bula Misericordiae Vultus - Ano SantoO Rosto da Misericórdia - Bula Misericordiae Vultus - Ano Santo
O Rosto da Misericórdia - Bula Misericordiae Vultus - Ano Santo
 
Roteiro homilético do 11.º domingo do tempo comum – ano c
Roteiro homilético do 11.º domingo do tempo comum – ano cRoteiro homilético do 11.º domingo do tempo comum – ano c
Roteiro homilético do 11.º domingo do tempo comum – ano c
 
Colossences 1 (parte 05) e cap. 02 (parte 01)
Colossences 1 (parte 05) e cap. 02 (parte 01)Colossences 1 (parte 05) e cap. 02 (parte 01)
Colossences 1 (parte 05) e cap. 02 (parte 01)
 
Roteiro homilético do 17.º domingo do tempo comum ano c (1)
Roteiro homilético do 17.º domingo do tempo comum  ano c (1)Roteiro homilético do 17.º domingo do tempo comum  ano c (1)
Roteiro homilético do 17.º domingo do tempo comum ano c (1)
 
Lbj lição 6 O sustento da igreja
Lbj lição 6   O sustento da igrejaLbj lição 6   O sustento da igreja
Lbj lição 6 O sustento da igreja
 
BOLETIM Nº 75
BOLETIM Nº 75BOLETIM Nº 75
BOLETIM Nº 75
 
Boletim Abril 2012
Boletim Abril 2012Boletim Abril 2012
Boletim Abril 2012
 
PRELEÇÃO_LIÇÃO 8 - A IMPUREZA DA IGREJA DE CORINTO
PRELEÇÃO_LIÇÃO 8 -  A IMPUREZA DA IGREJA DE CORINTOPRELEÇÃO_LIÇÃO 8 -  A IMPUREZA DA IGREJA DE CORINTO
PRELEÇÃO_LIÇÃO 8 - A IMPUREZA DA IGREJA DE CORINTO
 
LBJ Lição 13 - O que posso fazer por minha igreja
LBJ Lição 13 - O que posso fazer por minha igrejaLBJ Lição 13 - O que posso fazer por minha igreja
LBJ Lição 13 - O que posso fazer por minha igreja
 
EBD Jovens - Aula 04 Paulo e o Caracter Cristão
EBD Jovens - Aula 04 Paulo e o Caracter CristãoEBD Jovens - Aula 04 Paulo e o Caracter Cristão
EBD Jovens - Aula 04 Paulo e o Caracter Cristão
 
Colossences 1 (parte 2)
Colossences 1 (parte 2)Colossences 1 (parte 2)
Colossences 1 (parte 2)
 
Missão como transmissao da "Alegria do Evangelho"
Missão como transmissao da "Alegria do Evangelho"Missão como transmissao da "Alegria do Evangelho"
Missão como transmissao da "Alegria do Evangelho"
 
Deus de Misericordia
Deus de MisericordiaDeus de Misericordia
Deus de Misericordia
 
Colossences 3 (parte 2)
Colossences 3 (parte 2)Colossences 3 (parte 2)
Colossences 3 (parte 2)
 
Lição 9 - Dízimos e ofertas
Lição 9 - Dízimos e ofertasLição 9 - Dízimos e ofertas
Lição 9 - Dízimos e ofertas
 

Destaque

314+completo reduzido
314+completo reduzido314+completo reduzido
314+completo reduzido
Francisco Sá
 
Ult 311-completa-reduzido
Ult 311-completa-reduzidoUlt 311-completa-reduzido
Ult 311-completa-reduzido
Francisco Sá
 
Ult 312-completa-reduzido
Ult 312-completa-reduzidoUlt 312-completa-reduzido
Ult 312-completa-reduzido
Francisco Sá
 
Ult332
Ult332Ult332
Ult+325
Ult+325Ult+325
Ult+325
Francisco Sá
 
Ult328 m
Ult328 mUlt328 m
Ult328 m
Francisco Sá
 
Ult334
Ult334Ult334
Ult+324
Ult+324Ult+324
Ult+324
Francisco Sá
 
Ult333
Ult333Ult333
Ult330
Ult330Ult330
Ult335
Ult335Ult335
Ult+326
Ult+326Ult+326
Ult+326
Francisco Sá
 
Ult338 estudos biblicos
Ult338 estudos biblicosUlt338 estudos biblicos
Ult338 estudos biblicos
Francisco Sá
 

Destaque (13)

314+completo reduzido
314+completo reduzido314+completo reduzido
314+completo reduzido
 
Ult 311-completa-reduzido
Ult 311-completa-reduzidoUlt 311-completa-reduzido
Ult 311-completa-reduzido
 
Ult 312-completa-reduzido
Ult 312-completa-reduzidoUlt 312-completa-reduzido
Ult 312-completa-reduzido
 
Ult332
Ult332Ult332
Ult332
 
Ult+325
Ult+325Ult+325
Ult+325
 
Ult328 m
Ult328 mUlt328 m
Ult328 m
 
Ult334
Ult334Ult334
Ult334
 
Ult+324
Ult+324Ult+324
Ult+324
 
Ult333
Ult333Ult333
Ult333
 
Ult330
Ult330Ult330
Ult330
 
Ult335
Ult335Ult335
Ult335
 
Ult+326
Ult+326Ult+326
Ult+326
 
Ult338 estudos biblicos
Ult338 estudos biblicosUlt338 estudos biblicos
Ult338 estudos biblicos
 

Semelhante a Ult331

Celebração da palavra nas Comunidades Eclesiais de Base (fevereiro 2013)
Celebração da palavra nas Comunidades Eclesiais de Base (fevereiro 2013)Celebração da palavra nas Comunidades Eclesiais de Base (fevereiro 2013)
Celebração da palavra nas Comunidades Eclesiais de Base (fevereiro 2013)
Bernadetecebs .
 
Lbj lição 10 a missão social da igreja
Lbj lição 10    a missão social da igrejaLbj lição 10    a missão social da igreja
Lbj lição 10 a missão social da igreja
boasnovassena
 
livro-ebook-como-conduzir-uma-pessoa-a-cristo.pdf
livro-ebook-como-conduzir-uma-pessoa-a-cristo.pdflivro-ebook-como-conduzir-uma-pessoa-a-cristo.pdf
livro-ebook-como-conduzir-uma-pessoa-a-cristo.pdf
ValcenildoDias
 
Jornal Novos horizontes ed. fevereiro 2016
Jornal Novos horizontes ed. fevereiro 2016Jornal Novos horizontes ed. fevereiro 2016
Jornal Novos horizontes ed. fevereiro 2016
Pascom Paroquia Nssc
 
Anthropologia cordis
Anthropologia cordisAnthropologia cordis
Anthropologia cordis
Afonso Murad (FAJE)
 
Dízimo no Ano da Fé
Dízimo no Ano da Fé Dízimo no Ano da Fé
Dízimo no Ano da Fé
Conage
 
Resumo Das Lições do II Trimestre E.B.D
Resumo Das Lições do II Trimestre E.B.DResumo Das Lições do II Trimestre E.B.D
Resumo Das Lições do II Trimestre E.B.D
Konker Labs
 
Nossahistoria
NossahistoriaNossahistoria
Biblia gente2 2013
Biblia gente2 2013Biblia gente2 2013
Biblia gente2 2013
RICARDO MENESES
 
Homilia dom sebastião armando
Homilia dom sebastião armandoHomilia dom sebastião armando
Homilia dom sebastião armando
gilbraz
 
Boletim cbg ano iii_n°43_8_nov_2015
Boletim cbg ano iii_n°43_8_nov_2015Boletim cbg ano iii_n°43_8_nov_2015
Boletim cbg ano iii_n°43_8_nov_2015
Silas Roberto Nogueira
 
Jornal novembro 2017
Jornal novembro 2017Jornal novembro 2017
Jornal novembro 2017
Luca Bueno
 
Contemporaneidade na Igreja
Contemporaneidade na IgrejaContemporaneidade na Igreja
Contemporaneidade na Igreja
Jessé Lopes
 
“VOLTEMOS AO EVANGELHO DO REINO DE DEUS”
“VOLTEMOS AO EVANGELHO DO REINO DE DEUS”“VOLTEMOS AO EVANGELHO DO REINO DE DEUS”
“VOLTEMOS AO EVANGELHO DO REINO DE DEUS”
Leonam dos Santos
 
Lição 13 aviva ó senhor a tua obra
Lição 13   aviva ó senhor a tua obraLição 13   aviva ó senhor a tua obra
Lição 13 aviva ó senhor a tua obra
Jose Ventura
 
Roteiro homilético do 3.º domingo da quaresma ano c (1)
Roteiro homilético do 3.º domingo da quaresma   ano c (1)Roteiro homilético do 3.º domingo da quaresma   ano c (1)
Roteiro homilético do 3.º domingo da quaresma ano c (1)
José Luiz Silva Pinto
 
Ult 310-completa-reduzido
Ult 310-completa-reduzidoUlt 310-completa-reduzido
Ult 310-completa-reduzido
Francisco Sá
 
Diretrizes
Diretrizes Diretrizes
Boletim Jovem Dezembro 2015
Boletim Jovem Dezembro 2015Boletim Jovem Dezembro 2015
Boletim Jovem Dezembro 2015
willams
 
Jornal Novos horizontes ed. novembro 2015
Jornal Novos horizontes ed. novembro 2015Jornal Novos horizontes ed. novembro 2015
Jornal Novos horizontes ed. novembro 2015
Pascom Paroquia Nssc
 

Semelhante a Ult331 (20)

Celebração da palavra nas Comunidades Eclesiais de Base (fevereiro 2013)
Celebração da palavra nas Comunidades Eclesiais de Base (fevereiro 2013)Celebração da palavra nas Comunidades Eclesiais de Base (fevereiro 2013)
Celebração da palavra nas Comunidades Eclesiais de Base (fevereiro 2013)
 
Lbj lição 10 a missão social da igreja
Lbj lição 10    a missão social da igrejaLbj lição 10    a missão social da igreja
Lbj lição 10 a missão social da igreja
 
livro-ebook-como-conduzir-uma-pessoa-a-cristo.pdf
livro-ebook-como-conduzir-uma-pessoa-a-cristo.pdflivro-ebook-como-conduzir-uma-pessoa-a-cristo.pdf
livro-ebook-como-conduzir-uma-pessoa-a-cristo.pdf
 
Jornal Novos horizontes ed. fevereiro 2016
Jornal Novos horizontes ed. fevereiro 2016Jornal Novos horizontes ed. fevereiro 2016
Jornal Novos horizontes ed. fevereiro 2016
 
Anthropologia cordis
Anthropologia cordisAnthropologia cordis
Anthropologia cordis
 
Dízimo no Ano da Fé
Dízimo no Ano da Fé Dízimo no Ano da Fé
Dízimo no Ano da Fé
 
Resumo Das Lições do II Trimestre E.B.D
Resumo Das Lições do II Trimestre E.B.DResumo Das Lições do II Trimestre E.B.D
Resumo Das Lições do II Trimestre E.B.D
 
Nossahistoria
NossahistoriaNossahistoria
Nossahistoria
 
Biblia gente2 2013
Biblia gente2 2013Biblia gente2 2013
Biblia gente2 2013
 
Homilia dom sebastião armando
Homilia dom sebastião armandoHomilia dom sebastião armando
Homilia dom sebastião armando
 
Boletim cbg ano iii_n°43_8_nov_2015
Boletim cbg ano iii_n°43_8_nov_2015Boletim cbg ano iii_n°43_8_nov_2015
Boletim cbg ano iii_n°43_8_nov_2015
 
Jornal novembro 2017
Jornal novembro 2017Jornal novembro 2017
Jornal novembro 2017
 
Contemporaneidade na Igreja
Contemporaneidade na IgrejaContemporaneidade na Igreja
Contemporaneidade na Igreja
 
“VOLTEMOS AO EVANGELHO DO REINO DE DEUS”
“VOLTEMOS AO EVANGELHO DO REINO DE DEUS”“VOLTEMOS AO EVANGELHO DO REINO DE DEUS”
“VOLTEMOS AO EVANGELHO DO REINO DE DEUS”
 
Lição 13 aviva ó senhor a tua obra
Lição 13   aviva ó senhor a tua obraLição 13   aviva ó senhor a tua obra
Lição 13 aviva ó senhor a tua obra
 
Roteiro homilético do 3.º domingo da quaresma ano c (1)
Roteiro homilético do 3.º domingo da quaresma   ano c (1)Roteiro homilético do 3.º domingo da quaresma   ano c (1)
Roteiro homilético do 3.º domingo da quaresma ano c (1)
 
Ult 310-completa-reduzido
Ult 310-completa-reduzidoUlt 310-completa-reduzido
Ult 310-completa-reduzido
 
Diretrizes
Diretrizes Diretrizes
Diretrizes
 
Boletim Jovem Dezembro 2015
Boletim Jovem Dezembro 2015Boletim Jovem Dezembro 2015
Boletim Jovem Dezembro 2015
 
Jornal Novos horizontes ed. novembro 2015
Jornal Novos horizontes ed. novembro 2015Jornal Novos horizontes ed. novembro 2015
Jornal Novos horizontes ed. novembro 2015
 

Mais de Francisco Sá

DCR-Versão-Provisoria-de-Lançamento.pdf
DCR-Versão-Provisoria-de-Lançamento.pdfDCR-Versão-Provisoria-de-Lançamento.pdf
DCR-Versão-Provisoria-de-Lançamento.pdf
Francisco Sá
 
BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdfBNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
Francisco Sá
 
DCRC.pdf
DCRC.pdfDCRC.pdf
DCRC.pdf
Francisco Sá
 
bncc-2versao.revista.pdf
bncc-2versao.revista.pdfbncc-2versao.revista.pdf
bncc-2versao.revista.pdf
Francisco Sá
 
DCRC_2019_OFICIAL.pdf
DCRC_2019_OFICIAL.pdfDCRC_2019_OFICIAL.pdf
DCRC_2019_OFICIAL.pdf
Francisco Sá
 
BNCC O QUE VOCÊ PRECISA SABER.pdf
BNCC O QUE VOCÊ PRECISA SABER.pdfBNCC O QUE VOCÊ PRECISA SABER.pdf
BNCC O QUE VOCÊ PRECISA SABER.pdf
Francisco Sá
 
23.-Resumo-03-Competência-3_-Repertório-Cultural.pdf
23.-Resumo-03-Competência-3_-Repertório-Cultural.pdf23.-Resumo-03-Competência-3_-Repertório-Cultural.pdf
23.-Resumo-03-Competência-3_-Repertório-Cultural.pdf
Francisco Sá
 
25.-Resumo-05-Competência-5_-Cultura-Digital-1.pdf
25.-Resumo-05-Competência-5_-Cultura-Digital-1.pdf25.-Resumo-05-Competência-5_-Cultura-Digital-1.pdf
25.-Resumo-05-Competência-5_-Cultura-Digital-1.pdf
Francisco Sá
 
24.-Resumo-04-Competência-4_-Comunicação.pdf
24.-Resumo-04-Competência-4_-Comunicação.pdf24.-Resumo-04-Competência-4_-Comunicação.pdf
24.-Resumo-04-Competência-4_-Comunicação.pdf
Francisco Sá
 
21.-Resumo-01-Competência-1_-Conhecimento-.pdf
21.-Resumo-01-Competência-1_-Conhecimento-.pdf21.-Resumo-01-Competência-1_-Conhecimento-.pdf
21.-Resumo-01-Competência-1_-Conhecimento-.pdf
Francisco Sá
 
1579633068e-book_modelo_de_planejamento_1.pdf
1579633068e-book_modelo_de_planejamento_1.pdf1579633068e-book_modelo_de_planejamento_1.pdf
1579633068e-book_modelo_de_planejamento_1.pdf
Francisco Sá
 
1556901640Modelo_Planejamento_BNCC_-_EF.pdf
1556901640Modelo_Planejamento_BNCC_-_EF.pdf1556901640Modelo_Planejamento_BNCC_-_EF.pdf
1556901640Modelo_Planejamento_BNCC_-_EF.pdf
Francisco Sá
 
1556901470Modelo_Planejamento_BNCC_-_EI.pdf
1556901470Modelo_Planejamento_BNCC_-_EI.pdf1556901470Modelo_Planejamento_BNCC_-_EI.pdf
1556901470Modelo_Planejamento_BNCC_-_EI.pdf
Francisco Sá
 
7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-Linguagens.pdf
7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-Linguagens.pdf7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-Linguagens.pdf
7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-Linguagens.pdf
Francisco Sá
 
7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-M.pdf
7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-M.pdf7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-M.pdf
7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-M.pdf
Francisco Sá
 
Agenda Lives BNCC - Moderna.pdf
Agenda Lives BNCC - Moderna.pdfAgenda Lives BNCC - Moderna.pdf
Agenda Lives BNCC - Moderna.pdf
Francisco Sá
 
Ult+327
Ult+327Ult+327
Ult+327
Francisco Sá
 

Mais de Francisco Sá (17)

DCR-Versão-Provisoria-de-Lançamento.pdf
DCR-Versão-Provisoria-de-Lançamento.pdfDCR-Versão-Provisoria-de-Lançamento.pdf
DCR-Versão-Provisoria-de-Lançamento.pdf
 
BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdfBNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
 
DCRC.pdf
DCRC.pdfDCRC.pdf
DCRC.pdf
 
bncc-2versao.revista.pdf
bncc-2versao.revista.pdfbncc-2versao.revista.pdf
bncc-2versao.revista.pdf
 
DCRC_2019_OFICIAL.pdf
DCRC_2019_OFICIAL.pdfDCRC_2019_OFICIAL.pdf
DCRC_2019_OFICIAL.pdf
 
BNCC O QUE VOCÊ PRECISA SABER.pdf
BNCC O QUE VOCÊ PRECISA SABER.pdfBNCC O QUE VOCÊ PRECISA SABER.pdf
BNCC O QUE VOCÊ PRECISA SABER.pdf
 
23.-Resumo-03-Competência-3_-Repertório-Cultural.pdf
23.-Resumo-03-Competência-3_-Repertório-Cultural.pdf23.-Resumo-03-Competência-3_-Repertório-Cultural.pdf
23.-Resumo-03-Competência-3_-Repertório-Cultural.pdf
 
25.-Resumo-05-Competência-5_-Cultura-Digital-1.pdf
25.-Resumo-05-Competência-5_-Cultura-Digital-1.pdf25.-Resumo-05-Competência-5_-Cultura-Digital-1.pdf
25.-Resumo-05-Competência-5_-Cultura-Digital-1.pdf
 
24.-Resumo-04-Competência-4_-Comunicação.pdf
24.-Resumo-04-Competência-4_-Comunicação.pdf24.-Resumo-04-Competência-4_-Comunicação.pdf
24.-Resumo-04-Competência-4_-Comunicação.pdf
 
21.-Resumo-01-Competência-1_-Conhecimento-.pdf
21.-Resumo-01-Competência-1_-Conhecimento-.pdf21.-Resumo-01-Competência-1_-Conhecimento-.pdf
21.-Resumo-01-Competência-1_-Conhecimento-.pdf
 
1579633068e-book_modelo_de_planejamento_1.pdf
1579633068e-book_modelo_de_planejamento_1.pdf1579633068e-book_modelo_de_planejamento_1.pdf
1579633068e-book_modelo_de_planejamento_1.pdf
 
1556901640Modelo_Planejamento_BNCC_-_EF.pdf
1556901640Modelo_Planejamento_BNCC_-_EF.pdf1556901640Modelo_Planejamento_BNCC_-_EF.pdf
1556901640Modelo_Planejamento_BNCC_-_EF.pdf
 
1556901470Modelo_Planejamento_BNCC_-_EI.pdf
1556901470Modelo_Planejamento_BNCC_-_EI.pdf1556901470Modelo_Planejamento_BNCC_-_EI.pdf
1556901470Modelo_Planejamento_BNCC_-_EI.pdf
 
7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-Linguagens.pdf
7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-Linguagens.pdf7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-Linguagens.pdf
7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-Linguagens.pdf
 
7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-M.pdf
7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-M.pdf7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-M.pdf
7-dicas-para-planejar-a-aula-a-partir-do-livro-didatico-M.pdf
 
Agenda Lives BNCC - Moderna.pdf
Agenda Lives BNCC - Moderna.pdfAgenda Lives BNCC - Moderna.pdf
Agenda Lives BNCC - Moderna.pdf
 
Ult+327
Ult+327Ult+327
Ult+327
 

Último

A CRUZ DE CRISTO- ELE MORREU PARA NOS SALVAE.pptx
A CRUZ DE CRISTO-  ELE MORREU PARA NOS SALVAE.pptxA CRUZ DE CRISTO-  ELE MORREU PARA NOS SALVAE.pptx
A CRUZ DE CRISTO- ELE MORREU PARA NOS SALVAE.pptx
JonasRibeiro61
 
Bíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptx
Bíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptxBíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptx
Bíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptx
Igreja Jesus é o Verbo
 
Escola sabatina juvenis.pdf. Revista da escola sabatina - ADVENTISTAS
Escola sabatina juvenis.pdf. Revista da escola sabatina - ADVENTISTASEscola sabatina juvenis.pdf. Revista da escola sabatina - ADVENTISTAS
Escola sabatina juvenis.pdf. Revista da escola sabatina - ADVENTISTAS
ceciliafonseca16
 
1984 DE GEORGE ORWELL ILUSTRADO E COMENTADO
1984 DE GEORGE ORWELL ILUSTRADO E COMENTADO1984 DE GEORGE ORWELL ILUSTRADO E COMENTADO
1984 DE GEORGE ORWELL ILUSTRADO E COMENTADO
ESCRIBA DE CRISTO
 
CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]
CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]
CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]
ESCRIBA DE CRISTO
 
Manual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docx
Manual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docx
Manual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docx
Janilson Noca
 
DIDASCALIA APOSTOLORUM [ HISTÓRIA DO CRISTIANISMO]
DIDASCALIA APOSTOLORUM [ HISTÓRIA DO CRISTIANISMO]DIDASCALIA APOSTOLORUM [ HISTÓRIA DO CRISTIANISMO]
DIDASCALIA APOSTOLORUM [ HISTÓRIA DO CRISTIANISMO]
ESCRIBA DE CRISTO
 
CARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADAS
CARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADASCARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADAS
CARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADAS
ESCRIBA DE CRISTO
 
DIDÁTICA MAGNA DE COMENIUS COM COMENTÁRIOS
DIDÁTICA MAGNA DE COMENIUS COM COMENTÁRIOSDIDÁTICA MAGNA DE COMENIUS COM COMENTÁRIOS
DIDÁTICA MAGNA DE COMENIUS COM COMENTÁRIOS
ESCRIBA DE CRISTO
 
O-livro-de-Jasher-O-Justo, the book of jasher.pdf
O-livro-de-Jasher-O-Justo, the book of jasher.pdfO-livro-de-Jasher-O-Justo, the book of jasher.pdf
O-livro-de-Jasher-O-Justo, the book of jasher.pdf
WELITONNOGUEIRA3
 
Lição 11 - A Realidade Bíblica do Inferno.pptx
Lição 11 - A Realidade Bíblica do Inferno.pptxLição 11 - A Realidade Bíblica do Inferno.pptx
Lição 11 - A Realidade Bíblica do Inferno.pptx
Celso Napoleon
 
Habacuque.docx estudo bíblico, conhecimento
Habacuque.docx estudo bíblico, conhecimentoHabacuque.docx estudo bíblico, conhecimento
Habacuque.docx estudo bíblico, conhecimento
ayronleonardo
 
Malleus Maleficarum: o martelo das bruxas
Malleus Maleficarum: o martelo das bruxasMalleus Maleficarum: o martelo das bruxas
Malleus Maleficarum: o martelo das bruxas
Lourhana
 
JERÔNIMO DE BELÉM DA JUDÉIA [TERRA SANTA]
JERÔNIMO DE BELÉM DA JUDÉIA [TERRA SANTA]JERÔNIMO DE BELÉM DA JUDÉIA [TERRA SANTA]
JERÔNIMO DE BELÉM DA JUDÉIA [TERRA SANTA]
ESCRIBA DE CRISTO
 
Oração Para Pedir Bênçãos Aos Agricultores
Oração Para Pedir Bênçãos Aos AgricultoresOração Para Pedir Bênçãos Aos Agricultores
Oração Para Pedir Bênçãos Aos Agricultores
Nilson Almeida
 
Lição 10 - Desenvolvendo Uma Consciência de Santidade.pptx
Lição 10 - Desenvolvendo Uma Consciência de Santidade.pptxLição 10 - Desenvolvendo Uma Consciência de Santidade.pptx
Lição 10 - Desenvolvendo Uma Consciência de Santidade.pptx
Celso Napoleon
 

Último (16)

A CRUZ DE CRISTO- ELE MORREU PARA NOS SALVAE.pptx
A CRUZ DE CRISTO-  ELE MORREU PARA NOS SALVAE.pptxA CRUZ DE CRISTO-  ELE MORREU PARA NOS SALVAE.pptx
A CRUZ DE CRISTO- ELE MORREU PARA NOS SALVAE.pptx
 
Bíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptx
Bíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptxBíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptx
Bíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptx
 
Escola sabatina juvenis.pdf. Revista da escola sabatina - ADVENTISTAS
Escola sabatina juvenis.pdf. Revista da escola sabatina - ADVENTISTASEscola sabatina juvenis.pdf. Revista da escola sabatina - ADVENTISTAS
Escola sabatina juvenis.pdf. Revista da escola sabatina - ADVENTISTAS
 
1984 DE GEORGE ORWELL ILUSTRADO E COMENTADO
1984 DE GEORGE ORWELL ILUSTRADO E COMENTADO1984 DE GEORGE ORWELL ILUSTRADO E COMENTADO
1984 DE GEORGE ORWELL ILUSTRADO E COMENTADO
 
CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]
CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]
CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]
 
Manual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docx
Manual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docx
Manual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docx
 
DIDASCALIA APOSTOLORUM [ HISTÓRIA DO CRISTIANISMO]
DIDASCALIA APOSTOLORUM [ HISTÓRIA DO CRISTIANISMO]DIDASCALIA APOSTOLORUM [ HISTÓRIA DO CRISTIANISMO]
DIDASCALIA APOSTOLORUM [ HISTÓRIA DO CRISTIANISMO]
 
CARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADAS
CARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADASCARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADAS
CARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADAS
 
DIDÁTICA MAGNA DE COMENIUS COM COMENTÁRIOS
DIDÁTICA MAGNA DE COMENIUS COM COMENTÁRIOSDIDÁTICA MAGNA DE COMENIUS COM COMENTÁRIOS
DIDÁTICA MAGNA DE COMENIUS COM COMENTÁRIOS
 
O-livro-de-Jasher-O-Justo, the book of jasher.pdf
O-livro-de-Jasher-O-Justo, the book of jasher.pdfO-livro-de-Jasher-O-Justo, the book of jasher.pdf
O-livro-de-Jasher-O-Justo, the book of jasher.pdf
 
Lição 11 - A Realidade Bíblica do Inferno.pptx
Lição 11 - A Realidade Bíblica do Inferno.pptxLição 11 - A Realidade Bíblica do Inferno.pptx
Lição 11 - A Realidade Bíblica do Inferno.pptx
 
Habacuque.docx estudo bíblico, conhecimento
Habacuque.docx estudo bíblico, conhecimentoHabacuque.docx estudo bíblico, conhecimento
Habacuque.docx estudo bíblico, conhecimento
 
Malleus Maleficarum: o martelo das bruxas
Malleus Maleficarum: o martelo das bruxasMalleus Maleficarum: o martelo das bruxas
Malleus Maleficarum: o martelo das bruxas
 
JERÔNIMO DE BELÉM DA JUDÉIA [TERRA SANTA]
JERÔNIMO DE BELÉM DA JUDÉIA [TERRA SANTA]JERÔNIMO DE BELÉM DA JUDÉIA [TERRA SANTA]
JERÔNIMO DE BELÉM DA JUDÉIA [TERRA SANTA]
 
Oração Para Pedir Bênçãos Aos Agricultores
Oração Para Pedir Bênçãos Aos AgricultoresOração Para Pedir Bênçãos Aos Agricultores
Oração Para Pedir Bênçãos Aos Agricultores
 
Lição 10 - Desenvolvendo Uma Consciência de Santidade.pptx
Lição 10 - Desenvolvendo Uma Consciência de Santidade.pptxLição 10 - Desenvolvendo Uma Consciência de Santidade.pptx
Lição 10 - Desenvolvendo Uma Consciência de Santidade.pptx
 

Ult331

  • 1. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 1 FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios. FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios. FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios. FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios. FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios. FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios. REDESCOBRINDOAPALAVRADEDEUS ANDANDO NAS PEGADAS DO NAZARENO, POR VALDIR STEUERNAGEL J U L H O – AG OSTO 2 01 1 • A N O X L I V • N º 3 3 1 Entrevista:RussellShedd Avivamento é uma admissão de carência e deficiência em uma área doutrinária ou prática A maior denominação evangélica do Brasil Assembleia de Deus — 100 anos
  • 2. 2 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011
  • 3. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 3 Deus tem saudades daqueles que o deixam! Abertura E m certa altura da história do Antigo Testamento, na época de Jeremias, por volta do ano 627 antes de Cristo, o povo eleito se desprendeu e saiu da presença de Deus, renunciou os compromissos religiosos, pôs-se do lado de fora da aliança e da cerca que os protegia, repudiou a própria história (iniciada há mais de mil anos, com a chamada de Abraão) e desertou para o lado oposto. Não é necessário usar tantos verbos para explicar o que aconteceu. Basta dizer, em uma linguagem mais clara, que Israel apostatou da fé. Isso tem se repetido tanto na história dos hebreus como na história da igreja. A pesquisa da American Physical Society mostra que daqui a menos de 40 anos o cristianismo e as outras religiões poderão ser radicalmente extintos em nove países ricos — Canadá, Austrália, Áustria, Finlândia, Irlanda, Holanda, Nova Zelândia, Suíça e República Tcheca. Todos esses países são cristãos — alguns católicos e outros protestantes. Trata-se, portanto, de uma acentuada e generalizada apostasia, que combina com a previsão mencionada por Paulo: “O Espírito de Deus diz claramente que, nos últimos tempos, alguns abandonarão a fé [por darem] atenção a espíritos enganadores e a ensinamentos que vêm de demônios” (1Tm 4.1, NTLH). A apostasia é algo muito sério. Entre os apóstatas mais notáveis do período bíblico estão o rei Acaz (2Cr 29.19), o rei Manassés (2Cr 33.19), Demas (2Tm 4.10), Himeneu e Alexandre (1Tm 1.19-20). Há muitas razões para a apostasia. Uma delas é a força destruidora da perseguição religiosa. As ameaças, a tortura, a prisão e o martírio têm feito alguns cristãos renunciarem a fé. Às vezes apenas “da boca para fora”, mas não no íntimo. O relaxamento moral progressivo, por sua vez, pode descambar na apostasia. Daí a exortação: “Se continuarmos a pecar de propósito, depois de conhecer a verdade, já não há mais sacrifício que possa tirar os nossos pecados” (Hb 10.26, NTLH). A intensificação dos poderes demoníacos, por meio de falsos profetas, falsos mestres, falsos cristãos e falsos milagres, pode roubar a fé de muitos. O Apocalipse diz que todos ficarão maravilhados com a cura da besta que havia sido golpeada mortalmente e, então, se porão ao lado dela (Ap 13.3). É difícil, mas pode acontecer que o apóstata venha a se arrepender e volte para o aprisco. Pela instrumentalidade dos profetas, Deus se dirige às gerações apóstatas de maneira comovente. Às vezes, ele recorda os bons tempos anteriores à apostasia: “Eu me lembro bem de como você procurava me agradar e demonstrar o seu amor, como uma jovem noiva, [e quando] me seguia fielmente, através do deserto onde planta nenhuma podia nascer” (Jr 2.2, BV). Outras vezes, ele reclama com ternura: “O meu povo cometeu dois pecados: Eles abandonaram a mim, a fonte de água fresca, e cavaram cisternas, cisternas rachadas que deixam vazar a água da chuva” (Jr 2.13, NTLH). Quando convém, ele fala mais energicamente e faz promessas de renovo: “Venham cá, vamos discutir este assunto [pois] os seus pecados os deixaram manchados de vermelho, manchados de vermelho escuro; mas eu os lavarei, e vocês ficarão brancos como a neve, brancos como a lã” (Is 1.18, NTLH). A evangelização pretende alcançar os que nunca ouviram o anúncio das boas-novas. A reevangelização, por sua vez, quer alcançar aqueles que saíram do meio de nós, mas, a rigor, ainda não eram dos nossos (1Jo 2.19). É possível que “com laços de amor e de bondade” (Os 11.4) Deus os traga de volta!
  • 4. 4 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 H á algum tempo me encontrei com um amigo e irmão assembleiano em frente ao templo da Igreja Presbiteriana de Viçosa. Ele olhou em direção à igreja e me perguntou de chofre: “Como vai esta geladeira?”. Devo ter dado uma resposta conciliatória. Talvez tenha dito que a geladeira estava estragada e não esfriava nem congelava as ovelhas. Meu amigo não falava por mal. Sua frase exprimia um preconceito das igrejas pentecostais contra as igrejas históricas — preconceito existente também em sentido inverso. Ultimato se alegra com o centenário das Assembleias de Deus no Brasil, celebrado no mês de junho em todo o país, especialmente em Belém do Pará, onde tudo começou. Nada mais justo e oportuno do que deixar o leitor por dentro da caminhada dos assembleianos brasileiros, desde a organização de sua primeira igreja, em junho de 1911, até hoje. Temos ainda outros pratos cheios nesta edição. Em sua coluna, Alderi Matos diz que “o cristianismo tem uma concepção elevada do ser humano e afirma a dignidade e até mesmo a sacralidade da vida” (p. 61). A exortação de Catito aos casais é muito oportuna: “Nosso ‘irmão’ mais próximo é o nosso cônjuge e amá-lo significa dar a vida por ele” (p. 41). Ricardo Barbosa encoraja os que andam pelo caminho apertado: “O caminho estreito é o caminho da criação, da redenção, o caminho de Jesus” (p. 32). A propósito do PLC 122, Robinson Cavalcanti reafirma que a sexualidade deve ser entendida “como um dom de Deus, a ser exercitada no matrimônio heterossexual monogâmico vitalício”. Rubem Amorese é cauteloso ao falar do reino dos céus: “Suponho que a hierarquia do poder do reino dos céus é mantida pela submissão voluntária e a autoridade é exercida sobre aqueles que a ela se sujeitam voluntariamente” (p. 66). Valdir Steuernagel escreve da Galileia, de frente para o mar de Tiberíades. O cenário o faz recordar e dividir com o leitor momentos especiais da vida de Jesus (p. 56). Por fim, temos uma das pérolas pentecostais (p. 24), escrita em 1930 por Paulo Leivas Macalão: “Quantos pregadores mencionam ao pecador a cor e o perfume da rosa, mas se esquecem de avisá-lo dos espinhos”. Elben César Carta ao leitor ISSN 1415-3165 Revista Ultimato – Ano XLIV – Nº 331 Julho-Agosto 2011 www.ultimato.com.br Publicação evangélica destinada à evangelização e edificação, não denominacional, Ultimato relaciona Escritura com Escritura e acontecimentos com Escrituras. Visa contribuir para criar uma mentalidade bíblica e estimular a arte de encarar os acontecimentos sob uma perspectiva cristã. Pretende associar a teoria com a prática, a fé com as obras, a evangelização com a ação social, a oração com a ação, a conversão com santidade de vida, o suor de hoje com a glória por vir. Circula em meses ímpares Diretor de redação e jornalista responsável: Elben M. Lenz César – MTb 13.162 MG Arte: Liz Valente Impressão: Plural Tiragem: 35.000 exemplares Colunistas: Alderi Matos • Bráulia Ribeiro Carlos “Catito” Grzybowski • Carlinhos Veiga Dagmar Fuchs Grzybowski • Ed René Kivitz • Jorge Barro Marcos Bontempo • Marina Silva • Paul Freston René Padilla • Ricardo Barbosa de Sousa Robinson Cavalcanti • Rubem Amorese Valdir Steuernagel Notícias: Lissânder Dias Participam desta edição: Frederico Rocha Janet Susan • Russell Shedd Publicidade: anuncio@ultimato.com.br Assinaturas e edições anteriores: atendimento@ultimato.com.br Reprodução permitida: Favor mencionar a fonte. Os artigos não assinados são de autoria da redação. Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro da Associação de Editores Cristãos (AsEC) Editora Ultimato Telefone: (31) 3611-8500 Caixa Postal 43 36570-000 — Viçosa, MG Administração/Marketing: Klênia Fassoni Ana Cláudia Nunes • Ariane Gomes dos Santos Daniela Cabral • Ivny Monteiro • Lucas Rolim Menezes EDITORIAL/PRODUÇÃO/ULTIMATO ONLINE: Marcos Bontempo • Bernadete Ribeiro Djanira Momesso César • Gláucia Siqueira Lissânder Dias • Mariana Furst • Pabline Félix FINANÇAS/CIRCULAÇÃO: Emmanuel Bastos Aline Melo • Ana Paula Fernandes • Cristina Pereira Daniel César • Edson Ramos • Jair Avillez Luís Carlos Gonçalves • Rodrigo Duarte Solange dos Santos VENDAS: Lúcia Viana • Henife Oliveira Lucinéia Campos • Romilda Oliveira • Tatiana Alves Vanilda Costa ESTAGIÁRIOS: Bruno Menezes • Cláudia Alvarenga Jaklene Batista • Juliani Lenz fundada em 1968 4 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 Geladeira estragada
  • 5. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 5
  • 6. 6 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 75. “ Ninguém deve buscar os seus próprios interesses e sim os interesses dos outros” (1Co 10.24, NTLH). O pastor de almas é muito mais comprometido com os outros do que qualquer outra pessoa. Ele precisa cuidar das ovelhas e cuidar do rebanho, como faz o pastor mencionado no Salmo 23. A diferença entre o mercenário e o bom pastor é que aquele abandona as ovelhas em situação de risco e este toma conta delas, a ponto de dar a própria vida por elas (Jo 10.11). O pastor precisa cuidar da igreja de Deus (1Tm 3.5). Diante dessa obrigação, pode parecer estranho e contraditório o conselho de Paulo a Timóteo: “Cuide de você mesmo e tenha cuidado com o que ensina” (1Tm 4.16, NTLH). Em outras versões lê-se: “Atente bem para a sua própria vida e para a doutrina” (NVI), “Mantenha-se vigilante em tudo quanto faz e pensa” (BV), “Vela por ti e pelo teu ensino” (Matos Soares), “Olha por ti e pela instrução dos outros” (EPC), “Presta atenção a ti mesmo e à doutrina” (BJ). Não há contradição alguma. Para cuidar bem dos outros, Timóteo precisava primeiro cuidar bem dele e de sua pregação. Assim ele seria bem sucedido diante de Deus e do rebanho. Antes dessa exortação, Paulo havia feito outras: “Você será um bom servo de Cristo Jesus, alimentando-se espiritualmente com as doutrinas da fé e com o verdadeiro ensinamento que você tem seguido” e “Para progredir na vida cristã, faça sempre exercícios espirituais” (1Tm 4.6-7, NTLH). Tudo está muito claro: Timóteo deveria juntar a ortopraxia (cuidado com a conduta) com a ortodoxia (cuidado com a doutrina). Em nenhuma outra parte da Bíblia esses dois cuidados estiveram tão próximos um do outro. O filho de Paulo na fé seria um aleijado se desprezasse a ortodoxia e se agarrasse a ortopraxia e vice-versa. O jovem pastor deveria ser “um exemplo na maneira de falar, de agir, no amor, na fé e na pureza” (isso é ortopraxia) e não ter nada a ver com “ideias tolas nem mitos e lendas absurdas” (isso é ortodoxia), como está escrito no mesmo capítulo (1Tm 4.7, 12). Timóteo deveria tratar “as mulheres jovens como irmãs, com toda pureza” (1Tm 5.2) tanto como “zelar pela pureza do evangelho que ele ficou encarregado de pregar” (1Tm 1.11). A tentação que sempre existiu é a de separar a ortopraxia da ortodoxia ou a ortodoxia da ortopraxia. A pessoa que só pensa em teologia não dará a menor importância à piedade e será seca demais. A pessoa que só pensa em piedade não dará a mínima importância à teologia e será vulnerável demais. Pastorais Viva a fé e viva a conduta!
  • 7. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 7 GunnarVingren e Daniel Berg: os pioneiros das Assembleias de Deus O “colégio de Jesus” e a educação teológica das Assembleias de Deus Questões éticas sob o ponto de vista assembleiano O crescimento assombroso das Assembleias de Deus no Brasil e suas possíveis razões Os assembleianos não podem sobrecarregar demais e os outros não podem aliviar demais “Eu sou de São Cristóvão” e “Eu sou de Madureira” 3 Abertura 4 Carta ao leitor 6 Pastorais 8 Cartas 12 Frases 12 Números 16 Mais do que notícias 18 Notícias 36 Meio ambiente e fé cristã 42 De hoje em diante... 43 Novos acordes 44 Altos papos 46 Caminhos da missão 58 Cidade em foco 63 Vamos ler! CAPA SEÇÕES Sumário ABREVIAÇÕES: AS21 - Almeida Século 21; BH - Bíblia Hebraica; BJ - A Bíblia de Jerusalém; BP - A Bíblia do Peregrino; BV - A Bíblia Viva; CNBB - Tradução da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; CT - Novo Testamento (Comunidade de Taizé); EP - Edição Pastoral; EPC - Edição Pastoral - Catequética; HR – Tradução de Huberto Rohden; KJ - King James (Nova Tradução Atualizada dos Quatro Evangelhos); NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje; TEB - Tradução Ecumênica da Bíblia. As referências bíblicas não seguidas de indicação foram retiradas da Edição Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional. O caminho do coração 32 Não basta dizer, é preciso fazer Ricardo Barbosa de Sousa Da linha de frente 34 A linguagem de missões que prejudica o Reino, Bráulia Ribeiro Cotidiano 38 O leitor pergunta, Ed René Kivitz Missão integral 40 O poder para a missão, René Padilla Casamento e família 41 Você conhece o amor?, “Catito” Grzybowski e Dagmar Fuchs Grzybowski Entrevista 48 Russell Shedd Avivamento é uma admissão de carência e deficiência em uma área doutrinária ou prática Ética 50 A vontade de Deus e os desejos não realizados, Paul Freston Reflexão 52 Os evangélicos e a pororoca gay Robinson Cavalcanti Redescobrindo a Palavra de Deus 56 Andando nas pegadas do Nazareno Valdir Steuernagel História 60 Fé cristã: o verdadeiro humanismo Alderi Souza de Matos Ponto final 66 Fios de prata, Rubem Amorese 22 25 26 27 28 29 • artigos exclusivos • boletins editoriais • devocionais • estudos bíblicos • lançamentos • novidades • promoções NeiNeves Centro de Convenções Centenário, da Assembleia de Deus, em Belém, PA Um ponto de encontro www.ultimato.com.br
  • 8. 8 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 Cartas Pascal Eu estava descontente com boa parte das matérias de Ultimato há algum tempo, pois não estavam sendo úteis para o amadurecimento da minha fé cristã. No entanto, a edição de maio/junho foi extraordinária, especialmente a matéria de capa, Fé, razão, pecado e redenção no pensamento de Blaise Pascal. Parabéns e continuem assim. Apro- veito para dizer que não é verdade que Ultimato fez ou faz campanha de ódio contra os homosse- xuais, como diz a carta de João Kouffi, publicada na mesma edição. A revista tem mantido de forma coerente a posição bíblica sobre o assunto. João Antonio de Almeida, Tatuí, SP A edição de maio/junho, cuja matéria de capa é sobre a pessoa e o pensamento de Blaise Pascal, é uma das melhores desde que me tornei assinante! Tão boa que meu filho de 17 anos está entusiasmado. Vitório Pinto, Magé, RJ A cada dia que passa a noiva (igreja) se coloca à frente do Noivo e torna-se menos cristocêntrica, mais mundana e denominacional e perde o foco. A liderança da igreja precisa falar mais a respeito do Noivo que da noiva. Aprende-se muito sobre cos- tumes e pouco sobre princípios bíblicos irrevogá- veis. Maravilhoso o artigo Pascal — Jesus Cristo é o centro para onde tudo converge (“Capa”, maio/ junho de 2011). Precisamos ler as Escrituras com sede do Noivo. Parabéns a Ultimato, que não negocia com a verdade, mas leva-a a sério. Pr. Marcelo, Duartina, SP Cotidiano Parabenizo Ed Rene Kivitz pelo texto lúcido sobre oração (maio/junho de 2011). É um dos mais inspirados e objetivos que li sobre o assunto ulti- mamente. Parabenizo também Paul Freston pelo excelente artigo sobre Gregório (“Ética”). Ultimato inspira minha vida e ministério. Obede Silva, Fortaleza, CE Entrevista A entrevista Islamismo e democracia não são in- compatíveis (maio/junho de 2011) poderia ter sido esclarecedora. Porém, devido ao pequeno espaço concedido a Ramez Atallah, as respostas foram superficiais. Fiquei desapontado com o conteúdo. Walbervan Pontes, Fortaleza, CE O prolongamento da dor No texto O prolongamento da dor (“Abertura”, maio/ junho de 2011), Elben César interpreta literalmente o versículo: “O choro pode durar a noite inteira, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5). Segundo ele, a dor pode durar mais de um dia, mais de uma semana etc. Todavia, parece claro que o autor bíblico queira mostrar a possibilidade de o sofri- mento se prolongar, como uma noite de sofrimento demora a passar. Porém, a promessa da graça e do alívio também se cumprirá, como o sol sempre chega, mesmo depois de uma longa noite. Djaik Neves, Jataí, GO Em defesa da teologia Gostei muito do artigo Em defesa da teologia (“História”, maio/junho de 2011), de Alderi Souza de Matos. Ele consegue falar de vários assuntos com profundidade. A declaração de que “a teologia é uma tarefa imprescindível e absolutamente essen- cial” é ousada e desafiadora. Aprendi a admirar o autor pelos artigos que ele escreve para Ultimato. Jean de Oliveira, Nova Cruz, RN A espiritualidade cristã e a cultura narcisista Parabenizo Ultimato por ser um canal de bênção e de reflexão sobre o cristianismo do dia-a-dia. Ao
  • 9. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 9 ler o artigo A espiritualidade cristã e a cultura narcisista, de Ricardo Barbosa (“O caminho do coração”, maio/junho de 2011), lembrei-me do texto de Mateus 5.3: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”. Interpreto este versículo assim: felizes os que se esvaziam de si mesmos e se enchem de Deus. O comportamento narcisista tem afetado os cristãos. Estes exibem o “grande eu” nos sites de relacionamentos e nos cargos que ocupam nas igrejas, os quais os enchem de orgulho, por serem seguidos e elogiados. Com isso, acabam perdendo o sentido do cristianismo. Renan Souza, Poá, SP Altos papos Interessante a reflexão e a aplicação feita por Manu Magalhães em Hitler, Roberto Jefferson e eu (“Altos papos”, março/abril de 2011). Faço uma única ressalva: ao dizer que Jesus, como nós, tinha sede de poder e de aceitação, ela apresenta características de Jesus que eu simplesmente não consigo encontrar nos Evangelhos, nem fazendo um esforço exegético. Quanto à primeira (sede de poder), sugiro que se leia Mateus 26.53 e João 10.18; em relação à segunda (sede de aceitação), a sugestão é João 6.67. Antônio Alves, Americana, SP O artigo Hitler, Roberto Jefferson e eu, de Manu Magalhães (“Altos papos”, março/abril de 2011), me confrontou com o real, verdadeiro e vivo perdão de Deus, que também devemos exercer em nossos relacionamentos. Levou-me a perceber o significado do perdão de Deus na minha vida e o lugar que ele tem na vida cristã. Fabiano Portela, João Pessoa, PB Sugestão de pauta Gostaria que Ultimato fosse menos elitizada e falasse mais sobre a vida do povo evangélico. E também que escrevesse sobre os crentes que pre- gam nos trens, nas ruas, nos presídios. Continuem publicando matérias sobre homossexualismo, aborto, eutanásia e casamento. Joubert da Conceição, Duque de Caxias, RJ Igreja Anglicana Saiu uma reportagem, em cadeia nacional, dizendo que a Igreja Anglicana, apesar do nome diferente, é uma extensão da Igreja Católica. A informação procede? Evandro César, Carolina, MA — A Igreja Anglicana é uma igreja reformada, ou protestante, que mantém o episcopado histórico, os sacramentos e a liturgia. Tem em comum com as Igrejas Orientais e a de Roma alguns aspectos estéticos exteriores, mas não a teologia. Ela des- cende da Igreja Celta autônoma dos primeiros seis séculos, localizada nas Ilhas Britânicas. Esteve, posteriormente, sob a autoridade papal, da qual se desvinculou quando da Reforma Protestante do Século 16. Está presente hoje em 165 países, com 80 milhões de seguidores, e tem a Sé de Cantuária como símbolo de unidade. Dom Robinson Cavalcanti, bispo anglicano da Diocese de Recife, PE Cartas da prisão Acabo de escrever um livro: Dados Importantes da Vida de Paulo. Foram nove meses de pesquisa bí- blica. Quero continuar esse trabalho, mas preciso do apoio de alguma editora. Pr. Rovilson Alves (Raio 3, cela 301, Estrada Municipal Iperó/Tatuí, km 5,5, Iperó, SP) A matéria de capa sobre sofrimento (novembro/ dezembro de 2010) foi muito marcante para mim, pois o meu sofrimento não representa quase nada se comparado ao daqueles que estiveram em campos de concentração. Graças a Deus, minha mãe, que era da Iugoslávia, conseguiu extradição durante a Segunda Guerra. Quanto a mim, estou preso desde 1995. Tenho 54 anos e estou nos caminhos do Senhor desde 1998, quando ele me tirou dos braços da morte, curou minhas feridas
  • 10. 10 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 Cartas (levei vários tiros) e fez de mim um novo homem. Hoje faço a obra de Deus na prisão. Mário Garcia, Riolândia, SP Quando fui preso, em junho de 2008, achei que o mundo tinha acabado para mim. Três dias depois tomei a decisão de me enforcar. Tentei por três ou quatro vezes e não consegui. Depois de tudo isso, entendi que a vida não acaba quando achamos que ela acabou. Comecei a viver um dia após o outro. Hoje sou feliz. Conheci a Palavra de Deus. José da Silva, Sorocaba, SP Quem sou eu? Um miserável pecador, ex-viciado e ex-assaltante. Sou apenas um presidiário arre- pendido, pagando por seus erros, esquecido pela família, abandonado pela sociedade e rejeitado por todos. E ainda condenado à morte, pois há 18 anos sou soropositivo. Por algum tempo pensei em desistir de tudo. Entrei em uma depressão profunda. Porém, Jesus me mostrou que ele é o médico e eu sou o doente. Estou condenado a 18 anos de reclusão, dos quais já cumpri 10. Na prisão concluí o ensino fundamental e o médio. Tenho orado e lido muito. Não vejo a hora de sair de cabeça erguida para pregar o evangelho. Ulti- mato tem abençoado muito a vida dos presos. Paulo Henrique de Almeida, Casa Branca, SP Oro todos os dias por vocês. Gostaria que Ultimato publicasse a seguinte reflexão: Certa vez, um homem pediu a Deus uma flor e uma borboleta. Porém, Deus lhe deu um cacto e uma lagarta. O homem ficou triste, pois não entendeu o porquê de seu pedido vir errado. Então pensou: “Também, com tantas pessoas para atender...”. E resolveu não questionar. Passado algum tempo, foi verificar o pedido que deixara esquecido. Para sua surpre- sa, do espinhoso e frio cacto havia nascido uma bela flor, e a horrível lagarta transformara-se em uma linda borboleta. Ele reconheceu que Deus age certo. Assim é a nossa vida. Hoje pode ser triste, mas amanhã iremos sorrir. Porque Deus é o nosso ajudador. Pr. Samuel de Moura, Itirapina, SP Sou pastor evangélico. Não vigiei o suficiente e es- tou preso em um presídio no Rio de Janeiro, onde faço a obra de Deus (leia Mateus 25.36). Gostaria de receber sempre a revista Ultimato. Pr. César Mesquita, Rio de Janeiro, RJ — Para o leitor compreender melhor o drama dos irmãos encarcerados, que sempre escrevem a Ultimato, sugerimos o filme Um sonho de liberdade. Ele conta a história de um banqueiro que foi condenado à prisão perpétua e que tinha a habilidade de resolver problemas do dia-a-dia dele e dos outros. A Bíblia diz: “Não se esqueçam daqueles que estão na prisão. Sofram com eles, como se vocês próprios estivessem aprisionados com eles” (Hb 13.3). Voz profética Agradeço a Deus pela voz profética de Ultimato nos dias de hoje. É bom saber que ainda há cristãos que preferem combater a hipocrisia, o narcisismo, o egoísmo e proclamar a mensagem da insignificância e da irrelevância do ser humano frente aos seus méritos; e, ainda, apresentar o caminho da graça maravilhosa de Jesus, da necessidade de confissão, do quebrantamento e da humildade diante de Deus e das pessoas. Pr. Tiago Schwanz, Serra, ES Lei Muadji Foi aprovado na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, por unanimidade, o PL 1057/2007 — Lei Muadji —, que visa proteger as crianças indígenas em situação de risco. Ele abrange crianças que nasceram com deficiência física ou mental, gêmeos, filhos de mãe solteira e outros casos de crianças discriminadas, de acordo com a tradição de cada povo indígena. Em algumas etnias, elas ainda correm risco de serem rejeitadas, abandonadas na mata ou mortas por membros da própria família, devido à pressão
  • 11. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 11 Fale conosco Cartas à Redação • cartas@ultimato.com.br • Cartas à Redação, Ultimato, Caixa Postal 43, 36570-000, Viçosa, MG Inclua seu nome completo, endereço, e-mail e número de telefone. As cartas poderão ser editadas e usadas em mídia impressa e eletrônica. Economize Tempo. Faça pela Internet Para assinaturas e livros acesse www.ultimato.com.br Assinaturas • atendimento@ultimato.com.br • 31 3611-8500 • Ultimato, Caixa Postal 43, 36570-000, Viçosa, MG Edições Anteriores • atendimento@ultimato.com.br • www.ultimato.com.br interna. Em algumas comunidades há relatos de mais de duzentas crianças nessas condições que foram mortas. A aprovação foi uma vitória da vida! Damares Regina Alves, assessora jurídica da Frente Parlamentar da Família e Apoio à Vida e conselheira do Movimento Atini — Voz pela Vida Revistas para missionários Enviamos os exemplares que recebemos de Ultimato a missionários que estão na Ásia, Europa, África e alguns países mais fechados ao evangelho. No Brasil, enviamos para aqueles que trabalham com povos indígenas no Ama- zonas. Separamos um a dois exemplares para os departamentos da base da Missão AMEM em Belo Horizonte. O conteúdo da revista é excelente e cremos que tem edificado a vida dos missionários, especialmente os que estão longe do país de origem. Angélica, Belo Horizonte, MG — Em parceria com agências missionárias, Ulti- mato é enviada a 342 missionários em campo. Carta dos editores Ricardo Gondim escreveu por 16 anos na revista Ultimato. Sua estreia foi com o artigo A pós-modernidade, seus desafios e oportunidades, na edição de março de 1996. Seus textos logo conquistaram os leitores. Seu artigo mais recente, na edição de maio de 2011, é uma declaração de amor à literatura. Como os demais articulistas, Ricardo Gondim nunca recebeu pagamento por seus escritos. Em julho de 2008, ele esteve conosco no Encontro de Amigos, quando celebramos os 40 anos da revista, aqui em Viçosa, MG. Além de sua seção “Reflexão” na revista, a Editora Ultimato publicou três livros de sua autoria: Orgulho de Ser Evangélico — que é também título de seu artigo publicado na edição de julho de 2000 —, O Que os Evangélicos (Não) Falam e Eu Creio, Mas Tenho Dúvidas. Temos respeito e carinho pelo pastor Ricardo Gondim. Suas posições e alertas à igreja brasileira fazem parte da história ministerial da Editora Ultima- to. Em meados de maio nos reunimos com o pastor Ricardo em seu escritório na Igreja Betesda, em São Paulo, quando comunicamos a ele a descontinuação de sua participação na revista. Estamos gratos a Deus pelo tempo que caminhamos juntos. Os leitores podem continuar a encontrar o pastor Ricardo Gondim em seu site (www.ricardogondim.com.br) e também em vários outros canais de comunicação que reproduzem seus escritos. Dos editores
  • 12. 12 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 “A criação inteira, inclusive a humanidade, encontra o seu devido propósito e lugar unicamente no relacionamento vivo com Jesus Cristo. Timóteo Carriker, missiólogo FRASES “O cuidador-mor, Jesus Cristo, deixou-se ser denominado de curador ferido. Ferido pelas feridas que curava, mas, sobretudo, para ser modelo para um bom cuidador. Cleydemir de Oliveira Santos, psicólogo, autor de Ainda Dá Para Ser Feliz “Avida é traumática por natureza. Nem todos os traumas podem ser evitados. Mas com fé em Deus todos os traumas podem ser superados. Ailton Gonçalves Desidério, pastor, psicólogo especializado em psicanálise “Ovalor da verdade não pode ser medido pela atração que ela tem, nem pela popularidade. Se popularidade fosse critério de validade, Jesus não teria morrido. Antonio Silva Paixão, padre, por ocasião do 4° Encontro Nacional de Jornalismo em Brasília, DF “Os familiares mentem a si mesmos e para o paciente, fazendo de conta que está tudo bem e que ele, a qualquer momento, sairá daquela situação. O assistente religioso, por sua vez, tem uma conversa que pende mais para o lado transcendente, menos concreto e algumas vezes indefinido. Anísio Baldessin, capelão do Instituto do Câncer em São Paulo, SP “O trabalho por um mundo melhor constitui uma parte intrínseca do culto da igreja a Deus. Quando levamos a cabo ações de justiça, de paz e de dar de comer aos famintos, estamos realizando atos que engrandecem a Deus, porque eles engrandecem a dignidade de cada ser humano. Olav Fykse Tveit, pastor, secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra, Suíça “O s orçamentos das igrejas não têm espaço para missões. As finanças, sempre apertadas, há muito tempo foram comprometidas com salários e construções caras. Russell Shedd, filho de missionários e missionário no Brasil “O homem moderno foi condenado a ser manipulado pelo excesso de comunicação, a oferta maior do que a procura. O mundo virtual é um salto sem rede no espaço. Uma bobeira pode terminar em tragédia. Carlos Heitor Cony, escritor “N o horror da dor, a prepotência diminui e é possível enxergar as próprias fragilidades. Sem reconhecer a própria fragilidade, não é possível conseguir forças para construir o consenso capaz de mudar. Dilma Rousseff, quando ministra de Minas e Energia ” ” ” ” ” ” ” ” ” NÚMEROS 1.600.000.000 de exemplares da Palavra de Deus já foram distribuídos graciosamente pelos Gideões Internacionais ao redor do mundo, desde a sua fundação em 1899 114 anos era a idade de Walter Breuning, o homem mais velho do mundo, ao morrer de causas naturais em um hospital americano no dia 15 de abril de 2011 500.000 das 600 mil cidades e vilas da Índia não têm sequer um pregador do evangelho. A evangelização do país começou há dois milênios, com o apóstolo Tomé 1.300.000 haitianos desalojados pelo terremoto de janeiro de 2010 ainda vivem sob lonas de plástico 15.000.000 de crianças e adolescentes espalhados pelo mundo são órfãos de pais que morreram infectados com o vírus HIV nos últimos 20 anos 370 pessoas são infectadas com o vírus HIV a cada hora ao redor do mundo (50% delas são jovens com idade entre 15 e 24 anos) 70% das crianças negras nos Estados Unidos são filhas de mães solteiras (há mais ou menos 60 anos elas eram entre 13% e 15%) Ultimatoimagem
  • 13. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 13
  • 14. 14 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 Mulheres bonitas E m uma correspondência de pastor para pastor, o mais idoso escreve para o mais novo: “[Quero] que elas [as mulheres da igreja] se enfeitem”. Ao mesmo tempo que permite e encoraja as irmãs a se adornarem, o pastor idoso faz algumas restrições. Elas não devem gastar muito dinheiro com roupas de luxo, penteados complicados e jóias caras, como as de ouro e pérolas. Como cristãs, elas devem optar por um estilo de vida simples. Embora recomende também “roupas decentes e simples” para evitar a concupiscência masculina, o pastor parece mais preocupado com o desperdício de dinheiro. Para realçar a beleza, as mulheres devem usar outros enfeites: “Que [elas] se enfeitem com boas ações, como devem fazer as mulheres que dizem que são dedicadas a Deus”. Nada melhor do que associar a beleza exterior à interior. Afinal, na época de Davi, “não havia ninguém tão famoso por sua beleza como Absalão” (2Sm 14.25), mas que, por dentro, era como os fariseus que lavavam o prato e o copo apenas por fora (Mt 23.25). O pastor mais velho chama-se Paulo, o mais novo, Timóteo. As frases citadas são da Primeira Carta de Paulo a Timóteo, capítulo 2, versículos 9 e 10, escrita há mais de 1.900 anos. +DO QUE NOTíCIAS O clamor condenatório da secularização da consciência, principalmente das lideranças eclesiais da Igreja Católica, é proferido não por uma voz masculina nem por um membro do clero. Quem analisa a questão e “abre a boca” é uma mulher e leiga, a doutoranda em teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Arlene Denise Bacarji. Segundo ela, o maior problema da igreja ainda não é o povo simples: “São os universitários, os intelectuais, as lideranças da igreja — agentes pastorais, clero, teólogos — que levam à quebra da plausibilidade da igreja com sua secularização da consciência, sua riqueza de ‘opiniões’, muitas vezes contrárias à própria igreja”. Na opinião de Arlene, a primeira coisa a fazer é “lembrar que Deus age na história mais do que os seres humanos pensam e mais do que eles pretendem com sua autonomia no agir, a qual faz com que a providência divina fique sem espaço a partir da modernidade”. Para resistir a essa embaraçosa situação, é preciso trazer de volta a santidade, esquecida atualmente: Não existe santidade sem relação vertical com Deus “A santidade é a forma muitas vezes silenciosa de transformar os outros por meio do evangelho”. Ela começa “com o simples desejo de ser santo”. Arlene é uma entusiasta da santidade, pois esta “salva a igreja, salva o povo de Deus, salva a teologia. Somente em busca da santidade o teólogo poderá fazer teologia, unindo fé e razão, fidelidade e questionamento, pesquisa e certezas. Mas não existe santidade sem oração, sem interiorização da Palavra, sem contemplação, sem relação vertical com Deus, além da horizontal”. A autora do artigo “A secularização da consciência”, publicado no segundo semestre de 2010 na Coletânea, revista de filosofia e teologia da Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro, não é pessimista: “A ação de Deus na história, principalmente na história da igreja, irá, independentemente da vontade de alguns, de poucos ou de muitos, levar a igreja, por meio dos fiéis que ouvem o Espírito Santo, ao testemunho fiel da palavra objetiva de Cristo”. Sem dúvida, a palavra da quase doutora em teologia é oportuna também para os protestantes. ValentinaJori
  • 15. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 15 +DO QUE NOTíCIAS R elações homossexuais não promíscuas não liberam a prática homossexual. Elas continuam fora da normalidade, levando-se em conta o que está prescrito nas Escrituras Sagradas. Enquanto os cristãos consideram a Bíblia como sua regra de fé e conduta, não há absolutamente como abrir uma brecha ao relacionamento sexual entre um homem e outro homem, entre uma mulher e outra mulher, mesmo que um seja fiel ao outro e que uma seja fiel à outra. Não é necessário trazer à lembrança as muitas passa- gens bíblicas que condenam a prática homossexual. Basta consultar a primeira das Cartas Pastorais de Paulo. Logo no início, o apóstolo diz que “a lei é boa, se for usada como se deve”. E con- tinua: “Devemos lembrar, S egundo Kaiser Santos, da empresa de segurança Zapos, muitos clientes pedem que os guarda- costas de suas mulheres e filhas sejam evangélicos e casados. Naturalmente eles esperam que o profissional tenha sério compromisso com Jesus Cristo e, simultaneamente, com a esposa. Trata-se de uma dupla segurança: a proteção da fé e a do casamento. Isso lembra-nos o conselho de Paulo a Timóteo: “Trate as mulheres mais velhas como mães, e as moças como irmãs, tendo pensamentos puros” (1Tm 5.2, BV). Percebe-se que a conduta irrepreensível na área do sexo é tão necessária no meio religioso quanto no secular. No entanto, o mercado da segurança privada está se abrindo cada vez mais para as mulheres. A imagem de seis seguranças femininas no cortejo da presidente Dilma Rousseff fez com que aumentasse o número de mulheres nos cursos de segurança pessoal. Evitar a promiscuidade na relação gay é bom, mas não é suficiente Os guarda- costas e os jovens pastores MiguelSaavedra é claro, que as leis são feitas não para pessoas corretas, mas para os marginais e os criminosos, os ateus e os que praticam o mal e para os que não respeitam a Deus nem a religião”. Em seguida, Paulo menciona alguns compor- tamentos que devem ser corrigidos por causa das tais leis. A lista não é pequena. Os que precisam de lei para se controlarem são os assassi- nos, os imorais, os homos- sexuais, os sequestradores, os mentirosos, os que dão falso testemunho e “os que fazem qualquer outra coisa que é contra o verdadeiro ensinamento”. Por último, o apóstolo diz que “esse ensinamento se encontra no evangelho que Deus me encarregou de anunciar, isto é, na boa notícia que vem do Deus bendito e glorioso” (1Tm 1.8-11, NTLH). Não são só os parri- cidas, os matricidas, os demais assassinos e os sequestradores que precisam da força da lei para serem contidos, tanto em seu próprio benefício quanto em benefício geral. A lei é boa também para os mentirosos, os que dão fal- so testemunho e os homos- sexuais (algumas traduções preferem usar os sinônimos pederastas, sodomitas ou infames). As Escrituras proíbem as relações sexuais promíscuas e, de igual modo, o rela- cionamento homossexual. A lei é o instrumento para prevenir desmandos. E a graça de Deus é o instru- mento para fazer o que a lei não consegue fazer: dar ao pecador a possibilidade do perdão e da “metanoia” (conversão religiosa e mo- ral). A conversão nada mais é do que a invasão da graça divina na vida humana, produzindo uma verdadeira ressurreição, não física, mas moral e espiritual.
  • 16. 16 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 +DO QUE NOTíCIAS Perguntas de ontem válidas hoje M artyn Lloyd-Jones (1889–1981), um dos mais influentes pregadores do século 20, morreu precisamente há 30 anos. Antes de morrer pediu à esposa e aos dois filhos: “Não orem por cura, não tentem me impedir de ir para a glória”. Estava com 82 anos. Depois de ser médico assistente da casa real, em Londres, Lloyd- Jones abandonou a medicina e tornou-se pastor de uma pequena igreja presbiteriana no País de Gales. Por causa de seu estilo próprio de pregar, acabou assumindo o pastorado da Capela de Westminster, em Londres, não muito distante do Palácio de Buckingham. Seus sermões de 50 minutos a uma hora de duração (pela manhã e à noite) atraíam muita gente, inclusive não poucos universitários. Lloyd-Jones levava em alta conta a Palavra de Deus e a unção sobrenatural do Espírito Santo. Ainda há 1.600 palestras suas gravadas e disponíveis, além de vários livros de sua autoria, entre eles o pequeno Por que Deus Permite a Guerra?, Depressão Espiritual e os dois volumes de Estudos no Sermão do Monte. Neste, o pregador galês faz quatro perguntas embaraçosas ao leitor: Qual é o seu desejo supremo? Anseia pelos benefícios e bênçãos da vida cristã e da salvação, ou tem anelo mais sério e profundo? Você procura resultados terrenos e carnais, ou espera conhecer a Deus e tornar-se cada vez mais semelhante ao Senhor Jesus Cristo? Você tem fome e sede de quê? De riqueza, dinheiro, categoria, posição, publicidade? Face ao interesse pelo evangelho mais por causa de curas e prosperidade, as perguntas de Lloyd-Jones são bastante atuais. “Vocês são irmãos e não deviam estar brigando!” Q Quando Moisés, aos 40 anos, recusou ser tratado como filho da filha de Faraó e se dispôs a tirar o povo da terra do Egito, ele viu dois israelitas brigando e, tentando apartar a briga, disse: “Vocês são irmãos e não deviam estar brigando assim! Isso está errado!” (At 7.26, BV). Os dois homens estavam sob a dura e demorada opressão egípcia. Eles esperavam por um libertador que os tirasse do Egito e os levasse para Canaã. Mesmo assim, um espancava o outro. O mais forte maltratava o mais fraco de tal modo que Moisés tentou apartar a briga (Êx 2.13). Hoje as atitudes não são diferentes. Somos irmãos em Cristo e brigamos. Participamos da Mesa do Senhor e brigamos. Lemos a mesma Bíblia e cantamos os mesmos hinos e brigamos. Estamos todos sob a mesma graça e brigamos. Temos o mesmo perdão e a mesma esperança e brigamos. Vamos para o mundo inteiro pregar o evangelho e brigamos. Estamos sob as mesmas tentações da carne, do curso deste mundo e das forças espirituais do mal e brigamos. Somos membros do mesmo corpo — o corpo de Cristo — e brigamos. Segundo o bispo Robinson Cavalcanti, chegamos ao século 16 com apenas quatro ramos da igreja, terminamos a Reforma Protestante com uma dúzia a mais, começamos o século 19 com aproximadamente cem e atingimos a escandalosa cifra de 38 mil ao adentrarmos o século 21. Capela de Westminster
  • 17. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 17
  • 18. 18 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 Milhares de evangélicos em protesto contra a exploração sexual infantil NOTíCIAS Rússia é o país da Europa que mais acredita em Deus Um levantamento realizado em abril pelo Public Opinion Fund (Fundo de Opinião Pública) constatou que 82% dos russos se dizem cristãos, enquanto apenas 13% afirma não acreditar em nenhuma divindade. Este resultado torna a Rússia o país europeu que mais crê em Deus, duas décadas após o colapso do regime soviético ateu. Porém, segundo a pesquisa, 50% dos russos pertencem à Igreja Ortodoxa Russa, enquanto 27% deles não fazem parte de nenhuma instituição de fé organizada. Entre os jovens de idade entre 18 e 24 anos, o número de cristãos não filiados é de 34%. “Seria mais correto descrever a Rússia como um país de crentes, mas não um país de pessoas religiosas”, diz Mikhail Tarusin, chefe do departamento de sociologia do Instituto de Projetos Públicos, em Moscou. “Nós fomos um Estado oficialmente ateu por 74 anos, e levaremos algum tempo para nos recuperar disso. Acho que a porcentagem de pessoas realmente religiosas não passa de 20%”, afirma Tarusin. por Lissânder Dias (entre evangélicos e não-evangélicos) participaram das marchas e passeatas. As cidades que aderiram ao movimento foram: São Paulo, SP, Manaus, AM, Curitiba, PR, Londrina, PR, Fortaleza, CE, Recife, PE, Belo Horizonte, MG e Cuiabá, MT. A manifestação faz parte da Campanha de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes no Turismo, liderada pela Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS). A rede chama a atenção da população para o risco de intensificação do problema com a chegada da Copa do Mundo de Futebol no Brasil, em 2014. “Estamos nesta mobilização há nove meses. Estou grata a Deus e a todos que participaram. Valeu o esforço pelas crianças! Valeu o esforço pelo reino de Deus! Nós vencemos!”, diz Débora Fahur, uma das coordenadoras da RENAS. Milhares de evangélicos foram às ruas para participar das Marchas contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes realizadas em doze cidades brasileiras. Em dez delas a manifestação ocorreu exatamente no dia 18 de maio, o dia nacional de combate ao problema. Os manifestantes se reuniram em praças, percorreram ruas, visitaram a câmara municipal, fizeram manifestações culturais, oraram, se uniram a outras organizações e prefeituras e divulgaram o Disque Denúncia 100, para casos de abuso e violência sexual de crianças. A mídia nacional repercutiu bem as manifestações. Pelo menos nove matérias e entrevistas foram veiculadas em canais de televisão. Somadas todas as manifestações, inclusive as realizadas em conjunto com prefeituras e organizações não- governamentais, cerca de 97 mil pessoas Sociedade Bíblica vai lançar Bíblia com notas sobre pobreza e justiça A Bíblia Sagrada Pobreza e Justiça será lançada pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) em setembro no Encontro Nacional da Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS). A publicação traz versículos em destaque e cinquenta tópicos com temas ligados à pobreza e justiça, organizados em um roteiro que estimula a pesquisa, a imaginação e a meditação. No texto introdutório, os editores incentivam o leitor a encontrar também outros textos relacionados ao assunto. Ainda na introdução lemos que: “Deus tem um interesse apaixonado pela justiça, a fim de combater a pobreza. A preocupação com os pobres e a ênfase na conduta honesta e justa fluem pela Bíblia como um rio”. No dia 10 de junho, a SBB vai comemorar a marca mundial inédita de 100 milhões de Bíblias impressas em sua gráfica. Participantes da Marcha contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes em São Paulo acendem velas, simbolizando casos de abuso e exploração GustavoFelício
  • 19. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 19
  • 20. 20 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 No dia da sua morte, David Wilkerson diz que não há acidentes NOTíCIAS O que os missionários fazem nas férias? “O pranto durará algumas negras e terríveis noites, mas no meio dessa escuridão logo se ouvirá o sussurro do Pai: ‘Eu estou contigo. Verás que tudo era parte do meu plano. Não foi um acidente. Deixe que eu lhe abrace nessa hora de dor’”. Em mensagem publicada dois dias após a morte de David, seu filho Gary afirmou: “A última missão do meu pai na terra foi defender os mais pobres entre os pobres. Ele fundou o projeto Please Pass the Bread (Por Favor, Dê-me Pão), que está salvando milhares de crianças por meio de 56 programas em oito países. Se meu pai tivesse vivo hoje, ele nos convidaria a entregar a nossa vida a Jesus, a amar a Deus profundamente e a nos doar às necessidades do próximo”. Davi Wilkerson, pastor norte-americano, fundador do mundialmente conhecido ministério de recuperação de dependentes químicos “Desafio Jovem” e autor de um dos livros evangélicos mais populares, A Cruz e o Punhal, morreu em um acidente de carro no dia 27 de abril, no Texas, Estados Unidos. Enquanto tentava fazer uma ultrapassagem, teve seu veículo atingido por uma carreta que vinha na direção oposta. Wilkerson tinha 79 anos. Sua esposa, Gwen, também estava no carro, mas passa bem. A pastoral de Wilkerson, publicada em seu site oficial, no dia da sua morte, consola todos os que “passam pelo vale da sombra da morte”. Imaginando a voz de Deus aos que sofrem, Wilkerson escreveu: Anglicanos marcam 2ª conferência global para discutir futuro da denominação A Fellowship of Confessing Anglicans (Fraternidade de Anglicanos Confessantes — FCA), que se reuniu em abril deste ano em Nairóbi, no Quênia, decidiu convocar uma nova Conferência Global sobre o Futuro do Anglicalismo (GAFCON II). O evento vai acontecer em 2013 e será precedido por um encontro de lideranças em Nova York, em 2012. A primeira conferência aconteceu em 2008, em Jerusalém. Na ocasião, os participantes assinaram a Declaração de Jerusalém, um documento que reafirma o apoio à chamada “fé ortodoxa”. Entre as afirmações, o documento declara “reconhecer que Deus criou o ser humano como homem e mulher e o imutável padrão de matrimônio cristão entre um homem e uma mulher como o lugar apropriado para a intimidade sexual é a base da família”. A Igreja Anglicana sofre atualmente com divisões por causa de temas controversos, como a ordenação de homossexuais. Fontes: The Christian Science Monitor, CIM, SBB, RENAS, FCA Cerca de cinquenta missionários transculturais se reuniram para a 6ª consulta do Cuidado Integral do Missionário, realizada entre 13 e 15 de maio, em Assis, SP. O objetivo foi discutir a qualidade do tempo gasto durante o período de licença, quando retornam temporariamente à terra natal. É comum ouvir a reclamação de que os missionários não têm muito tempo para descansar e cuidar da saúde porque precisam divulgar o trabalho realizado em igrejas e para mantenedores. “Ter momentos de refrigério, estar com familiares e amigos, ir ao culto somente para participar — louvar a Deus, desfrutar da comunhão dos irmãos e ouvir a Palavra — são atividades importantíssimas para que o missionário e sua família ‘recarreguem as baterias’ antes de voltar ao campo”, diz Renata, missionária no Senegal. Na consulta, os participantes definiram um termo que explica melhor o tempo de retorno ao país de origem do missionário: Licença para Atualização e Renovo (LAR). Eles acreditam que com este termo será mais fácil comunicar às igrejas e agências como o missionário pode gastar seu tempo em casa. A consulta foi promovida pelo Cuidado Integral do Missionário (CIM), um departamento da Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB). Participantes da 6ª Consulta Cuidado Integral do Missionário ArquivoCIM/AMTB
  • 21. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 21 C om um pouco de exagero, de cada dez brasileiros, um é assembleiano. Hoje, é possível que o número de membros da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, somado com os outros muitos ministérios independentes, chegue a 15 milhões. No final de julho deverá haver um acréscimo de 100 mil novos assembleianos, que serão batizados em todo o país como parte da comemoração do primeiro centenário da denominação. As Assembleias de Deus são, de longe, a maior denominação do Brasil — 50% dos evangélicos. Capa A maior denominação evangélica do Brasil Assembleia de Deus — 100 anos
  • 22. 22 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 Da Suécia para os Estados Unidos e daí para o Brasil Gunnar Vingren e Daniel Berg nasceram em uma época difícil na história da Suécia. Entre 1867 e 1886, quase 450 mil suecos deixaram o país por causa da escassez de alimentos e de empregos. A maioria imigrou para o meio-oeste dos Estados Unidos. Era a chamada “febre dos Estados Unidos”. Embora a situação tivesse melhorado, Daniel Capa Gunnar Vingren e Daniel Berg os pioneiros das Assembleias de Deus no Brasil Daniel Berg e Gunnar Vingren viajou para lá em 1902, com 18 anos, e Gunnar, no ano seguinte, com 24. Os dois se conheceram em uma igreja sueca em Chicago, no ano de 1909, dez anos depois da morte do famoso evangelista Dwight L. Moody, que viveu naquela cidade. A essa altura, Gunnar já tinha feito teologia em um seminário batista sueco e pastoreava uma igreja em Menominee, no Michigan, e Daniel trabalhava em uma quitanda em Chicago. Em uma conferência realizada na Primeira Igreja Batista Sueca de Chicago, Gunnar passou pela experiência do chamado batismo com o Espírito Santo e falou em línguas. A partir daí, começou a pregar a doutrina pentecostal; porém, metade da igreja de Menominee não o quis mais como pastor. Assumiu, então, o pastorado de outra igreja batista sueca, dessa vez em South Bend, na fronteira de Indiana com Michigan, e a transformou em uma igreja pentecostal. Uma de suas ovelhas era Adolf Ulldin, que, pouco depois, anunciou-lhe o que ouvira da parte de Deus a respeito de seu ministério além-mar. Por inspiração do Espírito Santo, Daniel foi visitar Gunnar em South Bend e ali ouviu a mesma profecia, que também foi dirigida a ele. Em obediência à orientação recebida, ambos viajaram para Nova York e lá encontraram, de fato, o navio Clement, que sairia na data indicada por Adolf: 5 de novembro de 1910. Por falta de recursos, compraram uma passagem de terceira classe. Duas semanas depois, com miseráveis 90 dólares no bolso, desembarcaram em Belém do Pará, sem saber uma palavra em português e sem alguém para recebê-los no porto. Assim começou a obra das Assembleias de Deus no Brasil. Verão de janeiro a dezembro Enquanto as denominações protestantes históricas começaram seu trabalho na região Sudeste (congregacionais, presbiterianos, metodistas e salvacionistas), no Rio Grande do Sul (luteranos e episcopais) e na Bahia (batistas), a Assembleia de Deus começou no extremo Norte do país. Os missionários pioneiros eram todos suecos, ao contrário do que acontecia da Bahia para o Sul, onde quase todos eram americanos e britânicos. O Pará é 2,7 vezes maior que a Suécia, que tinha, na época, mais de 5,5 milhões de habitantes. Em vez das precisas quatro estações, com as quais estavam acostumados, Gunnar ArquivoCEMP/CPAD Inauguração do templo da Assembleia de Deus, em Belém, PA (1926) ArquivoCEMP/CPAD
  • 23. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 23 e Daniel encontraram aqui um verão contínuo. Na Suécia, eles adoravam participar da festa que celebrava a volta do verão, entre os dias 19 e 26 de junho, dançando a noite toda ao redor de mastros com enfeites coloridos. Os dois jovens missionários chegaram ao Pará exatamente quando começou o declínio da economia na Amazônia, devido à queda da produção de borracha, provocada pelos mercados asiáticos. Gunnar e Daniel eram muito diferentes no aspecto físico e nos dotes pessoais. Cinco anos mais jovem, Daniel tinha muita saúde e resistência física. Era “um ganhador de almas incomum”, como diz Geziel Gomes. Praticava com sucesso a colportagem (venda de Bíblias) e o evangelismo pessoal de casa em casa, quase de ilha em ilha, e “de enfermaria em enfermaria”, quando já tinha 78 anos e estava internado em um hospital na Suécia. Além da mala cheia de Bíblias e folhetos, carregava sempre o violão, ao som do qual cantava hinos em português e em sueco para evangelizar. Em compensação, Gunnar era mais preparado e se tornou, naturalmente, o líder do trabalho. Ele era quem mais pregava, quem mais batizava e quem ia consolidando e ampliando a obra com a organização de novos pontos de pregação e congregações. Morreu trinta anos antes de Daniel, quando faltava um mês e meio para completar 54 anos. “A mensagem completa do evangelho” Os missionários evangélicos do século 19 foram, em parte, beneficiados pela chamada pré-evangelização, realizada pela Igreja Católica Romana nos 300 anos anteriores à sua chegada ao Brasil (de 1549 a 1855). Os missionários pentecostais foram muito beneficiados pela evangelização realizada pelos missionários evangélicos nos 55 anos anteriores ao início de seu trabalho (de 1855 a 1910). Em alguns poucos casos, o trabalho das Assembleias de Deus começava com a pentecostalização de uma igreja evangélica já existente, como aconteceu com a Igreja Batista Sueca de South Bend, no início de 1910. Em outros casos, começava com alguns crentes que deixavam suas congregações de origem para abraçar a “novidade” pentecostal. Foi o que aconteceu em Belém do Pará e em muitos lugares por esse Brasil afora, especialmente nos primeiros anos. Todavia, a maior parte da membresia das Assembleias de Deus procedia das trevas da ignorância religiosa e das trevas do pecado e da incredulidade. Gunnar Vingren, Daniel Berg e a geração de pastores nacionais que surgiu com eles não anunciavam apenas Jesus. Pregavam “a salvação em Jesus e o batismo com o Espírito Santo”. Esta era “a mensagem completa do evangelho”. Tal pregação certamente encontrava guarida entre os cristãos que, à semelhança dos discípulos de Éfeso, nem sequer sabiam da existência do Espírito Santo (At 19.2), por culpa da omissão de seus pastores. Encontrava guarida também entre os cristãos cujos pastores atribuíam toda honra ao Espírito Santo sem, contudo, usar a nomenclatura teológica dos pentecostais. O folheto de 27 páginas de Raimundo Nobre Por certo período houve muito desgaste emocional e de tempo por causa do atrito entre as denominações plantadas na segunda metade do século 19 e as Assembleias de Deus. Houve atitudes precipitadas, exageros e falta de amor de ambas as partes. O encarregado da congregação batista de Belém, Raimundo Nobre, acolheu os dois suecos no porão de sua casa e permitiu a participação deles nos cultos, o que redundou na divisão da igreja. Aborrecido e preocupado com a situação, Raimundo escreveu um folheto de 27 páginas contra a pregação de Gunnar e Daniel, e mandou imprimir 20 mil exemplares, que foram enviados para as igrejas evangélicas de todo o Brasil. Gunnar ensinava que a prova do batismo com o Espírito Santo era falar em línguas. Anos depois, a declaração de fé oficial das Assembleias de Deus amenizou a questão, afirmando que falar em outras línguas conforme a vontade soberana de Deus é evidência do batismo com o Espírito. Da parte dos pentecostais, havia muita ênfase em línguas, revelações, curas e milagres. Daniel chamou de milagre o fato de um peixe ter pulado para dentro do barco quando os passageiros estavam com muita fome. Cem mil batizados em 36 anos A primeira igreja pentecostal foi organizada há exatos cem anos, em 18 de junho de 1911, seis meses depois da chegada dos dois suecos ao Pará, com o nome de Missão da Fé Apostólica, o mesmo nome dado por William Seymour à igreja da rua Azuza, em Chicago, cinco anos antes. O nome Assembleia de Deus foi adotado seis anos e meio depois, em janeiro de 1918. Nenhuma denominação evangélica experimentou um crescimento tão rápido e tão grande como as Assembleias de Deus. Nos quatro primeiros anos (1911-1914) houve 384 batismos “nas águas”. No final da primeira década, a nova denominação estava estabelecida em sete estados das regiões Norte (Pará e Amazonas) e Nordeste (Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas). Na década de 20, os assembleianos ocuparam os demais estados do Norte e Nordeste e começaram o trabalho nas regiões Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) e Sul (Paraná e Rio Grande do Sul). Em 33 anos de história (de 1911 a 1944), já estavam instalados em todos os estados da Federação. Na ocasião da 8ª Convenção Nacional das Assembleias de Deus, realizada em São Paulo, em 1947, o Brasil já era contado como o terceiro país em número de crentes pentecostais em todo o mundo, com 100 mil fiéis batizados.
  • 24. 24 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 Capa Pérolas pentecostais Deus chama quem quer, quando quer e como querMais do que nunca, o verdadeiro profeta de Deus nos nossos dias é aquele que faz o que Deus quer que seja feito. Owe Lindeskär, pastor da Igreja Filadélfia, em Estocolmo (1993) Há muitas igrejas novas que pensam que barulho produz poder, mas a Palavra de Deus nos ensina que é o poder de Deus que gera barulho. Humberto Schimitt, pastor da Assembleia de Deus de Porto Alegre (2001) O trem que está indo para a cidade celestial trafega sobre dois trilhos: o trilho de sangue [aquele que foi construído com o sacrifício de Jesus] e o trilho de fogo [aquele que foi construído no dia de Pentecostes]. Nils Kastberg, missionário sueco (1930) A igreja que pratica a cura divina tem de viver em maior consagração e santificação do que aquela que não a pratica. Frida Vingren, esposa de Gunnar Vingren (1930) Quantos pregadores mencionam ao pecador a cor e o perfume da rosa, mas se esquecem de avisá-lo dos espinhos. Paulo Leivas Macalão, presidente da Convenção Geral de 1937 (1930) O livro de Atos pode ser resumido em três palavras: ascensão, descensão e extensão do evangelho. Cristo subiu, o Espírito Santo desceu e nós propagamos o evangelho. Myer Pearlman, teólogo pentecostal e escritor de origem judaica (1932) Qualquer religião que nega a salvação do homem por meio do sangue de Jesus é uma religião falsa. Bernhard Johnson Jr., fundador da Escola Teológica das Assembleias de Deus (1970) Um grande vazio existe na vida da igreja e nas igrejas. Essa é a questão que não pode ser indefinidamente adiada. Tornou-se coisa comum lamentar a ausência e a ênfase acerca do Espírito Santo na teologia e na vida da igreja. Donald Gee, na abertura da Conferência Mundial Pentecostal, em Helsinque, Dinamarca (1965) O método audiovisual divino [“Vocês são o sal da terra” e “Vocês são a luz do mundo”] deve ser usado [na evangelização] para que os homens não somente ouçam, mas também vejam. Ângelo Estevam de Souza, líder da Assembleia de Deus em São Luiz do Maranhão (1981) O americano Ashbel era filho de médico. Os suecos Gunnar e Daniel eram filhos de sitiante e jardineiro, respectivamente. Os três nasceram em lares evangélicos e foram criados no temor do Senhor: Ashbel era presbiteriano; Gunnar e Daniel, batistas. A vida de Ashbel foi afetada por um avivamento re- ligioso ocorrido em Harrisburg, na Pensilvânia, na primeira metade de 1855; as vidas de Gunnar e Daniel, por um avivamento ocorrido em Chicago, por volta de 1909. Como consequência, os três se consagra- ram ao Senhor. O que chamou a atenção de Ashbel para missões transculturais foi um sermão de seu professor de teologia sistemática, Charles Hodge, pregado na capela do Seminário Teológico de Prince- ton, uma cidadezinha entre Nova York e Filadélfia, no estado de Nova Jersey, na primavera de 1855. Ashbel tinha então 22 anos. O que chamou a atenção de Gunnar e Daniel para missões transculturais foi uma profecia de um patrício e irmão na fé chamado Adolf Ulldin, proferida na cozinha da casa deste em South Bend, uma cidade no ex- tremo norte do estado de Indiana, no verão de 1910. Naquele ano, Gunnar tinha 31 anos e Daniel, 26. Os três eram solteiros e sentiram Caderno de música de Gunnar Vingren ArquivoCEMP/CPAD
  • 25. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 25 claramente o chamado de Deus para exercerem seus ministérios no Brasil. O que levou Ashbel a se decidir pelo Brasil foi o desafio a ele apresentado pelo secretário da Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbi- teriana dos Estados Unidos. O que levou Gunnar e Daniel a se decidirem pelo Brasil foram os detalhes da visão de Adolf Ulldin: Deus os estava chaman- do para um lugar, em alguma parte do globo, que se chamava Pará, de clima muito diferente, e a viagem seria em um navio que sairia de Nova York em 5 de novembro daquele ano. Depois de pesquisarem em uma biblioteca, os dois jovens suecos descobriram que o Pará era um estado do Norte do Brasil. Os três, ainda solteiros, vieram para o Brasil: Ashbel desembarcou no Rio de Janeiro em agosto de 1859; Gunnar e Daniel desem- barcaram em Belém do Pará, meio século depois, em novem- bro de 1910. Em obediência às indicações do Senhor, o ameri- cano Ashbel Green Simonton fundou a Igreja Presbiteriana do Brasil, e os suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg funda- ram as Assembleias de Deus no Brasil. Até hoje há quem julgue fantástico demais o chamado de Gunnar e Daniel. Entre estes estão os membros das denomi- nações históricas. Até hoje há quem julgue racional demais o chamado de Ashbel. Entre estes estão os membros das denomi- nações pentecostais. O certo, porém, é que Deus é soberano e fala “muitas vezes e de muitas maneiras” (Hb 1.1), até mesmo por meio de uma jumenta (Nm 22.28). O que se requer, em todos os casos, é a autentici- dade do processo, que o tempo se encarrega de mostrar, como explicou ao Sinédrio o sábio Gamaliel (At 5.33-39). O “colégio de Jesus” e a educação teológica das Assembleias de Deus N ão foi fácil mudar a mentali- dade das Assembleias de Deus quanto ao preparo formal de seus pastores e líderes. Em uma reunião realizada na Assembleia de Deus em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em maio de 1943, com a presença de 93 obreiros, o missionário Lawrence Olson propôs a abertura de institutos bíblicos, escolas teológicas e seminários pelo país. Paulo Leiva Macalão, pastor da Assembleia de Deus em Madureira, afirmou que seria perigoso investir na educação teoló- gica do obreiro. Segundo ele, a muita sabedoria, o muito estudo e o intelectu- alismo poderiam esfriar espiritualmente a alma. Cinco anos depois, na Convenção Geral de 1948, realizada em Natal, RN, o assunto voltou ao plenário e encon- trou várias objeções. Para Francisco Pereira, “um instituto bíblico é uma fá- brica de pregadores, sendo que, segundo Efésios 4.11, o ministério é dado pelo Senhor”. O pastor Eugênio Pires argu- mentou: “Temos uma escola, a de Jesus, que não pode nem deve ser orientada por determinada pessoa”. O missionário sueco Gustavo Nordlund aproveitou a ocasião para afirmar que não sentia falta de um seminário por causa do “colé- gio de Jesus”, onde começou e ainda permanecia. Passados 18 anos, na Convenção Geral de 1966, realizada em Santo André, SP, o pastor João Pereira de Andrade e Silva declarou que “o melhor educandário é o colégio do Espírito Santo”. O pastor Anselmo Silvestre, de Belo Horizonte, reafirmou que em um seminário os candidatos correm o risco de ficarem com a cabeça cheia e o coração vazio. O último a falar foi o pastor Antônio Petronilo dos Santos: “Os institutos bíblicos desejam realizar um trabalho psicológico nas Assembleias de Deus no Brasil”. Petronilo afirmou ainda que eles são desnecessários, pois, “nestes 55 anos, as Assembleias de Deus no Brasil cresceram imensamente sem o concurso dos institutos bíblicos”. Foi o missionário sueco Gustav Bergström, naturalizado americano que, na Convenção Geral de 1937, pediu a criação de uma escola bíblica anual, com duração de pelo menos dois meses, para todos os obreiros e aspirantes ao minis- tério. Uma delas só aconteceu oito anos mais tarde, em Belém do Pará, com 101 alunos. Essas escolas foram os primeiros seminários teológicos pentecostais infor- mais com cursos de curta duração. Mais tarde, começaram a surgir outros em todo o país. O mais antigo é o Instituto Bíblico das Assembleias de Deus (IBAD), em Pindamonhangaba, SP, fundado em 1958, que já formou mais de 5 mil alunos e alunas. O Insti- tuto Bíblico das Assembleias de Deus no Amazonas (IBADAM), com sede em Manaus, e a Escola de Educação Teoló- gica das Assembleias de Deus (EETAD), em Campinas, SP, foram fundados em 1979. O primeiro já formou mais de 1.500 alunos, e o segundo, mais de 40 mil (graças ao programa de educação por extensão e à distância, com quatrocentos núcleos espalhados pelo Brasil e outros dez países). O campus da EETAD ocupa uma área de 53 mil metros quadrados. Em junho de 1989, surgiu a Escola de Missões da Assembleia de Deus no Brasil (EMAD), hoje sediada em Campo Lim- po Paulista, SP.
  • 26. 26 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 Capa Questões éticas sob o ponto de vista assembleiano Em agosto de 1999, líderes assembleianos de todas as regiões do país reuniram-se no Rio de Janeiro para discutir o posicionamento das Assembleias de Deus no Brasil frente a certas questões difíceis e polêmicas. As resoluções a seguir foram acatadas pela Convenção Geral e publicadas no jornal Mensageiro da Paz e na revista Obreiro. Aborto Foram rechaçadas as interrupções de gestação por motivos egoístas ou razões eugênicas. O aborto provocado é crime, pois a vítima não pode defender-se. Ele não seria configurado como transgressão à Palavra de Deus em três casos: por motivos naturais, acidentais ou terapêuticos (para salvar a vida da mãe). Homossexualismo Tanto o homossexualismo masculino quanto o feminino são abominação ao Senhor. Hermafroditismo Embora não exista na Bíblia nenhum caso semelhante e em nossos dias haja poucos portadores desse distúrbio (uma anomalia genética que dota uma pessoa de órgãos sexuais masculino e feminino simultaneamente), não há nenhum problema para a igreja em receber pessoas nessas condições: pelo contrário, deve- se incentivar o tratamento para a definição do sexo predominante. Luta armada Segundo a Bíblia, não constitui pecado o cristão participar de uma guerra servindo nas Forças Armadas de seu país. Porém, se for o caso de uma guerra injusta, as opiniões se dividem. Eutanásia Essa prática é pecado, pois o dever do cristão é amenizar o sofrimento e não deixar a cargo dos médicos a responsabilidade de decidir sobre a vida ou a morte de uma pessoa. Deve-se empregar esforços para preservar a vida, mesmo que seja a de um moribundo. Deus não ouviu as orações de Elias e Jonas, quando eles lhe pediram a morte. Pena de morte O Novo Testamento concede ao Estado o direito de estabelecer a pena capital. Neste caso, ela não pode ser considerada pecado, desde que seja feita a justiça. Todavia, a prática da pena de morte não é o melhor meio punitivo, nem uma medida essencial ao cristianismo. O ideal seria que as igrejas se pronunciassem não favoráveis à pena capital. Em casos de crime hediondo, a prisão perpétua seria mais indicada. Homossexualismo Tanto o homossexualismo masculino quanto o feminino são abominação ao
  • 27. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 27 O crescimento assombroso das Assembleias de Deus no Brasil e suas possíveis razões As Assembleias de Deus crescem por causa da importância dada à pessoa e à obra do Espírito Santo. Seus membros levam a sério o revestimento com o poder sobrenatural do Espírito para testemunhar e realizar o trabalho do Senhor, como Jesus mesmo ordenou (Lc 24.49; At 1.4-5). “O Espírito Santo é a razão do avanço da igreja”, lembrou José Wellington Bezerra da Costa, na abertura da Convenção Geral de janeiro de 2003, no Estádio Rei Pelé, em Maceió, AL. Porém, pode acontecer, às vezes, de os assembleianos se lembrarem mais do batismo do que da plenitude do Espírito, mais do poder do que do fruto do Espírito. (Ver O poder para a missão, de René Padilla, pág. 40) As Assembleias de Deus crescem por causa do seu ardor evangelístico. A evangelização faz parte da cultura assembleiana. Na Convenção Geral de 1981, realizada no Estádio Felippe Drummond (conhecido como “Mineirinho”), em Belo Horizonte, MG, o missionário Bernhard Johnson declarou que as maiores necessidades das Assembleias de Deus no Brasil são “preservar a agressividade evangelística que as tem caracterizado e preservar a doutrina”. O mesmo disse Alcebíades Pereira Vasconcelos, de Manaus, AM: “Mais do que nunca, a Assembleia de Deus precisa arrepender-se e, ajoelhada, confessar a Deus o seu pecado de omissão evangelística”. Na mesma oportunidade, o missionário John Peter Kolenda lembrou que o alvo de qualquer despertamento religioso é a evangelização e aproveitou para dar uma alfinetada: “Quando estamos preocupados com a evangelização, não se oferecem tantas oportunidades para a contenda”. As Assembleias de Deus crescem por causa da oração. Para ganhar 50 milhões de almas para Cristo, preparar 100 mil novos obreiros e estabelecer 50 mil novas igrejas na chamada “década da colheita”, foi necessário “levantar um exército de 3 milhões de intercessores”, conforme foi dito na Convenção de 1990. A prática da oração é outro ponto forte entre os assembleianos. Em 1943, houve um forte apelo para as igrejas começarem a orar todos os dias, pela manhã, das 4 às 5 horas e das 5 às 6 horas, em favor de um avivamento no país. Nesse mesmo ano lançou-se o Círculo de Oração, uma reunião de oração semanal que começava de manhã e durava até às 16 horas. Depois de algumas décadas, o Círculo de Oração passou a ser uma atividade mais desenvolvida pelas mulheres, em um dia útil da semana, à tarde. As Assembleias de Deus crescem porque começaram com missionários pobres (imigrantes suecos nos Estados Unidos) e se infiltraram nas camadas mais desfavorecidas do país. Seus obreiros sabem falar a linguagem dos pobres e oferecem não só salvação para a alma, mas também esperança de cura para o corpo. Chamam a atenção para o sobrenatural (o fenômeno de línguas estranhas, a expulsão de demônios, o dom de profecia e os possíveis milagres de cura). As classes sociais que eles atingem têm menos resistência ao evangelho, menos satisfações a dar, menos distrações para tomar o tempo da religião. Além de tudo, elas acreditam fervorosamente na existência de Deus e enxergam com mais facilidade suas próprias carências pessoais e familiares, sociais e afetivas. Pelo menos era assim até pouco tempo. O país deve às Assembleias de Deus e a várias outras igrejas evangélicas a diminuição do analfabetismo e a recuperação de marginais. NhandejaraAguiar Igreja Assembleia de Deus em Belém, PA
  • 28. 28 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 Capa Os assembleianos não podem sobrecarregar demais e os outros não podem aliviar demais N o dia 4 de junho de 1946, há exatamente 65 anos, a Assembleia de Deus em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, no que diz respeito aos usos e costu- mes, resolveu, por unanimidade, entre outras coisas, o seguinte: 1. Não será permitida a nenhu- ma irmã membro dessa igreja fazer sobrancelha, usar cabelo solto, cortado, tingido, com permanente ou outras extrava- gâncias de penteado, conforme usa o mundo; que se penteiem simplesmente como convém às que professam a Cristo como Salvador e Rei. 2. Os vestidos devem ser suficien- temente compridos para cobrir o corpo com todo o pudor e modéstia, sem decotes exage- rados; e as mangas devem ser compridas. 3. Recomenda-se às irmãs que usem meias, especialmente as esposas dos pastores, anciãos, diáconos, professores de escola dominical, e as que cantam no coro ou tocam. 4. As irmãs [da sede e das con- gregações a ela filiadas] que não obedecerem ao que acima foi exposto serão desligadas da comunhão por um período de três meses. Terminado este prazo, e não havendo obedeci- do à resolução da igreja, serão cortadas definitivamente por pecado de rebelião. 5. Nenhuma irmã será acei- ta em comunhão se não obedecer a estas regras de boa moral, separação do mundo e uma vida santa com Jesus. Essas regras de comportamento, exclusivamente femininas, lidas quatro meses depois na convenção geral daquele ano, causou estranheza e desconforto. Soube-se mais tarde que as resoluções da igreja em São Cristóvão foram influenciadas pelas críticas que ela recebeu da Assembleia de Deus de Madureira, também no Rio de Janeiro. Naquela época, os crentes de Madureira, que já observavam todas as regras, consideravam as irmãs de São Cristóvão muito “liberais” em sua forma de se vestir e se pentear. Além do mais, a igreja de São Cristóvão havia sido pastoreada por dois missionários suecos (Gunnar Vingren e Otto Nelson), tidos como os mais rígidos em matéria de vestimentas. Quase 30 anos depois, a Conven- ção Geral de 1975 aprovou, também por unanimidade, que todas as igrejas do país a ela filiadas se abstenham do seguinte: 1. Uso de cabelo comprido pelos membros do sexo masculino. 2. Uso de traje masculino por parte dos membros ou congregados do sexo feminino. 3. Uso de pintura nos olhos, unhas e na face. 4. Corte de cabelo por parte das irmãs (membros ou congregados). 5. Sobrancelhas alteradas. 6. Uso de minissaias e outras roupas contrárias ao bom testemunho de vida cristã. Na mesma oportunidade, a conferência desaconselhou o uso de aparelho de televisão, “tendo em vista a má qualidade da maioria dos progra- mas”, e de bebidas alcoólicas. Desde o princípio houve regras quanto aos costumes nas Assembleias de Deus, mas elas nunca haviam sido colocadas de forma oficial. Segundo o presidente da convenção, havia “a necessidade de mantermos de pé não somente nossas doutrinas, mas também os costumes usados em nossas igrejas sobre vestuário”. Na abertura da Convenção de 1993, o presidente José Wellington Bezerra da Costa conclamou a todos “para que fechassem as portas para os costumes malévolos que, sutilmente, introduzem o mundo, a carne e o pecado na Igreja do Senhor”. Na mesma assembleia, o pastor da Assembleia de Deus de São Luís do Maranhão chamou a atenção dos convencionais para que retornassem ao “velho método”, considerado por muitos ultrapassado, porém usado pelo Espírito Santo na igreja primitiva, com resultados surpreendentes. Dois anos depois, na Convenção de 1995, o pas- tor de Indaiatuba, SP, chegou a propor a exclusão de todos os pastores e igrejas consideradas “liberais”, e que só ficas- sem os considerados “conservadores”. Em agosto de 1999, o 5° Encontro de Líderes das Assembleias de Deus (ELAD), realizado na sede da Conven- ção Geral, no Rio de Janeiro, discutiu o posicionamento da denominação em relação aos costumes e a outras ques- tões. O grande trunfo dessa reunião foi mostrar a diferença entre doutrina e costumes:
  • 29. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 29 “Eu sou de São Cristóvão” e “Eu sou de Madureira” Quanto à origem, a doutrina é divina e o costume é humano. Quanto ao alcance, a doutrina é geral e o costume é local. Quanto ao tempo, a doutrina é imutável e o costume é temporário. A dou- trina bíblica gera bons costumes, mas bons costumes não geram doutrina bíblica. Igrejas há que têm um somatório imenso de bons costumes, mas quase nada de doutrina. Isso é muito peri- goso! Seus membros naufragam com facilidade por não terem o lastro espiritual da Palavra. Esse mesmo documento lembra que “doutrina é o ensino bíblico normativo, terminan- te, final, derivado das Sagradas Escrituras como regra de fé e prática da vida para a igreja e seus membros”. Os costumes, por sua vez, “são em si sociais, humanos, regionais e temporais, porque ocorrem na esfera humana, sendo inúmeros deles gerados ou influenciados pelas etnias, etariedade, tradições, crendices, individualismo, humanismo, estrangeirismo e ignorância”. Segundo Paulo Romeiro, pastor assembleiano ordenado nos Estados Unidos em 1984, “os usos e costumes não estão mortos. Há muitos pastores, obreiros e igrejas que lutam para mantê- -los, enquanto outros lutam para bani-los”. Os assembleianos não podem sobrecarregar seus adeptos colo- cando sobre eles regras concernen- tes aos usos e costumes. Os outros cristãos, por sua vez, não podem abrir mão das coisas essenciais. A essa conclusão chegaram os apóstolos e presbíteros do famoso concílio de Jerusalém (At 15.1-21). Porém, tanto uns como outros só terão sucesso verdadeiro se apelarem para a renovação interior provocada pela santificação progressiva, e não por força da lei. (Veja Mulheres bonitas, pág. 14) H á quase 40 anos alguém gritou que as Assembleias de Deus no Brasil corriam perigo e que esse risco deveria ser proclamado. Por causa dele, os servos de Deus, em vez de toscanejar, deveriam se precaver e se colocar em prontidão. O alerta foi dado no Mensageiro da Paz, órgão oficial da denominação, em janeiro de 1973, por João Pereira de Andrade e Silva, duas vezes diretor da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD). Na época, a preocupação era com os ventos de doutrina, as inovações diversas, a aceitação de costumes que “não nos são lícitos”, a falta de santidade etc. João Pereira dizia que o perigo estava às portas. E estava mesmo. Ele era e é o mesmo que rondava a igreja de Corinto: a grande quantidade de partidos dentro da comunidade. Provavelmente, o pastor John Phillip, preletor inglês especialmente convidado para pregar durante a Convenção Geral de 1981 — no Estádio Jornalista Felipe Drummond (conhecido por “Mineirinho”), em Belo Horizonte, MG —, pressentiu o problema. Na abertura da reunião, ele abordou o assunto A liderança segundo o conceito bíblico e baseou- se exatamente no terceiro capítulo da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios. Phillip referiu-se aos partidos existentes naquela igreja: o grupo fundador (“Eu sou de Paulo”), o grupo intelectual (“Eu sou de Apolo”), o grupo tradicionalista (“Eu sou de Pedro”) e o grupo dos falsamente piedosos (“Eu sou de Cristo”). O pregador visitante terminou sua mensagem assim: “Tanto o grande Paulo como o eloquente Apolo não passavam de dois jardineiros. Tudo o que você pode ter é um pedaço de pau para furar o chão e nele plantar a semente, ou um balde d’água com que regar as plantas. Nada mais. De fato, nós mesmos nada somos. Por isso precisamos uns dos outros. De nada adianta plantar, se não houver quem regue. De nada vale regar, se ninguém plantou. Somos, isto sim, cooperadores. Juntos formamos uma grande unidade com Deus”. As palavras de João Pereira e de John Phillip foram proféticas, tanto para ontem como para hoje. Antes, o atrito era entre os megaministérios: “Eu sou de São Cristóvão”, “Eu sou de Madureira”, “Eu sou de Belém”, “Eu sou do Brás”. Hoje, ele é personalizado: “Eu sou de José Wellington”, “Eu sou de Manoel Ferreira”, “Eu sou de Samuel Câmara”, “Eu sou de Silas Malafaia”. Antes, era dentro das quatro paredes da denominação. Hoje, é público (usam-se inclusive os programas evangélicos de televisão). Em sã consciência, nenhum asssembleiano tem condições de repetir o que John Phillip disse há trinta anos no Mineirinho: Placa de sinalização turística alusiva ao centenário das Assembleias de Deus no Brasil NhandejaraAguiar NeiNeves Centro de Convenções Centenário
  • 30. 30 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 Capa “Juntos formamos uma grande unidade com Deus”. Nesses 100 anos de história, a unidade sempre foi difícil nas Assembleias de Deus (bem como em outras denominações). De vez em quando, havia um clamor em favor da unidade, como o do pastor Altomires Sotero da Cunha, que, na Convenção Geral de 1971, propôs que a liderança de Madureira visitasse a igreja de São Cristóvão e vice-versa, “para selar a paz”, o que de fato aconteceu. Nessa ocasião, “houve perdão e abraços e muita alegria”. Contudo, 18 anos depois, em setembro de 1989, aconteceu a maior e mais importante divisão das Assembleias de Deus no Brasil, com o desligamento do Ministério de Madureira e suas convenções. É consenso que as divisões assembleianas nunca aconteceram por questões doutrinárias, mas por disputas de campos territoriais ou por cargos. Essa é a opinião de Paulo Romeiro, que desenvolve uma pesquisa sobre os movimentos pentecostais brasileiros para a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Segundo o assembleiano Gedeon Freire de Alencar, diretor pedagógico do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos e doutorando em ciências da religião (PUC-SP), “uma igreja que nunca teve uma direção nacional instituída, abriu espaço para figuras isoladas se fortalecerem”1 . O problema é complexo e pecaminoso, porque envolve uma rivalidade entre os megaministérios e seus pastores presidentes. Os chamados “ministérios” são como As Assembleias de Deus não aceitam a teologia da prosperidade D ois anos antes da organização da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e por ocasião da Conven- ção Geral das Assembleias de Deus de 1975, o pastor Francisco Assis Gomes declarou que era “necessário ter muito cuidado com certos grupos pentecostais, por causa das doutrinas que anunciam”. Foi uma palavra oportuna, pois uma dessas doutrinas ina- ceitáveis é a teologia da prosperidade, que tomou conta de todas as igrejas neopente- costais do país. A esse propósito, Ultimato perguntou a Paulo Romeiro, autor do livro Supercrentes; o evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade, diretor da Agência de Informações Religiosas (AGIR) e professor do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, se as Assembleias de Deus, eventualmente, poderiam fazer alguma abertura para a teologia da prosperidade. Obtivemos a seguinte resposta: Embora as Assembleias de Deus sejam oficialmente contra a teologia da prosperi- dade, não conseguem barrar, totalmente, a influência dessa vertente doutrinária no seu bojo. Por ser muito grande e pela grande difusão da teologia da prosperidade na mídia evangélica, torna-se difícil filtrar tudo o que passa pelos púlpitos de suas igrejas e pelas suas publicações. Já existem pregado- res assembleianos que estão constantemente usando na televisão os jargões da teologia da prosperidade, tais como “eu profetizo”, “eu declaro”, “eu determino”, “eu decreto”, “eu sou profeta de Deus para a sua vida” etc. Muitas de suas pregações são mensagens motivacionais ou de autoajuda. Como já ex- pus, o gigantismo da denominação dificulta o patrulhamento doutrinário em todas as esferas de sua atuação. denominações dentro de uma mesma denominação. Em junho, duas comemorações separadas do centenário foram realizadas na mesma cidade, onde tudo começou, Belém do Pará: uma no dia 10, no Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, e a outra no dia 16, no Estádio Olímpico do Pará (Mangueirão). Na primeira comemoração, presidida por José Wellington Bezerra, a tensão diminuiu com a presença de Samuel Câmara, pastor da Assembleia de Deus de Belém. Na segunda, presidida por Samuel Câmara, ela foi de igual modo reduzida pela presença de José Wellington. A reconciliação dos diferentes grupos pode ser difícil. Porém, de acordo com Alfredo Borges, “quando Deus exige do homem coisas que ele [com suas próprias forças] não poder fazer sem uma graça especial, ele mesmo, junto com a ordem providencia ao mesmo tempo essa graça”.2 Em meio ao barulho das comemorações, seria bom ouvir o apelo de Paulo endereçado a duas ovelhas na mesma situação dos assembleianos: “E agora eu quero suplicar àquelas duas estimadas senhoras, Evódia e Síntique: “Por favor, com a ajuda do Senhor, vivam em harmonia” (Fp 2.2, BV). (Veja Vocês são irmãos e não deviam estar brigando, pág. 16) Notas 1. ALENCAR, Gedeon Freire. Assembleias de Deus; origem, implantação e militância (1911-1946). São Paulo: Arte Editorial. p. 131. 2. TEIXEIRA, Alfredo Borges. Meditações cristãs. São Paulo: Editora Metodista, 1967. p. 187. NhandejaraAguiar 1988 – ano de inauguração do templo da Assembleia de Deus em Belém, PA
  • 31. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 31
  • 32. 32 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 feita”. Todos os que estão no inferno foi porque o escolheram. Sem essa autoescolha não haveria inferno. Alma alguma que desejar sincera e constantemente a alegria irá perdê- la. Os que buscam encontram. Para aqueles que batem, a porta é aberta. Jesus afirma na conclusão do sermão que “nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (v. 21). Existe uma diferença entre os sinais do poder e da ação de Deus e os sinais de que pertencemos a ele. Deus pode expulsar demônios usando qualquer pessoa. Os milagres são sinais do poder de Deus, não de que pertencemos a ele. Os sinais de nosso pertencimento são os frutos da obediência, do praticar aquilo que Jesus ensinou. São estes os frutos que Jesus espera encontrar naqueles que dizem: Senhor, Senhor! Fé em Jesus não é fé real enquanto não fazemos o que ele nos manda fazer. Nosso problema com o Sermão do Monte é mais com aquele que ensina do que com o ensino em si. Confiamos neste Senhor? Cremos que ele é bom? Estamos seguros de que ele realmente sabe o que necessitamos? Se não confiamos nele, vamos achar suas palavras bonitas de se ouvir e boas para se falar — mas não reais para se viver. O julgamento para aqueles crentes que ouvem, mas não praticam, será a ausência da comunhão divina: “Nunca vos conheci”. Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de Janelas para a Vida e O Caminho do Coração. caminho largo é o imposto. Chega a nós pela imposição da maioria, da propaganda, daqueles que não suportam seguir sozinhos pelo caminho da perdição e da destruição. O caminho largo não é congruente com aquilo que fomos criados para ser. O caminho estreito é o do reino preparado para nós antes da fundação do mundo. Jesus não diz que quem não andar pelo caminho estreito será punido. É o próprio caminho largo que nos conduz à morte. Seguir pelo caminho largo ou procurar entrar pelo estreito é uma escolha que fazemos. O caminho estreito envolve o ouvir e o fazer. Na parábola dos dois construtores, a diferença não está no ouvir — ambos ouviram. A diferença está no fazer. Existem duas opções: ouvir as palavras de Jesus e não praticá-las ou ouvi-las e praticá-las. A casa que cai é composta por crentes que consideram as palavras de Jesus bonitas para se ouvir, boas para se falar e ensinar, mas irreais para serem praticadas. Como diz C. S. Lewis em O Grande Abismo: Só há duas espécies de pessoas no final: as que dizem a Deus: “Seja feita a tua vontade”, e aqueles a quem Deus diz: “A tua vontade seja O CAMINHO DO CORAçãO Ricardo Barbosa A casa que cai é composta por crentes que consideram as palavras de Jesus bonitas para se ouvir, boas para se falar e ensinar, mas irreais para serem praticadas M uitos gostariam que o Sermão do Monte terminasse com a conhecida “lei áurea” — “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas” (Mt 7.12). E o mais famoso sermão de Jesus terminaria com um bom resumo de tudo o que ele havia acabado de ensinar. Porém, Mateus não termina assim. Ele segue com uma recomendação e conclui com uma pequena parábola, na qual Jesus deixa claro o que ele espera dos seus ouvintes. Uma forma de entender a conclusão desse sermão são os pronomes: “nem todo o que me diz”, “aquele que faz a vontade do meu Pai”, “hão de dizer-me”, “apartai-vos de mim”, “ouve as minhas palavras”. Eles nos levam a considerar quem ensina, e não apenas o que se ensina. São essas palavras que formarão o texto que definirá o julgamento, que terá como fundamento o que as pessoas fizeram com suas palavras. Jesus começa sua recomendação dizendo: “Entrai pela porta estreita” (v. 13). Não é simplesmente um convite, mas um imperativo. No final do sermão, Jesus afirma que existem duas portas e dois caminhos. Um deles leva à morte; o outro, à vida. Jesus reconhece, com tristeza, que são poucos os que entram pelo caminho estreito (v. 14). O caminho estreito é o herdado. É o caminho da criação, da redenção, o caminho de Jesus. Não é algo imposto a nós, é o caminho que Jesus trilhou e que agora nos convida a trilhar. O Não basta dizer, é preciso fazer
  • 33. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 33
  • 34. 34 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 fizemos ainda muito progresso quanto a nossa linguagem. As tribos ainda são “primitivas”, a África é uma ferida sangrenta, muçulmanos são mouros terroristas e a China é o gigante desajeitado que inspira desconfiança. Mesmo que alguns possam argumentar que os estereótipos tenham algo de verdade, quando cremos no reino concordamos com a imago Dei. A imagem de Deus nas pessoas e nos povos tem que ser o pressuposto que usamos para vê-los. E deve ser mais forte do que as concepções terrenas. Quando preconceitos nos guiam, esperamos o pior, duvidamos, superprotegemos. Se entendermos o valor e a capacidade conferida pela imago Dei, seremos levados a outro nível de relacionamento. Esperar o sonho de Deus ser expresso nas pessoas e nos povos nos conduz ao respeito, à mutualidade, a parcerias verdadeiras, ao reino. Lembro-me de um pastor amigo me dizendo que a maior parte das cartas missionárias que recebia poderia ser intitulada “Meu sofrimento”. Para fazer minha luz brilhar mais forte, pinto as trevas ao meu redor mais É a apoteose da conferência missionária. O público é internacional. Delegados de todos os continentes da Terra estão presentes, adorando a Deus a plenos pulmões. Estou sentada ao lado de um casal africano bem vestido, com turbantes e bijuterias artesanais. Estamos unidos e temos uma emoção de reino, de estarmos cumprindo o plano de Deus para a humanidade. As culturas diferentes são uma bênção para o reino, não um tropeço. Os povos do mundo se completam na sua diversidade. Estamos diante do trono. O louvor termina e nos sentamos. Começa um filme para a promoção de um ministério de misericórdia na África. Em alta definição desfilam crianças com costelas expostas, mães com seios vazios, miséria, fome, doenças, falta de esperança, vergonha. Abaixo minha cabeça. Não consigo mais olhar nos olhos dos africanos ao meu lado. A sensação de igualdade do reino se foi. Tudo o que sobra são os ricos e os pobres, os escolhidos e os não-escolhidos, os que podem dar e os que só recebem de cabeça baixa. Na hora da oração pergunto ao casal: — Como vocês se sentem depois disto? A mulher me responde: — Infelizmente, para sobreviver, me acostumei... Alguns anos já se passaram. Muitas missões já mudaram seu paradigma de “países receptores e países enviadores” para “todos em todo lugar”. Porém não densas. “Admire quão santo sou à luz de quão terrível este povo é”. Esse é um hábito comum desde o missionário que descreve a comida horrível e exótica que comeu entre os selvagens até o pastor que enfatiza o testemunho de pecado das ovelhas antes de se juntarem à sua maravilhosa igreja. Jesus não era assim. Ele encontrava beleza, fé e generosidade onde aparentemente não havia nenhuma. Ele louvou os fariseus na frente dos judeus que os desprezavam, honrou mulheres diante de homens que não lhes davam valor, contou a história do publicano que alcançou perdão em contraposição ao religioso que não o obteve, se gabou da fé do centurião, o epítome do anti- Deus para o judeu de sua época. O povo-alvo para Jesus era honrado, cheio de fé, corajoso e honesto. Jesus trabalhou para gerar entre as pessoas respeito e apreciação mútua. Como mudar o hábito de usar essa linguagem missionária baseada em preconceitos e que não promove o reino? A regra continua sendo a mesma proposta por Jesus: “O que você não quer que seja feito a você, não faça aos outros”. Se você não quer que seu país seja referência de malandragem, promiscuidade sexual e corrupção política, então não estereotipe o país, a cultura, o comportamento moral e a economia de seu próximo (Fp 4.8). Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta anos. Hoje mora em Kailua-Kona, no Havaí, com sua família e está envolvida em projetos internacionais de desenvolvimento na Ásia. É autora de Chamado Radical. braulia_ribeiro@yahoo.com A linguagem de missões que prejudica o Reino Bráulia RibeiroDA LINHA DE FRENTE A imagem de Deus nas pessoas e nos povos tem que ser o pressuposto que usamos para vê-los
  • 35. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 35
  • 36. 36 ULTIMATO I Julho-Agosto, 2011 Ainda sem cuidar MEIO AMBIENTE E fé cristã Marina Silva Na maior parte do Brasil o mesmo modelo de cultivo da terra vem sendo usado desde o descobrimento. São 500 anos de uma tecnologia muito baixa, que significa a derrubada, a queima e a exploração até que o solo se esgote. Esse modelo tem se agravado devido à contaminação das águas com agrotó- xicos e às emissões de gases de efeito estufa. A remoção de vegetação das encos- tas, topo de morros e margens de rios é feita sem nenhum senso de prote- ção. O resultado são rios assoreados, encostas que desabam sobre casas, plantações e estradas, e muitas vidas perdidas a cada ano. Além da alteração no regime das chuvas, pois as florestas têm um papel fundamental no equilí- brio climático. O Código Florestal não diz respeito apenas às áreas rurais. Há áreas de pro- teção permanente (APPs) também em regiões urbanas. Ainda temos na me- mória as cenas de destruição e dor do deslizamento do Morro do Bumba, em Niterói, e da pousada em Angra dos Reis, ou das enchentes em São Paulo, onde as calhas dos rios imprensadas por construções em local inadequado transbordaram e trouxeram tantas perdas para quem já tem tão pouco. Se o texto aprovado na Câmara, que seguiu para debate no Senado, ficar como está, vai permitir que toda essa situação se agrave muito. O proje- to anistia quem desmatou ilegalmente as áreas de florestas que deveriam, pela sua importância ecológica para toda a sociedade, ser preservadas. Beneficia especialmente os grandes produtores, desobrigando-os da recomposição da reserva legal e da APP, e cria condições E stamos vivendo um momento importante na história de nosso país. Uma das principais leis de nosso ordenamento jurídico, o Código Florestal, está em discussão no Congresso Nacional. Este momento enseja a expressão de cosmovisões de todos os envolvidos no debate e é impressionante o que vem à luz. Embora esteja claro em Gênesis 2.15 que o ser humano foi autorizado a lavrar e cuidar do jardim onde foi posto, em geral só se dá ouvidos para o lavrar. É como se fosse uma herança cultural pela metade. Desenvolvemos o domínio sem o cuidado. para que novos desmatamentos possam acontecer e sejam legalizados. Com isso, todos os esforços feitos pelo poder público e pela sociedade para barrar a destruição de nossos ecossistemas natu- rais caem por terra. Esse retrocesso está camuflado no texto, em uma redação capciosa, de modo que somente advo- gados especialistas na questão ambiental conseguem compreender o verdadeiro objetivo da lei, que é isentar o setor rural e outros setores econômicos da obrigação constitucional de preservar o meio ambiente e conservar nossas flo- restas para as atuais e futuras gerações. Há parlamentares que não comun- gam da cosmovisão cristã, no entanto orientaram seu voto pelo princípio de usar com cuidado. Causa estranheza que aqueles que creem no dever de respeitar a terra porque ela perten- ce a Deus — como está escrito em Levítico 25.23 — tenham, com poucas exceções, votado sim a esse texto, que é alinhado com os interesses de setores re- sistentes a entender que sem a proteção do meio ambiente não haverá futuro para o Brasil. A Câmara dos Deputados votou essa importante lei sem a dimensão do cuidado, fazendo o país retroagir ao modelo agrícola do século 19, quando tínhamos pouca informação científica sobre o regime das águas, as necessida- des do solo, a engenharia das chuvas, os efeitos dos gases poluentes no clima. Tomara que o tempo de discussão no Senado possa recolocar nosso país no século 21 e que a voz do Senhor seja ouvida na terra. Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV/AC. Causa estranheza que aqueles que creem no dever de respeitar a terra porque ela pertence a Deus tenham votado sim ao Código Florestal LizValente
  • 37. Julho-Agosto, 2011 I ULTIMATO 37