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CAPÍTULO 1 1
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CAPÍTULO
1
“Não temos de nos preocupar em viver longos anos, mas em vivê-los
satisfatoriamente; porque viver longo tempo depende do destino, viver
o domínio de si mesmo depende da tua alma. A vida é longa quando é
plena; e se faz plena quando a alma recuperou a posse de seu próprio
bem e transferiu para si o domínio de si mesma.”
Sêneca, Cartas a Lucílio
INTRODUÇÃO
Um dos fenômenos de maior impacto no início deste novo século é o do envelhecimento da
população mundial, uma vez que no século passado consolidou-se uma tendência que vem se
mostrando ininterrupta e que constitui o aumento de esperança de vida ao nascer do homem,
observado não só nos países desenvolvidos como também naqueles em desenvolvimento.
Esse envelhecimento populacional resulta de um processo gradual de transição demográfica
que, independentemente de estar ocorrendo em países ricos ou naqueles tidos como pobres, modifica
a idade de morrer, e um número maior de pessoas é acometido por uma incidência elevada de doen-
ças crônico-degenerativas e incapacitantes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que em
2020 três quartos de todas as mortes observadas nos países em desenvolvimento estarão relaciona-
das ao processo de envelhecimento, como câncer, doenças do aparelho circulatório e diabetes.
Assim, há necessidade de procurar conhecer e desenvolver todas as alternativas possíveis e
válidas não só para prevenir, como também para retardar o aparecimento das doenças crônicas e os
conseqüentes agravos causados por elas. A discussão que tem havido, em todo o mundo, quanto à
compressão da morbidade e um conseqüente envelhecimento sem maiores incapacidades, apesar
de sua ocorrência ser verificada nos países ricos, não pode ser integralmente aceita como verda-
deira em países que ainda não concluíram a sua transição demográfico-epidemiológica e ainda
convivem com disparidades sociais evidentes.
As múltiplas facetas que caracterizam o processo do envelhecimento humano exigem que a
abordagem e a busca do conceito de saúde definido como o estado de completo bem-estar físico,
mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade, amplamente difundido
pela OMS a partir de 1947, e retomado e ampliado a partir da sua histórica Conferência Internacio-
nal sobre Cuidados Primários de Saúde de 1978, incorpore não somente o controle das doenças,
mas, e principalmente, o conceito de promoção de saúde. Nessa Conferência, que ficou conhecida
como Declaração de Alma-Ata, o conceito de promoção e proteção de saúde da população é des-
crito como essencial para o contínuo desenvolvimento econômico e social, contribuindo assim
para uma melhor qualidade de vida e para a paz mundial.
Em vista do exposto, serão discutidos neste capítulo, inicialmente, alguns aspectos relaciona-
dos à transição demográfica e epidemiológica, alguns conceitos fundamentais do envelhecimento
e de uma concepção global e transdisciplinar que exige o conhecimento de uma multiplicidade de
determinantes que o acompanham. A seguir, será abordada a pertinência dos conceitos clássicos
Conceitos Básicos
Francisco Carlos de Brito
Júlio Litvoc
2 CAPÍTULO 1
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de prevenção que há décadas são de conhecimento não só dos profissionais da saúde, mas também
já se encontram incorporados pela sociedade como um todo. Finalmente, levando-se em conta que
o interesse deste livro é apresentar e discutir diferentes situações de saúde relacionadas ao enve-
lhecimento humano, o conceito de saúde será discutido em uma concepção mais ampla, que deve
ser entendida como um recurso para a vida e não um objetivo do viver.
ASPECTOS DEMOGRÁFICOS E EPIDEMIOLÓGICOS
Transição Demográfica
Uma das principais características da população mundial neste início de um novo século é a
de que tem havido um aumento expressivo, tanto em número absoluto como relativo, de pessoas
com 60 anos de idade e mais. Dos cerca de 600 milhões de idosos vivendo hoje no mundo, cerca de
370 milhões estão vivendo em países em desenvolvimento, e as projeções para os próximos 20
anos apontam para uma população de mais de um bilhão de idosos, dos quais 70% (700 milhões)
irão residir em países pobres. Este fenômeno demográfico, conceituado como envelhecimento
populacional, observado, por exemplo, na América Latina e no Caribe, apresenta características
distintas daquele que ocorre nos países ricos. Deve ser enfatizado que o processo de envelheci-
mento populacional dos países do Cone Sul distingue-se por: 1) rápido crescimento: enquanto os
países em desenvolvimento envelhecerão em menos de 30 anos, os países ricos envelheceram
lentamente durante cerca de mais de 100 anos; 2) situação de pobreza: os países em desenvolvi-
mento enfrentam uma dupla carga, que é a de resolver os custosos problemas da pobreza e de lidar
com o envelhecimento, e o mundo desenvolvido não era pobre quando envelhecia; 3) iniqüidade:
com o processo de envelhecimento a eqüidade, que pode ser definida como a busca da extinção
das diferenças desnecessárias, injustas e evitáveis que impedem que as pessoas tenham o direito a
uma melhor qualidade de vida e bem-estar, é afetada, sendo observado que aumentam as diferen-
ças biopsíquicas e sociais dentro da sociedade.
A situação atual do quadro demográfico do Brasil é decorrente de mudanças que vêm aconte-
cendo de maneira muito rápida nas três últimas décadas, e caracterizadas basicamente pela redu-
ção da mortalidade infantil e pelo declínio acentuado da fecundidade (Tabelas 1.1 e 1.2). A
conseqüência da queda da taxa de fecundidade total de 5,8 filhos observada na década de 1970
para 2,3 em 2000, definida como o número médio de filhos por mulher em idade reprodutiva, foi
a de que houve uma redução e desaceleração do crescimento da população brasileira, que, se na
década de 1970 chegou a 2,8%, atualmente está em torno de 1,6% ao ano.
Tabela 1.1
Taxas de Mortalidade Infantil, Brasil e Grandes Regiões — 1990-2000
Taxas de Mortalidade Infantil
Grandes Regiões
Anos Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
1990 48,0 45,1 72,9 30,2 28,7 31,3
1995 36,5 35,4 55,6 24,4 23,3 25,1
2000 29,6 29,2 44,2 20,6 19,7 21,2
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1990-2000.
CAPÍTULO 1 3
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É nos indicadores relacionados à estrutura etária, entretanto, que a mudança populacional do
país tem-se mostrado mais evidente, sendo observado um aumento da esperança de vida ao nascer
(Fig. 1.1). Atualmente o número de pessoas com mais de 60 anos, que é de 14,6 milhões (8,6% do
total), segundo projeções populacionais, deverá crescer tanto em números relativos, devido à di-
minuição da população de crianças e jovens, como absolutos, pelo aumento progressivo da espe-
rança de vida ao nascer em anos, que hoje, no Brasil, é de 73 para as mulheres e de 65 para os
homens. Já para a esperança de vida aos 60 anos, a diferença observada para os dois sexos diminui,
sendo de 16 anos para os homens e de 19,4 para as mulheres. As estimativas para os próximos 25
anos têm indicado que esse contingente populacional poderá ultrapassar os 30 milhões de pessoas.
Ainda, de acordo com dados de projeção da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 1999, deve ser lembrado que a popu-
lação de 30 a 59 anos de idade apresentará, à semelhança do grupo idoso, um aumento expressivo,
em termos absolutos, nas próximas duas décadas.
Tabela 1.2
Taxas de Fecundidade Total, Brasil e Grandes Regiões — 1940-2000
Brasil e Taxas de fecundidade total
Grandes
Regiões 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000
Brasil 6,2 6,2 6,3 5,8 4,4 2,9 2,3
Norte 7,2 8,0 8,6 8,2 6,4 4,2 3,2
Nordeste 7,2 7,5 7,4 7,5 6,2 3,7 2,6
Sudeste 5,7 5,5 6,3 4,6 3,5 2,4 2,1
Sul 5,7 5,7 5,9 5,4 3,6 2,5 2,2
Centro-Oeste 6,4 6,9 6,7 6,4 4,5 2,7 2,2
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940-2000.
Fig. 1.1 — Esperança de vida ao nascer e fecundidade total — Brasil, 1950 a 2000. Fonte: IBGE Censo
Demográfico, 1950-2000.
4 CAPÍTULO 1
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Uma maneira de avaliar o impacto do envelhecimento da população brasileira é por meio do
índice de envelhecimento que mede a proporção das pessoas de 60 anos (ou 65 anos) e mais de
idade de cada 100 menores de 15 anos. O índice atual de 24 deverá triplicar e atingir 74 em 2025,
segundo estimativas demográficas que apontam marcantes mudanças populacionais no País. Além
disso, os mesmos dados de projeção demonstram que no Brasil, entre os anos de 1950 e 2025, a
população total crescerá cinco vezes, enquanto a população com idade igual a 60 anos e mais
sofrerá um aumento de 15 vezes. Esses dados permitem estimar que entre as 10 nações que possui-
rão as maiores populações de idosos no mundo, o Brasil figurará em sexto lugar, devendo ter
aproximadamente 32 milhões de pessoas com 60 anos de idade ou mais (Tabela 1.3).
Tabela 1.3
Projeção do Crescimento da População de 60 Anos e
Mais em uma Seleção de Países, de 1950 a 2025
Região População de 60 Anos e Mais
(Milhões) %
Anos 1950 1975 2000 2025 1950-2025
China 42,5 73,3 134,5 284,1 668,5
Índia 31,9 29,7 65,6 146,2 429,3
URSS 16,2 33,9 54,3 71,3 440,1
USA 18,5 31,6 40,1 67,3 363,8
Japão 6,4 13,0 26,4 33,1 517,2
Brasil 2,1 6,2 14,3 31,8 1514,3
Indonésia 3,8 6,8 14,9 31,2 821,1
Paquistão 3,3 3,6 6,9 18,1 548,5
México 1,3 3,1 6,6 17,5 1346,2
Bangladesh 2,6 3,3 6,5 16,8 646,2
Nigéria 1,3 2,6 6,3 16,0 1230,8
Fonte: UNO, DIESA, The world aging situation, 1985.
O conhecimento da dinâmica e das mudanças observadas no perfil populacional brasileiro,
obtido por intermédio desses dados, poderá, se incorporado ao planejamento das políticas públi-
cas, auxiliar no desenvolvimento de ações concretas voltadas para essas pessoas, uma vez que elas
apresentam situações especiais de necessidades sociais e de saúde.
Transição Epidemiológica
As profundas transformações científicas, tecnológicas e socioeconômicas observadas na histó-
ria do desenvolvimento das sociedades determinam os padrões de saúde e de doença, levando não só
CAPÍTULO 1 5
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ao controle ou à erradicação de algumas doenças, mas também ao aparecimento de outras decorren-
tes, em muitos casos, da própria ação do homem. Com efeito, o conhecimento dos aspectos epide-
miológicos que investigam a distribuição das doenças e das principais causas de morte contribui
significativamente para um conhecimento mais claro das mudanças sociodemográficas das populações.
As mudanças que ocorreram na estrutura demográfica da população brasileira nas últimas
décadas, com redução da mortalidade infantil e da fecundidade, provocaram profundas alterações
no quadro de morbidade e de mortalidade. Em decorrência do rápido processo de envelhecimento
populacional, as doenças infecciosas agudas, mais incidentes na população infantil, estão sendo
substituídas pelas crônico-degenerativas, que acometem os indivíduos na idade adulta e os mais
idosos. Por isso, a OMS tem alertado todos os países para o fato de que as doenças crônicas serão
a principal causa de morte e incapacidade no mundo em 2020, contribuindo com cerca de dois
terços do total das doenças e trazendo enormes custos com os cuidados de saúde para toda a
sociedade. Essas afecções crônicas incluem doenças não infecciosas, como o diabetes, do apare-
lho circulatório e respiratório, depressão e demência, além da síndrome da imunodeficiência ad-
quirida (AIDS). O que deve ser mencionado é que, atualmente, quase um terço das incapacidades
observadas em todo o mundo é decorrente de problemas mentais, sendo estes responsáveis por
cinco das 10 principais causas de incapacidades.
No Brasil, a transição epidemiológica não ocorre de maneira uniforme, uma vez que nas
regiões de maior desigualdades socioeconômicas, como o Nordeste e o Norte, onde os coeficien-
tes de mortalidade infantil são ainda bastante elevados (52,4% e 33,9%, respectivamente), as do-
enças infecto-parasitárias apresentam um peso maior do que nas regiões Sul e Sudeste. No entanto,
as doenças do aparelho circulatório representam a principal causa de óbitos em todo o País (32%)
e em todas as regiões, seguidas pelas causas externas e pelas neoplasias, com 15% dos óbitos (Fig.
1.2). Entre 1980 e 1999, segundo o Ministério da Saúde, observou-se uma redução dos óbitos por
doenças infecciosas de 9% para 6% e das afecções perinatais de 7% para 5%.
Fig. 1.2 – Distribuição dos coeficientes de mortalidade (por 100.000 hab.) segundo Capítulo da CID-9a
revisão (1980 a 1995), 10a
revisão (1996 a 2000) — Brasil — 1980, 1985, 1990 e 2000. Fonte: Denise Shout.
Curso de Epidemiologia. Depto. Med. Prev. FMUSP/Ministério da Saúde, 2003.
6 CAPÍTULO 1
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O processo de transição epidemiológica brasileira, por estar transcorrendo de maneira rápida,
tem levado à mobilização de elevados recursos para o tratamento de doentes crônicos, uma vez
que na região Sudeste, dentre as principais causas de internação hospitalar através do Sistema
Único de Saúde (SUS), em 2001, as doenças do aparelho circulatório ficaram em terceiro lugar
(10%), sendo gravidez, parto e puerpério com 24% e as doenças do aparelho respiratório com
16%. Quanto à prevalência de pacientes atendidos em diálise pelo SUS, em 2001, foi de 38 casos
por 100 mil habitantes, chamando a atenção o fato de que, enquanto em pacientes com menos de
30 anos a taxa era de 8 por 100 mil, nos de 60 anos e mais atingiu 132 por 100 mil.
Em relação à transição epidemiológica brasileira, deve ser enfaticamente mencionado que a
mortalidade por doenças do aparelho circulatório (DAC) tem acontecido em idades precoces e de
maneira desigual em grandes cidades, como São Paulo. Em 2001, de acordo com dados do Progra-
ma de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no município de São Paulo (PRO-AIM),
25% dos óbitos por DAC aconteceram em indivíduos com menos de 60 anos, tendo sido maiores
nos homens (30,6%) do que nas mulheres (19,3%). Foi também descrito que nas regiões mais
carentes do Município essas cifras são maiores, com quase 50% das mortes por DAC acontecendo
precocemente.
Portanto, a conseqüência do processo de transição demográfica da população brasileira é que
se vai modificando a idade de morrer e, conseqüentemente, existirá um número crescente de pes-
soas acometidas por doenças crônico-degenerativas, fato que tem grande importância para o pla-
nejamento dos serviços de saúde e de formação de recursos humanos e de ensino na área
médico-assistencial.
CONCEPÇÃO GLOBAL DO ENVELHECIMENTO
O envelhecimento é ainda motivo de controvérsias quanto à natureza e dinâmica de seu
processo, apesar de ser um fenômeno comum a todos os seres vivos. Ao envelhecimento huma-
no aplicam-se as mesmas dificuldades de caracterização e definição do fenômeno. Com efeito,
permanecem ainda dúvidas a respeito dos mecanismos que acarretam modificações tão profun-
das das funções orgânicas das pessoas idosas, particularmente daquelas que atingem idades
mais avançadas da vida, o que torna adultos saudáveis em velhos frágeis, com redução das
reservas funcionais e aumento exponencial da vulnerabilidade a muitas doenças e, conseqüente-
mente, à morte.
A existência de numerosos conceitos e de mecanismos propostos para explicar o fenômeno
deixa clara a dificuldade de aceitar em sua plenitude qualquer das numerosas definições, pois
todas estão longe de vislumbrar os intrincados caminhos que permeiam o processo. De qualquer
forma, pode-se aceitar, com a restrição assinalada, que o envelhecimento é caracterizado como um
processo dinâmico, progressivo e irreversível, no qual interagem múltiplos fatores biológicos,
psíquicos e sociais.
Do ponto de vista da fisiologia do envelhecimento, uma das justificativas para as dificuldades
de compreensão deste fenômeno é a indefinição de seu início. Este ocorre já na fase de concepção,
como querem alguns autores; entre a segunda e a terceiras décadas, como admitem outros; ou,
como defendem Makinodan e col., nas fases mais avançadas da existência. O que se pode afirmar
com certeza é a inexistência de um ponto ou limite de transição, semelhante aos que se acham
presentes entre as fases de desenvolvimento, puberdade e maturidade. A responsável por essas três
visões tão contraditórias é, sem dúvida, a inexistência de marcadores biológicos eficazes e confi-
áveis do processo de envelhecimento. Se se aceitar a primeira dessas três visões, pode-se afirmar
ser o envelhecimento resultante do somatório de todas as mudanças que ocorrem através do tempo
nos organismos vivos, desde a concepção até a morte, não constituindo mera passagem do tempo,
uma vez que as alterações biológicas associadas a esse fenômeno aumentam o risco de morbidade,
incapacidade e morte.
CAPÍTULO 1 7
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De qualquer forma, independentemente da indefinição do início do processo, é certo que o
fenômeno do envelhecimento é multifatorial e multidimensional. A importância maior ou menor
desses fatores e o diferente grau de interação entre os mesmos justificam a grande variabilidade de
comportamento biológico e psicossocial de um idoso em relação a outro.
A Fig. 1.3 procura mostrar que, sobre uma base genética, atuam, em maior ou menor intensi-
dade, fatores extrínsecos (reunidos sob o rótulo de estilo de vida), fatores psicossociais e ambien-
tais, determinando alterações funcionais, celulares e moleculares, acarretando diminuição da
capacidade de manutenção do equilíbrio homeostático e, portanto, maior predisposição a doenças.
Fig. 1.3 — Fatores determinantes do processo de envelhecimento e conseqüente diminuição da capacidade de
manutenção do equilíbrio homeostático. Fonte: Papaléo Netto M, Brito FC. Urgências em Geriatria, 2001.
Deve ser mencionado que a participação em maior ou menor grau dos fatores extrínsecos
acarretará, respectivamente, um envelhecimento comum ou um envelhecimento bem-sucedido,
que serão discutidos em seguida.
Pode-se depreender, do exposto, que o processo de envelhecimento é acompanhado por alte-
rações significativas na composição, estrutura e fisiologia dos sistemas orgânicos e do indivíduo
como um todo, sendo a pessoa idosa biologicamente tão diferente do adulto jovem quanto este o é
da criança pré-adolescente. Acrescente-se que os últimos anos de vida são também marcados por
mudanças profundas na composição familiar e doméstica que pode ser resultado, por exemplo, da
viuvez. Somem-se a isso problemas importantes de privações de ordem econômica associadas a
aposentadorias insatisfatórias, que podem, juntamente com outros fatores psicossociais como so-
lidão, estar diretamente relacionados às mudanças no estado de saúde das pessoas idosas.
Envelhecimento Comum e Envelhecimento Bem-sucedido
Nas últimas décadas tem acontecido um interesse crescente a respeito não só dos problemas
médicos das pessoas idosas, mas também de pesquisas sobre o envelhecimento humano em áreas
8 CAPÍTULO 1
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básicas como a fisiologia, assim como a psicologia e a sociologia. Em 1997, um estudo divulgou
uma revisão com 27 estudos epidemiológicos, todos longitudinais, provenientes de diversos paí-
ses e com amostras representativas de homens e mulheres idosos e de meia-idade, alguns dos quais
foram acompanhados por mais de uma década. Nesse mesmo ano, os mesmos autores divulgaram,
em um simpósio da Sociedade Americana de Gerontologia, a existência de 15 novas coortes de
idosos em andamento.
Os investigadores envolvidos em estudos do envelhecimento têm procurado identificar as
alterações que aparecem como resultado das doenças que são atribuídas ao processo de envelheci-
mento. Decorre então, desse processo de análise científica, um conceito de normalidade que tem
respondido favoravelmente aos propósitos dos investigadores. Assim, vários estudos têm demons-
trado os efeitos da idade sobre a pressão sangüínea, a função renal, pulmonar, o sistema imunoló-
gico, a visão e audição, tolerância à glicose, o sistema nervoso simpático e parassimpático, assim
como funções cognitivas e comportamentais. Deve ser assinalado que o conhecimento desses
aspectos fisiológicos relacionados ao envelhecimento são fundamentais devido à possibilidade de
se conhecer e identificar situações que serão responsáveis pelo aparecimento das doenças.
Deve ser questionada, no entanto, a tendência enraizada na pesquisa gerontológica de procu-
rar separar as populações de doentes daquelas normais, assim como descrever os achados das
pesquisas como relacionadas aos estados patológicos ou ao processo de envelhecimento. Essa
tendência é reducionista, levando-se em conta que existem muitas diferenças entre os grupos de
pessoas idosas catalogadas como normais ou não doentes, não só dentro de um mesmo grupo
étnico, mas também entre grupos de diferentes culturas. Um outro problema desse reducionismo é
que, ao se catalogar as pessoas como normais ou não doentes, despreza-se o conceito de risco ou
de agravo, nascendo daí a tendência a se achar que o normal é que seria natural e, portanto, cria-se
uma gerontologia de conceitos comuns não associada aos riscos porventura existentes.
No final da década de 1980 foi introduzida no debate gerontológico, por Rowe e Kahn (1987),
a possibilidade de separar em dois grupos aquelas pessoas não doentes que eram catalogadas então
como normais, e tem sido freqüente, desde então, o seu uso. O primeiro grupo, que foi denomina-
do comum, seria constituído de pessoas que apresentavam altos riscos, como serem fumantes,
obesos ou inativos fisicamente. O segundo grupo, denominado bem-sucedido, compõe-se de indi-
víduos que apresentam baixos riscos e boa capacidade funcional, tanto física quanto cognitiva.
O envelhecimento bem-sucedido pode ser caracterizado pela presença de três situações essen-
ciais que interagem dentro de uma relação dinâmica, a saber: baixa probabilidade de doenças e de
incapacidades associada a elas, boa capacidade funcional, tanto física quanto cognitiva, e partici-
pação ativa na sua comunidade (Fig. 1.4).
Na primeira delas não basta somente a ausência das doenças e de incapacidades, mas também
a presença ou a gravidade de fatores de risco como obesidade, fumo, intolerância à glicose e
outros. A concepção antiga de que em conseqüência da inevitabilidade do processo intrínseco e
geneticamente predeterminado do envelhecimento haveria um risco aumentado para o apareci-
mento das doenças e incapacidades não tem se sustentado, em decorrência dos achados de estudos
que têm mostrado que muitas dessas alterações estão associadas a fatores ambientais extrínsecos,
aqui incluído o estilo de vida.
A segunda situação descrita refere-se à preservação e ao desenvolvimento de uma boa capaci-
dade funcional física e psíquica. Quanto aos determinantes da manutenção de uma boa capacidade
física, as pesquisas epidemiológicas realizadas pela Fundação MacArthur em Envelhecimento
Bem-sucedido, nos EUA (1998), têm mostrado que a influência de características socioeconômi-
cas, como ter baixa renda, é um dos fatores de declínio da capacidade física, assim como ativida-
des de lazer e suporte emocional dos familiares e amigos ajudam na manutenção de uma boa
condição física. Com referência ao estado cognitivo tem sido observado em vários estudos, tanto
transversais como longitudinais, que a escolaridade dos indivíduos é o maior fator protetor contra
as perdas de memória. Em um estudo epidemiológico realizado na cidade de São Paulo no ano de
CAPÍTULO 1 9
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2000 com pessoas com 60 anos e mais, Laurenti e Lebrão encontraram uma prevalência de 11% de
problemas cognitivos como perda de memória, de raciocínio e de outras funções cerebrais. Foi
observado que entre as pessoas que nunca tinham ido à escola a prevalência de perda de memória
foi de 17%, enquanto naquelas que referiam ter menos de sete anos de estudo foi de 7% e, nas que
estudaram por mais de sete anos a taxa foi só de 1%.
A terceira situação essencial para a caracterização do envelhecimento saudável ou bem-suce-
dido refere-se à necessidade de que as pessoas desenvolvam, durante toda a sua vida, a prática de
participação comunitária, por meio da qual as relações interpessoais possam adquirir uma dimen-
são que transcenda o núcleo familiar e possa colaborar para a construção de uma coletividade
solidária. As relações interpessoais, ao envolverem troca de informações e de contatos contínuos,
favorecem o surgimento natural de um suporte emocional e podem ir criando redes de ajuda mútua
que caracterizam, inclusive, uma atividade produtiva. Esta atividade não precisa ser remunerada
para ser catalogada como tal, mas possui uma função estratégica, com a pessoa trabalhando como
voluntária em uma igreja, um asilo, um hospital ou mesmo nos domicílios, auxiliando pessoas
com diferentes dificuldades para realizar as suas atividades da vida diária. Alguns estudos epide-
miológicos, todos eles longitudinais e com grandes populações, têm mostrado uma associação
significativa (riscos relativos) de que fazer parte de uma rede de apoio social constitui um determi-
nante de longevidade, especialmente para os homens. Este tema das redes de apoio, que será
discutido melhor no capítulo 14, tem no equacionamento e na compreensão do envelhecimento
humano uma importância central, pois a sociedade ainda não encontrou uma maneira de operaci-
onalizar em ações algumas informações já conhecidas de que o isolamento ou a perda de contatos
sociais constitui um fator de risco para a saúde. O suporte social tanto instrumental como afetivo
melhora a qualidade de vida das pessoas, podendo-se afirmar, finalmente, que qualquer ajuda é
sempre benéfica, devendo ser ajustada a cada situação existente.
Fig. 1.4 — Modelo de envelhecimento bem-sucedido. Adaptado de Rowe e Kahn, 1997.
10 CAPÍTULO 1
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Apesar da fragilidade de políticas públicas em valorizar a questão do envelhecimento popula-
cional brasileiro, começam a surgir possibilidades de intervenção sobre vários fatores extrínsecos
e de uma eventual modificabilidade dos mesmos. O desenvolvimento de ações que vão desde
intervenções éticas de regulação do funcionamento de casas de repouso, passando por ações de
promoção de saúde e de imunização para a prevenção de doenças infecciosas como a gripe, a
garantia da existência em toda rede do Sistema Único de Saúde (SUS) de medicamentos para o
tratamento de hipertensão arterial e diabetes, assim como uma mobilização dos idosos, nas gran-
des cidades, por atividades que melhorem sua qualidade de vida, deverá trazer resultados benéfi-
cos para a população vivenciar um envelhecimento bem-sucedido.
Envelhecimento versus Doença
A possibilidade de encontrar marcadores biológicos que permitam conceituar o fenômeno do
envelhecimento e que sejam válidos seria de grande utilidade em estudos epidemiológicos, em que
grupos populacionais definidos teriam avaliado o estado biológico do processo de envelhecimen-
to, aqui incluídos os fatores de risco para a incapacidade, doença e morte. Contudo, só recente-
mente houve a elucidação do seqüenciamento do genoma humano, uma façanha e uma conquista
histórica da inteligência humana em pesquisa biomédica que poderá levar a serem obtidas, certa-
mente, em anos vindouros, respostas sobre a complexidade dos aspectos genéticos do envelheci-
mento, abrindo caminho assim para ações preventivas mais eficazes das doenças e o
desenvolvimento de estratégias de tratamento.
É do conhecimento de todos que, com o avançar da idade, aumenta a taxa de prevalência de
doenças crônicas, sendo elevado o número absoluto de pessoas que citam pelo menos uma condição
crônica. No início da década de 1990, Ramos e colaboradores, em um estudo epidemiológico realizado
na cidade de São Paulo com 1.602 idosos de 60 anos e mais de idade, mostraram que 86% dos entrevis-
tados disseram ser portadores de pelo menos uma das seguintes doenças crônicas: reumatismo, asma,
hipertensão, má circulação, diabetes, lesão de pele, prisão de ventre e insônia.
No ano 2000, um outro inquérito populacional, realizado pelo autor na Secretaria Municipal
da Saúde em parceria com o Conselho Municipal do Idoso, registrou que 56,2% dos pesquisados
disseram ser hipertensos, 21,9% diabéticos e 25,7% padeciam de alguma doença osteoarticular. O
que chamou a atenção nessa pesquisa foi que 52,5% das pessoas idosas afirmaram estar com visão
ruim ou péssima, além de 15,8% se queixarem de audição ruim. Em outro levantamento populacional
com idosos, realizado também na cidade de São Paulo, no ano 2000, Laurenti e Lebrão encontra-
ram que 53,3% das pessoas disseram ser portadoras de hipertensão, 31,7% artrite, artrose e reuma-
tismo, 19,5% cardiopatias, 18% diabetes, 14,2% osteoporose,12,2% pneumopatia, 11% problemas
cognitivos, 7,2% derrame e 3,3% câncer.
O que deve ser ressaltado é que esta taxa elevada de prevalência de doenças crônicas tem
importantes implicações para a saúde das pessoas que estão envelhecendo. Tem sido descrita uma
associação significativa, em populações portadoras dessas doenças crônicas, entre a utilização
excessiva dos serviços de saúde, institucionalizações desnecessárias e diversas incapacidades ou
limitações físicas ou cognitivas para realizar as tarefas do dia-a-dia.
Uma situação complexa na abordagem dos determinantes da saúde no envelhecimento é que
as pessoas vão apresentando uma elevada prevalência de múltiplas doenças com o avançar dos
anos a co-morbidade, e a utilização de múltiplos fármacos constitui um sério problema clínico
devido à possibilidade de interações desfavoráveis e efeitos colaterais desastrosos. No levanta-
mento realizado pelo autor no ano de 2000, 73,3% dos entrevistados referiram que tomavam um
ou mais medicamentos. Laurenti e Lebrão encontraram taxas ainda maiores, de 87%.
O exposto ressalta a importância da identificação criteriosa das diferentes situações clínicas das
pessoas idosas, devendo ser uma meta a ser alcançada na busca por um melhor estado de saúde
dessas pessoas, uma vez que diversas alterações fisiológicas e anatômicas que acompanham o pro-
CAPÍTULO 1 11
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cesso de envelhecimento normal podem ser catalogadas erroneamente como uma doença ou distúr-
bio e receber uma intervenção inadequada, com sérias complicações clínicas.
Um outro aspecto importante das doenças crônicas é o de que o seu curso clínico é lento e as
pessoas somente procuram ajuda quando os sintomas já são insuportáveis para elas ou já se sentem
muito doentes. Isso decorre do fato de que não só para o indivíduo, mas também para os próprios
familiares, as queixas, quando presentes, seriam decorrentes do próprio processo de envelheci-
mento.
Reconhecendo-se, portanto, a importância da ocorrência de múltiplas doenças crônicas du-
rante o avançar da idade, a complexidade de sua interação e de se confundirem com mudanças
devido ao envelhecimento normal, os estudos epidemiológicos de base populacional adquirem
importância devido à possibilidade de auxiliarem na identificação dos determinantes e dos fatores
etiológicos, podendo facilitar o entendimento das diferentes situações clínicas que conduzam a
uma melhor assistência à saúde dessas populações.
ASPECTOS PREVENTIVOS
Conceitos Gerais
A palavra prevenção, que no Dicionário Aurélio é definida como o ato ou o efeito de prevenir,
e este como o ato de chegar antes, de vir antes, adiantar-se ou antecipar-se, adquire importância
estratégica para a abordagem das diferentes situações que acompanham o envelhecimento huma-
no. É de aceitação universal que a grande meta de todos os setores que lidam com a saúde das
pessoas é a busca do prolongamento da vida humana por meio da prevenção das doenças e da
promoção da saúde. Na área médica, desde meados do ano de 1960, Leavell e Clark sintetizaram
o conceito de saúde pública, divulgado por Winslow em 1920, de que a medicina preventiva
constitui a ciência e a arte de evitar doenças, prolongar a vida e promover a saúde física e mental
e a eficiência. Esses autores conseguiram apresentar a prevenção por meio de um modelo que possui
grande valor didático e que facilita a prática de todos os profissionais que trabalham com saúde e
necessitam posicionarem-se diante das mútiplas e complexas situações relacionadas à saúde.
O modelo proposto por Leavell e Clark de procurar classificar as ações de prevenção em três
níveis, a saber, primário, secundário e terciário, permite uma aplicação das ações de saúde nas
várias fases da história natural da doença. A prevenção primária é composta de dois níveis, pro-
moção de saúde e proteção específica, nas quais existe a possibilidade de ser realizada uma série
de ações já no período pré-patogênico, como a proteção específica das pessoas contra agentes
patogênicos ou a melhoria do ecossistema de modo que as agressões ambientais sejam reduzidas
ao máximo. A prevenção secundária, que inclui nos seus dois níveis o diagnóstico e o tratamento
precoce, além da limitação da invalidez, permite que aquelas pessoas que porventura não tenham
sido protegidas sejam corretamente diagnosticadas e tratadas, uma vez que se tem claro que tal
atitude favorece o prognóstico. Com a progressão do processo patogênico e a piora da doença, a
instituição de um tratamento adequado permitirá uma recuperação satisfatória e a limitação da
invalidez dos doentes. Se, porventura, a incapacidade se tornar definitiva, a prevenção terciá-
ria, por meio de ações de reabilitação, procurará de todas as maneiras possíveis readaptar o
indivíduo na sua comunidade para que desempenhe o máximo de suas atividades e consiga ter
de volta a sua autonomia.
Afora esses clássicos conceitos de prevenção de Leavell e Clark, apareceram outras pro-
postas de agrupamento dos cinco níveis de classificação descritos por esses autores, como a
separação tradicional e reducionista entre medicina curativa (3o
, 4o
e 5o
níveis) e medicina
preventiva (1o
e 2o
níveis), além de Hilleboe (1965), que usa a terminologia de prevenção da
ocorrência (1o
e 2o
níveis) e prevenção da evolução (3o
nível). O que deve ser ressaltado é que
esses níveis de prevenção se apresentam como um continuum que corresponde à história natu-
ral da doença ou de qualquer outro processo mórbido, não estando, portanto, isolados do
conceito da prevenção. O que sempre irá se buscar é uma prática que procure atuar no nível
12 CAPÍTULO 1
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mais para a esquerda possível do modelo de Leavell e Clark e que resulte em benefícios para
a vida das pessoas.
Tem sido observado, tanto nos países desenvolvidos como também no Brasil, que a taxa de
mortalidade das pessoas com mais de 60 anos tem declinado sistematicamente, fazendo crer que
determinadas ações preventivas têm sido eficazes no controle de alguns fatores de risco para o
aparecimento de certas doenças crônicas.
No Brasil tem acontecido, nos últimos 10 anos, uma redução da incidência das mortes relaci-
onadas ao aparelho circulatório em áreas de melhores níveis socioeconômicos, em parte fruto de
uma melhor assistência médica, mas também em decorrência de medidas de prevenção e diagnós-
tico precoce. Na cidade de São Paulo, o PRO-AIM relatou em 1999 que duas pessoas de 65 anos
possuem riscos diferentes de morrer por doença do coração, e, se uma delas residisse em área
periférica do município, correria risco oito vezes maior do que a que reside em áreas centrais ou
que possua melhores indicadores econômicos.
Prevenção e Morbidade
O aumento considerável da expectativa de vida que foi observado nos países desenvolvidos
nos últimos 30 anos, que resultou numa retangularização das curvas de sobrevivência, está sendo
acompanhado também por uma compressão da morbidade, ou seja, está havendo também uma
retangularização da curva de morbidade. Tal situação pode ser observada, nesses países, pela
queda na taxa de mortalidade das doenças cardiocirculatórias, de incapacidades, por uma melhor
auto-avaliação de saúde dos indivíduos em muitos países, além da queda da prevalência de algu-
mas doenças crônicas.
Tais resultados favoráveis são decorrentes de ações de sucesso em prevenir e retardar o início
de aparecimento das doenças crônicas, e de um controle adequado que minimiza o impacto sobre
o estado funcional e o bem-estar das pessoas. Devem ser ressaltados os avanços terapêuticos em
diversas áreas médicas que são oferecidos à maioria das pessoas, a existência de certos cuidados
básicos como melhores condições nutricionais maternas, maior controle das doenças infecciosas
infantis e o acesso à educação, e a uma série de benefícios sociais durante toda a vida.
Por isso, o problema de saúde mais importante nas nações desenvolvidas tem sido o de procu-
rar reduzir a morbidade que acompanha o envelhecimento das suas populações, representando a
sua prevenção um tópico fundamental para a saúde futura das pessoas e na qual o conhecimento e
a busca das melhores alternativas que deverão ser implementadas são condição sine qua non de
bons resultados das políticas de saúde.
No entanto, apesar de estarem sendo verificadas enormes conquistas no estado de saúde des-
sas populações, tem sido relatado aumento da obesidade, da inatividade física e do uso do fumo
entre os jovens, e ações preventivas precisam ser estimuladas, pois a prevalência e os custos das
doenças crônicas estão aumentando continuamente.
A morbidade aqui referida é um conceito geral que engloba todas as enfermidades, podendo
ser mais bem definida em discussões gerais como incapacidade, a qual constitui o seu principal
componente. Tal definição pode ser mais facilmente compreendida e de fácil avaliação, como será
discutido no segundo capítulo deste livro, que trata da capacidade funcional.
A prevenção das incapacidades relacionadas ao processo de envelhecimento depende, em sua
maior parte, de modificações dos fatores de risco associadas ao estilo de vida das pessoas, e que já
são causas conhecidas e associadas ao aparecimento das doenças crônicas. Alguns estudos epide-
miológicos têm mostrado que mais de 70% dos acidentes cerebrais vasculares e do câncer de
cólon, 80% da doença arterial coronariana e 90% do diabetes tipo 2 são potencialmente evitáveis
por modificações do estilo de vida. Além disso, as doenças crônicas são responsáveis pela maioria
das incapacidades que aparecem no decorrer do processo de envelhecimento. Quanto às ações
CAPÍTULO 1 13
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preventivas que visem promover uma melhor qualidade de vida para as populações, precisam ser
priorizadas o quanto antes, levando-se em conta que devem ser destacados aqueles fatores de risco
mais diretamente relacionados à determinação da morbidade e mortalidade das doenças crônicas,
como a inatividade física, os hábitos alimentares inadequados, o uso em massa do fumo e os
agravos ao bem-estar mental e ambiental onde vivem as pessoas.
Num estudo epidemiológico prospectivo, Fries tem acompanhado um grupo de 1.741 pessoas
que foram atendidas na Universidade da Pensilvânia em 1939 e 1940. Foram registradas anual-
mente informações sobre a existência das incapacidades e de outras morbidades de 1986 até 1994,
quando o grupo de pessoas estava com idades de 67 a 75 anos de idade. O autor calculou então a
incapacidade cumulativa até os 75 anos, e para aqueles que apresentavam alguma incapacidade foi
possível estimar a incapacidade total da sua vida. Os indivíduos do estudo foram divididos em três
categorias de risco, a saber, baixo, moderado e alto, de acordo com o índice de massa corpórea,
consumo de cigarros e prática de atividade física, que haviam sido avaliados em 1962 e repetidos
em 1986. Os resultados mostraram que no grupo de baixo risco a incapacidade foi retardada em
oito anos quando comparada ao grupo de alto risco, assim como a incapacidade cumulativa foi
duas vezes maior no grupo de alto risco. As taxas de mortalidade foram também diferentes, tendo
havido no grupo de menor risco um prolongamento dos anos de vida que variou de um a quatro
anos, quando comparado à categoria de alto risco. Portanto, esse estudo mostrou que a modifica-
ção de comportamento de riscos relacionados ao estilo de vida na idade adulta e na velhice retar-
dou o aparecimento das incapacidades, e a morbidade caiu quase à metade no último ano de vida
naquelas pessoas que possuíam hábitos mais saudáveis.
As ações preventivas, no contexto do envelhecimento, procuram também retardar ou evitar a
progressão das doenças para eventos clinicamente significativos, aqui incluídos a tentativa que
deve ser feita de procurar identificar o maior número possível de fatores tanto de ordem funcional,
como cognitiva, social ou psicológica. Deve-se ter sempre em mente que não deverá existir uma
solução fácil, uma vez que as ações preventivas das incapacidades ou da morbidade cumulativa
durante o processo de envelhecimento são causadas por múltiplos e complexos fatores. Tal fato
pode ser observado pelo impacto que o estado de saúde física das pessoas exerce sobre os fatores
de risco. Como exemplo temos de tomar muita cautela ao catalogar aquelas pessoas que não fazem
atividade física, como portadoras de alguma alteração pulmonar ou cardíaca. Do mesmo modo,
alguns estudos indicavam que a obesidade estava associada a um risco aumentado de osteoartrite,
mas esta é que levava a uma diminuição da prática de exercícios e, conseqüentemente, a taxas
mais elevadas de obesidade.
Ainda deve ser levado em conta que avaliações rotineiramente realizadas, como medidas de
peso, lípides, consumo alimentar diário, avaliações bioquímicas, a presença de estados depressi-
vos e muitos outros fatores de risco podem ser influenciadas por doenças já diagnosticadas ou não.
Mesmo situações freqüentes relacionadas à fase do envelhecimento, como a viuvez, podem alterar
os níveis dos fatores de risco.
A divulgação do seqüenciamento do genoma humano, em 2002, certamente levou ao desen-
volvimento de estratégias de tratamento e prevenção mais eficazes. A identificação de anormali-
dades bioquímicas específicas que propiciem melhor capacidade de previsão de maior número de
doenças é uma conquista que já está sendo antecipada pelos pesquisadores. O conhecimento des-
sas alterações permitirá identificar ações de rastreamento e de prevenção, além do desenvolvimen-
to de intervenções específicas para a correção dos defeitos bioquímicos diagnosticados.
Contudo, o que vem sendo alertado por alguns pesquisadores é que não se deverá priorizar
exclusivamente as pesquisas genéticas em detrimento das demais áreas, não só devido aos altos
custos envolvidos nessas pesquisas, mas também pelos ainda incipientes resultados de saúde obti-
dos. O que se tem preconizado é a necessidade de integrar essas novas informações da genética
dentro de estudos epidemiológicos corretamente desenhados para esses fins. Os resultados que
certamente advirão serão frutos da identificação de como essas variações genéticas estão relacio-
14 CAPÍTULO 1
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nadas aos riscos de aparecimento das principais doenças do homem. Será possível então, por meio
do conhecimento dos aspectos fisiopatogênicos das doenças, o desenvolvimento de novos medica-
mentos e de intervenções mais individualizadas. Portanto, o desenvolvimento de pesquisas que se
preocupem com a integração dos fatores ambientais, incluindo a dieta e outros relacionados ao
estilo de vida, juntamente com as informações genéticas, tem a possibilidade de esclarecer o papel
não só do genótipo mas também do ambiente na gênese das doenças. Esse conjunto de informa-
ções levará, em última instância, à escolha das melhores alternativas para melhorar a vida e a
saúde das pessoas.
O modelo de prevenção de Leavell e Clark, já discutido, adquire sua importância quando se
procura abordar as incapacidades ou a morbidade cumulativa que acompanha o processo de enve-
lhecimento humano, que, por ser um fenômeno complexo e multicausal, não existem soluções
simples e fáceis para a questão da morbidade e das incapacidades.
No nível de prevenção primária, existem medidas definidas como de promoção de saúde,
incluindo a educação para a saúde, que será discutida mais amplamente em outra parte deste livro
no terceiro capítulo sobre Promoção da Saúde. Prova disso é o relato de estudos epidemiológicos
de que intervenções educativas têm diminuído, por exemplo, a morbidade tanto em populações de
portadores de doença de Parkinson e artrite como em indivíduos normais. Outras ações de nível
primário, como a instituição da prática de exercícios regulares, parar de fumar, mudança de hábi-
tos alimentares errôneos, imunizações contra doenças como gripe e pneumonia, controle de peso,
suplementação de cálcio, vitamina E, estrógeno e aspirina em baixas doses para grupos definidos
de pacientes, trazem também grandes contribuições e podem ser avaliadas pelos seus elevados
riscos atribuíveis. A identificação de riscos ambientais, apesar de exigir intervenções mais com-
plexas, precisa também ser considerada pela elevada morbidade que acompanha, por exemplo, as
quedas que acontecem em diversas situações e lugares.
Quanto aos aspectos de prevenção secundária, existe a possibilidade de se reduzir a prevalên-
cia de acidentes vasculares cerebrais associados com a fibrilação atrial, e de uma série de outros
diagnósticos oportunos de alterações que requerem tratamento, como as dislipidemias, a hiperten-
são arterial sistólica e a hiperglicemia, dentre outros. Determinadas complicações como as úlceras
de pé diabético, a retinopatia, a nefropatia e as amputações podem ser prevenidas ou retardadas
por meio de um controle médico adequado.
No nível de prevenção terciária, as atividades de reabilitação possuem um impacto significa-
tivo ao conseguirem freqüentemente reduzir as incapacidades em várias situações clínicas como:
acidentes vasculares cerebrais, fraturas de bacia, amputações, limitações decorrentes de doenças
articulares degenerativas, distúrbios auditivos, da fala ou visuais, além de doenças pulmonares e
mesmo cardíacas. O objetivo essencial é devolver à pessoa que envelhece e necessita da reabilita-
ção a possibilidade de resgatar a sua autonomia e capacidade de autodeterminação, mesmo que
dependente de outrem para realizar algumas das atividades da sua vida diária.
O fato que precisa ser considerado é o de que, como já vimos, os dados de projeção demográ-
fica apontam que em 2025 cerca de 70% das pessoas com mais de 60 anos estarão residindo em
países em desenvolvimento como o Brasil e, portanto, o peso das mortes em decorrência das
doenças crônico-degenerativas será muito grande, levando-se em conta que as doenças infeccio-
sas ainda constituirão problemas de saúde pública não solucionados. Portanto, como Kalache (2002)
tem comentado, a teoria da compressão da morbidade de Fries, que tem ocorrido nos países desen-
volvidos, necessita de um posicionamento crítico quando se avaliam as características socioeco-
nômicas do processo de transição epidemiológica nos países em desenvolvimento. A ocorrência
das doenças crônicas tem acontecido em faixas etárias precoces como, por exemplo, o diabetes,
cuja incidência tem aumentado nas pessoas de 45 a 64 anos de idade. Apesar de a existência de
medicamentos para o controle da hipertensão arterial fazer parte da rede básica de saúde do SUS,
e de o avanço que constitui o desenvolvimento de políticas públicas de saúde ter procurado cadas-
trar e acompanhar a população de diabéticos e hipertensos em todo o País, ainda não está conse-
CAPÍTULO 1 15
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guindo reduzir a principal causa de morte decorrente das doenças do coração, a não ser nas regiões
mais desenvolvidas do país. Mesmo assim, observa-se nessas áreas, como já foi dito, uma morta-
lidade precoce por doenças do aparelho circulatório em pessoas com menos de 60 anos. Chama a
atenção, ainda, o fato de que vem aumentando a importância das causas de morte relacionadas às
neoplasias em pessoas com mais de 60 anos, fato que vai requerer altos investimentos do setor
público de saúde.
A população idosa brasileira conta, segundo dados do censo 2000 do IBGE, com um contin-
gente de mais de 14 milhões de pessoas, e constitui uma coorte de pessoas com nível muito baixo
de escolaridade, sendo de 1,5 ano para os homens e 1,6 para as mulheres. Nas regiões metropoli-
tanas, no entanto, a situação é mais favorável, embora ainda muito baixa, ou seja, com apenas 2,7
anos em média. Do ponto de vista econômico, em 1999 o IBGE apontava que 40% das pessoas
podiam ser consideradas pobres e vivendo em famílias com rendimento de até um salário mínimo.
Além disso, o sistema público de benefícios sociais não consegue, durante a vida, oferecer recur-
sos que permitam que as pessoas cheguem à idade avançada com uma boa reserva funcional.
Esses fatos enfatizam uma necessidade do desenvolvimento de estratégias preventivas que
priorizem, num curto período de tempo, a adoção de medidas de promoção de saúde visando
capacitar a população para assumir além do controle deste processo, uma atuação dinâmica que
busque continuamente a melhoria da sua situação de saúde e qualidade de vida.
SAÚDE E ENVELHECIMENTO
A busca da longevidade, de viver mais e de usufruir um estado de bem-estar e de saúde
constitui um dos principais valores cultuados em toda a história da humanidade, assim como faz
parte de um dos principais anseios da população brasileira, que coloca a saúde e a possibilidade de
atenção se adoecerem como uma de suas principais preocupações.
O conceito de saúde no homem não se restringe somente a um processo de adaptação eco-
lógica necessário à vida, mas sim à capacidade de desenvolver uma perspectiva integradora da
sua realidade, construindo com ela vínculos ativos, transformadores, que permitam satisfazer as
necessidades de um ser em permanente evolução psicossocial e cultural. Como bem assinalam
San Martin e Pastor, sendo o processo do viver uma situação permanente de equilíbrio e dese-
quilíbrio ecológico, o estado de funcionamento dos sistemas orgânico e mental constitui uma
situação permanente de alteração da funcionalidade de normal para anormal, em diferentes níveis
de gravidade.
É importante ressaltar que o estado de saúde de um indivíduo é muito mais que um mero bem-
estar físico. Ele constitui-se de uma complexa inter-relação entre os aspectos psicológicos e fisio-
lógicos da saúde e da doença, e também entre os componentes objetivos e subjetivos desses estados.
São bem conhecidas de todos as dificuldades para se conceituar e medir as situações de saúde
em qualquer idade, não havendo uma perfeita concordância entre os pesquisadores sobre como
medir a saúde das pessoas na comunidade.
A OMS, que divulga desde 1947 o clássico conceito de saúde como um estado de completo
bem-estar físico, psicológico e social, tem sugerido, em diversos encontros e conferências com
todos os seus países membros, que a aplicabilidade deste conceito inclui a necessidade de co-
nhecer os vários determinantes do estado de saúde das populações, apontando na direção do
conceito de promoção da saúde. Esta concepção que destaca a saúde como um componente
fundamental do desenvolvimento humano, procura resgatar e valorizar uma série de fatores que
propiciem uma vida digna e de bem-estar coletivo. Em outra parte deste livro (capítulo 3), a
promoção de saúde será discutida, assim como os conceitos de autonomia e de capacidade funcio-
nal (capítulo 2), que podem ser considerados como representantes razoáveis do estado de saúde
das pessoas que envelhecem.
16 CAPÍTULO 1
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A aplicação dos conceitos de saúde relacionados ao envelhecimento é mais complexa, pois
essas medidas sofrem a interferência de atitudes culturais negativas, preconceituosas, relativas ao
envelhecimento, à própria disponibilidade de recursos para a assistência médico-sanitária e tam-
bém devido à elevada prevalência de deficiências próprias do envelhecimento. Deve ser enfatiza-
do, ainda, que as deficiências que não provocam incapacidades são pouco consideradas na assistência
aos idosos, sendo muitas vezes tidas como partes do processo normal de envelhecimento, confun-
dindo assim uma avaliação satisfatória do estado de saúde.
É por isso que, mais do que catalogar as pessoas que estão envelhecendo como portadoras de
uma boa ou má saúde, é importante que passemos a valorizar as suas capacidades de realizar
aquelas atividades das suas vidas autodefinidas como essenciais para a satisfação dos seus ansei-
os, e que consigam mantê-las com autonomia durante toda a sua existência.
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Envelhecimento populacional e transição demográfica no Brasil

  • 1. CAPÍTULO 1 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. CAPÍTULO 1 “Não temos de nos preocupar em viver longos anos, mas em vivê-los satisfatoriamente; porque viver longo tempo depende do destino, viver o domínio de si mesmo depende da tua alma. A vida é longa quando é plena; e se faz plena quando a alma recuperou a posse de seu próprio bem e transferiu para si o domínio de si mesma.” Sêneca, Cartas a Lucílio INTRODUÇÃO Um dos fenômenos de maior impacto no início deste novo século é o do envelhecimento da população mundial, uma vez que no século passado consolidou-se uma tendência que vem se mostrando ininterrupta e que constitui o aumento de esperança de vida ao nascer do homem, observado não só nos países desenvolvidos como também naqueles em desenvolvimento. Esse envelhecimento populacional resulta de um processo gradual de transição demográfica que, independentemente de estar ocorrendo em países ricos ou naqueles tidos como pobres, modifica a idade de morrer, e um número maior de pessoas é acometido por uma incidência elevada de doen- ças crônico-degenerativas e incapacitantes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que em 2020 três quartos de todas as mortes observadas nos países em desenvolvimento estarão relaciona- das ao processo de envelhecimento, como câncer, doenças do aparelho circulatório e diabetes. Assim, há necessidade de procurar conhecer e desenvolver todas as alternativas possíveis e válidas não só para prevenir, como também para retardar o aparecimento das doenças crônicas e os conseqüentes agravos causados por elas. A discussão que tem havido, em todo o mundo, quanto à compressão da morbidade e um conseqüente envelhecimento sem maiores incapacidades, apesar de sua ocorrência ser verificada nos países ricos, não pode ser integralmente aceita como verda- deira em países que ainda não concluíram a sua transição demográfico-epidemiológica e ainda convivem com disparidades sociais evidentes. As múltiplas facetas que caracterizam o processo do envelhecimento humano exigem que a abordagem e a busca do conceito de saúde definido como o estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade, amplamente difundido pela OMS a partir de 1947, e retomado e ampliado a partir da sua histórica Conferência Internacio- nal sobre Cuidados Primários de Saúde de 1978, incorpore não somente o controle das doenças, mas, e principalmente, o conceito de promoção de saúde. Nessa Conferência, que ficou conhecida como Declaração de Alma-Ata, o conceito de promoção e proteção de saúde da população é des- crito como essencial para o contínuo desenvolvimento econômico e social, contribuindo assim para uma melhor qualidade de vida e para a paz mundial. Em vista do exposto, serão discutidos neste capítulo, inicialmente, alguns aspectos relaciona- dos à transição demográfica e epidemiológica, alguns conceitos fundamentais do envelhecimento e de uma concepção global e transdisciplinar que exige o conhecimento de uma multiplicidade de determinantes que o acompanham. A seguir, será abordada a pertinência dos conceitos clássicos Conceitos Básicos Francisco Carlos de Brito Júlio Litvoc
  • 2. 2 CAPÍTULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. de prevenção que há décadas são de conhecimento não só dos profissionais da saúde, mas também já se encontram incorporados pela sociedade como um todo. Finalmente, levando-se em conta que o interesse deste livro é apresentar e discutir diferentes situações de saúde relacionadas ao enve- lhecimento humano, o conceito de saúde será discutido em uma concepção mais ampla, que deve ser entendida como um recurso para a vida e não um objetivo do viver. ASPECTOS DEMOGRÁFICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Transição Demográfica Uma das principais características da população mundial neste início de um novo século é a de que tem havido um aumento expressivo, tanto em número absoluto como relativo, de pessoas com 60 anos de idade e mais. Dos cerca de 600 milhões de idosos vivendo hoje no mundo, cerca de 370 milhões estão vivendo em países em desenvolvimento, e as projeções para os próximos 20 anos apontam para uma população de mais de um bilhão de idosos, dos quais 70% (700 milhões) irão residir em países pobres. Este fenômeno demográfico, conceituado como envelhecimento populacional, observado, por exemplo, na América Latina e no Caribe, apresenta características distintas daquele que ocorre nos países ricos. Deve ser enfatizado que o processo de envelheci- mento populacional dos países do Cone Sul distingue-se por: 1) rápido crescimento: enquanto os países em desenvolvimento envelhecerão em menos de 30 anos, os países ricos envelheceram lentamente durante cerca de mais de 100 anos; 2) situação de pobreza: os países em desenvolvi- mento enfrentam uma dupla carga, que é a de resolver os custosos problemas da pobreza e de lidar com o envelhecimento, e o mundo desenvolvido não era pobre quando envelhecia; 3) iniqüidade: com o processo de envelhecimento a eqüidade, que pode ser definida como a busca da extinção das diferenças desnecessárias, injustas e evitáveis que impedem que as pessoas tenham o direito a uma melhor qualidade de vida e bem-estar, é afetada, sendo observado que aumentam as diferen- ças biopsíquicas e sociais dentro da sociedade. A situação atual do quadro demográfico do Brasil é decorrente de mudanças que vêm aconte- cendo de maneira muito rápida nas três últimas décadas, e caracterizadas basicamente pela redu- ção da mortalidade infantil e pelo declínio acentuado da fecundidade (Tabelas 1.1 e 1.2). A conseqüência da queda da taxa de fecundidade total de 5,8 filhos observada na década de 1970 para 2,3 em 2000, definida como o número médio de filhos por mulher em idade reprodutiva, foi a de que houve uma redução e desaceleração do crescimento da população brasileira, que, se na década de 1970 chegou a 2,8%, atualmente está em torno de 1,6% ao ano. Tabela 1.1 Taxas de Mortalidade Infantil, Brasil e Grandes Regiões — 1990-2000 Taxas de Mortalidade Infantil Grandes Regiões Anos Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 1990 48,0 45,1 72,9 30,2 28,7 31,3 1995 36,5 35,4 55,6 24,4 23,3 25,1 2000 29,6 29,2 44,2 20,6 19,7 21,2 Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1990-2000.
  • 3. CAPÍTULO 1 3 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. É nos indicadores relacionados à estrutura etária, entretanto, que a mudança populacional do país tem-se mostrado mais evidente, sendo observado um aumento da esperança de vida ao nascer (Fig. 1.1). Atualmente o número de pessoas com mais de 60 anos, que é de 14,6 milhões (8,6% do total), segundo projeções populacionais, deverá crescer tanto em números relativos, devido à di- minuição da população de crianças e jovens, como absolutos, pelo aumento progressivo da espe- rança de vida ao nascer em anos, que hoje, no Brasil, é de 73 para as mulheres e de 65 para os homens. Já para a esperança de vida aos 60 anos, a diferença observada para os dois sexos diminui, sendo de 16 anos para os homens e de 19,4 para as mulheres. As estimativas para os próximos 25 anos têm indicado que esse contingente populacional poderá ultrapassar os 30 milhões de pessoas. Ainda, de acordo com dados de projeção da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 1999, deve ser lembrado que a popu- lação de 30 a 59 anos de idade apresentará, à semelhança do grupo idoso, um aumento expressivo, em termos absolutos, nas próximas duas décadas. Tabela 1.2 Taxas de Fecundidade Total, Brasil e Grandes Regiões — 1940-2000 Brasil e Taxas de fecundidade total Grandes Regiões 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 Brasil 6,2 6,2 6,3 5,8 4,4 2,9 2,3 Norte 7,2 8,0 8,6 8,2 6,4 4,2 3,2 Nordeste 7,2 7,5 7,4 7,5 6,2 3,7 2,6 Sudeste 5,7 5,5 6,3 4,6 3,5 2,4 2,1 Sul 5,7 5,7 5,9 5,4 3,6 2,5 2,2 Centro-Oeste 6,4 6,9 6,7 6,4 4,5 2,7 2,2 Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940-2000. Fig. 1.1 — Esperança de vida ao nascer e fecundidade total — Brasil, 1950 a 2000. Fonte: IBGE Censo Demográfico, 1950-2000.
  • 4. 4 CAPÍTULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Uma maneira de avaliar o impacto do envelhecimento da população brasileira é por meio do índice de envelhecimento que mede a proporção das pessoas de 60 anos (ou 65 anos) e mais de idade de cada 100 menores de 15 anos. O índice atual de 24 deverá triplicar e atingir 74 em 2025, segundo estimativas demográficas que apontam marcantes mudanças populacionais no País. Além disso, os mesmos dados de projeção demonstram que no Brasil, entre os anos de 1950 e 2025, a população total crescerá cinco vezes, enquanto a população com idade igual a 60 anos e mais sofrerá um aumento de 15 vezes. Esses dados permitem estimar que entre as 10 nações que possui- rão as maiores populações de idosos no mundo, o Brasil figurará em sexto lugar, devendo ter aproximadamente 32 milhões de pessoas com 60 anos de idade ou mais (Tabela 1.3). Tabela 1.3 Projeção do Crescimento da População de 60 Anos e Mais em uma Seleção de Países, de 1950 a 2025 Região População de 60 Anos e Mais (Milhões) % Anos 1950 1975 2000 2025 1950-2025 China 42,5 73,3 134,5 284,1 668,5 Índia 31,9 29,7 65,6 146,2 429,3 URSS 16,2 33,9 54,3 71,3 440,1 USA 18,5 31,6 40,1 67,3 363,8 Japão 6,4 13,0 26,4 33,1 517,2 Brasil 2,1 6,2 14,3 31,8 1514,3 Indonésia 3,8 6,8 14,9 31,2 821,1 Paquistão 3,3 3,6 6,9 18,1 548,5 México 1,3 3,1 6,6 17,5 1346,2 Bangladesh 2,6 3,3 6,5 16,8 646,2 Nigéria 1,3 2,6 6,3 16,0 1230,8 Fonte: UNO, DIESA, The world aging situation, 1985. O conhecimento da dinâmica e das mudanças observadas no perfil populacional brasileiro, obtido por intermédio desses dados, poderá, se incorporado ao planejamento das políticas públi- cas, auxiliar no desenvolvimento de ações concretas voltadas para essas pessoas, uma vez que elas apresentam situações especiais de necessidades sociais e de saúde. Transição Epidemiológica As profundas transformações científicas, tecnológicas e socioeconômicas observadas na histó- ria do desenvolvimento das sociedades determinam os padrões de saúde e de doença, levando não só
  • 5. CAPÍTULO 1 5 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. ao controle ou à erradicação de algumas doenças, mas também ao aparecimento de outras decorren- tes, em muitos casos, da própria ação do homem. Com efeito, o conhecimento dos aspectos epide- miológicos que investigam a distribuição das doenças e das principais causas de morte contribui significativamente para um conhecimento mais claro das mudanças sociodemográficas das populações. As mudanças que ocorreram na estrutura demográfica da população brasileira nas últimas décadas, com redução da mortalidade infantil e da fecundidade, provocaram profundas alterações no quadro de morbidade e de mortalidade. Em decorrência do rápido processo de envelhecimento populacional, as doenças infecciosas agudas, mais incidentes na população infantil, estão sendo substituídas pelas crônico-degenerativas, que acometem os indivíduos na idade adulta e os mais idosos. Por isso, a OMS tem alertado todos os países para o fato de que as doenças crônicas serão a principal causa de morte e incapacidade no mundo em 2020, contribuindo com cerca de dois terços do total das doenças e trazendo enormes custos com os cuidados de saúde para toda a sociedade. Essas afecções crônicas incluem doenças não infecciosas, como o diabetes, do apare- lho circulatório e respiratório, depressão e demência, além da síndrome da imunodeficiência ad- quirida (AIDS). O que deve ser mencionado é que, atualmente, quase um terço das incapacidades observadas em todo o mundo é decorrente de problemas mentais, sendo estes responsáveis por cinco das 10 principais causas de incapacidades. No Brasil, a transição epidemiológica não ocorre de maneira uniforme, uma vez que nas regiões de maior desigualdades socioeconômicas, como o Nordeste e o Norte, onde os coeficien- tes de mortalidade infantil são ainda bastante elevados (52,4% e 33,9%, respectivamente), as do- enças infecto-parasitárias apresentam um peso maior do que nas regiões Sul e Sudeste. No entanto, as doenças do aparelho circulatório representam a principal causa de óbitos em todo o País (32%) e em todas as regiões, seguidas pelas causas externas e pelas neoplasias, com 15% dos óbitos (Fig. 1.2). Entre 1980 e 1999, segundo o Ministério da Saúde, observou-se uma redução dos óbitos por doenças infecciosas de 9% para 6% e das afecções perinatais de 7% para 5%. Fig. 1.2 – Distribuição dos coeficientes de mortalidade (por 100.000 hab.) segundo Capítulo da CID-9a revisão (1980 a 1995), 10a revisão (1996 a 2000) — Brasil — 1980, 1985, 1990 e 2000. Fonte: Denise Shout. Curso de Epidemiologia. Depto. Med. Prev. FMUSP/Ministério da Saúde, 2003.
  • 6. 6 CAPÍTULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. O processo de transição epidemiológica brasileira, por estar transcorrendo de maneira rápida, tem levado à mobilização de elevados recursos para o tratamento de doentes crônicos, uma vez que na região Sudeste, dentre as principais causas de internação hospitalar através do Sistema Único de Saúde (SUS), em 2001, as doenças do aparelho circulatório ficaram em terceiro lugar (10%), sendo gravidez, parto e puerpério com 24% e as doenças do aparelho respiratório com 16%. Quanto à prevalência de pacientes atendidos em diálise pelo SUS, em 2001, foi de 38 casos por 100 mil habitantes, chamando a atenção o fato de que, enquanto em pacientes com menos de 30 anos a taxa era de 8 por 100 mil, nos de 60 anos e mais atingiu 132 por 100 mil. Em relação à transição epidemiológica brasileira, deve ser enfaticamente mencionado que a mortalidade por doenças do aparelho circulatório (DAC) tem acontecido em idades precoces e de maneira desigual em grandes cidades, como São Paulo. Em 2001, de acordo com dados do Progra- ma de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no município de São Paulo (PRO-AIM), 25% dos óbitos por DAC aconteceram em indivíduos com menos de 60 anos, tendo sido maiores nos homens (30,6%) do que nas mulheres (19,3%). Foi também descrito que nas regiões mais carentes do Município essas cifras são maiores, com quase 50% das mortes por DAC acontecendo precocemente. Portanto, a conseqüência do processo de transição demográfica da população brasileira é que se vai modificando a idade de morrer e, conseqüentemente, existirá um número crescente de pes- soas acometidas por doenças crônico-degenerativas, fato que tem grande importância para o pla- nejamento dos serviços de saúde e de formação de recursos humanos e de ensino na área médico-assistencial. CONCEPÇÃO GLOBAL DO ENVELHECIMENTO O envelhecimento é ainda motivo de controvérsias quanto à natureza e dinâmica de seu processo, apesar de ser um fenômeno comum a todos os seres vivos. Ao envelhecimento huma- no aplicam-se as mesmas dificuldades de caracterização e definição do fenômeno. Com efeito, permanecem ainda dúvidas a respeito dos mecanismos que acarretam modificações tão profun- das das funções orgânicas das pessoas idosas, particularmente daquelas que atingem idades mais avançadas da vida, o que torna adultos saudáveis em velhos frágeis, com redução das reservas funcionais e aumento exponencial da vulnerabilidade a muitas doenças e, conseqüente- mente, à morte. A existência de numerosos conceitos e de mecanismos propostos para explicar o fenômeno deixa clara a dificuldade de aceitar em sua plenitude qualquer das numerosas definições, pois todas estão longe de vislumbrar os intrincados caminhos que permeiam o processo. De qualquer forma, pode-se aceitar, com a restrição assinalada, que o envelhecimento é caracterizado como um processo dinâmico, progressivo e irreversível, no qual interagem múltiplos fatores biológicos, psíquicos e sociais. Do ponto de vista da fisiologia do envelhecimento, uma das justificativas para as dificuldades de compreensão deste fenômeno é a indefinição de seu início. Este ocorre já na fase de concepção, como querem alguns autores; entre a segunda e a terceiras décadas, como admitem outros; ou, como defendem Makinodan e col., nas fases mais avançadas da existência. O que se pode afirmar com certeza é a inexistência de um ponto ou limite de transição, semelhante aos que se acham presentes entre as fases de desenvolvimento, puberdade e maturidade. A responsável por essas três visões tão contraditórias é, sem dúvida, a inexistência de marcadores biológicos eficazes e confi- áveis do processo de envelhecimento. Se se aceitar a primeira dessas três visões, pode-se afirmar ser o envelhecimento resultante do somatório de todas as mudanças que ocorrem através do tempo nos organismos vivos, desde a concepção até a morte, não constituindo mera passagem do tempo, uma vez que as alterações biológicas associadas a esse fenômeno aumentam o risco de morbidade, incapacidade e morte.
  • 7. CAPÍTULO 1 7 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. De qualquer forma, independentemente da indefinição do início do processo, é certo que o fenômeno do envelhecimento é multifatorial e multidimensional. A importância maior ou menor desses fatores e o diferente grau de interação entre os mesmos justificam a grande variabilidade de comportamento biológico e psicossocial de um idoso em relação a outro. A Fig. 1.3 procura mostrar que, sobre uma base genética, atuam, em maior ou menor intensi- dade, fatores extrínsecos (reunidos sob o rótulo de estilo de vida), fatores psicossociais e ambien- tais, determinando alterações funcionais, celulares e moleculares, acarretando diminuição da capacidade de manutenção do equilíbrio homeostático e, portanto, maior predisposição a doenças. Fig. 1.3 — Fatores determinantes do processo de envelhecimento e conseqüente diminuição da capacidade de manutenção do equilíbrio homeostático. Fonte: Papaléo Netto M, Brito FC. Urgências em Geriatria, 2001. Deve ser mencionado que a participação em maior ou menor grau dos fatores extrínsecos acarretará, respectivamente, um envelhecimento comum ou um envelhecimento bem-sucedido, que serão discutidos em seguida. Pode-se depreender, do exposto, que o processo de envelhecimento é acompanhado por alte- rações significativas na composição, estrutura e fisiologia dos sistemas orgânicos e do indivíduo como um todo, sendo a pessoa idosa biologicamente tão diferente do adulto jovem quanto este o é da criança pré-adolescente. Acrescente-se que os últimos anos de vida são também marcados por mudanças profundas na composição familiar e doméstica que pode ser resultado, por exemplo, da viuvez. Somem-se a isso problemas importantes de privações de ordem econômica associadas a aposentadorias insatisfatórias, que podem, juntamente com outros fatores psicossociais como so- lidão, estar diretamente relacionados às mudanças no estado de saúde das pessoas idosas. Envelhecimento Comum e Envelhecimento Bem-sucedido Nas últimas décadas tem acontecido um interesse crescente a respeito não só dos problemas médicos das pessoas idosas, mas também de pesquisas sobre o envelhecimento humano em áreas
  • 8. 8 CAPÍTULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. básicas como a fisiologia, assim como a psicologia e a sociologia. Em 1997, um estudo divulgou uma revisão com 27 estudos epidemiológicos, todos longitudinais, provenientes de diversos paí- ses e com amostras representativas de homens e mulheres idosos e de meia-idade, alguns dos quais foram acompanhados por mais de uma década. Nesse mesmo ano, os mesmos autores divulgaram, em um simpósio da Sociedade Americana de Gerontologia, a existência de 15 novas coortes de idosos em andamento. Os investigadores envolvidos em estudos do envelhecimento têm procurado identificar as alterações que aparecem como resultado das doenças que são atribuídas ao processo de envelheci- mento. Decorre então, desse processo de análise científica, um conceito de normalidade que tem respondido favoravelmente aos propósitos dos investigadores. Assim, vários estudos têm demons- trado os efeitos da idade sobre a pressão sangüínea, a função renal, pulmonar, o sistema imunoló- gico, a visão e audição, tolerância à glicose, o sistema nervoso simpático e parassimpático, assim como funções cognitivas e comportamentais. Deve ser assinalado que o conhecimento desses aspectos fisiológicos relacionados ao envelhecimento são fundamentais devido à possibilidade de se conhecer e identificar situações que serão responsáveis pelo aparecimento das doenças. Deve ser questionada, no entanto, a tendência enraizada na pesquisa gerontológica de procu- rar separar as populações de doentes daquelas normais, assim como descrever os achados das pesquisas como relacionadas aos estados patológicos ou ao processo de envelhecimento. Essa tendência é reducionista, levando-se em conta que existem muitas diferenças entre os grupos de pessoas idosas catalogadas como normais ou não doentes, não só dentro de um mesmo grupo étnico, mas também entre grupos de diferentes culturas. Um outro problema desse reducionismo é que, ao se catalogar as pessoas como normais ou não doentes, despreza-se o conceito de risco ou de agravo, nascendo daí a tendência a se achar que o normal é que seria natural e, portanto, cria-se uma gerontologia de conceitos comuns não associada aos riscos porventura existentes. No final da década de 1980 foi introduzida no debate gerontológico, por Rowe e Kahn (1987), a possibilidade de separar em dois grupos aquelas pessoas não doentes que eram catalogadas então como normais, e tem sido freqüente, desde então, o seu uso. O primeiro grupo, que foi denomina- do comum, seria constituído de pessoas que apresentavam altos riscos, como serem fumantes, obesos ou inativos fisicamente. O segundo grupo, denominado bem-sucedido, compõe-se de indi- víduos que apresentam baixos riscos e boa capacidade funcional, tanto física quanto cognitiva. O envelhecimento bem-sucedido pode ser caracterizado pela presença de três situações essen- ciais que interagem dentro de uma relação dinâmica, a saber: baixa probabilidade de doenças e de incapacidades associada a elas, boa capacidade funcional, tanto física quanto cognitiva, e partici- pação ativa na sua comunidade (Fig. 1.4). Na primeira delas não basta somente a ausência das doenças e de incapacidades, mas também a presença ou a gravidade de fatores de risco como obesidade, fumo, intolerância à glicose e outros. A concepção antiga de que em conseqüência da inevitabilidade do processo intrínseco e geneticamente predeterminado do envelhecimento haveria um risco aumentado para o apareci- mento das doenças e incapacidades não tem se sustentado, em decorrência dos achados de estudos que têm mostrado que muitas dessas alterações estão associadas a fatores ambientais extrínsecos, aqui incluído o estilo de vida. A segunda situação descrita refere-se à preservação e ao desenvolvimento de uma boa capaci- dade funcional física e psíquica. Quanto aos determinantes da manutenção de uma boa capacidade física, as pesquisas epidemiológicas realizadas pela Fundação MacArthur em Envelhecimento Bem-sucedido, nos EUA (1998), têm mostrado que a influência de características socioeconômi- cas, como ter baixa renda, é um dos fatores de declínio da capacidade física, assim como ativida- des de lazer e suporte emocional dos familiares e amigos ajudam na manutenção de uma boa condição física. Com referência ao estado cognitivo tem sido observado em vários estudos, tanto transversais como longitudinais, que a escolaridade dos indivíduos é o maior fator protetor contra as perdas de memória. Em um estudo epidemiológico realizado na cidade de São Paulo no ano de
  • 9. CAPÍTULO 1 9 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. 2000 com pessoas com 60 anos e mais, Laurenti e Lebrão encontraram uma prevalência de 11% de problemas cognitivos como perda de memória, de raciocínio e de outras funções cerebrais. Foi observado que entre as pessoas que nunca tinham ido à escola a prevalência de perda de memória foi de 17%, enquanto naquelas que referiam ter menos de sete anos de estudo foi de 7% e, nas que estudaram por mais de sete anos a taxa foi só de 1%. A terceira situação essencial para a caracterização do envelhecimento saudável ou bem-suce- dido refere-se à necessidade de que as pessoas desenvolvam, durante toda a sua vida, a prática de participação comunitária, por meio da qual as relações interpessoais possam adquirir uma dimen- são que transcenda o núcleo familiar e possa colaborar para a construção de uma coletividade solidária. As relações interpessoais, ao envolverem troca de informações e de contatos contínuos, favorecem o surgimento natural de um suporte emocional e podem ir criando redes de ajuda mútua que caracterizam, inclusive, uma atividade produtiva. Esta atividade não precisa ser remunerada para ser catalogada como tal, mas possui uma função estratégica, com a pessoa trabalhando como voluntária em uma igreja, um asilo, um hospital ou mesmo nos domicílios, auxiliando pessoas com diferentes dificuldades para realizar as suas atividades da vida diária. Alguns estudos epide- miológicos, todos eles longitudinais e com grandes populações, têm mostrado uma associação significativa (riscos relativos) de que fazer parte de uma rede de apoio social constitui um determi- nante de longevidade, especialmente para os homens. Este tema das redes de apoio, que será discutido melhor no capítulo 14, tem no equacionamento e na compreensão do envelhecimento humano uma importância central, pois a sociedade ainda não encontrou uma maneira de operaci- onalizar em ações algumas informações já conhecidas de que o isolamento ou a perda de contatos sociais constitui um fator de risco para a saúde. O suporte social tanto instrumental como afetivo melhora a qualidade de vida das pessoas, podendo-se afirmar, finalmente, que qualquer ajuda é sempre benéfica, devendo ser ajustada a cada situação existente. Fig. 1.4 — Modelo de envelhecimento bem-sucedido. Adaptado de Rowe e Kahn, 1997.
  • 10. 10 CAPÍTULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Apesar da fragilidade de políticas públicas em valorizar a questão do envelhecimento popula- cional brasileiro, começam a surgir possibilidades de intervenção sobre vários fatores extrínsecos e de uma eventual modificabilidade dos mesmos. O desenvolvimento de ações que vão desde intervenções éticas de regulação do funcionamento de casas de repouso, passando por ações de promoção de saúde e de imunização para a prevenção de doenças infecciosas como a gripe, a garantia da existência em toda rede do Sistema Único de Saúde (SUS) de medicamentos para o tratamento de hipertensão arterial e diabetes, assim como uma mobilização dos idosos, nas gran- des cidades, por atividades que melhorem sua qualidade de vida, deverá trazer resultados benéfi- cos para a população vivenciar um envelhecimento bem-sucedido. Envelhecimento versus Doença A possibilidade de encontrar marcadores biológicos que permitam conceituar o fenômeno do envelhecimento e que sejam válidos seria de grande utilidade em estudos epidemiológicos, em que grupos populacionais definidos teriam avaliado o estado biológico do processo de envelhecimen- to, aqui incluídos os fatores de risco para a incapacidade, doença e morte. Contudo, só recente- mente houve a elucidação do seqüenciamento do genoma humano, uma façanha e uma conquista histórica da inteligência humana em pesquisa biomédica que poderá levar a serem obtidas, certa- mente, em anos vindouros, respostas sobre a complexidade dos aspectos genéticos do envelheci- mento, abrindo caminho assim para ações preventivas mais eficazes das doenças e o desenvolvimento de estratégias de tratamento. É do conhecimento de todos que, com o avançar da idade, aumenta a taxa de prevalência de doenças crônicas, sendo elevado o número absoluto de pessoas que citam pelo menos uma condição crônica. No início da década de 1990, Ramos e colaboradores, em um estudo epidemiológico realizado na cidade de São Paulo com 1.602 idosos de 60 anos e mais de idade, mostraram que 86% dos entrevis- tados disseram ser portadores de pelo menos uma das seguintes doenças crônicas: reumatismo, asma, hipertensão, má circulação, diabetes, lesão de pele, prisão de ventre e insônia. No ano 2000, um outro inquérito populacional, realizado pelo autor na Secretaria Municipal da Saúde em parceria com o Conselho Municipal do Idoso, registrou que 56,2% dos pesquisados disseram ser hipertensos, 21,9% diabéticos e 25,7% padeciam de alguma doença osteoarticular. O que chamou a atenção nessa pesquisa foi que 52,5% das pessoas idosas afirmaram estar com visão ruim ou péssima, além de 15,8% se queixarem de audição ruim. Em outro levantamento populacional com idosos, realizado também na cidade de São Paulo, no ano 2000, Laurenti e Lebrão encontra- ram que 53,3% das pessoas disseram ser portadoras de hipertensão, 31,7% artrite, artrose e reuma- tismo, 19,5% cardiopatias, 18% diabetes, 14,2% osteoporose,12,2% pneumopatia, 11% problemas cognitivos, 7,2% derrame e 3,3% câncer. O que deve ser ressaltado é que esta taxa elevada de prevalência de doenças crônicas tem importantes implicações para a saúde das pessoas que estão envelhecendo. Tem sido descrita uma associação significativa, em populações portadoras dessas doenças crônicas, entre a utilização excessiva dos serviços de saúde, institucionalizações desnecessárias e diversas incapacidades ou limitações físicas ou cognitivas para realizar as tarefas do dia-a-dia. Uma situação complexa na abordagem dos determinantes da saúde no envelhecimento é que as pessoas vão apresentando uma elevada prevalência de múltiplas doenças com o avançar dos anos a co-morbidade, e a utilização de múltiplos fármacos constitui um sério problema clínico devido à possibilidade de interações desfavoráveis e efeitos colaterais desastrosos. No levanta- mento realizado pelo autor no ano de 2000, 73,3% dos entrevistados referiram que tomavam um ou mais medicamentos. Laurenti e Lebrão encontraram taxas ainda maiores, de 87%. O exposto ressalta a importância da identificação criteriosa das diferentes situações clínicas das pessoas idosas, devendo ser uma meta a ser alcançada na busca por um melhor estado de saúde dessas pessoas, uma vez que diversas alterações fisiológicas e anatômicas que acompanham o pro-
  • 11. CAPÍTULO 1 11 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. cesso de envelhecimento normal podem ser catalogadas erroneamente como uma doença ou distúr- bio e receber uma intervenção inadequada, com sérias complicações clínicas. Um outro aspecto importante das doenças crônicas é o de que o seu curso clínico é lento e as pessoas somente procuram ajuda quando os sintomas já são insuportáveis para elas ou já se sentem muito doentes. Isso decorre do fato de que não só para o indivíduo, mas também para os próprios familiares, as queixas, quando presentes, seriam decorrentes do próprio processo de envelheci- mento. Reconhecendo-se, portanto, a importância da ocorrência de múltiplas doenças crônicas du- rante o avançar da idade, a complexidade de sua interação e de se confundirem com mudanças devido ao envelhecimento normal, os estudos epidemiológicos de base populacional adquirem importância devido à possibilidade de auxiliarem na identificação dos determinantes e dos fatores etiológicos, podendo facilitar o entendimento das diferentes situações clínicas que conduzam a uma melhor assistência à saúde dessas populações. ASPECTOS PREVENTIVOS Conceitos Gerais A palavra prevenção, que no Dicionário Aurélio é definida como o ato ou o efeito de prevenir, e este como o ato de chegar antes, de vir antes, adiantar-se ou antecipar-se, adquire importância estratégica para a abordagem das diferentes situações que acompanham o envelhecimento huma- no. É de aceitação universal que a grande meta de todos os setores que lidam com a saúde das pessoas é a busca do prolongamento da vida humana por meio da prevenção das doenças e da promoção da saúde. Na área médica, desde meados do ano de 1960, Leavell e Clark sintetizaram o conceito de saúde pública, divulgado por Winslow em 1920, de que a medicina preventiva constitui a ciência e a arte de evitar doenças, prolongar a vida e promover a saúde física e mental e a eficiência. Esses autores conseguiram apresentar a prevenção por meio de um modelo que possui grande valor didático e que facilita a prática de todos os profissionais que trabalham com saúde e necessitam posicionarem-se diante das mútiplas e complexas situações relacionadas à saúde. O modelo proposto por Leavell e Clark de procurar classificar as ações de prevenção em três níveis, a saber, primário, secundário e terciário, permite uma aplicação das ações de saúde nas várias fases da história natural da doença. A prevenção primária é composta de dois níveis, pro- moção de saúde e proteção específica, nas quais existe a possibilidade de ser realizada uma série de ações já no período pré-patogênico, como a proteção específica das pessoas contra agentes patogênicos ou a melhoria do ecossistema de modo que as agressões ambientais sejam reduzidas ao máximo. A prevenção secundária, que inclui nos seus dois níveis o diagnóstico e o tratamento precoce, além da limitação da invalidez, permite que aquelas pessoas que porventura não tenham sido protegidas sejam corretamente diagnosticadas e tratadas, uma vez que se tem claro que tal atitude favorece o prognóstico. Com a progressão do processo patogênico e a piora da doença, a instituição de um tratamento adequado permitirá uma recuperação satisfatória e a limitação da invalidez dos doentes. Se, porventura, a incapacidade se tornar definitiva, a prevenção terciá- ria, por meio de ações de reabilitação, procurará de todas as maneiras possíveis readaptar o indivíduo na sua comunidade para que desempenhe o máximo de suas atividades e consiga ter de volta a sua autonomia. Afora esses clássicos conceitos de prevenção de Leavell e Clark, apareceram outras pro- postas de agrupamento dos cinco níveis de classificação descritos por esses autores, como a separação tradicional e reducionista entre medicina curativa (3o , 4o e 5o níveis) e medicina preventiva (1o e 2o níveis), além de Hilleboe (1965), que usa a terminologia de prevenção da ocorrência (1o e 2o níveis) e prevenção da evolução (3o nível). O que deve ser ressaltado é que esses níveis de prevenção se apresentam como um continuum que corresponde à história natu- ral da doença ou de qualquer outro processo mórbido, não estando, portanto, isolados do conceito da prevenção. O que sempre irá se buscar é uma prática que procure atuar no nível
  • 12. 12 CAPÍTULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. mais para a esquerda possível do modelo de Leavell e Clark e que resulte em benefícios para a vida das pessoas. Tem sido observado, tanto nos países desenvolvidos como também no Brasil, que a taxa de mortalidade das pessoas com mais de 60 anos tem declinado sistematicamente, fazendo crer que determinadas ações preventivas têm sido eficazes no controle de alguns fatores de risco para o aparecimento de certas doenças crônicas. No Brasil tem acontecido, nos últimos 10 anos, uma redução da incidência das mortes relaci- onadas ao aparelho circulatório em áreas de melhores níveis socioeconômicos, em parte fruto de uma melhor assistência médica, mas também em decorrência de medidas de prevenção e diagnós- tico precoce. Na cidade de São Paulo, o PRO-AIM relatou em 1999 que duas pessoas de 65 anos possuem riscos diferentes de morrer por doença do coração, e, se uma delas residisse em área periférica do município, correria risco oito vezes maior do que a que reside em áreas centrais ou que possua melhores indicadores econômicos. Prevenção e Morbidade O aumento considerável da expectativa de vida que foi observado nos países desenvolvidos nos últimos 30 anos, que resultou numa retangularização das curvas de sobrevivência, está sendo acompanhado também por uma compressão da morbidade, ou seja, está havendo também uma retangularização da curva de morbidade. Tal situação pode ser observada, nesses países, pela queda na taxa de mortalidade das doenças cardiocirculatórias, de incapacidades, por uma melhor auto-avaliação de saúde dos indivíduos em muitos países, além da queda da prevalência de algu- mas doenças crônicas. Tais resultados favoráveis são decorrentes de ações de sucesso em prevenir e retardar o início de aparecimento das doenças crônicas, e de um controle adequado que minimiza o impacto sobre o estado funcional e o bem-estar das pessoas. Devem ser ressaltados os avanços terapêuticos em diversas áreas médicas que são oferecidos à maioria das pessoas, a existência de certos cuidados básicos como melhores condições nutricionais maternas, maior controle das doenças infecciosas infantis e o acesso à educação, e a uma série de benefícios sociais durante toda a vida. Por isso, o problema de saúde mais importante nas nações desenvolvidas tem sido o de procu- rar reduzir a morbidade que acompanha o envelhecimento das suas populações, representando a sua prevenção um tópico fundamental para a saúde futura das pessoas e na qual o conhecimento e a busca das melhores alternativas que deverão ser implementadas são condição sine qua non de bons resultados das políticas de saúde. No entanto, apesar de estarem sendo verificadas enormes conquistas no estado de saúde des- sas populações, tem sido relatado aumento da obesidade, da inatividade física e do uso do fumo entre os jovens, e ações preventivas precisam ser estimuladas, pois a prevalência e os custos das doenças crônicas estão aumentando continuamente. A morbidade aqui referida é um conceito geral que engloba todas as enfermidades, podendo ser mais bem definida em discussões gerais como incapacidade, a qual constitui o seu principal componente. Tal definição pode ser mais facilmente compreendida e de fácil avaliação, como será discutido no segundo capítulo deste livro, que trata da capacidade funcional. A prevenção das incapacidades relacionadas ao processo de envelhecimento depende, em sua maior parte, de modificações dos fatores de risco associadas ao estilo de vida das pessoas, e que já são causas conhecidas e associadas ao aparecimento das doenças crônicas. Alguns estudos epide- miológicos têm mostrado que mais de 70% dos acidentes cerebrais vasculares e do câncer de cólon, 80% da doença arterial coronariana e 90% do diabetes tipo 2 são potencialmente evitáveis por modificações do estilo de vida. Além disso, as doenças crônicas são responsáveis pela maioria das incapacidades que aparecem no decorrer do processo de envelhecimento. Quanto às ações
  • 13. CAPÍTULO 1 13 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. preventivas que visem promover uma melhor qualidade de vida para as populações, precisam ser priorizadas o quanto antes, levando-se em conta que devem ser destacados aqueles fatores de risco mais diretamente relacionados à determinação da morbidade e mortalidade das doenças crônicas, como a inatividade física, os hábitos alimentares inadequados, o uso em massa do fumo e os agravos ao bem-estar mental e ambiental onde vivem as pessoas. Num estudo epidemiológico prospectivo, Fries tem acompanhado um grupo de 1.741 pessoas que foram atendidas na Universidade da Pensilvânia em 1939 e 1940. Foram registradas anual- mente informações sobre a existência das incapacidades e de outras morbidades de 1986 até 1994, quando o grupo de pessoas estava com idades de 67 a 75 anos de idade. O autor calculou então a incapacidade cumulativa até os 75 anos, e para aqueles que apresentavam alguma incapacidade foi possível estimar a incapacidade total da sua vida. Os indivíduos do estudo foram divididos em três categorias de risco, a saber, baixo, moderado e alto, de acordo com o índice de massa corpórea, consumo de cigarros e prática de atividade física, que haviam sido avaliados em 1962 e repetidos em 1986. Os resultados mostraram que no grupo de baixo risco a incapacidade foi retardada em oito anos quando comparada ao grupo de alto risco, assim como a incapacidade cumulativa foi duas vezes maior no grupo de alto risco. As taxas de mortalidade foram também diferentes, tendo havido no grupo de menor risco um prolongamento dos anos de vida que variou de um a quatro anos, quando comparado à categoria de alto risco. Portanto, esse estudo mostrou que a modifica- ção de comportamento de riscos relacionados ao estilo de vida na idade adulta e na velhice retar- dou o aparecimento das incapacidades, e a morbidade caiu quase à metade no último ano de vida naquelas pessoas que possuíam hábitos mais saudáveis. As ações preventivas, no contexto do envelhecimento, procuram também retardar ou evitar a progressão das doenças para eventos clinicamente significativos, aqui incluídos a tentativa que deve ser feita de procurar identificar o maior número possível de fatores tanto de ordem funcional, como cognitiva, social ou psicológica. Deve-se ter sempre em mente que não deverá existir uma solução fácil, uma vez que as ações preventivas das incapacidades ou da morbidade cumulativa durante o processo de envelhecimento são causadas por múltiplos e complexos fatores. Tal fato pode ser observado pelo impacto que o estado de saúde física das pessoas exerce sobre os fatores de risco. Como exemplo temos de tomar muita cautela ao catalogar aquelas pessoas que não fazem atividade física, como portadoras de alguma alteração pulmonar ou cardíaca. Do mesmo modo, alguns estudos indicavam que a obesidade estava associada a um risco aumentado de osteoartrite, mas esta é que levava a uma diminuição da prática de exercícios e, conseqüentemente, a taxas mais elevadas de obesidade. Ainda deve ser levado em conta que avaliações rotineiramente realizadas, como medidas de peso, lípides, consumo alimentar diário, avaliações bioquímicas, a presença de estados depressi- vos e muitos outros fatores de risco podem ser influenciadas por doenças já diagnosticadas ou não. Mesmo situações freqüentes relacionadas à fase do envelhecimento, como a viuvez, podem alterar os níveis dos fatores de risco. A divulgação do seqüenciamento do genoma humano, em 2002, certamente levou ao desen- volvimento de estratégias de tratamento e prevenção mais eficazes. A identificação de anormali- dades bioquímicas específicas que propiciem melhor capacidade de previsão de maior número de doenças é uma conquista que já está sendo antecipada pelos pesquisadores. O conhecimento des- sas alterações permitirá identificar ações de rastreamento e de prevenção, além do desenvolvimen- to de intervenções específicas para a correção dos defeitos bioquímicos diagnosticados. Contudo, o que vem sendo alertado por alguns pesquisadores é que não se deverá priorizar exclusivamente as pesquisas genéticas em detrimento das demais áreas, não só devido aos altos custos envolvidos nessas pesquisas, mas também pelos ainda incipientes resultados de saúde obti- dos. O que se tem preconizado é a necessidade de integrar essas novas informações da genética dentro de estudos epidemiológicos corretamente desenhados para esses fins. Os resultados que certamente advirão serão frutos da identificação de como essas variações genéticas estão relacio-
  • 14. 14 CAPÍTULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. nadas aos riscos de aparecimento das principais doenças do homem. Será possível então, por meio do conhecimento dos aspectos fisiopatogênicos das doenças, o desenvolvimento de novos medica- mentos e de intervenções mais individualizadas. Portanto, o desenvolvimento de pesquisas que se preocupem com a integração dos fatores ambientais, incluindo a dieta e outros relacionados ao estilo de vida, juntamente com as informações genéticas, tem a possibilidade de esclarecer o papel não só do genótipo mas também do ambiente na gênese das doenças. Esse conjunto de informa- ções levará, em última instância, à escolha das melhores alternativas para melhorar a vida e a saúde das pessoas. O modelo de prevenção de Leavell e Clark, já discutido, adquire sua importância quando se procura abordar as incapacidades ou a morbidade cumulativa que acompanha o processo de enve- lhecimento humano, que, por ser um fenômeno complexo e multicausal, não existem soluções simples e fáceis para a questão da morbidade e das incapacidades. No nível de prevenção primária, existem medidas definidas como de promoção de saúde, incluindo a educação para a saúde, que será discutida mais amplamente em outra parte deste livro no terceiro capítulo sobre Promoção da Saúde. Prova disso é o relato de estudos epidemiológicos de que intervenções educativas têm diminuído, por exemplo, a morbidade tanto em populações de portadores de doença de Parkinson e artrite como em indivíduos normais. Outras ações de nível primário, como a instituição da prática de exercícios regulares, parar de fumar, mudança de hábi- tos alimentares errôneos, imunizações contra doenças como gripe e pneumonia, controle de peso, suplementação de cálcio, vitamina E, estrógeno e aspirina em baixas doses para grupos definidos de pacientes, trazem também grandes contribuições e podem ser avaliadas pelos seus elevados riscos atribuíveis. A identificação de riscos ambientais, apesar de exigir intervenções mais com- plexas, precisa também ser considerada pela elevada morbidade que acompanha, por exemplo, as quedas que acontecem em diversas situações e lugares. Quanto aos aspectos de prevenção secundária, existe a possibilidade de se reduzir a prevalên- cia de acidentes vasculares cerebrais associados com a fibrilação atrial, e de uma série de outros diagnósticos oportunos de alterações que requerem tratamento, como as dislipidemias, a hiperten- são arterial sistólica e a hiperglicemia, dentre outros. Determinadas complicações como as úlceras de pé diabético, a retinopatia, a nefropatia e as amputações podem ser prevenidas ou retardadas por meio de um controle médico adequado. No nível de prevenção terciária, as atividades de reabilitação possuem um impacto significa- tivo ao conseguirem freqüentemente reduzir as incapacidades em várias situações clínicas como: acidentes vasculares cerebrais, fraturas de bacia, amputações, limitações decorrentes de doenças articulares degenerativas, distúrbios auditivos, da fala ou visuais, além de doenças pulmonares e mesmo cardíacas. O objetivo essencial é devolver à pessoa que envelhece e necessita da reabilita- ção a possibilidade de resgatar a sua autonomia e capacidade de autodeterminação, mesmo que dependente de outrem para realizar algumas das atividades da sua vida diária. O fato que precisa ser considerado é o de que, como já vimos, os dados de projeção demográ- fica apontam que em 2025 cerca de 70% das pessoas com mais de 60 anos estarão residindo em países em desenvolvimento como o Brasil e, portanto, o peso das mortes em decorrência das doenças crônico-degenerativas será muito grande, levando-se em conta que as doenças infeccio- sas ainda constituirão problemas de saúde pública não solucionados. Portanto, como Kalache (2002) tem comentado, a teoria da compressão da morbidade de Fries, que tem ocorrido nos países desen- volvidos, necessita de um posicionamento crítico quando se avaliam as características socioeco- nômicas do processo de transição epidemiológica nos países em desenvolvimento. A ocorrência das doenças crônicas tem acontecido em faixas etárias precoces como, por exemplo, o diabetes, cuja incidência tem aumentado nas pessoas de 45 a 64 anos de idade. Apesar de a existência de medicamentos para o controle da hipertensão arterial fazer parte da rede básica de saúde do SUS, e de o avanço que constitui o desenvolvimento de políticas públicas de saúde ter procurado cadas- trar e acompanhar a população de diabéticos e hipertensos em todo o País, ainda não está conse-
  • 15. CAPÍTULO 1 15 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. guindo reduzir a principal causa de morte decorrente das doenças do coração, a não ser nas regiões mais desenvolvidas do país. Mesmo assim, observa-se nessas áreas, como já foi dito, uma morta- lidade precoce por doenças do aparelho circulatório em pessoas com menos de 60 anos. Chama a atenção, ainda, o fato de que vem aumentando a importância das causas de morte relacionadas às neoplasias em pessoas com mais de 60 anos, fato que vai requerer altos investimentos do setor público de saúde. A população idosa brasileira conta, segundo dados do censo 2000 do IBGE, com um contin- gente de mais de 14 milhões de pessoas, e constitui uma coorte de pessoas com nível muito baixo de escolaridade, sendo de 1,5 ano para os homens e 1,6 para as mulheres. Nas regiões metropoli- tanas, no entanto, a situação é mais favorável, embora ainda muito baixa, ou seja, com apenas 2,7 anos em média. Do ponto de vista econômico, em 1999 o IBGE apontava que 40% das pessoas podiam ser consideradas pobres e vivendo em famílias com rendimento de até um salário mínimo. Além disso, o sistema público de benefícios sociais não consegue, durante a vida, oferecer recur- sos que permitam que as pessoas cheguem à idade avançada com uma boa reserva funcional. Esses fatos enfatizam uma necessidade do desenvolvimento de estratégias preventivas que priorizem, num curto período de tempo, a adoção de medidas de promoção de saúde visando capacitar a população para assumir além do controle deste processo, uma atuação dinâmica que busque continuamente a melhoria da sua situação de saúde e qualidade de vida. SAÚDE E ENVELHECIMENTO A busca da longevidade, de viver mais e de usufruir um estado de bem-estar e de saúde constitui um dos principais valores cultuados em toda a história da humanidade, assim como faz parte de um dos principais anseios da população brasileira, que coloca a saúde e a possibilidade de atenção se adoecerem como uma de suas principais preocupações. O conceito de saúde no homem não se restringe somente a um processo de adaptação eco- lógica necessário à vida, mas sim à capacidade de desenvolver uma perspectiva integradora da sua realidade, construindo com ela vínculos ativos, transformadores, que permitam satisfazer as necessidades de um ser em permanente evolução psicossocial e cultural. Como bem assinalam San Martin e Pastor, sendo o processo do viver uma situação permanente de equilíbrio e dese- quilíbrio ecológico, o estado de funcionamento dos sistemas orgânico e mental constitui uma situação permanente de alteração da funcionalidade de normal para anormal, em diferentes níveis de gravidade. É importante ressaltar que o estado de saúde de um indivíduo é muito mais que um mero bem- estar físico. Ele constitui-se de uma complexa inter-relação entre os aspectos psicológicos e fisio- lógicos da saúde e da doença, e também entre os componentes objetivos e subjetivos desses estados. São bem conhecidas de todos as dificuldades para se conceituar e medir as situações de saúde em qualquer idade, não havendo uma perfeita concordância entre os pesquisadores sobre como medir a saúde das pessoas na comunidade. A OMS, que divulga desde 1947 o clássico conceito de saúde como um estado de completo bem-estar físico, psicológico e social, tem sugerido, em diversos encontros e conferências com todos os seus países membros, que a aplicabilidade deste conceito inclui a necessidade de co- nhecer os vários determinantes do estado de saúde das populações, apontando na direção do conceito de promoção da saúde. Esta concepção que destaca a saúde como um componente fundamental do desenvolvimento humano, procura resgatar e valorizar uma série de fatores que propiciem uma vida digna e de bem-estar coletivo. Em outra parte deste livro (capítulo 3), a promoção de saúde será discutida, assim como os conceitos de autonomia e de capacidade funcio- nal (capítulo 2), que podem ser considerados como representantes razoáveis do estado de saúde das pessoas que envelhecem.
  • 16. 16 CAPÍTULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. A aplicação dos conceitos de saúde relacionados ao envelhecimento é mais complexa, pois essas medidas sofrem a interferência de atitudes culturais negativas, preconceituosas, relativas ao envelhecimento, à própria disponibilidade de recursos para a assistência médico-sanitária e tam- bém devido à elevada prevalência de deficiências próprias do envelhecimento. Deve ser enfatiza- do, ainda, que as deficiências que não provocam incapacidades são pouco consideradas na assistência aos idosos, sendo muitas vezes tidas como partes do processo normal de envelhecimento, confun- dindo assim uma avaliação satisfatória do estado de saúde. É por isso que, mais do que catalogar as pessoas que estão envelhecendo como portadoras de uma boa ou má saúde, é importante que passemos a valorizar as suas capacidades de realizar aquelas atividades das suas vidas autodefinidas como essenciais para a satisfação dos seus ansei- os, e que consigam mantê-las com autonomia durante toda a sua existência. BIBLIOGRAFIA 01. Ayres JRCM. Epidemilogia, promoção da saúde e o paradoxo do risco. Rev Bras Epidemiol 5(1):2002. 02. Doenças do aparelho circulatório: mortalidade precoce e desigual. Programa de Aprimoramento das In- formações de Mortalidade no Município de São Paulo. Prefeitura do Município de São Paulo, 2001. 03. Epping-Jordan J, Bengoa R, Kawar R, Sabaté E. The challenge of chronic conditions: WHO responds. BMJ 323, 2001. 04. Fries JF. Aging, natural death, and the compression of mortality. New Engl J Med 303(30), 1980. 05. Fries JF. Can preventive gerontology be on the way? Am J Publ Health 87(10), 1997. 06. Kalache A, Aboderin I, Hoskins I. Compression of morbidity and active ageing: Key priorities for public health policy in the 21st century. Bulletin of the World Health Organization 80(3), 2002. 07. La salud y el envejecimiento. Organización Panamericana de la Salud/Organización Mundial de la Salud. 26a Conferência Sanitária Panamericana. Washington, 2002. 08. Leavell HR, Clark EG. Medicina preventiva. 1a ed. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1976. 09. Ministério da Saúde. Projeto Promoção da Saúde. Brasília, 2001. 10. Papaléo Netto M. Gerontologia. 1a ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 1996. 11. Papaléo Netto M, Brito FC. Urgências em Geriatria. 1a ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2001. 12. Perfil da população idosa residente em onze regiões do município de São Paulo no ano 2000. Prefeitura do Município de São Paulo, Grande Conselho Municipal do Idoso, 2001. 13. Pivetta M. Retratos do entardecer. Pesquisa Fapesp no 87, 2003. 14. Ramos LR, Rosa TEC, Oliveira ZM, Medina MCG, Santos FRG. Perfil do idoso em área metropolitana na Região Sudeste do Brasil: resultados de inquérito domiciliar. Rev Saúde Pública 27(2), 1993. 15. Rowe JW, Kahn RL. Human aging: usual and successful. Science 237,1987. 16. Rowe JW, Kahn RL. Successful aging. The Gerontologist 37(4), 1997. 17. San Martin H, Pastor V. Epidemiología de la vejez. 1a ed. Madrid: McGraw-Hill-Interamericana de España, 1990. 18. Síntese de indicadores sociais 2000. IBGE, Departamento de População e indicadores sociais. Rio de Janeiro, 2001. 19. Wallace RB, Woolson RF. The epidemiology study of the elderly. 1st ed. New York: Oxford University Press, 1992. 20. Willett WC. Balancing life-style and genomics research for disease prevention. Science 296, 2002.