1. O que é a Lógica? Qual é a importância do estudo da Lógica?
A lógica é uma disciplina filosófica que procura estabelecer os princípios, as leis e as regras
a que devem obedecer o pensamento e o discurso, para serem coerentes. No seu sentido
etimológico, ela é a ciência do “logos”. O termo “logos” de origem grega significa “palavra,
discurso, pensamento, razão”. Como tal, a lógica terá por objeto o pensamento e o discurso
preocupando-se com a sua correção. Esta disciplina estuda a distinção entre argumentos válidos
e inválidos.
A lógica é importante ao definir as condições que nos permitem relacionar, orientar e
estruturar os nossos pensamentos, a fim de nos pudermos entender uns aos outros e evitarmos
erros de raciocínio no conhecimento do real. É importante ainda ao permitir o desenvolvimento
de competências argumentativas e demonstrativas, e de análise de velocidade dos vários
discursos, contribuindo para a autonomia, o espírito crítico e o exercício pessoal da razão.
Estimula o progresso do pensamento filosófico através do contínuo processo de criação, revisão
e rejeição dos argumentos.
Instrumentos lógicos do pensamento: conceito, juízo e raciocínio
Conceito – representação intelectual, abstrata e geral das características comuns a um
conjunto de seres.
O conceito de mesa, por exemplo, é uma síntese que reúne as características comuns (ou
invariantes) presentes numa diversidade de mesas.
A expressão verbal do conceito designa-se por termo, sendo este diferente entre as várias
línguas e podendo ser constituído por uma ou várias palavras.
Os conceitos não existem isolados. Quando pensamos, relacionamos conceitos, ou seja,
formamos juízos.
Juízo – operação mental que permite estabelecer uma relação de afirmação ou de negação
entre conceitos, podendo tal relação ser considerada verdadeira ou falsa.
Se dissermos, por exemplo, “A águia é um batráquio”, unimos dois conceitos (águia e
batráquio), formando um juízo afirmativo, embora falso. Neste caso,águia é o sujeito (ou seja, o
ser a quem se atribui o predicado) e batráquio é o predicado (é o que se diz do sujeito, podendo
ser afirmado ou negado).
A expressão verbal do juízo é a proposição, que varia consoante a língua em que nos
exprimimos.
As proposições são sempre afirmações ou negações, isto é, são frases declarativas. Se
interrogamos, se damos ordens, se produzimos exclamações,se fazemos promessas,não estamos
perante proposições.
Como tal, não são proposições frases como as seguintes:
Qual é a capital de Portugal?
Prometo que irei à festa.
Que dia maravilhoso!
Nem mais um passo!
Em síntese, apenas os enunciados que, sendo dotados de sentido, possuem valor de verdade
(isto é, podem ser considerados verdadeiros ou falsos), porque atribuem, declaram ou constatam
alguma coisa, é que se enquadram na categoria das proposições.
Talcomo os conceitos, os juízos também se relacionam entre si, organizando-se em operações
mais complexas, chamadas raciocínios ou inferências.
Raciocínios – encadeamentos de dois ou mais juízos, os quais se encontram estruturados para
deles se extrair uma conclusão. A expressão verbal do raciocínio é o argumento.
2. Sintetizemos todos estes aspetos a partir de um silogismo – raciocínio estudado por
Aristóteles e que é composto por trêsproposições, emque, dadas asduasprimeiras (aspremissas),
se segue necessariamente a terceira (a conclusão).
Todos os portugueses são europeus-------------(Premissa maior)
Todos os lisboetas são portugueses--------------(Premissa menor)
Todos os lisboetas são europeus-----------------(Conclusão)
Embora o raciocínio anterior seja válido e todas as suas proposições sejam verdadeiras,
podem existir raciocínios válidos com todas as proposições falsas, por exemplo o seguinte:
Todos os animais são plantas. (F)
Toda a pedra é animal. (F)
Toda a pedra é planta. (F)
O que importa salientar é que a verdade e falsidade ocorrem apenas ao nível dos juízos ou
proposições. A eles se atribui um dos valores lógicos: verdadeiro ou falso.
Nesse caso,a verdade refere-se à matéria dos juízos. Porsua vez, a validade refere-se à forma,
ou seja, ao modo como esses juízos estão encadeados e organizados no raciocínio. Por isso, do
raciocínio ou argumento podemos dizer que é válido ou inválido, conforme a maneira como os
juízos estão dispostos nele.
Vejamos um raciocínio inválido com as premissas verdadeiras e a conclusão falsa.
Todos os minhotos são portugueses (V)
Todos os bracarenses são minhotos (V)
Logo, nenhum bracarense é português (F)
Um argumento ou raciocínio inválido é também chamado falácia. O estudo da lógica ajuda a
precavermo-nos dos raciocínios falaciosos, a fim de justificarmos com correção as nossas teses e
de não sermos enganados por discursos aparentemente coerentes,mas que na realidade escondem
autênticas falácias.
As falácias, sendo aparentemente corretas, conduzem na realidade ao equívoco aquele que
aceita a conclusão, uma vez que não respeitam as regras da lógica.
Podemos dizer que num argumento válido é impossível que as premissas sejam verdadeiras
e a conclusão falsa. Argumentar de forma válida é estabelecer um encadeamento rigoroso de
proposições verdadeiras. Partindo de premissas verdadeiras e argumentando corretamente, só
podemos chegar a conclusões verdadeiras. Um argumento sólido é um argumento válido e com
premissas verdadeiras.
A regra anterior aplica-se aos argumentos dedutivos. Para lá da dedução, existem a indução
e o raciocínio por analogia.
Argumentos – Referem-se, genericamente, ao complexo formado por uma ou várias
proposições (premissas), a partir da(s) qual(ais) se infere uma proposição (conclusão). Existe,
portanto, uma grande proximidade entre os termos argumento, inferência e raciocínio. Inferir é
chegara uma conclusão a partir de um conjunto de premissas,ou seja,é apresentarum argumento.
Argumentar é expressar um raciocínio.
Distinção entre validade e verdade
Das proposições dizemos que são verdadeiras ou falsas.
Dos argumentos afirmamos que são válidos ou inválidos.
A validade refere-se à forma/estrutura dos argumentos.
A verdade diz respeito ao conteúdo/matéria das proposições.
A validade é uma propriedade dos argumentos dedutivos corretamente construídos.
A validade diz unicamente respeito à forma lógica do argumento.
Validade – virtude geralmente atribuída às interferências ou argumentos dedutivos cuja
forma obedece a regras lógicas. Um argumento dedutivo diz-se válido quando, e apenas quando,
3. a conclusão se segue (ou deriva) necessariamente das premissas, isto é, quando é impossível que
todas as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa.
Forma lógica – diz respeito à estrutura de uma frase ou argumento partilhável com outras
frases e argumentos. A lógica é a ciência que procura isolar formas lógicas de inferência,
sistematizando as que são válidas e as que não são.
Por exemplo, os argumentos “Todos os cavalos são animais; o Rocinante é um cavalo; logo,
Sócrates é crítico” partilham a mesma forma lógica: “Todo o A é B; C é A; logo, C é B”. Uma
vez que se trata de uma forma válida, qualquer argumento que partilhe exatamente esta mesma
estrutura ou forma lógica será válido, independentemente do conteúdo atribuído às variáveis A,
B e C.
A verdade,pelo contrário, é uma propriedade exclusivamente relacionada com o conteúdo ou
matéria das proposições.
A virtude essencial de um argumento válido não reside no facto de as premissas serem
verdadeiras ou falsas, mas no facto de a conclusão se seguir necessária e logicamente das
premissas.
Argumentos dedutivos e argumentos indutivos
Um argumento dedutivo válido preserva a verdade não nos deve levar ao equívoco de
imaginar que tal acontece com qualquer argumento dedutivo. Apenas nos argumentos dedutivos
válidos (e só nestes) é impossível a conclusão ser falsa e as premissas serem verdadeiras.
Os argumentos indutivos conduzem-nos sempre a conclusões prováveis, plausíveis ou
verosímeis. São ampliativos, mas não são demonstrativos, dado que a conclusão é uma
extrapolação feita a partir das premissas. Os argumentos indutivos nunca provam algo
definitivamente. É sempre perfeitamente possível que as premissas sejam verdadeiras, mas a
conclusão seja falsa.
Dedução – é o processo de inferência pelo qual de uma ou mais proposições (premissas) se
conclui necessariamente uma outra proposição (conclusão) nelas, de algum modo, incluída ou por
elas implicada. Dizemos, assim, que a conclusão de um argumento dedutivo válido é uma
consequência necessária ou lógica (deriva) das premissas. Os argumentos dedutivos são, nesse
sentido, não ampliativos.
Proposição categórica
A lógica aristotélica ocupa-se de um tipo particular de proposições – as proposições
categóricas (do grego kategorein, predicar).
Uma proposição categórica é uma frase sujeito – predicado. É composta por dois termos
(sujeito e predicado) ligados por uma cópula (negada ou não).
Extensão e compreensão dos termos
Extensão – conjunto dos indivíduos ao qual se aplica. Corresponde a todos os seres que o
termo abarca.
A extensão do termo “gato doméstico”, por exemplo, corresponde à totalidade dos indivíduos
que são siameses, persas, gatos comuns europeus, abissínios, sem raça definida, etc…
Compreensão – propriedade ou conjunto de propriedades (também chamados, por vezes,
predicados) que convêm ao termo, no sentido de permitirem defini-lo por relação com outros
termos.
A compreensão do termo “gato doméstico”, por exemplo, remete para o conjunto de
propriedades que caracterizam os seres em causa:vertebrado, mamífero, carnívoro, felídeo, etc…
4. Extensão e compreensão variam na razão inversa,isto é, quanto maior for a extensão de
um termo geral, mais numerosos serão os indivíduos a que se aplica e, por conseguinte, menor o
número de propriedades comuns a todos os indivíduos da classe. Inversamente, quanto mais
restrita for a extensão de um termo geral, menos numerosos são os indivíduos que designa e,
portanto, maior será a compreensão desse termo geral.
Classificação/Modo das proposições categóricas
Todo S é P
Tipo A
Nenhum S é P
Tipo E
Algum S é P
Tipo I
Algum S não é P
Tipo O
Universal
Particular
Quantidade
(corresponde à
extensão do sujeito)
Afirmativa Negativa
Qualidade
(depende da cópula)
Aristóteles é macedónio (tipo A)
Aristóteles não é ateniense (tipo E)
Distribuição dos termos nas proposições categóricas
Distribuído
Não distribuídoSujeito
Algum S é P
Tipo I
Algum S não é P
Tipo O
Predicado
Não-distribuído
Todo o S é P
Distribuído
Nenhum S é P
Tipo A Tipo E
Definição de silogismo categórico
Termo médio – termo partilhado pelas premissas e não ocorre na conclusão
Termo menor – sujeito da conclusão e pertence à premissa menor
Termo maior – predicado da conclusão e pertence à premissa maior
Classificação dos silogismos categóricos em figuras e modos
Primeira figura (S-P) – o termo médio é sujeito na premissa maior e predicado
na premissa menor
Segunda figura (P-P) – o termo médio é predicado em ambas as premissas
Terceira figura (S-S) – o termo médio é sujeito em ambas as premissas
Quarta figura (P-S) – o termo médio é predicado na premissa maior e sujeito na
menor
Regras de validade e falácias do silogismo categórico
Regra 1 – Um silogismo categórico tem três termos e só três termos: maior, menor e
médio.
Falácia do termo médio ambíguo
Regra 2 – Nenhum termo pode ser considerado em maior extensão na conclusão do que
nas premissas.
Falácia da ilícita maior
Falácia da ilícita menor
Regra 3 – O termo médio tem de ocorrer distribuído nas premissas pelo menos uma vez
Falácia do termo médio não-distribuído
Regra 4 – A conclusão nunca pode conter o termo médio
Falácia dos quatro termos
Regra 5 – Pelo menos uma das premissas tem de ser afirmativa
5. Falácia de duas premissas negativas nada se pode concluir
Regra 6 – De duas premissas afirmativas não se pode retirar uma conclusão negativa.
Regra 7 – Pelo menos uma das premissas tem de ser universal.
Falácia de duas premissas particulares nada se pode concluir
Regra 8 – A conclusão do silogismo segue sempre a parte mais fraca (negativa e/ou
particular).
Falácias – qualquer erro de raciocínio que, muitas vezes, passa despercebido. A divisão
mais comum distingue falácias formais – quando um mau argumento pretende ser um
raciocínio dedutivo válido, não o sendo, ou seja, quando a invalidade é percetível
unicamente com base na própria estrutura do argumento – e falácias informais (que
incluem outro tipo de erros argumentativos). As falácias formais não preservam a
verdade, uma vez que a estrutura do argumento não garante uma conclusão verdadeira a
partir de premissas verdadeiras.