O documento resume a vida e obra do poeta e escritor Jésus Gonçalves, que contraiu hanseníase. Após se internar em um asilo, converteu-se ao Espiritismo e passou a usar sua poesia para falar sobre esperança, fé e amor, mesmo diante do sofrimento. Suas obras refletem sua jornada interior da materialidade para a espiritualidade.
8. EMOÇÕES E CARÁTER
• “A transformação interior jamais será
repentina, pois não se desfaz em alguns
pares de anos uma atitude milenar (de
egoísmo e orgulho) ou um forte
condicionamento que perdura por
existências seguidas. Por outro lado, as
mudanças repentinas serão sempre
superficiais.”
Rita Foelker, em O Mito da Reforma Íntima
9. • Segundo Rita Foelker, não existem
emoções que sejam boas ou ruins, certas
ou erradas. Todas as emoções são
informações que nos dão acesso ao
mundo exterior e ao mundo íntimo.
• As emoções, diz a autora, ensinam-nos
sobre quem somos, sobre onde já nos
fortalecemos e onde ainda
permanecemos frágeis.
• Elas sempre nos perguntam: “Como você
se sente? O que vai fazer sobre isso?
10. • Todas as nossas emoções têm sua raiz
em nosso modo de ser e, como aquilo
que somos não pode ser improvisado,
nossas emoções também não podem.
Contudo, em nome de uma modificação
de caráter, assumimos que nossas
emoções são permitidas ou proibidas, o
que, em geral, determina apenas se
podemos demonstrá-las, já que é
inevitável experimentá-las.
11. • Por causa das emoções que consideramos
proibidas, alimentamos um ciclo de culpa e
autopunição, onde o que sentimos é negado
ou reprimido, para dar lugar a uma
personalidade aparente, numa mudança
superficial tão bem engendrada, que pode
convencer até a nós mesmos!
• A que distância do autoconhecimento estas
atitudes nos lançam? Depende do quanto
recusamos aceitar o que somos.
12. A TRAJÉTORIA DE JÉSUS GONÇALVES
Da Barbárie para a Luz
Personalidade Programação
Reencarnatória
Educação
Atitudes
diante do
Bem
Potencialidades Mola
propulsora
para Deus
Alarico
O Bárbaro
Instintos Não fazia
porque não
sabia vivia no
Mal
Disciplina
Liderança
Tenacidade
Encontro
com
Agostinho
Magnetismo
Richelieu
O Estrategista
Sensações Sabia mas não
queria fazer
articulava o
Mal
Vontade
Determinação
fidelidade
Úlceras na
Pele
Solidão
Jésus
Gonçalves
O Hanseniano
Razão Não fazia
porque sabia
Buscava o
Bem
Perseverança
Dinamismo
Sensibilidade
A Hanseníase
Busca
Jésus
Gonçalves
O Homem
Integral
Sentimentos Faz porque
sabe e quer
Vive no Bem
Exemplo
Solidariedade
Trabalho
O Trabalho
no Bem
Fé
13. O que é a poesia?
• A Poesia é definida como a arte de
escrever em versos, com o poder de
modificar a realidade, segundo a
percepção do artista. Antigamente, os
poemas eram cantados, acompanhados
pela lira, um instrumento musical muito
comum na Grécia antiga
14. Poesia?
• É a alma que sente
• Expressão da sintonia do artista
• Expressão do pensamento e do
sentimento
15. Onde está a poesia?
• Indaga-se
por toda parte. E a poesia
vai à esquina comprar jornal.
• Ferreira Gullar
16. Os poemas
• Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
(Mario Quintana)
17. Onde está o poeta?
O poeta cria e recria a linguagem
Cria e recria o mundo
18. Minha vida está nos meus poemas
• Poeta, jornalista e teatrólogo. Filho de pais pobres, só à custa de
muito trabalho e esforço próprio conseguiu ocupar o cargo de
tesoureiro na Prefeitura Municipal de Bauru.
• Inteligente e estudioso, fez parte da redação do Correio da
Noroeste, da mesma cidade.
• Por volta de 1930, ao saber-se portador do mal de Hansen,
abandonou aqueles cargos.
• Internando-se no Asilo Colônia de Aimorés, prestou ativa e ampla
colaboração às autoridades do Sanatório e aos companheiros de
infortúnio.
• Transferido, em 1937, para o Asilo Colônia de Pirapitingui, aí
construiu e dirigiu um Centro Espírita, que, a seu tempo, constituía
autêntico oásis de paz para quantos ali se encontravam agrilhoados
ao carro da provação.
19. Sua vida...
• Sua vida, como ele mesmo o afirmou (Flores de
Outono, pág. 7), “está dividida em duas etapas,
— a do homem comum, sem objetivo além da
morte, e a do homem espírita-cristão, que já viu
os clarões da aurora boreal da imortalidade”.
• Não obstante coberto pelo manto da lepra
redentora, o poeta de “Uma Vida” soube
alimentar a esperança, confiante na
Providência. (Borebi, Est. de S. Paulo, 12 de
Julho de 1902 — Asilo Colônia Pirapitingui, Est.
de S. Paulo, 16 de Fevereiro de 1947.)
• BIBLIOGRAFIA: Flores de Outono.
20. Poeta
Bonito! De ser poeta, injusta fama ostento!
Como subir, porém, na íngreme ladeira?
Um dia, quis contar um único tormento
e não sei como foi, contei a vida inteira.
Valei-me, ó musa maga, ó musa feiticeira!
Vinde depressa a mim. Daí luz ao pensamento.
Fazei vibrar a minha lira, de maneira
que eu possa um verso por em cada sofrimento
Sim! Porque fazer jus à fama, eis que se impõe,
ao pobre coração, que nada mais dispõe,
se não os cem mil sonhos que já vão dispersos
E que fazer! Já sei! Bendita essa poesia!
Enquanto os outros dão aos poemas melodia,
eu poderia chorar pelos meus tristes versos.
(Jésus Gonçalves/Livro Flores de Outono)
21. Jésus Gonçalves/Homem integral
• Programação reencarnatória
• Materialista arremessa-se contra o destino
que o relegara ao catre da lepra
• Espírita conhece a fé, resigna-se à dor
diante da verdade
• Espírito compreende a extraordinária
simbiose que une o passado com o
presente no mecanismo da reencarnação.
22. Educação dos sentimentos.
• Atitudes diante do bem /Faz porque sabe e quer/vive no
bem
• Potencialidades/ Exemplo/solidariedade/trabalho
• Mola propulsora para Deus/ O trabalho no bem/Fé
• A Lei Divina dá-lhe nova chance e nascido no Brasil, em
12 de julho de 1902, deixa a todos nós o legado da
conversão pela dor e a certeza da misericórdia do Pai
de que a travessia para a luz, apesar de todos os
nossos crimes de sempre, é inevitável.
• A Lei de Amor se expressa no arrependimento e o
arrependimento expressa-se na reparação
23. Materialista
Tédio
Em mim reside um mal, uma agonia,
Que torna o meu viver indiferente.
Talvez um crime que minh’alma expia,
- o crime de sonhar e de ser crente...
Tudo o que é belo, está de mim ausente.
A tudo estou alheio... Todavia,
a morte tarda. E eu vou contando, doente...
o lento gotejar do dia-a-dia...
As sombras do passado, já distantes;
as promessas futuras, provocantes;
- tudo morreu em mim, sem ter remédio.
-
Creio até que este mal que não tem cura,
comigo irá morar na sepultura,
p’ra que dentro da terra eu tenha o tédio!
24.
25. Ninita ficava transida de horror diante das
blasfêmias de Jésus Gonçalves
Rompe a alvorada. O dia se levanta.
Triste canário, uma canção solfeja,
em doce voz, em melodia santa,
implora a liberdade que planeja!
Também anseio o que o canário almeja
nesse cantar que a grande dor suplanta.
Ele, mais forte, canta o que deseja,
como mais fraco, eu choro o que ele canta..
.
Um dia, eu disse ao pássaro em segredo:
- lamento o teu sofrer, o teu degredo,
já que nenhum de nós é criminoso...
Lamento que te deem a mesma sorte,
que a tua inocência a mesma dor suporte,
quando tu nem ao menos és leproso!
26. Borebi!
• Jesus Gonçalves nasceu em 12 de Julho de 1902, na cidade
de Borebi, Estado de S. Paulo. Surgindo-lhe os sintomas do
Mal de Hansen, em 1930, internou-se num hospital, daí se
transferindo para o Asilo Colônia de Pirapitingui, onde
desencarnou, em 16 de Fevereiro de 1947, e onde dirigia um
Centro Espírita.
27. A conversão...
Falta (1943)
Hosana! Eu já encontrei o grande Bem,
Em cuja busca fui judeu-errante.
É o facho luminoso que contém
A luz que me ilumina a todo instante!
E ele está na vida e mais adiante,
Dentro da morte, nas mansões do além...
Está no amor... Está na fé... Perante
Os dois altares que esta vida tem!
Pois, nem a vida é sonho e a morte o nada.
O amor é luz; a Fé o santo meio
De tornar esta luta compensada! Por isso eu sigo... nos
caminhos meus,
A procurar em tudo quanto creio,
A coisa que faltava e... que era Deus!
28. AFINAL...
Em luta tenebrosa eu me batia,
julgado, por mim mesmo, um pária errante.
Uma nefasta, atroz melancolia,
tomava as rédeas do meu ser pensante.
A vida era uma carga torturante.
Lutava, sem saber porque o fazia.
A par miséria e dor, sempre constante
plantava no meu “ser” a rebeldia.
Quando a dor foi mãos forte e mais pungente,
veio, afinal! A luz do Espiritismo,
esclarecendo a treva de repente ...
Por isso, felizmente, é que compreendo,
na esplendorosa luz do Cristianismo,
minha ventura de viver sofrendo!
31. Jésus, o homem de Bem...
Grandeza
Jésus Gonçalves
Grandes homens tenho visto
Em santos, sábios e ateus.
Mas somente em Jesus Cristo
Vejo a grandeza de Deus.
32. ASPIRAÇÃO
QUEM me dera poder, ao sair desta
vida, galgar um mundo superior!
Mundo de eterno bem, de eterna festa,
em êxtases de luz e puro amor!
Mas sei, porém, que, embora em negra dor,
uma vida sem feitos nada presta.
Terei que vir, humilde devedor,
para saldar a conta que ainda resta ...
Só quero, pois, que Deus me favoreça,
quando ingressar de novo neste abismo
de carne, que três coisas não esqueça:
Recorde ser espírito mais velho:
de novo viva a luz do Espiritismo,
para beber na fonte do Evangelho!
33. Novo Rumo
Andei por este mundo, inutilmente,
Vagando por veredas tenebrosas.
Um fardo de matéria que eu, demente,
Levava sob angustias clamorosas...
Só tive dores, lutas dolorosas,
Porque os homens fizeram-me indolente
Na busca das coisas venturosas,
Que existem no infinito, tão somente.
Agora, novos rumos! Deixo os velhos!
A carga já não pesa, a dor não dói,
Guiado pela luz dos Evangelhos!
Levo sozinho, agora, a minha cruz,
Pois a paciência todo o mal destrói,
Seguindo o santo exemplo de Jesus!
34. A voz do Mestre
Vim do seio do Pai a vos falar,
A vós que andais buscando liberdade:
Somente essa ventura eis de achar,
No coração sagrado da verdade.
Se o mundo não vos dá felicidade,
É que andais nesta vida a tropeçar.
Prendeste-vos nas malhas da maldade;
Tudo quereis a e nada quereis dar.
Atendei: todo o espírito é imortal.
Haveis de caminhar por muitas vezes
Nas jornadas da vida material
Se quereis, -tomai a vossa cruz.
Vencei o mal, os vícios, os reveses,
Crescendo para o bem, o amor, a luz.
35. SEGUNDO CORAÇÃO
Devera, para o amor, haver na gente,
um outro coração intercalado,
que para o amor pulsasse unicamente,
sem ódio, sem rancor e sem pecado.
Que fosse um coração imunizado
contra qualquer sentido diferente;
feito do amor, por ele escravizado,
pulsando sem cessar, constantemente!
Que o amor impuro que há purificasse,
banindo a ingratidão, a falsidade,
e sem amar, a mais ninguém deixasse.
Que a vida desse o dom da meiga flor,
tornando-a, sem luxúria, sem maldade,
amor!. Somente amor! … Somente amor
36. NOSSA FÉ
Nossa fé rompe as trevas, vence as dores,
Renova aspirações desfalecidas,
E suprime as paixões envilecidas
Que multiplicam réus e sofredores.
É o remédio balsâmico às feridas,
Reconforto celeste aos amargores,
É luz no espinheiral abrindo em flores
Nas chagas que trazemos de outras vidas.
Nossa crença é refúgio de esperança,
É bandeira de paz que brilha e avança
Em sublimado vôo jamais visto...
È mensagem que amor e vida encerra,
Reconduzindo o espírito à Terra
À verdade imortal de Jesus Cristo!
37. GRATIDÃO A JESUS
Ele vinha ao meu lado em noite escura
Quando minh´alma à angústia presa
Através do evangelho da beleza,
Libertar-me das trevas da amargura.
Sublime da humildade e da realeza
Revela-me a luz formosa e pura
Que colhemos na carne que depura
Torturada de dor e de tristeza
Agora, meu Jesus,que a prova é finda,
Deixai Senhor, que eu te agradeça ainda
O sofrimento, a chaga e a solidão!
Recebe no esplendor do eterno,dia
O pranto que derramo de alegria
Nas preces pobres do meu coração.
38. • Uma vida de amor e caridade — Autores diversos —
F. C. Xavier/Izabel Bueno
• Flores de outono – Jésus Gonçalves – psicografia de
Francisco Candido Xavier