O documento discute a classificação científica dos seres vivos em domínios. Apresenta a história do conceito de domínio desde Aristóteles até a classificação moderna de Carl Woese, que divide a vida em três domínios principais: Eubacteria, Archaea e Eukarya.
1. Os três Domínios
Domínio (superregnum, super-reino ou império) é a designação dada em biologia
ao taxon de nível mais elevado utilizado para agrupar os organismos numa
classificação científica. O domínio agrupa os diferentes reinos, sendo a mais
inclusiva das divisões taxonómicas em que se dividem as espécies que compõem a
vida na Terra, o universo por vezes designado por super-domínio Biota. Apesar do
número de domínios e do respectivo nome ser arbitrário, variando com a evolução
do conhecimento científico e com as opiniões dominantes entre os sistematas, a
estrutura adoptada, por definição, reflecte obrigatoriamente as diferenças
evolucionárias fundamentais contidas no genoma dos seres vivos, agrupando-os de
acordo com a sua estrutura biológica mais básica. Com o aparecimento da
cladística, o conceito de domínio aparece associado ao da clade mais inclusiva em
que se pretenda dividir o mundo vivo.
História e evolução do conceito
A divisão do mundo natural em grandes domínios aparece como uma constante em
todas as civilizações, fazendo parte da procura de uma organização básica do
ambiente que caracteriza o pensamento humano.
No contexto da actual classificação científica, o conceito de domínio, apesar de
recente, tem as suas raízes na filosofia greco-latina, em particular no pensamento de
Aristóteles, que classificou todos os organismos vivos então conhecidos em plantas e
animais. Os animais eram, por sua vez, subdivididos de acordo com o meio em que se
moviam (terra, água e ar).
Esta divisão de Aristóteles, contida na sua obra De Anima (Sobre a alma),.foi
traduzida em 1172 pelo sábio Ibn Rushd (Averroes) para a língua árabe, e foi através
desta via que a classificação aristotélica chegou aos nossos dias e inspirou muitos dos
trabalhos taxonómicos iniciais. A partir dessa classificação básica, e depois de uma
longa maturação durante a Renascença europeia, o conceito de categoria fundamental
que permitisse dividir o mundo natural nas suas componentes básicas entrou na
moderna linguagem científica através da obra de Carolus Linnaeus.
2. Aquele autor, na sua obra Systema Naturae, divide a natureza em três grandes
categorias: mineral, vegetal e animal. Apesar de ter apelidado cada um destes grandes
domínios da natureza como sendo reinos, a evolução posterior da nomenclatura
científica levaria a que o conceito de reino fosse utilizado para designar os grandes
grupos de organismos, perdendo a abrangência inicial.
Quando se consolidou a aceitação da unicidade da vida na Terra surgiu a necessidade
de agrupar os reinos até então reconhecidos num taxon mais abrangente: o domínio.
classificação de Carl Woese
Árvore filogenética baseada na configuração do rRNA, mostrando a separação dos
grandes grupos biológicos: Bacteria; Archaea e Eukaryotes.
Carl Woese propôs em 1990 o agrupamento dos diferentes reinos da taxonomia
tradicional em três grandes clades que designou por domínios. Nessa classificação, a
categoria domínio é o segundo nível hierárquico de classificação científica dos seres
vivos, depois da categoria suprema que enquadra todos os seres vivos, o super-domínio
Biota.
Naquele sistema de classificação, frequentemente designado pelo Sistema dos Três
Domínios, são considerados os seguintes agrupamentos:
Domínio Eubacteria, que inclui as bactérias;
Domínio Archaea, anteriormente chamado Archaebacteria, que inclui os
procariontes que não recaem na classificação anterior;
Domínio Eukaria, que inclui todos os eucariontes, os seres vivos com um núcleo
celular organizado.
A classificação anterior não inclui os vírus dada a dificuldade em integrá-los entre os
seres vivos dada a ausência de algumas das características definidoras de vida. Não
obstante essas dificuldades, a que acresce que a nomenclatura utilizada é não
binomial, surgiu uma classificação alternativa, criando um quarto domínio chamado
Aphanobionta, composto exclusivamente pelos vírus.