Este documento descreve a evolução das principais classificações dos seres vivos ao longo da história, começando com os sistemas artificiais de Aristóteles e Lineu e chegando às classificações modernas baseadas em filogenia molecular. Aborda classificações propostas por Whittaker, Copeland, Margulis, Mayr e Woese, que introduziram os conceitos de reinos, domínios e subdomínios. A classificação atualmente aceita é a de três domínios proposta por Woese em 1990.
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
Classificação dos seres vivos em reinos e dominios
1. Escola de viticultura e Enologia da Bairrada
No programa de Biologia do Ensino Secundário atribui-se maior importância à classificação de Whittaker modificada em
1979
Trabalho de Biologia sobre:
Realizado pelos Alunos:
José Fonseca
Julgimar da Luz
Anilda Ceita
2. Antes do Charles Darwin
Sistemas de classificação artificiais: desde a Grécia Antiga até Lineu (séc. XVIII),
por se basearem num reduzido número de características, estes sistemas foram
aumentando o número de características utilizadas como critério de classificação,
passam a ser entendidos como sistemas de classificação naturais.
Classificação em dois reinos de Aristóteles & Lineu (séc. IV - XVIII):
O sistema de Classificação de Lineu (1735) foi editado no livro “Systema Naturae”
Divisão dos seres vivos em dois reinos:
As Plantas
Os Animais
As plantas eram todos os organismos fixos e sem forma definida, capazes de produzir
matéria orgânica a partir das inorgânicas – autotrofia -. Os animais eram todos os
organismos de vida livre, com forma definida e dependentes da matéria orgânica
(plantas ou outros animais) para a sua nutrição – heterotrófica.
A Recolha de dados (de estrutura microscópica e metabolismo entre outros) confirmava
a separação dos dois grandes reinos. Esta divisão simples dos organismos parecia tão
óbvia e bem definida para os organismos macroscópicos que o problema causado pelos
fungos, que não pareciam encaixar bem nas plantas, era facilmente esquecido.
Darwinismo (1831- considerava que os seres vivos tinham um ancestral comum)
Classificação de Haeckel em três reinos (1834)
O uso do microscópio (inventado por Van Leeuwenhoek) na investigação revelou
milhares de organismos microscópicos, invisíveis ao olho nu. O que vem dificultar a
distinção entre animais e plantas. Alguns seres microscópicos podiam ser facilmente
comparados com algas macroscópicas e incluídos nas plantas, outros poderiam ser
incluídos nos animais mas ainda existiam muitos com combinações estranhas de
características de animal e de planta.
3. A teoria de Darwin da evolução é aceite.
Ernst Haeckel propõe que as primeiras formas de vida teriam sido muito simples,
sem a complexidade estrutural que já observava nos unicelulares que estudou.
Chamou a esses organismos primitivos moneres, tendo-os dividido em zoomoneres
(bactérias) e phytomoneres (cianobactérias). Na sua opinião O desenvolvimento de
células mais complexas, contendo núcleo era o resultado de diferenciação do citoplasma.
Haeckel criou um3º reino a que chamou Protista (não foi aceite de forma geral).
Neste reino colocou todos os seres que não apresentavam tecidos diferenciados,
incluindo seres unicelulares e coloniais.
Haeckel reconheceu uma série de subdivisões no seu reino Protista. A principal
subdivisão era entre os grupos semelhantes às plantas – Protophytes – e os
semelhantes aos animais – Protozoa -, reconhecidos pelos seus pelos seus
metabolismos diferentes. Um terceiro grupo insere todos os protistas que não eram
claramente semelhantes às plantas ou aos animais, os protistas atípicos. A distinção
entre células com e sem núcleo estavam subordinadas a estas três categorias, com os
organismos sem núcleo a formar um pequeno grupo dentro dos protistas atípicos.
Haeckel salienta várias vezes que a distinção entre animais e plantas era artificial,
mantida apenas por respeito à tradição vigente, mas sem relevância para a filogenia dos
grupos. Através das árvores filogenéticas que construiu, é claro que considerava que
os Protozoa um grupo polifilético, que surgiu várias vezes através da perda de
metabolismo autotrófico que Haeckel assumia, com base teórica pura, que existia nos
organismos ancestrais.
Classificação de Copeland em quatro reinos (1956)
O sistema de Copeland criado para ser natural, a representação, mais aproximanda
possível da, organização dos seres vivo. Baseia em dados de estrutura celular,
constituintes químicos e a ontogenia dos organismos.
Na sua visão, os organismos sem núcleo adquiriram, de alguma forma, esse organito e a
diversidade dos organismos nucleados é um outro avanço. Na sua classificação, o reino
Protista de Haeckel é dividido em Mychota e Protoctista.
O reino Mychota inclui todos os organismos procariontes e o reino Protoctista
(que deriva das cianobactérias) todos os eucariontes que não são animais ou
plantas.
4. O reino Plantae inclui todos os organismos com cloroplastos verdes, um conjunto
claramente definido de pigmentos e que produzem sacarose, amido e celulose. As algas
verdes são, neste sistema, incluídas nas plantas, enquanto as algas vermelhas e
castanhas, bem como os fungos e todos os unicelulares restantes fazem parte do reino
Protoctista.
No sistema de Copeland, três grupos são reconhecidos com base na presença de
características mas os Protoctista são definidos negativamente: tudo que tenha núcleo
e não é animal nem planta.
A separação que Copeland fez dos procariontes num reino é aceite atualmente. A falta
de naturalidade do reino Protoctista levou à multiplicação de tentativas para
reconhecer grupos mais naturais com estatuto semelhante ao das plantas e dos animais.
Classificação de Whittaker em cinco reinos (1969)
Whittaker classifica os seres vivos em grandes Reinos, que atualmente é mais aceite
para fins pedagógicos, na versão modificada de 1979, com uma divisão em cinco reinos:
Monera, Protista, Fungi, Plantae e Animalia.
Principais características dos reinos:
Os cinco reinos são, os mesmos quatro de Copeland, e um reino separado para os
fungos (que Copeland incluiu nos Protoctista) denominado Fungi.
Whittaker altera a forma como o que resta do reino Protoctista é definido, em resposta à
limitação pouco satisfatória de Copeland. Whittaker tenta dar uma definição mais
5. positiva do reino Protoctista limitando o reino a organismos unicelulares ou quando
muito coloniais, mas não multicelulares. Os organismos multicelulares, como as algas
vermelhas ou castanhas, são incluídas num dos reinos Plantae, Fungi e Animalia. Este
sistema tem uma excepção nas algas verdes, que são todas incluídas no Plantae,
apesar de este grupo conter organismos unicelulares e ploricelulares.
Altera, também em simultâneo, o nome do reino de Protoctista para Protista,
contrariando a lei da prioridade mas alguns autores seguem como forma de distinguir
entre o reino com e sem organismos multicelulares.
Whittaker reconhece que esta delimitação torna os reinos Plantae, Fungi e Animalia
polifiléticos, mas aceita este facto, pois permite-lhe distinguir grandes linhas evolutivas
com base em níveis de organização e modo de nutrição. Whittaker realça os três
possíveis modos de nutrição, fotossíntese (autotróficos), absorção (saprófitos) e ingestão
(heterotróficos), em vez das relações filogenéticas, esta classificação (de Whittaker) é
por isso uma classificação ecológica.
Classificação de Margulis em dois domínios (1988-1996)
6. Em 1988, Lynn Margulis e Karalene Schwartz, propõem um sistema de classificação em
Domínios, baseado em dados de ulta estrutura microscópica das células e respetivos
organelos citoplasmáticos e que refletem as suas ideias sobre a teoria endossimbiótica
para a origem das células eucarióticas. As duas investigadoras defendem a existência de
dois domínios:
Prokarya – inclui todos os procariontes que pertencem a um só reino Bactér
(Monera) que se subdivide em dois sub-Reinos Archaeobacteria e Eubacteria;
Eukarya – inclui todos os eucariontes e divide-se em quatro reinos: Protoctista,
Animalia, Fungi e Plantae.
Lynn Margulis baseia-se na estrutura microscópica das células e seus organelos, bem
como vias metabólicas, incloindo a descoberta de muitos tipos altamente diferenciados
de bactérias. Apesar do seu sistema também incorporar uma elaborada teoria de
evolução da estrutura celular por endossimbiose, difere apenas em alguns detalhes das
classificações de Copeland e de Whittaker.
Na classificação de Copeland, não realçava à distinção entre organismos com e sem
núcleo, mas em classificações posteriores esta tornou-se uma condição decisiva.
Margulis distingue os chamados domínios Eukarya (que apresenta genoma composto,
sistemas de mobilidade intracelular e a possibilidade de fusão celular, que leva a um
sistema de genética Mendeliana e sexo) e domínios Prokarya (agrupado com base na
ausência de um sistema sexual desse tipo).
Dentre o Eukarya, Margulis distingue os mesmos grupos que Whittaker: Protoctistas,
plantas, animais e fungos. Os protoctistas são novamente definidos negativamente,
o que volta a tornar as plantas, animais e fungos monofiléticos.
A distinção entre Archaea e Eubacteria é desdenhda como bactérias e expressa a um
nível inferior ao da distinção entre fungos, animais e plantas.
Classificação de Mayr em 4 subdomínios (1990)
Mayr (1990), que concorda com Margulis em relação à distinção entre procariontes e
eucariontes, mas vai mais além e propõe que se reconheçam os subdomínios Archaea e
Bacteria, dentre os procariontes. Uma subdivisão semelhante é feita aos eucariontes,
7. com os Protista e os Metabionta, para organismos unicelulares e multicelulares. Mayr
dá especial atenção a semelhanças e diferenças em morfologia e não às relações
filogenéticas.
Os procariontes são unidos com base na semelhança de organização celular, ignorando a
diversidade de metabolismos e as relações evolutivas deduzidas a partir de sequências
de ADN.
Os protistas são unidos com base na falta de multicelularidade, novamente ignorando a
sua enorme diversidade em muitos outros aspetos.
A principal divergência entre esta classificação e uma classificação filogenética não é o
surgimento destes dois grupos para filéticos mas antes o facto de o subdomínio
Metabionta ser reconhecido com base apenas numa característica, a multicelularidade.
Esta característica surgiu independentemente nos três grupos que o compõem, o que
torna este subdomínio completamente polifilético.
Classificação de Woese em três domínios (1990)
A classificação dos seres vivos aceite pela comunidade científica internacional é a
proposta por Carl R. Woese e colegas em 1990, publicada numa revista científica da
especialidade (ver artigo original, em inglês, disponível na internet em
http://www.pnas.org/content/87/12/4576.full.pdf+html)
Baseando na comparação de sequências de ARN ribossómico, Woese e seus colegas
concluíram que os procariontes eram um grupo pouco ligado, do ponto de vista
evolutivo, composto por dois subgrupos principais, cada um dos quais difere entre si e
dos eucariontes. Esta diversidade evolutiva reflete no genoma e, por sua vez, na
bioquímica e na ecologia.
Assim, propuseram a substituição da divisão do mundo vivo em dois grandes domínios
(procariontes e eucariontes) por uma subdivisão em três domínios: mantiveram os
tradicionais eucariontes como o domínio Eucarya, mas em vez dos tradicionais
procariontes surgem os domínios Archaea e Bacteria, ao mesmo nível que os
Eucarya. A sua classificação reflete a ideia de que a árvore da Vida tem três e não
apenas dois ramos.
No entanto, esta classificação não espelha completamente a sua visão sobre qual dos
três ramos é mais fundamental. Na filogenia em que baseiam a sua classificação, o ramo
mais básico é o que conduz ao domínio Bactéria, sendo posterior a ramificação dos dois
restantes grupos posterior, o que os torna mais relacionados entre si do que cada um
deles com as bactérias. Esta relação próxima não se reflete na classificação pois para
esta filogenia ser aparente, Archaea e Eukarya teriam que ser agrupados num único
super-domínio.
A posição da raiz da árvore da Vida junto das bactérias não é, apesar de tudo, pacífica.
Foram propostas raízes alternativas, que implicariam diferentes relações filogenéticas e
diferentes classificações, mas deixando sempre intocada a parte dos eucariontes, pelo
que a maioria das classificações coloca os procariontes num único grupo do mesmo
8. nível que o dos eucariontes. Esta é uma simplificação deliberada, que ignora o facto de
que, obrigatoriamente, um dos grupos de procariontes está mais próximo dos
eucariontes do que qualquer outro.
Classificação de Cavalier-Smith em seis reinos (1998)
O esquema de seis reinos recentemente proposto por Cavalier-Smith é, em muitos
aspetos, semelhante aos de Whittaker e Mayr. Cavalier-Smith tenta um sistema mais
estritamente filogenética, em que os grupos polifiléticos estão totalmente ausentes e os
para filéticos são evitados o mais possível.
Para alcançar este objetivo, Smith tem que transferir um número de grupos que
pertenciam aos Protoctista na maioria dos sistemas de classificação anteriores, para
um dos outros reinos. Neste sistema, cada um dos reinos que contém organismos
multicelulares passa a conter um certo número de organismos unicelulares relacionados.
Estas revisões são baseadas num conjunto ainda crescente de dados acerca das relações
deduzidas da comparação de sequências de ADN e proteínas, bem como acerca da
estrutura celular.
Nos procariontes, Smith salienta o número característico estrutural em vez das
sequências de ARN ribossómico usadas por Woese. Com isso Archaea são incluídas
como um subgrupo menor dentro do reino Bacteria. Dentro dos eucariontes, Smith
admite cinco reinos.
O reino Animalia é relativamente inalterado, quando comparado com outros sistemas
de classificação. Para além dos animais, também contém um grupo de parasitas
unicelulares, com base em que o facto de ser unicelular é devida a uma regressão e não
a um caracter original.
O reino Fungi contém também um grupo de parasitas, antes parte dos protoctistas.
Alguns grupos, antes considerados fungos, foram transferidos para um novo reino
denominado Chromista. O reino Plantae expandiu-se para incluir as algas vermelhas,
para além das tradicionalmente incluídas algas verdes. Este facto transmite um
panorama evolucionista em que a fotossíntese foi adquirida apenas uma vez, pela
incorporação do cloroplasto numa célula eucariótica, derivado de uma cianobactéria.
Outras classificações, que colocam as plantas e as algas vermelhas mais afastadas, têm
que assumir um cenário evolutivo onde os cloroplastos foram adquiridos
independentemente várias vezes, ou totalmente perdidos ainda mais vezes.
O reino Chromista contém a maioria dos restantes grupos fotossintéticos,
informalmente designados algas, bem como um grupo de outros grupos anteriormente
colocados nos fungos e que se acredita terem perdido a capacidade fotossintética
posteriormente. No panorama evolutivo, o cloroplasto foi adquirido pela fusão de uma
célula autotrófica com uma célula não fotossintética, um acontecimento que levou ao
surgimento de uma membrana extra em volta do organito.