O documento apresenta as principais categorias da forma arquitetônica, incluindo forma tipológica, geométrica, livre, topológica, analógica, tectônica, orgânica, sistêmica e anamorfismo. As categorias são definidas com base nos modos fundamentais de como os arquitetos extraem ideias iniciais para configurar edifícios. Muitas vezes as formas se sobrepõem em mais de uma categoria.
2. Categoria das Formas
Ao observarmos o vasto conjunto de edifícios que se
constitui o domínio da arquitetura, com vistas a entender o
fenômeno complexo da forma arquitetônica, seja esta visão
histórica, vertical, ou horizontal, abrangendo a produção
atual, observaremos que estes edifícios, além das diferenças
acidentais que ostentam entre si, apresentam diferenças
muito mais profundas, relacionadas com as estruturas
elementares de conceitos sob os quais estes edifícios foram
concebidos. A estas estruturas chamamos de categorias da
forma arquitetônica. Apresentamos a seguir uma
sistematização das principais categorias, baseada nos
modos fundamentais ou princípios de relação com fontes
externas ou internas de onde o arquiteto extrai a idéia inicial
para a configuração do edifício ou conjunto.
Silvio Colin
3. Forma Tipológica
A forma tipológica é derivada dos tipos arquitetônicos. É a mais freqüente,
tanto na arquitetura histórica quanto na contemporânea. Vejamos o que vem a
ser. Qualquer pessoa já terá observado o quanto os espaços das igrejas
tradicionais se parecem: temos uma nave central, mais alta, e duas laterais, mais
baixas; o altar situa-se no cruzamento destas naves com uma outra, o transepto.
Trata-se de um tipo arquitetônico, chamado de basílica cristã, desenvolvido na
Idade Média, na Europa, a partir da basílica pagã, edifício comercial e institucional
dos romanos.
Um outro exemplo de tipo arquitetônico, bastante nosso conhecido, o edifício
residencial multifamiliar, constitui-se no mais comum em nossas cidades. Seus
elementos componentes, tanto coletivos (portaria, elevadores, circulações) quanto
privativos (salas, quartos, etc.) guardam sempre a mesma relação posicional, o
que caracteriza um tipo arquitetônico.
Através da História, é grande a coleção de tipos a cujas formas o arquiteto recorre: o
templo peristilo (o mais comum entre os gregos), a casa de pátio porticado (a
casa romana), o “palazzo” renascentista, o palácio pavilhonado aristocrático, o
“hotel” burguês, entre outros.
Silvio Colin
4. Forma Tipológica
As igrejas do Período do Ouro no Brasil formam um dos tipos mais recorrentes da
arquitetura barroca no Brasil. 1- Bom Jesus dos Matosinhos
(Imagem http://viajeaqui.abril.com.br); 2- Santa Efigênia (Imagemhttp://www.travel-
earth.com); 3- N. S da Conceição de Antonio
(Imagemdramabarrocomineiro.files.wordpress.com). Plantas SANTOS, P. A
arquitetura eeligiosa em Ouro Preto. Kosmos 1951.
5. Forma geométrica
É a forma preferida da arquitetura moderna. A escolha dos arquitetos
geralmente recai sobre formas simples: prismas, cilindros,
paralelepípedos, usados isoladamente ou compondo conjuntos.
Eventualmente, recorre-se a formas geométricas menos usuais: a
Catedral de Brasília tem a estrutura formal de um hiperbolóide de
revolução.
Catedral de Brasília.
Imagem http://architetour.files.word
press.com
6. Forma Livre
É também muito usada na arquitetura moderna. A forma abstrata, visto não ter nenhum referente
imediato, isto é, não se parecer com formas usadas anteriormente ou com figuras geométricas
familiares, atendeu à perfeição aos requisitos modernistas de inovação, originalidade e
funcionalidade. Quanto à inovação, a busca de formas não conhecidas era uma exigência para a
criação de um novo código desvinculado do passado; no que se refere à originalidade, o
atendimento ao mito romântico da forma original era visto como oposição ao passado recente,
de obediência clássica, e portanto normativa; quanto à funcionalidade, se a forma deveria “seguir
a função”, não poderia ser um “a priori”, como é o caso da forma tipológica, mas uma
conseqüência final do estudo do problema.
Casa das
Canoas. Rio de
Janeiro, 1851-3.
Arq. O.
Niemeyer.
Imagens
(Dir) http://www.
neurosoftware.ro
/ (Esq.) Arte-
concepcao.blogs
pot.com
7. Forma topológica
A Forma topológica é inspirada pelo sítio (“topos”, em grego, quer dizer “sítio”,
“local”), isto é, extrai uma ou mais das características do local onde o
edifício será implantado.Um exemplo conhecido de forma topológica é o
Conjunto Habitacional do Pedregulho, no Rio de Janeiro, onde a linha
tortuosa, geratriz do volume do edifício é uma curva do próprio terreno.
Outro exemplo está nas cidades coloniais do sul de Minas, como Ouro
Preto, cujo movimento dos telhados, que nos encanta, é conseqüência do
relevo do local.
Conjunto
Prefeito Mendes
de Moraes
(Pedregulho).
Benfica, Rio de
Janeiro. 1946-
52. Arq. Affonso
Eduardo Reidy.
Imagemhttp://blo
gs.estadao.com.
br/
8. Forma analógica
Analogia é a relação de semelhança entre dois objetos; é um dos mais poderosos
meios de criação de que dispomos. A forma arquitetônica analógica é inspirada por
um objeto externo ao universo da arquitetura. Veja-se o exemplo das ordens gregas:
os capitéis dórico e jônico são de inspiração geométrica; já o capital coríntio é uma
forma analógica (representa um cesto ornado de folhas de acanto). Outro exemplo
nos é dado pelo Terminal de Passageiros da TWA, inspirado na forma de uma
águia,uma metáfora alusiva não somente ao vôo de longo alcance, como também
ao país, de vez que a águia é símbolo dos Estados Unidos.
Terminal da
TWA no
aeroporto J. F.
Kennedy, em
Nova Iorque.
1962. Arq. Eero
Saarinen.
Imagem http://w
ww.galinsky.com
/buildings/twa/
9. Forma tectônica
A forma tectônica é determinada por necessidades técnicas. Observemos, por
exemplo, os telhados de águas” inclinadas, uma solução de cobertura que
atravessa toda a História da Arquitetura. A inclinação deve-se à
necessidade de facilitar o escoamento das águas ou de neve. Um outro
exemplo de forma tectônica nos é dado pelo arco, que tantos serviços
prestou à arquitetura tradicional.
Fábrica de chapéus Steinberg, Luckenwalde (1921-1923). Erich
Mendelsohn. Imagens (Dir.) http://www2.uni-jena.de/
A palavra tectônica vem do grego “tektonikés”, (subentendendo “techne”) e significa “a
arte de construir edifícios”, segundo o “Novo Dicionário na Língua Portuguesa”, de
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.
10. Forma orgânica
Temos uma forma orgânica
quando a configuração final
do edifício é “a posteriori”,
resultado do posicionamento
das unidades espaciais, que
são justapostas à maneira de
células de um tecido
orgânico. Os mais célebres
exemplos desta categoria
são as “praire houses” de
Frank Lloyd Wright,
residências suburbanas de
alta classe média no Leste
dos Estados Unidos, início do
século.
Casa da Cascata. Bear Run, Pensilvânia. 1936. Arq.
F. Ll. Wright. Imagens http://www.coolboom.net
11. Forma sistêmica
É resultante da resolução antecipada dos problemas propostos por um ou mais
sistemas da arquitetura. Historicamente, o melhor exemplo da forma sistêmica vem
das catedrais góticas. Os sistemas espacial, estrutural e de iluminação são
resolvidos em cada tramo do edifício e se reproduz linearmente por justaposição.
Atualmente os sistemas envolvidos são de maior complexidade, incluindo a
estrutura, as instalações técnicas (ar condicionado, eletricidade, água e esgoto),
instalações físicas (mobiliário, equipamentos), demandas de conforto ambiental. A
forma sistêmica é o resultado de uma abordagem tecno-científica da arquitetura e
responde pelas melhores soluções da construção industrializada.
Companhia
Centraal Beheer.
Apeldoorn,
Holanda. 1967-
72. Arq. Herman
Hertzberger.
Imagens
(Dir,) http://acad
emics.triton.edu/
(Esq.)http://en.wi
kipedia.org
12. Anamorfismo
Chamamos de anamorfismo ao processo de deformação de uma
figura conhecida em busca de uma nova forma, diferente e
individualizada, mas que resulta da distorção da primeira. No
processo anamórfico o artista atua diretamente sobre a forma, às
vezes sem nenhum método pré-determinado. O uso mais
conhecido do processo anamórfico na arquitetura, e possivelmente
o mais bem sucedido, na medida em que nos legou um marco da
arquitetura de todos os tempos, é, certamente, a capela de Notre-
Dame du Haut, em Ronchamp, de Le Corbusier (1950-55). Um
trabalho que surpreendeu todo o mundo, mas sobretudo aos
discípulos do mestre.
O anamorfismo foi também utilizado pelos arquitetos
expressionistas, às vezes assistidos por intenções
representativas, mas muitas vezes com uma intenção de maior
ligação com a natureza, na busca de uma arquitetura orgânica.
Mais recentemente, o anamorfismo é uma prática comum nos
arquitetos desconstrutivistas.
14. Superposição de categorias
Deve-se considerar que nem sempre será
possível o enquadramento de um edifício em
apenas uma categoria; é freqüente acontecer
uma superposição: uma forma será ao mesmo
tempo abstrata e tectônica, geométrica e
sistêmica, e assim por diante, porém a análise
de uma obra arquitetônica deve principiar por
sua correta caracterização formal.
Silvio Colin
Dados deste Slides: https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/06/21/categorias-da-forma-arquitetonica/