Este documento descreve um projeto de intervenção ergonômica para vendedores de picolé que utilizam carrinhos. O projeto teve como objetivo melhorar o conforto e desempenho dos vendedores, prevenindo problemas de saúde. Foram identificados diversos problemas ergonômicos como exposição ao sol, peso do carrinho e posturas inadequadas. Recomendações incluíram elevar a altura do carrinho, adicionar sistema de locomoção e organização interna para melhor armazenamento e acesso aos produtos.

1. V E N D E D O R E S D E P I C O L É C O M C A R R I N H O
Intervenção ergonômica
Adriano de Carvalho Marques e Barbara Martins Nicolau

2. Introdução
Este é um projeto de intervenção ergonômica realizado com
vendedores de picolé que trabalham nas ruas e utilizam
carrinhos simples e pequenos para a locomoção e conservação
térmica do seu produto. A ergonomia é uma área do conhecimento
humano que objetiva a otimização do trabalho. Por isso, ela pode
ser um instrumento eficaz para a prevenção de acidentes de
trabalho, e, conseqüentemente, para a redução do risco de
responsabilização civil do empregador. Neste trabalho foram
aplicados os conceitos da ergonomia para intervir no produto e
na rotina de vendas destes trabalhadores, melhorando seu
desempenho e porporcionando mais conforto a eles.

3. Justificativa
Este projeto tem importância para ambos os lados envolvidos,
como o aprendizado prático de como funciona e é aplicada a
intervenção ergonomica para os que a realizam e as melhorias que
essa intervenção pode proporcionar para a situação de trabalho
escolhida. Ao decorrer das etapas foi ficando cada vez mais claro a
importância deste projeto para os vendedores de picolé, pois
foram encontrados inúmeros problemas na realização de suas
tarefas, problemas esses, que variam desde o mais simples como
falta de identificação dos produtos até os mais graves e urgentes
como repetições de posturas inadequadas que a curto prazo geram
dores e desconfortos e a médio e longo prazo podem causar
danos tanto na coluna vertebral, quanto nos músculos.

4. Objetivos
OBJETIVO GERAL
Intervir ergonomicamente no trabalho dos vendedores de picolé de ruas,
que utilizam carrinhos.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Melhorar o desempenho nas vendas.
- Fornecer maior mobilidade e conforto.
- Evitar danos e doenças causadas por esforços físicos e má postura.

5. D E L I M I T A Ç Ã O D O P R O B L E M A
F O R M U L A Ç Ã O D O P R O B L E M A
C A T E G O R I A E T A X O N O M I A D O S P R O B L E M A S
S I S T E M A T I T A Z Ã O
Apreciação

6. Delimitação do problema
•Insolação
•Chuva
•Ruídos de automóveis
•Fumaça dos automóveis
•Calçadas irregulares
•Falta de local para higiene
•Falta de local para descanso
•Movimentos repetitivos
•Problemas na coluna
•Alcance máximo repetitivo
•Choque térmico
•Peso do carrinho
•Altura do carrinho
•Qualidade dos produtos
• Desorganização no armazenamento

7. Formulação do problema
Existem diversos tipos de problemas relacionados a estes vendedores.
Entre eles está o sol intenso que afeta toda parte de seus corpos, visto que são
poucos os lugares que oferecem sombra em pleno trânsito. Outro problema é
a quantidade de horas que passam em pé ou sentados em banquinhos e
lugares inadequados, muitos desses carrinhos apresentam uma altura baixa em
relação ao seu usuário, causando problemas de coluna e desconforto, tanto
na locomoção desses carrinhos, quanto no manuseio dos seus produtos de
venda, já que o vendedor é obrigado a se baixar de forma curvada para pegar
o produto que o cliente deseja. Na verdade esse manuseio gera problemas
também quanto ao choque térmico, no contato dos membros superiores
quentes com o ambiente gelado da parte interna do carrinho. Além de todos
os problemas já citados, ainda há um perigo mais discreto, porém importante
é a inalação de fumaças liberadas pelos veículos e o perigo de estar perto dos
mesmos.

8. Categorização e taxonomia dos problemas ergonomicos
Problema Caracterização
Interfaciais Alcance máximo e flexão
repetitiva que podem prejudicar a
coluna e músculos.
Instrumentais Parte interna do carrinho escura,
difícil visibilidade dos produtos.
Informacionais/visuais Carrinhos sem identificação, com
figuras de má qualidade ou pouca
visibilidade de informação,
gerando confusões e dúvidas.
Acionais
Manuais/Pediosos
Carrinhos baixos que forçam a
flexão inadequada prejudicial à
coluna e alcance máximo dos
braços para alcance de produtos.

9. Categorização e taxonomia dos problemas ergonomicos
Comunicacionais
Orais/Gestuais
Ruídos causados pelo trânsito, sons de
motores, buzinas e outros sons que dificultam a
troca de informações auditivas.
Informacionais/Visuais Falta de preços e informações corretas de
produtos, dificultando compreensão e tomada
de decisão.
Interacionais Problemas de utilidade, em pegar os produtos
corretos.
Movimentacionais Carrinho com excesso de peso, força excessiva
para ser empurrado e puxado, distância longa
dos objetos no fundo do carrinho que afetam o
sistema muscular e esquelético.

10. Categorização e taxonomia dos problemas ergonomicos
De deslocamento Caminhadas longas diárias para venda dos
produtos.
De acessibilidade Ambiente de trabalho não adequado a
portadores de deficiência
Urbanísticos Falta de calçadas adequadas ou espaço para a
fixação e venda. Poucas praças e ambientes
públicos.
Naturais Insolação causada pela grande exposição
diária ao sol , com temperaturas elevadas e
pouca proteção contra os raios solares.

11. Categorização e taxonomia dos problemas ergonomicos
Naturais Temperatura, ruído e iluminação acima dos níveis recomendados.
Químico-
Ambientais
Partículas e elementos tóxicos liberados pelos automóveis.
Biológicas Falta de higiene por não possuir locais adequados para a sua
utilização.
Naturais Exposição excessiva ao sol
Acidentários Precariedade do solo, perigo de acidentes no trânsito, falta de
equipamentos de emergências, materiais enferrujados e em mau
uso.

12. Categorização e taxonomia dos problemas ergonomicos
Operacionais Repetitividade e alternância de ritmo intenso e
monotonia.
Organizacionais Falta de objetivação e responsabilidade
Gerenciais Não há um controle, gestão ou valores fixos.
Instrucionais Não há instruções
Psicossociais Não há lazer, repouso ou alimentação correta na
atividade.

13. Sistematização – Hierarquização das partes do produto
Subsistema
de armação
Subsistema de pega
Subsistema de apoio Subsistema de armazenamento
Subsubsistema
de conservação térmica
Subsistema
de locomoção
Subsistema de abertura
Subsubsistema de amostragem
Subsistema
de contenção de lixo
Subsistema de proteção
Subsubsistema de marca

14. Sistematização – Fluxograma de atividades
Locomoção até a
distribuidora de picolés
Carregamento dos picolés no
carrinho
Locomover o carrinho por ruas e
avenidas
Escolher um local para
estacionamento dos carrinho
Fazer a apresentação do produto
em voz alta
Mostrar o produto dentro do
carrinho caso aja compradores
Entrega do tipo de picolé que o
cliente deseja
Recebimento da quantia em
dinheiro pelo picolé
Providenciar troco caso precise
Após o término do expediente,ou
dos picolés,voltar para a
distribuidora
Fazer a contagem de picolés
vendidos e a divisão do dinheiro
em porcentagem
Se houver produtos
restantes,será descarregado
Acoplar o carrinho em uma
unidade motorizada para fácil
locomoção
Locomover de volta para casa
com o carrinho

15. Categorização do sistema
Restrições do sistema: fumaça e
buzinas de automóveis, calçadas
quebradas, chuva forte.
Meta: Venda de picolés
Sistema alvo:
Venda de picolés
e doces
Requisitos: carrinho adequado com
conservação térmica, rodas, picolés,
ventilação, bom tempo, iluminação, lixo.
Resultados desapropriados: baixa
produtividade, dores musculares e ósseas,
falta de higiene, estrago do produto,
acidentes, doenças, assalto...
Sistema
alimentador:
distribuidora
lojas comerciais
Entradas:carrinho,
conservação
térmica,picolés,
bolsa
Saídas:
Venda,
dinheiro
Sistema Ulterior:
Aniversário
pedestres
condutores
estudantes
comerciantes

16. V Í D E O D A A N Á L I S E C O M P O R T A M E N T A L D A
T A R E F A
A N Á L I S E D O P E R F I L E V O Z D O
U S U Á R I O / O P E R A D O R
R E C O M E N D A Ç Õ E S E R G O N Ô M I C A S
Diagnose

17. Vídeo da análise comportamental da tarefa

18. Análise do perfil e voz do usuário/operador
•Nome dos vendedores: Erlane França e Claudio.
•Idade: 42 anos e 46 anos.
•Com o que trabalha?
Venda de picolés e doces.
•Qual a jornada de trabalho? (horas por dia e dias por semana)
Trabalha 7 horas de segunda a sábado.
•Há quanto tempo trabalha com isso?
O casal trabalha no mesmo ponto (em frente a bemol do centro) durante 15 anos.
•Qual o percurso do trabalho? Que caminho faz todos os dias?
O caminho de casa para o ponto de trabalho é curto e a locomoção é feita de moto.
Porém caminham com o carrinho pelas principais avenidas que contornam o seu
ponto, assim como pela avenida sete de setembro e avenida Eduardo Ribeiro.
•Quanto recebe com as vendas por dia?
Tiram em média R$ 80,00 por dia (valor bruto).

19. Análise do perfil e voz do usuário/operador
•Quais as tarefas que apresentam dificuldade na execução e por quê?
As principais são encontradas nos dias chuvosos ou muito quentes, devido a falta de proteção contra
esses fatores.
•Existem queixas de dores ao final da jornada de trabalho? Quais? Qual frequência?
Sim, as queixas mais frequentes são quanto às dores na coluna e pés, devido a caminhada diária pelas
ruas e avenidas empurrando o carrinho.
•Qual a motivação ao realizar o trabalho? A relação com os clientes? O Dinheiro? O que o
motiva?
A principal motivação é o sustento da família, mas ainda há o prazer do casal de trabalharem juntos e
num ambiente onde se tem movimento e interatividade com pessoas.
•Você pausa para relaxar? Se alimentar ou ir ao banheiro?
A pausa para relaxar acontece por ser um casal, pois um vigia os dois carrinhos enquanto o outro
descansa.
•Quais as queixas?
Falta de incentivo a ser vendedor de picolé. Não há leis, direitos ou apoio para os vendedores
ambulantes de picolé.
•Quais as sugestões de melhorias?
Citaram apenas a melhoria em relação a altura do carrinho ,pois eles se queixam muito da coluna na
hora de buscar o picolé, os carrinhos são muito baixos.

20. Recomendações ergonômicas
•O carrinho deve possuir uma altura maior em relação ao usuário, por meio de sistemas
de elevação.
•O carrinho deve ter sistema de locomoção próprio, com uma bicicleta acoplada, que
possua encosto, para também servir de acomodação ao vendedor.
•Deve-se ter um lixo com tampa embutido na parte de trás do carrinho.
•Uma placa ou cartaz de amostragem dos tipos de picolés existentes e os seus
respectivos preços deve ser elaborado e instalado em alguma parte visível do carrinho.
•A tampa do carrinho deve possuir um espaço para armazenagem de papéis, ou
dinheiro, ou produtos menores como bombons.
•Para dias de chuva e sol, um guarda-chuva deve ser acoplado ao carro, com facilidade
de manuseio.
•Uma farda deve ser elaborada para maior divulgação da marca.
•Compartimentos internos para dividir os produtos, melhorariam na sua identificação.
•Momentos de relaxamento e ginástica laboral devem ser adotados.
•O carrinho pode ter sua identidade visual melhorada.

21. M A T R I Z D E R E Q U I S I T O S E P A R Â M E T R O S
G E R A Ç Ã O D E A L T E R N A T I V A S
S E L E Ç Ã O D E A L T E R N A T I V A
Projetação

22. Matriz de requisitos e parâmetros
Requisitos Parâmetros
Sistema de elevação A altura do carrinho deve se adequar a altura de cada
vendedor.
Sistema de locomoção próprio Bicicleta acoplada ao carrinho de modo que ofereça
conforto e maior mobilidade ao vendedor.
Sistema de armazenamento de lixo Uma cesta de lixo acoplado ao carrinho, que seja de fácil
acesso, podendo ser encaixada e retirada com facilidade.
Sistema de amostragem de
produtos
Suporte ou placa disponível no carrinho que contenha as
informações dos produtos oferecidos e seus respectivos
preços.
Sistema de porta objetos Um pequeno gaveteiro disponível no carrinho para que
possa ser armazenados doces e guardanapos.

23. Matriz de requisitos e parâmetros
Sistema de proteção aos raios solares
e chuvas.
Encaixe que permita a acoplagem de um guarda
chuva ou guarda sol.
Sistema de fardamento Padronização de camisa, boné, calça ou bermuda
adequados para o tipo de serviço, melhorando a
identificação dos vendedores e da marca.
Sistema de divisão interna Divisores na parte interna de refrigeração do carrinho
que melhor organize os espaços de armazenagem dos
produtos.
Sistema de relaxamento Método para a implantação da ginástica laboral, que
seja realizado em poucos minutos pelos vendedores.
Sistema de identidade visual Divulgação e identificação da marca no exterior do
carrinho.

24. Geração de alternativas

25. Geração de alternativas

26. Geração de alternativas

27. Geração de alternativas

28. Geração de alternativas

29. Geração de alternativas

30. Seleção de alternativa

31. Considerações finais
Conclui-se que com a utilização da ergonomia e das metodologias
ergonômicas, pode-se criar medidas que ajudem na prevenção de diversas
espécies de acidentes ocupacionais, assim como realizado neste projeto.
Com a intervenção ergonômica conseguiu-se oferecer além das prevenções
citadas, maior otimização do trabalho, redução de riscos, diminuição de
prejuízos e maior conforto para os vendedores de picolé. Através deste
trabalho pôde-se entender o quanto a ergonomia é importante, como
funciona as etapas de uma intervenção ergonomica e que estas fases devem
ser seguidas na sua ordem, para que possam sugir alternativas que se
encaixem as necessidades dos trabalhadores.

32. Referências
REFERÊNCIAS
MORAES, Anamaria; MON’T ALVÃO, Cláudia. Ergonomia, Conceitos e
Aplicações. 2º Edição, Rio de Janeiro: 2AB; Serie Oficina, 2000.
IIDA, Itiro. Ergonomia, Projeto e Produção. 8º Edição. São Paulo: Edgard Blücher.
Núcleo de Publicações COPPE.
Norma NR 17 - Ergonomia.
PEQUINI, Suzi Mariño. Itens para a elaboração do relatório ergonômico de
Intervenção ergonômica, 2002, Salvador.
FONTE: MSD (Fique bem),Profissionais de saúde,2009-2011.Disponível em :
< http://www.msdonline.com.br/Pages/landing.aspx >. Acesso em : 21 nov. 2012.
VARELLA,Drauzio.Lesões por esforço repetitivo, 2010. Disponivel em:
<http://drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/lesoes-por-esforcos-repetitivos-l-e-r-d-o-r-t/ >.Acesso em : 21 Nov. 2012.
LER/DORT. Protocolo de atenção integral à saúde do trabalhador. Ministério da Saúde. 2006.Disponível em :
< http://www.bancodesaude.com.br/ler-dort/ler-dort >.Acesso em : 21 Nov. 2012.
FONTE: Artigonal, Vendendo Picolé, 06 mai. 2008. Disponível em :
< http://www.artigonal.com/vendas-artigos/vendendo-picole-405466.html >. Acesso em : 21 Nov. 2012.
FONTE: Artigo Público,Vendedor de Picolés (e o Quinto Setor).Disponível em :
< http://www.artigopublico.com/artigos/o-vendedor-de-picoles-e-o-quinto-setor>. Acesso em : 21 Nov. 2012.
FONTE: Artegel.Carrinhos para picolé com plácas eutéticas. São Paulo,2012.Disponivel em:
< http://www.artegel.com.br/carrinhos-picole.html>. Acesso em : 21 Nov. 2012.
FONTE: Novo Negócio. Carrinho de Picolé-Investimento Inicial,2012. Disponivel em:
<http://www.novonegocio.com.br/carrinhos/carrinho-de-picole/ > . Acesso em: 21 Nov. 2012.
FONTE: PDF 7,Metodologia Ergonômica Aplicada ao Design de Produtos.Disponivel em:
< http://www.posdesign.com.br/artigos/tese_suzi/Volume%201/11%20Cap%C3%ADtulo%207%20-%20Metodologia%20Ergon%C3%B4mica.pdf >.
Acesso em: 21 Nov. 2012.