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A experiência
valorativa e os juízos
morais
Filosofia - 10.º ano
Prof. Kelly-Elizabeth
Conteúdos
- Noção de Valor: O que são os valores e o
seu papel na ação humana?
- Os diferentes tipos de valores:
Espirituais, Éticos e Morais, Religiosos,
Políticos, Estéticos (…).
- Características dos valores:
• Polaridade;
• Hierarquia;
• Historicidade;
- Juízos de Valor e Juízos de Factos
O que são os valores?
«Todos nós valoramos e não podemos deixar de valorar. Não é possível a vida
sem proferir constantemente juízos de valor. É da essência do ser humano
conhecer e querer, tanto como valorar. (…) Todo o querer pressupõe um
valor. Nada podemos querer senão aquilo que de alguma maneira nos pareça
valioso e como tal digno de ser desejado.
Valoramos as mais diferentes coisas. O nosso valor recai sobre todos os
objetos possíveis: água, pão, vestuário, saúde, livros, homens, opiniões, atos.
Tudo isso é objeto das nossas apreciações.»
Johannes Hessen, Filosofia dos valores, Arménio Amado Editor, 1980, Coimbra, p.42
Valor
Estar forte e
vigoroso ou ter um
determinado preço
Provém do Latim: Valere
Algumas
aceções do
conceito
valor…
Valor é sinónimo de
preferência e
seleção, ou seja, é
entendido como a
preferência de alguma
coisa.
Exemplo: Prefiro ir à
praia que ir ao cinema.
O valor é o que dá origem
ao preço de uma
mercadoria. Um objeto tem
valor económico, sendo o
preço uma das
manifestações desse valor.
Exemplo: A obra de Edvard
Munch “O Grito”
vale o preço de 40 milhões de
euros.
Sentido
Vulgar
Sentido
Económico
Algumas
aceções do
conceito
valor…
O valor é entendido como
moralidade de uma ação. Em
relação às condutas,
regras e normas criadas
pela sociedade, diz-se que
há ações moralmente mais
valiosas que outras.
Ao longo dos séculos, mais
precisamente, do século XIX
e XX, alguns filósofos
dedicaram-se à reflexão
dos valores humanos.
A essa disciplina que estuda
os valores humanos dá-se o
nome de Filosofia dos
Valores ou Axiologia.
Sentido
Moral
Sentido
Filosófico
O termo Moral provém do
latim mores. É a disciplina que
estuda as normas e os
deveres que regem a
sociedade e a conduta do
indivíduo.
Atribuir valor às coisas, isto é, valorar é constitutivo do ser humano: ao sentir, pensar e
relacionar-se com o mundo e com os outros posiciona-se face às situações. Enquanto
agente, faz escolhas que tem em conta valores: um grupo de amigos, uma relação
amorosa, uma profissão, uma associação, um projeto de vida.
O ser humano não é indiferente ao mundo de que faz parte. Estabelece relações
de preferência ou de aversão com a realidade e age orientando-se por valores que
foi integrando ao longo da vida. O ser humano distingue-se dos demais também por ser
capaz de avaliar a sua própria existência e de lhe atribuir um sentido.
Em cada uma das dimensões que caracterizam o ser humano – a ética, política, a religiosa,
entre outras – estão implicados valores.
A filosofia procura compreender o ser humano e a sua
relação com o mundo, tentando refletir de que forma os
valores enriquecem e complexificam a nossa
existência.
Ser Humano
(Agente)
Realidade
(Dimensão
sociocultural)
O humano constrói e reconstrói os valores
em sociedade.
Os valores orientam as nossas escolhas e decisões (ação).
O humano atribui
valor às coisas, isto é,
valorar.
Quais os
tipos de
valores?
Vitais
Estéticos
Éticos e Morais
Políticos
Económicos
Religiosos
(…)
VALORES VITAIS
São os que dizem
respeito à vida ou à
qualidade de vida.
▪ Vida
▪ Saúde
▪ Vitalidade
▪ Robustez física
(…)
VALORES ESTÉTICOS
Referem-se ao nosso
gosto em relação à
beleza. São os valores
de expressão:
A Criação de Adão, Michelangelo Buonarotti
▪ Beleza
▪ Gracioso
▪ Feio
▪ Sublime
▪ Harmonia
(…)
VALORES ÉTICOS E
MORAIS
Referem-se às normas
ou critérios de
conduta humana.
▪Justiça/Injustiça
▪Lealdade
▪Solidariedade
▪Respeito
▪Altruísmo
▪Dignidade
(…)
VALORES POLÍTICOS
Dizem respeito à
dimensão
sociopolítica.
▪ Cidadania
▪ Democracia
▪ Liberdade
▪ Igualdade
▪ Justiça
▪ Imparcialidade
(…)
VALORES
ECONÓMICOS
São os valores relativos a
princípios económico-
financeiros.
▪ Riqueza
▪ Pobreza
▪ Trabalho
▪ Distribuição
▪ Equidade
(…)
VALORES RELIGIOSOS
São os valores
relativos aos
princípios religiosos.
▪ Sagrado
▪ Profano
▪ Santidade
▪ Caridade
▪ Misericórdia
▪ Fé
(…)
A ação humana e os Valores
A ação humana desenvolve-se num mundo continuamente obriga
o agente a tomar decisões e a assumir responsabilidades. Neste
sentido, ela não pode ser considerada neutra, imparcial ou isenta,
pois há princípios e valores que orientam o ser humano
no mundo, condicionando as suas opiniões, opções e preferências.
Vejamos, de seguida, quais são as características que os valores
podem assumir…
“
COMO PODEMOS
CARACTERIZAR OS
VALORES?
Polaridade
Hierarquia
Historicidade
Polaridade dos valores
Os valores, por expressarem preferências, estão associados a um contravalor
ou desvalor – que representa o lado negativo, ou oposto, do valor em causa
(positivo).
Positivos = os valores que devem ser cultivados;
Negativos = os valores que o humano tende reprovar.
As polaridades conservam-se imutáveis ao longo dos tempos ou podem
sofrer alterações.
Se é o Homem que atribui valor às coisas, não pode este, a qualquer momento
considerar que o polo positivo passe a ocupar o polo negativo? A verdade é
sempre preferível à mentira? O amor preferível ao ódio? A sanidade à
loucura? A beleza à fealdade?
Exemplos
Verdade Mentira
Amor Ódio
Belo Feio
Sagrado Profano
Hierarquia dos valores
O sujeito, por natureza, organiza hierarquicamente em tábuas de valor
ou escalas valorativas o conjunto de valores que organiza a sua ação –
segundo o grau de importância que o sujeito lhes atribui.
Ou seja, as hierarquias de valores refletem as preferências valorativas
dos sujeitos, dos grupos e das sociedades.
Inferior
Superior
Justiça
Saúde
Lealdade
Exemplos
Saúde
Felicidade
Beleza
Historicidade dos valores
Os valores, bem como a sua hierarquização, têm um caráter histórico;
acompanham e perspetivam a própria história da relação do ser humano
com o mundo e consigo mesmo. Desenvolvem-se e transformam-se de
acordo, quer com as experiências da vida do indivíduo, quer com o
desenvolvimento das sociedades.
Os valores ao longo da história da humanidade sofreram alterações e
flutuações.
Os valores da vida, da justiça, da beleza, etc. permanecem ao mesmo tempo
que, ou justamente porque, vão ganhando novos sentidos.
27
Expressamos muito daquilo que pensamos e sentimos a partir
de juízos. Um juízo significa, geralmente, a formulação de uma
opinião ou a afirmação de uma realidade. Alguns dos juízos
que fazemos traduzem os valores que atribuímos aos diferentes
objetos, pessoas ou situações; outros, não. É, portanto necessário
distinguir juízos de facto de juízos de valor.
Juízos de Facto e Juízos de Valor
A experiência do ser humano permite-lhe relacionar-se com o mundo de forma não apenas
factual, mas também valorativa. Existem, assim, dois tipos diferentes de abordagem
do mundo, correspondendo a cada um deles um determinado tipo de expressão (juízo).
Quando nos limitamos a descrever a realidade, de forma imparcial e em condições de se
poder afirmar que esses juízos são objetivamente verdadeiros ou falsos, formulamos juízos
de facto. Formulamos juízos de valor sempre que apreciamos algo, de forma parcial e já não
é passível ser considerado objetivamente verdadeiro ou falso.
• É completamente diferente afirmar-se que «a Universidade de Coimbra é a mais
antiga das universidades portuguesas» e que «a Universidade de Coimbra é a
melhor das universidades portuguesas».
No primeiro caso basta confrontarmos as diferentes datas de fundação das várias
universidades para verificarmos se o respetivo juízo é verdadeiro ou falso. No
segundo caso existe uma margem de subjetividade que torna impossível dizer
se a afirmação é objetivamente verdadeira ou falsa.
Juízos de
Valor
Juízos de
Facto
• Proposição que pretende
descrever a realidade;
• É, em princípio,
empiricamente verificável;
• Pode afirmar-se se é
verdadeiro ou falso;
• Sendo verdadeira, é possível o
seu reconhecimento por
todos indivíduos.
• Caráter objetivo;
Juízos de
Facto
Neste local
estavam 30
graus celsius.
A obra
La Joconde foi
pintada por
Leonardo da Vinci.
• Enunciado apreciativo da
realidade de forma positiva ou
negativa;
• Proposição que pretende
avaliar a realidade
(acontecimentos, ações,
pessoas, coisas…);
• Caráter subjetivo –depende da
valoração/opinião do sujeito;
• Não possuem valor de verdade.
Juízos de
Valor
Exemplos
“Não gosto desta
obra de arte, não
acho nada de
especial.”
“É um gesto
admirável”
Juízos de Facto Juízos de Valor
Exemplos:
- Segundo a Amnistia Internacional, em 2012, cerca de
112 países praticavam a tortura;
- D. Afonso Henriques foi o primeiro rei de Portugal;
- A obra Totalidade e Infinito é uma obra escrita por
Emmanuel Levinas.
Exemplos:
- A tortura é, em qualquer circunstância,
moralmente inadmissível;
- O melhor reinado de Portugal foi o de D. João II;
- A literatura é a arte que melhor exprime os
sentimentos humanos.
• Proposições descritivas da realidade;
• Enunciados objetivamente verdadeiros ou
falsos;
• Enunciados neutros e imparciais;
• São objetivos, isto é, a sua veracidade depende
da correspondência entre o que neles se
afirma e o seu objeto;
• Sendo verdadeiros ou falsos, é possível o seu
reconhecimento por todos.
• Proposições apreciativas da realidade;
• Enunciados que não são objetivamente
verdadeiros nem falsos;
• Enunciados que exprimem preferências e são
parciais;
• São subjetivos, ou seja, resumem-se a
avaliações do sujeito;
• Não sendo objetivamente verdadeiros ou
falsos, são objeto de maior discussão.
a. Heráclito foi um filósofo pré-socrático genial.
b. Em Portugal, a interrupção voluntária da gravidez é legal até às dez semanas de
gestação.
c. Bento de Espinosa foi um filósofo do século XVII.
d. O Capital é a obra mais extensa de Karl Marx.
e. Jean-Paul Sartre ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1964.
f. O Filósofo existencialista mereceu o prémio.
g. Seria um erro permitir as touradas de morte em Portugal.
h. Os Açores são nove ilhas situadas no oceano Atlântico.
i. A música é a mais bela das linguagens universais.
Identifica qual o tipo de juízo que correspondem os seguintes enunciados:
1. O Eduardo tem 15 anos;
2. O Rugby é um desporto
coletivo;
3. A parede da sala é branca.
4. Coimbra fica entre Lisboa e
Porto;
5. Na revolução francesa, a
Bastilha foi atacada.
(…)
▪ Dá exemplos de Juízos de Valor e Juízos de Facto.
1. O Eduardo não deveria ter feito
o que fez;
2. Paris é mais bonita que Lisboa
e Porto.
3. A moda é Arte.
4. A poesia de Alberto Caeiro é
sublime.
5. A música eletrónica é péssima.
(…)
Juízos
de Facto
Juízos
de Valor
Resolução
de
Exercícios
1. O que são valores?
2. Dê exemplos de como os valores são critérios em função dos quais
decidimos e agimos?
3. Distinga os seguintes juízos: a) «A pena de morte é aplicada na
Arábia Saudita.» e b) «A pena de morte é injusta».
Resolução
de
Exercícios
1. Os valores são os critérios que guiam e justificam as nossas ações e
decisões. O agente, no momento em que toma decisões, fá-lo com base
nas suas crenças, naquilo que considera (moralmente) correto e, de
acordo com as suas preferências (gostos/inclinações). Ora, a sua
deliberação implica a reflexão dos valores que defende – valores, que
resultam, essencialmente, do enquadramento/contexto cultural e
temporal a que está inserido.
2. Se o agente atribuir importância ao valor da solidariedade – então, em
vez de se desinteressar pelos problemas das outras pessoas, sempre que
este tiver oportunidade, os seus atos vão estar de acordo com esse valor
que defende, por exemplo a sua participação voluntária numa campanha
de recolha de alimentos para pessoas mais carenciadas. Esta decisão
resultará das suas preferências e dos valores que considera que devem
orientar e guiar as suas decisões ao longo da vida. Ora, se o indivíduo
prioriza a verdade à mentira, isso significa que o critério das suas decisões
resultou do valor honestidade. Por acreditar nesse valor, este recusa a
mentira.
Resolução
de
Exercícios
3. Quando formamos um juízo sobre um dado assunto, estamos a formar
uma opinião. Os juízos podem limitar-se aos factos e exprimir avaliações. Aos
primeiros denominamos de juízo de facto e ao segundo designamos de
juízos de valor. Vejamos os seguintes juízos: «A pena de morte é aplicada
em vários países do mundo» e «A pena de morte é um ato injusto».
Em relação ao primeiro enunciado, não há qualquer avaliação. Apoia-se,
apenas, a uma descrição objetiva da realidade - como as coisas são. Portanto,
o enunciado não resulta de qualquer crença ou opinião, não se afirma se a
pena de morte é um ato correto ou incorreto. Limita-se à descrição de factos.
Na segunda proposição, faz-se uma avaliação baseada em valores intrínsecos
ao agente que o enuncia, tal como a dignidade da vida humana. Avalia-se
essa prática com base em certos valores.
Em suma, no primeiro caso refere-se objetivamente a factos. No segundo
caso recorre-se à subjetividade do agente, ou seja, a partir dos valores que
este se apoia para defender a sua perspetiva face ao problema moral da
prática da pena de morte.
Resolução
de
Exercícios
4. Identifique os tipos de valores a que as seguintes frases se
referem.
a) A tortura é uma violação, inaceitável dos direitos humanos.
b) É mais belo um Ferrari do que a Vénus de Milo.
c) A desvalorização do euro não convém neste momento à Europa.
d) Traiu a confiança dos seus amigos.
e) A única superpotência é Deus.
f) A democracia é o pior dos regimes, excetuando todos os outros.
g) Só Deus dá sentido pleno à vida.
Correção:
a) Valor ético-moral;
b) Valor estético;
c) Valor económico;
d) Valor ético;
e) Valor religioso;
f) Valor político;
g) Valor religioso.
Resolução
de
Exercícios
5. Identifique os tipos de juízos a que as seguintes frases se
referem.
a) O filme dura hora e meia.
b) A banda sonora é dos Xutos e Pontapés.
c) O argumento é desinteressante.
d) Várias cenas foram realizadas por computador.
e) O final é uma desilusão.
Correção:
a) Juízo de facto.
b) Juízo de facto.
c) Juízo de valor.
d) Juízo de facto.
e) Juízo de valor.
Os valores e cultura
Como qualquer produção humana, os valores são históricos e socialmente determinados,
pois é sempre o tempo e o espaço concretos em que decorre a atividade humana que
determinam aquilo que vale. Os valores têm, portanto, a marca de uma cultura, ao
emergirem da ação concreta dos seres humanos no contexto que dita as suas necessidades.
Designa-se cultura o conjunto de elementos de natureza material e não material que o
ser humano recebe, transmite ou produz para satisfazer as suas necessidades. Nesse
sentido, a cultura traduz-se numa pluralidade de manifestações e práticas que reflete a
atividade de todos os povos.
O que caracteriza a cultura é a sua heterogeneidade – existem
diferentes culturas e diferentes valores defendidos por estes.
O problema da natureza dos juízos de valor
• A vaca é um animal sagrado;
• O infanticídio é imoral;
• A pena de morte é moral;
• (…)
Estas questões remetem para o problema da natureza dos juízos de valor – no entanto,
vamos apenas forcar-nos nos juízos que têm conteúdo moral (juízos morais) – naqueles
que visam orientar as práticas do indivíduo num contexto social em função do que é ou
não é aceitável. Uma das questões que importa esclarecer quanto aos juízos morais é a de
saber…
Existem ou não verdades morais?
• O que declaramos nestes juízos traduz uma verdade ou é apenas a expressão de um
estado emocional (subjetivo)?
TEORIAS AXIOLÓGICAS
Aceitando que há valor de verdade nos juízos morais, isto é, que eles podem ser verdadeiros
ou falsos é necessário determinar se a sua verdade é relativa e, nesse caso, depende do
sujeito e das sociedades que os enunciam, ou se é objetiva, porque racionalmente
justificada.
Subjetivismo
Axiológico/
Moral
Relativismo
Axiológico/
Moral
Objetivismo
Axiológico/
Moral
SUBJETIVISMO
AXIOLÓGICO
Subjetivismo
Axiológico
A verdade é meramente subjetiva – depende
exclusivamente do modo como cada pessoa
compreende ou sente o mundo. No que respeito aos
valores e práticas morais, ninguém está
objetivamente certo ou errado. Cada um de nós
responde às questões morais de acordo com o seu
código moral – depende somente de cada um de nós.
Neste sentido, é moralmente incorreto que
alguém – outro indivíduo ou sociedade – tente
impor as suas conceções morais porque ninguém
possui a verdade absoluta sobre estas questões.
Não há princípios e normas morais, a não ser os que
cada indivíduo escolhe para si mesmo.
Subjetivismo Axiológico
• Para o subjetivismo, os juízos de valor são subjetivos, pelo que os factos morais não são
elementos da realidade externa, mas estados psicológicos (crenças, convicções,
preferências) dos sujeitos que os formulam.
Os juízos morais declaram pontos de vista pessoais, que são verdadeiros ou falsos apenas
para quem os enuncia. É em função das experiências internas de agrado ou desagrado que o
sujeito expressa, num juízo de valor, a sua opinião acerca das situações com que se depara.
As verdades morais são, pois, APENAS relativas ao indivíduo. Não existem
verdades universais/absolutos que guiem a nossa ação.
Exemplo: O juízo “é errado matar animais” pode ser verdadeiro ou falso, consoante as conceções
pessoais de quem o enuncia. Para o subjetivismo não existe um conceito universal de Bem ou de Mal,
mas tantos quantos indivíduos. Se assim é, uma opinião vale o mesmo que a sua contrária. E, por isso,
devemos respeitar a opinião do outro seja ela qual for, aceitável ou inaceitável para nós.
A pena de
morte devia ser
abolida. Afinal,
para mim, o mais
importante é a
vida.
Não concordo
nada. Para mim,
ainda mais
importante é a
justiça.
• Segundo o subjetivismo axiológico, não existem valores aceites
universalmente – na ética não existem verdades absolutas.
O subjetivismo possibilita que cada sujeito expresse a sua opinião com
total liberdade – reforçando a ideia de liberdade de expressão.
Como tal, um dos aspetos positivos na perspetiva do subjetivismo é o facto de
promover a tolerância entre as pessoas com convicções morais diferentes,
pois não há nenhuma verdade certa e, por isso, todos temos a possibilidade de
defender juízos morais distintos uns dos outros.
Subjetivismo Axiológico
• As verdadeiras morais são relativas ao indivíduo.
Se para o subjetivismo não existe um conceito universal de bem ou de mal – se
uma opinião vale o mesmo que a sua contrária – então, esta perspetiva
subjetivista assenta que todos discordamos sobre os mesmos valores – visto
que cada um entende de forma pessoal os valores com base nas suas
experiências passadas, educação recebida e no contexto histórico-temporal.
Este é o argumento discordância apresentado pelos subjetivistas.
Mas será mesmo assim? Nunca concordamos com os mesmos juízos
morais? Como se resolvem os conflitos que decorrem da
divergência de posições ao nível dos juízos morais?
CRÍTICAS À PERSPETIVA
SUBJETIVISTA
I. Impede a
censura de
ações
claramente
erradas
Há comportamentos que consideramos errados, de forma
intuitiva e independentemente de quaisquer perspetivas
teóricas, como por exemplo o assassínio e a pedofilia. Contudo, se
o subjetivismo fosse verdadeiro não teríamos fundamento para criticar
tais comportamentos, pois os assassinos e os pedófilos poderiam
invocar os seus sentimentos e dizer, por exemplo, «Na minha opinião, o
que faço é correto e, como a ética é subjetiva, a opinião de quem me
critica não é melhor».
Porém, uma teoria que não permite criticar o assassínio e a
pedofilia é implausível, já que os assassinos e os pedófilos prejudicam
outras pessoas e, portanto, há boas razões para censurá-los.
«O racismo fornece-nos um bom teste para as perspetivas éticas. O
subjetivismo é insatisfatório neste ponto dado afirmar fazer sofrer
pessoas de outras raças é um bem desde que eu goste o fazer.
Depois, o subjetivismo implica que Hitler disse a verdade quando
afirmou “O assassínio dos judeus é um bem” (visto que este
enunciado apenas significa que Hitler gostava de matar judeus). O
subjetivismo tem implicações inaceitáveis sobre o racismo.»
I. Impede a
censura de
ações
claramente
erradas
Considere-se o seguinte juízo: «Roubar é errado». Ora,
segundo a perspetiva subjetivista, não é possível afirmar que o
juízo é verdadeiro ou falso, porque ele pode,
simultaneamente, ser moralmente aceitável para uma
pessoa e intolerável para outra.
No entanto, «roubar» não nos parece correto.
- Roubar implica pôr em causa a segurança e o bem estar
do indivíduo;
Em suma, se a atribuição de valor de verdade dependesse
apenas das preferências pessoais, não teríamos boas razões
para considerar a ação de roubar errada. E para além disso,
parece-nos evidente que, afinal, sobre alguns valores como a
«segurança» existe consenso e concordância entre todos – por
isso, não é verdade que discordemos sempre acerca de
todos os valores. Parece existir consenso e alguma
objetividade quando assumimos que roubar é errado (valor
universal).
II. Não explica
a existência
de desacordos
morais e
esvazia de
sentido os
debates
Se o subjetivismo fosse uma teoria correta, as pessoas
que debatem problemas morais, como a eutanásia
ou o aborto, estariam a fazer algo insensato e até
absurdo (quando um assunto é subjetivo, como por
exemplo as preferências relativas a gelados, as pessoas
geralmente não o discutem). Mas, se é certamente falso
que debater temas morais é insensato e absurdo, o
subjetivismo não é uma teoria correta.
Uma consequência desta objeção é que uma vez
que lidar com as diferenças culturais envolve fazer
debates interculturais então é duvidoso que o
subjetivismo seja uma resposta adequada aos
desafios do multiculturalismo.
II. Não explica
a existência
de desacordos
morais e
esvazia de
sentido os
debates
O subjetivismo, ao defender que a veracidade ou falsidade dos juízos
de valor depende da opinião de cada sujeito, tira todo o sentido
ao debate/diálogo racional sobre questões morais, éticas e
sociopolíticos de forma a superar possíveis conflitos sociais. Por
isso é necessário o reconhecimento por todos da existência de
valores essenciais e universais que permitam regular ou orientar a
ação humana.
Sem a existência de valores morais absolutos e objetivo torna-se
impossível progredir na humanidade – distinguir atos
moralmente inaceitáveis de atos louváveis – e, por isso reconhecer
a existência de valores universais (desejados por todos) tais como a
vida, segurança, paz, justiça, entre outros.
Caso, se continue a acreditar que todos os valores têm a mesma
importância e que variam é de pessoa para pessoa, então os debates
sobre a Eutanásia, os Refugiados, a Igualdade de Género
deixariam de fazer todo o sentido.
O subjetivismo, ao defender que a veracidade ou falsidade dos juízos de valor
depende da opinião de cada sujeito, tira todo o sentido ao debate/diálogo
racional sobre questões morais, éticas e sociopolíticos de forma a
superar possíveis conflitos sociais. Por isso é necessário o reconhecimento por
todos da existência de valores essenciais e universais que permitam regular ou
orientar a ação humana.
Sem a existência de valores morais absolutos e objetivo torna-se impossível
progredir na humanidade – distinguir atos moralmente inaceitáveis de atos
louváveis – e, por isso reconhecer a existência de valores universais (desejados
por todos) tais como a vida, segurança, paz, justiça, entre outros.
Caso, se continue a acreditar que todos os valores têm a mesma importância e
que variam é de pessoa para pessoa, então os debates sobre a Eutanásia, os
Refugiados, a Igualdade de Género deixariam de fazer todo o sentido.
Objeções/
críticas ao
Subjetivismo
CONFLITO DE VALORES
Se de acordo com esta perspetiva, o certo e o errado
são, legitimamente, criados por um sujeito a partir
das suas preferências, então, numa situação em
que estejam em conflito duas conceções de valor
gera-se um impasse inultrapassável. Haverá
alguma forma de o superar?
Sempre que existe desacordo em relação a
factos, numa situação de conflito de valores, para
os subjetivistas não é possível encontrar
critérios objetivos que reponham a verdade de
uma das posições.
Vejamos o seguinte exemplo.
Exemplo: imagine-se que alguém propõe que apenas os alunos com médias baixas
podem frequentar aulas de preparação para exame. Ora, assumindo que estas aulas são
um benefício, o conflito de valores surge quando um aluno com médias baixas considera a
medida justa e um outro, com médias altas, a considera injusta.
Ora, um subjetivista dirá que não há forma de superar este conflito, pois cada um dos
alunos defende a sua posição com base nos seus interesses. Porém, a resposta não pode
ser tão linear. Efetivamente, conseguimos compreender que esta medida implica um
conjunto de critérios objetivos que nos permitem analisar a medida e decidir acerca da
sua justiça ou injustiça.
Por exemplo, se os alunos com médias baixas tiverem menos hábitos de estudo do que os
que têm médias altas, faz sentido criar-lhes condições extraordinárias (aulas de preparação
para exame) para compensar essa limitação. Desta forma, a medida seria justa e o
impasse entre as posições seria resolvido. Simultaneamente, rejeitar-se-ia o argumento
de que é impossível, do ponto de vista subjetivista, resolver conflitos de valores.
Todas as
pessoas que
não sejam da
raça ariana
devem ser
mortas.
Bem… sé é a
opinião dele,
só podemos
aceitar a sua
opinião…
• O subjetivismo, ao defender que a veracidade ou falsidade dos juízos de valor depende da
opinião de cada sujeito, permite que qualquer juízo moral seja verdadeiro e permite
que o caos social se possa instalar – se não existem valores absolutos, não
existem leis, normas, regras que possam orientar o comportamento humano.
• Neste sentido, o subjetivismo faz da ética um domínio completamente arbitrário
(caótico). À luz desta teoria, nenhum ponto de vista, por muito monstruoso ou
absurdo que seja, pode ser considerado realmente errado ou pelo menos pior do que
outros pontos de vista alternativos. Parece fundamental existirem valores
absolutos/objetivos de forma a superar estas situações.
Exercícios de Aplicação
1. O que se entende por subjetivismo moral?
2. O subjetivismo moral afirma que nenhuma perspetiva moral é mais
verdadeira ou melhor do que outra. Tente formar um contra argumento.
3. O subjetivismo moral torna impossível uma genuína discussão de questões
morais. Está de acordo? Justifique a sua posição.

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  • 1. A experiência valorativa e os juízos morais Filosofia - 10.º ano Prof. Kelly-Elizabeth
  • 2. Conteúdos - Noção de Valor: O que são os valores e o seu papel na ação humana? - Os diferentes tipos de valores: Espirituais, Éticos e Morais, Religiosos, Políticos, Estéticos (…). - Características dos valores: • Polaridade; • Hierarquia; • Historicidade; - Juízos de Valor e Juízos de Factos
  • 3. O que são os valores? «Todos nós valoramos e não podemos deixar de valorar. Não é possível a vida sem proferir constantemente juízos de valor. É da essência do ser humano conhecer e querer, tanto como valorar. (…) Todo o querer pressupõe um valor. Nada podemos querer senão aquilo que de alguma maneira nos pareça valioso e como tal digno de ser desejado. Valoramos as mais diferentes coisas. O nosso valor recai sobre todos os objetos possíveis: água, pão, vestuário, saúde, livros, homens, opiniões, atos. Tudo isso é objeto das nossas apreciações.» Johannes Hessen, Filosofia dos valores, Arménio Amado Editor, 1980, Coimbra, p.42
  • 4. Valor Estar forte e vigoroso ou ter um determinado preço Provém do Latim: Valere
  • 5. Algumas aceções do conceito valor… Valor é sinónimo de preferência e seleção, ou seja, é entendido como a preferência de alguma coisa. Exemplo: Prefiro ir à praia que ir ao cinema. O valor é o que dá origem ao preço de uma mercadoria. Um objeto tem valor económico, sendo o preço uma das manifestações desse valor. Exemplo: A obra de Edvard Munch “O Grito” vale o preço de 40 milhões de euros. Sentido Vulgar Sentido Económico
  • 6. Algumas aceções do conceito valor… O valor é entendido como moralidade de uma ação. Em relação às condutas, regras e normas criadas pela sociedade, diz-se que há ações moralmente mais valiosas que outras. Ao longo dos séculos, mais precisamente, do século XIX e XX, alguns filósofos dedicaram-se à reflexão dos valores humanos. A essa disciplina que estuda os valores humanos dá-se o nome de Filosofia dos Valores ou Axiologia. Sentido Moral Sentido Filosófico O termo Moral provém do latim mores. É a disciplina que estuda as normas e os deveres que regem a sociedade e a conduta do indivíduo.
  • 7. Atribuir valor às coisas, isto é, valorar é constitutivo do ser humano: ao sentir, pensar e relacionar-se com o mundo e com os outros posiciona-se face às situações. Enquanto agente, faz escolhas que tem em conta valores: um grupo de amigos, uma relação amorosa, uma profissão, uma associação, um projeto de vida. O ser humano não é indiferente ao mundo de que faz parte. Estabelece relações de preferência ou de aversão com a realidade e age orientando-se por valores que foi integrando ao longo da vida. O ser humano distingue-se dos demais também por ser capaz de avaliar a sua própria existência e de lhe atribuir um sentido. Em cada uma das dimensões que caracterizam o ser humano – a ética, política, a religiosa, entre outras – estão implicados valores. A filosofia procura compreender o ser humano e a sua relação com o mundo, tentando refletir de que forma os valores enriquecem e complexificam a nossa existência.
  • 8. Ser Humano (Agente) Realidade (Dimensão sociocultural) O humano constrói e reconstrói os valores em sociedade. Os valores orientam as nossas escolhas e decisões (ação). O humano atribui valor às coisas, isto é, valorar.
  • 9.
  • 10. Quais os tipos de valores? Vitais Estéticos Éticos e Morais Políticos Económicos Religiosos (…)
  • 11. VALORES VITAIS São os que dizem respeito à vida ou à qualidade de vida. ▪ Vida ▪ Saúde ▪ Vitalidade ▪ Robustez física (…)
  • 12. VALORES ESTÉTICOS Referem-se ao nosso gosto em relação à beleza. São os valores de expressão: A Criação de Adão, Michelangelo Buonarotti ▪ Beleza ▪ Gracioso ▪ Feio ▪ Sublime ▪ Harmonia (…)
  • 13. VALORES ÉTICOS E MORAIS Referem-se às normas ou critérios de conduta humana. ▪Justiça/Injustiça ▪Lealdade ▪Solidariedade ▪Respeito ▪Altruísmo ▪Dignidade (…)
  • 14. VALORES POLÍTICOS Dizem respeito à dimensão sociopolítica. ▪ Cidadania ▪ Democracia ▪ Liberdade ▪ Igualdade ▪ Justiça ▪ Imparcialidade (…)
  • 15. VALORES ECONÓMICOS São os valores relativos a princípios económico- financeiros. ▪ Riqueza ▪ Pobreza ▪ Trabalho ▪ Distribuição ▪ Equidade (…)
  • 16. VALORES RELIGIOSOS São os valores relativos aos princípios religiosos. ▪ Sagrado ▪ Profano ▪ Santidade ▪ Caridade ▪ Misericórdia ▪ Fé (…)
  • 17. A ação humana e os Valores A ação humana desenvolve-se num mundo continuamente obriga o agente a tomar decisões e a assumir responsabilidades. Neste sentido, ela não pode ser considerada neutra, imparcial ou isenta, pois há princípios e valores que orientam o ser humano no mundo, condicionando as suas opiniões, opções e preferências. Vejamos, de seguida, quais são as características que os valores podem assumir…
  • 20. Polaridade dos valores Os valores, por expressarem preferências, estão associados a um contravalor ou desvalor – que representa o lado negativo, ou oposto, do valor em causa (positivo). Positivos = os valores que devem ser cultivados; Negativos = os valores que o humano tende reprovar. As polaridades conservam-se imutáveis ao longo dos tempos ou podem sofrer alterações. Se é o Homem que atribui valor às coisas, não pode este, a qualquer momento considerar que o polo positivo passe a ocupar o polo negativo? A verdade é sempre preferível à mentira? O amor preferível ao ódio? A sanidade à loucura? A beleza à fealdade?
  • 22. Hierarquia dos valores O sujeito, por natureza, organiza hierarquicamente em tábuas de valor ou escalas valorativas o conjunto de valores que organiza a sua ação – segundo o grau de importância que o sujeito lhes atribui. Ou seja, as hierarquias de valores refletem as preferências valorativas dos sujeitos, dos grupos e das sociedades. Inferior Superior
  • 24. Historicidade dos valores Os valores, bem como a sua hierarquização, têm um caráter histórico; acompanham e perspetivam a própria história da relação do ser humano com o mundo e consigo mesmo. Desenvolvem-se e transformam-se de acordo, quer com as experiências da vida do indivíduo, quer com o desenvolvimento das sociedades. Os valores ao longo da história da humanidade sofreram alterações e flutuações. Os valores da vida, da justiça, da beleza, etc. permanecem ao mesmo tempo que, ou justamente porque, vão ganhando novos sentidos.
  • 25.
  • 26.
  • 27. 27
  • 28. Expressamos muito daquilo que pensamos e sentimos a partir de juízos. Um juízo significa, geralmente, a formulação de uma opinião ou a afirmação de uma realidade. Alguns dos juízos que fazemos traduzem os valores que atribuímos aos diferentes objetos, pessoas ou situações; outros, não. É, portanto necessário distinguir juízos de facto de juízos de valor.
  • 29. Juízos de Facto e Juízos de Valor A experiência do ser humano permite-lhe relacionar-se com o mundo de forma não apenas factual, mas também valorativa. Existem, assim, dois tipos diferentes de abordagem do mundo, correspondendo a cada um deles um determinado tipo de expressão (juízo). Quando nos limitamos a descrever a realidade, de forma imparcial e em condições de se poder afirmar que esses juízos são objetivamente verdadeiros ou falsos, formulamos juízos de facto. Formulamos juízos de valor sempre que apreciamos algo, de forma parcial e já não é passível ser considerado objetivamente verdadeiro ou falso. • É completamente diferente afirmar-se que «a Universidade de Coimbra é a mais antiga das universidades portuguesas» e que «a Universidade de Coimbra é a melhor das universidades portuguesas». No primeiro caso basta confrontarmos as diferentes datas de fundação das várias universidades para verificarmos se o respetivo juízo é verdadeiro ou falso. No segundo caso existe uma margem de subjetividade que torna impossível dizer se a afirmação é objetivamente verdadeira ou falsa.
  • 30.
  • 32. • Proposição que pretende descrever a realidade; • É, em princípio, empiricamente verificável; • Pode afirmar-se se é verdadeiro ou falso; • Sendo verdadeira, é possível o seu reconhecimento por todos indivíduos. • Caráter objetivo; Juízos de Facto
  • 33. Neste local estavam 30 graus celsius. A obra La Joconde foi pintada por Leonardo da Vinci.
  • 34. • Enunciado apreciativo da realidade de forma positiva ou negativa; • Proposição que pretende avaliar a realidade (acontecimentos, ações, pessoas, coisas…); • Caráter subjetivo –depende da valoração/opinião do sujeito; • Não possuem valor de verdade. Juízos de Valor
  • 35. Exemplos “Não gosto desta obra de arte, não acho nada de especial.” “É um gesto admirável”
  • 36. Juízos de Facto Juízos de Valor Exemplos: - Segundo a Amnistia Internacional, em 2012, cerca de 112 países praticavam a tortura; - D. Afonso Henriques foi o primeiro rei de Portugal; - A obra Totalidade e Infinito é uma obra escrita por Emmanuel Levinas. Exemplos: - A tortura é, em qualquer circunstância, moralmente inadmissível; - O melhor reinado de Portugal foi o de D. João II; - A literatura é a arte que melhor exprime os sentimentos humanos. • Proposições descritivas da realidade; • Enunciados objetivamente verdadeiros ou falsos; • Enunciados neutros e imparciais; • São objetivos, isto é, a sua veracidade depende da correspondência entre o que neles se afirma e o seu objeto; • Sendo verdadeiros ou falsos, é possível o seu reconhecimento por todos. • Proposições apreciativas da realidade; • Enunciados que não são objetivamente verdadeiros nem falsos; • Enunciados que exprimem preferências e são parciais; • São subjetivos, ou seja, resumem-se a avaliações do sujeito; • Não sendo objetivamente verdadeiros ou falsos, são objeto de maior discussão.
  • 37. a. Heráclito foi um filósofo pré-socrático genial. b. Em Portugal, a interrupção voluntária da gravidez é legal até às dez semanas de gestação. c. Bento de Espinosa foi um filósofo do século XVII. d. O Capital é a obra mais extensa de Karl Marx. e. Jean-Paul Sartre ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1964. f. O Filósofo existencialista mereceu o prémio. g. Seria um erro permitir as touradas de morte em Portugal. h. Os Açores são nove ilhas situadas no oceano Atlântico. i. A música é a mais bela das linguagens universais. Identifica qual o tipo de juízo que correspondem os seguintes enunciados:
  • 38. 1. O Eduardo tem 15 anos; 2. O Rugby é um desporto coletivo; 3. A parede da sala é branca. 4. Coimbra fica entre Lisboa e Porto; 5. Na revolução francesa, a Bastilha foi atacada. (…) ▪ Dá exemplos de Juízos de Valor e Juízos de Facto. 1. O Eduardo não deveria ter feito o que fez; 2. Paris é mais bonita que Lisboa e Porto. 3. A moda é Arte. 4. A poesia de Alberto Caeiro é sublime. 5. A música eletrónica é péssima. (…) Juízos de Facto Juízos de Valor
  • 39. Resolução de Exercícios 1. O que são valores? 2. Dê exemplos de como os valores são critérios em função dos quais decidimos e agimos? 3. Distinga os seguintes juízos: a) «A pena de morte é aplicada na Arábia Saudita.» e b) «A pena de morte é injusta».
  • 40. Resolução de Exercícios 1. Os valores são os critérios que guiam e justificam as nossas ações e decisões. O agente, no momento em que toma decisões, fá-lo com base nas suas crenças, naquilo que considera (moralmente) correto e, de acordo com as suas preferências (gostos/inclinações). Ora, a sua deliberação implica a reflexão dos valores que defende – valores, que resultam, essencialmente, do enquadramento/contexto cultural e temporal a que está inserido. 2. Se o agente atribuir importância ao valor da solidariedade – então, em vez de se desinteressar pelos problemas das outras pessoas, sempre que este tiver oportunidade, os seus atos vão estar de acordo com esse valor que defende, por exemplo a sua participação voluntária numa campanha de recolha de alimentos para pessoas mais carenciadas. Esta decisão resultará das suas preferências e dos valores que considera que devem orientar e guiar as suas decisões ao longo da vida. Ora, se o indivíduo prioriza a verdade à mentira, isso significa que o critério das suas decisões resultou do valor honestidade. Por acreditar nesse valor, este recusa a mentira.
  • 41. Resolução de Exercícios 3. Quando formamos um juízo sobre um dado assunto, estamos a formar uma opinião. Os juízos podem limitar-se aos factos e exprimir avaliações. Aos primeiros denominamos de juízo de facto e ao segundo designamos de juízos de valor. Vejamos os seguintes juízos: «A pena de morte é aplicada em vários países do mundo» e «A pena de morte é um ato injusto». Em relação ao primeiro enunciado, não há qualquer avaliação. Apoia-se, apenas, a uma descrição objetiva da realidade - como as coisas são. Portanto, o enunciado não resulta de qualquer crença ou opinião, não se afirma se a pena de morte é um ato correto ou incorreto. Limita-se à descrição de factos. Na segunda proposição, faz-se uma avaliação baseada em valores intrínsecos ao agente que o enuncia, tal como a dignidade da vida humana. Avalia-se essa prática com base em certos valores. Em suma, no primeiro caso refere-se objetivamente a factos. No segundo caso recorre-se à subjetividade do agente, ou seja, a partir dos valores que este se apoia para defender a sua perspetiva face ao problema moral da prática da pena de morte.
  • 42. Resolução de Exercícios 4. Identifique os tipos de valores a que as seguintes frases se referem. a) A tortura é uma violação, inaceitável dos direitos humanos. b) É mais belo um Ferrari do que a Vénus de Milo. c) A desvalorização do euro não convém neste momento à Europa. d) Traiu a confiança dos seus amigos. e) A única superpotência é Deus. f) A democracia é o pior dos regimes, excetuando todos os outros. g) Só Deus dá sentido pleno à vida. Correção: a) Valor ético-moral; b) Valor estético; c) Valor económico; d) Valor ético; e) Valor religioso; f) Valor político; g) Valor religioso.
  • 43. Resolução de Exercícios 5. Identifique os tipos de juízos a que as seguintes frases se referem. a) O filme dura hora e meia. b) A banda sonora é dos Xutos e Pontapés. c) O argumento é desinteressante. d) Várias cenas foram realizadas por computador. e) O final é uma desilusão. Correção: a) Juízo de facto. b) Juízo de facto. c) Juízo de valor. d) Juízo de facto. e) Juízo de valor.
  • 44. Os valores e cultura Como qualquer produção humana, os valores são históricos e socialmente determinados, pois é sempre o tempo e o espaço concretos em que decorre a atividade humana que determinam aquilo que vale. Os valores têm, portanto, a marca de uma cultura, ao emergirem da ação concreta dos seres humanos no contexto que dita as suas necessidades. Designa-se cultura o conjunto de elementos de natureza material e não material que o ser humano recebe, transmite ou produz para satisfazer as suas necessidades. Nesse sentido, a cultura traduz-se numa pluralidade de manifestações e práticas que reflete a atividade de todos os povos. O que caracteriza a cultura é a sua heterogeneidade – existem diferentes culturas e diferentes valores defendidos por estes.
  • 45.
  • 46. O problema da natureza dos juízos de valor • A vaca é um animal sagrado; • O infanticídio é imoral; • A pena de morte é moral; • (…) Estas questões remetem para o problema da natureza dos juízos de valor – no entanto, vamos apenas forcar-nos nos juízos que têm conteúdo moral (juízos morais) – naqueles que visam orientar as práticas do indivíduo num contexto social em função do que é ou não é aceitável. Uma das questões que importa esclarecer quanto aos juízos morais é a de saber… Existem ou não verdades morais? • O que declaramos nestes juízos traduz uma verdade ou é apenas a expressão de um estado emocional (subjetivo)?
  • 47.
  • 48. TEORIAS AXIOLÓGICAS Aceitando que há valor de verdade nos juízos morais, isto é, que eles podem ser verdadeiros ou falsos é necessário determinar se a sua verdade é relativa e, nesse caso, depende do sujeito e das sociedades que os enunciam, ou se é objetiva, porque racionalmente justificada. Subjetivismo Axiológico/ Moral Relativismo Axiológico/ Moral Objetivismo Axiológico/ Moral
  • 50. Subjetivismo Axiológico A verdade é meramente subjetiva – depende exclusivamente do modo como cada pessoa compreende ou sente o mundo. No que respeito aos valores e práticas morais, ninguém está objetivamente certo ou errado. Cada um de nós responde às questões morais de acordo com o seu código moral – depende somente de cada um de nós. Neste sentido, é moralmente incorreto que alguém – outro indivíduo ou sociedade – tente impor as suas conceções morais porque ninguém possui a verdade absoluta sobre estas questões. Não há princípios e normas morais, a não ser os que cada indivíduo escolhe para si mesmo.
  • 51. Subjetivismo Axiológico • Para o subjetivismo, os juízos de valor são subjetivos, pelo que os factos morais não são elementos da realidade externa, mas estados psicológicos (crenças, convicções, preferências) dos sujeitos que os formulam. Os juízos morais declaram pontos de vista pessoais, que são verdadeiros ou falsos apenas para quem os enuncia. É em função das experiências internas de agrado ou desagrado que o sujeito expressa, num juízo de valor, a sua opinião acerca das situações com que se depara. As verdades morais são, pois, APENAS relativas ao indivíduo. Não existem verdades universais/absolutos que guiem a nossa ação. Exemplo: O juízo “é errado matar animais” pode ser verdadeiro ou falso, consoante as conceções pessoais de quem o enuncia. Para o subjetivismo não existe um conceito universal de Bem ou de Mal, mas tantos quantos indivíduos. Se assim é, uma opinião vale o mesmo que a sua contrária. E, por isso, devemos respeitar a opinião do outro seja ela qual for, aceitável ou inaceitável para nós.
  • 52. A pena de morte devia ser abolida. Afinal, para mim, o mais importante é a vida. Não concordo nada. Para mim, ainda mais importante é a justiça. • Segundo o subjetivismo axiológico, não existem valores aceites universalmente – na ética não existem verdades absolutas. O subjetivismo possibilita que cada sujeito expresse a sua opinião com total liberdade – reforçando a ideia de liberdade de expressão. Como tal, um dos aspetos positivos na perspetiva do subjetivismo é o facto de promover a tolerância entre as pessoas com convicções morais diferentes, pois não há nenhuma verdade certa e, por isso, todos temos a possibilidade de defender juízos morais distintos uns dos outros.
  • 53. Subjetivismo Axiológico • As verdadeiras morais são relativas ao indivíduo. Se para o subjetivismo não existe um conceito universal de bem ou de mal – se uma opinião vale o mesmo que a sua contrária – então, esta perspetiva subjetivista assenta que todos discordamos sobre os mesmos valores – visto que cada um entende de forma pessoal os valores com base nas suas experiências passadas, educação recebida e no contexto histórico-temporal. Este é o argumento discordância apresentado pelos subjetivistas. Mas será mesmo assim? Nunca concordamos com os mesmos juízos morais? Como se resolvem os conflitos que decorrem da divergência de posições ao nível dos juízos morais?
  • 55. I. Impede a censura de ações claramente erradas Há comportamentos que consideramos errados, de forma intuitiva e independentemente de quaisquer perspetivas teóricas, como por exemplo o assassínio e a pedofilia. Contudo, se o subjetivismo fosse verdadeiro não teríamos fundamento para criticar tais comportamentos, pois os assassinos e os pedófilos poderiam invocar os seus sentimentos e dizer, por exemplo, «Na minha opinião, o que faço é correto e, como a ética é subjetiva, a opinião de quem me critica não é melhor». Porém, uma teoria que não permite criticar o assassínio e a pedofilia é implausível, já que os assassinos e os pedófilos prejudicam outras pessoas e, portanto, há boas razões para censurá-los. «O racismo fornece-nos um bom teste para as perspetivas éticas. O subjetivismo é insatisfatório neste ponto dado afirmar fazer sofrer pessoas de outras raças é um bem desde que eu goste o fazer. Depois, o subjetivismo implica que Hitler disse a verdade quando afirmou “O assassínio dos judeus é um bem” (visto que este enunciado apenas significa que Hitler gostava de matar judeus). O subjetivismo tem implicações inaceitáveis sobre o racismo.»
  • 56. I. Impede a censura de ações claramente erradas Considere-se o seguinte juízo: «Roubar é errado». Ora, segundo a perspetiva subjetivista, não é possível afirmar que o juízo é verdadeiro ou falso, porque ele pode, simultaneamente, ser moralmente aceitável para uma pessoa e intolerável para outra. No entanto, «roubar» não nos parece correto. - Roubar implica pôr em causa a segurança e o bem estar do indivíduo; Em suma, se a atribuição de valor de verdade dependesse apenas das preferências pessoais, não teríamos boas razões para considerar a ação de roubar errada. E para além disso, parece-nos evidente que, afinal, sobre alguns valores como a «segurança» existe consenso e concordância entre todos – por isso, não é verdade que discordemos sempre acerca de todos os valores. Parece existir consenso e alguma objetividade quando assumimos que roubar é errado (valor universal).
  • 57. II. Não explica a existência de desacordos morais e esvazia de sentido os debates Se o subjetivismo fosse uma teoria correta, as pessoas que debatem problemas morais, como a eutanásia ou o aborto, estariam a fazer algo insensato e até absurdo (quando um assunto é subjetivo, como por exemplo as preferências relativas a gelados, as pessoas geralmente não o discutem). Mas, se é certamente falso que debater temas morais é insensato e absurdo, o subjetivismo não é uma teoria correta. Uma consequência desta objeção é que uma vez que lidar com as diferenças culturais envolve fazer debates interculturais então é duvidoso que o subjetivismo seja uma resposta adequada aos desafios do multiculturalismo.
  • 58. II. Não explica a existência de desacordos morais e esvazia de sentido os debates O subjetivismo, ao defender que a veracidade ou falsidade dos juízos de valor depende da opinião de cada sujeito, tira todo o sentido ao debate/diálogo racional sobre questões morais, éticas e sociopolíticos de forma a superar possíveis conflitos sociais. Por isso é necessário o reconhecimento por todos da existência de valores essenciais e universais que permitam regular ou orientar a ação humana. Sem a existência de valores morais absolutos e objetivo torna-se impossível progredir na humanidade – distinguir atos moralmente inaceitáveis de atos louváveis – e, por isso reconhecer a existência de valores universais (desejados por todos) tais como a vida, segurança, paz, justiça, entre outros. Caso, se continue a acreditar que todos os valores têm a mesma importância e que variam é de pessoa para pessoa, então os debates sobre a Eutanásia, os Refugiados, a Igualdade de Género deixariam de fazer todo o sentido.
  • 59. O subjetivismo, ao defender que a veracidade ou falsidade dos juízos de valor depende da opinião de cada sujeito, tira todo o sentido ao debate/diálogo racional sobre questões morais, éticas e sociopolíticos de forma a superar possíveis conflitos sociais. Por isso é necessário o reconhecimento por todos da existência de valores essenciais e universais que permitam regular ou orientar a ação humana. Sem a existência de valores morais absolutos e objetivo torna-se impossível progredir na humanidade – distinguir atos moralmente inaceitáveis de atos louváveis – e, por isso reconhecer a existência de valores universais (desejados por todos) tais como a vida, segurança, paz, justiça, entre outros. Caso, se continue a acreditar que todos os valores têm a mesma importância e que variam é de pessoa para pessoa, então os debates sobre a Eutanásia, os Refugiados, a Igualdade de Género deixariam de fazer todo o sentido.
  • 60. Objeções/ críticas ao Subjetivismo CONFLITO DE VALORES Se de acordo com esta perspetiva, o certo e o errado são, legitimamente, criados por um sujeito a partir das suas preferências, então, numa situação em que estejam em conflito duas conceções de valor gera-se um impasse inultrapassável. Haverá alguma forma de o superar? Sempre que existe desacordo em relação a factos, numa situação de conflito de valores, para os subjetivistas não é possível encontrar critérios objetivos que reponham a verdade de uma das posições. Vejamos o seguinte exemplo.
  • 61. Exemplo: imagine-se que alguém propõe que apenas os alunos com médias baixas podem frequentar aulas de preparação para exame. Ora, assumindo que estas aulas são um benefício, o conflito de valores surge quando um aluno com médias baixas considera a medida justa e um outro, com médias altas, a considera injusta. Ora, um subjetivista dirá que não há forma de superar este conflito, pois cada um dos alunos defende a sua posição com base nos seus interesses. Porém, a resposta não pode ser tão linear. Efetivamente, conseguimos compreender que esta medida implica um conjunto de critérios objetivos que nos permitem analisar a medida e decidir acerca da sua justiça ou injustiça. Por exemplo, se os alunos com médias baixas tiverem menos hábitos de estudo do que os que têm médias altas, faz sentido criar-lhes condições extraordinárias (aulas de preparação para exame) para compensar essa limitação. Desta forma, a medida seria justa e o impasse entre as posições seria resolvido. Simultaneamente, rejeitar-se-ia o argumento de que é impossível, do ponto de vista subjetivista, resolver conflitos de valores.
  • 62. Todas as pessoas que não sejam da raça ariana devem ser mortas. Bem… sé é a opinião dele, só podemos aceitar a sua opinião… • O subjetivismo, ao defender que a veracidade ou falsidade dos juízos de valor depende da opinião de cada sujeito, permite que qualquer juízo moral seja verdadeiro e permite que o caos social se possa instalar – se não existem valores absolutos, não existem leis, normas, regras que possam orientar o comportamento humano. • Neste sentido, o subjetivismo faz da ética um domínio completamente arbitrário (caótico). À luz desta teoria, nenhum ponto de vista, por muito monstruoso ou absurdo que seja, pode ser considerado realmente errado ou pelo menos pior do que outros pontos de vista alternativos. Parece fundamental existirem valores absolutos/objetivos de forma a superar estas situações.
  • 63. Exercícios de Aplicação 1. O que se entende por subjetivismo moral? 2. O subjetivismo moral afirma que nenhuma perspetiva moral é mais verdadeira ou melhor do que outra. Tente formar um contra argumento. 3. O subjetivismo moral torna impossível uma genuína discussão de questões morais. Está de acordo? Justifique a sua posição.