Este documento discute os valores, definindo-os como entidades virtuais atribuídas às coisas por um sujeito. Explora como os valores se caracterizam através de hierarquia e polaridade e distingue juízos de facto e juízos de valor. Finalmente, debate se os valores são históricos ou perenes e objetivos ou subjetivos.
1. 10.º Ano Filosofia10º Ano FILOSOFIA –Ficha Formativa nº8
Tema: Os Valores
O que são?
Os valores definem-se como sendo entidades virtuais; não existem na realidade, não são propriedade dos objectos, são
atribuídos às coisas, pessoas e situações por um sujeito. Valor implica sempre uma relação de um sujeito com um objecto,
pessoa ou situação ao qual este atribui um determinado valor.
Também se apresentam como entidades ideais que representam a perfeição e o seu oposto. Na perseguição de valores, o
Homem vai-se aperfeiçoando.
Como se caracterizam?
As características fundamentais dos valores são a hierarquia e a polaridade. Primeiro, os valores apresentam-se sempre
numa escala que vai do menos para o mais. A esta ordenação qualitativa dos valores dá-se o nome de hierarquização e varia de
pessoa para pessoa; cada um tem a sua escala de valores que vai influenciar as suas escolhas.
Por outro lado, os valores aparecem sempre com uma dupla face: positiva e negativa. A um pólo positivo (por exemplo: bonito)
opõe-se sempre um pólo negativo (no exemplo: feio).
Juízos de Facto e Juízos de Valor
Existem juízos de facto e juízos de valor. Pelos juízos de facto entendemos os que são descritivos ou de existência. Descrevem
e informam acerca da realidade concreta sem emitir preferências e apreciações. Podem ser facilmente considerados verdadeiros
ou falsos, conforme se adequam ou não à realidade, e podem ser objecto de verificação empírica. Isto é, em relação ao juízo: "A
árvore deu frutos.", que é um juízo de facto, eu posso olhar e verificar se é verdade ou não verdade.
Os juízos valorativos julgam factos e realidades em função de preferências axiológicas.Estes juízos não são verificáveis
empiricamente e não são, normalmente, alvo de consensos. Podem ser de apreciação moral, estética, religiosa, vital, de utilidade,
entre outros.
Valores e Acção Humana
Os valores são guias de acção, aquilo que “põe em movimento” os comportamentos, as condutas das pessoas. Na nossa vida
estamos sempre a fazer juízos de valor e a guiarmo-nos por eles. Eles orientam a vida e marcam a personalidade; uma pessoa
define-se, diz quem é, em função dos valores que tem.
Os valores orientam as nossas preferências; eu prefiro isto ou aquilo em função dos valores que tenho. Por exemplo, se a
igualdade de direitos é um valor importante para mim, eu vou optar por não discriminar as pessoas pela sua raça.
Por causa dos valores as coisas apresentam-se-me de forma diferenciada. Ou seja, o mundo não é todo igual para mim, há coisas
de que eu gosto e coisas de que eu não gosto; há coisas que eu admiro e coisas que não; há coisas que eu respeito e outras que
não respeito. É em função deste colorido que os valores conferem ao mundo, que o Homem escolhe e age.
Assim, é o valor que confere sentido à vida, serve para a nossa orientação pessoal.
Serão os valores históricos ou perenes?
Em relação à axiologia, teoria dos valores, podemos observar a tese da subjectividade, que se opõe à da objectividade dos
valores e a da historicidade, que se opõe à perenidade dos valores.
A tese da perenidade defende que o valor não depende da época histórica. A perenidade é do valor e não dos objectos em que
ele se manifesta. Por exemplo, a honestidade e amizade sempre foram considerados valores ao longo do tempo, as suas
manifestações, exemplos e realizações é que podem sofrer alterações.
A tese da historicidade defende que os valores mudam conforme a época histórica. Isto está ligado a uma ideia de relativismo
axiológico que defende que o que é ou não valor é completamente relativo. Tudo muda e os valores também!
Como conciliar historicidade e perenidade dos valores?
Podemos afirmar, como tese intermédia, que apesar dos valores sofrerem obviamente uma influência do tempo, até
surgem novos valores, há algo de perene nos valores; amizade será sempre um valor importante, embora o seu
conceito sofra inevitavelmente alterações.
Serão os valores objectivos ou subjectivos?
As teses da subjectividade ou objectividade diferem porque uma defende que se gosta das coisas porque elas têm
valor, o valor existe como algo de absoluto,independentemente das coisas e dos homens, que apenas os descobrem,
enquanto a outra afirma que as coisas assumem valor porque um sujeito gosta delas; assim o valor é sempre uma criação do
Homem, sendo dependente da apreciação do sujeito. Está presente no ditado popular: "Quem feio ama, bonito lhe parece."
2. Como conciliar subjectividade e objectividade dos valores?
A tese que concilia as duas posições defende que os valores não existem independentemente das coisas, eles apenas valem, não
têm existência independente. Mas são propriedade real das coisas que despertam os valores. No entanto, as coisas só são
valiosas potencialmente, apenas adquirem realmente valor quando entram em interacção com o Homem. Só nesta relação é que
os valores fazem sentido.
Haverá, hoje, uma crise de valores?
Finalmente, hoje em dia fala-se muito da crise de valores e da emergência de novas polarizações.
Vivemos uma época de grandes mudanças a todos os níveis. Por esse motivo, há também a emergência de novas polarizações
de valores. Assim, numa fase de revisão daquilo que era considerado valor, a que muitos autores chamam Época de Crise,
porque há questionamento, alterações drásticas, há enormes mudanças, e na mudança há sempre algo de instabilidade, o que é
normal e salutar (crise em grego significa questionamento e decisão; não é um termo negativo). Surge a consciência de que
aspectos que não faziam parte das nossas preocupações passam a fazer. Deste modo, não há apenas diferenças na hierarquia
dos valores clássicos, mas há mesmo valores que não existiam e passam a existir. Estamos a referir-nos, por exemplo, à
ecologia. Se o planeta não estava em risco é óbvio que as pessoas não andavam preocupadas com o assumir deste valor. Hoje,
os riscos inerentes à tomada de atitudes pouco correctas são tais que há a necessidade de sensibilizar todo o mundo para esta
questão. Assim, a ecologia apresenta-se como um valor contemporâneo.
Alguns exemplos de conflitos de valores na sociedade contemporânea:
Defende-se o progresso industrial ou o ambiente?
Defende-se o ideal internacionalista ou o nacionalismo (patriotismo)’
Defende-se o valor da vida humana ou a interrupção voluntária da gravidez?
Como entender as sociedades descrentes e a proliferação de seitas religiosas?
União dos países ou diferença entre os países?
Progresso da Ciência e Técnica ou a fuga para sociedades paradisiacas (Caraíbas, Ilhas Fidgi, Cuba)?
Virgindade ou sexo antes do casamento?
Reflexões finais:
Poderemos interrogar se a denominada Crise de Valores é negativa e a resposta será NÃO. E porquê? A alteração de
valores reflecte uma transformação social e cultural pois iniciam-se novos valores e novas orientações. Nenhum valor
em crise leva a um vazio pois é superado por um novo valor.
Todo o valor é dialéctico – se se recusa um valor, afirma-se outro!
...e um texto
“Em verdade, os homens deram a si próprios todo o bem e todo o mal. Em verdade, eles não o encontraram, não lhes
caiu como uma voz do céu.
Foi o Homem que deu às coisas o seu valor, a fim de se pôr em segurança; foi ele que lhes deu um sentido, um sentido
humano. Por isso, ele é chamado homem – o medidor das coisas.
Avaliar é criar – escutai, ó criadores! São as vossas avaliações que transformam as coisas avaliadas em tesouros e em
jóias.
Avaliar é criar valores: sem tal avaliação, a existência seria uma noz oca.”
F. Nietzsche, Assim falou Zaratustra.
Rosa Sousa