1. Filosofia 10ºano
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Explicação: Quando um vulcão entra em erupção, dá-se um
acontecimento que não poderia deixar de ocorrer sem violar
as leis da Natureza e sem ter origem nos acontecimentos
que o antecederam (causas).
Como compatibilizar a crença de que todos os acontecimentos,
incluindo as ações, são causalmente determinados, segundo as
leis da natureza, com a crença de que o Homem é livre e
responsável pelas ações?
Determinismo e liberdade na ação humana
O que é o Determinismo?
O Determinismo é a tese de que todos os acontecimentos estão causalmente determinados
pelos acontecimentos anteriores e pelas leis da Natureza;
Estas afirmações são feitas pela ciência (a ciência afirma que todos os acontecimentos do universo
estão determinados). Se as aplicarmos às ações obtemos o seguinte acontecimento:
Todos os acontecimentos estão determinados.
As ações são acontecimentos.
Logo as ações estão determinadas.
Este argumento levanta perplexidades porque afirmar que as nossas ações estão determinadas
parece tornar a liberdade impossível. Significa isso que a impressão de que somos livres é ilusória?
Problema do Livre-Arbítrio
Este problema levanta algumas questões:
Poderemos ser realmente livres num universo determinista?
Ou será que temos de aceitar que a liberdade é uma ilusão porque tudo está determinado?
E se o Universo não estiver inteiramente determinado?
O problema do livre-arbítrio consiste em tentar compatibilizar o determinismo que encontramos na
Natureza com a perspetiva de senso comum que temos de nós mesmos.
O livre-arbítrio é a capacidade para decidir (arbitrar) em liberdade.
Um conjunto de estados de coisas é incompatível quando os estados de coisas do conjunto
não podem ocorrer simultaneamente.
Um conjunto de estados de coisas é compatível quando todos os estados de coisas do
conjunto podem ocorrer simultaneamente.
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Quando dois estados de coisas são incompatíveis as proposições que os descrevem são
inconsistentes , e vice-versa. Quando são compatíveis, as proposições que os descrevem são
consistentes, e vice-versa.
As teorias que respondem ao problema do livre-arbítrio dividem-se em dois grupos:
Teorias incompatibilistas e teorias compatibilistas.
As teorias incompatibilistas defendem que o livre-arbítrio não é compatível com o
determinismo.
As teorias compatibilistas defendem que o livre-arbítrio é compatível com o determinismo.
Há dois tipos de teorias incompatibilistas:
- O determinismo radical e o libertismo.
Determinismo Radical – Defende que não temos livre-arbítrio e que o universo é
determinista.
Libertismo – Defende que temos livre-arbítrio e que só o universo físico é determinista: a
vontade e a consciência não são determinadas pelas cadeias causais do universo físico.
Teorias Há livre-arbítrio? Tudo está
determinado?
Incompatibilismo Determinismo
Radical
Não Sim
Libertismo Sim Não
Compatibilismo (determinismo moderado) Sim Sim
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Determinismo Radical
Não temos livre-arbítrio e todos os acontecimentos estão determinados. O livre-arbítrio é
incompatível com um mundo regido por leis. A liberdade é uma ilusão.
O que distingue o determinismo radical do libertismo? Ao passo que o determinismo defende que
há livre-arbítrio, o determinista radical defende que não há livre arbítrio.
O Determinismo Radical é a teoria segundo a qual não temos livre-arbítrio e todos os
acontecimentos estão determinados.
Argumentos dos deterministas radicais:
Premissa 1: Se o determinismo é verdadeiro, não há livre-arbítrio.
Premissa 2: O determinismo é verdadeiro.
Conclusão: Logo, não há livre-arbítrio.
Defesa da premissa 1: O determinista argumenta que ter livre arbítrio implica poder agir de maneira
diferente, partindo exatamente da mesma situação.(Exemplo: A Ana decidiu dar um chuto numa bola.)
Há um conjunto de cadeias causais que conduzem a essa decisão. O determinista argumenta que o livre-
arbítrio implica a possibilidade de a Ana decidir ou não dar um chuto na bola, apesar de o conjunto de
cadeias causais ser exatamente o mesmo. Mas isso é precisamente a negação do determinismo; o
determinismo é a ideia que, dada uma certa cadeia causal, o seu efeito não pode ser diferente do que é.
Logo, se o determinismo é verdadeiro, não há livre-arbítrio.
Defesa da premissa 2: O determinista argumenta que sem o pressuposto do determinismo não é
possível compreender o mundo. A biologia, a física e a química, por exemplo, são disciplinas centrais sem
as quais é impossível compreender adequadamente o mundo. Mas em todas estas disciplinas se
pressupõe o determinismo: dadas as mesmas causas, seguem-se os mesmos efeitos. Até no dia a dia nós
pressupomos o determinismo: quando damos um chuto numa bola não nos surpreende que a bola se
desloque; quando riscamos um fósforo não nos surpreende que acenda. Em todos estes casos, estamos a
pressupor que, perante causas idênticas seguem-se efeitos idênticos. Quando riscamos um fósforo e este
não acende, procuramos imediatamente a causa adicional que explica esta situação: talvez o fósforo
esteja molhado, por exemplo.
Assim, o determinista está obrigado a defender que o livre-arbítrio é uma ilusão. Mas por que razão
temos essa ilusão?
Estar causalmente determinado não é como ser obrigado a fazer uma coisa que não se quer nem se
decidiu. Estar causalmente determinado é não poder decidir nem poder querer outra coisa além do que
efetivamente decidimos e queremos. Por isso, parece-nos que somos livres, desde que ninguém nos
impeça de fazer o que decidimos e queremos. (A água poderia dizer a si mesma que tem a liberdade de
“fazer” várias coisas – e pode, desde que estejam reunidas as causas apropriadas). O mesmo acontece
com os seres humanos: temos a falsa sensação de que somos livres, porque escolhemos fazer uma coisa
em vez de outra, desconhecendo as causas que determinam as nossas ações. Mas escolhemos o que
escolhemos em função das cadeias causais que antecedem o momento da decisão. Sentimos que agimos
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livremente quando agimos em função do que escolhemos. Mas o que escolhemos resulta de cadeias
causais que não podemos controlar. Logo, o livre arbítrio é apenas uma ilusão.
Duas críticas ao Determinismo Radical:
Se o determinismo radical tiver razão, não temos livre-arbítrio.
Se não tivermos livre-arbítrio, não poderemos ser moralmente responsáveis.
Se não formos moralmente responsáveis, não podemos ser castigados.
É absurdo defender que não podemos ser castigados.
Logo, o determinismo radical é falso.
As críticas defendem que o determinismo e falso porque a responsabilidade moral não pode existir
sem a liberdade e, por isso, não podemos ser castigados, o que é absurdo.
A objeção da responsabilidade moral
A experiência de que somos livres é muito forte;
Esta crença faz parte do próprio processo de agir;
Quando agimos não podemos deixar de sentir que somos livres;
Uma pessoa só é moralmente responsável pelas suas ações se estas estão sobre o controlo do seu
livre-arbítrio.
Parece haver uma conexão entre a responsabilidade moral e a nossa liberdade. Aparentemente, se
não formos livres, não podemos ser moralmente responsáveis pelo que fazemos. E se não formos
responsáveis pelo que fazemos, os tribunais e prisões não fazem sentido.
Libertismo
Temos livre-arbítrio e nem todos os acontecimentos estão determinados. As nossas ações não são
causalmente determinadas, resultam das nossas deliberações.
O Libertismo é a teoria segundo a qual temos livre-arbítrio e nem todos os acontecimentos estão
determinados.
Argumentos dos libertistas:
Premissa 1: Se temos livre-arbítrio, o determinismo é falso.
Premissa 2: Temos livre-arbítrio.
Conclusão: Logo, o determinismo é falso.
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O argumento é válido, mas será sólido?
Defesa da premissa 1: O libertista defende que ter livre-arbítrio é não estar determinado a escolher
de uma certa maneira. Por exemplo, ter livre-arbítrio é estar perante uma encruzilhada e poder
escolher ir por um caminho ou por outro, sendo as causas anteriores exatamente iguais. Mas o
determinismo é a ideia de que, dada uma certa cadeia causal até ao momento presente, a minha
decisão está determinada. Posso ter uma sensação de que estou a escolher, mas não é realmente
uma escolha. Logo, o livre-arbítrio implica a falsidade do determinismo. (Não estamos determinados
a escolher de uma certa maneira. Escolhemos praticar uma ação mas podíamos ter escolhido e agido
de forma diferente, por isso o determinismo é falso.)
Defesa da premissa 2: O libertista argumenta que não podemos evitar vermo-nos como seres
dotados de livre-arbítrio. No próprio ato de tomar uma decisão, exercemos o livre-arbítrio.
Não é possível aceitar realmente que as nossas decisões estão todas determinadas por
acontecimentos anteriores. (Não e possível aceitar que as nossas decisões estão todass
determinadas por acontecimentos anteriores. Se decidimos é porque temos livre-arbítrio. O
determinismo radical diz o contrário, logo é falso.)
O libertista defende que as nossas escolher e ações só são verdadeiramente livres se
pudéssemos ter escolhido ou agido de modo diferente.
Críticas ao Libertismo:
O determinismo diz que as deliberações do agente, tal como as suas crenças e desejos são
determinadas por acontecimentos anteriores. Mas o libertista não pode aceitar isso, pois
defende que o livre-arbítrio é incompatível com o determinismo.
O problema dos libertistas é, então, explicar como é que um ato é realmente livre sem ser
determinado por acontecimentos anteriores mas que também não é “aleatório”, quer dizer,
ao acaso.
De acordo com os libertistas uma escolha ou ação só é verdadeiramente livre se
desencadear uma nova cadeia causal de acontecimentos. Ora, se o mundo for
determinista, a escolha da Diana escolher o caminho 1 em vez do 2 ou do 3 não
desencadearia uma nova cadeia causal, seria apenas mais um elo de uma longa cadeia
causal de acontecimentos. E nesse caso, a escolha da Diana não resultaria das suas
deliberações, não estaria sob o seu controlo, pois seria o resultado de acontecimentos
anteriores ao seu nascimento.
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O compatibilismo defende que desde que não sejamos obrigados ou forçados a escolher algo, e
desde que a nossa personalidade seja formada de maneira natural, a nossa escolha é livre.
Posição Compatibilista (Determinismo Moderado)
O determinismo pode coexistir com o livre-arbítrio. Quer o livre-arbítrio, quer o
determinismo são verdadeiros. O mundo é regido por relações causais, mas mesmo assim
somos livres quando fazemos o que queremos fazer.
O compatibilista defende que somos livres quando o que escolhemos e o modo como
agimos resulta causalmente do que queremos, e o que queremos não resulta de qualquer
coação, doença ou controlo artificial.
Compatibilismo
O compatibilismo é a tese de que o determinismo pode coexistir com o livre-arbítrio.
Nem todas as causas são impedimentos à liberdade. É um erro pensar que as ações não são
livres simplesmente porque são causadas. As causas que nos levam a fazer o que queremos
potenciam a nossa liberdade, enquanto que outras (constrangimentos, por exemplo)
impedem a nossa liberdade.
As nossas ações livres são causadas pela nossa personalidade, inclinações e desejos ainda
que estes estejam determinados por acontecimentos anteriores. Se as ações não fossem
causadas pelo nosso caráter e pelos nossos motivos, não poderíamos ser responsabilizados
pelas nossas ações. Não seriam as “nossas” ações.
Críticas ao compatibilismo:
Os compatibilistas argumentam que somos livres se agirmos sem constrangimentos ou
obstáculos, internos ou externos, que nos impeçam de fazer o que desejamos. Mas, se
aquilo que desejamos fazer se encontra determinado por acontecimentos anteriores
(determinismo) então as nossas ações estão constrangidas por acontecimentos anteriores.
Não temos é consciência de que estamos a ser constrangidos.
O compatibilismo não explica porque é que ser constrangido por acontecimentos anteriores
é um ato livre e ser constrangido por alguém já não é um ato livre.
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Indeterminismo
Defende que as ações são aleatórias e imprevisiveis pois não são regidas por leis
deterministas. Logo, temos algum livre-arbitrio.
Segundo o Indeterminismo, a ação humana não está submetida a leis deterministicas, mas á
indeterminação e à imprevisibilidade. Deste modo, as nossas ações podem ser criativas e,
assim, podemos defender que temos livre-arbitrio, dado que a nossa vontade tem poder
para começar espontaneamente uma série de coisas ou estados sucessivos.
Criticas/Objeções ao Indeterminismo
Há causalidade, mas não absoluta, pois o corpo humano está sujeito a leis do
universo, ainda que fora do campo do nosso conhecimento.
Como vimos, não há, sobre o problema do livre-arbítrio uma teoria consensual. Há filósofos que
acham que nenhuma destas teorias é plausível. É o caso dos filósofos Searle e Nagel que consideram
que não há boas razões para negar o determinismo que encontramos na Natureza pois sem ele as
ciências da natureza seriam impossíveis. Por outro lado, não podemos negar o livre-arbítrio, como
faz o Determinismo Radical porque a experiência da liberdade faz parte da experiência de agir.
O compatibilismo não implica de forma plausível a diferença entre ser constrangido e ser
causado a agir de determinada maneira.
Conceitos:
Determinismo: Tese de que todos os acontecimentos estão causalmente determinados
pelos acontecimentos anteriores e pelas leis da natureza.
Livre-arbítrio: Capacidade para decidir (arbitrar) em liberdade.
Fatalismo: Tese de que alguns acontecimentos são inevitáveis, independentemente do que
possamos decidir ou fazer.
Compatibilismo: No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que o
determinismo e o livre-arbítrio podem coexistir.
Incompatibilismo: No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que o
determinismo e o livre-arbítrio não podem coexistir. O libertismo e o determinismo radical
são duas dessas teorias.
O problema do livre-arbítrio – um problema em aberto
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Libertismo: No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que não há
determinismo porque temos livre-arbítrio.
Determinismo Radical: No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que não
temos livre-arbítrio, porque tudo está determinado.
Valores e valoração: a questão dos critérios
valorativos
Juízos de Valor e Juízos de Facto
Juízos de Facto Juízos de Valor
Exemplos
O João tem um metro e noventa;
A pena de morte existe nos estados unidos;
O João é boa pessoa;
A pena de morte é
injusta;
Características
São descritivos;
Têm valor de verdade (V ou F);
A sua verdade ou falsidade depende da prespectiva
do sujeito;
A direção de adequação é de realidade para o juízo;
A sua verdade ou falsidade é objetiva;
São normativos;
Não é certo que tenham
valor de verdade;
Se tiverem valor de
verdade pode ser que
este dependa da
prespetiva do sujeito
A direção de adequação é
do juízo para a realidade;
Juízos de facto: Quando pretendemos descrever alguma coisa.
Juízos de valor: Quando avaliamos positiva ou negativamente alguma coisa.
Extra: Os juízos de valor não se limitam a fornecer informação sobre as coisas. Não são meramente
descritivos, pois expressam uma avaliação de certos aspetos da realidade. Muitas vezes a sua função
é influenciar o comportamento dos outros e mostrar-lhes como devem olhar para a realidade. Por
isso, pelo menos em parte, são normativos.
Quando alguém nos diz que o João é boa pessoa sugere que devemos olhar para o João de
determinada maneira, que devemos confiar nele. O que se deseja neste tipo de juízos é que a
realidade se adeque ao juízo: a direção de adequação é do juízo para a realidade.