4. De onde vem o desgosto pela vida que
se apodera de alguns indivíduos sem
motivos plausíveis?
943 - LE
5. Efeito da ociosidade, da falta de
fé e geralmente da saciedade. Para
aqueles que exercem as suas
faculdades com um fim útil e
segundo as suas aptidões naturais,
o trabalho nada tem de árido e a
vida se escoa mais rapidamente;
suportam as suas vicissitudes com
tanto mais paciência e resignação
quanto mais agem tendo em vista a
felicidade mais sólida e mais durável
que os espera.
6. O homem tem o direito de dispor da
sua própria vida?
944 - LE
7. — Não; somente
Deus tem esse direito.
O suicídio voluntário é
uma transgressão
dessa lei.
8. O que pensar do suicídio que tem
por causa o desgosto da vida?
945 - LE
10. 14 – A calma e a resignação
adquiridas na maneira de encarar
a vida terrena, e a fé no futuro,
dão ao Espírito uma serenidade
que é o melhor preservativo da
loucura e do suicídio.
11. Que pensar do suicida que tem por fim
escapar às misérias e às decepções deste
mundo?
946- LE
12. — Pobres Espíritos que
não tiveram a coragem
de suportar as
misérias da existência!
Deus ajuda aos que
sofrem e não aos que
não têm força nem
coragem.
13. As tribulações da vida
são provas ou
expiações. Felizes os
que as suportam sem
se queixar, porque
serão recompensados!
14. Infelizes, ao contrário, os que
esperam uma saída nisso que, na
sua impiedade, chamam de sorte
ou acaso!
A sorte ou acaso, para me servir
de sua linguagem, podem de
fato favorecê-los por um
instante, mas somente para lhes
fazer sentir mais tarde, e de
maneira mais cruel, o vazio de
suas palavras.
16. Com efeito, a maior parte dos
casos de loucura são provocados
pelas vicissitudes que o homem
não tem forças de suportar. Se,
portanto, graças à maneira por
que o Espiritismo o faz encarar as
coisas mundanas,
17. e até mesmo com alegria, os
revezes e as decepções que em
outras circunstâncias o levariam
ao desespero, é evidente que essa
força, que o eleva acima dos
acontecimentos, preserva a sua
razão dos abalos que o poderiam
perturbar.
19. 15 – O mesmo se dá com o suicídio.
Se excetuarmos os que se verificam
por força da embriaguez e da
loucura, e que podemos chamar de
inconscientes, é certo que, sejam
quais forem os motivos particulares,
a causa geral é sempre o
descontentamento.
20. Ora, aquele que está certo de ser
infeliz apenas um dia, e de se
encontrar melhor nos dias seguintes,
facilmente adquire paciência. Ele só
se desespera se não ver um termo
para os seus sofrimentos. E o que é a
vida humana, em relação à
eternidade, senão bem menos que
um dia?
21. Mas aquele que não crê na
eternidade, que pensa tudo acabar
com a vida, que se deixa abater pelo
desgosto e o infortúnio, só vê na
morte o fim dos seus pesares. Nada
esperando, acha muito natural,
muito lógico mesmo, abreviar as suas
misérias pelo suicídio.
29. “Sabeis por que, às vezes, uma vaga
tristeza se apodera dos vossos
corações e vos leva a considerar
amarga a vida?”
“A melancolia”, publicada por Allan Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo, no
item 25 de seu capítulo quinto.
30. O Espírito François de Genéve em síntese,
caracteriza a melancolia como um sentimento
de tristeza que se apodera do coração levando
o indivíduo a identificar a vida com amargor.
Em se demorando nessa postura sombria,
pode-se cair na apatia, lassidão e profundo
abatimento sob o domínio da alma triste.
Nessa condição, julgamo-nos por demais
infelizes.
“A melancolia”, publicada por Allan Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo, no
item 25 de seu capítulo quinto.
31. 16 – A incredulidade, a
simples dúvida quanto ao futuro,
as ideias materialistas, em uma
palavra, são os maiores
incentivadores do suicídio: elas
produzem a frouxidão
moral.
32. Quando vemos, pois, homens de
ciência, que se apoiam na
autoridade do seu saber,
esforçarem-se para provar aos seus
ouvintes ou aos seus leitores, que
eles nada têm a esperar depois da
morte, não o vemos tentando
convencê-los de que, se são
infelizes, o melhor que podem fazer
é matar-se?
33. Que poderiam dizer para afastá-los
dessa ideia? Que compensação
poderão oferecer-lhes? Que esperanças
poderão propor-lhes? Nada além do
nada! De onde é forçoso concluir que,
se o nada é o único remédio heroico, a
única perspectiva possível, mais vale
atirar-se logo a ele, do que deixar para
mais tarde, aumentando assim o
sofrimento.
35. No século passado, ao
se dedicar a entender a
solidão e a ansiedade do
homem moderno, o
psicólogo americano
Rollo May
apontou o vazio
existencial como um dos
problemas
fundamentais da época.
36. Ao se referir à “gente vazia”, ele se
ocupa de reflexionar sobre as razões
psicossociais desse fenômeno em
uma sociedade como a nossa,
infelizmente pautada em valores
consumistas, onde muitas pessoas
são assoladas por aqueles conflitos
em razão do descuido para com a
própria subjetividade.
37. “O vácuo interior é o resultado
acumulado, a longo prazo, da
convicção pessoal de ser incapaz
de agir como uma entidade,
dirigir a própria vida, modificar a
atitude das pessoas em relação
a si mesmo, ou exercer
influência sobre o mundo que
nos rodeia”.
38. Destaca, ainda com muita propriedade,
firmada no cotidiano de sua práxis, que as
pessoas que sofrem desse vazio não
somente ignoram o que querem, como
também, o que sentem. O que equivale a
dizer que os vitimados pelo vazio
existencial em nossa sociedade
desconhecem a si mesmos,
experimentando, por consequência, uma
vida sem sentido forjada na direção
imposta pela coletividade.
43. A propagação das ideias
materialistas é, portanto, o
veneno que inocula em
muitos a ideia do suicídio, e
os que se fazem seus
apóstolos assumem uma
terrível responsabilidade.
44. Com o Espiritismo, a dúvida
não sendo mais permitida,
modifica-se a visão da vida. O
crente sabe que a vida se
prolonga indefinidamente
para além do túmulo, mas em
condições inteiramente
novas.
45. Daí a paciência e a
resignação, que muito
naturalmente afastam a
ideia do suicídio. Daí,
numa palavra,
a coragem moral.