SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 30
1


                                  Escócia - Parte I




        Uma voz doce como a de um pássaro se fazia ouvir por alguns
moradores da aldeia mais próxima, que ficava pouco abaixo da encosta onde
se localizava a sua casa.

        Quem podia ouvi-la, sorria de longe. Todos conheciam os encantos de
Annabel, e sua voz era um deles. Mulher educada, ela era gentil e sorria para
todos. Estava sempre pronta a ajudar quem necessitava.

        Nesse momento, seus delicados pés, presos a grosseiras tiras de
couro cru, passeavam na relva que circundavam sua casa. Seu corpo, apesar
de estar envolvido por tecidos grosseiros e pobres, tinha o aspecto bem
cuidado.

        Sua pele era macia e branca como o leite de cabra. Seu rosto era
envolto por anéis dourados de cabelos que desciam por seus ombros até o
meio de suas costas. Seus olhos brilhantes tinham a cor do mel e os lábios
rosados sorriam enquanto ela se abaixava e enchia a cesta de minúsculas
flores coloridas.

        Ian sempre gostava de chegar em casa e encontrá-la cheia de flores....
isso lembrava o quanto eles gostavam de se amar entre as flores.... depois ele
a encostava em seu peito.... e fazia uma coroa de pequeninas margaridas e
colocava em seus belos cabelos...... fazendo-a dar aquele sorriso que
iluminava tudo e a todos ao seu redor.

        Em seus pensamentos veio a imagem do seu esposo amado. Ian tinha
saído de casa há pouco mais de três meses para caçar com os homens da
aldeia. Todo ano era a mesma coisa. Seu esposo era líder da aldeia e cuidava
para que ninguém passasse fome ou frio no inverno rigoroso da Escócia do
século XVIII.
2

        Estavam casados há pouco mais de três anos, porém, cresceram
juntos e se casaram quando a idade, e os pais, assim permitiram.

        Sentindo um leve movimento ao se abaixar para pegar mais flores,
Annabel acaricia carinhosamente seu ventre onde uma vida pulsava ali dentro.
Quando Ian saiu para caçar, ela estava grávida e nem um deles sabia.

        Estava agora com seis meses e sentindo aquela vida crescer dentro de
si, só fazia querer ainda mais rápido o retorno de seu esposo amado. O sonho
de Ian era encher a casa de filhos. Ele dizia sorrindo que ouvir a algazarra das
crianças da aldeia faziam ele se sentir em casa. Annabel concordava e não via
a hora dele chegar e receber a notícia. Se fosse menina, ela gostaria que fosse
chamada de Ailie, em homenagem à sua avó materna. Se fosse menino, ela
gostaria que tivesse o nome do pai de Ian: Ewan – que foi um homem forte,
guerreiro e extremamente justo.
3




                                  Escócia - Parte II




       De repente seus pensamentos foram interrompidos por um tremor sob
seus pés e Annabel olhou para baixo em direção à aldeia. O sino tocou. Ela
ficou preocupada. Era o sinal de perigo combinado entre todos da aldeia!!

       Lembrando das recomendações de Ian, Annabel saiu correndo em
direção à casa, deixando cair pelo caminho a cesta com as flores que havia
acabado de colher.

       Assim que entrou em casa, Annabel puxou com certa dificuldade uma
pedra que ficava ao lado da cama e segurou algo pequeno envolto em um
tecido negro e colocou-o no bolso do seu vestido.

       Ela não soube precisar quanto tempo ficou ali, mas assim que se virou
para a porta, esta se abriu com um tremendo estrondo, fazendo-a arregalar os
olhos assustada.
4

        Quando seus olhos se cruzaram, Annabel sentiu um frio percorrer sua
espinha. O medo fez seu estômago embrulhar. Enquanto ele dava passos para
a frente olhando-a fixamente nos olhos, ela dava passos para trás, sentindo o
terror tomar conta de sua vida.

        Os olhos negros daquele homem percorreram Annabel da cabeça aos
pés. Por breves instantes ela chegou a sentir leve ternura neles, mas logo este
retomou a postura anterior e avançou para ela com uma raiva desconcertante.

        Annabel estendeu uma das mãos para a frente como para proteger-se
e procurou analisar o homem à sua frente. Suas roupas eram grosseiras,
porém, de quem estava acostumado a inúmeras batalhas. Calçava longas
botas e trazia uma capa negra por cima das roupas.

        Do lado esquerdo, uma espada. Á sua direita, um belo punhal dourado
cravejado com uma única pedra vermelha, um rubi. Seria belo, se não portasse
tanta frieza em suas feições tipicamente escocesas.

        - Annabel...... [sussurou ele]

        - Quem és tu? [pergunta ela assustada]

        - Não me reconheces Annabel? Há muito eu te procuro.... e agora não
a deixareis mais.

        - Não! Não te conheço! Sou uma mulher casada. O que queres de
mim? [ela falou com arrogância]

        Dando um passo para a frente, ele a segurou com uma das mãos pelo
pescoço, primeiramente com raiva, para em seguida afrouxar as mãos e
acariciá-la com ternura e desejo.

        - Eu quero você Annabel. Tu és minha!! Sempre foi e sempre será! E
Ian nunca mais a verá!

        Dito isto, ele inclinou a cabeça e chegou seus lábios perto dos lábios
de Annabel, que tremeu angustiada. Ele a fita nos olhos com uma frieza
5

impressionante e enquanto isso, a enlaçava pela cintura com certa rispidez,
fazendo Annabel soltar um grito rouco.

        - Quem és tu? Por que fazes isto? [pergunta ela]

        Soltando uma gargalhada insuportavelmente fria, ele responde:

        - Meu nome é Kyle!! [e virou-a brutalmente para a parede, de costas
para si].

        A partir de hoje, tu serás minha Annabel e de ninguém mais.

        -   Nãooooooooooooooooooooooooooooooooo            !!!!!!!!!!   [grita   ela
Desesperada].

        - Simmmmmmm Annabel!! Deixe-me mostrar como posso ser um
homem bom para ti! [e soltou outra gargalhada rouca, porém sinistra].
6




                                   Escócia – Parte III




         Sem se preocupar com os gritos da mulher, Kyle abriu sua calça com
uma mão enquanto com a outra, segura os braços de Annabel para cima. Logo
depois, a empurra de encontro à mesa, onde ela bate a barriga, fazendo-a
sentir uma pontada de dor.

         Ele levanta suas roupas, procura sua pele em meio a tantos tecidos e
quando sua mão toca a pele macia, solta um longo gemido, como se fosse um
animal no cio.

         Mesmo sentindo uma pontada de dor no pé da barriga, Annabel morde
os lábios e fica em silêncio quando sente Kyle a tocando intimamente com os
dedos.

         Ele a puxa pela cintura, arqueando o corpo dela de encontro à mesa e
levanta o restante das roupas de Annabel. Vendo-a nua, ela para por alguns
instantes saboreando aquela visão. Ele sempre a quis, mas ela escolheu Ian e
Kyle jurou vingança contra aqueles dois.

         Lágrimas quentes escorriam pelo rosto de Annabel quando ela sentiu o
membro de Kyle penetrando suas carnes. Ela queria gritar, mas sabia que não
faria diferença, ninguém a salvaria.

         Ela continuou sentindo mais e mais estocadas de Kyle dentro de si
enquanto palavras desconexas saíam da boca daquele homem. Enquanto ele
possuía seu corpo, ela sentia nojo do ato covarde e insano.
7

        Depois de saciar-se por longos minutos, Kyle a deita na mesa e abre
suas pernas. Annabel chuta o ar, mas Kyle segura suas pernas abertas. O
sexo de Annabel estava inchado. Seus pelos estavam úmidos.

        Aquilo excitou Kyle que começou a beijá-la, cheio de paixão. Sua boca
percorreu os seios dela e quando chegou aos bicos rosados, ele a mordeu co
força, fazendo-a gritar de dor.

        Ele não se importava com os gritos dela, só queria possuí-la! Sua boca
chegou até o sexo dela e sua língua passeou por todo o contorno de suas
carnes até penetrá-la, sentindo, satisfeito, o gosto dela misturado ao dele.

        Quando tocou o ponto máximo do prazer de toda mulher, ele segurou-o
entre os dentes e sugou-o até sentir Annabel parar de chutar. Não havia como
não sentir prazer com as manobras da boca daquele homem. Annabel se
esforçou tanto a ponto de chorar logo após o orgasmo violento que sentiu.

        O choro baixo de Annabel só chegou aos ouvidos de Kyle longo tempo
depois, após saciar sua fome animal. Annabel foi deixada na mesa, sem o
menor carinho. Ele se abaixa, sobe e prende as calças com um cordão à
cintura. Seu rosto fitou o dela, calado. Por um momento, ela podia jurar que
esse homem possuía sentimentos por ela.

        Seus pensamentos foram quebrados pela voz vibrante de Kyle,
enquanto ele estendia a mão para ela:

        - Vamos Annabel, levante-se !! Temos um longo caminho a percorrer.

        - Por favor [diz ela], deixe-me aqui. Você já fez tudo que queria. Não
quero ir com você !!

        - Tu não tens escolha, não tens que querer nada Annabel. Tu vais
comigo quer queira, ou não! Vamos !!! [grita a última palavra]

        Cambaleando, Annabel levanta-se, ajeita as roupas da melhor maneira
possível e se encaminha devagar para a porta.
8

       Quando chegou do lado de fora, notou que ele tinha invadido a aldeia
com muitos homens e todos tiram uma péssima cara. Seu corpo estava
tremendo.

       - Vá se lavar enquanto apronto o cavalo! [exige ele]




                                 Escócia – Parte IV




       Calada, Annabel se encaminha para o mar. Não se incomodava com
os rostos desconhecidos aguardando aquele homem fora de sua casa. Com
lágrimas escorrendo por seu rosto, ela entra no mar até a cintura e se lava
9

freneticamente como se a água salgada pudesse tirar todos os vestígios
daquele homem que possuíra seu corpo, mas que jamais possuiria o seu amor,
o seu espírito.

          Saindo do mar, ela vê Kyle se encaminhando para um belo cavalo
negro e em poucos segundos, tenta imaginar se existe outra saída para si.
Como se adivinhasse seus pensamentos, Kyle lhe enviou um sorriso irônico e
avisa:

          - Não tens para onde correr meu amor. Tu irás comigo até o fim!

          Dizendo isso, Kyle montou em seu cavalo e com um puxão brusco na
rédea, começou a galopar, pegando Annabel pelo caminho e sentando-a à sua
frente.

          Naquele momento, Annabel soube que não haveria mais salvação para
si. Ian estava longe dali e ninguém mais poderia ajudá-la. Com resignação, ela
se deixou levar ereta e calada, tentando ficar o mais longe possível do corpo
daquele homem que a enojava.

          Menos de duas horas depois, exausta de medo, tristeza e também da
cavalgada, Annabel recostou o corpo no peito de seu algoz sem que notasse e
caiu num sono povoado de pesadelos.

          Kyle, assim que sentiu sua amada relaxando seu corpo contra o dele,
deu um leve sorriso. Fechando ligeiramente os olhos, aspirou o perfume dos
seus cabelos e acariciou seus braços. Ele jurou a si mesmo que Annabel ainda
o amaria tanto ou mais que a Ian.

          Ele a amara desde a primeira vez que a viu na aldeia. Annabel mal
havia completado 18 anos e possuía uma rara beleza. O sorriso dela
encantava a todos e Kyle, que até então nunca havia se apaixonado, quis
entregar seu coração àquela linda mulher, mas ela se apaixonou por Ian.

          Lembrando de seu oponente, seus olhos voltam a brilhar intensamente
com ódio. A fúria tomou conta do seu ser e ele firmou os pés na barriga do
10

animal, chegando, poucas horas depois, já ao anoitecer, ao ponto de partida
para o seu destino.

       Um navio os esperava já pronto para saírem. Kyle subiu a rampa de
acesso ao navio com Annabel nos braços. Ele a observa preocupado. Sua
amada estava abatida e com uma péssima aparência. Parecia não haver um
pingo de sangue em seu corpo.

       - Talvez ela precise apenas de um banho e de uma boa alimentação.
[pensou em voz baixa]

       Assim que entra em seus aposentos, Kyle a deita sobre a cama e a
cobre com tecidos leves e macios. Sentou-se à beira da cama, observando
Annabel dormindo e carinhosamente, passou os dedo pelo seu rosto, tirando
uma mecha de cabelos que teimava em cair sobre o seu olho.

       - Você nunca mais será de outro homem Annabel!! [falou pra si mesmo]

       Ele saiu em busca da Senhora que trabalhava há anos para ele e que
seria dali em diante, a responsável por Annabel.
11




                                   Escócia – Parte V




        Bem distante dali, alguns homens encontravam-se sentados ao redor
de uma fogueira, conversando alegremente.

        - Em menos de dois dias estaremos em casa!! [fala um deles]

        - Será que meu filho ainda se lembra de mim?? [comenta outro meio
exaltado]

        - Eu só preciso de um bom banho e de minha cama de volta! [ri outro]

        Enquanto as vozes destes se alternavam entre o cansaço e algazarras,
um homem jazia sentado recostado a uma árvore, em silêncio. Era Ian
Magnussen. Alto, forte, tinha a pele um pouco castigada pelo sol e pelo frio,
mas não disfarçavam a sua incrível beleza masculina.

        Os cabelos negros como a noite, soltos até os ombros estavam
cobertos por peles que lhe aqueciam. Todos se preparavam para passar a
última noite gelada na floresta, antes de voltarem para a aldeia no dia seguinte.
12

        Seus olhos cansados, mas felizes, pousaram em seus amigos,
companheiros, seus colegas de luta. Todos estavam ansiosos pelo retorno à
aldeia. Ian olhou à sua esquerda e sorriu satisfeito. As carroças estavam cheias
de comida e pele [caça] que poderiam abastecer a aldeia até o próximo
inverno.

        Fechou os olhos para descansar, mas sua mente estava alerta. Sua
amada esposa Annabel não saía dos seus pensamentos. Sorriu para si
mesmo, deixando os belos dentes brancos à mostra, uma de suas
características que mais atraíam Annabel.

        Ah como ele a amava! Desde a primeira vez que a viu atravessar
correndo o campo de minúsculas margaridas e soltando alegres gargalhadas,
Ian só pensava nela. Ela tinha pouco mais de oito anos de idade e Ian, 13. Mas
ambos acreditaram no amor à primeira-vista, pois, a partir de então, nunca
mais se deixaram e Ian protegia Annabel de tudo e de todos. Com carinho e
educação. Com respeito e amor.

        Porém, Kyle, o filho de um dos homens mais prósperos da aldeia
vizinha, não tirava os olhos de sua Annabel. E aquilo preocupava Ian, que não
a deixava ir sozinha a lugar algum.

        Annabel nunca teve olhos para outro homem, por isso ela nunca tinha
reparado em Kyle e isso o fazia ruminar um ódio imenso por ela, que era misto
de paixão e inveja pela fama de Ian como belo e talentoso guerreiro.

        Assim, quando Annabel completou 16 anos, Ian pediu-a em casamento
e, para alegria de todos [menos a de Kyle], a festa logo se realizou e durou três
dias e três noites. Ian tinha 21 anos e nunca havia estado com outra mulher.
Sua Annabel era tudo que ele queria.

        Em sua primeira noite, Ian levou Annabel para a casa que ele construiu
com muito amor e carinho. Havia espaço o bastante para os dois e aos muitos
filhos que ele gostaria de ter com ela.

        Ian foi carinhoso, gentil e amoroso em sua primeira noite. Tirou
delicadamente todos os tecidos que cobriam o corpo de sua esposa, ficou nu e
13

encostou seu corpo ao dela antes de iniciar um caminho de beijos que
percorria todo o corpo de sua amada.

       Um fogo intenso percorreu suas veias enquanto Ian e Annabel iam
descobrindo seus corpos e seus desejos. Os lábios de Ian tocaram levemente
um dos seios de Annabel, fazendo com que esta gemesse roucamente.

       Esse era o código que Ian esperava para saber se devia ou não
continuar a tocá-la como gostaria. Seus dentes rodearam um dos mamilos
rosados e duros de Annabel enquanto seu corpo ia se encaixando acima dela.

       Annabel não conseguia ficar parada. Uma de suas mãos percorria as
costas de seu amado enquanto a outra descia timidamente ao sexo dele e o
segurava com firmeza. O gemido de Ian sinalizava também que ela estava
fazendo tudo certo e ambos gostariam que esta noite jamais terminasse

       Quando Ian penetrou-a gentilmente, Annabel sentiu um misto de dor e
prazer que até então nunca havia sentido. Suas unhas cravaram-se com força
nas costas de Ian e este a virou de uma vez na cama, fazendo com que esta
ficasse por cima e o cavalgasse com vontade.

       Os olhos de Ian iam dos lábios inchados [pelos beijos] de sua amada e
percorriam seu corpo branco, suado e desciam até os seios firmes, auréolas
grandes e bicos rosados.

       Neste instante, Ian a abraçou com força e colou seu corpo ao dela,
ambos gemendo alto de prazer. O grito dos dois se misturou ao gôzo
intermitente de seus corpos no instante em que, juntos, abriram os olhos e
sentiram um halo de luz subindo por suas espinhas em aspiral e saindo por
suas cabeças e se entrelaçando acima destas como fossem dois elos se
juntando após longa espera.

       Paralisados com a luz e com o prazer intenso, os dois se abraçaram
fortemente, emocionados. Mas era uma emoção de reconhecimento. Um choro
contido que precisava exatamente o tempo que os dois se pertenciam, ou seja,
sempre!!
14

       O movimento dos cavalos trouxe Ian de volta de seus devaneios e ele
suspirou profundamente antes de pegar no sono. Não via a hora de chegar em
casa, sentir o cheiro de Annabel, sentir o gosto da pele de sua amada e poder
estar dentro dela para que ambos sentissem novamente aquela luz
maravilhosa que emanava de seus corpos quando faziam amor.
15




                                 Escócia – Parte VI




       O balanço das ondas no meio da madrugada despertou Annabel de um
sono profundo. Olhando assustada para os lados, ela viu uma senhora
adormecida, sentada em uma cadeira ao lado da sua cama. Seus olhos
pousaram em si mesma e ela não reconheceu a camisola de nobre tecido
branco e de mangas compridas que estava usando. Seja lá quem tenha
trocado sua roupa, soube do bebê. [pensou preocupada].

       Recostando novamente a cabeça no travesseiro, Annabel acariciou
carinhosamente sua barriga e ficou observando tudo a sua volta. Lindas e ricas
cortinas de veludo vermelhas enfeitavam as janelas do navio. Os móveis eram
de madeira escura e obviamente pertenciam a alguém muito rico.

       Em cima da mesa havia um lindo jogo de chá da mais pura prata. No
outro canto, um belo armário expunha belos trabalhos em porcelana. O fino
lençol que a cobria era feito de um tecido que Annabel jamais imaginou que
existisse. Era branco e todo bordado à mão, gostoso ao toque. O cheiro das
roupas e dos lençóis também era agradável.

       Porém, seus pensamentos voltaram até o homem que a tinha levado.
Ela não tinha a menor idéia de quem ele era e porque fazia aquilo com ela. E
Ian?? Deus, quando ele chegasse e não a visse, o que ele iria pensar ???

       Com aquela preocupação na cabeça, Annabel chorou até pegar no
sono novamente. A senhora acordou com os seus soluços e sentiu pena da
moça, mas não podia fazer nada, pois era apenas uma serviçal de Kyle.
16

          Ela pensou no filho que a mulher esperava e ficou preocupada, mas
não contou à Kyle. Esperava a moça acordar para conversarem. Ela estava
muito abatida e ela tinha medo do que poderia acontecer ao bebê.

          Levantou-se e passou um pano úmido no rosto de Annabel, que lutava
contra os pesadelos, num choro sentido. Foi até a pia da cabine, encheu uma
chaleira de água e fez um chá calmante para a moça. Ela precisava diminuir
aquela agitação da moça, senão poderia perder o filho.




          O céu se multiplicava em lindas cores que ia do cinza ao azul escuro,
do vermelho ao laranja e lilás, quando Ian e seus amigos se puseram a
caminho da aldeia.

          Todos estavam em silêncio, pois quase não haviam dormido, ansiosos
por voltarem ás suas famílias. O frio já se iniciava, por isso, era bom se
apressarem, pois ainda era preciso distribuir a comida e a pele a todos da
aldeia.

          No meio da manhã já estavam muito cansados por causa da
caminhada. Precisavam parar para se alimentar, bem como dar água e comida
aos animais que carregavam a pesada carga.

          Ian e seus amigos se banharam num rio a poucos metros de distância
e aproveitaram para assar alguns peixes que pegaram ali mesmo.
Descansaram por uma hora e voltaram á exaustiva caminhada.

          Enquanto isso, Kyle fitava silenciosamente Annabel dormindo. Seu
rosto era lindo [pensava ele]. Mas a paz que emanava dela era o que atraía
Kyle.

          Annabel o fazia refletir sobre sua vida. Ele estava cansado das longas
batalhas, sobretudo, estava cansado de viver sozinho. Tudo que queria era
17

viver em um lugar mais tranqüilo e dar uma nova vida àquela mulher. Ele tinha
absoluta certeza que o tempo a ensinaria a amá-lo.

        Seu   olhar   pousou   nas   suas    finas   e   delicadas   mãos   que,
inconscientemente, descansavam sobre sua barriga. A barriga que abrigava o
de Ian. A esse pensamento, Kyle levantou-se nervoso e foi até a mesa. Pegou
uma garrafa de vinho, adicionou seu conteúdo a um copo e o sorveu de uma
vez.

        Olhou novamente para Annabel e chamou a senhora que estava
cuidando dela.

        - Quando ela acordar, dê-lhe um banho e a sirva com uma refeição
farta. Não a deixe fazer esforço e cuide dela muito bem!

        A senhora apenas assentiu com a cabeça e saiu para aprontar o banho
da moça. Ela sabia que devia fazer exatamente o que ele pedia ou poderia ser
severamente castigada.

        Pouco depois, Annabel acordou meio enjoada, mas o cheiro dos ovos
mexidos mexeu com seu estômago vazio. Estava com tanta fome que não
pensou muito e comeu tudo que tinha na bandeja ao lado da cama. A velha
senhora a observava calada, porém, com atenção.

        Assim que terminou sua refeição, Annabel pediu para ir ao toilette, o
que a senhora indicou com a cabeça. Lá dentro, Annabel se olhou em um
espelho na parede à sua frente e notou as olheiras profundas e escuras
embaixo dos olhos. Seu rosto também estava muito abatido [observou sentindo
as primeiras lágrimas chegarem aos olhos].

        Depois do banho, ela saiu do banheiro e, antes de chegar até a cama,
sentiu uma pontada de dor abaixo do ventre e junto com esta, uma leve
tontura. A senhora correu para acudi-la antes que ela caísse, e a deitou na
cama.

        Ela tentou ficar quieta, mas a lembrança dos acontecimentos a
deixaram nervosa e as dores aumentavam com o passar do tempo, fazendo
18

com que, ao final do dia, Annabel tivesse febre alta, começasse a delirar e a
chamar o nome do marido.

       Kyle foi chamado às pressas até os aposentos de Annabel e ficou
horas sentado observando-a enquanto a mulher banhava seu rosto com água
misturada a algumas ervas.

       No final da tarde, Kyle, que cochilava ao lado da cama, acordou com
um grito de terror e viu Annabel levantar o corpo do travesseiro e seu rosto
estava branco como um papel. Ela colocou a mão na barriga e logo se perdeu
nas profundezas de um desmaio.

       Após examiná-la cuidadosamente, a velha senhora avisou à Kyle que
Annabel estava perdendo sangue.... e provavelmente, estava perdendo
também a criança.

       Kyle se levantou nervoso e implorou para a mulher não deixar Annabel
morrer. Daria uma boa recompensa a ela, se ela salvasse a vida de Annabel. A
mulher balançou a cabeça em silêncio e continuou       seu trabalho junto à
Annabel.




                                 Escócia – Parte VII




       Nesse mesmo instante, Ian sentiu uma leve tontura! Parou um pouco,
tomou água e franziu a testa. Seus pensamentos foram direto até sua esposa.
19

Seu coração estava apertado e uma saudade absurda tomou conta de seu
peito.

         Sentiu que Annabel não estava bem e isso fez com que apressasse a
caminhada. Que Deus não deixasse nada de mal acontecer á sua amada
[pensou ele].




         Kyle estava bastante abatido. Depois de travar uma luta o dia todo com
ervas, a velha senhora avisou que Annabel perdera a criança. Ele sabia que
ela o odiaria ainda mais por isso.

         No momento, não tinha nenhum plano, mas teria que pensar em algo
cedo ou tarde. Fitou o céu escuro e um pequeno arrependimento brotou em
seu coração.

         Não devia tê-la possuído à força [pensava].

         - Se ao menos eu soubesse que ela esperava um filho, eu teria sido
mais gentil !!

         - Inferno !!!!! [gritou ele, batendo o punho com força na parede do
navio]

         E agora, o que faria para que ela confiasse nele e o amasse ??????
[com esses pensamentos fervendo em sua cabeça, Kyle abriu uma garrafa de
conhaque e bebeu o resto da noite até dormir de cansaço].




         No exato momento em que Ian avistou a aldeia, Annabel abriu os olhos
vagarosamente. Não se lembrava de nada, mas sentiu leve desconforto e
pousou a mão em seu ventre.

         As lembranças retornaram e ela se pôs a chorar baixinho. Perdera seu
filho. Perdera seu bem precioso. Perdera uma parte de Ian. Perdera sua vida.
20

O choro contido cedeu lugar a gritos desesperados de mágoa e rancor contra
Kyle e contra Deus.

        Kyle ouviu seu choro desesperado e passou o dia angustiado, evitando
entrar no quarto e ver o rosto de Annabel. Algumas horas depois, a senhora o
informara que Annabel se negava a comer e a beber água.

        Kyle entrou em seus aposentos e o que viu, deixou seu coração
apertado. A bela Annabel se transformara. Seu rosto abatido perdera a cor.
Seus olhos perderam o brilho e ela fitava um ponto qualquer. Pequenas
gotículas pairavam em sua testa e acima dos seus lábios, onde a mulher
banhava para extrair a febre.




        Ian estranhou o silêncio da aldeia e caminhou rapidamente, notando
que poucos vieram recebê-los. Alguns abaixavam a cabeça quando o viam
passar. Algumas mulheres correram ao encontro dos maridos e começaram a
chorar e falar ao mesmo tempo.

        Ian não entendia nada, mas seu coração disparou e pressentiu que
algo de ruim havia acontecido. Correu pela encosta acima até sua casa. Pelo
caminho, viu a cesta caída e um caminho de flores que levava até a porta de
sua casa.

        Empurrou a porta dos aposentos à procura de sua esposa e tudo que
viu foi uma cadeira virada, um copo e uma garrafa ao lado da mesa. Um medo
imenso tomou conta do seu ser quando ele se virou para a cama e viu o
pequeno embrulho caído no chão. Abriu o pacote e viu a peça. Sabia o que
significava. Sentou à beira da cama e passou as mãos, nervoso, pelos cabelos.




        Era um presente que seu bisavô dera para a sua bisavó e que passara
a todas as mulheres da família. Ian passou a ponta do dedo indicador pela
peça. Era um belo sol feito de ouro puro. Dentro do sol, havia uma meia-lua e
ao lado deste, uma estrela de cinco pontas.
21

        A pesada corrente, também feita de ouro, lembrava Ian e Annabel de
quando eles faziam amor, da aspiral de luz entrelaçada. Era uma linda e rica
peça. Ian dera a Annabel no dia do casamento e ela guardava com muito amor
para dá-la ao seu primeiro filho ou filha [sorria triste Ian].

        Ian se levantou quando ouviu o barulho de alguém entrando pela porta
e fitou longamente o rosto do seu melhor amigo, Jilles. Junto dele, sua esposa
chorava baixinho e explicava a Ian o que havia acontecido.

        Uma raiva surda tomou conta de Ian. Algumas pessoas da aldeia
haviam reconhecido Kyle e tentaram impedi-lo de levar Annabel, mas dois
deles morreram lutando, outros foram feridos gravemente e o restante não
tinha força suficiente para lutar contra Kyle e seus homens, pois os melhores
guerreiros estavam caçando com Ian.

        Ian se levantou, puxou o tapete para o lado e abriu uma pequena
portinhola que ficava escondida sob a mesa. Lá de dentro pegou sua espada,
um punhal e o brasão da família Magnussen.

        Jilles saiu e voltou com cinco dos melhores homens e saíram a cavalo
junto com Ian à procura de Annabel.
22




                                Escócia – Parte VIII




       Três dias se passaram e Annabel não reagia. Sua febre não baixara,
indicando provavelmente uma infecção provocada pela perda do filho. Ela não
reagia, não se alimentava e mal engolia água.
23

        Kyle estava desesperado para pararem o navio e levar Annabel à terra
firme. O capitão logo avisou que dentro em pouco poderiam desembarcar e ele
estava esperançoso que ela melhorasse quando chegasse.

        Ele passou horas ao lado da cama dela, segurando a sua mão. Às
vezes, ela abria os olhos, sorria e chamava por Ian. Kyle mordia os lábios,
irritado, mas nada podia fazer, afinal, ela estava muito doente.




        Ian e seus amigos estavam exaustos. Descobriram que Kyle havia
tomado um barco com seus homens e levara Annabel para o outro lado do
oceano, provavelmente para a aldeia de sua família.

        Desesperado, partiu com seus homens em busca de sua esposa e fez
praticamente todo o trajeto em silêncio. Ele sentia muita raiva, mas a
preocupação com a saúde de sua esposa era maior. Ele só queria ela viva e de
volta para ele.




        Assim que o navio ancorou, Kyle embrulhou cuidadosamente Annabel
com o lençol branco bordado e a deitou em seu colo. Desceu a rampa com
alguns homens para a terra firme. No meio da rampa, Annabel sussurrou
algumas palavras e Kyle só entendera que ela chamava Ian.

        Assim que terminaram de descer, Kyle deitou carinhosamente Annabel
no chão, recostou sua cabeça em seus braços e deu-lhe água. Mal engolindo
alguns poucos goles, Annabel olhou para Kyle e falou baixinho:

        - Jamais fui tua. Jamais serei! Amo meu esposo e o amarei
eternamente. Você matou nosso filho e a mim também. Eu o odiarei por toda a
eternidade e espero que Ian o encontre e o mate!

        Com o rosto transtornado, Kyle respondeu:
24

        - Não Annabel !! Você será minha, você me amará, prometo!! Farei
tudo que você quiser, mas fique comigo! Eu cuidarei de você, eu a amo. Por
favor, não morra!

        Olhando para ele com os olhos sem brilho, Annabel apenas respondeu,
sussurrando:

        - Nunca!

        Com a voz fraca, Annabel ainda teve forças para olhar para o céu e
sussurrar:

        - Ian minha vida..... te reencontrarei logo meu amor....adeus....




        Dizendo isso, ela fechou seus olhos para sempre e sua cabeça pendeu
para o lado, voltada para o peito de Kyle.

        Com terror, Kyle virou o rosto de Annabel de um lado para o outro e
gritou olhando para o céu:

        - Deus! Não a deixe morrer! Eu a amo! Ela é minha, só minha !!!




        Ficou abraçado a ela por muitas horas até que a Senhora tocou seu
ombro de leve e pediu para preparar o corpo de Annabel.

        Em silêncio, ele deixou o corpo dela na praia. Levantou-se chorando e
blasfemou contra Deus. Logo ele montou o cavalo e saiu em disparada.

        Enquanto isso, a mulher embrulhou o corpo de Annabel no lençol
branco com algumas ervas e chamou alguns homens para ajudarem-na na
preparação da despedida do corpo e do espírito.

        Com respeito, os homens colocaram o corpo de Annabel em cima de
pedaços de troncos de árvore dentro de uma pequena barca. Enfeitaram com
flores e folhas perfumadas das imensas de árvores nativas.
25

         Por fim, acenderam o fogo das tochas improvisadas que ficaram ao
redor do corpo de Annabel e puseram a barca no oceano no exato momento
em que Kyle voltava.

         De longe, fitaram o fogo aumentando e o corpo sendo consumido pelas
chamas. A velha senhora se pôs a entoar um cântico triste de despedida e
entrega do espírito de Annabel.

         Kyle fitava o corpo de sua amada ardendo nas chamas da fogueira
sumindo junto ás águas do oceano enquanto sentia lágrimas correndo por seu
rosto.

         - Do que adiantou? [pensava alto]

         - Ela nunca foi minha mesmo. Nunca me amou.




         Uma raiva surda tomou conta de seu espírito e ele saiu caminhando de
um lado para outro gritando a quem pudesse ouvir que Annabel ainda seria
sua, nem que fosse preciso ir atrás dela na eternidade.




         Todos ficaram em silêncio, com os cenhos franzidos, preocupados com
o seu líder. Ele não parecia bem. Eles tinham que fazer alguma coisa para
ajuda-lo, mas ele parecia fora de si.
26




                                Escócia – Parte IX




       Dois dias depois, o barco que levava Ian e seus homens ancorou no
mesmo lugar que Kyle havia estado. Assim que chegou em terra firme, ele saiu
perguntando sobre Kyle, mas quase nenhum dos moradores sabia informar-
lhe.

       Ao final do dia, um deles contou a Ian tudo o que havia visto e ele
soltou um grito surdo de dor e desespero. Ajoelhou na praia e fitou o oceano
27

em prantos, como se pudesse trazer sua esposa de volta. Não podia ser
verdade [pensou ele].

       Sua Annabel não podia estar morta! [repetia para si mesmo várias
vezes]. Seus amigos choraram junto com Ian. Nenhum deles disse uma
palavra. Apenas choravam a dor do amigo, companheiro e líder.

       Horas depois, Ian segurou a corrente ao pescoço e jurou aos céus e à
sua amada Annabel que mataria Kyle. Levantou-se e voltou com os
companheiros ao barco para irem em busca de Kyle.

       A viagem foi angustiante para Ian e seus companheiros. Muitas
informações desencontradas de um lado e do outro os levaram a vários lugares
e nada de encontrarem Kyle.

       Após dois meses procurando em todas as aldeias dos arredores, um
morador deu uma pista de Kyle e Ian partiu sedento de sangue. Seus
companheiros estavam visivelmente exaustos, mas não abandonaram Ian em
nenhum momento. Deviam isso a ele, afinal, todos viviam na mesma aldeia e
eram como irmãos.

       Desembarcaram, enfim, a noroeste da ilha onde Annabel perdera a
vida. Ian dividiu os poucos companheiros para procurarem por Kyle e saíram
em várias direções.

       Ele só pensava em vingança. Ele queria matar Kyle! Não entendia
porque sua esposa morrera, mas o culpado era aquele maldito homem que
perseguia Annabel com o olhar desde que ela era apenas uma adolescente.




       No início da tarde, Ian ajoelhou-se ao lado de um riacho, encheu seu
cantil de água, lavou-se e sentou-se embaixo de uma árvore para se refrescar.
28

Estava exausto, precisava descansar. Estava de olhos fechados quando ouviu
um barulho atrás de si.

        Era      Kyle   montado   no   lindo   cavalo   negro.   Ian   levantou-se
imediatamente e desembainhou sua espada. Seu rosto estava visivelmente
cansado, porém, demonstrava toda sua ira contra aquele homem que tirara sua
esposa de si.

        Kyle estava abatido, mais magro e com a fisionomia triste. No entanto,
lançou um sorriso cínico em direção a Ian e, pegando sua espada, falou:




        - Eu não queria que ela morresse! Infelizmente, durante a viagem, ela
se sentiu mal.

        - Cale essa maldita boca! Tu não podes tocar no nome de minha
esposa. Agora vou te matar e jogar teu corpo aos bichos.

        - Ora, ora Ian.... porque tanta revolta? Eu estava apaixonado por
Annabel e ia dar uma vida digna a ela e ao filho.

        - Filho.... que filho? Do que está falando? (perguntou Ian, assombrado).

        Com o rosto aturdido, Kyle respondeu:

        - Então você não sabia que ela estava esperando um filho.....?




        Antes que ele terminasse a frase, Ian partiu pra cima dele e travaram
uma luta ferrenha. Lágrimas rolavam pelo rosto de Ian durante a luta. Seu
coração estava apertado, despedaçado.

        Sua esposa esperava um filho seu e aquele homem os tirara de si. Ele
tinha tanto ódio no coração, que esqueceu todos os ensinamentos que seu pai
lhe impunha quando mais jovem. Naquele momento, não havia controle
emocional. Tudo que ele queria era matar Kyle!!
29

        Algum tempo se passou até que os dois tombassem por terra. Kyle
estava morto, e Ian, visivelmente fraco, vertia sangue de uma grande ferida
logo abaixo do ombro direito, bastante ferido.

        Com a mão na ferida, Ian se recostou à arvore e fitou o corpo do
homem que tirou a vida de sua esposa e seu filho.

        Virou o rosto pro riacho. Enfiou a mão por dentro da roupa e segurou,
com força, o medalhão preso ao pescoço enquanto a outra mão foi pendendo
lentamente ao lado de seu corpo se esvaindo em sangue.




        Ele olhou para o céu com uma tristeza profunda nos olhos e sussurrou
amargurado:

        - Porque levar a mulher que tanto amei e ainda deixar nosso filho
morrer? Por quê? Foi tudo culpa minha! Eu não devia ter demorado tanto a
voltar da caça. Eu não devia ter deixado a aldeia desprotegida!




        - Annabel meu amor, perdoa-me por tudo [chorava Ian]. Eu não mereço
o teu amor. Deixei-a sozinha à mercê desse monstro e não pude chegar a
tempo de salvá-la.

        Eu devo pagar por esta tua dor minha amada. Perdoa-me por não estar
contigo quando mais precisastes de mim. Eu te amo mais que a mim mesmo
meu amor. Sempre te amei e sempre te amarei... eternamente.




        Começando a delirar, Ian continuava a gemer:




        - Não me deixe sozinho minha vida! Segure as minhas mãos e me leve
para onde estiveres. Prometo estar sempre com você, se me for dada nova
oportunidade.
30

       Prometo cuidar de você e de nossos filhos e nunca deixá-la sozinha e
desprotegida outra vez. Prometo jamais largar as tuas mãos e ser teu fiel e
eterno amor!

       Largando a mão que segurava o medalhão, Ian olha mais uma vez á
sua frente... quando de repente, em meio às lágrimas, um sorriso de esperança
brotou dos seus lábios, ao ver sua amada lhe estendendo as mãos e, num
último suspiro, seu corpo estremece, e ele tombou a cabeça, sem vida.

       Algumas horas depois, seus companheiros encontraram o corpo de Ian
recostado á árvore. Eles ficaram intrigados com o sorriso nos lábios do amigo.
Aprontaram seu corpo e, assim como foi feito com o corpo de Annabel,
entoaram um cântico de despedida, libertando o seu espírito junto às chamas
que engoliam seu corpo rumo ao mar.




       Algumas pessoas da aldeia comentaram por várias gerações.... sobre a
visão de um casal feliz, que era sempre visto correndo, de mãos dadas com
uma criança, brincando pela praia.

       ... E o riso deles era ouvido de longe.... muito longe..... muito....

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Tempt me - Sole Regret Series #2 Olivia Cunning.pdf
Tempt me - Sole Regret Series #2 Olivia Cunning.pdfTempt me - Sole Regret Series #2 Olivia Cunning.pdf
Tempt me - Sole Regret Series #2 Olivia Cunning.pdfDaniela Klagenberg
 
Capitulo 3 a última dança.
Capitulo 3   a última dança.Capitulo 3   a última dança.
Capitulo 3 a última dança.Stephanye Gomes
 
Capítulo 3 a última dança
Capítulo 3   a última dançaCapítulo 3   a última dança
Capítulo 3 a última dançaStephanyeG
 
01.5. alison's diary [o diário da alison]
01.5. alison's diary [o diário da alison]01.5. alison's diary [o diário da alison]
01.5. alison's diary [o diário da alison]Talles Lisboa
 
09. twisted [retorcidas]
09. twisted [retorcidas]09. twisted [retorcidas]
09. twisted [retorcidas]Talles Lisboa
 
A casa do penhasco (psicografia vera lúcia marinzeck de carvalho espírito a...
A casa do penhasco (psicografia vera lúcia marinzeck de carvalho   espírito a...A casa do penhasco (psicografia vera lúcia marinzeck de carvalho   espírito a...
A casa do penhasco (psicografia vera lúcia marinzeck de carvalho espírito a...Ricardo Akerman
 
12. burned [queimadas]
12. burned [queimadas]12. burned [queimadas]
12. burned [queimadas]Talles Lisboa
 
O monstro no armário
O monstro no armárioO monstro no armário
O monstro no armárioLucas Zanella
 
Jacqueline susann - o vale das bonecas
Jacqueline susann - o vale das bonecasJacqueline susann - o vale das bonecas
Jacqueline susann - o vale das bonecasInês Ferreira
 

Mais procurados (17)

Neriahu
NeriahuNeriahu
Neriahu
 
França
FrançaFrança
França
 
Tempt me - Sole Regret Series #2 Olivia Cunning.pdf
Tempt me - Sole Regret Series #2 Olivia Cunning.pdfTempt me - Sole Regret Series #2 Olivia Cunning.pdf
Tempt me - Sole Regret Series #2 Olivia Cunning.pdf
 
Capitulo 3 a última dança.
Capitulo 3   a última dança.Capitulo 3   a última dança.
Capitulo 3 a última dança.
 
Capítulo 3 a última dança
Capítulo 3   a última dançaCapítulo 3   a última dança
Capítulo 3 a última dança
 
01.5. alison's diary [o diário da alison]
01.5. alison's diary [o diário da alison]01.5. alison's diary [o diário da alison]
01.5. alison's diary [o diário da alison]
 
09. twisted [retorcidas]
09. twisted [retorcidas]09. twisted [retorcidas]
09. twisted [retorcidas]
 
Contos africanos
Contos africanosContos africanos
Contos africanos
 
Perfeição,- cap. 20
Perfeição,- cap. 20Perfeição,- cap. 20
Perfeição,- cap. 20
 
Perfeição - capítulo. 21
Perfeição - capítulo. 21  Perfeição - capítulo. 21
Perfeição - capítulo. 21
 
A casa do penhasco (psicografia vera lúcia marinzeck de carvalho espírito a...
A casa do penhasco (psicografia vera lúcia marinzeck de carvalho   espírito a...A casa do penhasco (psicografia vera lúcia marinzeck de carvalho   espírito a...
A casa do penhasco (psicografia vera lúcia marinzeck de carvalho espírito a...
 
12. burned [queimadas]
12. burned [queimadas]12. burned [queimadas]
12. burned [queimadas]
 
O monstro no armário
O monstro no armárioO monstro no armário
O monstro no armário
 
Jacqueline susann - o vale das bonecas
Jacqueline susann - o vale das bonecasJacqueline susann - o vale das bonecas
Jacqueline susann - o vale das bonecas
 
Assuntos
AssuntosAssuntos
Assuntos
 
Contos assombracao
Contos assombracaoContos assombracao
Contos assombracao
 
7 ano A
7 ano A7 ano A
7 ano A
 

Destaque

Getting that next Job
Getting that next Job Getting that next Job
Getting that next Job donnae2763
 
Can eczema be cured
Can eczema be curedCan eczema be cured
Can eczema be curedBluesman1
 
Myitlab how to_use_grader
Myitlab how to_use_graderMyitlab how to_use_grader
Myitlab how to_use_gradercarolbillingcwi
 
Carnaval de Venecia 2011 III
Carnaval de Venecia 2011  IIICarnaval de Venecia 2011  III
Carnaval de Venecia 2011 IIIF. Ovies
 
ClearedJobs.Net New Website
ClearedJobs.Net New WebsiteClearedJobs.Net New Website
ClearedJobs.Net New Websitedonnae2763
 
Evaluation and improvement of technical specifications for devices for non-in...
Evaluation and improvement of technical specifications for devices for non-in...Evaluation and improvement of technical specifications for devices for non-in...
Evaluation and improvement of technical specifications for devices for non-in...Joana Ribeiro Paulo
 
Open Saas brings freedom to the Cloud
Open Saas brings freedom to the Cloud Open Saas brings freedom to the Cloud
Open Saas brings freedom to the Cloud Cyril Reinhard
 
Konzept ju ca
Konzept ju caKonzept ju ca
Konzept ju caneuwerk
 

Destaque (10)

Getting that next Job
Getting that next Job Getting that next Job
Getting that next Job
 
Can eczema be cured
Can eczema be curedCan eczema be cured
Can eczema be cured
 
Myitlab how to_use_grader
Myitlab how to_use_graderMyitlab how to_use_grader
Myitlab how to_use_grader
 
Carnaval de Venecia 2011 III
Carnaval de Venecia 2011  IIICarnaval de Venecia 2011  III
Carnaval de Venecia 2011 III
 
ClearedJobs.Net New Website
ClearedJobs.Net New WebsiteClearedJobs.Net New Website
ClearedJobs.Net New Website
 
Evaluation and improvement of technical specifications for devices for non-in...
Evaluation and improvement of technical specifications for devices for non-in...Evaluation and improvement of technical specifications for devices for non-in...
Evaluation and improvement of technical specifications for devices for non-in...
 
Sitges
Sitges Sitges
Sitges
 
Open Saas brings freedom to the Cloud
Open Saas brings freedom to the Cloud Open Saas brings freedom to the Cloud
Open Saas brings freedom to the Cloud
 
Konzept ju ca
Konzept ju caKonzept ju ca
Konzept ju ca
 
Props
Props Props
Props
 

Semelhante a A Voz Suave de Annabel na Escócia do Século XVIII

Encontro com a felicidade
Encontro com a felicidadeEncontro com a felicidade
Encontro com a felicidadeCarla F
 
Candace camp trilogia dos aincourt 01 a mansão dos segredos
Candace camp trilogia dos aincourt 01 a mansão dos segredosCandace camp trilogia dos aincourt 01 a mansão dos segredos
Candace camp trilogia dos aincourt 01 a mansão dos segredosAndreia
 
Histórias de cuba
Histórias de cubaHistórias de cuba
Histórias de cubafernandarito
 
Barbara cartland a cruz do amor
Barbara cartland   a cruz do amorBarbara cartland   a cruz do amor
Barbara cartland a cruz do amorAriovaldo Cunha
 
O beijo eterno angela knight
O beijo eterno  angela knightO beijo eterno  angela knight
O beijo eterno angela knightSamyFC
 
Paixões no Oeste Vol 1 (prova)
Paixões no Oeste Vol 1 (prova)Paixões no Oeste Vol 1 (prova)
Paixões no Oeste Vol 1 (prova)Janice Ghisleri
 
Artur azevedo a tia aninha
Artur azevedo   a tia aninhaArtur azevedo   a tia aninha
Artur azevedo a tia aninhaTulipa Zoá
 
Mary wine a impostora - grh
Mary wine   a impostora - grhMary wine   a impostora - grh
Mary wine a impostora - grhKátia Monari
 
PAIXÕES NO OESTE - VOL 1
PAIXÕES NO OESTE - VOL 1PAIXÕES NO OESTE - VOL 1
PAIXÕES NO OESTE - VOL 1Janice Ghisleri
 
Alçando vôo
Alçando vôoAlçando vôo
Alçando vôoCarla F
 
Barbara cartland a cruz do amor
Barbara cartland   a cruz do amorBarbara cartland   a cruz do amor
Barbara cartland a cruz do amorAriovaldo Cunha
 
70 anne mather - um desejo a mais (paixao 70)
70   anne mather - um desejo a mais (paixao 70)70   anne mather - um desejo a mais (paixao 70)
70 anne mather - um desejo a mais (paixao 70)Larissa Alves
 
Vera.lucia.m.de.carvalho. .espiritismo.-.novamente juntos.
Vera.lucia.m.de.carvalho. .espiritismo.-.novamente juntos.Vera.lucia.m.de.carvalho. .espiritismo.-.novamente juntos.
Vera.lucia.m.de.carvalho. .espiritismo.-.novamente juntos.PMP
 
Paixões no oeste vol 2 (prova)
Paixões no oeste  vol 2 (prova)Paixões no oeste  vol 2 (prova)
Paixões no oeste vol 2 (prova)Janice Ghisleri
 

Semelhante a A Voz Suave de Annabel na Escócia do Século XVIII (20)

Encontro com a felicidade
Encontro com a felicidadeEncontro com a felicidade
Encontro com a felicidade
 
Candace camp trilogia dos aincourt 01 a mansão dos segredos
Candace camp trilogia dos aincourt 01 a mansão dos segredosCandace camp trilogia dos aincourt 01 a mansão dos segredos
Candace camp trilogia dos aincourt 01 a mansão dos segredos
 
Histórias de cuba
Histórias de cubaHistórias de cuba
Histórias de cuba
 
Barbara cartland a cruz do amor
Barbara cartland   a cruz do amorBarbara cartland   a cruz do amor
Barbara cartland a cruz do amor
 
O beijo eterno angela knight
O beijo eterno  angela knightO beijo eterno  angela knight
O beijo eterno angela knight
 
Paixões no Oeste Vol 1 (prova)
Paixões no Oeste Vol 1 (prova)Paixões no Oeste Vol 1 (prova)
Paixões no Oeste Vol 1 (prova)
 
Artur azevedo a tia aninha
Artur azevedo   a tia aninhaArtur azevedo   a tia aninha
Artur azevedo a tia aninha
 
Mary wine a impostora - grh
Mary wine   a impostora - grhMary wine   a impostora - grh
Mary wine a impostora - grh
 
PAIXÕES NO OESTE - VOL 1
PAIXÕES NO OESTE - VOL 1PAIXÕES NO OESTE - VOL 1
PAIXÕES NO OESTE - VOL 1
 
Alçando vôo
Alçando vôoAlçando vôo
Alçando vôo
 
Amor, conto de Clarice Lispector
Amor, conto de Clarice LispectorAmor, conto de Clarice Lispector
Amor, conto de Clarice Lispector
 
Conto-meu tio jules
Conto-meu tio julesConto-meu tio jules
Conto-meu tio jules
 
Barbara cartland a cruz do amor
Barbara cartland   a cruz do amorBarbara cartland   a cruz do amor
Barbara cartland a cruz do amor
 
70 anne mather - um desejo a mais (paixao 70)
70   anne mather - um desejo a mais (paixao 70)70   anne mather - um desejo a mais (paixao 70)
70 anne mather - um desejo a mais (paixao 70)
 
Vera.lucia.m.de.carvalho. .espiritismo.-.novamente juntos.
Vera.lucia.m.de.carvalho. .espiritismo.-.novamente juntos.Vera.lucia.m.de.carvalho. .espiritismo.-.novamente juntos.
Vera.lucia.m.de.carvalho. .espiritismo.-.novamente juntos.
 
De santa a puta
De santa a putaDe santa a puta
De santa a puta
 
Paixões no oeste vol 2 (prova)
Paixões no oeste  vol 2 (prova)Paixões no oeste  vol 2 (prova)
Paixões no oeste vol 2 (prova)
 
Historias da avozinha
Historias da avozinhaHistorias da avozinha
Historias da avozinha
 
Histórias da avózinha
Histórias da avózinhaHistórias da avózinha
Histórias da avózinha
 
Historias da avozinha
Historias da avozinhaHistorias da avozinha
Historias da avozinha
 

Mais de Carla F

Encontro Inesperado
Encontro InesperadoEncontro Inesperado
Encontro InesperadoCarla F
 
O reino da (in) felicidade
O reino da (in) felicidadeO reino da (in) felicidade
O reino da (in) felicidadeCarla F
 
No Vale da Lua 2
No Vale da Lua 2No Vale da Lua 2
No Vale da Lua 2Carla F
 
No vale da lua 1
No vale da lua 1No vale da lua 1
No vale da lua 1Carla F
 

Mais de Carla F (6)

Encontro Inesperado
Encontro InesperadoEncontro Inesperado
Encontro Inesperado
 
O reino da (in) felicidade
O reino da (in) felicidadeO reino da (in) felicidade
O reino da (in) felicidade
 
Roma
RomaRoma
Roma
 
Skylar
SkylarSkylar
Skylar
 
No Vale da Lua 2
No Vale da Lua 2No Vale da Lua 2
No Vale da Lua 2
 
No vale da lua 1
No vale da lua 1No vale da lua 1
No vale da lua 1
 

Último

JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxTainTorres4
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
análise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertaçãoanálise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - DissertaçãoMaiteFerreira4
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxDianaSheila2
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESEduardaReis50
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.Mary Alvarenga
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....LuizHenriquedeAlmeid6
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdflucassilva721057
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdfAna Lemos
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteVanessaCavalcante37
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 

Último (20)

JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
análise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertaçãoanálise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertação
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 

A Voz Suave de Annabel na Escócia do Século XVIII

  • 1. 1 Escócia - Parte I Uma voz doce como a de um pássaro se fazia ouvir por alguns moradores da aldeia mais próxima, que ficava pouco abaixo da encosta onde se localizava a sua casa. Quem podia ouvi-la, sorria de longe. Todos conheciam os encantos de Annabel, e sua voz era um deles. Mulher educada, ela era gentil e sorria para todos. Estava sempre pronta a ajudar quem necessitava. Nesse momento, seus delicados pés, presos a grosseiras tiras de couro cru, passeavam na relva que circundavam sua casa. Seu corpo, apesar de estar envolvido por tecidos grosseiros e pobres, tinha o aspecto bem cuidado. Sua pele era macia e branca como o leite de cabra. Seu rosto era envolto por anéis dourados de cabelos que desciam por seus ombros até o meio de suas costas. Seus olhos brilhantes tinham a cor do mel e os lábios rosados sorriam enquanto ela se abaixava e enchia a cesta de minúsculas flores coloridas. Ian sempre gostava de chegar em casa e encontrá-la cheia de flores.... isso lembrava o quanto eles gostavam de se amar entre as flores.... depois ele a encostava em seu peito.... e fazia uma coroa de pequeninas margaridas e colocava em seus belos cabelos...... fazendo-a dar aquele sorriso que iluminava tudo e a todos ao seu redor. Em seus pensamentos veio a imagem do seu esposo amado. Ian tinha saído de casa há pouco mais de três meses para caçar com os homens da aldeia. Todo ano era a mesma coisa. Seu esposo era líder da aldeia e cuidava para que ninguém passasse fome ou frio no inverno rigoroso da Escócia do século XVIII.
  • 2. 2 Estavam casados há pouco mais de três anos, porém, cresceram juntos e se casaram quando a idade, e os pais, assim permitiram. Sentindo um leve movimento ao se abaixar para pegar mais flores, Annabel acaricia carinhosamente seu ventre onde uma vida pulsava ali dentro. Quando Ian saiu para caçar, ela estava grávida e nem um deles sabia. Estava agora com seis meses e sentindo aquela vida crescer dentro de si, só fazia querer ainda mais rápido o retorno de seu esposo amado. O sonho de Ian era encher a casa de filhos. Ele dizia sorrindo que ouvir a algazarra das crianças da aldeia faziam ele se sentir em casa. Annabel concordava e não via a hora dele chegar e receber a notícia. Se fosse menina, ela gostaria que fosse chamada de Ailie, em homenagem à sua avó materna. Se fosse menino, ela gostaria que tivesse o nome do pai de Ian: Ewan – que foi um homem forte, guerreiro e extremamente justo.
  • 3. 3 Escócia - Parte II De repente seus pensamentos foram interrompidos por um tremor sob seus pés e Annabel olhou para baixo em direção à aldeia. O sino tocou. Ela ficou preocupada. Era o sinal de perigo combinado entre todos da aldeia!! Lembrando das recomendações de Ian, Annabel saiu correndo em direção à casa, deixando cair pelo caminho a cesta com as flores que havia acabado de colher. Assim que entrou em casa, Annabel puxou com certa dificuldade uma pedra que ficava ao lado da cama e segurou algo pequeno envolto em um tecido negro e colocou-o no bolso do seu vestido. Ela não soube precisar quanto tempo ficou ali, mas assim que se virou para a porta, esta se abriu com um tremendo estrondo, fazendo-a arregalar os olhos assustada.
  • 4. 4 Quando seus olhos se cruzaram, Annabel sentiu um frio percorrer sua espinha. O medo fez seu estômago embrulhar. Enquanto ele dava passos para a frente olhando-a fixamente nos olhos, ela dava passos para trás, sentindo o terror tomar conta de sua vida. Os olhos negros daquele homem percorreram Annabel da cabeça aos pés. Por breves instantes ela chegou a sentir leve ternura neles, mas logo este retomou a postura anterior e avançou para ela com uma raiva desconcertante. Annabel estendeu uma das mãos para a frente como para proteger-se e procurou analisar o homem à sua frente. Suas roupas eram grosseiras, porém, de quem estava acostumado a inúmeras batalhas. Calçava longas botas e trazia uma capa negra por cima das roupas. Do lado esquerdo, uma espada. Á sua direita, um belo punhal dourado cravejado com uma única pedra vermelha, um rubi. Seria belo, se não portasse tanta frieza em suas feições tipicamente escocesas. - Annabel...... [sussurou ele] - Quem és tu? [pergunta ela assustada] - Não me reconheces Annabel? Há muito eu te procuro.... e agora não a deixareis mais. - Não! Não te conheço! Sou uma mulher casada. O que queres de mim? [ela falou com arrogância] Dando um passo para a frente, ele a segurou com uma das mãos pelo pescoço, primeiramente com raiva, para em seguida afrouxar as mãos e acariciá-la com ternura e desejo. - Eu quero você Annabel. Tu és minha!! Sempre foi e sempre será! E Ian nunca mais a verá! Dito isto, ele inclinou a cabeça e chegou seus lábios perto dos lábios de Annabel, que tremeu angustiada. Ele a fita nos olhos com uma frieza
  • 5. 5 impressionante e enquanto isso, a enlaçava pela cintura com certa rispidez, fazendo Annabel soltar um grito rouco. - Quem és tu? Por que fazes isto? [pergunta ela] Soltando uma gargalhada insuportavelmente fria, ele responde: - Meu nome é Kyle!! [e virou-a brutalmente para a parede, de costas para si]. A partir de hoje, tu serás minha Annabel e de ninguém mais. - Nãooooooooooooooooooooooooooooooooo !!!!!!!!!! [grita ela Desesperada]. - Simmmmmmm Annabel!! Deixe-me mostrar como posso ser um homem bom para ti! [e soltou outra gargalhada rouca, porém sinistra].
  • 6. 6 Escócia – Parte III Sem se preocupar com os gritos da mulher, Kyle abriu sua calça com uma mão enquanto com a outra, segura os braços de Annabel para cima. Logo depois, a empurra de encontro à mesa, onde ela bate a barriga, fazendo-a sentir uma pontada de dor. Ele levanta suas roupas, procura sua pele em meio a tantos tecidos e quando sua mão toca a pele macia, solta um longo gemido, como se fosse um animal no cio. Mesmo sentindo uma pontada de dor no pé da barriga, Annabel morde os lábios e fica em silêncio quando sente Kyle a tocando intimamente com os dedos. Ele a puxa pela cintura, arqueando o corpo dela de encontro à mesa e levanta o restante das roupas de Annabel. Vendo-a nua, ela para por alguns instantes saboreando aquela visão. Ele sempre a quis, mas ela escolheu Ian e Kyle jurou vingança contra aqueles dois. Lágrimas quentes escorriam pelo rosto de Annabel quando ela sentiu o membro de Kyle penetrando suas carnes. Ela queria gritar, mas sabia que não faria diferença, ninguém a salvaria. Ela continuou sentindo mais e mais estocadas de Kyle dentro de si enquanto palavras desconexas saíam da boca daquele homem. Enquanto ele possuía seu corpo, ela sentia nojo do ato covarde e insano.
  • 7. 7 Depois de saciar-se por longos minutos, Kyle a deita na mesa e abre suas pernas. Annabel chuta o ar, mas Kyle segura suas pernas abertas. O sexo de Annabel estava inchado. Seus pelos estavam úmidos. Aquilo excitou Kyle que começou a beijá-la, cheio de paixão. Sua boca percorreu os seios dela e quando chegou aos bicos rosados, ele a mordeu co força, fazendo-a gritar de dor. Ele não se importava com os gritos dela, só queria possuí-la! Sua boca chegou até o sexo dela e sua língua passeou por todo o contorno de suas carnes até penetrá-la, sentindo, satisfeito, o gosto dela misturado ao dele. Quando tocou o ponto máximo do prazer de toda mulher, ele segurou-o entre os dentes e sugou-o até sentir Annabel parar de chutar. Não havia como não sentir prazer com as manobras da boca daquele homem. Annabel se esforçou tanto a ponto de chorar logo após o orgasmo violento que sentiu. O choro baixo de Annabel só chegou aos ouvidos de Kyle longo tempo depois, após saciar sua fome animal. Annabel foi deixada na mesa, sem o menor carinho. Ele se abaixa, sobe e prende as calças com um cordão à cintura. Seu rosto fitou o dela, calado. Por um momento, ela podia jurar que esse homem possuía sentimentos por ela. Seus pensamentos foram quebrados pela voz vibrante de Kyle, enquanto ele estendia a mão para ela: - Vamos Annabel, levante-se !! Temos um longo caminho a percorrer. - Por favor [diz ela], deixe-me aqui. Você já fez tudo que queria. Não quero ir com você !! - Tu não tens escolha, não tens que querer nada Annabel. Tu vais comigo quer queira, ou não! Vamos !!! [grita a última palavra] Cambaleando, Annabel levanta-se, ajeita as roupas da melhor maneira possível e se encaminha devagar para a porta.
  • 8. 8 Quando chegou do lado de fora, notou que ele tinha invadido a aldeia com muitos homens e todos tiram uma péssima cara. Seu corpo estava tremendo. - Vá se lavar enquanto apronto o cavalo! [exige ele] Escócia – Parte IV Calada, Annabel se encaminha para o mar. Não se incomodava com os rostos desconhecidos aguardando aquele homem fora de sua casa. Com lágrimas escorrendo por seu rosto, ela entra no mar até a cintura e se lava
  • 9. 9 freneticamente como se a água salgada pudesse tirar todos os vestígios daquele homem que possuíra seu corpo, mas que jamais possuiria o seu amor, o seu espírito. Saindo do mar, ela vê Kyle se encaminhando para um belo cavalo negro e em poucos segundos, tenta imaginar se existe outra saída para si. Como se adivinhasse seus pensamentos, Kyle lhe enviou um sorriso irônico e avisa: - Não tens para onde correr meu amor. Tu irás comigo até o fim! Dizendo isso, Kyle montou em seu cavalo e com um puxão brusco na rédea, começou a galopar, pegando Annabel pelo caminho e sentando-a à sua frente. Naquele momento, Annabel soube que não haveria mais salvação para si. Ian estava longe dali e ninguém mais poderia ajudá-la. Com resignação, ela se deixou levar ereta e calada, tentando ficar o mais longe possível do corpo daquele homem que a enojava. Menos de duas horas depois, exausta de medo, tristeza e também da cavalgada, Annabel recostou o corpo no peito de seu algoz sem que notasse e caiu num sono povoado de pesadelos. Kyle, assim que sentiu sua amada relaxando seu corpo contra o dele, deu um leve sorriso. Fechando ligeiramente os olhos, aspirou o perfume dos seus cabelos e acariciou seus braços. Ele jurou a si mesmo que Annabel ainda o amaria tanto ou mais que a Ian. Ele a amara desde a primeira vez que a viu na aldeia. Annabel mal havia completado 18 anos e possuía uma rara beleza. O sorriso dela encantava a todos e Kyle, que até então nunca havia se apaixonado, quis entregar seu coração àquela linda mulher, mas ela se apaixonou por Ian. Lembrando de seu oponente, seus olhos voltam a brilhar intensamente com ódio. A fúria tomou conta do seu ser e ele firmou os pés na barriga do
  • 10. 10 animal, chegando, poucas horas depois, já ao anoitecer, ao ponto de partida para o seu destino. Um navio os esperava já pronto para saírem. Kyle subiu a rampa de acesso ao navio com Annabel nos braços. Ele a observa preocupado. Sua amada estava abatida e com uma péssima aparência. Parecia não haver um pingo de sangue em seu corpo. - Talvez ela precise apenas de um banho e de uma boa alimentação. [pensou em voz baixa] Assim que entra em seus aposentos, Kyle a deita sobre a cama e a cobre com tecidos leves e macios. Sentou-se à beira da cama, observando Annabel dormindo e carinhosamente, passou os dedo pelo seu rosto, tirando uma mecha de cabelos que teimava em cair sobre o seu olho. - Você nunca mais será de outro homem Annabel!! [falou pra si mesmo] Ele saiu em busca da Senhora que trabalhava há anos para ele e que seria dali em diante, a responsável por Annabel.
  • 11. 11 Escócia – Parte V Bem distante dali, alguns homens encontravam-se sentados ao redor de uma fogueira, conversando alegremente. - Em menos de dois dias estaremos em casa!! [fala um deles] - Será que meu filho ainda se lembra de mim?? [comenta outro meio exaltado] - Eu só preciso de um bom banho e de minha cama de volta! [ri outro] Enquanto as vozes destes se alternavam entre o cansaço e algazarras, um homem jazia sentado recostado a uma árvore, em silêncio. Era Ian Magnussen. Alto, forte, tinha a pele um pouco castigada pelo sol e pelo frio, mas não disfarçavam a sua incrível beleza masculina. Os cabelos negros como a noite, soltos até os ombros estavam cobertos por peles que lhe aqueciam. Todos se preparavam para passar a última noite gelada na floresta, antes de voltarem para a aldeia no dia seguinte.
  • 12. 12 Seus olhos cansados, mas felizes, pousaram em seus amigos, companheiros, seus colegas de luta. Todos estavam ansiosos pelo retorno à aldeia. Ian olhou à sua esquerda e sorriu satisfeito. As carroças estavam cheias de comida e pele [caça] que poderiam abastecer a aldeia até o próximo inverno. Fechou os olhos para descansar, mas sua mente estava alerta. Sua amada esposa Annabel não saía dos seus pensamentos. Sorriu para si mesmo, deixando os belos dentes brancos à mostra, uma de suas características que mais atraíam Annabel. Ah como ele a amava! Desde a primeira vez que a viu atravessar correndo o campo de minúsculas margaridas e soltando alegres gargalhadas, Ian só pensava nela. Ela tinha pouco mais de oito anos de idade e Ian, 13. Mas ambos acreditaram no amor à primeira-vista, pois, a partir de então, nunca mais se deixaram e Ian protegia Annabel de tudo e de todos. Com carinho e educação. Com respeito e amor. Porém, Kyle, o filho de um dos homens mais prósperos da aldeia vizinha, não tirava os olhos de sua Annabel. E aquilo preocupava Ian, que não a deixava ir sozinha a lugar algum. Annabel nunca teve olhos para outro homem, por isso ela nunca tinha reparado em Kyle e isso o fazia ruminar um ódio imenso por ela, que era misto de paixão e inveja pela fama de Ian como belo e talentoso guerreiro. Assim, quando Annabel completou 16 anos, Ian pediu-a em casamento e, para alegria de todos [menos a de Kyle], a festa logo se realizou e durou três dias e três noites. Ian tinha 21 anos e nunca havia estado com outra mulher. Sua Annabel era tudo que ele queria. Em sua primeira noite, Ian levou Annabel para a casa que ele construiu com muito amor e carinho. Havia espaço o bastante para os dois e aos muitos filhos que ele gostaria de ter com ela. Ian foi carinhoso, gentil e amoroso em sua primeira noite. Tirou delicadamente todos os tecidos que cobriam o corpo de sua esposa, ficou nu e
  • 13. 13 encostou seu corpo ao dela antes de iniciar um caminho de beijos que percorria todo o corpo de sua amada. Um fogo intenso percorreu suas veias enquanto Ian e Annabel iam descobrindo seus corpos e seus desejos. Os lábios de Ian tocaram levemente um dos seios de Annabel, fazendo com que esta gemesse roucamente. Esse era o código que Ian esperava para saber se devia ou não continuar a tocá-la como gostaria. Seus dentes rodearam um dos mamilos rosados e duros de Annabel enquanto seu corpo ia se encaixando acima dela. Annabel não conseguia ficar parada. Uma de suas mãos percorria as costas de seu amado enquanto a outra descia timidamente ao sexo dele e o segurava com firmeza. O gemido de Ian sinalizava também que ela estava fazendo tudo certo e ambos gostariam que esta noite jamais terminasse Quando Ian penetrou-a gentilmente, Annabel sentiu um misto de dor e prazer que até então nunca havia sentido. Suas unhas cravaram-se com força nas costas de Ian e este a virou de uma vez na cama, fazendo com que esta ficasse por cima e o cavalgasse com vontade. Os olhos de Ian iam dos lábios inchados [pelos beijos] de sua amada e percorriam seu corpo branco, suado e desciam até os seios firmes, auréolas grandes e bicos rosados. Neste instante, Ian a abraçou com força e colou seu corpo ao dela, ambos gemendo alto de prazer. O grito dos dois se misturou ao gôzo intermitente de seus corpos no instante em que, juntos, abriram os olhos e sentiram um halo de luz subindo por suas espinhas em aspiral e saindo por suas cabeças e se entrelaçando acima destas como fossem dois elos se juntando após longa espera. Paralisados com a luz e com o prazer intenso, os dois se abraçaram fortemente, emocionados. Mas era uma emoção de reconhecimento. Um choro contido que precisava exatamente o tempo que os dois se pertenciam, ou seja, sempre!!
  • 14. 14 O movimento dos cavalos trouxe Ian de volta de seus devaneios e ele suspirou profundamente antes de pegar no sono. Não via a hora de chegar em casa, sentir o cheiro de Annabel, sentir o gosto da pele de sua amada e poder estar dentro dela para que ambos sentissem novamente aquela luz maravilhosa que emanava de seus corpos quando faziam amor.
  • 15. 15 Escócia – Parte VI O balanço das ondas no meio da madrugada despertou Annabel de um sono profundo. Olhando assustada para os lados, ela viu uma senhora adormecida, sentada em uma cadeira ao lado da sua cama. Seus olhos pousaram em si mesma e ela não reconheceu a camisola de nobre tecido branco e de mangas compridas que estava usando. Seja lá quem tenha trocado sua roupa, soube do bebê. [pensou preocupada]. Recostando novamente a cabeça no travesseiro, Annabel acariciou carinhosamente sua barriga e ficou observando tudo a sua volta. Lindas e ricas cortinas de veludo vermelhas enfeitavam as janelas do navio. Os móveis eram de madeira escura e obviamente pertenciam a alguém muito rico. Em cima da mesa havia um lindo jogo de chá da mais pura prata. No outro canto, um belo armário expunha belos trabalhos em porcelana. O fino lençol que a cobria era feito de um tecido que Annabel jamais imaginou que existisse. Era branco e todo bordado à mão, gostoso ao toque. O cheiro das roupas e dos lençóis também era agradável. Porém, seus pensamentos voltaram até o homem que a tinha levado. Ela não tinha a menor idéia de quem ele era e porque fazia aquilo com ela. E Ian?? Deus, quando ele chegasse e não a visse, o que ele iria pensar ??? Com aquela preocupação na cabeça, Annabel chorou até pegar no sono novamente. A senhora acordou com os seus soluços e sentiu pena da moça, mas não podia fazer nada, pois era apenas uma serviçal de Kyle.
  • 16. 16 Ela pensou no filho que a mulher esperava e ficou preocupada, mas não contou à Kyle. Esperava a moça acordar para conversarem. Ela estava muito abatida e ela tinha medo do que poderia acontecer ao bebê. Levantou-se e passou um pano úmido no rosto de Annabel, que lutava contra os pesadelos, num choro sentido. Foi até a pia da cabine, encheu uma chaleira de água e fez um chá calmante para a moça. Ela precisava diminuir aquela agitação da moça, senão poderia perder o filho. O céu se multiplicava em lindas cores que ia do cinza ao azul escuro, do vermelho ao laranja e lilás, quando Ian e seus amigos se puseram a caminho da aldeia. Todos estavam em silêncio, pois quase não haviam dormido, ansiosos por voltarem ás suas famílias. O frio já se iniciava, por isso, era bom se apressarem, pois ainda era preciso distribuir a comida e a pele a todos da aldeia. No meio da manhã já estavam muito cansados por causa da caminhada. Precisavam parar para se alimentar, bem como dar água e comida aos animais que carregavam a pesada carga. Ian e seus amigos se banharam num rio a poucos metros de distância e aproveitaram para assar alguns peixes que pegaram ali mesmo. Descansaram por uma hora e voltaram á exaustiva caminhada. Enquanto isso, Kyle fitava silenciosamente Annabel dormindo. Seu rosto era lindo [pensava ele]. Mas a paz que emanava dela era o que atraía Kyle. Annabel o fazia refletir sobre sua vida. Ele estava cansado das longas batalhas, sobretudo, estava cansado de viver sozinho. Tudo que queria era
  • 17. 17 viver em um lugar mais tranqüilo e dar uma nova vida àquela mulher. Ele tinha absoluta certeza que o tempo a ensinaria a amá-lo. Seu olhar pousou nas suas finas e delicadas mãos que, inconscientemente, descansavam sobre sua barriga. A barriga que abrigava o de Ian. A esse pensamento, Kyle levantou-se nervoso e foi até a mesa. Pegou uma garrafa de vinho, adicionou seu conteúdo a um copo e o sorveu de uma vez. Olhou novamente para Annabel e chamou a senhora que estava cuidando dela. - Quando ela acordar, dê-lhe um banho e a sirva com uma refeição farta. Não a deixe fazer esforço e cuide dela muito bem! A senhora apenas assentiu com a cabeça e saiu para aprontar o banho da moça. Ela sabia que devia fazer exatamente o que ele pedia ou poderia ser severamente castigada. Pouco depois, Annabel acordou meio enjoada, mas o cheiro dos ovos mexidos mexeu com seu estômago vazio. Estava com tanta fome que não pensou muito e comeu tudo que tinha na bandeja ao lado da cama. A velha senhora a observava calada, porém, com atenção. Assim que terminou sua refeição, Annabel pediu para ir ao toilette, o que a senhora indicou com a cabeça. Lá dentro, Annabel se olhou em um espelho na parede à sua frente e notou as olheiras profundas e escuras embaixo dos olhos. Seu rosto também estava muito abatido [observou sentindo as primeiras lágrimas chegarem aos olhos]. Depois do banho, ela saiu do banheiro e, antes de chegar até a cama, sentiu uma pontada de dor abaixo do ventre e junto com esta, uma leve tontura. A senhora correu para acudi-la antes que ela caísse, e a deitou na cama. Ela tentou ficar quieta, mas a lembrança dos acontecimentos a deixaram nervosa e as dores aumentavam com o passar do tempo, fazendo
  • 18. 18 com que, ao final do dia, Annabel tivesse febre alta, começasse a delirar e a chamar o nome do marido. Kyle foi chamado às pressas até os aposentos de Annabel e ficou horas sentado observando-a enquanto a mulher banhava seu rosto com água misturada a algumas ervas. No final da tarde, Kyle, que cochilava ao lado da cama, acordou com um grito de terror e viu Annabel levantar o corpo do travesseiro e seu rosto estava branco como um papel. Ela colocou a mão na barriga e logo se perdeu nas profundezas de um desmaio. Após examiná-la cuidadosamente, a velha senhora avisou à Kyle que Annabel estava perdendo sangue.... e provavelmente, estava perdendo também a criança. Kyle se levantou nervoso e implorou para a mulher não deixar Annabel morrer. Daria uma boa recompensa a ela, se ela salvasse a vida de Annabel. A mulher balançou a cabeça em silêncio e continuou seu trabalho junto à Annabel. Escócia – Parte VII Nesse mesmo instante, Ian sentiu uma leve tontura! Parou um pouco, tomou água e franziu a testa. Seus pensamentos foram direto até sua esposa.
  • 19. 19 Seu coração estava apertado e uma saudade absurda tomou conta de seu peito. Sentiu que Annabel não estava bem e isso fez com que apressasse a caminhada. Que Deus não deixasse nada de mal acontecer á sua amada [pensou ele]. Kyle estava bastante abatido. Depois de travar uma luta o dia todo com ervas, a velha senhora avisou que Annabel perdera a criança. Ele sabia que ela o odiaria ainda mais por isso. No momento, não tinha nenhum plano, mas teria que pensar em algo cedo ou tarde. Fitou o céu escuro e um pequeno arrependimento brotou em seu coração. Não devia tê-la possuído à força [pensava]. - Se ao menos eu soubesse que ela esperava um filho, eu teria sido mais gentil !! - Inferno !!!!! [gritou ele, batendo o punho com força na parede do navio] E agora, o que faria para que ela confiasse nele e o amasse ?????? [com esses pensamentos fervendo em sua cabeça, Kyle abriu uma garrafa de conhaque e bebeu o resto da noite até dormir de cansaço]. No exato momento em que Ian avistou a aldeia, Annabel abriu os olhos vagarosamente. Não se lembrava de nada, mas sentiu leve desconforto e pousou a mão em seu ventre. As lembranças retornaram e ela se pôs a chorar baixinho. Perdera seu filho. Perdera seu bem precioso. Perdera uma parte de Ian. Perdera sua vida.
  • 20. 20 O choro contido cedeu lugar a gritos desesperados de mágoa e rancor contra Kyle e contra Deus. Kyle ouviu seu choro desesperado e passou o dia angustiado, evitando entrar no quarto e ver o rosto de Annabel. Algumas horas depois, a senhora o informara que Annabel se negava a comer e a beber água. Kyle entrou em seus aposentos e o que viu, deixou seu coração apertado. A bela Annabel se transformara. Seu rosto abatido perdera a cor. Seus olhos perderam o brilho e ela fitava um ponto qualquer. Pequenas gotículas pairavam em sua testa e acima dos seus lábios, onde a mulher banhava para extrair a febre. Ian estranhou o silêncio da aldeia e caminhou rapidamente, notando que poucos vieram recebê-los. Alguns abaixavam a cabeça quando o viam passar. Algumas mulheres correram ao encontro dos maridos e começaram a chorar e falar ao mesmo tempo. Ian não entendia nada, mas seu coração disparou e pressentiu que algo de ruim havia acontecido. Correu pela encosta acima até sua casa. Pelo caminho, viu a cesta caída e um caminho de flores que levava até a porta de sua casa. Empurrou a porta dos aposentos à procura de sua esposa e tudo que viu foi uma cadeira virada, um copo e uma garrafa ao lado da mesa. Um medo imenso tomou conta do seu ser quando ele se virou para a cama e viu o pequeno embrulho caído no chão. Abriu o pacote e viu a peça. Sabia o que significava. Sentou à beira da cama e passou as mãos, nervoso, pelos cabelos. Era um presente que seu bisavô dera para a sua bisavó e que passara a todas as mulheres da família. Ian passou a ponta do dedo indicador pela peça. Era um belo sol feito de ouro puro. Dentro do sol, havia uma meia-lua e ao lado deste, uma estrela de cinco pontas.
  • 21. 21 A pesada corrente, também feita de ouro, lembrava Ian e Annabel de quando eles faziam amor, da aspiral de luz entrelaçada. Era uma linda e rica peça. Ian dera a Annabel no dia do casamento e ela guardava com muito amor para dá-la ao seu primeiro filho ou filha [sorria triste Ian]. Ian se levantou quando ouviu o barulho de alguém entrando pela porta e fitou longamente o rosto do seu melhor amigo, Jilles. Junto dele, sua esposa chorava baixinho e explicava a Ian o que havia acontecido. Uma raiva surda tomou conta de Ian. Algumas pessoas da aldeia haviam reconhecido Kyle e tentaram impedi-lo de levar Annabel, mas dois deles morreram lutando, outros foram feridos gravemente e o restante não tinha força suficiente para lutar contra Kyle e seus homens, pois os melhores guerreiros estavam caçando com Ian. Ian se levantou, puxou o tapete para o lado e abriu uma pequena portinhola que ficava escondida sob a mesa. Lá de dentro pegou sua espada, um punhal e o brasão da família Magnussen. Jilles saiu e voltou com cinco dos melhores homens e saíram a cavalo junto com Ian à procura de Annabel.
  • 22. 22 Escócia – Parte VIII Três dias se passaram e Annabel não reagia. Sua febre não baixara, indicando provavelmente uma infecção provocada pela perda do filho. Ela não reagia, não se alimentava e mal engolia água.
  • 23. 23 Kyle estava desesperado para pararem o navio e levar Annabel à terra firme. O capitão logo avisou que dentro em pouco poderiam desembarcar e ele estava esperançoso que ela melhorasse quando chegasse. Ele passou horas ao lado da cama dela, segurando a sua mão. Às vezes, ela abria os olhos, sorria e chamava por Ian. Kyle mordia os lábios, irritado, mas nada podia fazer, afinal, ela estava muito doente. Ian e seus amigos estavam exaustos. Descobriram que Kyle havia tomado um barco com seus homens e levara Annabel para o outro lado do oceano, provavelmente para a aldeia de sua família. Desesperado, partiu com seus homens em busca de sua esposa e fez praticamente todo o trajeto em silêncio. Ele sentia muita raiva, mas a preocupação com a saúde de sua esposa era maior. Ele só queria ela viva e de volta para ele. Assim que o navio ancorou, Kyle embrulhou cuidadosamente Annabel com o lençol branco bordado e a deitou em seu colo. Desceu a rampa com alguns homens para a terra firme. No meio da rampa, Annabel sussurrou algumas palavras e Kyle só entendera que ela chamava Ian. Assim que terminaram de descer, Kyle deitou carinhosamente Annabel no chão, recostou sua cabeça em seus braços e deu-lhe água. Mal engolindo alguns poucos goles, Annabel olhou para Kyle e falou baixinho: - Jamais fui tua. Jamais serei! Amo meu esposo e o amarei eternamente. Você matou nosso filho e a mim também. Eu o odiarei por toda a eternidade e espero que Ian o encontre e o mate! Com o rosto transtornado, Kyle respondeu:
  • 24. 24 - Não Annabel !! Você será minha, você me amará, prometo!! Farei tudo que você quiser, mas fique comigo! Eu cuidarei de você, eu a amo. Por favor, não morra! Olhando para ele com os olhos sem brilho, Annabel apenas respondeu, sussurrando: - Nunca! Com a voz fraca, Annabel ainda teve forças para olhar para o céu e sussurrar: - Ian minha vida..... te reencontrarei logo meu amor....adeus.... Dizendo isso, ela fechou seus olhos para sempre e sua cabeça pendeu para o lado, voltada para o peito de Kyle. Com terror, Kyle virou o rosto de Annabel de um lado para o outro e gritou olhando para o céu: - Deus! Não a deixe morrer! Eu a amo! Ela é minha, só minha !!! Ficou abraçado a ela por muitas horas até que a Senhora tocou seu ombro de leve e pediu para preparar o corpo de Annabel. Em silêncio, ele deixou o corpo dela na praia. Levantou-se chorando e blasfemou contra Deus. Logo ele montou o cavalo e saiu em disparada. Enquanto isso, a mulher embrulhou o corpo de Annabel no lençol branco com algumas ervas e chamou alguns homens para ajudarem-na na preparação da despedida do corpo e do espírito. Com respeito, os homens colocaram o corpo de Annabel em cima de pedaços de troncos de árvore dentro de uma pequena barca. Enfeitaram com flores e folhas perfumadas das imensas de árvores nativas.
  • 25. 25 Por fim, acenderam o fogo das tochas improvisadas que ficaram ao redor do corpo de Annabel e puseram a barca no oceano no exato momento em que Kyle voltava. De longe, fitaram o fogo aumentando e o corpo sendo consumido pelas chamas. A velha senhora se pôs a entoar um cântico triste de despedida e entrega do espírito de Annabel. Kyle fitava o corpo de sua amada ardendo nas chamas da fogueira sumindo junto ás águas do oceano enquanto sentia lágrimas correndo por seu rosto. - Do que adiantou? [pensava alto] - Ela nunca foi minha mesmo. Nunca me amou. Uma raiva surda tomou conta de seu espírito e ele saiu caminhando de um lado para outro gritando a quem pudesse ouvir que Annabel ainda seria sua, nem que fosse preciso ir atrás dela na eternidade. Todos ficaram em silêncio, com os cenhos franzidos, preocupados com o seu líder. Ele não parecia bem. Eles tinham que fazer alguma coisa para ajuda-lo, mas ele parecia fora de si.
  • 26. 26 Escócia – Parte IX Dois dias depois, o barco que levava Ian e seus homens ancorou no mesmo lugar que Kyle havia estado. Assim que chegou em terra firme, ele saiu perguntando sobre Kyle, mas quase nenhum dos moradores sabia informar- lhe. Ao final do dia, um deles contou a Ian tudo o que havia visto e ele soltou um grito surdo de dor e desespero. Ajoelhou na praia e fitou o oceano
  • 27. 27 em prantos, como se pudesse trazer sua esposa de volta. Não podia ser verdade [pensou ele]. Sua Annabel não podia estar morta! [repetia para si mesmo várias vezes]. Seus amigos choraram junto com Ian. Nenhum deles disse uma palavra. Apenas choravam a dor do amigo, companheiro e líder. Horas depois, Ian segurou a corrente ao pescoço e jurou aos céus e à sua amada Annabel que mataria Kyle. Levantou-se e voltou com os companheiros ao barco para irem em busca de Kyle. A viagem foi angustiante para Ian e seus companheiros. Muitas informações desencontradas de um lado e do outro os levaram a vários lugares e nada de encontrarem Kyle. Após dois meses procurando em todas as aldeias dos arredores, um morador deu uma pista de Kyle e Ian partiu sedento de sangue. Seus companheiros estavam visivelmente exaustos, mas não abandonaram Ian em nenhum momento. Deviam isso a ele, afinal, todos viviam na mesma aldeia e eram como irmãos. Desembarcaram, enfim, a noroeste da ilha onde Annabel perdera a vida. Ian dividiu os poucos companheiros para procurarem por Kyle e saíram em várias direções. Ele só pensava em vingança. Ele queria matar Kyle! Não entendia porque sua esposa morrera, mas o culpado era aquele maldito homem que perseguia Annabel com o olhar desde que ela era apenas uma adolescente. No início da tarde, Ian ajoelhou-se ao lado de um riacho, encheu seu cantil de água, lavou-se e sentou-se embaixo de uma árvore para se refrescar.
  • 28. 28 Estava exausto, precisava descansar. Estava de olhos fechados quando ouviu um barulho atrás de si. Era Kyle montado no lindo cavalo negro. Ian levantou-se imediatamente e desembainhou sua espada. Seu rosto estava visivelmente cansado, porém, demonstrava toda sua ira contra aquele homem que tirara sua esposa de si. Kyle estava abatido, mais magro e com a fisionomia triste. No entanto, lançou um sorriso cínico em direção a Ian e, pegando sua espada, falou: - Eu não queria que ela morresse! Infelizmente, durante a viagem, ela se sentiu mal. - Cale essa maldita boca! Tu não podes tocar no nome de minha esposa. Agora vou te matar e jogar teu corpo aos bichos. - Ora, ora Ian.... porque tanta revolta? Eu estava apaixonado por Annabel e ia dar uma vida digna a ela e ao filho. - Filho.... que filho? Do que está falando? (perguntou Ian, assombrado). Com o rosto aturdido, Kyle respondeu: - Então você não sabia que ela estava esperando um filho.....? Antes que ele terminasse a frase, Ian partiu pra cima dele e travaram uma luta ferrenha. Lágrimas rolavam pelo rosto de Ian durante a luta. Seu coração estava apertado, despedaçado. Sua esposa esperava um filho seu e aquele homem os tirara de si. Ele tinha tanto ódio no coração, que esqueceu todos os ensinamentos que seu pai lhe impunha quando mais jovem. Naquele momento, não havia controle emocional. Tudo que ele queria era matar Kyle!!
  • 29. 29 Algum tempo se passou até que os dois tombassem por terra. Kyle estava morto, e Ian, visivelmente fraco, vertia sangue de uma grande ferida logo abaixo do ombro direito, bastante ferido. Com a mão na ferida, Ian se recostou à arvore e fitou o corpo do homem que tirou a vida de sua esposa e seu filho. Virou o rosto pro riacho. Enfiou a mão por dentro da roupa e segurou, com força, o medalhão preso ao pescoço enquanto a outra mão foi pendendo lentamente ao lado de seu corpo se esvaindo em sangue. Ele olhou para o céu com uma tristeza profunda nos olhos e sussurrou amargurado: - Porque levar a mulher que tanto amei e ainda deixar nosso filho morrer? Por quê? Foi tudo culpa minha! Eu não devia ter demorado tanto a voltar da caça. Eu não devia ter deixado a aldeia desprotegida! - Annabel meu amor, perdoa-me por tudo [chorava Ian]. Eu não mereço o teu amor. Deixei-a sozinha à mercê desse monstro e não pude chegar a tempo de salvá-la. Eu devo pagar por esta tua dor minha amada. Perdoa-me por não estar contigo quando mais precisastes de mim. Eu te amo mais que a mim mesmo meu amor. Sempre te amei e sempre te amarei... eternamente. Começando a delirar, Ian continuava a gemer: - Não me deixe sozinho minha vida! Segure as minhas mãos e me leve para onde estiveres. Prometo estar sempre com você, se me for dada nova oportunidade.
  • 30. 30 Prometo cuidar de você e de nossos filhos e nunca deixá-la sozinha e desprotegida outra vez. Prometo jamais largar as tuas mãos e ser teu fiel e eterno amor! Largando a mão que segurava o medalhão, Ian olha mais uma vez á sua frente... quando de repente, em meio às lágrimas, um sorriso de esperança brotou dos seus lábios, ao ver sua amada lhe estendendo as mãos e, num último suspiro, seu corpo estremece, e ele tombou a cabeça, sem vida. Algumas horas depois, seus companheiros encontraram o corpo de Ian recostado á árvore. Eles ficaram intrigados com o sorriso nos lábios do amigo. Aprontaram seu corpo e, assim como foi feito com o corpo de Annabel, entoaram um cântico de despedida, libertando o seu espírito junto às chamas que engoliam seu corpo rumo ao mar. Algumas pessoas da aldeia comentaram por várias gerações.... sobre a visão de um casal feliz, que era sempre visto correndo, de mãos dadas com uma criança, brincando pela praia. ... E o riso deles era ouvido de longe.... muito longe..... muito....