2. 1. Pesadelo
Nataniel chegou em casa após um longo dia de
trabalho e não aguentava mais ficar em pé.
Como se não bastasse, precisou ouvir a
mulher falar sobre seu dia, reclamar sobre clientes e
outras coisas que simplesmente não conseguiu
prestar atenção porque suas pupilas se fechavam
lentamente. E foi acordado dois segundos depois,
por algo que pensou ser um grito.
Era apenas uma risada fina e alta da mulher.
Sua consciência o traía, fazendo ouvir coisas que
não eram ditas. Sons que não eram emitidos.
O cabelo era castanho claro e sua franja era
um pouco comprida, ele gostava dessa maneira.
Após nove horas agarrando o cabelo e puxando-o
porque seus alunos não calavam a boca, não gostava
mais dele.
Chegava em casa e a primeira coisa que
pensava era preciso cortar o “ cabelo”. Mas no outro
dia tudo voltava ao normal, então o cabelo crescia e
3. crescia, até que chegava a um ponto em que a
mulher não aguentava mais.
Karine, eu não aguento – mais essa vida –
reclamou e esparramou-se na cama, a mulher vestia
sua camisola branca de seda enquanto observava-se
no espelho.
– Qual o problema, Nat?
– Eu simplesmente não consigo. É coisa
demais, preciso pedir demissão.
– E vai fazer o que? Ganhar na loteria?
Porque essa é a única opção.
– Ah... mas é... tão difícil. Hoje um dos meus
alunos me perguntou se a gravidade era a causa do
aquecimento global! Eu não fiz física pra isso, não.
Karine deitou-se ao seu lado, observando-o
com o olhar de quem já passou por aquela situação
diversas outras vezes e já decorou como deve
proceder.
– Mas você adora dar aulas. E mais...
precisamos do dinheiro.
Foi uma olhada sutil, mas Nataniel percebeu
4. que ela olhou para o outro lado do corredor, para o
quarto da filha.
Dormiram em poucos minutos, o sono ainda
não era profundo, mas viera em boa hora. Nataniel
possuía um sorriso no rosto por conta da felicidade
de suas pálpebras, que finalmente se fecharam.
A casa estava em silêncio absoluto, nem
mesmo os mosquitos podiam ser ouvidos. A calada
da noite trazia uma surpresa para a família que
dormia em paz, ou, ao menos, para o casal que
repousava despreocupado.
Papai. Papai a voz fina – – e assustada vinha
do quarto da filha.
Nataniel acordou num susto. A voz da filha o
acordava sempre, em qualquer circunstância, e era
assim desde que a garota possuía um dia de vida.
– O que foi, Violeta? – entrou no quarto e
sentou na cama, ao lado da filha, enquanto
esfregava os olhos para não acabar dormindo sobre
a garota.
- Eu tô com medo, papai – ela disse e
5. abraçou-o, com seus braços lutando para abraçá-lo
direito, mas eram pequenos demais. Se sentia
desconfortável, mas mais calma.
Tudo bem, Violeta, – tudo bem! O que foi
que aconteceu? – ele fazia um cafuné no cabelo
louro e um pouco comprido da garota.
A menina se pôs para trás, saindo dos braços
do pai e apontou para o outro lado do quarto.
O quarto era branco e cheio de brinquedos,
com todos em perfeito estado. Estante para livros
futuros, por enquanto cheia de algumas lembranças
dadas por amigos dos pais ou madrinhas e
padrinhos.
Um escrivaninha, também vazia, esperava
alguém que fosse até ela para escrever uma bela
história.
Do outro lado do quarto, após o meio com
algumas roupas jogadas no chão – não recolhidas
pela empregada por ordem da própria mãe –, uma
porta branca com pequenos desenhos de flores
rosas.
6. Flores que, segundo a mãe, seriam facilmente
cobertas por tinta branca caso esse fosse o desejo da
filha quando ficasse mais velha. Ela sabia que a
garota não gostaria de ter flores rosas em tudo para
sempre.
A porta dava para dentro de um pequeno
armário, quase que um closet.
O que foi? o – – pai sussurrou enquanto
observava a porta junto da filha.
– Eu não quero ele lá! Não consigo dormir –
uma lágrima desceu pelo olho de Violeta, o pai a
tirou do rosto com o dedão, levemente, para não
machucar a mocinha.
– Tudo bem, Violeta. Vai dormir, eu vou
dizer para ele sair de lá!
Ela assentiu e encolheu-se nas cobertas
novamente. A noite estava fria, e ela voltou a
dormir rapidamente.
Nataniel passou a mão pelo cabelo da filha e
voltou para seu quarto, já sonhando com a cama
que o esperava.
7. O que aconteceu? – – Karine perguntou sem
abrir os olhos enquanto ele se deitava.
– Ela teve um pesadelo, só isso.
2. O Armário
A casa da família Queiroz era bonita, embora não
muito grande. Era toda branca, uma cor pacífica. O
jardim era grande o suficiente para que Violeta
brincasse nele nos dias quentes.
Nenhuma flor ou planta, apenas grama
pontiaguda, porém fofa. Assim como uma pista de
pedra clara para o carro entrar no pátio e ser
estacionado sobre uma proteção do sol que ficava ao
lado da casa.
À noite, tudo ficava escuro, mas isso era
óbvio. O que não era óbvio é que, de dia, tudo
ficava vulnerável para que as mais medonhas pessoas
entrassem na casa. Mas aquela não era uma pessoa.
Se muito, um demônio vestido de humanoide.
– Papai – Violeta chamou novamente, e o pai
8. foi até o quarto, apenas porque não queria acordar
Karine e dizer é sua “ vez”. Ela dormia tão
pacificamente, como um anjo que repousa no
paraíso.
– Que foi, Violeta? – fez o mesmo ritual de
antes, mas sem perceber ele.
– Tira ele daqui, pai – implorou a filha.
– Violeta, não tem nada lá! – olhou de relance
para o armário, agora com a porta entreaberta.
– Mas ele me dá medo – sussurrou a garota
enquanto encarava um canto do quarto.
O pai lentamente virou o pescoço, olhando
para trás e vendo-o. O homem era alto, o cabelo era
longo, mas os fios eram poucos. O olho brilhava
num tom vermelho e ele o olhava com a cabeça
inclinada e sorrindo ameaçadoramente.
Não piscava, o que o deixava ainda mais
assustador. Nem mesmo pupilas possuía. Seus olhos
eram secos como o deserto. Usava um macacão de
fazendeiro, azul e surrado, sujo também.
O coração de Nataniel deu um salto e ele saiu
9. da cama, pondo-se em frente a filha. Se o homem a
quisesse, já a teria matado, se estava realmente em
seu armário, pensou.
Quem... a voz – – saiu como um sussurro
alto, e falhou na metade da sentença. Não sabia
direito o que perguntar, não sabia nem mesmo se
conseguiria perguntar.
– Tira ele daqui – pediu a filha novamente.
– Tudo bem, filha – conseguiu dizer sem
expressar tanto pavor, mas foi difícil.
O homem alto continuava a observá-los, e
apenas isso. Era como se esperasse para atacar,
aguardasse pelo momento ideal. Isso deixava o pai
em um pânico interminável.
O quarto estava no completo escuro, sendo
iluminado apenas pela tênue luz que vinha do
corredor que ligava os dois quartos e a escada, e
também pela luz vermelha que brilhava no olho do
homem.
Agarrou a filha pela mão sem tomar o
cuidado de ser delicado, empurrou-a para seu lado e
10. foi andando devagar. Pretendia sair do quarto antes
de ser atacado, ao menos levar a filha para um lugar
seguro.
Lembrou-se de Karine, que dormia como um
anjo no quarto que podia, a qualquer momento, ser
invadido por um demônio. O homem de macacão
de fazendeiro não mudou de lugar, apenas os
acompanhou com o olhar. Sua pele era de velho, e
seu olhar era petrificante. Nataniel estava indeciso.
Não teria como levar a filha junto para o quarto
sem botá-la no risco de bater em algo, pois entraria
lá encarando o homem, e a filha, atrás dele, seria
guiada nas cegas. Não podia deixar Karine lá
porque havia o perigo de ele chegar até ela e a
matar, se é que faria isso.
Gritar para ela? E se isso ativasse o demônio?
Até agora, os seguia com o olhar esquisito, mas e se
gritar fosse o fazer atacar? Se atacasse, Nataniel não
saberia como reagir. Provavelmente seria o
primeiro a morrer, seguido da filha e então esposa.
Não, gritar não era uma opção. Agora o demônio
11. começara a soltar um grunhido agudo e pavoroso.
Nataniel? Karine – – chamou seu nome, o
demônio parou sua respiração e olhou-o enquanto
inclinava a cabeça ainda mais, aproximando-se.
Agora ele andava.
– Shhh – tentou falar para a esposa, pois não
poderia gritar para que calasse a boca porque ele
estava cara a cara com um homem esquisito que
andava lentamente, em passos pesados como o da
criatura do dr. Frankenstein.
– Nat? – agora a mulher sussurrou, e
levantou-se da cama enquanto segurava a camisola
de seda com as mãos, era curta demais para andar
com ela no frio da noite, mas não sabia o que
acontecia fora de seu quarto. O cabelo de Karine
era louro escuro e cacheado. Ela estava, como Nat
mesmo disse antes de dormirem: “Sensual demais
para que se pudesse acreditar”. Ele a beijou, se virou
e tentou atingir o sono REM. Fora acordado pouco
tempo depois pela filha, e foi quando tudo
começou.
12. Ela andava em passadas leves, como de
bailarina. Chegou na porta e viu o que Nataniel via.
O homem parado passara a encará-la rapidamente, e
agora avançava mais rapidamente.
Segure ela! Nataniel – – disse e a mulher
obedeceu, pegando a filha e preparando-se para
fazer algo, qualquer coisa que o marido fizesse. Ele
era o físico, o que ele esperava que ela fizesse?
Com muita relutância e pouca força de vontade,
Nataniel empurrou o homem e o deixou preso
contra a parede, prendendo o pescoço com o braço
direito, e segurando seus braços com a mão
esquerda.
– VAI! – gritou com raiva, a mulher estava
petrificada ao seu lado. Acordou num instante e
desceu as escadas correndo, enquanto segurava
Violeta, que começara a chorar de leve.
O homem começou a rir enquanto era quase
estrangulado pelo braço fraco, porém fortemente
pressionado contra seu pescoço. A risada era
13. profunda e aterrorizante, parecia vir direto de sua
alma. Se é que tivesse uma.
A boca completamente aberta, ele gargalhava
como se estivesse numa peça de stand-up, seus
dentes eram podres e com respingos de sangue
escuro neles. Pouco tempo depois, uma fina linha
vermelha escura desceu pelo canto direito da boca.
Nataniel a notou e viu as outras acompanharem a
primeira. Ele sangrava, como se tivesse antes sido
esfaqueado até a morte.
O macacão azul era encharcado de vermelho,
mas seu sangue não parecia comum. Não parecia...
humano.
Nataniel o empurrou forte uma vez, para
desnorteá-lo e desceu as escadas também, para achar
a mulher e a filha.
Tudo bem, querida, – tudo bem! – Karine
esfregava o cabelo de Violeta e balançava-a como se
fosse um bebê que se assustou com o barulho de um
trovão. Violeta soluçava e fazia uma careta de
choro, embora ele não pudesse ser ouvido.
14. Que merda vocês ainda – tão fazendo aqui?
Era para terem saído! – gritou com elas quando
desceu, seu rosto estava vermelho de raiva e ele
olhava para cima, querendo ver se o homem os
seguia.
Tudo vazio, o que era pior. A parede branca,
embora manchada com o sangue do maldito, estava
sozinha. Parecia ter desaparecido para ir atormentar
outra casa, ou então apenas tomara um tempo para
decidir quando voltar a atormentar aquela.
3. A Porta
– Como você queria que a gente saísse se você tava
lá em cima dando uma de herói? – Karine gritou de
volta. Nataniel pareceu bravo com a situação, mas
calou-se.
– Saiam. Agora! – gritou e apontou para a
porta, Karine segurou a filha mais forte nos braços e
correu até a porta branca.
Estavam na sala de estar, e ela parecia ter sido
assaltada. O sofá fora rasgado com uma faca e toda a
15. espuma interior estava para fora. As cadeiras puffs
também estavam espalhadas pela sala, como se
jogadas do andar superior.
Nataniel olhou para cima e viu-o. Estava
apoiado no vidro de proteção – manchando-o com
aquele sangue sujo – e sorrindo com os dentes
podres. Em sua mão direita, uma grande faca cutelo.
Nataniel já viu até mesmo o anúncio:
“Cutelo. Ideal para cortar ossos”. Não fora algo
parecido que fizera ele comprar uma parecida com
aquela? Não se lembrava, comerciais mexiam
demais com sua mente, e era impossível se lembrar
de todos.
– Aquilo é... meu! – ele notou, por fim, que o
homem segurava sua própria faca.
Correu até a cozinha – que era separada da
sala apenas por alguns balcões brancos. Sim, a faca
era sim dele. A parte superior do balcão branco que
comportava gavetas com talheres e toalhas estava
suja, não apenas de sangue, mas também de terra.
Era como se aquele demônio tivesse subido
16. até a Terra diretamente do inferno, escavando seu
caminho por meio da sujeira que estava na terra.
Abriu a gaveta e pegou outra faca – era uma
simples faca trinchante de cabo preto. Não era nada
comparada a cutelo – ou “faca de açougueiro”,
como Karine a chamava –, mas serviria para se
proteger e proteger as duas amadas.
Conseguia ouvir o grunhido de Karine
enquanto incansavelmente tentava abrir a porta,
com a mão já vermelha pois não aguentava mais.
Começou a bater nela tentando pedir por ajuda,
mas as pessoas das outras casas já deveriam estar
dormindo.
– Socorro! – gritou com força diversas vezes,
a voz chegou a falhar no último grito. Respirou
fundo e sentiu uma pontada no coração. Nataniel se
aproximou segurando a faca na mão direita, ela o
viu – Tá trancada!
– Então destranca, ora! – gritou e quase
perdeu a paciência.
– Você acha que eu não tentei isso, já? – ela
17. levantou a mão para mostrar o que segurava, a
chave da porta estava quebrada, como se tivesse sido
colocada numa fechadura errada e girada
fortemente. E ela já tava assim, – antes que resolva
me culpar!
Ouviram a respiração bufante do homem que
não conheciam e nem desejavam conhecer. Não
estava perto deles, mas era como se estivesse.
Pareciam sentir seu bafo e o ar quente de sua
respiração, parecia estar juntinho deles. Nataniel
sentiu um calafrio.
– Fique aqui! – ordenou para a mulher e
começou a andar sorrateiramente até o salão de
festas da casa. A parede de lá era de vidro, com uma
porta também de vidro que dava para o jardim
grande e de grama verde no meio.
A porta do lado deles era de correr e opaca.
Estava entreaberta.
A respiração pareceu se intensificar. O salão
estava com as luzes desligadas, assim como a sala,
mas nela era mais claro por conta da luz da lua. No
18. salão, apesar da parede de vidro, tudo estava escuro.
Ele entrou no salão e estava no centro dele,
olhando para todos os lados ao mesmo tempo, sua
cabeça girando. A respiração permanecia constante,
e ele sempre com o sentimento de que o homem
estava ao seu lado.
O pior é que até mesmo poderia estar, mas ele
não teria como saber. O homem poderia estar ao
seu lado, e Nataniel nem mesmo o veria. O escuro
escondia um ser inexplicável ou um maluco
improvável.
Mas muitas coisas eram improváveis naquela
noite, então como poderia ter certeza do que era
aquele homem? Humano ou demônio?
E mesmo se fosse humano, o que teria
acontecido com o coitado para ficar daquela
maneira?
Nataniel sentiu o homem o observando com
seus olhos sem pálpebras, que não piscavam nunca,
encarando-o com a cabeça inclinada e um sorriso
irônico no rosto.
19. Olhou para trás e viu a mulher balançar a
filha nos braços, dizendo-lhe palavras de conforto.
Aproximou-se da parede e apertou o interruptor de
luz.
A luz era tênue, como se estivesse falhando,
também bruxuleava e não iluminava quase nada.
Parecia estar em “meia fase”.
Foi o suficiente para fazer um esboço do rosto
do homem. Nataniel voltou o olhar para frente e lá
estava o monstro, tal como imaginara, porém quase
colado a ele. A boca ainda derramando uma fina
linha de sangue. Ele parecia querer mostrar a faca
cutelo que segurava, mas não era isso o que queria
fazer.
Aproximou-se ainda mais de Nataniel e fez
com que o pai de Violeta se afastasse, tropicando
enquanto andava às cegas para trás. Levantou a faca
e estava preparado para cortar Nataniel. Mas o pai
se jogou para o lado e caiu sobre alguns sofás do
salão de festas.
O homem desconhecido, ficando sem
20. equilíbrio, acabou batendo com o corpo num
batente de mármore de uma prateleira do salão. Ele
grunhiu novamente, e agora parecia ainda mais
disposto a matar Nataniel e a família que morava lá.
– Quem... diabos é você? – Nataniel
perguntou, mas não obteve nenhuma resposta a não
ser o grunhido que não parava mais.
Agora começara a rir, a voz saindo um pouco
rouca e parecendo estar prestes a se engasgar com o
próprio sangue que inundava a boca.
Nataniel, caído sobre os sofás, era observado
pelo homem que continuava em pé. Sua cabeça
novamente inclinada num sorriso irônico deu ao
pai uma sensação de raiva.
– Me responda! – gritou.
Levantou-se abruptamente e golpeou-o, a
facada mais o fez cambalear para trás do que o
cortou.
– Seu monstro! – parecia ter raiva, e sua raiva
alimentava sua malvadeza, como faz com todos.
Golpeou a faca no estômago do monstro e ele
21. com certeza a sentiu. Gemeu de dor, mas conseguiu
retirar a faca e jogá-la no chão. Pegou o cutelo que
deixara cair e voltou a tentar golpear Nataniel.
Nataniel levou cortes no rosto e no braço,
logo começou a sangrar tanto quanto o monstro,
mas ainda tentava matá-lo. O cutelo muitas vezes
passava raspando por seu rosto ou pescoço. O
maldito tentou também cortar seu braço ou, pelo
menos, a mão fora.
Nataniel desviou bravamente de praticamente
todos, com exceção de alguns grandes cortes no
abdome. Caiu ao chão e arrastou-se até sua faca,
manchada de sangue e caída ao chão a alguns
metros de distância. Em volta dela, uma pequena
poça de sangue, mas grande demais para ter saído
diretamente da faca. A não ser que o sangue se
multiplicasse.
Agarrou-a e levantou o torço, parando um
ataque fatal do monstro. Pôs-se de pé num pulo e,
como um mestre, cravou a faca no crânio macio,
provavelmente podre, do monstro.
22. Ele caiu aos seus pés e o pai segurava na mão
direita a faca que pingava sangue no chão. Nataniel
olhava para Karine e Violeta com olhos esquisitos, a
cabeça levemente inclinada.
Caminhou até elas rapidamente, que gritaram
como se pedissem por misericórdia, mesmo ele
sendo o pai e o marido delas. Então encarou uma
escuridão.
Respirava esquisito, soltando um grunhido. A
escuridão deixava-o desconfortável, e queria
acender a luz.
Apalpou sua frente e algo se moveu, um leve
rangido ele ouviu. Por uma fresta, viu um quarto de
uma garota jovem, que não conseguia dormir
porque o encarava.
Mas a garota não encarava ele, ela encarava
seu armário.
- Papai! Papai! gritou – baixinho, o pai
chegou logo em seguida para confortar a filha.
O círculo vicioso reiniciara.
Nataniel sentiu vontade de matar.