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BARBARA CARTLAND , sem d vida, a mais famosa escritora rom ntica do mundo.� � �
Entre suas in meras qualidades, podemos citar algumas: historiadora,� �
ge grafa, poetisa�
e especialista em dietas naturais.
Actuante personalidade pol tica, sempre lutou pelos direitos dos grupos menos�
favorecidos da sociedade inglesa, especialmente os ciganos, vi vas pobres e�
crian as�
abandonadas.
Supercriativa e culta, j escreveu mais de 550 livros, editados em todo mundo�
em dezenas de idiomas e dialectos, tendo alcan ado com essas obras a incr vel� �
marca
de 600 milh es de exemplares vendidos.�
CAP TULO I�
1964
Rena Colwell entrou na sala onde o pai costumava escrever os serm es, e foi�
para a escrivaninha que, no tempo de sua m e, estava cheia de flores. Era uma�
linda sala.
Agora, o local parecia abandonado, com o papel de parede rasgado em v rios�
lugares, as cortinas velhas e desbotadas.
Contudo, para Rena continuava sendo o lugar onde ela se sentia feliz e em
seguran a. L , estivera sempre na companhia das pessoas que amava.� �
Sua m e morrera antes. A partir do momento em que fora sepultada e que o marido�
dissera as preces, ele cessara de ser o mesmo homem. Perdera toda a alegria de
viver.
Prosseguira com a mesma actividade de pastor da igreja durante meses ainda,
visitando os doentes da par quia, enterrando os mortos. E, acima de tudo,�
lutando para
que os jovens assistissem cerim nia dominical. Essa sua luta tornava#se mais� �
dif cil no ver o, quando eles preferiam jogos ao ar livre ou nadar no rio.� �
Rena achava que a nova gera o n o se interessava muito pelo futuro. Os�� �
adolescentes, pelos vistos, sentiam#se felizes com o que tinham.
E Rena n o podia entender tal atitude, pois a aldeia era muito pobre, as�
crian as n o frequentavam boas escolas, e raramente havia actividades sociais� �
para entret #las.�
Contentavam#se com o pouco que tinham.
Rena acreditava que, em grande parte, a raz o dessa felicidade devia#se a seu�
pai, que estava sempre pronto a ajudar os habitantes locais na hora da
desgra a.�
No entanto, depois da morte da esposa, o velho pastor pareceu perder a energia,
tornando#se menos activo em seu apostolado.
Rena detestava pensar dessa maneira, mas reconhecia ser a verdade.
Seu pai se tornara uma sombra do que havia sido no passado.
Alguns meses depois da morte da mulher, fora chamado para a casa de um
agonizante, numa noite fria de inverno, com neve abundante. Contra ra uma gripe�
que piorava
a cada dia.
Rena fez tudo o que podia para fazer com que o pai se sentisse melhor. At lhe�
dera as mezinhas que aprendera a fazer com a m e. Mas ele n o reagia.� �
Reconhecia que o pai nunca fora muito forte, e seu tipo de vida em nada
contribu a para que gozasse de melhor sa de. Era chamado continuamente em� �
noites frias para
atender doentes e agonizantes.
Ele fora capel o durante a guerra, e isso concorrera para piorar seu estado�
geral. s vezes conversava sobre suas experi ncias junto ao ex rcito ingl s.� � � �
Embora n o�
se queixasse, Rena tinha certeza de que sofrera muito por estar longe da
Inglaterra. N o apenas um sofrimento f sico, mas da mente e do cora o.� � ��
E agora, quando inesperadamente ele come ava a melhorar, ela encontrou#o morto�
na cama.
De manh fora ao quarto do pai a fim de saber por que motivo n o descera para� �
tomar caf , e notou que ele n o respirava. Achou que talvez fosse imagina o� � ��
sua, e
que logo o pai reviveria e riria dela, por ter se assustado tanto. Mas, ao ver
que o cora o n o batia se deu conta da realidade. Desesperou#se, ciente de�� �
que sua
vida terminara tamb m. N o poderia viver sem o pai.� �
Os habitantes da aldeia ficaram desolados, pois perdiam o melhor amigo, um amigo
que nunca falhara nas horas dif ceis. Todos choraram muito no funeral,�
repetindo
constantemente:
O que vamos fazer sem ele? Como poderemos continuar vivendo?
Era de se esperar que se preocupassem. E Rena era a mais preocupada de todos,
pela simples raz o de que n o tinha para onde ir e nem dinheiro.� �
A aldeia ficava numa parte esquecida do mundo, raramente era visitada por
pessoas de outras regi es do condado. E isso porque a Casa#Grande, que fora�
habitada por
dez ou mais gera es de condes, estava agora abandonada e negligenciada.��
O ltimo propriet rio n o tivera interesse nas pessoas que l moravam; tinha� � � �
poucos empregados, pois n o tinha dinheiro. Herdara apenas a Casa#Grande de um�
antecessor,
mas n o meios para mant #la.� �
Rena jamais se preocupara com o conde, pois na verdade n o o conhecia. O homem�
vivia confinado na casa e nunca ningu m o vira cavalgando nos prados ou indo� �
aldeia.
O homem morrera durante a noite, e s dias mais tarde os habitantes locais�
souberam de sua morte. Nem o pastor fora chamado.
Rena s esperava que, ap s a morte dele, viesse outro propriet rio que se� � �
interessasse mais pela aldeia.
Por m, o que a preocupava acima de tudo, agora ap s a morte de seu pai, era a� �
vinda do novo pastor, nomeado pelo bispo. Precisava desocupar a Casa Paroquial,
e n o�
tinha para onde ir.
O pai deixara a conta banc ria quase vazia. O sal rio dele era muito reduzido,� �
e mal dava para viver. E mesmo esse pequeno sal rio cessaria de ser enviado�
pelo bispo.
# O que poderei fazer? O que poderei fazer? # ela sussurrava.
Mas n o obteve resposta.�
Ap s a morte da m e, cuidara do pai achando que ele seria eterno. Nunca� �
pensara no facto de que chegaria o momento em que, sem dinheiro, seria for ada�
a ganhar a
vida num mundo desconhecido.
Mas, como poderia pagar um lugar para dormir, caso tivesse de sair da aldeia?
Seu nervosismo aumentou ao receber a carta do bispo dizendo que lamentaria muito
a morte do pastor, e que mandaria um substituto o mais depressa poss vel. Isso�
significava,
embora o bispo n o houvesse dito, que ela teria de desocupar a Casa Paroquial.�
Sua pergunta era: para onde ir?
Londres ficava bastante longe, e raramente ela fora l . N o podia se imaginar� �
trabalhando numa loja da aldeia vizinha, lugar bastante pequeno e de pouco
movimento.
Tampouco ensinando crian as que em geral iam a escolas p blicas.� �
"O que posso fazer? O que posso fazer?"
Seu pai sempre lhe dissera que, se rezasse, Deus atendia as suas preces. Mas
agora parecia que Deus n o a ouvia, ou suas preces n o eram fervorosas.� �
"O que posso fazer? Leio muito mas n o tenho diploma de professora. Adoro�
cavalgar mas n o h cavalos nesta vizinhan a."� � �
O cavalo que possu ra morrera, havia tr s anos j . Agora, seria uma quest o� � � �
de tempo desocupar a Casa Paroquial quando o novo pastor aparecesse.
Tinha de come ar a preparar as malas. Havia pouca coisa a levar. Alguns�
vestidos seus e de sua m e. Estava consciente de que precisava andar bem�
vestida para arranjar
um bom emprego.
Rena era uma mo a bonita. Seus cabelos louros tinham um toque de dourado. Os�
olhos azuis da cor do c u eram enormes, talvez grandes demais para um rosto�
t o pequeno.�
Como os pais n o dessem festas em casa, poucas pessoas haviam percebido que a�
pequena Rena se transformara numa linda mulher. E, se andasse bem vestida, seria
a
mo a mais atraente de qualquer reuni o social.� �
"O que posso fazer?"
"Talvez trabalhar como empregada dom stica?" Mas a ideia de morar em casa�
estranha a apavorava. Sabia que a m e ficaria chocada se viesse a saber que�
essa ideia
lhe passara pela cabe a.�
A sra. Colwell nascera numa fam lia de certa projec o social. E os pais dela� ��
n o ficaram nada felizes ao saber que a filha se apaixonara por um pastor da�
igreja,
assistente do Vig rio da par quia que eles frequentavam aos domingos.� �
# Seu pai foi um dos homens mais lindos que conheci # ela dissera a Rena. # Ele
disse que se apaixonou por mim no primeiro dia em que me viu entrando na igreja,
na companhia de meus pais, seus av s.�
# E voc s se amaram logo? # perguntara Rena.�
# Acho que foi o que aconteceu. Mas n o tive chance de falar com seu pai�
durante v rias semanas. Por m um dia nos encontramos, e ele quase n o disse� � �
uma palavra,
t o nervoso estava. Apenas confessou que se impressionara com meu aspecto� �
primeira vista.
Rena rira muito enquanto a m o continuava:�
# Pude entender perfeitamente, porque senti o mesmo. Queria falar mas n o sabia�
o que dizer. No primeiro dia em que ele foi a nossa casa com o vig rio, para�
tomar
ch , nenhum de n s disse uma nica palavra.� � �
# Mas voc ficou emocionada com a visita, mam e?� �
# T o emocionada que sonhei com ele todas as noites at nosso pr ximo� � �
encontro.
E levou muito tempo para que o jovem ministro da igreja tivesse coragem de se
aproximar da filha do abastado propriet rio de terras, para conversar com ela a�
s s.�
Enfim um dia, quando houve uma grande festa na casa, a menina apaixonada
encontrou um pretexto, n o se lembrava bem qual fora, de mostrar ao jovem�
pastor o canteiro
de morangos. E andaram sozinhos pelo enorme jardim que rodeava a mans o.�
# Quanto tempo depois disso papai levou, mam e, para dizer que a amava?�
# Para mim pareceram milhares de anos. Confesso que eu amava seu pai, mas n o�
tinha muita certeza se ele me amava.
# Finalmente um dia ele disse que a amava?
# Disse, e eu me senti arrebatada aos c us junto com ele. Espero, querida, que�
um dia isso aconte a com voc # a sra. Colwell dissera filha.� � �
Seus pais eram as duas pessoas mais felizes que Rena conhecera. s vezes tinha�
a impress o de que se esqueciam da exist ncia dela e de tudo o mais que havia� �
no mundo,
exceptuando#se o facto de que estavam juntos.
Pensando no passado, Rena imaginava que essa era a raz o de os pais nunca darem�
festas. Eles se bastavam. As reuni es sociais, raras, s aconteciam em fun o� � ��
do
trabalho da igreja.
Quando as visitas iam embora, eles sentiam al vio porque ficavam sozinhos, n o� �
queriam mais ningu m al m dos dois.� �
Por m isso n o queria dizer que ela crescera sem receber amor. Mas, de que� �
adiantava esse amor agora?
Quase instintivamente sentou#se escrivaninha do pai. Sentia#se com se ele�
estivesse presente, e lhe fez a pergunta que a atormentava.
"O que posso fazer, papai? Aonde devo ir e a quem devo pedir ajuda? Assim que o
novo pastor chegar, terei que desocupar a Casa Paroquial. No momento, n o tenho�
dinheiro
nem para ir a aldeia mais pr xima. Isso sem falar em Londres, onde talvez possa�
arranjar algum emprego bom."
Ela suspirou e esperou ouvir o pai lhe falar o que deveria fazer.
Ent o, como se o conselho lhe tivesse sido enunciado em voz alta, Rena come ou� �
a pensar na cruz que fora encontrada na floresta, atr s da Granja, como era�
chamada
a Casa#Grande.
Lembrava#se de que fora assunto das conversas na aldeia, quando trabalhadores da
floresta a encontraram e pediram ao pastor que fosse v #la.�
# Parece#me bem estranho o aparecimento dessa cruz # a m e de Rena dissera ao�
marido. # Mas os homens acham que tem algo a ver com religi o. Voc precisa ir� �
l para�
dizer se alguma coisa sagrada ou n o.� �
Rena tinha doze anos na ocasi o. E recordava#se de ter ouvido o pai dizer que�
n o tinha tempo, pois precisava preparar o serm o de domingo.� �
# Voc precisa ir # a mulher insistira. # Afinal, assunto relacionado� � �
igreja.
E ele cedera, suspirando. Pegou o chap u, beijou a mulher e embrenhou#se pela�
floresta.
O que os homens acharam era uma enorme cruz, r stica, mas sem a parte superior.�
Estava suja de lama. Por m, depois que eles a limparam, descobriram uma�
inscri o��
que tiveram dificuldade em decifrar.
Rena e a m e foram ver a cruz alguns dias mais tarde. Estava circundada de�
rvores. Era primavera, e havia flores por toda a parte.�
Como o local ficasse na outra extremidade da floresta, fazia#se necess rio�
atravessar os jardins da Granja para chegar l . Rena lembrava#se de que ficara�
encantada
ao ver a Granja de perto, pela primeira vez. E se perguntara se algum dia teria
chance de nadar no riacho que atravessava a propriedade dos condes.
Extasiara#se ao ver a cruz, e entendera por que o pai se interessara tanto pelo
achado. A madeira era diferente de qualquer outra que conheciam. Rena viu a
inscri o��
que convencera seu pai de que se tratava de uma verdadeira cruz.
Com paci ncia, o pastor conseguira decifrar palavra por palavra.�
Todos voc s que precisarem de aux lio, o encontrar o quando orarem para mim.� � �
# Isso foi o que me convenceu de que na verdade uma cruz, apesar da falta da�
parte superior # o pastor dissera. # Acho que foi colocada l h centenas de� �
anos,
quando a casa foi constru da. Ou talvez at antes disso.� �
E ele dera instru es para que a cruz nunca fosse tirada do lugar, excepto se��
houvesse uma ordem especial do dono das terras.
E l continuara a cruz, at o presente.� �
"Eu havia me esquecido dessa estranha cruz", Rena disse a si mesma. "Talvez se
rezasse naquele lugar, encontraria aux lio, como outras pessoas o encontraram.�
Meu
pedido ser muito dif cil de ser satisfeito, mas preciso fazer de tudo para� �
ganhar algum dinheiro que fa a com que eu n o morra de fome."� �
Era primavera. Rena n o levou casaco nem chap u para atravessar a floresta.� �
Quando avistou ao longe os port es da Granja, notou que estavam abertos.�
Haveria visitantes
no local?, pensou. N o, era pouco prov vel.� �
Ela quase n o se lembrava de como era a Granja. Passara por l algumas vezes,� �
e rapidamente.
Sabia que havia salas grandes e sumptuosas. Mas, para Rena, sala grande era
qualquer recinto um pouco maior do que as pequenas salas de sua casa.
Ela notou que o jardim estava abandonado. Sendo primavera, os p ssaros�
cantavam, de vez em quando, um coelho ou um esquilo cruzava os gramados.
Rena estava com pressa, o que n o a impediu, contudo, de apreciar o frescor da�
relva enquanto o sol aquecia sua pele.
"Adoro o campo", dizia a si mesma. "Se tiver de morar em Londres a fim de
trabalhar, terei saudades deste lugar e passarei meus dias ansiosa para voltar."
Deu um profundo suspiro, sabendo que voltar era mais ou menos um sonho, pois
n o haveria possibilidade de ela ganhar a vida na aldeia.�
Continuou caminhando devagar, apreciando a vegeta o e as flores. Logo deparou��
com o riacho. Foi quando viu a cruz na qual seu pai estivera t o interessado.�
Linda,
com os ran nculos desabrochando a seus p s.� �
O dourado do sol penetrando por entre a folhagem das rvores real ava a� �
madeira escura da cruz, que parecia ainda maior do que na realidade era.
Todo o cen rio tinha aspecto impressionante. E Rena achou que o pai tivera�
raz o ao insistir que aquele seria o lugar perfeito para as pessoas levarem�
suas dificuldades
e orar, pedindo aux lio.�
# Como pode essa cruz me ajudar? # ela disse em voz alta.
Depois lembrou#se de que n o era cruz que pedia ajuda, e sim a Deus.� �
Teve certeza de que o pai tivera raz o ao dizer:�
# Qualquer que seja a prece, se vier do cora o, ser ouvida por Deus.�� �
Rena ajoelhou#se na grama molhada, e rezou.
Achou que se Deus a ouvisse, com certeza a ajudaria.
De repente, ao lado dos ran nculos, enxergou um espinheiro.�
E pensou logo que, se a planta crescesse muito, cobriria a cruz.
Tirou ent o uma luva de jardinagem do bolso do palet , cal ou#a e decidiu� � �
arrancar a horr vel planta pela raiz. Mas isso sem estragar as flores.�
Ao faz #lo notou, com espanto, que havia moedas junto raiz.� �
Apanhou#as, limpou#as, e constatou que eram de ouro. Achou que sonhava. Em
seguida olhou para a cavidade e viu mais moedas.
"N o deve ser verdade", dizia a si mesma. "Como puderam essas moedas vir parar�
aqui? Como poss vel que a cruz seja sustentada por moedas?"� �
Eram moedas antigas e nada parecidas com as actuais.
Rena inclinou#se para pegar mais algumas.
Mas instintivamente, como se tivesse sido aconselhada pela pr pria cruz,�
concluiu que o tesouro que achara pertencia ao dono da Granja.
"N o posso roubar isso", pensou. "Seria um acto mau, pecaminoso, em especial�
porque tirado de lugar t o sagrado como o da cruz."�
Ela limpou mais algumas moedas. Tinha certeza de que eram de ouro, do tempo da
Reg ncia, ou talvez do tempo da rainha Anna.�
Seu pai era um conhecedor de moedas, um numism tico na realidade, e se�
interessava pela transforma o do dinheiro atrav s dos tempos. Muitas vezes�� �
conversara sobre
o assunto com ela.
E agora, Rena achava que aquelas moedas datavam, no m nimo, de cem anos atr s.� �
E isso, com certeza, as tornava muito valiosas.
Foi ent o que se lembrou de algo. Algu m lhe dissera que um candidato compra� � �
da Granja chegara dias atr s. Resolveu entregar#lhe o tesouro que encontrara.�
N o que acreditasse na realiza o da compra. Muitas pessoas interessadas� ��
tinham vindo e sa do, sem completar o neg cio. Nenhuma delas fizera uma oferta� �
para aquisi o��
da velha casa.
"S espero", Rena pensava, "que algu m decente a compre. E que gaste dinheiro� �
reformando a igreja e, naturalmente, as casas da aldeia."
Ela soubera, pelo pai, que muitas pessoas interessadas haviam aparecido no
decorrer dos anos, mas todas partiam sem mostrar o maior entusiasmo pela velha
casa que
permanecia at o presente fechada.�
"Se houver mesmo um novo propriet rio na Granja, talvez essa minha descoberta o�
animar a tornar o local habit vel de novo. E ele ajudar os moradores da� � �
aldeia
que desesperadamente precisam de emprego para sobreviver."
Com receio de que algu m mais visse o que ela acabara de achar, Rena recolocou�
o espinheiro no lugar. N o sem antes pegar em todas as moedas vista.� �
Pelo facto de n o querer pisar nos ran nculos, o espinheiro n o ficou bem� � �
enterrado como antes, o que ela achou muito bom, pois n o cresceria tanto a�
ponto de cobrir
a cruz.
Assim que terminou sua tarefa, ficou olhando para o lugar sagrado.
"Talvez minhas preces tenham sido atendidas", disse a si pr pria.�
Depois riu de seu optimismo.
"Mas meu achado n o deixa de ser animador. Se o novo propriet rio for um homem� �
generoso, quem sabe me d ao menos uma dessas moedas que desenterrei do solo."�
Logo Rena se deu conta de que, se houvesse mais, e tinha certeza de que havia,
vendendo#as teria ao menos um pouco de dinheiro para ir a algum lugar procurar
emprego.
Como se o pai a estivesse ouvindo, ela teve a impress o de escutar#lhe a voz�
dizendo que aquilo seria roubo, um acto que Deus condenava.
Roubo era algo que ele n o toleraria, em particular vindo da pr pria filha.� �
"Tenho de ser honesta. E, embora seja um pouco cedo para tirar uma conclus o, o�
facto de eu ter achado o tesouro me faz acreditar que obtive resposta a minhas
preces."
Por m logo pensou novamente que estava sendo optimista demais.�
Ela atravessou a mata cerrada da floresta, e depois os jardins, tomando a
direc o da Casa#Grande.��
CAP TULO II�
Como fazia muito tempo que Rena n o via a Granja, esquecera#se do quanto era�
atraente, apesar de seu mau estado de conserva o. Sem d vida precisava de uma�� �
boa reforma.
As vidra as das janelas estavam quebradas e necessitavam de limpeza.�
Tanto as janelas como os tijolos vista eram muito velhos e muito lindos.�
Ao olhar para a casa, Rena se perguntou por que motivo ela ficara tanto tempo
sem ir at l , para apreci #la. Apesar da falta de jardineiros, os canteiros� � �
tinham
um colorido impressionante devido grande quantidade de flores das mais�
variadas tonalidades. A pr pria praga que crescia no meio dos gramados fazia�
parte do quadro:;
n o o prejudicava.�
"Que casa linda", pensou. "Se n o tivesse sido negligenciada por tantos anos,�
seria uma das mais lindas casas de toda a Inglaterra."
Havia uma boa dist ncia a ser percorrida da velha ponte entrada principal da� �
casa. Um pouco al m corria um riacho pelo jardim, que terminava num grande�
lago.
V rias vezes Rena pensara em nadar naquele lago. Mas como existia outro lago�
bem mais perto de sua casa, ela sempre evitara andar at l .� �
Entre o lago e os jardins da Granja havia uma pequena floresta onde a m e a�
levara muitas vezes quando ela era bem pequena. E lhe dissera que as fadas
dan avam ali.�
Ap s a morte da m e, Rena n o mais voltara ao local, achando que sofreria ao� � �
passear por l sozinha. E tamb m n o desejava encontrar pessoas da aldeia num� � �
lugar
que sempre considerava s seu e da m e.� �
N o que fosse dif cil evitar esses encontros. Poderia ter ido no fim da tarde,� �
quando todos j tivessem voltado do trabalho e estivessem recolhidos em seus�
chal s.�
Al m do mais, os alde es n o pareciam interessados na Granja, pela simples� � �
raz o de que n o havia trabalho para ningu m l , um trabalho que lhes� � � �
garantisse meios
de sobreviv ncia.�
Por ser primavera, havia flores por toda a parte, sendo a maior parte delas
margaridas e ran nculos. Mas o ar estava perfumado com o aroma de lilases e�
madressilvas.
Desde menina sempre lhe havia dito que a Granja era mal#assombrada. Os mais
velhos da aldeia insistiam que ouviam vozes estranhas quando visitavam o lugar.
Quem
sabe essa fora a raz o que conservara tanto os adultos quanto as crian as� �
afastadas do local.
E Rena lamentava agora ter sido t o idiota a ponto de n o haver usufru do a� � �
beleza do que via agora.
"Talvez o novo dono fa a com que a Granja volte magnific ncia do passado",� � �
ela pensou.
N o seria muito dif cil. Era s observar a casa para ver como fora� � �
negligenciada, e se convencer de como poderia facilmente voltar a ser linda de
novo.
"Talvez um dia ruir por terra, e tudo ficar perdido se n o houver interesse� � �
de algu m para restaur #la".� �
Mas seria um crime se isso acontecesse, porque casas como aquelas faziam parte
da hist ria da Inglaterra.�
Rena notou que a porta da frente estava aberta. Tinha certeza de que n o havia�
empregados na casa, de contr rio teria ouvido alguma coisa.�
Espiou o interior. N o tocou a campainha; n o havia empregados l , quem� � �
atenderia porta?�
Corriam boatos na aldeia de que algu m tinha chegado para ver a Granja, mas�
n o se sabia se esse visitante viera sozinho ou com a fam lia. Por m de uma� � �
coisa Rena
estava segura; se o homem tivesse contratado empregados, ela saberia.
Por n o ouvir ru do algum, entrou. Como o exterior da casa, o interior tamb m� � �
precisava de mais cuidados. Uma espessa camada de poeira cobria as escadas e o
assoalho
de madeira das salas. Os tapetes estavam cinzentos de tanto p , como tamb m os� �
m veis.�
Rena pensou logo na m e que gostava tanto de m veis antigos. Ela ficaria� �
horrorizada ao ver o estado em que se encontravam m veis t o preciosos.� �
Pareciam ser pe as�
francesas.
O sil ncio era absoluto. Com certeza o novo candidato compra, do qual se� �
falava na aldeia, havia desistido do neg cio, horrorizado com a m� �
conserva o do lugar.��
Por outro lado, se ele ainda continuasse l , estaria na cozinha preparando o�
caf da manh , pois sem d vida passara a noite na casa, ou viajando.� � �
No instante em que chegou a essa conclus o, Rena ouviu um ru do na sala de� �
jantar. Teve um segundo de hesita o. Mas sua curiosidade venceu. Em vez de��
sair e tocar
a campainha da porta da frente, foi at a sala de jantar.�
Era exactamente como seu pai descrevera. Ele estivera l havia oito anos,�
acompanhando uma pessoa que chegara de Londres para inspeccionar a Granja. E seu
pai soubera
mais tarde que a id ia era reformar a casa e transform #la numa esp cie de� � �
hotel de fim de semana, para h spedes que desejassem escapar das cidades�
grandes.
Seria um lugar de repouso tamb m, onde viajantes poderiam passar uns dias e�
gastar algum dinheiro antes de voltar a suas casas.
Mas nada fora feito porque a pessoa encarregada de inspeccionar o local chegara
conclus o de que seria imposs vel transform #lo numa est ncia para f rias.� � � � � �
Ele
declarara n o haver nada na aldeia que prendesse a aten o das pessoas� ��
residentes em outras partes do pa s. Ou, pior ainda, de pessoas provenientes do�
exterior,
que considerariam o lugar um dos menos atraentes da Inglaterra.
Rena lembrava#se agora de que o pai n o discutira com o homem, apenas o ouvira.�
E dera gra as ao bom Deus pelo facto de n o se fazer da Granja um hotel de� �
divertimentos,
o que acabaria com a paz da aldeia.
Agora, j na sala de jantar, recordava#se do que o pai dissera a ela assim que�
se despedira do inspector:
# Talvez eu esteja errado, mas fico contente por n o se transformar isto num�
lugar de divertimento para os que t m medo da quietude e da paz do campo. um� �
local
valioso para n s, e esperamos que pessoas daquela esp cie n o nos incomodem.� � �
O pastor falara mais consigo mesmo do que com a filha. E agora Rena lembrava#se
de que ele ficara radiante ao saber que a Granja continuaria exactamente como
sempre
fora, e que ningu m aviltaria a casa e as redondezas.�
# A Granja pode estar cheia de p , pode necessitar de reparos # ele dissera� �
filha #, mas parte de nossa aldeia, e n o a dividiremos com ningu m mais. E,� � �
sem
d vida, n o com um idiota como o homem que veio de Londres.� �
E naquele instante o esc rnio da voz dele pareceu soar de novo aos ouvidos de�
Rena.
"Meu pai gostava das coisas como estavam", ela reflectiu.
Contudo, n o podia deixar de admitir que agora pareciam bem piores. A mesa�
precisava de polimento e o consolo da lareira tinha uma camada grossa de p .�
Rena ouviu um ru do de novo. Imaginou que talvez fosse o tal comprador.�
Curiosa, foi cozinha. Para sua enorme surpresa, viu um homem lidando para�
acender o fogo a lenha.
Consciente da presen a dela, o homem disse:�
# Talvez voc possa fazer com que este maldito fog o acenda! Estou ansioso� �
para tomar o caf da manh , e a lenha teima em n o pegar fogo.� � �
# Deixe#me tentar # Rena insistiu, sorrindo. # Esses fog es velhos s o� �
problem ticos, s vezes.� �
Quando o homem virou#se, Rena viu que era jovem e muito atraente.
# Se voc conseguir acender esse fogo, poderei tomar meu caf da manh . Estou� � �
morrendo de fome. J comi quase tudo o que trouxe comigo. Acho que esta�
horr vel cozinha�
t o sem recursos como o resto da casa.� �
# Se for o novo dono, sinto muito que tenha essa opini o. # Rena sorriu. # Mas�
um dia foi uma das mais lindas casas da Inglaterra.
# Acho que precisamos nos apresentar. Mas, antes disso, eu ficaria muito grato
por qualquer aux lio que voc pudesse me proporcionar.� �
# Preciso agora de um peda o de papel. Pode encontrar em uma das gavetas da�
mesa. Depois, com gravetos e f sforos, acenderei o fogo.�
# Suponho que eu deveria saber fazer isso # o rapaz falou. # Mas, francamente,
n o estou acostumado a cozinhar para mim.�
# Ent o v arranjar o que lhe pedi. E prometo que n o ficar faminto por� � � �
muito tempo ainda.
Em minutos, Rena acendeu o fogo. P s gua para ferver numa velha panela e� �
colocou dois ovos que o rapaz trouxera consigo.
Enquanto esperava, ele sentou#se na beirada da enorme mesa que enchia quase toda
a rea da cozinha.�
Rena n o prestava muita aten o nele, mas concentrava#se na refei o que� �� ��
preparava.
O homem trouxera numa cesta meio fil o de p o e um bom peda o de manteiga.� � �
Prontos os ovos, Rena colocou tudo em pratos que encontrou num arm rio.�
Mandou que ele os levasse sala de jantar enquanto tentaria encontrar caf ou� �
ch em qualquer lugar da cozinha.�
# O que voc prefere? # ela perguntou.�
# Ficarei grato por qualquer coisa que me der # o homem respondeu. # Eu deveria
convid #la para comer comigo. Mas estou com tanta fome que minha vontade� �
devorar
tudo o que est sobre a mesa.�
# N o estou com fome # Rena explicou. # Comi antes de sair de casa.�
Isso n o era verdade, pois comera apenas peda os de presunto que sobraram do� �
jantar da noite anterior; e foi comendo enquanto atravessava a floresta.
Agora ali, ao lado do desconhecido, achava estranho ele n o ter curiosidade em�
saber a raz o de sua presen a na casa.� �
Ela enfim encontrou o caf que procurava, em um dos arm rios; mas s esperava� � �
que n o tivesse gosto de mofo. Pelos vistos, pareceu que n o, pois o homem� �
tomou#o
com evidente prazer, e disse:
# Acho que voc n o real e sim uma fada que apareceu aqui para me salvar. Eu� � �
estava morrendo de fome.
# Apenas sinto que a maioria da lou a boa tenha sido roubada. Sempre achei um�
erro deixar esta linda casa desabitada. Apesar de bem fechada, h pessoas que�
sempre
arranjam um meio de entrar para roubar.
# Acho que devo ser muito grato por n o terem levado os quadros e pe as do� �
mobili rio # o homem declarou.�
# Ent o o novo dono! # exclamou Rena. # Achei, mas me ensinaram que era rude� �
fazer perguntas desse tipo.
O homem riu muito.
# fada que me alimentou e me deu de beber, coisa que eu n o conseguiria Ter� �
sem o aux lio dela, posso apenas dizer que me considero muito feliz por a ter�
encontrado.
Rena sorriu e disse:
# Foi puro acaso. Passei perto algumas vezes mas n o cheguei at aqui por� �
saber que a casa estava vazia. Agora, espero que o novo propriet rio se anime�
ao ver tudo
o que pode ser feito.
# o que espera que eu fa a?� �
# o novo propriet rio? # Rena indagou, surpresa. # Sussurrava#se na aldeia� �
que voc ... que o senhor havia chegado, mas eu n o tinha muita certeza. Trouxe� �
algo
para lhe mostrar. Uma agrad vel surpresa, penso, depois das dificuldades que o�
senhor teve com a cozinha.
# Acertou # o homem concordou. # Sou o novo propriet rio e confesso que, mesmo�
antes de ter chegado aqui, sabia que minha heran a n o haveria de ser alguma� �
coisa
para se receber de bra os abertos. Trata#se de uma casa grande demais e�
dispendiosa, para se usar como moradia.
# Mesmo? # Rena suspirou. # Muitas vezes pensei que seria interessante ver esta
casa criar vida de novo e n o mais deixada como est agora, gradualmente� �
caindo em
ru nas at que n o sobre nada dela, e nem dos lindos jardins.� � �
# Acho que o que voc diz verdade, mas h um grande empecilho� � �
intranspon vel.�
# E qual esse empecilho, posso saber?�
# Vou resumir em uma palavra apenas. Dinheiro! Dinheiro para tornar a casa
habit vel. Dinheiro para contratar jardineiros, fazendeiros, arrendat rios,� �
empregados
e, naturalmente, dinheiro para comprar cavalos que encham minhas estrebarias.
# Isso seria maravilhoso! # Rena gritou. # Sempre quis cavalgar pelos campos,
mas como meu pai recebia muito pouco da igreja, nunca tivemos condi es de��
comprar
um cavalo.
O jovem homem riu e fitou#a atentamente.
# Est por acaso me dizendo que seu pai era o antigo pastor?�
# Era. Meu pai, o reverendo Colwell, morreu h um m s mais ou menos. E meu� �
nome Rena Colwell. Ele trabalhou como pastor da aldeia e conhecia esta casa�
havia mais
de vinte anos. Agora, quando o bispo mandar para c outro ministro da igreja,�
eu terei de ir embora.
# Se eu tivesse condi es financeiras, convidaria voc para me ajudar a�� �
restaurar a casa a fim de torn #la outra vez linda como foi no passado.�
# E eu adoraria ajud #lo. Mas o senhor fala como se considerasse imposs vel� �
viver aqui.
# E . Estive viajando a servi o da Marina de Sua Majestade, e n o tinha� � �
id ia de como seria minha vida no futuro at o instante em que, voltando� � �
Inglaterra, soube,
para meu espanto, que eu era o descendente directo do ltimo conde que herdou�
isto h trinta ou quarenta anos atr s, penso.� �
# Acho que h mais tempo ainda # Rena corrigiu#o. # Mas que maravilha para o�
senhor, ter herdado esta casa!
# De in cio achei que se tratava de um conto de fadas. Mas logo constatei que�
minha heran a, al m do t tulo, era simplesmente nada, com excep o da casa e� � � ��
dos arredores.
# Quer dizer que o senhor n o tem parentes?�
# S alguns, muito velhos, que com certeza sabem tanto quanto eu sabia at� �
ent o. Nada!�
# E o que pretende fazer?
# Francamente, n o sei. Quando soube que esta casa vinha com o t tulo, fiquei� �
exultante por ter um lugar onde morar, e terras. Mas agora que vi tudo,
desapontei.
Pelo modo de falar Rena p de perceber que o pobre homem estava de facto�
desapontado com o que encontrara.
# O senhor tem chance de vender parte das terras, pelo menos. N o digo a�
totalidade mas parte # Rena sugeriu.
# Foi o que pensei, mas tudo se encontra em t o mau estado que n o sei se� �
conseguiria comprador. Isso se pudesse mesmo vender, o que sei que n o ser� �
poss vel. Meus�
bens devem passar para o pr ximo conde, embora considerando#se o facto de que�
os v rios condes que vieram antes de mim jamais tenham se preocupado com isto.�
O ltimo�
conde, que morreu com a idade de noventa anos, nunca morou aqui. Preferiu viver
no norte da Inglaterra onde dois de seus antepassados haviam vivido antes. # O
conde
sorriu ao acrescentar: # Nenhum dos condes da fam lia quis morar aqui, por isso�
as terras e a casa ficaram no estado em que est o.�
# Com certeza o senhor poder remediar o mal # Rena declarou.�
O conde sorriu sarcasticamente e replicou:
# N o tenho dinheiro. O que economizei de meu sal rio de marinheiro foi pouco.� �
N o ganhava muito. Para deixar esta casa habit vel ser o necess rios milhares� � � �
de libras.
O pior de tudo que, conforme j lhe disse, n o posso vender nada, porque a� � �
propriedade dever passar para o pr ximo conde da fam lia, que pode ser ou� � �
n o meu filho.�
Mas, com toda a certeza, n o ser meu filho, pois n o tenho condi es� � � ��
financeiras que permitam que me case. # Houve um momento de sil ncio antes que�
ele dissesse:
# Portanto, se eu n o tiver um filho, a casa continuar em ru nas, como esteve� � �
nos ltimos cem anos.�
Foi ent o que Rena resolveu falar sobre sua descoberta.�
# Vim aqui para lhe dizer que encontrei algo em sua propriedade que desejo lhe
entregar.
Enquanto falava ela tirou do bolso tr s das moedas que encontrara junto ao�
espinheiro. E as p s sobre a mesa. O sol, que entrava pela janela, as fez�
brilhar.
O conde ficou est tico.�
# S o moedas antigas # disse. # Muito antigas! Eu diria que datam de cem anos�
ou mais. Onde as encontrou.
# Na raiz de um espinheiro. E as trouxe para entregar ao verdadeiro dono, o
senhor.
# N o pensou em guard #las para si?� �
# Como j lhe disse, meu pai era pastor da igreja. E uma das coisas que me�
ensinou foi n o roubar, ou melhor, n o me apoderar de coisas que n o me� � �
pertencem.
# Foi muita bondade sua trazer essas moedas valiosas para mim # o conde disse. #
Mas, como pode imaginar, para restaurar esta casa precisarei de muito mais que
isso.
Digamos, de milhares dessas moedas.
# H muitas outras no lugar. Por esse motivo vim aqui depressa a fim de lhe�
contar sobre meu achado. O senhor deve ir ao local antes que algu m descubra o�
tesouro.
O conde encarou#a, intrigado.
# Sim # Rena explicou. # H um espinheiro crescendo ao p da cruz,� �
prejudicando a beleza do cen rio, com as an monas rodeando o lenho sagrado.� �
# Mal posso acreditar no que me diz # o jovem conde falou, pondo a m o na�
testa. # Est tentando me fazer imaginar que talvez haja mais moedas iguais a�
estas no
mesmo lugar?
# o que espero # Rena declarou. # E isso resolveria seu problema.�
# Quer me levar a esse lugar? # o conde pediu. # Como pode imaginar, quero saber
logo se h mais desse tesouro aguardando ser descoberto.�
# o que espero. Tenho impress o de que as moedas foram colocadas por uma� �
pessoa grata, pela raz o de suas preces terem sido atendidas.�
# Por isso voc foi rezar aos p s da cruz? # o conde perguntou.� �
# Foi. Como o senhor, estou sem dinheiro. Meu pai morreu e preciso encontrar um
meio de subsist ncia..�
# Que tal irmos l juntos, agora mesmo? # sugeriu o conde. # Se a cruz est em� �
minhas terras, podemos verificar se h mais moedas l .� �
# o que eu esperava que o senhor dissesse, pelo simples motivo de que muitas�
pessoas visitem o local e podem descobrir as moedas caso haja mais, o que
acredito
que sim.
# Muito bem. Vamos agora.
# Mas iremos por um caminho mais discreto # sugeriu Rena. # Se as pessoas da
aldeia o virem indo para perto da cruz, no pr prio dia de sua chegada, achar o� �
estranho.
# Antes de tudo diga#me uma coisa. Por que essa cruz est em minhas terras e�
n o foi levada ao cemit rio? Ou igreja?� � �
# Porque meu pai decidiu que fosse deixada l , onde fora encontrada. Embora�
falte a parte de cima, meu pai achou que se tratava de uma cruz, por causa da
inscri o.��
De quando em quando as pessoas da aldeia v o l para pedir favores.� �
O conde levantou#se imediatamente e Rena conduziu#o ao local, por m seguido por�
um atalho atr s da Granja, pouco usado pelos caminhantes. Tiveram de atravessar�
o
riacho atrav s de uma ponte r stica de madeira, constru da pelos trabalhadores� � �
nas terras de Sua Senhoria.
E chegaram ao lugar da cruz, que se erguia majestosa entre as rvores, e que�
estava rodeada de flores.
Rena ajoelhou#se e rezou, agradecendo a Deus por ter encontrado o dinheiro e
tamb m o homem, a quem o dinheiro pertencia.�
E pediu que o achado ajudasse n o apenas o conde, mas outras pessoas tamb m,� �
incluindo#a.
Enquanto rezava de olhos fechados, o conde permaneceu ao lado dela observando a
cruz. Mas, no instante em que Rena abriu os olhos, viu#o andando na direc o��
da cruz,
pisando inevitavelmente nas flores. O conde puxou o espinheiro que por sinal
agora estava muito mais f cil de ser removido. Em seguida come ou a enterrar� �
as m os�
no solo mido para ver se encontrava alguma coisa.�
Rena ficou preocupada. E se n o houvesse mais nada? A ida at o local da cruz� �
teria sido em v o? Ela rezou, pedindo a Deus que os ajudasse.�
De s bito, o conde deu um grito de alegria. Rena arregalou os olhos. Ele tinha�
nas m os um punhado de moedas de ouro, sujas de terra. Parecia um sonho.�
# Suas ora es foram atendidas, e tenho certeza de que h muito mais embaixo�� �
desta terra # ele afirmou.
# Ser verdade o que est acontecendo? Ser mesmo verdade?� � �
# verdade. Veja! # O conde estendeu a m o cheia de moedas de Ouro. # O que� �
temos a fazer agora voltar j para a Granja. Ningu m do lugar pode saber o� � �
que encontramos
aqui. Mais tarde trarei pessoas peritas no assunto, que poder o remover todas�
as moedas sem danific #las.�
Assim dizendo, ele colocou o espinheiro no lugar, passou o bra o em volta da�
cintura de Rena, e ambos voltaram para casa. Seguiram pelo mesmo caminho da ida,
entre
as rvores e atravessando a velha ponte de madeira que os levou para o outro�
lado.
Quase em casa, o conde disse:
# N o sei como lhe agradecer. Voc me salvou, ao menos por agora. O que eu� �
sentia ao chegar aqui era s desespero, devido ao estado em que encontrei a�
casa e o que
havia dentro dela. De qualquer forma, tudo me parece um conto de fadas. Estou
encantado com sua descoberta, Rena. Sinto#me bem longe do estado de ang stia em�
que
me viu ao chegar aqui.
# O senhor acha mesmo que haver junto cruz dinheiro suficiente para a� �
reforma da Granja, e para deix #la como foi no passado? # Rena perguntou, muito�
emocionada.
# N o posso acreditar que nossa sorte seja assim t o grande. Mas, qualquer� �
quantia em dinheiro, neste momento, ser de incr vel ajuda para mim. Isso me� �
dar chance�
de planear sobre meu futuro. E a voc , mais uma vez muito obrigado.�
# Agrade a a meu pai. Foi ele quem guiou meus passos at l . E Deus permitiu� � �
que tudo isso acontecesse.
# emocionante demais para ser verdade! # o conde exclamou. # S quero que me� �
prometa n o revelar a ningu m nossa descoberta.� �
# claro que n o contarei nada a pessoa alguma # Rena prometeu. # Essas� �
moedas s o suas, como tamb m todas as que estiverem escondidas sob a terra.� �
Seria terr vel�
algu m vir a saber, e come asse a escavacar por toda a parte, na esperan a de� � �
encontrar algo.
# Tem raz o # concordou o conde. # Mas agora melhor que voc volte para� � �
casa. Sua fam lia ficar apreensiva com seu atraso, sem saber o que houve.� �
# Todos de minha fam lia morreram. Ali s, fui cruz para pedir aux lio, pois� � � �
preciso arranjar um emprego para viver.
# Se tivermos sorte # o conde comentou #, voc n o ter necessidade de� � �
trabalho, a menos que seja um trabalho muito interessante.
Rena sorriu e disse:
# Agora o senhor est esperando demais. N o vamos exagerar. Se encontrar mais� �
algumas moedas que lhe permitam viver com conforto, na Granja ou em algum lugar
modesto,
j ser ptimo. N o acha?� � � �
Houve uns minutos de sil ncio. Em seguida, o conde perguntou:�
# O que voc pretende fazer?�
# Eu me sentirei muito feliz se minhas preces forem atendidas. E, se o senhor
tiver paci ncia comigo e me abrigar por alguns dias, posso ao menos ter tempo�
para
pensar no que fazer na hora em que precisar sair da Casa Paroquial. Isso
acontecer quando o bispo designar outro pastor para a aldeia.�
Sil ncio de novo.�
Mas, ao chegarem mais perto da Granja, o conde sugeriu:
# Nesse meio tempo, se voc estiver mesmo querendo um emprego, deixe#me�
oferecer#lhe um. Preciso de governanta, e quero uma, se eu puder pagar, que
transforme a
Granja num lugar habit vel.�
Rena deu um grito de alegria.
# Eu rezarei para que esse sonho se realize. Pode levar um s culo, mas se�
pudermos fazer com que a Granja volte a ser o que era, se pudermos ajudar outras
pessoas
como fomos ajudados, ent o acho que meu pai estava absolutamente certo ao me�
inspirar para eu ir orar aos p s da cruz. E absolutamente certo em n o ter� �
deixado que
a cruz fosse levada para outro lugar. # Depois de uma pausa, ela acrescentou: #
Oh, espero muito que meu pai esteja vendo o tesouro que n s encontramos.�
A ltima frase saiu de seus l bios com grande espontaneidade.� �
Mais uma vez, sil ncio.�
Depois, o conde disse:
# Espero muito que seu desejo, ou prece, como queira cham #lo, se transforme em�
realidade.
CAP TULO III�
Quando chegaram Granja, encontraram a porta conforme a haviam deixado,�
destrancada. O conde abriu#a e Rena disse:
# Se vou ser sua governanta, e algo que adoro ser, a primeira coisa a fazer�
lhe preparar o almo o. O senhor trouxe algum mantimento?� �
O conde riu e disse:
# Antes de tudo, Rena, n o me chame de senhor. Ok? Chame#me de voc , como fez� �
quando nos conhecemos, e antes de saber que eu era conde. Quanto aos
mantimentos, est�
querendo demais de mim. Pensei no caf da manh , mas n o no almo o.� � � �
# Muito bem. Nesse caso, me d algum dinheiro e eu irei aldeia comprar� �
qualquer coisa. N o garanto que possa fazer um banquete, mas prepararei uma�
refei o simples.��
# E eu serei grato pelo que voc preparar. # Ele p s a m o no bolso e tirou� � �
algumas libras. # Isso chega?
# Oh, mais do que suficiente. Comprarei tamb m coisas para o jantar. Como� �
governanta, n o posso permitir que o senhor... que voc passe fome.� �
# Espero que n o se assuste ao constatar que meu est mago maior do que eu,� � �
quando deixou a Marinha. Aqui fora, n o temos a mesma fartura. Porque tamb m� �
n o temos�
dinheiro.
# Nunca duvidei sobre a alimenta o no navio # Rena comentou. # Sempre achei��
que a Marinha era bem gerenciada, bem melhor do que muitas casas.
# Tem raz o. Agora, olhando para tr s, reconhe o que a comida era excelente, o� � �
navio limpo. Tudo brilhava, o que infelizmente n o posso dizer de minha casa!�
# Talvez possa dizer mais cedo do que espera. Mas insisto que n o seja�
impaciente.
# Ao entrarmos, notei que havia correspond ncia perto da porta. Deve ter ca do� �
da caixa de cartas para dentro.
# O carteiro com certeza passou enquanto est vamos fora. Tocou a campainha e,�
quando viu que n o havia ningu m em casa, teve o bom senso de deixar as cartas� �
na caixa.
O conde apanhou#as e exclamou:
# Penso n o ser necess rio dizer que o primeiro envelope que peguei uma� � �
conta! Como n o se trata de nada agrad vel, vou antes almo ar para depois ler.� � �
Rena riu muito.
O conde abriu a Segunda carta e, pela express o do rosto dele, Rena achou que�
devia se tratar de algo confidencial. E foi para a cozinha.
Olhou por toda a parte a fim de ver se havia qualquer coisa para comer. N o viu�
quase nada, mas achou que encontraria verduras na horta. Sabia que algumas
cresciam,
apesar da falta de cultivo.
"Vou precisar de todo o dinheiro que ele me deu", pensou. "Providenciarei coisas
para o jantar e para o caf da manh ".� �
E achou que quanto mais depressa andasse com seu trabalho, melhor. Havia muito a
ser feito naquela cozinha suja, cheia de p .�
"Posso ser a governanta. Mas, pensando bem, para tomar conta da casa toda,
preciso de ajuda. E isso n o se consegue sem dinheiro."�
Por m, apesar de todos os problemas, seu cora o sorria de alegria s em� �� �
pensar no que tinham encontrado aos p s da cruz. E sabia que com isso�
conseguiria alimentar
o conde at que ele decidisse sobre o que fazer da vida.�
Rena saiu pela porta dos fundos. O conde n o a viu sair. Havia apenas uma�
mercearia na aldeia e o dono estava sempre se queixando que os habitantes locais
viviam
sua custa.�
# Se cobrasse dele o pre o justo # o merceeiro dissera muitas vezes ao pastor�
#, poderia viver muito melhor. Mas como deix #los que morram de fome, o que�
acontecer�
se tiverem de pagar o valor real da mercadoria?
# Somos muito gratos a voc # Rena ouvira o pai dizer com frequ ncia. # Tenho� �
esperan a que alguns encontrar o trabalho e lhe pagar o o que devem.� � �
# Esse dia jamais chegar , reverendo.�
Mas esse mercieiro nunca abandonara a aldeia, pelo que o pastor era muito grato,
pois fornecera aos alde es, especialmente s crian as, alimento suficiente� � �
para
mant #los vivos.�
Muitos habitantes locais trabalhavam em aldeias vizinhas. Isso acontecia na
primavera e no ver o. Mas no inverno era quase imposs vel achar trabalho.� �
Rena esperava que agora, ap s haverem descoberto bastante dinheiro debaixo da�
cruz, o conde empregasse grande n mero de pessoas. Ela j tentava seleccionar� �
# Oh, é mais do que suficiente. Comprarei também coisas para o jantar. Como
governanta, não posso permitir que o senhor... que você passe fome.
# Espero que não se assuste ao constatar que meu estômago é maior do que eu,
quando deixou a Marinha. Aqui fora, não temos a mesma fartura. Porque também não
temos
dinheiro.
# Nunca duvidei sobre a alimentação no navio # Rena comentou. # Sempre achei que
a Marinha era bem gerenciada, bem melhor do que muitas casas.
# Tem razão. Agora, olhando para trás, reconheço que a comida era excelente, o
navio limpo. Tudo brilhava, o que infelizmente não posso dizer de minha casa!
# Talvez possa dizer mais cedo do que espera. Mas insisto que não seja
impaciente.
# Ao entrarmos, notei que havia correspondência perto da porta. Deve ter caído
da caixa de cartas para dentro.
# O carteiro com certeza passou enquanto estávamos fora. Tocou a campainha e,
quando viu que não havia ninguém em casa, teve o bom senso de deixar as cartas
na caixa.
O conde apanhou#as e exclamou:
# Penso não ser necessário dizer que o primeiro envelope que peguei é uma conta!
Como não se trata de nada agradável, vou antes almoçar para depois ler.
Rena riu muito.
O conde abriu a Segunda carta e, pela expressão do rosto dele, Rena achou que
devia se tratar de algo confidencial. E foi para a cozinha.
Olhou por toda a parte a fim de ver se havia qualquer coisa para comer. Não viu
quase nada, mas achou que encontraria verduras na horta. Sabia que algumas
cresciam,
apesar da falta de cultivo.
"Vou precisar de todo o dinheiro que ele me deu", pensou. "Providenciarei coisas
para o jantar e para o café da manhã".
E achou que quanto mais depressa andasse com seu trabalho, melhor. Havia muito a
ser feito naquela cozinha suja, cheia de pó.
"Posso ser a governanta. Mas, pensando bem, para tomar conta da casa toda,
preciso de ajuda. E isso não se consegue sem dinheiro."
Porém, apesar de todos os problemas, seu coração sorria de alegria só em pensar
no que tinham encontrado aos pés da cruz. E sabia que com isso conseguiria
alimentar
o conde até que ele decidisse sobre o que fazer da vida.
Rena saiu pela porta dos fundos. O conde não a viu sair. Havia apenas uma
mercearia na aldeia e o dono estava sempre se queixando que os habitantes locais
viviam
à sua custa.
# Se cobrasse dele o preço justo # o merceeiro dissera muitas vezes ao pastor #,
poderia viver muito melhor. Mas como deixá#los que morram de fome, o que
acontecerá
se tiverem de pagar o valor real da mercadoria?
# Somos muito gratos a você # Rena ouvira o pai dizer com frequência. # Tenho
esperança que alguns encontrarão trabalho e lhe pagarão o que devem.
# Esse dia jamais chegará, reverendo.
Mas esse mercieiro nunca abandonara a aldeia, pelo que o pastor era muito grato,
pois fornecera aos aldeões, especialmente às crianças, alimento suficiente para
mantê#los vivos.
Muitos habitantes locais trabalhavam em aldeias vizinhas. Isso acontecia na
primavera e no verão. Mas no inverno era quase impossível achar trabalho.
Rena esperava que agora, após haverem descoberto bastante dinheiro debaixo da
cruz, o conde empregasse grande número de pessoas. Ela já tentava seleccionar
famílias
nas quais pudesse confiar, para recomendar ao patrão.
"Oh, por favor, meu Deus", rezava, enquanto ia para a aldeia, Permita que haja
muitas moedas ainda lá. Fico tão deprimida ao constatar que as crianças são os
seres
que mais sofrem."
Rena sempre amara crianças. Lembrava#se, quando tinha apenas três anos de idade,
de ter dividido os presentes de Natal com elas. Como ficaram contentes ao ganhar
um ursinho ou biscoitos, coisas que suas famílias jamais poderiam comprar.
"Se houver suficiente dinheiro, esta aldeia será a mais feliz do país."
Logo se deu conta de que não devia contar com tanto dinheiro, assim tão
depressa. Era verdade que descobrira um presente caído do céu. E agora só podia
rezar para
que o dinheiro encontrado durasse bastante.
Chegou à mercearia e encontrou#a bem provida. O dono havia estado na cidade na
véspera, para compras. Havia víveres de todos os tipos. E ela escolheu grande
quantidade
deles. Não apenas para um dia, mas para dois ou mais dias. Sempre, contudo,
procurando não gastar muito.
# Não vai comer tudo isso, vai? # o merceeiro lhe perguntou, enquanto Rena
separava o que desejava.
# Não # ela respondeu. # É para o novo proprietário da Granja que acabou de
chegar. Acho que todos daqui vão ter um bom patrão no futuro.
# Ouvi dizer que alguém havia chegado # o homem disse, fitando#a com surpresa. #
Mas não sabia que era o dono da Granja.
# Correu boato de que não existiam mais descendentes # Rena comentou #, mas
todos estavam errados. Como ele era marinheiro, não se encontrava no país, e
apenas agora
foi localizado.
# Boas notícias # disse o homem. # Naturalmente, se ele abrir a Granja, terá de
arrumar muitas coisas, e isso é bom para todos nós.
# É o que o conde espera fazer. Mas marinheiros nunca têm muito dinheiro,
raramente ficam ricos.
# É verdade # comentou o homem. # Porém ele sempre pode transformar a Granja num
hotel. É suficientemente grande para isso.
# Tenho certeza de que Sua Senhoria não pensou em tal hipótese. Contudo, vou lhe
falar sobre essa sua sugestão. Porém, antes de tudo, a casa precisa ser
restaurada
e os jardins reformados. E isso leva tempo e custa dinheiro.
# De facto # o homem concordou com um aceno de cabeça. # Durante anos ninguém
morou lá e, se quiser saber, muitas pessoas têm medo que o tecto desabe sobre
elas
ou sobre os fantasmas. Sem dúvida há fantasmas que se arrastam pela casa assim
que o sol se põe.
# Agora você está me assustando # Rena protestou, porém rindo muito. # Não
apenas a mim como a Sua Senhoria. Prometi a ele cuidar da casa. Mas, depois de
sua afirmação,
vou ter medo que os fantasmas comam as deliciosas coisas que eu fizer, antes que
Sua Senhoria tenha chance de prová#las.
# Contanto que ele pague as contas..., tudo bem. Diga a Sua Senhoria que há
muito mais aqui. Com ou sem fantasmas, um homem precisa comer, morando em casa
grande
ou pequena.
# O que é absolutamente certo # Rena concordou.
Antes de sair ela pegou mais um pedaço de carne e pagou a compra. Ficou só com
alguns shillings na bolsa. Mas sabia que o conde lhe daria mais dinheiro para as
compras
do dia seguinte, caso fosse necessário.
Rena entrou pela porta dos fundos, certa de que o conde nem a vira sair. Mas,
tão logo colocou as compras sobre a mesa da cozinha, ele apareceu, comunicando.
# Foi bom você chegar logo. Teremos visitas esta tarde. Penso que ficarão só
para o chá, mas é possível que passem a noite aqui.
# Você não devia permitir isso! # Rena exclamou. # Ainda não tivemos tempo de
inspeccionar os quartos. E, se estiverem como as salas aqui embaixo, será
impossível
hospedar qualquer pessoa.
Como o conde não respondesse, Rena preocupou#se. Teria ficado ofendido? Mas logo
ele disse:
# Preciso ser honesto e dizer a você que o homem que vem aqui é extremamente
rico. Conheci#o na Índia. E quando ele soube, penso que através dos jornais, que
eu
herdara um título, começou a me ver com outros olhos. Está ansioso para conhecer
a residência de meus ancestrais.
# E vai ficar bem desapontado, se espera encontrar luxo, como é de se supor #
observou ela.
# É o que eu penso também # o conde assentiu. # Contudo, pelo modo como falou
comigo na última vez em que nos vimos, suspeito que tentava descobrir um meio de
nos
encontrarmos de novo. Talvez já soubesse da herança. O homem me procura por uma
razão, uma única razão.
# E qual é essa razão tão especial para achá#lo? # indagou Rena, curiosa. # Se
quer ver uma mansão ancestral, vai ficar muito desapontado com a Granja, até que
tenhamos
tempo de limpar tudo.
# Sim, eu sei, mas você se esquece, Rena, de que agora tenho um título e de que
sou muito diferente, na opinião dele, do marinheiro pobre que convidou para um
baile
que ofereceu em homenagem à filha. O que esse homem verdadeiramente quer, e
tenho certeza de que é o que vai me dizer quando chegar aqui, é que me case com
essa
filha.
# E por que deverá você se casar com uma mulher, a menos que se apaixone por
ela?
# A menina é feia e sem graça. Mas é sua única filha. E ele não tem filho homem
para lhe herdar a fortuna. Eu soube, na América, que é um dos novos milionários
do
petróleo. Ele fez fortuna da noite para o dia.
# Quer dizer que é capaz de querer reformar a Granja e lhe dar dinheiro para que
você possa morar aqui, na esperança de ser seu sogro?
# Exactamente! # exclamou o conde. # E é algo que não tenho intenção de aceitar.
Se um dia eu me casar, Rena, será por amor. E seremos felizes, eu e minha
mulher,
mesmo sem dinheiro.
Rena bateu palmas e concordou:
# É o que você deve fazer, é o que meu pai aconselharia. Mas, pensando bem, será
difícil não aceitar a proposta, se o homem lhe prometer restaurar a Granja
fazendo#a
tão magnífica como no passado. Suponha que ele lhe ofereça dinheiro suficiente
para você comprar cavalos, cachorros de caça, dando#lhe a oportunidade de ser um
verdadeiro
gentleman. Vai aceitar?
O conde não respondeu. Foi até a janela e ficou olhando para o jardim, agora em
estado deplorável.
Colocando nos armários os mantimentos que trouxe da aldeia, Rena disse mais:
# Acho que se a moça te amar, com o tempo você acabará amando#a também.
Rena quis acrescentar: e amando o dinheiro dela. Mas achou que seria um
comentário grosseiro demais.
Ao voltar da janela, ele respondeu de maneira categórica, sem hesitação:
# Não me venderei, como diz a Bíblia, por um quilo de carne. Embora eu saiba
que, nesse caso, serão quilos e mais quilos de carne. Prefiro morrer de fome a
me ver
casado com uma mulher que não amo, e ser subserviente a um homem com o qual não
tenho nada em comum a não ser o facto de nós dois acharmos que o dinheiro é
essencial
à vida.
# É claro que tem razão. Papai concordaria com isso, palavra por palavra. Só
podemos pedir a Deus para permitir que haja sob a cruz quantia suficiente para
você
viver com conforto, mesmo que seja num único quarto, deixando o resto da casa
como está.
Houve uns minutos de silêncio antes de ele responder:
# Não vou me vender por causa de uma casa que está caindo aos pedaços, ou de um
jardim que não tem quase nada além de ervas daninhas.
# Mas você tem de viver # insistiu Rena. # E não é fácil,. Hoje em dia, viver
sem dinheiro.
# É verdade # o conde concordou. # Mas espero que você tenha encontrado, para
mim, dinheiro suficiente que me permita viver aqui, mesmo com o tecto caindo, e
o assoalho
quebrando sob nossos pés.
# É sua intenção ficar na Granja?
# Não tenho outro lugar para morar, no momento. Meus pais morreram. Possuo
alguns parentes no norte da Inglaterra, pessoas que não vejo há anos. # Havia
desespero
na voz dele ao prosseguir: # Actualmente, não tenho mais um navio esperando por
mim. Ao menos aqui há um tecto sobre minha cabeça e uma governanta que vai me
servir
um almoço.
Ele falava assim com a intenção de fazer Rena rir. Mas, ao invés, ela disse:
# Tudo o que você falou soa muito como uma aventura. No entanto, precisa se
lembrar de que esta casa está ficando mais velha ano após ano, e muito
delapidada. O
pessoal da aldeia predizia que o tecto iria ruir no último Natal, quando tivemos
muita neve. Por um milagre, isso não aconteceu. Porém duvido que resista mais um
inverno.
# Sei perfeitamente o que você quer dizer. Contudo, considero#me muito feliz por
ter herdado esta propriedade depois que todo o mundo acreditava não haver mais
condes
em meu condado. E feliz também por ter encontrado vocês e moedas escondidas na
velha cruz. Acredito que, no futuro, haverá mais surpresas esperando por nós.
# Vamos agora às coisas práticas # sugeriu Rena. # Você espera duas pessoas esta
tarde. Posso providenciar o chá, mas quero que me ajude a limpar os quartos,
embora
duvide que seus hóspedes queiram passar a noite aqui.
# Então que voltem para o lugar de onde vieram # o conde protestou rispidamente.
# De qualquer forma, tenho certeza de que a razão da visita de meu amigo é me
prometer
a restauração da casa, fazendo#a recuperar o esplendor do passado. Com a
condição, claro, de eu partilhar todo o luxo com a filha dele, como minha
esposa.
Rena começou a preparar o almoço. Observando#a, o conde notou como suas mãos
eram alvas contra a madeira escura da mesa da cozinha. Um raio de sol fazia com
que
seus cabelos parecessem fios de ouro.
# Enquanto você me ajudar, sei que não sofrerei fome # ele disse. # Se minha
visita desapontar quanto à sua posição nesta casa, isso tornará mais fácil para
mim
lhe dizer que não desejo casar com a filha dele.
# Acha que a jovem quer se casar com você? # Rena perguntou.
# Tenho a impressão de que ela pensa que um título de nobreza seja a melhor
coisa que o dinheiro poderá lhe comprar. O pai tem muito orgulho de ser
milionário, e
acredita que possa ter tudo o que deseja. Ele acha que o dinheiro compra todas
as coisas no mundo.
# Imagino que haja muitas pessoas que pensam como ele. Meu pai sempre dizia que,
apesar de sermos pobres, podemos apreciar as belezas da vida.
# Tais como, por exemplo?
Com um sorriso, Rena respondeu:
# O sol, a lua, as estrelas. Além disso, há muitas outras coisas que nos fazem
felizes, e que não são obtidas através do dinheiro.
O conde fitou#a atentamente, e depois riu.
# É algo que espero que me diga. Que outras coisas? Estou pensando que você não
é real, mas parte da árvore mágica que apontou para mim na floresta. Os raios do
sol, coisa que talvez ignore, estão deixando seus cabelos da cor de ouro.
# Um ouro que, infelizmente, você não pode usar como usará as moedas # ela
comentou, sorrindo. # Quanto ao casamento, espero que não se precipite por
enquanto. Algo
pode acontecer no futuro e, casando#se agora por conveniência, talvez prejudique
sua boa sorte.
# Garanto#lhe que não desejo me casar com ninguém. E, acima de tudo, não com uma
mulher que está sendo vendida pelo pai.
# Tenho pena dela! Quem sabe a moça nem tenha idéia de como o pai é ambicioso.
# Você vai ter chance de julgar os factos por si mesma # o conde respondeu. #
Como não tenho condições de impedir essa visita, os dois estarão aqui na hora do
chá.
Acho que vão querer passar a noite, pois a distância entre a Granja e Londres é
grande. Meu amigo milionário dará como desculpa para isso o cansaço dos animais
e
o perigo de viajar à noite.
# mas eles não podem pernoitar aqui! # exclamou Rena. # Os quartos devem estar
em terrível estado; não podem ser usados enquanto não se fizer uma boa limpeza.
# Ontem eu dormi num deles. Mas estava tão cansado que teria dormido até numa
estrebaria. Agora, quando penso, reconheço que estava cheio de pó. A cama não
era má,
mas havia apenas água fria nas torneiras. Meus hóspedes acharão o lugar muito
sem graça e conforto, tenho a certeza.
# Sem dúvida. Portanto, se você tiver bom senso, mande#os de volta para Londres
na primeira oportunidade.
# Ele é o tipo de homem que, quando põe uma idéia na cabeça, não desiste
facilmente. Por isso ficou milionário. Tenho até medo de acabar entrando na
igreja de braço
dado com Matilde, sem me dar conta do que estou fazendo. # Após uma pausa, ele
acrescentou: # E se eu disser que você é minha mulher? Que acha?
Passada a surpresa, Rena respondeu:
# Considerando#se o estado em que se encontra a Granja, ele pensará que você se
casou com uma mulher muito relaxada.
# Então, o que posso dizer?
Rena teve a impressão de que o conde lhe suplicava auxílio. Pensou um pouco e
sugeriu:
# Talvez seja melhor dizer que sou uma parente sua e estou aqui para ajudá#lo.
Ou, se seu amigo insistir no casamento, diga#lhe que estamos noivos. E
acrescente
que não pode se casar enquanto não tiver dinheiro para restaurar a casa,
deixando#a digna de um homem com o título que você possui.
# Isso me parece bom, soa mesmo como verdade! Assim será impossível a ele forçar
a filha, sabendo que estou noivo de outra mulher.
# Ou então, se preferir, fale que sou sua governanta.
# Se o homem tiver um resquício de inteligência, o que tem e muita, verá logo
que você é bonita demais, jovem demais, para ser uma governanta. Vai imaginar
que está
aqui por outras razões.
# Muito bem, então. # Rena já se impacientava com tanta indecisão. # Fale que
estamos noivos e, como já disse, que apenas aguardamos a reforma da casa para
nos casarmos.
# Só posso lhe dizer que aprecio muito essas qualidades # Rena comentou. # Mas
outra coisa posso lhe dizer também, é que não temos comida suficiente para
jantar.
E, se desejar levá#los a um restaurante # o mais perto fica a três quilómetros
daqui # previno#o desde já que a comida é razoável, mas longe da qualidade
esperada
por milionários.
# Não se preocupe. Não tenho intenção de convidá#los para jantar. Quero jantar
sozinho com você. Posso ver, pelas coisas que comprou, que nosso jantar será
excelente.
# Isso é um desafio? # Rena sorriu. # Mas suplico#lhe, não permita que suas
visitas fiquem para jantar. Se pretende convidá#los, então vá à mercearia a fim
de comprar
mais comida.
# Não pretendo insistir para que fiquem e tenho a impressão de que, quando ficar
bem claro que não desejo me casar com Matilda, os dois voltarão para Londres.
# Desejo que as coisas sejam tão fáceis como pensa. Mas sempre ouvi dizer que
milionários ficam milionários porque, quando põe na cabeça que vão ser ricos,
ninguém
os segura.
# Aguarde até conhecer o sr. Wyngate # o conde disse. # Ele é exactamente o tipo
de homem que você esperaria ver num novo milionário. A filha, como já lhe disse,
é feia e não tem nada que a favoreça a não ser a conta bancária do pai.
# Agora você está sendo maldoso # censurou#o Rena. # Mas ao mesmo tempo estou
certa de que vá ter dificuldade em rejeitar o que o homem lhe oferecer para
reformar
a Granja, que voltaria a ser como foi há centenas de anos atrás. Papai disse
que, quando chegou na aldeia como pároco, a Granja tinha aspecto bem melhor do
que o
actual. Sempre me surpreendi como os habitantes locais, apesar de quase não ter
o que comer, a protegem contra ladrões e malfeitores.
# Por que fazem isso? # indagou o conde.
# Porque consideram a Granja também deles, e esperam que um dia haverá pessoas
importantes dormindo nos sumptuosos quartos e usando as salas de recepção.
# Acho patético eles pensarem assim. Devem ter#se desapontado ao me ver chegando
aqui sem nada. Eu, por meu lado, me surpreendi ao passar de marinheiro a conde.
Sem dúvida fiquei atónito por ter sido localizado por causa do meu nome.
Contudo, sinto#me tal qual um usurpador. Como posso fazer com que esta casa
volte a ser
o que era centenas de anos atrás?
# Para resolver esse problema, diga sim ao que for sugerido por seu amigo.
O conde deu um soco na mesa.
# Com os diabos que direi sim. Espere até vê#la! Não quero ser maldoso, mas
Matilda jamais terá aspecto de condessa, mesmo coberta de diamantes da cabeça
aos pés.
# Muito bem # Rena concordou. # Deixe as coisas como estão e vamos rezar para
que aquilo que a cruz nos deu até agora seja apenas uma amostra do que está
ainda escondido
sob as anémonas.
# Falando no assunto, sugiro que escondamos de todos o que você descobriu. Se
souberem de alguma coisa, começarão a escavacar toda a área à busca de ouro,
destruindo
a vegetação. Mas tenho a impressão, como você também deve ter, de que não haverá
muito mais sob a cruz.
# Entendo o que diz # concordou Rena. # Se eles começarem a escavacar e a
escavacar, as árvores cairão e não restará nada dessa maravilhosa floresta.
# Concordo. Então, o que deveremos fazer é ir lá à noite, só você e eu. Com o
luar, pelo menos até o fim deste mês, não precisaremos de mais luz.
esCavacaremos com
cuidado para não prejudicar a beleza natural do lugar.
# Você está certo, absolutamente certo! # Rena exclamou. # É o que faremos. Eu
não poderia aguentar ver a mata e a cruz que significou tanto para papai,
destruídas,
talvez até por acidente, pelas pessoas ávidas da descoberta do ouro.
# Tudo bem. Então, quando meus amigos forem embora esta noite, e se você não
estiver muito cansada, iremos até à cruz procurar mais moedas. Assim, tomaremos
cuidado
para que as ávidas por dinheiro não estraguem nossa floresta.
# E eu odiarei ver destruído aquilo de que papai tinha tanto orgulho.
# Faremos tudo sozinhos, sem contar nada a ninguém # o conde declarou.
Rena foi trabalhar na cozinha, e meia hora mais tarde chamou#o.
# Seu almoço está pronto, milorde. Ficarei muito desapontada se não gostar da
minha comida.
# Sente#se à mesa comigo. Poderemos conversar sobre o que faremos depois. Mas
uma coisa é certa...
# O quê?
# Precisamos nos livrar das visitas assim que houver chance. Para lhe dizer a
verdade, estou muito interessado no que já encontramos, e quero examinar bem as
moedas
antes de irmos lá à noite.
# Acho que deve fazer isso # Rena concordou.
# Você, Rena, trouxe novo sentido à minha vida, coisa de que precisei muito
desde o minuto em que cheguei aqui. Para ser franco, fiquei desanimado ao ver o
estado
deplorável da casa. Mas agora talvez tenhamos chances de torná#la habitável e,
se conseguirmos, será graças a você.
# Não, a meu pai. Foi idéia dele deixar a cruz onde foi encontrada. Talvez, anos
atrás, uma família houvesse decidido esconder seus tesouros lá.
# Mal posso acreditar que isso esteja acontecendo comigo. Parece um conto de
fadas, como quando soube que eu era o único membro sobrevivente da família.
Achei, de
início, que se tratava de uma brincadeira.
# Mas não foi # disse Rena. # Agora você é um conde, e a Granja esperava por sua
vinda.
# Jamais sonhei que algo assim acontecesse comigo. Depois que meus pais
morreram, fiquei sozinho no mundo, pois sou filho único. Trabalhei como
marinheiro num navio,
com muitos outros homens ansiosos como eu para conhecer o mundo, especialmente
porque não tinham um lar. Como eu.
# O que aconteceu com seus pais? # Rena quis saber.
# Meu pai morreu quando eu tinha apenas três anos de idade e minha mãe me criou.
Moramos com uma velha parenta de minha mãe, que detestava viver só. Por conhecer
tão pouco do mundo, resolvi entrar na Marinha. Fiquei tão insistente que minha
mãe teve de ceder. Nunca esquecerei de meu entusiasmo quando o navio em que eu
trabalhava
entrou no mar.
# Você ficou plenamente feliz!
# Suponho que essa seja a palavra certa, feliz # o conde repetiu. # Recebi as
coisas como vieram e me senti radiante quando conheci o oriente. Estávamos em um
dos
navios de sua Majestade designado para mandar mensagens de diferentes partes do
mundo. Recebi excelente educação, pois felizmente morávamos perto de uma boa
escola.
E, entre uma multidão de marinheiros, eu fui o escolhido para mandar à
Inglaterra os relatórios sobre todos os lugares que visitávamos, e sobre a
atitude dos diferentes
povos do mundo em relação à Grã#Bretanha.
# Deve ter sido emocionante # comentou Rena. # Naturalmente posso entender isso,
porque você é bem diferente da maioria dos ingleses que conhecem muito pouco do
mundo além de seu próprio país, e que não têm interesse nenhum por nossa
história.
# Sua opinião me envaidece, Rena. Mas, francamente, reconheço que é verdade o
que acabou de dizer. A maior parte dos ingleses acha que não existe nada, a
leste,
a oeste ou a norte da Inglaterra, que mereça atenção.
# E você pensa que nosso país é importante, embora bastante pequeno? # Rena
indagou.
# Sem dúvida. Vou lhe dizer uma coisa, pode ter orgulho de ser inglesa e ter
orgulho de nossa rainha. Em quase todos os lugares onde estive como marinheiro,
me senti
importante porque era inglês. Eu e os outros companheiros éramos recebidos com
entusiasmo, e todos mostravam satisfação por nós os termos visitado.
# Mas possuímos inimigos também, não?
# Naturalmente # o conde confirmou. # Os russos sempre sentiram inveja de nós, e
sempre tiveram medo de nos enfrentar numa guerra.
# bem, graças ao bom Deus por isso. Acho a guerra uma coisa horrível e espero
que no futuro tenhamos uma paz duradoura.
# Espero também # disse o conde.
# Garanto que você vencerá a batalha desta noite. Papai costumava dizer que a
arma mais importante era acreditar no que era certo, no que era bom. E lutar por
isso.
Tenho certeza de que essa será sua arma.
O conde fitou#a atentamente, mas não respondeu.
Contudo, Rena achou que os olhos dele brilhavam.
Pôs#se a pensar, então, que talvez tivesse sido entusiasta demais, lisonjeira
demais.
CAPÍTULO IV
Rena e o conde almoçaram na sala de jantar.
# Estou lhe dando muito trabalho # ele disse. # Poderíamos ter comido na
cozinha. Seria bem mais fácil para você.
# Minha mãe ficaria chocada se soubesse uma coisa dessas. Você é um conde,
pessoa importante, e precisa sentar#se na sala de jantar.
# Um conde sem dinheiro nenhum no bolso. # Ele riu muito. # Não posso me
considerar importante. Mas reconheço que sua mãe tinha razão. É necessário
manter#se as
aparências, mesmo que seja com grande esforço de nossa parte.
Ele comeu o que Rena lhe preparara, e achou o almoço delicioso.
Quando ela trouxe a sobremesa, uma compota de frutas variadas com creme, mal
acreditou no que tinha diante de si.
# Você está me mimando demais # comentou. # Mas há ainda uma coisa sobre a qual
desejo lhe falar antes que as visitas cheguem. Porém primeiro quero saborear
cada
bocado dessa sobremesa.
# Fico muito contente por você ter gostado da minha comida. Mamãe e papai sempre
quiseram que eu cozinhasse bem. Quando tive idade suficiente, insistiram que eu
cuidasse da cozinha da casa e eram bastante críticos acerca do que eu fazia.
# Como resultado, pode agora encontrar trabalho como banqueira em qualquer
lugar.
# Pensei nisso, naturalmente. Pensei em todas as minhas possibilidades até você
me convidar para ser sua governanta.
Assim que acabou de comer a sobremesa, o conde disse:
# O que tenho a lhe falar tem de ser antes de as visitas chegarem, como já
disse.
# E o que é?
# Pensei em apresentá#la como minha noiva. Mas não acho a idéia boa.
# Quer isso dizer que pretende se casar com a moça rica? # ela perguntou,
surpresa.
# Claro que não. Jamais faria algo tão idiota, tão desagradável. O que estou
pensando é que, se Wyngate pretende restaurar minha casa, deixarei que o faça.
Não acho
que ele dirá abertamente que irá fazer isso só se eu me casar com Matilda. E não
sou a tal ponto orgulhoso a ponto de não aceitar as migalhas da mesa de um
milionário.
Mesmo que ele faça pouco para a Granja, o pouco que fizer será bom.
# E o que vai dizer sobre mim?
# Que você está me ajudando, e que é casada com um primo meu. Eu a apresentarei
como sra. Colwell e direi que me considerei muito feliz por encontrá#la morando
aqui
na aldeia. Esse encontro foi possível porque sua mãe era muito amiga da minha
mãe. Direi também que sua mãe casara#se com um pastor da igreja e que, por
morarem
muito longe uma da outra, poucas oportunidades tiveram de conviver.
# Pensou em tudo isso? Incrível! # ela exclamou.
# Quis explicar por que motivo você morava aqui sem acompanhante. E, ao mesmo
tempo, para tornar claro que estávamos juntos por causa da amizade existente
entre
nossas famílias, e não por laços do coração.
# Você é ridículo # Rena riu muito. # Tudo se parece com aquele tipo de novela
que eu não tive permissão de ler quando jovem demais, e que achei entediante
quando
fiquei mais velha.
# Bem, se tudo acontecer como pretendo, valerá a pena um pequeno esforço para
tornar esta casa melhor. Ficarei grato por isso. Mas não ao preço de sacrificar
minha
liberdade.
Rena divertia#se com a idéia dele. Porém achava pouco provável que o homem rico,
ambicioso, que estava por chegar, decidido a dar um título à filha, fosse
apanhado
de surpresa.
Duvidava que ele ajudasse o conde sem ter certeza de que não receberia em troca
o que desejava.
Contudo, resolveu não discutir sobre o modo como o conde desejava apresentá#la.
Sobretudo pelo facto de ela estar desacompanhada.
Como se lesse seus pensamentos, ele disse:
# Se achar mais prudente, poderá ir a sua casa à noite. Afinal, ainda não há
sinal do novo pároco, no momento.
# É verdade # Rena concordou. # Talvez seja melhor eu ir para casa hoje.
Mas no íntimo isso a desapontou. Ficar na Granja era algo novo, emocionante. Se
fosse para casa naquela noite, perderia grande parte do prazer.
Contudo, o mais importante era ajudar o conde. E ele se pudesse obter algum
dinheiro sem se comprometer, tudo bem, ela o ajudaria.
Após Tomarem café, Rena levou a louça para a cozinha. Lavou#a, enxugou#a e
colocou#a nos armários.
A cozinha já estava bastante limpa. Mas o que Rena realmente queria era ver o
assoalho das salas brilhando.
"Vai haver bastante dinheiro na floresta", dizia a si mesma. "O conde pagará uma
mulher da aldeia para limpar o assoalho e as janelas dos cómodos que estiverem
sendo
usados."
Rena já concluíra que as melhores salas do andar térreo eram a sala de jantar, e
a sala de visitas. A primeira lhe pareceu razoavelmente acolhedora. Mas a sala
de
visitas tinha aspecto triste. Se fosse arrumada, o tecido do sofá e das
poltronas lavado, o aspecto melhoraria.
Infelizmente nada disso poderia ser feito antes da chegada das visitas. Mas logo
ela se deu conta de que, quanto pior a aparência da casa, mais chances teria o
milionário
de tentar conseguir seu intento. E se perguntava se o conde teria forças para
recusar uma fortuna em favor de sua casa, qualquer que fosse o preço a pagar.
Mas, e a liberdade?
"Naturalmente que ele quer ser livre", dizia a si mesma. # "Nenhuma jovem deseja
se amarrar, a menos que esteja terrivelmente apaixonado."
Mas a tentação era grande, e ela só rezava para que o conde tivesse forças para
dizer não.
Tão logo terminou de arrumar a cozinha, Rena foi ao jardim apanhar algumas
flores para enfeitar o lugar onde iriam tomar chá com as visitas. Escolheu uma
sala pequena,
mas acolhedora, com vista para o jardim.
Limpou os tapetes, tirou o pó e começou a imaginar como havia sido aquela sala
no passado, com mulheres de vestidos luxuosos conversando ao som de música
suave,
executada por mestres do piano. Tinha a impressão de que ainda sentia o aroma de
perfumes caros.
Depois de arrumada, cheia de flores, a sala ficou tão atraente que Rena não teve
dúvida de que o sr. Wyngate gastaria qualquer quantia para fazer o resto da casa
tão convidativo como o daquela sala, se não mais.
Ao atravessar o corredor cruzou com o conde e pediu:
# Numa coisa eu insisto: não convide, sob qualquer pretexto, seus amigos para
passar a noite aqui. Os quartos estão em péssimo estado. O seu é o melhor de
todos,
embora precise também de uma boa limpeza.
# Eu fecho os olhos quando estou me despindo, e aprecio a vista enquanto me
visto # o conde respondeu.
# Muito sensato. Mas não pode pedir a seus hóspedes que façam o mesmo. Se sempre
viveram à sombra do luxo, não saberiam como usar esses artifícios.
Ambos riram muito e depois o conde acrescentou:
# Bem, foram eles que quiseram vir aqui. Se o que virem os chocar, o problema
não é meu.
# A que horas deverão chegar? # indagou Rena.
# Se vierem directamente de Londres, devem estar chegando. A menos que tenham
parado no caminho para almoçar. Portanto, não poderemos dar uma volta pelo
jardim ou
nadar no lago, que é o que eu gostaria de fazer agora. É melhor nos prepararmos
para recebê#los de braços abertos.
Embora o conde estivesse ansioso pela chegada das visitas, Rena lamentava não
poder percorrer a casa, os jardins e a floresta com ele, antes de anoitecer.
Havia muito ainda que Rena gostaria de lhe mostrar. Por mais negligenciada que a
casa estivesse, a natureza tinha sua própria maneira de conservar o mundo
exterior
viçoso e lindo, durante a primavera.
Agora, quase verão, as árvores cobertas de folhagem, as flores desabrochando no
meio dos gramados, e as águas do riacho arrebentando contra a rocha, eram coisas
mais lindas do que quaisquer outras que o dinheiro pudesse comprar.
"É a própria Natureza, e quem poderia pedir mais?"
De súbito apavorou#se à ideia de que o conde pudesse desistir de tudo e partir
para outros lugares da Inglaterra, esquecendo#se da casa em mau estado que lhe
pertencia.
"Oh, Deus", ela orava. "Não permita que isso aconteça."
Meia hora mais tarde ouviu#se o som de rodas de carruagem na porta da frente.
Rena, que dava os últimos retoques na sala, soube que as visitas haviam chegado.
Ouviu em seguida vozes no hall e foi ao encontro dos recém#chegados.
Um homem baixo conversava com o conde.
Vestia#se com apuros, e via#se que suas roupas eram caras. Não negava ser
milionário. Não porque seu alfinete da gravata brilhasse, ou porque o anel que
usava no
dedo mínimo fosse valioso, mas havia como que uma aura, ou talvez uma força
emanando dele dizendo que se tratava de um milionário.
A filha, elegantemente vestida, estava ao lado. As pérolas em volta do seu
pescoço e o diamante dos brincos fizeram com que Rena visse com clareza que ela
era filha
de um homem muito rico.
Ambos, pai e filha, falavam animadamente com o conde quando ela apareceu. E
ambos a olharam surpreendidos.
# Quero apresentá#los a uma pessoa que tem me ajudado muito, tão logo cheguei
aqui # disse o conde. # É a sra. Colwell, casada com meu primo, que mora no
norte da
Inglaterra. Rena vai lhes contar em que estado encontrei a casa. Pior do que ela
mesma esperava. # E, dirigindo#se a Rena, ele acrescentou: # Nossos hóspedes
fizeram
a viagem de Londres até aqui em tempo recorde. Agora precisamos lhes mostrar os
horrores com que me deparei ao chegar, e deixá#los ver, com os próprios olhos, o
que acontece quando uma propriedade, tal qual uma linda mulher, é negligenciada.
O conde riu, mas o visitante fitava#o atentamente, sem rir.
Virando#se para Rena o conde disse, terminando com as apresentações:
# Esses são meus amigos, Rena, o sr. Wyngate e sua encantadora filha Matilda,
que veio junto com o pai para ver as ruínas que nos chocaram de maneira tão
impressionante.
Rena apertou a mão das visitas. E só naquele instante se deu conta de que não
usava aliança. Pôs imediatamente a mão esquerda no bolso. Precisaria
providenciar uma
aliança o mais depressa possível.
# Espero que tenham feito boa viagem # ela disse. # Acho que a duração é de duas
horas, mesmo com animais ligeiros. Mas é tão agradável visitar o campo que o
esforço
vale a pena.
# É exactamente o que eu estava pensando # comentou o sr. Wyngate. # Eu queria
muito ver a estranha casa que meu amigo herdou. Mas agora concluo que foi um
prazer
duvidoso.
O homem observava a poeira do hall enquanto falava. Rena acompanhou#lhe o olhar
e imaginou que três empregados levariam no mínimo uma semana para limpar apenas
o
hall e os corredores.
E as janelas? E as escadas? As passadeiras haviam perdido a cor e estavam
rasgadas em vários lugares.
# Agora quero que me mostrem a casa que, posso ver com um golpe de vista,
precisa de muita coisa para ser habitada # o sr. Wyngate falou num tom de voz
brusco.
# Acho que antes tem de descansar um pouco depois da fatigante viagem # o conde
sugeriu. # Um copo de vinho o reanimará. Venha comigo até a sala, o único lugar
arrumado
até agora. Verá a casa toda mais tarde.
# Eu não diria não a um copo de vinho. E acho que Matilda aceitaria também um.
# Eu acho tão maravilhoso estar no campo! # Matilda exclamou. # Poderei ir ao
jardim?
# É claro que poderá # Rena respondeu. # Terei prazer em lhe mostrar o que foi
um dia um lindo jardim mas que faz hoje a alegria dos coelhos e dos passarinhos.
# Esses bichinhos devem estar muito felizes em ter um lugar só para si # Matilda
disse.
# Espero que aprecie a liberdade. Quando eu era criança, teria adorado ter esse
espaço todo só para mim.
As duas mulheres saíram, deixando os homens a sós.
# Sente#se # disse o conde. Foi em seguida providenciar o vinho.
# Assim é melhor para conversarmos.
# Estou aqui há apenas dois dias # o conde explicou. # Não posso fazer milagres
e, mesmo que pudesse, não tenho condições económicas para tal.
# Sua prima arrumou esta sala com muito gosto # Wyngate comentou. # Se ela
decorar o resto da casa da mesma maneira, você acha que ficará aqui ou prefere
voltar
para o mar?
# Minha vida de marinheiro está encerrada. Gostei de percorrer o mundo, coisa
que não teria feito senão fosse pela Marinha. Mas agora prefiro terra firme.
Mesmo
esta mansão, cujo tecto poderá cair em minha cabeça a qualquer momento, é
preferível aos balanços das ondas do mar.
# Posso entender suas razões # observou Wyngate. # Mas esta casa é inabitável.
Como pode morar do jeito que está?
# Isso é exactamente o que minha prima não pára de dizer. Mas a resposta é
simples. Não tenho aonde ir.
# É sobre isso que vim lhe falar. Entendo que, sem sua prima, este lugar seria
vazio e depressivo. E suponho que lhe custaria uma boa quantia em dinheiro para
restaurá#lo.
# Muito mais do que tenho # respondeu o conde. # Com as regras que foram
estabelecidas por meus antecessores, não poderei vender a propriedade, que
deverá passar
aos filhos que não terei, porque também não possuo condições para me casar.
Portanto, a casa continuará assim. Pode ruir por terra, mas como posso evitar
que isso
aconteça?
Houve alguns minutos de silêncio antes de o sr. Wyngate responder:
# Seria tudo muito simples se você tivesse dinheiro. Embora a quantia seja
considerável para a reforma, acho que vale a pena ser gasta. A casa merece. É
uma herança
importante não só para você, mas para seus filhos, quando os tiver.
# Está sendo muito optimista. # O conde deu uma gargalhada. # Como posso
constituir família e tornar este lugar habitável?
# Minha filha sempre o achou muito atraente # o sr. Wyngate enfim chegou ao
ponto onde queria chegar. # Não posso pensar num melhor presente de casamento
para vocês
dois do que pôr esta casa em ruínas e toda sua propriedade em ordem.
# Acho que o que me sugere deve ser julgado por sua filha e por mim. Se formos
nos casar, precisamos nos amar, do contrário tudo consistirá numa grande farsa.
Vi
sua filha apenas uma vez. Portanto, por favor, dê#nos uma chance de nos
conhecermos melhor. Quem pode saber o que acontecerá no futuro?
# É muito sensato, meu filho., não posso negar. Vou providenciar homens para
trabalhar aqui e, quando a metade do serviço estiver pronta, conversaremos sobre
negócios.
Estou certo de que o resultado será satisfatório para ambos.
# Realmente pensa assim? # indagou o conde, atónito.
# É claro que penso # o milionário replicou. # Eu não teria ficado rico como
fiquei se não tivesse palavra, ou se decepcionasse os que me ouviam. Mandarei
imediatamente
trabalhadores de Londres, e sei escolher pessoal. Quando você vir o resultado,
ficará satisfeito, e Matilda também.
# Não sei o que dizer # contestou o conde. # Sabe tanto quanto eu, que um
casamento sem amor pode ser um desastre para a mulher e para o homem. Conforme
já disse,
vi sua filha somente uma vez, e o mesmo sucedeu com ela.
# Mas vocês podem se ver constantemente durante as obras, e as marteladas o
acordarão bem cedo pela manhã # declarou o sr. Wyngate. # Estou disposto a ficar
na Inglaterra
durante algum tempo. Aluguei uma casa grande e confortável em Park Lane. Matilda
e eu viremos aqui regularmente para ver o progresso das obras, e antes do fim do
verão acho que iremos ouvir os sinos da igreja local, pela qual passamos,
anunciando um casamento.
# Não tenho idéia do que lhe responder # disse o conde. # Afinal, o que está
planeando, pode não acontecer. Há sempre uma possibilidade de sua filha, que por
sinal
é muito atraente, vir a conhecer um homem e a se apaixonar por ele. As mulheres
gostam de escolher seus maridos, e não se casam com um homem escolhido para
elas,
por outras pessoas!
# Minha filha é diferente. Faz o que eu quero. E sabe que decidirei melhor do
que ela sobre o que deve fazer.
# Se quer realmente me ajudar a deixar esta casa tão perfeita quanto foi um dia,
posso apenas agradecer#lhe do fundo de meu coração. E esperar que não se sinta
lesado
nunca, quaisquer que forem as consequências.
# Quando você e Matilda morarem aqui e tiverem muitos filhos, serei o homem mais
feliz deste mundo. A razão pela qual me tornei um milionário deve#se ao facto de
que acredito no que faço. Até agora nunca apostei em cavalo perdedor.
# Eu gostaria muito de dizer o mesmo # declarou o conde. # Mas posso apenas
dizer que lhe sou muito grato.
# Guarde suas palavras de gratidão até ver o final das obras. Sei que isso
acontecerá muito antes do que pensa.
# Espero que sim. Afinal, você é um exemplo vivo do que um homem pode conseguir,
com sua persistência.
# Tem razão # concordou o sr. Wyngate de maneira pomposa. # No instante em que
vi você, soube que poderíamos ser amigos.
Foi com dificuldade que o conde segurou#se para não dizer que fora seu título
que fizera o homem pedir para ser apresentado, numa festa nos Estados Unidos.
Os americanos fizeram grande estardalhaço ao saber sobre a herança que ele
ignorara ser sua, durante anos.
Mesmo assim, foi só depois que voltou à Inglaterra que o conde teve certeza
mesmo de que herdara o título com a propriedade, incluindo a casa quase em
ruínas.
Agora havia uma chance de que a casa voltaria a ser o que fora quando
construída.
Contudo, seria prudente aceitar a oferta do milionário?
Como se adivinhasse seu pensamento, o sr. Wyngate disse:
# Ouça bem, meu filho, se você recusar minha oferta, se arrependerá pelo resto
da vida. Precisa aprender, como eu aprendi, a agarrar as oportunidades quando
elas
aparecem, e a nunca deixar de fazer o que puder para obter o que deseja da vida.
É loucura recusar uma boa oferta que lhe fazem.
# Tem razão, naturalmente que tem razão. Mas receio lhe dizer sim, quando penso
que o mais prudente seria lhe dizer que vou pensar.
# Não posso acreditar que seja tão tolo! # O sr. Wyngate insistia. # Arrisque,
rapaz, aproveite quando a oportunidade aparece. Foi o que fiz em minha vida
inteira.
Não me importa lhe dizer que arrisquei inúmeras vezes, mas quase sempre consegui
resultados satisfatórios. Quase sempre fui vencedor. E não posso acreditar que,
no seu caso, acabarei de mãos vazias.
# Se pensa assim # o conde respondeu #, só posso lhe dizer obrigado. Muito
obrigado mesmo. E, quanto mais cedo se iniciar o trabalho, mais emocionado
ficarei por
ter a casa habitável para mim e para meus filhos, quando e se os tiver.
Dando pancadinhas nas costas do conde, o sr. Wyngate disse:
# Agora fala com sensatez. Como eu, sabe ver onde está um bom negócio. Mas se,
como imagino, não tem um lugar confortável para nós passarmos a noite, Matilda e
eu
voltaremos para Londres. Porém, logo que os pedreiros começarem a derrubar as
paredes, o que acontecerá em dois ou três dias, voltaremos para apressá#los e
para
ter certeza de que estão fazendo tudo exactamente como você deseja.
Ele falava com tanta determinação, que o conde concluiu que essa fora a
principal qualidade que o fizera rico.
# Agora, quero percorrer a casa toda # o sr. Wyngate disse. # Quero ver todos os
cómodos para ter uma idéia de quantos homens deverão ser contratados para
começar
com o trabalho assim que eu der ordem.
Sentindo#se como se estivesse sonhando, e que nada daquilo estivesse
acontecendo, o conde levou seu hóspede para conhecer a casa.
Começaram por subir ao telhado e de lá apreciar a propriedade. Depois desceram,
abrindo cómodo por cómodo. Finalmente chegaram ao subsolo onde ficavam a sala de
jogos, o arsenal, o jardim de inverno, e a sala de música.
Tudo o que restava do jardim de inverno eram o piso e grande quantidade de
cascos de vidro.
Foram depois ao salão de baile e a outra sala que com certeza fora no passado a
galeria de arte. Mas todas as teclas tinham sido roubadas. Sobravam nas paredes
apenas
as marcas dos quadros.
# Telas famosas é algo que você não pode recuperar # comentou o sr. Wyngate. #
MAs há muitas obras de pintores modernos que poderão ocupar o lugar do que foi
roubado.
E as próximas gerações que morarem aqui serão tão orgulhosas delas como seus
antepassados um dia o foram do que possuíam.
# Pelo que posso deduzir, meus antepassados negligenciaram demais este lugar. Li
os nomes dos autores dos quadros roubados e me deu vontade de saber por onde
andavam
esses quadros.
# Esqueça! Esqueça! # o sr. Wyngate insistia. # Vou escolher quadros para sua
galeria de arte e também para a sala de recepção.
# Reconheço que vai contribuir enormemente para embelezar minha casa # comentou
o conde. Apenas espero que não retire tudo o que pôs quando o próximo conde
ocupar
este lugar.
# Isso é algo que não me preocupa, pois o próximo conde me chamará de vovô.
O conde reconheceu ser essa a resposta que deveria ter esperado. Não disse nada,
contudo. E os dois homens foram para outra sala, tão nua como as demais.
Durante todo esse tempo, Rena e Matilda passeavam pelo jardim. Chegaram até a
piscina.
# Está vendo? # observou Rena. # A piscina também foi abandonada. Seria bom
podermos nadar aqui, como se fazia cem anos atrás.
# Adoro nadar # comentou Matilda. # Nos Estados Unidos, as mulheres nadam quase
tanto quanto os homens. Mas penso que o mesmo não acontece em Londres.
# Acho que temos muitas piscinas no país. Porém, para que haja a aprovação do
povo, as mulheres devem usar roupas de banho de tecido grosso, e cobrir o corpo
talvez
mais do que um vestido de baile cobriria.
Matilda riu muito e declarou:
# Sei disso. Minha roupa de banho é grossa e nada confortável. Por isso prefiro
nadar nua.
# E seu pai permite? # indagou Rena, escandalizada.
# Ele não sabe # Matilda confessou. # Sempre que há uma piscina nos lugares onde
nos hospedamos, espero até ele ir praticar seus desportos e depois vou nadar.
Volto
ao meu quarto e me visto como uma dama de respeito.
# Você é muito esperta # Rena riu com gosto. # Mas cuidado para ele não a
apanhar um dia antes que se vista.
# Meu pai ficaria furioso se isso acontecesse. Ele insiste que me comporte como
uma perfeita dama. Por isso quer que eu tenha um título de nobreza.
# É o que você deseja? # Rena estava curiosa em saber.
# O que desejo é me apaixonar por alguém que também esteja apaixonado por mim.
Assim seremos muito felizes, porque nos amamos. # Ela suspirou antes de
prosseguir:
# Não me importaria de não ter todo o dinheiro para viver. Ou de não ter uma
casa enorme que seria fria e vazia, a menos que houvesse amor.
# Então o que você realmente deseja é se apaixonar por alguém. É isso? # Rena
sussurrou.
# Se lhe contar uma coisa, promete guardar segredo? Promete não contar nada a
papai?
# É claro que prometo. Qualquer coisa que você me contar, guardarei como
segredo. Não contarei a ninguém.
# Muito bem então. # Matilda respirou fundo. # Estou apaixonada. E amo esse
homem como ele me ama.
Enquanto falava ela olhava para trás, com medo de que alguém a pudesse escutar.
Baixando bem a voz, quase num sussurro, Rena perguntou:
# E seu pai sabe disso?
# Não! Claro que não! Prometa que não vai contar nada a ele.
# Prometo! Mas espero que você saiba que seu pai é muito ambicioso em relação ao
casamento, e quer que se case com um homem de prestígio.
# Sei disso # Matilda respondeu. # Daí estarmos aqui. Ele quer que eu tenha um
título de nobreza. De preferência duquesa. Mas, se não for possível, condessa.
# O homem que você ama tem um desses títulos?
# Claro que não! É apenas senhor, e eu serei apenas senhora.
# Seu pai ficaria muito zangado se você dissesse que queria se casar com esse
homem?
# Sem dúvida. Prometa mais uma vez que não vai contar a ele o que lhe disse.
# Já falei que prometo. E repito mil vezes se desejar. Tudo é tão emocionante!
Porém receio que seus sonhos nunca se realizem.
# Farei tudo para que se transformem em realidade. Mas temos de ter paciência.
Se eu fugir agora para me casar com o homem que amo, papai cortará minha mesada.
#
Matilda baixou a voz novamente como se receasse que alguém a estivesse ouvindo.
# Estamos economizando dinheiro e estou tentando conseguir o mais possível de
papai
sem que ele desconfie de nada. Quando tivermos uma quantia suficiente, nos
casaremos e nos esconderemos num lugar onde papai não possa nos encontrar. E lá
ficaremos
até que ele nos perdoe, o que sei que acontecerá mais cedo ou mais tarde.
# Você é muito valente # disse Rena. # Muitas mulheres não teriam coragem de
fazer isso, tendo um pai decidido como o seu.
# Sou filha dele, e tão decidida quanto ele # Matilda respondeu. # Mas você pode
entender por que papai não pode descobrir nada até que estejamos prontos para
fugir.
Entende, não? # Um sorriso iluminou#lhe as faces. # Mas tenho certeza, porque
nos amamos muito, de que seremos mais felizes do que qualquer outro casal do
mundo.
# Tenho certeza disso # Rena observou. # Se eu puder ajudá#la, talvez
escondendo#a ou evitando que seu pai desconfie do que você está fazendo, conte
comigo. Pode
confiar em mim.
# Fiquei certa disso no momento em que a vi. Não tive ninguém com quem conversar
sobre o assunto durante muito tempo. E soube, assim que entrei nessa casa, que o
conde não sentia nada por mim. Nem mesmo afecto. Mas, quando vi você, concluí
que era a mulher que ele desejaria ter como esposa.
# Como pode dizer isso? # Rena estava intrigada. # Mal nos conhecemos.
# Bem, espere e verá! # Matilda falou, com um sorriso. # Mas, por favor, tenha
cuidado com o que disser a papai sobre mim. Se ele souber que estou apaixonada
por
Cecil, ou que Cecil me ama, encontrará um meio de fazê#lo sair do país ou até
matá#lo. # Ela deu um suspiro. # Papai está acostumado a conseguir o que deseja.
E
sempre consegue, essa é a verdade.
# Você precisa ser muito esperta, Matilda. Muito, muito esperta.
# Como filha de meu pai, é exactamente o que sou. Esperta. Muito, muito esperta.
CAPÍTULO V
Quando se separou de Matilda, Rena continuou pensando sobre a jovem, e imaginou
se algum dia ela poderia ser feliz.
Chegara à conclusão, havia muito tempo já, de que o dinheiro destruía tudo o que
era lindo, agradável e confortável da vida. O dinheiro podia liquidar com uma
pessoa
mais depressa do que qualquer outra arma. Ela pensava na situação de Matilda,
que não lhe parecia muito animadora. Sabia que o pai queria um título de
condessa para
a filha. E sabia também que John # como teria de chamar o conde dali por diante,
pois fingira ser sua prima # não pretendia se casar com Matilda.
Tudo se lhe apresentava terrivelmente complicado.
Achava impossível encontrar um meio de Matilda ser feliz e de John ter
suficiente dinheiro para restaurar a Granja.
"Que posso fazer? Que posso fazer?", ela se perguntava.
Tinha certeza de que o sr. Wyngate procurava um meio de forçar John a se casar
com sua filha. Porém Matilda só queria estar com seu Cecil.
Rena não prestara atenção a nada durante o jantar, pois seus pensamentos
continuavam com Cecil e não com o que estava acontecendo.
"Que situação estranha", reflectia. "Pelos vistos, eu sou a única pessoa não
envolvida no caso."
Mas, bem no fundo de sua mente, havia a pergunta sobre o que fazer, como viver,
e de quando deveria sair da Granja.
Ocupava#se agora arrumando os quartos e saletas da casa.
Num dos quartos achou que a cama estava em lugar errado. Deitada, a pessoa não
podia ver o sol da manhã entrando pela janela.
Em outro cómodo, uma saleta, embora achasse que nunca seria usada, achou que o
aspecto era frio demais. Não um lugar acolhedor onde se podia sentar em volta do
fogo,
conversando ou lendo.
A biblioteca era um local onde Rena ainda não fizera uma tentativa de
remodelação. Os livros pareciam jogados, como se o consulente tivesse procurado
algo e depois
abandonado tudo, sem ficar satisfeito. Rena tinha certeza de que havia lá livros
de autores famosos, de grande valor. Não mencionara o caso a John, porque ele já
tinha muito em que pensar.
De uma coisa Rena estava certa, a de evitar uma conversa com o sr. Wyngate,.
Pois sabia que a única razão de ele estar lá era cuidar do casamento da filha
com um
conde. Com John.
Então, mesmo antes de o casamento se realizar, contrataria os melhores
construtores do país para pôr a casa em ordem, tornando#a decente antes de ser
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  • 1. BARBARA CARTLAND , sem d vida, a mais famosa escritora rom ntica do mundo.� � � Entre suas in meras qualidades, podemos citar algumas: historiadora,� � ge grafa, poetisa� e especialista em dietas naturais. Actuante personalidade pol tica, sempre lutou pelos direitos dos grupos menos� favorecidos da sociedade inglesa, especialmente os ciganos, vi vas pobres e� crian as� abandonadas. Supercriativa e culta, j escreveu mais de 550 livros, editados em todo mundo� em dezenas de idiomas e dialectos, tendo alcan ado com essas obras a incr vel� � marca de 600 milh es de exemplares vendidos.� CAP TULO I� 1964 Rena Colwell entrou na sala onde o pai costumava escrever os serm es, e foi� para a escrivaninha que, no tempo de sua m e, estava cheia de flores. Era uma� linda sala. Agora, o local parecia abandonado, com o papel de parede rasgado em v rios� lugares, as cortinas velhas e desbotadas. Contudo, para Rena continuava sendo o lugar onde ela se sentia feliz e em seguran a. L , estivera sempre na companhia das pessoas que amava.� � Sua m e morrera antes. A partir do momento em que fora sepultada e que o marido� dissera as preces, ele cessara de ser o mesmo homem. Perdera toda a alegria de viver. Prosseguira com a mesma actividade de pastor da igreja durante meses ainda, visitando os doentes da par quia, enterrando os mortos. E, acima de tudo,� lutando para que os jovens assistissem cerim nia dominical. Essa sua luta tornava#se mais� � dif cil no ver o, quando eles preferiam jogos ao ar livre ou nadar no rio.� � Rena achava que a nova gera o n o se interessava muito pelo futuro. Os�� � adolescentes, pelos vistos, sentiam#se felizes com o que tinham. E Rena n o podia entender tal atitude, pois a aldeia era muito pobre, as� crian as n o frequentavam boas escolas, e raramente havia actividades sociais� � para entret #las.� Contentavam#se com o pouco que tinham. Rena acreditava que, em grande parte, a raz o dessa felicidade devia#se a seu� pai, que estava sempre pronto a ajudar os habitantes locais na hora da desgra a.� No entanto, depois da morte da esposa, o velho pastor pareceu perder a energia, tornando#se menos activo em seu apostolado. Rena detestava pensar dessa maneira, mas reconhecia ser a verdade. Seu pai se tornara uma sombra do que havia sido no passado. Alguns meses depois da morte da mulher, fora chamado para a casa de um agonizante, numa noite fria de inverno, com neve abundante. Contra ra uma gripe� que piorava a cada dia. Rena fez tudo o que podia para fazer com que o pai se sentisse melhor. At lhe� dera as mezinhas que aprendera a fazer com a m e. Mas ele n o reagia.� � Reconhecia que o pai nunca fora muito forte, e seu tipo de vida em nada contribu a para que gozasse de melhor sa de. Era chamado continuamente em� � noites frias para atender doentes e agonizantes. Ele fora capel o durante a guerra, e isso concorrera para piorar seu estado� geral. s vezes conversava sobre suas experi ncias junto ao ex rcito ingl s.� � � � Embora n o� se queixasse, Rena tinha certeza de que sofrera muito por estar longe da Inglaterra. N o apenas um sofrimento f sico, mas da mente e do cora o.� � �� E agora, quando inesperadamente ele come ava a melhorar, ela encontrou#o morto� na cama.
  • 2. De manh fora ao quarto do pai a fim de saber por que motivo n o descera para� � tomar caf , e notou que ele n o respirava. Achou que talvez fosse imagina o� � �� sua, e que logo o pai reviveria e riria dela, por ter se assustado tanto. Mas, ao ver que o cora o n o batia se deu conta da realidade. Desesperou#se, ciente de�� � que sua vida terminara tamb m. N o poderia viver sem o pai.� � Os habitantes da aldeia ficaram desolados, pois perdiam o melhor amigo, um amigo que nunca falhara nas horas dif ceis. Todos choraram muito no funeral,� repetindo constantemente: O que vamos fazer sem ele? Como poderemos continuar vivendo? Era de se esperar que se preocupassem. E Rena era a mais preocupada de todos, pela simples raz o de que n o tinha para onde ir e nem dinheiro.� � A aldeia ficava numa parte esquecida do mundo, raramente era visitada por pessoas de outras regi es do condado. E isso porque a Casa#Grande, que fora� habitada por dez ou mais gera es de condes, estava agora abandonada e negligenciada.�� O ltimo propriet rio n o tivera interesse nas pessoas que l moravam; tinha� � � � poucos empregados, pois n o tinha dinheiro. Herdara apenas a Casa#Grande de um� antecessor, mas n o meios para mant #la.� � Rena jamais se preocupara com o conde, pois na verdade n o o conhecia. O homem� vivia confinado na casa e nunca ningu m o vira cavalgando nos prados ou indo� � aldeia. O homem morrera durante a noite, e s dias mais tarde os habitantes locais� souberam de sua morte. Nem o pastor fora chamado. Rena s esperava que, ap s a morte dele, viesse outro propriet rio que se� � � interessasse mais pela aldeia. Por m, o que a preocupava acima de tudo, agora ap s a morte de seu pai, era a� � vinda do novo pastor, nomeado pelo bispo. Precisava desocupar a Casa Paroquial, e n o� tinha para onde ir. O pai deixara a conta banc ria quase vazia. O sal rio dele era muito reduzido,� � e mal dava para viver. E mesmo esse pequeno sal rio cessaria de ser enviado� pelo bispo. # O que poderei fazer? O que poderei fazer? # ela sussurrava. Mas n o obteve resposta.� Ap s a morte da m e, cuidara do pai achando que ele seria eterno. Nunca� � pensara no facto de que chegaria o momento em que, sem dinheiro, seria for ada� a ganhar a vida num mundo desconhecido. Mas, como poderia pagar um lugar para dormir, caso tivesse de sair da aldeia? Seu nervosismo aumentou ao receber a carta do bispo dizendo que lamentaria muito a morte do pastor, e que mandaria um substituto o mais depressa poss vel. Isso� significava, embora o bispo n o houvesse dito, que ela teria de desocupar a Casa Paroquial.� Sua pergunta era: para onde ir? Londres ficava bastante longe, e raramente ela fora l . N o podia se imaginar� � trabalhando numa loja da aldeia vizinha, lugar bastante pequeno e de pouco movimento. Tampouco ensinando crian as que em geral iam a escolas p blicas.� � "O que posso fazer? O que posso fazer?" Seu pai sempre lhe dissera que, se rezasse, Deus atendia as suas preces. Mas agora parecia que Deus n o a ouvia, ou suas preces n o eram fervorosas.� � "O que posso fazer? Leio muito mas n o tenho diploma de professora. Adoro� cavalgar mas n o h cavalos nesta vizinhan a."� � � O cavalo que possu ra morrera, havia tr s anos j . Agora, seria uma quest o� � � � de tempo desocupar a Casa Paroquial quando o novo pastor aparecesse. Tinha de come ar a preparar as malas. Havia pouca coisa a levar. Alguns� vestidos seus e de sua m e. Estava consciente de que precisava andar bem� vestida para arranjar um bom emprego. Rena era uma mo a bonita. Seus cabelos louros tinham um toque de dourado. Os�
  • 3. olhos azuis da cor do c u eram enormes, talvez grandes demais para um rosto� t o pequeno.� Como os pais n o dessem festas em casa, poucas pessoas haviam percebido que a� pequena Rena se transformara numa linda mulher. E, se andasse bem vestida, seria a mo a mais atraente de qualquer reuni o social.� � "O que posso fazer?" "Talvez trabalhar como empregada dom stica?" Mas a ideia de morar em casa� estranha a apavorava. Sabia que a m e ficaria chocada se viesse a saber que� essa ideia lhe passara pela cabe a.� A sra. Colwell nascera numa fam lia de certa projec o social. E os pais dela� �� n o ficaram nada felizes ao saber que a filha se apaixonara por um pastor da� igreja, assistente do Vig rio da par quia que eles frequentavam aos domingos.� � # Seu pai foi um dos homens mais lindos que conheci # ela dissera a Rena. # Ele disse que se apaixonou por mim no primeiro dia em que me viu entrando na igreja, na companhia de meus pais, seus av s.� # E voc s se amaram logo? # perguntara Rena.� # Acho que foi o que aconteceu. Mas n o tive chance de falar com seu pai� durante v rias semanas. Por m um dia nos encontramos, e ele quase n o disse� � � uma palavra, t o nervoso estava. Apenas confessou que se impressionara com meu aspecto� � primeira vista. Rena rira muito enquanto a m o continuava:� # Pude entender perfeitamente, porque senti o mesmo. Queria falar mas n o sabia� o que dizer. No primeiro dia em que ele foi a nossa casa com o vig rio, para� tomar ch , nenhum de n s disse uma nica palavra.� � � # Mas voc ficou emocionada com a visita, mam e?� � # T o emocionada que sonhei com ele todas as noites at nosso pr ximo� � � encontro. E levou muito tempo para que o jovem ministro da igreja tivesse coragem de se aproximar da filha do abastado propriet rio de terras, para conversar com ela a� s s.� Enfim um dia, quando houve uma grande festa na casa, a menina apaixonada encontrou um pretexto, n o se lembrava bem qual fora, de mostrar ao jovem� pastor o canteiro de morangos. E andaram sozinhos pelo enorme jardim que rodeava a mans o.� # Quanto tempo depois disso papai levou, mam e, para dizer que a amava?� # Para mim pareceram milhares de anos. Confesso que eu amava seu pai, mas n o� tinha muita certeza se ele me amava. # Finalmente um dia ele disse que a amava? # Disse, e eu me senti arrebatada aos c us junto com ele. Espero, querida, que� um dia isso aconte a com voc # a sra. Colwell dissera filha.� � � Seus pais eram as duas pessoas mais felizes que Rena conhecera. s vezes tinha� a impress o de que se esqueciam da exist ncia dela e de tudo o mais que havia� � no mundo, exceptuando#se o facto de que estavam juntos. Pensando no passado, Rena imaginava que essa era a raz o de os pais nunca darem� festas. Eles se bastavam. As reuni es sociais, raras, s aconteciam em fun o� � �� do trabalho da igreja. Quando as visitas iam embora, eles sentiam al vio porque ficavam sozinhos, n o� � queriam mais ningu m al m dos dois.� � Por m isso n o queria dizer que ela crescera sem receber amor. Mas, de que� � adiantava esse amor agora? Quase instintivamente sentou#se escrivaninha do pai. Sentia#se com se ele� estivesse presente, e lhe fez a pergunta que a atormentava. "O que posso fazer, papai? Aonde devo ir e a quem devo pedir ajuda? Assim que o novo pastor chegar, terei que desocupar a Casa Paroquial. No momento, n o tenho�
  • 4. dinheiro nem para ir a aldeia mais pr xima. Isso sem falar em Londres, onde talvez possa� arranjar algum emprego bom." Ela suspirou e esperou ouvir o pai lhe falar o que deveria fazer. Ent o, como se o conselho lhe tivesse sido enunciado em voz alta, Rena come ou� � a pensar na cruz que fora encontrada na floresta, atr s da Granja, como era� chamada a Casa#Grande. Lembrava#se de que fora assunto das conversas na aldeia, quando trabalhadores da floresta a encontraram e pediram ao pastor que fosse v #la.� # Parece#me bem estranho o aparecimento dessa cruz # a m e de Rena dissera ao� marido. # Mas os homens acham que tem algo a ver com religi o. Voc precisa ir� � l para� dizer se alguma coisa sagrada ou n o.� � Rena tinha doze anos na ocasi o. E recordava#se de ter ouvido o pai dizer que� n o tinha tempo, pois precisava preparar o serm o de domingo.� � # Voc precisa ir # a mulher insistira. # Afinal, assunto relacionado� � � igreja. E ele cedera, suspirando. Pegou o chap u, beijou a mulher e embrenhou#se pela� floresta. O que os homens acharam era uma enorme cruz, r stica, mas sem a parte superior.� Estava suja de lama. Por m, depois que eles a limparam, descobriram uma� inscri o�� que tiveram dificuldade em decifrar. Rena e a m e foram ver a cruz alguns dias mais tarde. Estava circundada de� rvores. Era primavera, e havia flores por toda a parte.� Como o local ficasse na outra extremidade da floresta, fazia#se necess rio� atravessar os jardins da Granja para chegar l . Rena lembrava#se de que ficara� encantada ao ver a Granja de perto, pela primeira vez. E se perguntara se algum dia teria chance de nadar no riacho que atravessava a propriedade dos condes. Extasiara#se ao ver a cruz, e entendera por que o pai se interessara tanto pelo achado. A madeira era diferente de qualquer outra que conheciam. Rena viu a inscri o�� que convencera seu pai de que se tratava de uma verdadeira cruz. Com paci ncia, o pastor conseguira decifrar palavra por palavra.� Todos voc s que precisarem de aux lio, o encontrar o quando orarem para mim.� � � # Isso foi o que me convenceu de que na verdade uma cruz, apesar da falta da� parte superior # o pastor dissera. # Acho que foi colocada l h centenas de� � anos, quando a casa foi constru da. Ou talvez at antes disso.� � E ele dera instru es para que a cruz nunca fosse tirada do lugar, excepto se�� houvesse uma ordem especial do dono das terras. E l continuara a cruz, at o presente.� � "Eu havia me esquecido dessa estranha cruz", Rena disse a si mesma. "Talvez se rezasse naquele lugar, encontraria aux lio, como outras pessoas o encontraram.� Meu pedido ser muito dif cil de ser satisfeito, mas preciso fazer de tudo para� � ganhar algum dinheiro que fa a com que eu n o morra de fome."� � Era primavera. Rena n o levou casaco nem chap u para atravessar a floresta.� � Quando avistou ao longe os port es da Granja, notou que estavam abertos.� Haveria visitantes no local?, pensou. N o, era pouco prov vel.� � Ela quase n o se lembrava de como era a Granja. Passara por l algumas vezes,� � e rapidamente. Sabia que havia salas grandes e sumptuosas. Mas, para Rena, sala grande era qualquer recinto um pouco maior do que as pequenas salas de sua casa. Ela notou que o jardim estava abandonado. Sendo primavera, os p ssaros� cantavam, de vez em quando, um coelho ou um esquilo cruzava os gramados. Rena estava com pressa, o que n o a impediu, contudo, de apreciar o frescor da� relva enquanto o sol aquecia sua pele. "Adoro o campo", dizia a si mesma. "Se tiver de morar em Londres a fim de
  • 5. trabalhar, terei saudades deste lugar e passarei meus dias ansiosa para voltar." Deu um profundo suspiro, sabendo que voltar era mais ou menos um sonho, pois n o haveria possibilidade de ela ganhar a vida na aldeia.� Continuou caminhando devagar, apreciando a vegeta o e as flores. Logo deparou�� com o riacho. Foi quando viu a cruz na qual seu pai estivera t o interessado.� Linda, com os ran nculos desabrochando a seus p s.� � O dourado do sol penetrando por entre a folhagem das rvores real ava a� � madeira escura da cruz, que parecia ainda maior do que na realidade era. Todo o cen rio tinha aspecto impressionante. E Rena achou que o pai tivera� raz o ao insistir que aquele seria o lugar perfeito para as pessoas levarem� suas dificuldades e orar, pedindo aux lio.� # Como pode essa cruz me ajudar? # ela disse em voz alta. Depois lembrou#se de que n o era cruz que pedia ajuda, e sim a Deus.� � Teve certeza de que o pai tivera raz o ao dizer:� # Qualquer que seja a prece, se vier do cora o, ser ouvida por Deus.�� � Rena ajoelhou#se na grama molhada, e rezou. Achou que se Deus a ouvisse, com certeza a ajudaria. De repente, ao lado dos ran nculos, enxergou um espinheiro.� E pensou logo que, se a planta crescesse muito, cobriria a cruz. Tirou ent o uma luva de jardinagem do bolso do palet , cal ou#a e decidiu� � � arrancar a horr vel planta pela raiz. Mas isso sem estragar as flores.� Ao faz #lo notou, com espanto, que havia moedas junto raiz.� � Apanhou#as, limpou#as, e constatou que eram de ouro. Achou que sonhava. Em seguida olhou para a cavidade e viu mais moedas. "N o deve ser verdade", dizia a si mesma. "Como puderam essas moedas vir parar� aqui? Como poss vel que a cruz seja sustentada por moedas?"� � Eram moedas antigas e nada parecidas com as actuais. Rena inclinou#se para pegar mais algumas. Mas instintivamente, como se tivesse sido aconselhada pela pr pria cruz,� concluiu que o tesouro que achara pertencia ao dono da Granja. "N o posso roubar isso", pensou. "Seria um acto mau, pecaminoso, em especial� porque tirado de lugar t o sagrado como o da cruz."� Ela limpou mais algumas moedas. Tinha certeza de que eram de ouro, do tempo da Reg ncia, ou talvez do tempo da rainha Anna.� Seu pai era um conhecedor de moedas, um numism tico na realidade, e se� interessava pela transforma o do dinheiro atrav s dos tempos. Muitas vezes�� � conversara sobre o assunto com ela. E agora, Rena achava que aquelas moedas datavam, no m nimo, de cem anos atr s.� � E isso, com certeza, as tornava muito valiosas. Foi ent o que se lembrou de algo. Algu m lhe dissera que um candidato compra� � � da Granja chegara dias atr s. Resolveu entregar#lhe o tesouro que encontrara.� N o que acreditasse na realiza o da compra. Muitas pessoas interessadas� �� tinham vindo e sa do, sem completar o neg cio. Nenhuma delas fizera uma oferta� � para aquisi o�� da velha casa. "S espero", Rena pensava, "que algu m decente a compre. E que gaste dinheiro� � reformando a igreja e, naturalmente, as casas da aldeia." Ela soubera, pelo pai, que muitas pessoas interessadas haviam aparecido no decorrer dos anos, mas todas partiam sem mostrar o maior entusiasmo pela velha casa que permanecia at o presente fechada.� "Se houver mesmo um novo propriet rio na Granja, talvez essa minha descoberta o� animar a tornar o local habit vel de novo. E ele ajudar os moradores da� � � aldeia que desesperadamente precisam de emprego para sobreviver." Com receio de que algu m mais visse o que ela acabara de achar, Rena recolocou� o espinheiro no lugar. N o sem antes pegar em todas as moedas vista.� � Pelo facto de n o querer pisar nos ran nculos, o espinheiro n o ficou bem� � � enterrado como antes, o que ela achou muito bom, pois n o cresceria tanto a� ponto de cobrir a cruz.
  • 6. Assim que terminou sua tarefa, ficou olhando para o lugar sagrado. "Talvez minhas preces tenham sido atendidas", disse a si pr pria.� Depois riu de seu optimismo. "Mas meu achado n o deixa de ser animador. Se o novo propriet rio for um homem� � generoso, quem sabe me d ao menos uma dessas moedas que desenterrei do solo."� Logo Rena se deu conta de que, se houvesse mais, e tinha certeza de que havia, vendendo#as teria ao menos um pouco de dinheiro para ir a algum lugar procurar emprego. Como se o pai a estivesse ouvindo, ela teve a impress o de escutar#lhe a voz� dizendo que aquilo seria roubo, um acto que Deus condenava. Roubo era algo que ele n o toleraria, em particular vindo da pr pria filha.� � "Tenho de ser honesta. E, embora seja um pouco cedo para tirar uma conclus o, o� facto de eu ter achado o tesouro me faz acreditar que obtive resposta a minhas preces." Por m logo pensou novamente que estava sendo optimista demais.� Ela atravessou a mata cerrada da floresta, e depois os jardins, tomando a direc o da Casa#Grande.�� CAP TULO II� Como fazia muito tempo que Rena n o via a Granja, esquecera#se do quanto era� atraente, apesar de seu mau estado de conserva o. Sem d vida precisava de uma�� � boa reforma. As vidra as das janelas estavam quebradas e necessitavam de limpeza.� Tanto as janelas como os tijolos vista eram muito velhos e muito lindos.� Ao olhar para a casa, Rena se perguntou por que motivo ela ficara tanto tempo sem ir at l , para apreci #la. Apesar da falta de jardineiros, os canteiros� � � tinham um colorido impressionante devido grande quantidade de flores das mais� variadas tonalidades. A pr pria praga que crescia no meio dos gramados fazia� parte do quadro:; n o o prejudicava.� "Que casa linda", pensou. "Se n o tivesse sido negligenciada por tantos anos,� seria uma das mais lindas casas de toda a Inglaterra." Havia uma boa dist ncia a ser percorrida da velha ponte entrada principal da� � casa. Um pouco al m corria um riacho pelo jardim, que terminava num grande� lago. V rias vezes Rena pensara em nadar naquele lago. Mas como existia outro lago� bem mais perto de sua casa, ela sempre evitara andar at l .� � Entre o lago e os jardins da Granja havia uma pequena floresta onde a m e a� levara muitas vezes quando ela era bem pequena. E lhe dissera que as fadas dan avam ali.� Ap s a morte da m e, Rena n o mais voltara ao local, achando que sofreria ao� � � passear por l sozinha. E tamb m n o desejava encontrar pessoas da aldeia num� � � lugar que sempre considerava s seu e da m e.� � N o que fosse dif cil evitar esses encontros. Poderia ter ido no fim da tarde,� � quando todos j tivessem voltado do trabalho e estivessem recolhidos em seus� chal s.� Al m do mais, os alde es n o pareciam interessados na Granja, pela simples� � � raz o de que n o havia trabalho para ningu m l , um trabalho que lhes� � � � garantisse meios de sobreviv ncia.� Por ser primavera, havia flores por toda a parte, sendo a maior parte delas margaridas e ran nculos. Mas o ar estava perfumado com o aroma de lilases e� madressilvas. Desde menina sempre lhe havia dito que a Granja era mal#assombrada. Os mais velhos da aldeia insistiam que ouviam vozes estranhas quando visitavam o lugar. Quem sabe essa fora a raz o que conservara tanto os adultos quanto as crian as� � afastadas do local. E Rena lamentava agora ter sido t o idiota a ponto de n o haver usufru do a� � �
  • 7. beleza do que via agora. "Talvez o novo dono fa a com que a Granja volte magnific ncia do passado",� � � ela pensou. N o seria muito dif cil. Era s observar a casa para ver como fora� � � negligenciada, e se convencer de como poderia facilmente voltar a ser linda de novo. "Talvez um dia ruir por terra, e tudo ficar perdido se n o houver interesse� � � de algu m para restaur #la".� � Mas seria um crime se isso acontecesse, porque casas como aquelas faziam parte da hist ria da Inglaterra.� Rena notou que a porta da frente estava aberta. Tinha certeza de que n o havia� empregados na casa, de contr rio teria ouvido alguma coisa.� Espiou o interior. N o tocou a campainha; n o havia empregados l , quem� � � atenderia porta?� Corriam boatos na aldeia de que algu m tinha chegado para ver a Granja, mas� n o se sabia se esse visitante viera sozinho ou com a fam lia. Por m de uma� � � coisa Rena estava segura; se o homem tivesse contratado empregados, ela saberia. Por n o ouvir ru do algum, entrou. Como o exterior da casa, o interior tamb m� � � precisava de mais cuidados. Uma espessa camada de poeira cobria as escadas e o assoalho de madeira das salas. Os tapetes estavam cinzentos de tanto p , como tamb m os� � m veis.� Rena pensou logo na m e que gostava tanto de m veis antigos. Ela ficaria� � horrorizada ao ver o estado em que se encontravam m veis t o preciosos.� � Pareciam ser pe as� francesas. O sil ncio era absoluto. Com certeza o novo candidato compra, do qual se� � falava na aldeia, havia desistido do neg cio, horrorizado com a m� � conserva o do lugar.�� Por outro lado, se ele ainda continuasse l , estaria na cozinha preparando o� caf da manh , pois sem d vida passara a noite na casa, ou viajando.� � � No instante em que chegou a essa conclus o, Rena ouviu um ru do na sala de� � jantar. Teve um segundo de hesita o. Mas sua curiosidade venceu. Em vez de�� sair e tocar a campainha da porta da frente, foi at a sala de jantar.� Era exactamente como seu pai descrevera. Ele estivera l havia oito anos,� acompanhando uma pessoa que chegara de Londres para inspeccionar a Granja. E seu pai soubera mais tarde que a id ia era reformar a casa e transform #la numa esp cie de� � � hotel de fim de semana, para h spedes que desejassem escapar das cidades� grandes. Seria um lugar de repouso tamb m, onde viajantes poderiam passar uns dias e� gastar algum dinheiro antes de voltar a suas casas. Mas nada fora feito porque a pessoa encarregada de inspeccionar o local chegara conclus o de que seria imposs vel transform #lo numa est ncia para f rias.� � � � � � Ele declarara n o haver nada na aldeia que prendesse a aten o das pessoas� �� residentes em outras partes do pa s. Ou, pior ainda, de pessoas provenientes do� exterior, que considerariam o lugar um dos menos atraentes da Inglaterra. Rena lembrava#se agora de que o pai n o discutira com o homem, apenas o ouvira.� E dera gra as ao bom Deus pelo facto de n o se fazer da Granja um hotel de� � divertimentos, o que acabaria com a paz da aldeia. Agora, j na sala de jantar, recordava#se do que o pai dissera a ela assim que� se despedira do inspector: # Talvez eu esteja errado, mas fico contente por n o se transformar isto num� lugar de divertimento para os que t m medo da quietude e da paz do campo. um� � local valioso para n s, e esperamos que pessoas daquela esp cie n o nos incomodem.� � � O pastor falara mais consigo mesmo do que com a filha. E agora Rena lembrava#se de que ele ficara radiante ao saber que a Granja continuaria exactamente como sempre
  • 8. fora, e que ningu m aviltaria a casa e as redondezas.� # A Granja pode estar cheia de p , pode necessitar de reparos # ele dissera� � filha #, mas parte de nossa aldeia, e n o a dividiremos com ningu m mais. E,� � � sem d vida, n o com um idiota como o homem que veio de Londres.� � E naquele instante o esc rnio da voz dele pareceu soar de novo aos ouvidos de� Rena. "Meu pai gostava das coisas como estavam", ela reflectiu. Contudo, n o podia deixar de admitir que agora pareciam bem piores. A mesa� precisava de polimento e o consolo da lareira tinha uma camada grossa de p .� Rena ouviu um ru do de novo. Imaginou que talvez fosse o tal comprador.� Curiosa, foi cozinha. Para sua enorme surpresa, viu um homem lidando para� acender o fogo a lenha. Consciente da presen a dela, o homem disse:� # Talvez voc possa fazer com que este maldito fog o acenda! Estou ansioso� � para tomar o caf da manh , e a lenha teima em n o pegar fogo.� � � # Deixe#me tentar # Rena insistiu, sorrindo. # Esses fog es velhos s o� � problem ticos, s vezes.� � Quando o homem virou#se, Rena viu que era jovem e muito atraente. # Se voc conseguir acender esse fogo, poderei tomar meu caf da manh . Estou� � � morrendo de fome. J comi quase tudo o que trouxe comigo. Acho que esta� horr vel cozinha� t o sem recursos como o resto da casa.� � # Se for o novo dono, sinto muito que tenha essa opini o. # Rena sorriu. # Mas� um dia foi uma das mais lindas casas da Inglaterra. # Acho que precisamos nos apresentar. Mas, antes disso, eu ficaria muito grato por qualquer aux lio que voc pudesse me proporcionar.� � # Preciso agora de um peda o de papel. Pode encontrar em uma das gavetas da� mesa. Depois, com gravetos e f sforos, acenderei o fogo.� # Suponho que eu deveria saber fazer isso # o rapaz falou. # Mas, francamente, n o estou acostumado a cozinhar para mim.� # Ent o v arranjar o que lhe pedi. E prometo que n o ficar faminto por� � � � muito tempo ainda. Em minutos, Rena acendeu o fogo. P s gua para ferver numa velha panela e� � colocou dois ovos que o rapaz trouxera consigo. Enquanto esperava, ele sentou#se na beirada da enorme mesa que enchia quase toda a rea da cozinha.� Rena n o prestava muita aten o nele, mas concentrava#se na refei o que� �� �� preparava. O homem trouxera numa cesta meio fil o de p o e um bom peda o de manteiga.� � � Prontos os ovos, Rena colocou tudo em pratos que encontrou num arm rio.� Mandou que ele os levasse sala de jantar enquanto tentaria encontrar caf ou� � ch em qualquer lugar da cozinha.� # O que voc prefere? # ela perguntou.� # Ficarei grato por qualquer coisa que me der # o homem respondeu. # Eu deveria convid #la para comer comigo. Mas estou com tanta fome que minha vontade� � devorar tudo o que est sobre a mesa.� # N o estou com fome # Rena explicou. # Comi antes de sair de casa.� Isso n o era verdade, pois comera apenas peda os de presunto que sobraram do� � jantar da noite anterior; e foi comendo enquanto atravessava a floresta. Agora ali, ao lado do desconhecido, achava estranho ele n o ter curiosidade em� saber a raz o de sua presen a na casa.� � Ela enfim encontrou o caf que procurava, em um dos arm rios; mas s esperava� � � que n o tivesse gosto de mofo. Pelos vistos, pareceu que n o, pois o homem� � tomou#o com evidente prazer, e disse: # Acho que voc n o real e sim uma fada que apareceu aqui para me salvar. Eu� � � estava morrendo de fome. # Apenas sinto que a maioria da lou a boa tenha sido roubada. Sempre achei um� erro deixar esta linda casa desabitada. Apesar de bem fechada, h pessoas que� sempre arranjam um meio de entrar para roubar. # Acho que devo ser muito grato por n o terem levado os quadros e pe as do� �
  • 9. mobili rio # o homem declarou.� # Ent o o novo dono! # exclamou Rena. # Achei, mas me ensinaram que era rude� � fazer perguntas desse tipo. O homem riu muito. # fada que me alimentou e me deu de beber, coisa que eu n o conseguiria Ter� � sem o aux lio dela, posso apenas dizer que me considero muito feliz por a ter� encontrado. Rena sorriu e disse: # Foi puro acaso. Passei perto algumas vezes mas n o cheguei at aqui por� � saber que a casa estava vazia. Agora, espero que o novo propriet rio se anime� ao ver tudo o que pode ser feito. # o que espera que eu fa a?� � # o novo propriet rio? # Rena indagou, surpresa. # Sussurrava#se na aldeia� � que voc ... que o senhor havia chegado, mas eu n o tinha muita certeza. Trouxe� � algo para lhe mostrar. Uma agrad vel surpresa, penso, depois das dificuldades que o� senhor teve com a cozinha. # Acertou # o homem concordou. # Sou o novo propriet rio e confesso que, mesmo� antes de ter chegado aqui, sabia que minha heran a n o haveria de ser alguma� � coisa para se receber de bra os abertos. Trata#se de uma casa grande demais e� dispendiosa, para se usar como moradia. # Mesmo? # Rena suspirou. # Muitas vezes pensei que seria interessante ver esta casa criar vida de novo e n o mais deixada como est agora, gradualmente� � caindo em ru nas at que n o sobre nada dela, e nem dos lindos jardins.� � � # Acho que o que voc diz verdade, mas h um grande empecilho� � � intranspon vel.� # E qual esse empecilho, posso saber?� # Vou resumir em uma palavra apenas. Dinheiro! Dinheiro para tornar a casa habit vel. Dinheiro para contratar jardineiros, fazendeiros, arrendat rios,� � empregados e, naturalmente, dinheiro para comprar cavalos que encham minhas estrebarias. # Isso seria maravilhoso! # Rena gritou. # Sempre quis cavalgar pelos campos, mas como meu pai recebia muito pouco da igreja, nunca tivemos condi es de�� comprar um cavalo. O jovem homem riu e fitou#a atentamente. # Est por acaso me dizendo que seu pai era o antigo pastor?� # Era. Meu pai, o reverendo Colwell, morreu h um m s mais ou menos. E meu� � nome Rena Colwell. Ele trabalhou como pastor da aldeia e conhecia esta casa� havia mais de vinte anos. Agora, quando o bispo mandar para c outro ministro da igreja,� eu terei de ir embora. # Se eu tivesse condi es financeiras, convidaria voc para me ajudar a�� � restaurar a casa a fim de torn #la outra vez linda como foi no passado.� # E eu adoraria ajud #lo. Mas o senhor fala como se considerasse imposs vel� � viver aqui. # E . Estive viajando a servi o da Marina de Sua Majestade, e n o tinha� � � id ia de como seria minha vida no futuro at o instante em que, voltando� � � Inglaterra, soube, para meu espanto, que eu era o descendente directo do ltimo conde que herdou� isto h trinta ou quarenta anos atr s, penso.� � # Acho que h mais tempo ainda # Rena corrigiu#o. # Mas que maravilha para o� senhor, ter herdado esta casa! # De in cio achei que se tratava de um conto de fadas. Mas logo constatei que� minha heran a, al m do t tulo, era simplesmente nada, com excep o da casa e� � � �� dos arredores. # Quer dizer que o senhor n o tem parentes?� # S alguns, muito velhos, que com certeza sabem tanto quanto eu sabia at� � ent o. Nada!� # E o que pretende fazer? # Francamente, n o sei. Quando soube que esta casa vinha com o t tulo, fiquei� �
  • 10. exultante por ter um lugar onde morar, e terras. Mas agora que vi tudo, desapontei. Pelo modo de falar Rena p de perceber que o pobre homem estava de facto� desapontado com o que encontrara. # O senhor tem chance de vender parte das terras, pelo menos. N o digo a� totalidade mas parte # Rena sugeriu. # Foi o que pensei, mas tudo se encontra em t o mau estado que n o sei se� � conseguiria comprador. Isso se pudesse mesmo vender, o que sei que n o ser� � poss vel. Meus� bens devem passar para o pr ximo conde, embora considerando#se o facto de que� os v rios condes que vieram antes de mim jamais tenham se preocupado com isto.� O ltimo� conde, que morreu com a idade de noventa anos, nunca morou aqui. Preferiu viver no norte da Inglaterra onde dois de seus antepassados haviam vivido antes. # O conde sorriu ao acrescentar: # Nenhum dos condes da fam lia quis morar aqui, por isso� as terras e a casa ficaram no estado em que est o.� # Com certeza o senhor poder remediar o mal # Rena declarou.� O conde sorriu sarcasticamente e replicou: # N o tenho dinheiro. O que economizei de meu sal rio de marinheiro foi pouco.� � N o ganhava muito. Para deixar esta casa habit vel ser o necess rios milhares� � � � de libras. O pior de tudo que, conforme j lhe disse, n o posso vender nada, porque a� � � propriedade dever passar para o pr ximo conde da fam lia, que pode ser ou� � � n o meu filho.� Mas, com toda a certeza, n o ser meu filho, pois n o tenho condi es� � � �� financeiras que permitam que me case. # Houve um momento de sil ncio antes que� ele dissesse: # Portanto, se eu n o tiver um filho, a casa continuar em ru nas, como esteve� � � nos ltimos cem anos.� Foi ent o que Rena resolveu falar sobre sua descoberta.� # Vim aqui para lhe dizer que encontrei algo em sua propriedade que desejo lhe entregar. Enquanto falava ela tirou do bolso tr s das moedas que encontrara junto ao� espinheiro. E as p s sobre a mesa. O sol, que entrava pela janela, as fez� brilhar. O conde ficou est tico.� # S o moedas antigas # disse. # Muito antigas! Eu diria que datam de cem anos� ou mais. Onde as encontrou. # Na raiz de um espinheiro. E as trouxe para entregar ao verdadeiro dono, o senhor. # N o pensou em guard #las para si?� � # Como j lhe disse, meu pai era pastor da igreja. E uma das coisas que me� ensinou foi n o roubar, ou melhor, n o me apoderar de coisas que n o me� � � pertencem. # Foi muita bondade sua trazer essas moedas valiosas para mim # o conde disse. # Mas, como pode imaginar, para restaurar esta casa precisarei de muito mais que isso. Digamos, de milhares dessas moedas. # H muitas outras no lugar. Por esse motivo vim aqui depressa a fim de lhe� contar sobre meu achado. O senhor deve ir ao local antes que algu m descubra o� tesouro. O conde encarou#a, intrigado. # Sim # Rena explicou. # H um espinheiro crescendo ao p da cruz,� � prejudicando a beleza do cen rio, com as an monas rodeando o lenho sagrado.� � # Mal posso acreditar no que me diz # o jovem conde falou, pondo a m o na� testa. # Est tentando me fazer imaginar que talvez haja mais moedas iguais a� estas no mesmo lugar? # o que espero # Rena declarou. # E isso resolveria seu problema.� # Quer me levar a esse lugar? # o conde pediu. # Como pode imaginar, quero saber logo se h mais desse tesouro aguardando ser descoberto.� # o que espero. Tenho impress o de que as moedas foram colocadas por uma� � pessoa grata, pela raz o de suas preces terem sido atendidas.�
  • 11. # Por isso voc foi rezar aos p s da cruz? # o conde perguntou.� � # Foi. Como o senhor, estou sem dinheiro. Meu pai morreu e preciso encontrar um meio de subsist ncia..� # Que tal irmos l juntos, agora mesmo? # sugeriu o conde. # Se a cruz est em� � minhas terras, podemos verificar se h mais moedas l .� � # o que eu esperava que o senhor dissesse, pelo simples motivo de que muitas� pessoas visitem o local e podem descobrir as moedas caso haja mais, o que acredito que sim. # Muito bem. Vamos agora. # Mas iremos por um caminho mais discreto # sugeriu Rena. # Se as pessoas da aldeia o virem indo para perto da cruz, no pr prio dia de sua chegada, achar o� � estranho. # Antes de tudo diga#me uma coisa. Por que essa cruz est em minhas terras e� n o foi levada ao cemit rio? Ou igreja?� � � # Porque meu pai decidiu que fosse deixada l , onde fora encontrada. Embora� falte a parte de cima, meu pai achou que se tratava de uma cruz, por causa da inscri o.�� De quando em quando as pessoas da aldeia v o l para pedir favores.� � O conde levantou#se imediatamente e Rena conduziu#o ao local, por m seguido por� um atalho atr s da Granja, pouco usado pelos caminhantes. Tiveram de atravessar� o riacho atrav s de uma ponte r stica de madeira, constru da pelos trabalhadores� � � nas terras de Sua Senhoria. E chegaram ao lugar da cruz, que se erguia majestosa entre as rvores, e que� estava rodeada de flores. Rena ajoelhou#se e rezou, agradecendo a Deus por ter encontrado o dinheiro e tamb m o homem, a quem o dinheiro pertencia.� E pediu que o achado ajudasse n o apenas o conde, mas outras pessoas tamb m,� � incluindo#a. Enquanto rezava de olhos fechados, o conde permaneceu ao lado dela observando a cruz. Mas, no instante em que Rena abriu os olhos, viu#o andando na direc o�� da cruz, pisando inevitavelmente nas flores. O conde puxou o espinheiro que por sinal agora estava muito mais f cil de ser removido. Em seguida come ou a enterrar� � as m os� no solo mido para ver se encontrava alguma coisa.� Rena ficou preocupada. E se n o houvesse mais nada? A ida at o local da cruz� � teria sido em v o? Ela rezou, pedindo a Deus que os ajudasse.� De s bito, o conde deu um grito de alegria. Rena arregalou os olhos. Ele tinha� nas m os um punhado de moedas de ouro, sujas de terra. Parecia um sonho.� # Suas ora es foram atendidas, e tenho certeza de que h muito mais embaixo�� � desta terra # ele afirmou. # Ser verdade o que est acontecendo? Ser mesmo verdade?� � � # verdade. Veja! # O conde estendeu a m o cheia de moedas de Ouro. # O que� � temos a fazer agora voltar j para a Granja. Ningu m do lugar pode saber o� � � que encontramos aqui. Mais tarde trarei pessoas peritas no assunto, que poder o remover todas� as moedas sem danific #las.� Assim dizendo, ele colocou o espinheiro no lugar, passou o bra o em volta da� cintura de Rena, e ambos voltaram para casa. Seguiram pelo mesmo caminho da ida, entre as rvores e atravessando a velha ponte de madeira que os levou para o outro� lado. Quase em casa, o conde disse: # N o sei como lhe agradecer. Voc me salvou, ao menos por agora. O que eu� � sentia ao chegar aqui era s desespero, devido ao estado em que encontrei a� casa e o que havia dentro dela. De qualquer forma, tudo me parece um conto de fadas. Estou encantado com sua descoberta, Rena. Sinto#me bem longe do estado de ang stia em� que me viu ao chegar aqui. # O senhor acha mesmo que haver junto cruz dinheiro suficiente para a� � reforma da Granja, e para deix #la como foi no passado? # Rena perguntou, muito�
  • 12. emocionada. # N o posso acreditar que nossa sorte seja assim t o grande. Mas, qualquer� � quantia em dinheiro, neste momento, ser de incr vel ajuda para mim. Isso me� � dar chance� de planear sobre meu futuro. E a voc , mais uma vez muito obrigado.� # Agrade a a meu pai. Foi ele quem guiou meus passos at l . E Deus permitiu� � � que tudo isso acontecesse. # emocionante demais para ser verdade! # o conde exclamou. # S quero que me� � prometa n o revelar a ningu m nossa descoberta.� � # claro que n o contarei nada a pessoa alguma # Rena prometeu. # Essas� � moedas s o suas, como tamb m todas as que estiverem escondidas sob a terra.� � Seria terr vel� algu m vir a saber, e come asse a escavacar por toda a parte, na esperan a de� � � encontrar algo. # Tem raz o # concordou o conde. # Mas agora melhor que voc volte para� � � casa. Sua fam lia ficar apreensiva com seu atraso, sem saber o que houve.� � # Todos de minha fam lia morreram. Ali s, fui cruz para pedir aux lio, pois� � � � preciso arranjar um emprego para viver. # Se tivermos sorte # o conde comentou #, voc n o ter necessidade de� � � trabalho, a menos que seja um trabalho muito interessante. Rena sorriu e disse: # Agora o senhor est esperando demais. N o vamos exagerar. Se encontrar mais� � algumas moedas que lhe permitam viver com conforto, na Granja ou em algum lugar modesto, j ser ptimo. N o acha?� � � � Houve uns minutos de sil ncio. Em seguida, o conde perguntou:� # O que voc pretende fazer?� # Eu me sentirei muito feliz se minhas preces forem atendidas. E, se o senhor tiver paci ncia comigo e me abrigar por alguns dias, posso ao menos ter tempo� para pensar no que fazer na hora em que precisar sair da Casa Paroquial. Isso acontecer quando o bispo designar outro pastor para a aldeia.� Sil ncio de novo.� Mas, ao chegarem mais perto da Granja, o conde sugeriu: # Nesse meio tempo, se voc estiver mesmo querendo um emprego, deixe#me� oferecer#lhe um. Preciso de governanta, e quero uma, se eu puder pagar, que transforme a Granja num lugar habit vel.� Rena deu um grito de alegria. # Eu rezarei para que esse sonho se realize. Pode levar um s culo, mas se� pudermos fazer com que a Granja volte a ser o que era, se pudermos ajudar outras pessoas como fomos ajudados, ent o acho que meu pai estava absolutamente certo ao me� inspirar para eu ir orar aos p s da cruz. E absolutamente certo em n o ter� � deixado que a cruz fosse levada para outro lugar. # Depois de uma pausa, ela acrescentou: # Oh, espero muito que meu pai esteja vendo o tesouro que n s encontramos.� A ltima frase saiu de seus l bios com grande espontaneidade.� � Mais uma vez, sil ncio.� Depois, o conde disse: # Espero muito que seu desejo, ou prece, como queira cham #lo, se transforme em� realidade. CAP TULO III� Quando chegaram Granja, encontraram a porta conforme a haviam deixado,� destrancada. O conde abriu#a e Rena disse: # Se vou ser sua governanta, e algo que adoro ser, a primeira coisa a fazer� lhe preparar o almo o. O senhor trouxe algum mantimento?� � O conde riu e disse: # Antes de tudo, Rena, n o me chame de senhor. Ok? Chame#me de voc , como fez� � quando nos conhecemos, e antes de saber que eu era conde. Quanto aos
  • 13. mantimentos, est� querendo demais de mim. Pensei no caf da manh , mas n o no almo o.� � � � # Muito bem. Nesse caso, me d algum dinheiro e eu irei aldeia comprar� � qualquer coisa. N o garanto que possa fazer um banquete, mas prepararei uma� refei o simples.�� # E eu serei grato pelo que voc preparar. # Ele p s a m o no bolso e tirou� � � algumas libras. # Isso chega? # Oh, mais do que suficiente. Comprarei tamb m coisas para o jantar. Como� � governanta, n o posso permitir que o senhor... que voc passe fome.� � # Espero que n o se assuste ao constatar que meu est mago maior do que eu,� � � quando deixou a Marinha. Aqui fora, n o temos a mesma fartura. Porque tamb m� � n o temos� dinheiro. # Nunca duvidei sobre a alimenta o no navio # Rena comentou. # Sempre achei�� que a Marinha era bem gerenciada, bem melhor do que muitas casas. # Tem raz o. Agora, olhando para tr s, reconhe o que a comida era excelente, o� � � navio limpo. Tudo brilhava, o que infelizmente n o posso dizer de minha casa!� # Talvez possa dizer mais cedo do que espera. Mas insisto que n o seja� impaciente. # Ao entrarmos, notei que havia correspond ncia perto da porta. Deve ter ca do� � da caixa de cartas para dentro. # O carteiro com certeza passou enquanto est vamos fora. Tocou a campainha e,� quando viu que n o havia ningu m em casa, teve o bom senso de deixar as cartas� � na caixa. O conde apanhou#as e exclamou: # Penso n o ser necess rio dizer que o primeiro envelope que peguei uma� � � conta! Como n o se trata de nada agrad vel, vou antes almo ar para depois ler.� � � Rena riu muito. O conde abriu a Segunda carta e, pela express o do rosto dele, Rena achou que� devia se tratar de algo confidencial. E foi para a cozinha. Olhou por toda a parte a fim de ver se havia qualquer coisa para comer. N o viu� quase nada, mas achou que encontraria verduras na horta. Sabia que algumas cresciam, apesar da falta de cultivo. "Vou precisar de todo o dinheiro que ele me deu", pensou. "Providenciarei coisas para o jantar e para o caf da manh ".� � E achou que quanto mais depressa andasse com seu trabalho, melhor. Havia muito a ser feito naquela cozinha suja, cheia de p .� "Posso ser a governanta. Mas, pensando bem, para tomar conta da casa toda, preciso de ajuda. E isso n o se consegue sem dinheiro."� Por m, apesar de todos os problemas, seu cora o sorria de alegria s em� �� � pensar no que tinham encontrado aos p s da cruz. E sabia que com isso� conseguiria alimentar o conde at que ele decidisse sobre o que fazer da vida.� Rena saiu pela porta dos fundos. O conde n o a viu sair. Havia apenas uma� mercearia na aldeia e o dono estava sempre se queixando que os habitantes locais viviam sua custa.� # Se cobrasse dele o pre o justo # o merceeiro dissera muitas vezes ao pastor� #, poderia viver muito melhor. Mas como deix #los que morram de fome, o que� acontecer� se tiverem de pagar o valor real da mercadoria? # Somos muito gratos a voc # Rena ouvira o pai dizer com frequ ncia. # Tenho� � esperan a que alguns encontrar o trabalho e lhe pagar o o que devem.� � � # Esse dia jamais chegar , reverendo.� Mas esse mercieiro nunca abandonara a aldeia, pelo que o pastor era muito grato, pois fornecera aos alde es, especialmente s crian as, alimento suficiente� � � para mant #los vivos.� Muitos habitantes locais trabalhavam em aldeias vizinhas. Isso acontecia na primavera e no ver o. Mas no inverno era quase imposs vel achar trabalho.� � Rena esperava que agora, ap s haverem descoberto bastante dinheiro debaixo da� cruz, o conde empregasse grande n mero de pessoas. Ela j tentava seleccionar� �
  • 14. # Oh, é mais do que suficiente. Comprarei também coisas para o jantar. Como governanta, não posso permitir que o senhor... que você passe fome. # Espero que não se assuste ao constatar que meu estômago é maior do que eu, quando deixou a Marinha. Aqui fora, não temos a mesma fartura. Porque também não temos dinheiro. # Nunca duvidei sobre a alimentação no navio # Rena comentou. # Sempre achei que a Marinha era bem gerenciada, bem melhor do que muitas casas. # Tem razão. Agora, olhando para trás, reconheço que a comida era excelente, o navio limpo. Tudo brilhava, o que infelizmente não posso dizer de minha casa! # Talvez possa dizer mais cedo do que espera. Mas insisto que não seja impaciente. # Ao entrarmos, notei que havia correspondência perto da porta. Deve ter caído da caixa de cartas para dentro. # O carteiro com certeza passou enquanto estávamos fora. Tocou a campainha e, quando viu que não havia ninguém em casa, teve o bom senso de deixar as cartas na caixa. O conde apanhou#as e exclamou: # Penso não ser necessário dizer que o primeiro envelope que peguei é uma conta! Como não se trata de nada agradável, vou antes almoçar para depois ler. Rena riu muito. O conde abriu a Segunda carta e, pela expressão do rosto dele, Rena achou que devia se tratar de algo confidencial. E foi para a cozinha. Olhou por toda a parte a fim de ver se havia qualquer coisa para comer. Não viu quase nada, mas achou que encontraria verduras na horta. Sabia que algumas cresciam, apesar da falta de cultivo. "Vou precisar de todo o dinheiro que ele me deu", pensou. "Providenciarei coisas para o jantar e para o café da manhã". E achou que quanto mais depressa andasse com seu trabalho, melhor. Havia muito a ser feito naquela cozinha suja, cheia de pó. "Posso ser a governanta. Mas, pensando bem, para tomar conta da casa toda, preciso de ajuda. E isso não se consegue sem dinheiro." Porém, apesar de todos os problemas, seu coração sorria de alegria só em pensar no que tinham encontrado aos pés da cruz. E sabia que com isso conseguiria alimentar o conde até que ele decidisse sobre o que fazer da vida. Rena saiu pela porta dos fundos. O conde não a viu sair. Havia apenas uma mercearia na aldeia e o dono estava sempre se queixando que os habitantes locais viviam à sua custa. # Se cobrasse dele o preço justo # o merceeiro dissera muitas vezes ao pastor #, poderia viver muito melhor. Mas como deixá#los que morram de fome, o que acontecerá se tiverem de pagar o valor real da mercadoria? # Somos muito gratos a você # Rena ouvira o pai dizer com frequência. # Tenho esperança que alguns encontrarão trabalho e lhe pagarão o que devem. # Esse dia jamais chegará, reverendo. Mas esse mercieiro nunca abandonara a aldeia, pelo que o pastor era muito grato, pois fornecera aos aldeões, especialmente às crianças, alimento suficiente para mantê#los vivos. Muitos habitantes locais trabalhavam em aldeias vizinhas. Isso acontecia na primavera e no verão. Mas no inverno era quase impossível achar trabalho. Rena esperava que agora, após haverem descoberto bastante dinheiro debaixo da cruz, o conde empregasse grande número de pessoas. Ela já tentava seleccionar famílias nas quais pudesse confiar, para recomendar ao patrão. "Oh, por favor, meu Deus", rezava, enquanto ia para a aldeia, Permita que haja muitas moedas ainda lá. Fico tão deprimida ao constatar que as crianças são os seres que mais sofrem." Rena sempre amara crianças. Lembrava#se, quando tinha apenas três anos de idade, de ter dividido os presentes de Natal com elas. Como ficaram contentes ao ganhar
  • 15. um ursinho ou biscoitos, coisas que suas famílias jamais poderiam comprar. "Se houver suficiente dinheiro, esta aldeia será a mais feliz do país." Logo se deu conta de que não devia contar com tanto dinheiro, assim tão depressa. Era verdade que descobrira um presente caído do céu. E agora só podia rezar para que o dinheiro encontrado durasse bastante. Chegou à mercearia e encontrou#a bem provida. O dono havia estado na cidade na véspera, para compras. Havia víveres de todos os tipos. E ela escolheu grande quantidade deles. Não apenas para um dia, mas para dois ou mais dias. Sempre, contudo, procurando não gastar muito. # Não vai comer tudo isso, vai? # o merceeiro lhe perguntou, enquanto Rena separava o que desejava. # Não # ela respondeu. # É para o novo proprietário da Granja que acabou de chegar. Acho que todos daqui vão ter um bom patrão no futuro. # Ouvi dizer que alguém havia chegado # o homem disse, fitando#a com surpresa. # Mas não sabia que era o dono da Granja. # Correu boato de que não existiam mais descendentes # Rena comentou #, mas todos estavam errados. Como ele era marinheiro, não se encontrava no país, e apenas agora foi localizado. # Boas notícias # disse o homem. # Naturalmente, se ele abrir a Granja, terá de arrumar muitas coisas, e isso é bom para todos nós. # É o que o conde espera fazer. Mas marinheiros nunca têm muito dinheiro, raramente ficam ricos. # É verdade # comentou o homem. # Porém ele sempre pode transformar a Granja num hotel. É suficientemente grande para isso. # Tenho certeza de que Sua Senhoria não pensou em tal hipótese. Contudo, vou lhe falar sobre essa sua sugestão. Porém, antes de tudo, a casa precisa ser restaurada e os jardins reformados. E isso leva tempo e custa dinheiro. # De facto # o homem concordou com um aceno de cabeça. # Durante anos ninguém morou lá e, se quiser saber, muitas pessoas têm medo que o tecto desabe sobre elas ou sobre os fantasmas. Sem dúvida há fantasmas que se arrastam pela casa assim que o sol se põe. # Agora você está me assustando # Rena protestou, porém rindo muito. # Não apenas a mim como a Sua Senhoria. Prometi a ele cuidar da casa. Mas, depois de sua afirmação, vou ter medo que os fantasmas comam as deliciosas coisas que eu fizer, antes que Sua Senhoria tenha chance de prová#las. # Contanto que ele pague as contas..., tudo bem. Diga a Sua Senhoria que há muito mais aqui. Com ou sem fantasmas, um homem precisa comer, morando em casa grande ou pequena. # O que é absolutamente certo # Rena concordou. Antes de sair ela pegou mais um pedaço de carne e pagou a compra. Ficou só com alguns shillings na bolsa. Mas sabia que o conde lhe daria mais dinheiro para as compras do dia seguinte, caso fosse necessário. Rena entrou pela porta dos fundos, certa de que o conde nem a vira sair. Mas, tão logo colocou as compras sobre a mesa da cozinha, ele apareceu, comunicando. # Foi bom você chegar logo. Teremos visitas esta tarde. Penso que ficarão só para o chá, mas é possível que passem a noite aqui. # Você não devia permitir isso! # Rena exclamou. # Ainda não tivemos tempo de inspeccionar os quartos. E, se estiverem como as salas aqui embaixo, será impossível hospedar qualquer pessoa. Como o conde não respondesse, Rena preocupou#se. Teria ficado ofendido? Mas logo ele disse: # Preciso ser honesto e dizer a você que o homem que vem aqui é extremamente rico. Conheci#o na Índia. E quando ele soube, penso que através dos jornais, que eu herdara um título, começou a me ver com outros olhos. Está ansioso para conhecer
  • 16. a residência de meus ancestrais. # E vai ficar bem desapontado, se espera encontrar luxo, como é de se supor # observou ela. # É o que eu penso também # o conde assentiu. # Contudo, pelo modo como falou comigo na última vez em que nos vimos, suspeito que tentava descobrir um meio de nos encontrarmos de novo. Talvez já soubesse da herança. O homem me procura por uma razão, uma única razão. # E qual é essa razão tão especial para achá#lo? # indagou Rena, curiosa. # Se quer ver uma mansão ancestral, vai ficar muito desapontado com a Granja, até que tenhamos tempo de limpar tudo. # Sim, eu sei, mas você se esquece, Rena, de que agora tenho um título e de que sou muito diferente, na opinião dele, do marinheiro pobre que convidou para um baile que ofereceu em homenagem à filha. O que esse homem verdadeiramente quer, e tenho certeza de que é o que vai me dizer quando chegar aqui, é que me case com essa filha. # E por que deverá você se casar com uma mulher, a menos que se apaixone por ela? # A menina é feia e sem graça. Mas é sua única filha. E ele não tem filho homem para lhe herdar a fortuna. Eu soube, na América, que é um dos novos milionários do petróleo. Ele fez fortuna da noite para o dia. # Quer dizer que é capaz de querer reformar a Granja e lhe dar dinheiro para que você possa morar aqui, na esperança de ser seu sogro? # Exactamente! # exclamou o conde. # E é algo que não tenho intenção de aceitar. Se um dia eu me casar, Rena, será por amor. E seremos felizes, eu e minha mulher, mesmo sem dinheiro. Rena bateu palmas e concordou: # É o que você deve fazer, é o que meu pai aconselharia. Mas, pensando bem, será difícil não aceitar a proposta, se o homem lhe prometer restaurar a Granja fazendo#a tão magnífica como no passado. Suponha que ele lhe ofereça dinheiro suficiente para você comprar cavalos, cachorros de caça, dando#lhe a oportunidade de ser um verdadeiro gentleman. Vai aceitar? O conde não respondeu. Foi até a janela e ficou olhando para o jardim, agora em estado deplorável. Colocando nos armários os mantimentos que trouxe da aldeia, Rena disse mais: # Acho que se a moça te amar, com o tempo você acabará amando#a também. Rena quis acrescentar: e amando o dinheiro dela. Mas achou que seria um comentário grosseiro demais. Ao voltar da janela, ele respondeu de maneira categórica, sem hesitação: # Não me venderei, como diz a Bíblia, por um quilo de carne. Embora eu saiba que, nesse caso, serão quilos e mais quilos de carne. Prefiro morrer de fome a me ver casado com uma mulher que não amo, e ser subserviente a um homem com o qual não tenho nada em comum a não ser o facto de nós dois acharmos que o dinheiro é essencial à vida. # É claro que tem razão. Papai concordaria com isso, palavra por palavra. Só podemos pedir a Deus para permitir que haja sob a cruz quantia suficiente para você viver com conforto, mesmo que seja num único quarto, deixando o resto da casa como está. Houve uns minutos de silêncio antes de ele responder: # Não vou me vender por causa de uma casa que está caindo aos pedaços, ou de um jardim que não tem quase nada além de ervas daninhas. # Mas você tem de viver # insistiu Rena. # E não é fácil,. Hoje em dia, viver sem dinheiro. # É verdade # o conde concordou. # Mas espero que você tenha encontrado, para
  • 17. mim, dinheiro suficiente que me permita viver aqui, mesmo com o tecto caindo, e o assoalho quebrando sob nossos pés. # É sua intenção ficar na Granja? # Não tenho outro lugar para morar, no momento. Meus pais morreram. Possuo alguns parentes no norte da Inglaterra, pessoas que não vejo há anos. # Havia desespero na voz dele ao prosseguir: # Actualmente, não tenho mais um navio esperando por mim. Ao menos aqui há um tecto sobre minha cabeça e uma governanta que vai me servir um almoço. Ele falava assim com a intenção de fazer Rena rir. Mas, ao invés, ela disse: # Tudo o que você falou soa muito como uma aventura. No entanto, precisa se lembrar de que esta casa está ficando mais velha ano após ano, e muito delapidada. O pessoal da aldeia predizia que o tecto iria ruir no último Natal, quando tivemos muita neve. Por um milagre, isso não aconteceu. Porém duvido que resista mais um inverno. # Sei perfeitamente o que você quer dizer. Contudo, considero#me muito feliz por ter herdado esta propriedade depois que todo o mundo acreditava não haver mais condes em meu condado. E feliz também por ter encontrado vocês e moedas escondidas na velha cruz. Acredito que, no futuro, haverá mais surpresas esperando por nós. # Vamos agora às coisas práticas # sugeriu Rena. # Você espera duas pessoas esta tarde. Posso providenciar o chá, mas quero que me ajude a limpar os quartos, embora duvide que seus hóspedes queiram passar a noite aqui. # Então que voltem para o lugar de onde vieram # o conde protestou rispidamente. # De qualquer forma, tenho certeza de que a razão da visita de meu amigo é me prometer a restauração da casa, fazendo#a recuperar o esplendor do passado. Com a condição, claro, de eu partilhar todo o luxo com a filha dele, como minha esposa. Rena começou a preparar o almoço. Observando#a, o conde notou como suas mãos eram alvas contra a madeira escura da mesa da cozinha. Um raio de sol fazia com que seus cabelos parecessem fios de ouro. # Enquanto você me ajudar, sei que não sofrerei fome # ele disse. # Se minha visita desapontar quanto à sua posição nesta casa, isso tornará mais fácil para mim lhe dizer que não desejo casar com a filha dele. # Acha que a jovem quer se casar com você? # Rena perguntou. # Tenho a impressão de que ela pensa que um título de nobreza seja a melhor coisa que o dinheiro poderá lhe comprar. O pai tem muito orgulho de ser milionário, e acredita que possa ter tudo o que deseja. Ele acha que o dinheiro compra todas as coisas no mundo. # Imagino que haja muitas pessoas que pensam como ele. Meu pai sempre dizia que, apesar de sermos pobres, podemos apreciar as belezas da vida. # Tais como, por exemplo? Com um sorriso, Rena respondeu: # O sol, a lua, as estrelas. Além disso, há muitas outras coisas que nos fazem felizes, e que não são obtidas através do dinheiro. O conde fitou#a atentamente, e depois riu. # É algo que espero que me diga. Que outras coisas? Estou pensando que você não é real, mas parte da árvore mágica que apontou para mim na floresta. Os raios do sol, coisa que talvez ignore, estão deixando seus cabelos da cor de ouro. # Um ouro que, infelizmente, você não pode usar como usará as moedas # ela comentou, sorrindo. # Quanto ao casamento, espero que não se precipite por enquanto. Algo pode acontecer no futuro e, casando#se agora por conveniência, talvez prejudique sua boa sorte.
  • 18. # Garanto#lhe que não desejo me casar com ninguém. E, acima de tudo, não com uma mulher que está sendo vendida pelo pai. # Tenho pena dela! Quem sabe a moça nem tenha idéia de como o pai é ambicioso. # Você vai ter chance de julgar os factos por si mesma # o conde respondeu. # Como não tenho condições de impedir essa visita, os dois estarão aqui na hora do chá. Acho que vão querer passar a noite, pois a distância entre a Granja e Londres é grande. Meu amigo milionário dará como desculpa para isso o cansaço dos animais e o perigo de viajar à noite. # mas eles não podem pernoitar aqui! # exclamou Rena. # Os quartos devem estar em terrível estado; não podem ser usados enquanto não se fizer uma boa limpeza. # Ontem eu dormi num deles. Mas estava tão cansado que teria dormido até numa estrebaria. Agora, quando penso, reconheço que estava cheio de pó. A cama não era má, mas havia apenas água fria nas torneiras. Meus hóspedes acharão o lugar muito sem graça e conforto, tenho a certeza. # Sem dúvida. Portanto, se você tiver bom senso, mande#os de volta para Londres na primeira oportunidade. # Ele é o tipo de homem que, quando põe uma idéia na cabeça, não desiste facilmente. Por isso ficou milionário. Tenho até medo de acabar entrando na igreja de braço dado com Matilde, sem me dar conta do que estou fazendo. # Após uma pausa, ele acrescentou: # E se eu disser que você é minha mulher? Que acha? Passada a surpresa, Rena respondeu: # Considerando#se o estado em que se encontra a Granja, ele pensará que você se casou com uma mulher muito relaxada. # Então, o que posso dizer? Rena teve a impressão de que o conde lhe suplicava auxílio. Pensou um pouco e sugeriu: # Talvez seja melhor dizer que sou uma parente sua e estou aqui para ajudá#lo. Ou, se seu amigo insistir no casamento, diga#lhe que estamos noivos. E acrescente que não pode se casar enquanto não tiver dinheiro para restaurar a casa, deixando#a digna de um homem com o título que você possui. # Isso me parece bom, soa mesmo como verdade! Assim será impossível a ele forçar a filha, sabendo que estou noivo de outra mulher. # Ou então, se preferir, fale que sou sua governanta. # Se o homem tiver um resquício de inteligência, o que tem e muita, verá logo que você é bonita demais, jovem demais, para ser uma governanta. Vai imaginar que está aqui por outras razões. # Muito bem, então. # Rena já se impacientava com tanta indecisão. # Fale que estamos noivos e, como já disse, que apenas aguardamos a reforma da casa para nos casarmos. # Só posso lhe dizer que aprecio muito essas qualidades # Rena comentou. # Mas outra coisa posso lhe dizer também, é que não temos comida suficiente para jantar. E, se desejar levá#los a um restaurante # o mais perto fica a três quilómetros daqui # previno#o desde já que a comida é razoável, mas longe da qualidade esperada por milionários. # Não se preocupe. Não tenho intenção de convidá#los para jantar. Quero jantar sozinho com você. Posso ver, pelas coisas que comprou, que nosso jantar será excelente. # Isso é um desafio? # Rena sorriu. # Mas suplico#lhe, não permita que suas visitas fiquem para jantar. Se pretende convidá#los, então vá à mercearia a fim de comprar mais comida. # Não pretendo insistir para que fiquem e tenho a impressão de que, quando ficar bem claro que não desejo me casar com Matilda, os dois voltarão para Londres. # Desejo que as coisas sejam tão fáceis como pensa. Mas sempre ouvi dizer que milionários ficam milionários porque, quando põe na cabeça que vão ser ricos, ninguém
  • 19. os segura. # Aguarde até conhecer o sr. Wyngate # o conde disse. # Ele é exactamente o tipo de homem que você esperaria ver num novo milionário. A filha, como já lhe disse, é feia e não tem nada que a favoreça a não ser a conta bancária do pai. # Agora você está sendo maldoso # censurou#o Rena. # Mas ao mesmo tempo estou certa de que vá ter dificuldade em rejeitar o que o homem lhe oferecer para reformar a Granja, que voltaria a ser como foi há centenas de anos atrás. Papai disse que, quando chegou na aldeia como pároco, a Granja tinha aspecto bem melhor do que o actual. Sempre me surpreendi como os habitantes locais, apesar de quase não ter o que comer, a protegem contra ladrões e malfeitores. # Por que fazem isso? # indagou o conde. # Porque consideram a Granja também deles, e esperam que um dia haverá pessoas importantes dormindo nos sumptuosos quartos e usando as salas de recepção. # Acho patético eles pensarem assim. Devem ter#se desapontado ao me ver chegando aqui sem nada. Eu, por meu lado, me surpreendi ao passar de marinheiro a conde. Sem dúvida fiquei atónito por ter sido localizado por causa do meu nome. Contudo, sinto#me tal qual um usurpador. Como posso fazer com que esta casa volte a ser o que era centenas de anos atrás? # Para resolver esse problema, diga sim ao que for sugerido por seu amigo. O conde deu um soco na mesa. # Com os diabos que direi sim. Espere até vê#la! Não quero ser maldoso, mas Matilda jamais terá aspecto de condessa, mesmo coberta de diamantes da cabeça aos pés. # Muito bem # Rena concordou. # Deixe as coisas como estão e vamos rezar para que aquilo que a cruz nos deu até agora seja apenas uma amostra do que está ainda escondido sob as anémonas. # Falando no assunto, sugiro que escondamos de todos o que você descobriu. Se souberem de alguma coisa, começarão a escavacar toda a área à busca de ouro, destruindo a vegetação. Mas tenho a impressão, como você também deve ter, de que não haverá muito mais sob a cruz. # Entendo o que diz # concordou Rena. # Se eles começarem a escavacar e a escavacar, as árvores cairão e não restará nada dessa maravilhosa floresta. # Concordo. Então, o que deveremos fazer é ir lá à noite, só você e eu. Com o luar, pelo menos até o fim deste mês, não precisaremos de mais luz. esCavacaremos com cuidado para não prejudicar a beleza natural do lugar. # Você está certo, absolutamente certo! # Rena exclamou. # É o que faremos. Eu não poderia aguentar ver a mata e a cruz que significou tanto para papai, destruídas, talvez até por acidente, pelas pessoas ávidas da descoberta do ouro. # Tudo bem. Então, quando meus amigos forem embora esta noite, e se você não estiver muito cansada, iremos até à cruz procurar mais moedas. Assim, tomaremos cuidado para que as ávidas por dinheiro não estraguem nossa floresta. # E eu odiarei ver destruído aquilo de que papai tinha tanto orgulho. # Faremos tudo sozinhos, sem contar nada a ninguém # o conde declarou. Rena foi trabalhar na cozinha, e meia hora mais tarde chamou#o. # Seu almoço está pronto, milorde. Ficarei muito desapontada se não gostar da minha comida. # Sente#se à mesa comigo. Poderemos conversar sobre o que faremos depois. Mas uma coisa é certa... # O quê? # Precisamos nos livrar das visitas assim que houver chance. Para lhe dizer a verdade, estou muito interessado no que já encontramos, e quero examinar bem as moedas antes de irmos lá à noite. # Acho que deve fazer isso # Rena concordou. # Você, Rena, trouxe novo sentido à minha vida, coisa de que precisei muito
  • 20. desde o minuto em que cheguei aqui. Para ser franco, fiquei desanimado ao ver o estado deplorável da casa. Mas agora talvez tenhamos chances de torná#la habitável e, se conseguirmos, será graças a você. # Não, a meu pai. Foi idéia dele deixar a cruz onde foi encontrada. Talvez, anos atrás, uma família houvesse decidido esconder seus tesouros lá. # Mal posso acreditar que isso esteja acontecendo comigo. Parece um conto de fadas, como quando soube que eu era o único membro sobrevivente da família. Achei, de início, que se tratava de uma brincadeira. # Mas não foi # disse Rena. # Agora você é um conde, e a Granja esperava por sua vinda. # Jamais sonhei que algo assim acontecesse comigo. Depois que meus pais morreram, fiquei sozinho no mundo, pois sou filho único. Trabalhei como marinheiro num navio, com muitos outros homens ansiosos como eu para conhecer o mundo, especialmente porque não tinham um lar. Como eu. # O que aconteceu com seus pais? # Rena quis saber. # Meu pai morreu quando eu tinha apenas três anos de idade e minha mãe me criou. Moramos com uma velha parenta de minha mãe, que detestava viver só. Por conhecer tão pouco do mundo, resolvi entrar na Marinha. Fiquei tão insistente que minha mãe teve de ceder. Nunca esquecerei de meu entusiasmo quando o navio em que eu trabalhava entrou no mar. # Você ficou plenamente feliz! # Suponho que essa seja a palavra certa, feliz # o conde repetiu. # Recebi as coisas como vieram e me senti radiante quando conheci o oriente. Estávamos em um dos navios de sua Majestade designado para mandar mensagens de diferentes partes do mundo. Recebi excelente educação, pois felizmente morávamos perto de uma boa escola. E, entre uma multidão de marinheiros, eu fui o escolhido para mandar à Inglaterra os relatórios sobre todos os lugares que visitávamos, e sobre a atitude dos diferentes povos do mundo em relação à Grã#Bretanha. # Deve ter sido emocionante # comentou Rena. # Naturalmente posso entender isso, porque você é bem diferente da maioria dos ingleses que conhecem muito pouco do mundo além de seu próprio país, e que não têm interesse nenhum por nossa história. # Sua opinião me envaidece, Rena. Mas, francamente, reconheço que é verdade o que acabou de dizer. A maior parte dos ingleses acha que não existe nada, a leste, a oeste ou a norte da Inglaterra, que mereça atenção. # E você pensa que nosso país é importante, embora bastante pequeno? # Rena indagou. # Sem dúvida. Vou lhe dizer uma coisa, pode ter orgulho de ser inglesa e ter orgulho de nossa rainha. Em quase todos os lugares onde estive como marinheiro, me senti importante porque era inglês. Eu e os outros companheiros éramos recebidos com entusiasmo, e todos mostravam satisfação por nós os termos visitado. # Mas possuímos inimigos também, não? # Naturalmente # o conde confirmou. # Os russos sempre sentiram inveja de nós, e sempre tiveram medo de nos enfrentar numa guerra. # bem, graças ao bom Deus por isso. Acho a guerra uma coisa horrível e espero que no futuro tenhamos uma paz duradoura. # Espero também # disse o conde. # Garanto que você vencerá a batalha desta noite. Papai costumava dizer que a arma mais importante era acreditar no que era certo, no que era bom. E lutar por isso. Tenho certeza de que essa será sua arma. O conde fitou#a atentamente, mas não respondeu. Contudo, Rena achou que os olhos dele brilhavam. Pôs#se a pensar, então, que talvez tivesse sido entusiasta demais, lisonjeira
  • 21. demais. CAPÍTULO IV Rena e o conde almoçaram na sala de jantar. # Estou lhe dando muito trabalho # ele disse. # Poderíamos ter comido na cozinha. Seria bem mais fácil para você. # Minha mãe ficaria chocada se soubesse uma coisa dessas. Você é um conde, pessoa importante, e precisa sentar#se na sala de jantar. # Um conde sem dinheiro nenhum no bolso. # Ele riu muito. # Não posso me considerar importante. Mas reconheço que sua mãe tinha razão. É necessário manter#se as aparências, mesmo que seja com grande esforço de nossa parte. Ele comeu o que Rena lhe preparara, e achou o almoço delicioso. Quando ela trouxe a sobremesa, uma compota de frutas variadas com creme, mal acreditou no que tinha diante de si. # Você está me mimando demais # comentou. # Mas há ainda uma coisa sobre a qual desejo lhe falar antes que as visitas cheguem. Porém primeiro quero saborear cada bocado dessa sobremesa. # Fico muito contente por você ter gostado da minha comida. Mamãe e papai sempre quiseram que eu cozinhasse bem. Quando tive idade suficiente, insistiram que eu cuidasse da cozinha da casa e eram bastante críticos acerca do que eu fazia. # Como resultado, pode agora encontrar trabalho como banqueira em qualquer lugar. # Pensei nisso, naturalmente. Pensei em todas as minhas possibilidades até você me convidar para ser sua governanta. Assim que acabou de comer a sobremesa, o conde disse: # O que tenho a lhe falar tem de ser antes de as visitas chegarem, como já disse. # E o que é? # Pensei em apresentá#la como minha noiva. Mas não acho a idéia boa. # Quer isso dizer que pretende se casar com a moça rica? # ela perguntou, surpresa. # Claro que não. Jamais faria algo tão idiota, tão desagradável. O que estou pensando é que, se Wyngate pretende restaurar minha casa, deixarei que o faça. Não acho que ele dirá abertamente que irá fazer isso só se eu me casar com Matilda. E não sou a tal ponto orgulhoso a ponto de não aceitar as migalhas da mesa de um milionário. Mesmo que ele faça pouco para a Granja, o pouco que fizer será bom. # E o que vai dizer sobre mim? # Que você está me ajudando, e que é casada com um primo meu. Eu a apresentarei como sra. Colwell e direi que me considerei muito feliz por encontrá#la morando aqui na aldeia. Esse encontro foi possível porque sua mãe era muito amiga da minha mãe. Direi também que sua mãe casara#se com um pastor da igreja e que, por morarem muito longe uma da outra, poucas oportunidades tiveram de conviver. # Pensou em tudo isso? Incrível! # ela exclamou. # Quis explicar por que motivo você morava aqui sem acompanhante. E, ao mesmo tempo, para tornar claro que estávamos juntos por causa da amizade existente entre nossas famílias, e não por laços do coração. # Você é ridículo # Rena riu muito. # Tudo se parece com aquele tipo de novela que eu não tive permissão de ler quando jovem demais, e que achei entediante quando fiquei mais velha. # Bem, se tudo acontecer como pretendo, valerá a pena um pequeno esforço para tornar esta casa melhor. Ficarei grato por isso. Mas não ao preço de sacrificar minha liberdade.
  • 22. Rena divertia#se com a idéia dele. Porém achava pouco provável que o homem rico, ambicioso, que estava por chegar, decidido a dar um título à filha, fosse apanhado de surpresa. Duvidava que ele ajudasse o conde sem ter certeza de que não receberia em troca o que desejava. Contudo, resolveu não discutir sobre o modo como o conde desejava apresentá#la. Sobretudo pelo facto de ela estar desacompanhada. Como se lesse seus pensamentos, ele disse: # Se achar mais prudente, poderá ir a sua casa à noite. Afinal, ainda não há sinal do novo pároco, no momento. # É verdade # Rena concordou. # Talvez seja melhor eu ir para casa hoje. Mas no íntimo isso a desapontou. Ficar na Granja era algo novo, emocionante. Se fosse para casa naquela noite, perderia grande parte do prazer. Contudo, o mais importante era ajudar o conde. E ele se pudesse obter algum dinheiro sem se comprometer, tudo bem, ela o ajudaria. Após Tomarem café, Rena levou a louça para a cozinha. Lavou#a, enxugou#a e colocou#a nos armários. A cozinha já estava bastante limpa. Mas o que Rena realmente queria era ver o assoalho das salas brilhando. "Vai haver bastante dinheiro na floresta", dizia a si mesma. "O conde pagará uma mulher da aldeia para limpar o assoalho e as janelas dos cómodos que estiverem sendo usados." Rena já concluíra que as melhores salas do andar térreo eram a sala de jantar, e a sala de visitas. A primeira lhe pareceu razoavelmente acolhedora. Mas a sala de visitas tinha aspecto triste. Se fosse arrumada, o tecido do sofá e das poltronas lavado, o aspecto melhoraria. Infelizmente nada disso poderia ser feito antes da chegada das visitas. Mas logo ela se deu conta de que, quanto pior a aparência da casa, mais chances teria o milionário de tentar conseguir seu intento. E se perguntava se o conde teria forças para recusar uma fortuna em favor de sua casa, qualquer que fosse o preço a pagar. Mas, e a liberdade? "Naturalmente que ele quer ser livre", dizia a si mesma. # "Nenhuma jovem deseja se amarrar, a menos que esteja terrivelmente apaixonado." Mas a tentação era grande, e ela só rezava para que o conde tivesse forças para dizer não. Tão logo terminou de arrumar a cozinha, Rena foi ao jardim apanhar algumas flores para enfeitar o lugar onde iriam tomar chá com as visitas. Escolheu uma sala pequena, mas acolhedora, com vista para o jardim. Limpou os tapetes, tirou o pó e começou a imaginar como havia sido aquela sala no passado, com mulheres de vestidos luxuosos conversando ao som de música suave, executada por mestres do piano. Tinha a impressão de que ainda sentia o aroma de perfumes caros. Depois de arrumada, cheia de flores, a sala ficou tão atraente que Rena não teve dúvida de que o sr. Wyngate gastaria qualquer quantia para fazer o resto da casa tão convidativo como o daquela sala, se não mais. Ao atravessar o corredor cruzou com o conde e pediu: # Numa coisa eu insisto: não convide, sob qualquer pretexto, seus amigos para passar a noite aqui. Os quartos estão em péssimo estado. O seu é o melhor de todos, embora precise também de uma boa limpeza. # Eu fecho os olhos quando estou me despindo, e aprecio a vista enquanto me visto # o conde respondeu. # Muito sensato. Mas não pode pedir a seus hóspedes que façam o mesmo. Se sempre viveram à sombra do luxo, não saberiam como usar esses artifícios. Ambos riram muito e depois o conde acrescentou: # Bem, foram eles que quiseram vir aqui. Se o que virem os chocar, o problema não é meu.
  • 23. # A que horas deverão chegar? # indagou Rena. # Se vierem directamente de Londres, devem estar chegando. A menos que tenham parado no caminho para almoçar. Portanto, não poderemos dar uma volta pelo jardim ou nadar no lago, que é o que eu gostaria de fazer agora. É melhor nos prepararmos para recebê#los de braços abertos. Embora o conde estivesse ansioso pela chegada das visitas, Rena lamentava não poder percorrer a casa, os jardins e a floresta com ele, antes de anoitecer. Havia muito ainda que Rena gostaria de lhe mostrar. Por mais negligenciada que a casa estivesse, a natureza tinha sua própria maneira de conservar o mundo exterior viçoso e lindo, durante a primavera. Agora, quase verão, as árvores cobertas de folhagem, as flores desabrochando no meio dos gramados, e as águas do riacho arrebentando contra a rocha, eram coisas mais lindas do que quaisquer outras que o dinheiro pudesse comprar. "É a própria Natureza, e quem poderia pedir mais?" De súbito apavorou#se à ideia de que o conde pudesse desistir de tudo e partir para outros lugares da Inglaterra, esquecendo#se da casa em mau estado que lhe pertencia. "Oh, Deus", ela orava. "Não permita que isso aconteça." Meia hora mais tarde ouviu#se o som de rodas de carruagem na porta da frente. Rena, que dava os últimos retoques na sala, soube que as visitas haviam chegado. Ouviu em seguida vozes no hall e foi ao encontro dos recém#chegados. Um homem baixo conversava com o conde. Vestia#se com apuros, e via#se que suas roupas eram caras. Não negava ser milionário. Não porque seu alfinete da gravata brilhasse, ou porque o anel que usava no dedo mínimo fosse valioso, mas havia como que uma aura, ou talvez uma força emanando dele dizendo que se tratava de um milionário. A filha, elegantemente vestida, estava ao lado. As pérolas em volta do seu pescoço e o diamante dos brincos fizeram com que Rena visse com clareza que ela era filha de um homem muito rico. Ambos, pai e filha, falavam animadamente com o conde quando ela apareceu. E ambos a olharam surpreendidos. # Quero apresentá#los a uma pessoa que tem me ajudado muito, tão logo cheguei aqui # disse o conde. # É a sra. Colwell, casada com meu primo, que mora no norte da Inglaterra. Rena vai lhes contar em que estado encontrei a casa. Pior do que ela mesma esperava. # E, dirigindo#se a Rena, ele acrescentou: # Nossos hóspedes fizeram a viagem de Londres até aqui em tempo recorde. Agora precisamos lhes mostrar os horrores com que me deparei ao chegar, e deixá#los ver, com os próprios olhos, o que acontece quando uma propriedade, tal qual uma linda mulher, é negligenciada. O conde riu, mas o visitante fitava#o atentamente, sem rir. Virando#se para Rena o conde disse, terminando com as apresentações: # Esses são meus amigos, Rena, o sr. Wyngate e sua encantadora filha Matilda, que veio junto com o pai para ver as ruínas que nos chocaram de maneira tão impressionante. Rena apertou a mão das visitas. E só naquele instante se deu conta de que não usava aliança. Pôs imediatamente a mão esquerda no bolso. Precisaria providenciar uma aliança o mais depressa possível. # Espero que tenham feito boa viagem # ela disse. # Acho que a duração é de duas horas, mesmo com animais ligeiros. Mas é tão agradável visitar o campo que o esforço vale a pena. # É exactamente o que eu estava pensando # comentou o sr. Wyngate. # Eu queria muito ver a estranha casa que meu amigo herdou. Mas agora concluo que foi um prazer duvidoso. O homem observava a poeira do hall enquanto falava. Rena acompanhou#lhe o olhar
  • 24. e imaginou que três empregados levariam no mínimo uma semana para limpar apenas o hall e os corredores. E as janelas? E as escadas? As passadeiras haviam perdido a cor e estavam rasgadas em vários lugares. # Agora quero que me mostrem a casa que, posso ver com um golpe de vista, precisa de muita coisa para ser habitada # o sr. Wyngate falou num tom de voz brusco. # Acho que antes tem de descansar um pouco depois da fatigante viagem # o conde sugeriu. # Um copo de vinho o reanimará. Venha comigo até a sala, o único lugar arrumado até agora. Verá a casa toda mais tarde. # Eu não diria não a um copo de vinho. E acho que Matilda aceitaria também um. # Eu acho tão maravilhoso estar no campo! # Matilda exclamou. # Poderei ir ao jardim? # É claro que poderá # Rena respondeu. # Terei prazer em lhe mostrar o que foi um dia um lindo jardim mas que faz hoje a alegria dos coelhos e dos passarinhos. # Esses bichinhos devem estar muito felizes em ter um lugar só para si # Matilda disse. # Espero que aprecie a liberdade. Quando eu era criança, teria adorado ter esse espaço todo só para mim. As duas mulheres saíram, deixando os homens a sós. # Sente#se # disse o conde. Foi em seguida providenciar o vinho. # Assim é melhor para conversarmos. # Estou aqui há apenas dois dias # o conde explicou. # Não posso fazer milagres e, mesmo que pudesse, não tenho condições económicas para tal. # Sua prima arrumou esta sala com muito gosto # Wyngate comentou. # Se ela decorar o resto da casa da mesma maneira, você acha que ficará aqui ou prefere voltar para o mar? # Minha vida de marinheiro está encerrada. Gostei de percorrer o mundo, coisa que não teria feito senão fosse pela Marinha. Mas agora prefiro terra firme. Mesmo esta mansão, cujo tecto poderá cair em minha cabeça a qualquer momento, é preferível aos balanços das ondas do mar. # Posso entender suas razões # observou Wyngate. # Mas esta casa é inabitável. Como pode morar do jeito que está? # Isso é exactamente o que minha prima não pára de dizer. Mas a resposta é simples. Não tenho aonde ir. # É sobre isso que vim lhe falar. Entendo que, sem sua prima, este lugar seria vazio e depressivo. E suponho que lhe custaria uma boa quantia em dinheiro para restaurá#lo. # Muito mais do que tenho # respondeu o conde. # Com as regras que foram estabelecidas por meus antecessores, não poderei vender a propriedade, que deverá passar aos filhos que não terei, porque também não possuo condições para me casar. Portanto, a casa continuará assim. Pode ruir por terra, mas como posso evitar que isso aconteça? Houve alguns minutos de silêncio antes de o sr. Wyngate responder: # Seria tudo muito simples se você tivesse dinheiro. Embora a quantia seja considerável para a reforma, acho que vale a pena ser gasta. A casa merece. É uma herança importante não só para você, mas para seus filhos, quando os tiver. # Está sendo muito optimista. # O conde deu uma gargalhada. # Como posso constituir família e tornar este lugar habitável? # Minha filha sempre o achou muito atraente # o sr. Wyngate enfim chegou ao ponto onde queria chegar. # Não posso pensar num melhor presente de casamento para vocês dois do que pôr esta casa em ruínas e toda sua propriedade em ordem. # Acho que o que me sugere deve ser julgado por sua filha e por mim. Se formos nos casar, precisamos nos amar, do contrário tudo consistirá numa grande farsa. Vi sua filha apenas uma vez. Portanto, por favor, dê#nos uma chance de nos
  • 25. conhecermos melhor. Quem pode saber o que acontecerá no futuro? # É muito sensato, meu filho., não posso negar. Vou providenciar homens para trabalhar aqui e, quando a metade do serviço estiver pronta, conversaremos sobre negócios. Estou certo de que o resultado será satisfatório para ambos. # Realmente pensa assim? # indagou o conde, atónito. # É claro que penso # o milionário replicou. # Eu não teria ficado rico como fiquei se não tivesse palavra, ou se decepcionasse os que me ouviam. Mandarei imediatamente trabalhadores de Londres, e sei escolher pessoal. Quando você vir o resultado, ficará satisfeito, e Matilda também. # Não sei o que dizer # contestou o conde. # Sabe tanto quanto eu, que um casamento sem amor pode ser um desastre para a mulher e para o homem. Conforme já disse, vi sua filha somente uma vez, e o mesmo sucedeu com ela. # Mas vocês podem se ver constantemente durante as obras, e as marteladas o acordarão bem cedo pela manhã # declarou o sr. Wyngate. # Estou disposto a ficar na Inglaterra durante algum tempo. Aluguei uma casa grande e confortável em Park Lane. Matilda e eu viremos aqui regularmente para ver o progresso das obras, e antes do fim do verão acho que iremos ouvir os sinos da igreja local, pela qual passamos, anunciando um casamento. # Não tenho idéia do que lhe responder # disse o conde. # Afinal, o que está planeando, pode não acontecer. Há sempre uma possibilidade de sua filha, que por sinal é muito atraente, vir a conhecer um homem e a se apaixonar por ele. As mulheres gostam de escolher seus maridos, e não se casam com um homem escolhido para elas, por outras pessoas! # Minha filha é diferente. Faz o que eu quero. E sabe que decidirei melhor do que ela sobre o que deve fazer. # Se quer realmente me ajudar a deixar esta casa tão perfeita quanto foi um dia, posso apenas agradecer#lhe do fundo de meu coração. E esperar que não se sinta lesado nunca, quaisquer que forem as consequências. # Quando você e Matilda morarem aqui e tiverem muitos filhos, serei o homem mais feliz deste mundo. A razão pela qual me tornei um milionário deve#se ao facto de que acredito no que faço. Até agora nunca apostei em cavalo perdedor. # Eu gostaria muito de dizer o mesmo # declarou o conde. # Mas posso apenas dizer que lhe sou muito grato. # Guarde suas palavras de gratidão até ver o final das obras. Sei que isso acontecerá muito antes do que pensa. # Espero que sim. Afinal, você é um exemplo vivo do que um homem pode conseguir, com sua persistência. # Tem razão # concordou o sr. Wyngate de maneira pomposa. # No instante em que vi você, soube que poderíamos ser amigos. Foi com dificuldade que o conde segurou#se para não dizer que fora seu título que fizera o homem pedir para ser apresentado, numa festa nos Estados Unidos. Os americanos fizeram grande estardalhaço ao saber sobre a herança que ele ignorara ser sua, durante anos. Mesmo assim, foi só depois que voltou à Inglaterra que o conde teve certeza mesmo de que herdara o título com a propriedade, incluindo a casa quase em ruínas. Agora havia uma chance de que a casa voltaria a ser o que fora quando construída. Contudo, seria prudente aceitar a oferta do milionário? Como se adivinhasse seu pensamento, o sr. Wyngate disse: # Ouça bem, meu filho, se você recusar minha oferta, se arrependerá pelo resto da vida. Precisa aprender, como eu aprendi, a agarrar as oportunidades quando elas aparecem, e a nunca deixar de fazer o que puder para obter o que deseja da vida. É loucura recusar uma boa oferta que lhe fazem.
  • 26. # Tem razão, naturalmente que tem razão. Mas receio lhe dizer sim, quando penso que o mais prudente seria lhe dizer que vou pensar. # Não posso acreditar que seja tão tolo! # O sr. Wyngate insistia. # Arrisque, rapaz, aproveite quando a oportunidade aparece. Foi o que fiz em minha vida inteira. Não me importa lhe dizer que arrisquei inúmeras vezes, mas quase sempre consegui resultados satisfatórios. Quase sempre fui vencedor. E não posso acreditar que, no seu caso, acabarei de mãos vazias. # Se pensa assim # o conde respondeu #, só posso lhe dizer obrigado. Muito obrigado mesmo. E, quanto mais cedo se iniciar o trabalho, mais emocionado ficarei por ter a casa habitável para mim e para meus filhos, quando e se os tiver. Dando pancadinhas nas costas do conde, o sr. Wyngate disse: # Agora fala com sensatez. Como eu, sabe ver onde está um bom negócio. Mas se, como imagino, não tem um lugar confortável para nós passarmos a noite, Matilda e eu voltaremos para Londres. Porém, logo que os pedreiros começarem a derrubar as paredes, o que acontecerá em dois ou três dias, voltaremos para apressá#los e para ter certeza de que estão fazendo tudo exactamente como você deseja. Ele falava com tanta determinação, que o conde concluiu que essa fora a principal qualidade que o fizera rico. # Agora, quero percorrer a casa toda # o sr. Wyngate disse. # Quero ver todos os cómodos para ter uma idéia de quantos homens deverão ser contratados para começar com o trabalho assim que eu der ordem. Sentindo#se como se estivesse sonhando, e que nada daquilo estivesse acontecendo, o conde levou seu hóspede para conhecer a casa. Começaram por subir ao telhado e de lá apreciar a propriedade. Depois desceram, abrindo cómodo por cómodo. Finalmente chegaram ao subsolo onde ficavam a sala de jogos, o arsenal, o jardim de inverno, e a sala de música. Tudo o que restava do jardim de inverno eram o piso e grande quantidade de cascos de vidro. Foram depois ao salão de baile e a outra sala que com certeza fora no passado a galeria de arte. Mas todas as teclas tinham sido roubadas. Sobravam nas paredes apenas as marcas dos quadros. # Telas famosas é algo que você não pode recuperar # comentou o sr. Wyngate. # MAs há muitas obras de pintores modernos que poderão ocupar o lugar do que foi roubado. E as próximas gerações que morarem aqui serão tão orgulhosas delas como seus antepassados um dia o foram do que possuíam. # Pelo que posso deduzir, meus antepassados negligenciaram demais este lugar. Li os nomes dos autores dos quadros roubados e me deu vontade de saber por onde andavam esses quadros. # Esqueça! Esqueça! # o sr. Wyngate insistia. # Vou escolher quadros para sua galeria de arte e também para a sala de recepção. # Reconheço que vai contribuir enormemente para embelezar minha casa # comentou o conde. Apenas espero que não retire tudo o que pôs quando o próximo conde ocupar este lugar. # Isso é algo que não me preocupa, pois o próximo conde me chamará de vovô. O conde reconheceu ser essa a resposta que deveria ter esperado. Não disse nada, contudo. E os dois homens foram para outra sala, tão nua como as demais. Durante todo esse tempo, Rena e Matilda passeavam pelo jardim. Chegaram até a piscina. # Está vendo? # observou Rena. # A piscina também foi abandonada. Seria bom podermos nadar aqui, como se fazia cem anos atrás. # Adoro nadar # comentou Matilda. # Nos Estados Unidos, as mulheres nadam quase tanto quanto os homens. Mas penso que o mesmo não acontece em Londres. # Acho que temos muitas piscinas no país. Porém, para que haja a aprovação do
  • 27. povo, as mulheres devem usar roupas de banho de tecido grosso, e cobrir o corpo talvez mais do que um vestido de baile cobriria. Matilda riu muito e declarou: # Sei disso. Minha roupa de banho é grossa e nada confortável. Por isso prefiro nadar nua. # E seu pai permite? # indagou Rena, escandalizada. # Ele não sabe # Matilda confessou. # Sempre que há uma piscina nos lugares onde nos hospedamos, espero até ele ir praticar seus desportos e depois vou nadar. Volto ao meu quarto e me visto como uma dama de respeito. # Você é muito esperta # Rena riu com gosto. # Mas cuidado para ele não a apanhar um dia antes que se vista. # Meu pai ficaria furioso se isso acontecesse. Ele insiste que me comporte como uma perfeita dama. Por isso quer que eu tenha um título de nobreza. # É o que você deseja? # Rena estava curiosa em saber. # O que desejo é me apaixonar por alguém que também esteja apaixonado por mim. Assim seremos muito felizes, porque nos amamos. # Ela suspirou antes de prosseguir: # Não me importaria de não ter todo o dinheiro para viver. Ou de não ter uma casa enorme que seria fria e vazia, a menos que houvesse amor. # Então o que você realmente deseja é se apaixonar por alguém. É isso? # Rena sussurrou. # Se lhe contar uma coisa, promete guardar segredo? Promete não contar nada a papai? # É claro que prometo. Qualquer coisa que você me contar, guardarei como segredo. Não contarei a ninguém. # Muito bem então. # Matilda respirou fundo. # Estou apaixonada. E amo esse homem como ele me ama. Enquanto falava ela olhava para trás, com medo de que alguém a pudesse escutar. Baixando bem a voz, quase num sussurro, Rena perguntou: # E seu pai sabe disso? # Não! Claro que não! Prometa que não vai contar nada a ele. # Prometo! Mas espero que você saiba que seu pai é muito ambicioso em relação ao casamento, e quer que se case com um homem de prestígio. # Sei disso # Matilda respondeu. # Daí estarmos aqui. Ele quer que eu tenha um título de nobreza. De preferência duquesa. Mas, se não for possível, condessa. # O homem que você ama tem um desses títulos? # Claro que não! É apenas senhor, e eu serei apenas senhora. # Seu pai ficaria muito zangado se você dissesse que queria se casar com esse homem? # Sem dúvida. Prometa mais uma vez que não vai contar a ele o que lhe disse. # Já falei que prometo. E repito mil vezes se desejar. Tudo é tão emocionante! Porém receio que seus sonhos nunca se realizem. # Farei tudo para que se transformem em realidade. Mas temos de ter paciência. Se eu fugir agora para me casar com o homem que amo, papai cortará minha mesada. # Matilda baixou a voz novamente como se receasse que alguém a estivesse ouvindo. # Estamos economizando dinheiro e estou tentando conseguir o mais possível de papai sem que ele desconfie de nada. Quando tivermos uma quantia suficiente, nos casaremos e nos esconderemos num lugar onde papai não possa nos encontrar. E lá ficaremos até que ele nos perdoe, o que sei que acontecerá mais cedo ou mais tarde. # Você é muito valente # disse Rena. # Muitas mulheres não teriam coragem de fazer isso, tendo um pai decidido como o seu. # Sou filha dele, e tão decidida quanto ele # Matilda respondeu. # Mas você pode entender por que papai não pode descobrir nada até que estejamos prontos para fugir. Entende, não? # Um sorriso iluminou#lhe as faces. # Mas tenho certeza, porque nos amamos muito, de que seremos mais felizes do que qualquer outro casal do mundo. # Tenho certeza disso # Rena observou. # Se eu puder ajudá#la, talvez escondendo#a ou evitando que seu pai desconfie do que você está fazendo, conte
  • 28. comigo. Pode confiar em mim. # Fiquei certa disso no momento em que a vi. Não tive ninguém com quem conversar sobre o assunto durante muito tempo. E soube, assim que entrei nessa casa, que o conde não sentia nada por mim. Nem mesmo afecto. Mas, quando vi você, concluí que era a mulher que ele desejaria ter como esposa. # Como pode dizer isso? # Rena estava intrigada. # Mal nos conhecemos. # Bem, espere e verá! # Matilda falou, com um sorriso. # Mas, por favor, tenha cuidado com o que disser a papai sobre mim. Se ele souber que estou apaixonada por Cecil, ou que Cecil me ama, encontrará um meio de fazê#lo sair do país ou até matá#lo. # Ela deu um suspiro. # Papai está acostumado a conseguir o que deseja. E sempre consegue, essa é a verdade. # Você precisa ser muito esperta, Matilda. Muito, muito esperta. # Como filha de meu pai, é exactamente o que sou. Esperta. Muito, muito esperta. CAPÍTULO V Quando se separou de Matilda, Rena continuou pensando sobre a jovem, e imaginou se algum dia ela poderia ser feliz. Chegara à conclusão, havia muito tempo já, de que o dinheiro destruía tudo o que era lindo, agradável e confortável da vida. O dinheiro podia liquidar com uma pessoa mais depressa do que qualquer outra arma. Ela pensava na situação de Matilda, que não lhe parecia muito animadora. Sabia que o pai queria um título de condessa para a filha. E sabia também que John # como teria de chamar o conde dali por diante, pois fingira ser sua prima # não pretendia se casar com Matilda. Tudo se lhe apresentava terrivelmente complicado. Achava impossível encontrar um meio de Matilda ser feliz e de John ter suficiente dinheiro para restaurar a Granja. "Que posso fazer? Que posso fazer?", ela se perguntava. Tinha certeza de que o sr. Wyngate procurava um meio de forçar John a se casar com sua filha. Porém Matilda só queria estar com seu Cecil. Rena não prestara atenção a nada durante o jantar, pois seus pensamentos continuavam com Cecil e não com o que estava acontecendo. "Que situação estranha", reflectia. "Pelos vistos, eu sou a única pessoa não envolvida no caso." Mas, bem no fundo de sua mente, havia a pergunta sobre o que fazer, como viver, e de quando deveria sair da Granja. Ocupava#se agora arrumando os quartos e saletas da casa. Num dos quartos achou que a cama estava em lugar errado. Deitada, a pessoa não podia ver o sol da manhã entrando pela janela. Em outro cómodo, uma saleta, embora achasse que nunca seria usada, achou que o aspecto era frio demais. Não um lugar acolhedor onde se podia sentar em volta do fogo, conversando ou lendo. A biblioteca era um local onde Rena ainda não fizera uma tentativa de remodelação. Os livros pareciam jogados, como se o consulente tivesse procurado algo e depois abandonado tudo, sem ficar satisfeito. Rena tinha certeza de que havia lá livros de autores famosos, de grande valor. Não mencionara o caso a John, porque ele já tinha muito em que pensar. De uma coisa Rena estava certa, a de evitar uma conversa com o sr. Wyngate,. Pois sabia que a única razão de ele estar lá era cuidar do casamento da filha com um conde. Com John. Então, mesmo antes de o casamento se realizar, contrataria os melhores construtores do país para pôr a casa em ordem, tornando#a decente antes de ser