O documento discute o método da entrevista na pesquisa sociológica. A entrevista é uma das técnicas mais importantes para obter informações detalhadas dos entrevistados. Existem diferentes tipos de entrevista como estruturada, semi-estruturada e não estruturada. A entrevista envolve uma relação entre entrevistador e entrevistado e requer empatia e confiança para obter bons resultados.
2. a entrevista
Aproximei-me de carro. À porta a senhora esperava-me...
— Tenho estado a pensar no que me vai perguntar! Espero
saber responder!
— Com certeza que sabe! — respondo eu.
— Ainda preocupada, a senhora afirma:
— No que estiver ao meu alcance!
— Vai ver, é apenas da sua vida que se trata... nada mais!
Então faça-me perguntas!
Mas, lançada a primeira, a conversa desfiou como quem
abre a comporta de um dique... [Diário de bordo, 7-8-98.]
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Piedade Lalanda
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3. metodologias e técnicas de
pesquisa social
A entrevista é um dos
métodos clássicos
empregados na
pesquisa social.
4. A Antropologia, a Sociologia e a História, por exemplo,
desenvolveram uma série de metodologias de pesquisa
cujo objetivo é investigar a realidade social.
A entrevista tem
importância
fundamental e pode
ser considerada uma
das mais importantes
técnicas de pesquisa
social.
educacao.uol.com.br/planos-de-
aula/medio/sociologia-metodologia-de-
pesquisa-social-a-entrevista.htm
5. entrevista
Já vimos no curso de
Antropologia a
importância da
entrevista para a
pesquisa nesta área, e
receberam algumas
orientações sobre o
uso da entrevista na
pesquisa de campo.
Naquela ocasião a
turma teve já suas
primeiras experiências
de entrevista.
6. Entrevista como instrumento da
pesquisa sociológica
Assim como vimos na Antropologia, em Sociologia,
para se realizar uma pesquisa, é necessário
encontrar uma estratégia de investigação através de
técnicas e métodos científicos. Uma das técnicas
que melhor auxilia o investigador a obter informação
mais pormenorizada e fiel é a entrevista. A
entrevista constitui uma técnica que pode ir do breve
contato formal, a uma entrevista longa e
relativamente vaga, na qual o investigador permite ao
entrevistado desenvolver pontos à sua vontade ou
sugerir outros que deseja considerar.
7. A entrevista é um processo social com certo grau de
complexidade:
a) o pesquisador precisa ter
informações prévias sobre
o tema da entrevista e ter
bem claro seus objetivos e
o que ele quer com cada
uma das entrevistas que
pretende realizar
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b) as informações que
deseja obter devem ser
compreensíveis para os
entrevistados; ou seja, as
perguntas contidas no
questionário/roteiro devem
respeitar as condições
cognitivas (grau de
consciência e
conhecimento) dos
indivíduos que estão
sendo entrevistados;
8. entrevista
c) o pesquisador deve se
assegurar de que o
entrevistado está em
condições de fornecer as
informações requeridas;
ou seja, o entrevistador
deve esperar o momento
mais oportuno e propício
para o entrevistado
responder aos
questionamentos.
d) o pesquisador deve estar
motivado para a realização
do trabalho de campo, de
modo que a aplicação dos
questionários e a
abordagem dos
entrevistados sejam feitas
com educação, respeito e
empatia.
9. A investigação sociológica se vale de técnicas
qualitativas baseadas na relação aprofundada
com um pequeno número de atores sociais
Existem várias
modalidades de
entrevista. A história de
vida, a biografia, a
entrevista em
profundidade, são
exemplo disso e
representam
instrumentos de
obtenção de dados para
a investigação
sociológica.
10. Entrevista, subjetividade e
objetividade científica
O contato direto do sociólogo
com os atores não anula o
distanciamento que a ciência
exige. Antes transforma a
recolha de informação numa
experiência que «humaniza»
a própria investigação, ou
seja, proporciona ao
investigador a possibilidade
de «ver por dentro»,
tomando uma dupla posição
de observação: a de
investigador e a do próprio
actor.Piedade Lalanda
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11. Entrevista como experiência que
«humaniza» a própria investigação
Entenda-se humanização no sentido em que
introduz o contato direto com o objeto de
estudo, introduz a subjetividade dos atores e o
contato face a face do investigador com a
humanidade desses atores em contextos
concretos de interação.
Piedade Lalanda
12. Entrevista: resulta de uma relação
— Sente-se, esteja à vontade...não sei se quer ficar aqui, na cozinha?
— Por mim, tudo bem!
— Mas, se quiser, podemos ir para a sala!
— Não é necessário, estamos muito bem aqui e assim podemos conversar à
volta da mesa. Já agora, a sua cozinha é muito bonita, tem muita luz!...
[Diário de bordo, 8-8-98.]
— Desculpe lá a pequenez, mas é o único sítio que eu tenho para receber as
pessoas. [Diário de bordo, 28-7-98
Piedade Lalanda http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1224154176E1jDU8rb4Nc15SI4.pdf.
14. Entrevista: uma relação
A relação do sociólogo com
o entrevistado deverá
transformar-se, durante a
entrevista, numa relação de
confiança, o que pressupõe
uma certa familiaridade com
a população em estudo.
15. Entrevista: relação
O entrevistado deve sentir-se à
vontade e ser levado a ocupar
lugar central durante a
entrevista. Daí que seja ele a
tomar em muitos momentos a
iniciativa do discurso. O
entrevistador deve evitar
condicionar as respostas
pelas próprias perguntas que
faz. Este risco existe sobretudo
quando se parte para o
trabalho de campo com um
esquema teórico explicativo
predefinido e demasiado
elaborado. Ou ainda um roteiro
de entrevista muito fechado
com questões muito diretivas.
16. Entrevista: cada um tem seu estilo
Podemos ir a campo
sozinhos ou em grupo,
assim como podemos
fazer entrevistas
individuais ou com grupos
de pessoas. Cada
pesquisador desenvolve
seu próprio estilo e faz uso
de diferentes recursos e
métodos de apoio: bloco
de notas, equipamento de
gravação/ fotográfico e/ou
o mantenimento de um
diário de campo.
17. Entrevista e performance:
a fala é acompanhada de gestos,
emoções, movimentos, objetos...
Dona J., 65, costumava me falar longamente sobre seus
problemas de saúde. Um dia, ela pegou o centro de
mesa, um enorme morango de louça, colocou-o em
minha frente e disse: “olha, meu coração é isso aqui.”
De tão doente, seu coração podia muito bem ser
representado por aquele enorme morango vermelho.
Simbolizava também a viuvez recente (um mês), a
perda do filho adulto inválido (há 2 anos) e todas as
dores de um coração de mãe de 17 filhos. Dona J. nesse
dia me fez ver o tamanho de sua dor.
(Flávia Motta. Sonoro Silêncio: Por uma história social do aborto)
18. Entrevista e diário de campo
Diferente do que
aprendemos em
Antropologia, nem todos
os pesquisadores
mantêm um diário de
campo concomitante à
realização das
entrevistas. O diário nos
ajuda a registrar aquilo
que está fora do roteiro
de entrevista, aquilo que
o gravador não capta e
tende a se perder em
nossa memória ao longo
do trabalho de campo.
19. Entrevista e diário de campo
Em dado momento da entrevista, ela olha para a
grande folha de papel quadriculado com a genealogia
que estou fazendo com os dados que ela me fornece
e comenta “depois tu entendes mesmo isso?”. Eu
olho a renda dela, cujos bilros ela acabara de soltar e
digo “acho que o seu é mais complicado que o meu”.
Rimos e nos olhamos nos olhos, subitamente
antropóloga uma da outra, subitamente informante
uma para a outra - cada uma com a sua tramóia.
Flávia Motta
diário de campo (21 de setembro de 1999)
20. TIPOS DE ENTREVISTA
• Entrevista
Estruturada
• Entrevista Semi-
Estruturada
• Entrevista não
Estruturada
21. TIPOS DE ENTREVISTA
Entrevista não Estruturada
Nas entrevistas não-
estruturadas, o entrevistador
segue o informante, mas faz
perguntas ocasionais para
ajustar o foco ou para clarificar
aspectos importantes. O
pesquisador tem geralmente
um guia com os tópicos a
serem cobertos na entrevista,
mas não tem uma ordem para
perguntar sobre estes tópicos.
Entrevista Estruturada
As perguntas estão claramente
definidas. Nas entrevistas
estruturadas, o entrevistador
quer ter certeza que ele faz as
mesmas perguntas para cada
informante.
Entrevista Semi- Estruturada
As entrevistas semi-
estruturadas, contém
sugestões de perguntas e dicas
a serem usados pelo
pesquisador para garantir que
todos os tópicos de interesse
serão abordados.
22. Uma entrevista corresponde sempre a uma
versão de uma história
Estamos perante uma
construção seletiva baseada na
memória e nas
representações. Por outro lado,
a entrevista é conduzida
segundo os objetivos definidos
pela própria investigação. Não
se trata, por isso, de ouvir um
qualquer relato ou uma história
sem estrutura de sentido, mas
de ouvir falar a realidade
segundo um traçado que lhe é
proposto e em relação ao qual o
entrevistado se cola ou se
desvia.
Cabe depois, ao
sociólogo, explicar
esses discursos,
decodificar-lhes o
sentido, interpretá-
los, aproximando a
definição inicial do
seu objeto com o
real encontrado
23. FICA O QUE SIGNIFICA
Memória é
reelaboração.
Investigar a memória é
interpretar os
sentidos dados hoje
a eventos e
experiências
passadas.
24. Coisas que nos fazem lembrar...
A memória tem bases
materiais:
um prédio
as pedras na calçada
um móvel
um objeto
25. Fontes bibliográficas
Esta aula foi construída com excertos de textos de vários autores eventualmente
refraseados ou acrescido de comentários e complementações.
Aspas e outros rigores acadêmicos foram evitados para não pesar sobre o fluxo da
aula com excesso de informações e sinalizações. Abaixo e nos próximos slides
estão as referências de impressos, e endereços de sites e imagens usados.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade - lembranças de velhos.
3ed. São Paulo: Cia das Letras, 1994. 484p.; 23 cm.
Meihy, José Carlos Sebe B.; Holanda, Fabíola. História oral,
como fazer, como pensar. Editora Contexto, 2007.
Minayo, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa Social: teoria,
método e criatividade, Editora Vozes, 1996.
THIOLLENT, Michel. Crítica metodológica, investigação social e
enquete operária. São Paulo, Editora Polis, 1980.