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José Paulo Vasconcelos




                                       ENTREVISTA


       A entrevista é um género jornalístico caracterizado pela alternância “pergunta /
resposta”, que reproduz tão fielmente quanto possível uma conversa entre entrevistador e
entrevistado e que tem como objectivo uma de duas finalidades:
            a) dar a conhecer a opinião de uma figura pública (entrevistado) sobre um tema da
            actualidade. Esta opinião pode ser importante por duas razões:
                   1) Porque o tema é relevante e universal (e portanto, interessa a quase
                   todos nesse momento);
                   2) Porque o entrevistado tem relevância especial (pela sua conduta, pela sua
                   história ou por razões circunstanciais) no tema em questão.
            b) dar a conhecer a importância de uma personalidade, instituição ou circunstância
            que, embora não sendo do conhecimento geral, tenha vindo a assumir pelo seu
            trabalho ou impacto uma relevância que justifique a sua divulgação.
       As entrevistas podem ser de dois tipos: oral (radiofónica ou televisiva) em que o texto é
registado no discurso oral, em directo; ou escrita (impressa) em que o enunciado da
entrevista é passado ao registo escrito, em diferido, permitindo pequenas correcções ou
reformulações.
       Para todas as entrevistas, é fundamental a elaboração de um guião que oriente o
processo de entrevista.



    1.1.          Características do registo linguístico

                 · uso de registo formal;
                 · utilização de uma linguagem simples e clara mas que se deve adaptar à
                       formação científica e cultural do entrevistado, por vezes com recurso a
                       gíria técnico-profissional     (todo o vocabulário que não seja corrente,
                       deve ser explicado ao leitor/ouvinte);
                 · utilização da terceira pessoa do singular (nas perguntas, identificando o
                       entrevistado pelo nome ou cargo), e da primeira pessoa do singular ou
                       do plural (nas respostas).



    1.2.          Estrutura da entrevista

                 · Introdução / Abertura – apresentação breve do entrevistado ou das
                       circunstâncias que levaram à entrevista. Podem também ser dadas

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                      informações complementares sobre o contexto da entrevista (local, data,
                      condicionantes…);
                · Corpo da entrevista – conjunto de perguntas e respostas; Uma entrevista é
                      mais do que um questionário ou inquérito (em que as perguntas são
                      pré-determinadas e imutáveis). Numa entrevista as perguntas devem
                      sempre levar em consideração as respostas já dadas e adaptar-se ao
                      ritmo da conversa, suscitando esclarecimentos ou evitando questões já
                      respondidas.
                · Fecho / Conclusão – breve opinião do entrevistador sobre as questões
                      abordadas, destaque de uma ideia forte resultante da entrevista ou um
                      apontamento sobre a importância do tema / entrevistado.



    1.3.         Guião da entrevista

       Qualquer entrevista deve ser cuidadosamente preparada através de uma elaboração de
um guião, ou seja, um texto que servirá de base à condução da entrevista. O guião deve
respeitar os seguintes procedimentos:
                · Definição do tema – indicação clara da temática a abordar na entrevista e
                      sua relação com o público (“O que é que o público quer saber sobre este
                      tema e que importância tem esse tema para o público?”);
                · Escolha    do   entrevistado         –    que   deve   ser   uma   pessoa     que
                      reconhecidamente tenha relevância para o tema, seja pelo cargo que
                      desempenha, seja pelos seus conhecimentos específicos;
       No caso de a entrevista ser motivada pela relevância do entrevistado (e não pela
pertinência do tema) os dois pontos anteriores devem inverter-se na sequência de
procedimentos, reformulando-se da seguinte forma:
                · Escolha do entrevistado – deve ser uma pessoa que por uma razão ou por
                      outra seja do interesse do público e que seja reconhecida socialmente.
                · Definição do tema – indicação clara da temática a abordar na entrevista e
                      sua relação com o entrevistado (“O que é que o entrevistado pode dizer
                      com interesse significativo para o público?”);
                · Recolha de informação – documentação tão completa quanto possível
                      sobre o tema ou sobre o entrevistado de forma a permitir a formulação
                      de perguntas pertinentes e que permitam ao entrevistador acompanhar
                      as respostas do entrevistado.
                · Elaboração das perguntas – Considerando os seguintes aspectos:
                     o   As perguntas podem ser “abertas” (permitindo respostas mais ou
                     menos longas e discursivas) ou “fechadas” (obrigando a respostas curtas,
                     do género Sim/Não).


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                           o   As perguntas devem ser organizadas sequencialmente respeitando
                           uma ordem lógica e pertinente na entrevista.
                           o   As perguntas devem ser claras, breves e significativas para o tema
                           em questão na entrevista.
                           o   O registo linguístico deve ser adaptado ao entrevistado ou à situação
                           da entrevista.
                           o   Devem estar previstas as estratégias para repor a entrevista no tema
                           central (se esta se desviar para questões acessórias).
                           o   Número total de perguntas ou tempo de duração da entrevista.



    1.4.             Registo escrito da entrevista

       A entrevista impressa pode ser registada em suporte áudio (gravador) mas deve
posteriormente ser passada para um registo escrito. Nesse momento é importante que o texto
escrito esteja correcto do ponto de vista:
             ·    Do conteúdo (respeitando integralmente o proferido pelo entrevistado)
             ·    Da forma (ortografia, pontuação, organização dos blocos textuais)
             ·    Da apresentação (com recurso a fotografias ou documentos complementares).
       Depois da entrevista estar passada a escrito é muito importante que o entrevistado
possa rever o texto final de forma a ser possível corrigir pequenos erros, esclarecer
ambiguidades e receber a autorização final de publicação da entrevista. Se não for possível o
entrevistado rever o texto antes da sua publicação, deverá obter-se deste, logo após a
realização da entrevista, a autorização expressa para a publicação.




       Para saberes mais:
       http://www.prof2000.pt/users/folhalcino/ideias/comunica/entrevista.htm
       http://www.cienciaviva.pt/projectos/genoma2003/apoio3.asp
       http://www01.madeira-
edu.pt/projectos/vemaprenderportugues/Saber%20Mais/Escrita/Modelos/Docs/modelos_var.htm#entrv
       http://turma.sapo.pt/Xz485/723081.html




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                           EXEMPLO DE UMA ENTREVISTA
                                                  Lídia Jorge
       Aos 61 anos aventura-se na literatura infantil com O Grande Voo do Pardal: «Imaginei-me pequena, à
altura dos meus afilhados.» É uma história real de amor, amizade e solidariedade entre um homem e um pardal
só com uma pata. Ou não fosse a solidariedade uma preocupação constante da autora: «É uma regra biológica,
antes de ser regra ética, política ou moral, às vezes esquecemo-nos disso.» É em Boliqueime que se isola para
escrever. É lá que encontra espaço para se evadir e salpicar de «harmonia e correcção» o mundo que a rodeia.
                                                                      ENTREVISTA: Elisabete Pato – FOTOGRAFIA: Bruno Portela


    Porque é que decidiu escrever        Acho que quando não se é solidário é         Quando está a escrever isola-se?
agora para crianças?                     porque a solidariedade está corrom-          Sim. Preciso de muito isolamento.
    Neste caso o impulso veio da         pida. Os seres humanos existem em        Enquanto estou a ler e a escrever
editora. Tinha esta história para        rede, em cachos, em grupos. Quando       textos pequenos e breves consigo
crianças e tenho outras. É preciso       a solidariedade não é praticada isso     estar no meu lugar comum, aqui em
uma espécie de predisposição para se     significa que há uma corrupção           Lisboa. Mas para escrever preciso de
escrever sobre crianças. Escrever        daquilo que é o nosso princípio de       ir para longe. Gosto de estar no
para crianças necessita que a pessoa     coexistência e até de sobrevivência.     campo.
deixe que viva e passe a assumir a       É uma regra biológica, antes de ser
memória da criança que tem dentro        regra ética, política ou moral, às          Em Boliqueime...
de si. Devo dizer que foi fácil.         vezes esquecemo-nos disso. Alguém           Sim. É lá que consigo concentrar-
Imaginei-me pequena, à altura dos        que é absolutamente egocêntrico          me e fazer aquilo que é necessário
meus afilhados.                          está a pôr em perigo todo um sistema     para escrever.
                                         e a sua própria sobrevivência.
    Foi fácil e desafiante?                                                           Como se fosse um exílio?
    Foi um desafio pelo olhar das            Foi   professora     do    ensino        Um exílio dourado, escolhido.
crianças como personagem... Em           secundário na Beira. Depois viveu e      Aqui, o exílio não tem o sentido de
geral perpassam pelos meus livros        deu aulas em África...                   sofrimento. Mas também não é o
crianças, por exemplo. Tenho muitos          Na altura as raparigas, em geral,    paraíso porque não acontece tudo
contos com crianças. Mas escrever        acompanhavam os rapazes. E foi o         bem, digamos que é o lugar da
para elas nunca o tinha feito. Quando    que aconteceu. O meu primeiro            evasão. O sítio onde o mundo se
o levei à editora não sabia se iriam     casamento foi com um oficial da          reconstrói doutra maneira. Quando
interessar-se pela história.             Força Aérea. África foi uma experi-      me isolo tenho a noção de que vou
                                         ência intensa porque estive muito        medir o meu poder. […] Ora tenho a
   Quando é que a escreveu?              próxima da guerra. Foi muito duro e      ideia de que escrevi uma página
   Há dois anos.                         agressivo, mas ao mesmo tempo de         maravilhosa, ora faço um balanço
                                         uma riqueza humana muito grande.         absolutamente depreciativo, pen-
    É uma história que se baseia em      Talvez tenha aprendido, se é que         sando que nunca escrevi aquilo que
factos verídicos. Foi buscá-la à sua     aprendi, e sublinho isto, a colocar o    eu própria sonhei que seria capaz.
Infância?                                meu ombro a lado dos ombros dos
    Não, esta história foi vivida há     outros. Passei pela experiência de           E reescreve essas páginas?
cinco anos por um amigo meu. O           morte que foi África e ao mesmo              Há páginas que reescrevo muitís-
Henrique Gaspar não é uma figura         tempo de traição das pessoas. E foi      simas vezes. Quando volto a abrir um
inventada. É real. Se fosse vivo teria   lá que aprendi que as mulheres           livro descubro quais são as páginas
a minha idade. Era vizinho da minha      podem ser tão agressivas quanto os       reescritas. Há outras que, feliz-
mãe e conheci-o rodeado de pássa-        homens. Vi muitas mulheres discu-        mente, não é preciso reescrever.
ros, de bichos. Os animais conviviam     tirem a valentia dos seus maridos        Parece que a vida as dá. Parece que
com ele em casa. Um dia, fui encon-      com muito mais cegueira do que eles      tudo se encaixa e as palavras chegam
trá-lo com um pardal nesta situação      próprios.                                já de forma definitiva. Essas também
que descrevo.                                                                     as descubro quando abro um livro.
                                            Esteve lá quanto tempo?               Sei como é que se iniciaram e
   Na vida real o pardal também só          Estive entre 1969 e 71 e 73 e 74.     terminaram as frases, foi um fio que
tinha uma pata?                                                                   se desenrolou sem haver interrupção.
   Sim.                                      Voltou para cá e continuou a dar
                                         aulas...                                    Em absoluto silêncio?
    Neste livro fala de amizade, de          Em Tomar, enquanto estava a             Sim. Ouço música nos intervalos:
solidariedade. São preocupações do       acabar a tese de licenciatura sobre      Tchaikovsky, Mozart, etc. Gosto
seu dia-a-dia?                           Peregrinação, de Fernão Mendes           muito de música brasileira, africana
    São o ingrediente vivo da minha      Pinto. Ao mesmo tempo escrevia           e argentina. O Piazzolla é uma refe-
vida. Nem vejo outra forma de viver.     histórias, diários.                      rência para mim. A única irmã que


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tenho é argentina. O meu pai está       acontece comigo, vive muito qual-           Irrita-me quando as mulheres
sepultado na Argentina. Ele viveu em    quer alegria que eu tenha, e também     acham que são superiores aos
vários países, constituiu uma segunda   tem medo do que me pode acon-           homens, que são transportadoras de
família.                                tecer. Muitas vezes falo com ela        uma mensagem de libertação mais
                                        sobre as histórias que estou a          elevada do que a dos homens. Acho
   A sua mãe está em Boliqueime.        escrever. Mas ultimamente o meu         que o problema das mulheres é
   Sim. Vive no nosso «Monte dos        filho é de facto o meu grande leitor,   terem dificuldade em perceber que
Vendavais». É a curadora da nossa       ajuda-me muito porque é um bom          são parceiras e não mestres. É bom
casa, que é o único bem material. A     crítico do ponto de vista do texto em   que percebamos aquilo que é a nossa
minha mãe empurrou-me para a            si. A minha filha, Ana Clara Bárbara,   configuração feminina. Os homens
modernidade, quebrou todos os           é escultora, e o meu filho, Duarte      perante a natureza e a divindade têm
tabus. E a minha avó deu-me o           Bárbara, é editor. Estão ligados às     mais revolta, mais sentido de
sentido ético da vida.                  artes, de facto.                        individualidade. As mulheres para se
                                                                                afirmarem não precisam de se
    É a segunda vez que fala da sua         A sua obra fala também sobre o      travestir de gestos masculinos.
avó. Como é que ela era?                papel da mulher na sociedade.
    Era uma pessoa de um grande         Ficou contente com a entrega do             Em Portugal tratamos bem as
rigor, uma camponesa admirável.         Prémio Nobel da Literatura a Doris      mulheres?
Tínhamos uma casa de lavoura. Os        Lessing?                                    Não. Mas as mulheres têm a culpa
animais, com o arado, traçavam              Acho que foi extraordinário. Toda   Revejo-me na frase: «Ninguém se
regos na terra e ela andava o dobro     a gente pensava que ninguém mais        liberta se não quiser ser libertado.»
do caminho percorrido pelos animais.    iria dar o prémio à Doris. Corria a     Escrevi-a no livro O Dia dos Prodígios
Sozinha para lá ia pondo mãozinhas      ideia de que ela era demasiado          [1980]. As mulheres acomodaram-se.
de guano. Dava um passo, lançava        comprometida para ser uma escritora     Como a Agustina Bessa-Luís diz: «A
uma mãozinha de guano. A minha avó      de natureza estética. Têm até falado    obediência é uma economia do com-
levantava-se ao bater do relógio, que   muito dela, sobretudo os países aqui    portamento.» Existe em obedecer
ainda temos. Dava umas horas que        do Sul, onde não há muitas              uma espécie de gratificação para as
acordava toda a gente em casa e nos     traduções, sobretudo em Portugal,       mulheres, que é bom porque desobe-
arredores. Ela levantava-se às cinco    sem a terem lido. Lendo percebe-se      decer ou fazer o seu próprio caminho
ou seis horas da manhã. Ainda hoje,     que além do lado fraterno com o         exige uma luta, um trabalho de luta
quando sou atacada de preguiça,         mundo e do comprometimento com a        contra a cobardia. Em geral as
porque eu sou muito preguiçosa,         mudança social, Doris Lessing é uma     religiões, não são só as nossas mas as
lembro-me da forma como ela se          criadora, é uma artista de imensa       que fundam as grandes civilizações,
erguia. Hoje pergunto: porquê? Qual     dimensão. É um erro menosprezá-la.      puseram como dogma a inferioridade
foi o suco que ela deixou na vida?                                              das mulheres. E a mulher consentiu.
Algum deve ter deixado.                    E o Nobel é suficiente para que
                                        se construa outra imagem de Doris          Mas em Portugal as mulheres
    Que relação têm os seus filhos      Lessing?                                estão a libertar-se.
consigo enquanto escritora?                O Nobel é um prémio impossível,         Sim. Nos últimos trinta anos, e de
    Enquanto eram pequenos procurei     sempre que é dado a alguém fica         forma acelerada, as mulheres têm
não os envolver. Eles não liam os       uma centena de escritores no mundo      vindo a ganhar um estatuto assina-
meus livros. Os meus filhos tinham o    por premiar. Foi simbólico porque       lável. Aquilo que mais sublinho é o
problema da ausência do pai e           deram a uma mulher velha, cheia de      facto de terem tido acesso à
procurei que eles tivessem a sua mãe    cabelos brancos, empenhada e uma        magistratura e de a estarem a exer-
por inteiro. Eu tinha esse grande       grande escritora. A forma como ela      cer com tanta dignidade como os
vício da escrita e ao mesmo tempo       recebeu o prémio, aliás corre no        homens. A decisão de dizer quem é
tinha uma profissão. Hoje acho que      youtube, a saída dela do táxi, acho     criminoso ou inocente é apanágio do
não fui uma mãe exemplar, mas na        que é de uma comoção imensa. Ela        nível mais elevado da sociedade.
altura julguei que as opções que fiz    com o filho, com o braço doente,
foram sempre as melhores. Conheci       tendo ele numa das mãos uma                 Acredita em Deus?
filhos de escritores que viveram com    alcachofra e na outra uma réstia de         Era bom existir um princípio que
a sensação de que os pais eram          cebolas... E a surpresa dela,           justificasse a nossa vida obscura.
pessoas com importância. Os filhos      desgrenhada como qualquer mulher        Vimos de um escuro e vamos para
têm de saber que eles é que são         velha que vai às compras. Acho que      uma interrogação. E a maior parte
importantes.                            foi um presente para todas as           das vidas não tem sentido. A nossa
                                        mulheres, que nunca terão reconhe-      vida é procurar esse sentido, e é
    E agora como é que é?               cimento pela sua própria vida.          pouco. Imaginar essa busca pode ser
    São grandes companheiros. A                                                 a razão. É uma traição enorme à
minha filha, que vive em Inglaterra,       O que é que a irrita na vivência     natureza humana se não houver uma
interessa-se bastante com o que         da mulher na sociedade?                 divindade.




   Entrevista publicada na revista Notícias Magazine, de 04 de Novembro de 2007.
   Texto reproduzido com cortes.




E.S.S.M.O                                            09-11-2007                                          Página 5 de 5

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Entrevista com Lídia Jorge sobre solidariedade e isolamento na escrita

  • 1. José Paulo Vasconcelos ENTREVISTA A entrevista é um género jornalístico caracterizado pela alternância “pergunta / resposta”, que reproduz tão fielmente quanto possível uma conversa entre entrevistador e entrevistado e que tem como objectivo uma de duas finalidades: a) dar a conhecer a opinião de uma figura pública (entrevistado) sobre um tema da actualidade. Esta opinião pode ser importante por duas razões: 1) Porque o tema é relevante e universal (e portanto, interessa a quase todos nesse momento); 2) Porque o entrevistado tem relevância especial (pela sua conduta, pela sua história ou por razões circunstanciais) no tema em questão. b) dar a conhecer a importância de uma personalidade, instituição ou circunstância que, embora não sendo do conhecimento geral, tenha vindo a assumir pelo seu trabalho ou impacto uma relevância que justifique a sua divulgação. As entrevistas podem ser de dois tipos: oral (radiofónica ou televisiva) em que o texto é registado no discurso oral, em directo; ou escrita (impressa) em que o enunciado da entrevista é passado ao registo escrito, em diferido, permitindo pequenas correcções ou reformulações. Para todas as entrevistas, é fundamental a elaboração de um guião que oriente o processo de entrevista. 1.1. Características do registo linguístico · uso de registo formal; · utilização de uma linguagem simples e clara mas que se deve adaptar à formação científica e cultural do entrevistado, por vezes com recurso a gíria técnico-profissional (todo o vocabulário que não seja corrente, deve ser explicado ao leitor/ouvinte); · utilização da terceira pessoa do singular (nas perguntas, identificando o entrevistado pelo nome ou cargo), e da primeira pessoa do singular ou do plural (nas respostas). 1.2. Estrutura da entrevista · Introdução / Abertura – apresentação breve do entrevistado ou das circunstâncias que levaram à entrevista. Podem também ser dadas E.S.S.M.O 09-11-2007 Página 1 de 5
  • 2. José Paulo Vasconcelos informações complementares sobre o contexto da entrevista (local, data, condicionantes…); · Corpo da entrevista – conjunto de perguntas e respostas; Uma entrevista é mais do que um questionário ou inquérito (em que as perguntas são pré-determinadas e imutáveis). Numa entrevista as perguntas devem sempre levar em consideração as respostas já dadas e adaptar-se ao ritmo da conversa, suscitando esclarecimentos ou evitando questões já respondidas. · Fecho / Conclusão – breve opinião do entrevistador sobre as questões abordadas, destaque de uma ideia forte resultante da entrevista ou um apontamento sobre a importância do tema / entrevistado. 1.3. Guião da entrevista Qualquer entrevista deve ser cuidadosamente preparada através de uma elaboração de um guião, ou seja, um texto que servirá de base à condução da entrevista. O guião deve respeitar os seguintes procedimentos: · Definição do tema – indicação clara da temática a abordar na entrevista e sua relação com o público (“O que é que o público quer saber sobre este tema e que importância tem esse tema para o público?”); · Escolha do entrevistado – que deve ser uma pessoa que reconhecidamente tenha relevância para o tema, seja pelo cargo que desempenha, seja pelos seus conhecimentos específicos; No caso de a entrevista ser motivada pela relevância do entrevistado (e não pela pertinência do tema) os dois pontos anteriores devem inverter-se na sequência de procedimentos, reformulando-se da seguinte forma: · Escolha do entrevistado – deve ser uma pessoa que por uma razão ou por outra seja do interesse do público e que seja reconhecida socialmente. · Definição do tema – indicação clara da temática a abordar na entrevista e sua relação com o entrevistado (“O que é que o entrevistado pode dizer com interesse significativo para o público?”); · Recolha de informação – documentação tão completa quanto possível sobre o tema ou sobre o entrevistado de forma a permitir a formulação de perguntas pertinentes e que permitam ao entrevistador acompanhar as respostas do entrevistado. · Elaboração das perguntas – Considerando os seguintes aspectos: o As perguntas podem ser “abertas” (permitindo respostas mais ou menos longas e discursivas) ou “fechadas” (obrigando a respostas curtas, do género Sim/Não). E.S.S.M.O 09-11-2007 Página 2 de 5
  • 3. José Paulo Vasconcelos o As perguntas devem ser organizadas sequencialmente respeitando uma ordem lógica e pertinente na entrevista. o As perguntas devem ser claras, breves e significativas para o tema em questão na entrevista. o O registo linguístico deve ser adaptado ao entrevistado ou à situação da entrevista. o Devem estar previstas as estratégias para repor a entrevista no tema central (se esta se desviar para questões acessórias). o Número total de perguntas ou tempo de duração da entrevista. 1.4. Registo escrito da entrevista A entrevista impressa pode ser registada em suporte áudio (gravador) mas deve posteriormente ser passada para um registo escrito. Nesse momento é importante que o texto escrito esteja correcto do ponto de vista: · Do conteúdo (respeitando integralmente o proferido pelo entrevistado) · Da forma (ortografia, pontuação, organização dos blocos textuais) · Da apresentação (com recurso a fotografias ou documentos complementares). Depois da entrevista estar passada a escrito é muito importante que o entrevistado possa rever o texto final de forma a ser possível corrigir pequenos erros, esclarecer ambiguidades e receber a autorização final de publicação da entrevista. Se não for possível o entrevistado rever o texto antes da sua publicação, deverá obter-se deste, logo após a realização da entrevista, a autorização expressa para a publicação. Para saberes mais: http://www.prof2000.pt/users/folhalcino/ideias/comunica/entrevista.htm http://www.cienciaviva.pt/projectos/genoma2003/apoio3.asp http://www01.madeira- edu.pt/projectos/vemaprenderportugues/Saber%20Mais/Escrita/Modelos/Docs/modelos_var.htm#entrv http://turma.sapo.pt/Xz485/723081.html E.S.S.M.O 09-11-2007 Página 3 de 5
  • 4. José Paulo Vasconcelos EXEMPLO DE UMA ENTREVISTA Lídia Jorge Aos 61 anos aventura-se na literatura infantil com O Grande Voo do Pardal: «Imaginei-me pequena, à altura dos meus afilhados.» É uma história real de amor, amizade e solidariedade entre um homem e um pardal só com uma pata. Ou não fosse a solidariedade uma preocupação constante da autora: «É uma regra biológica, antes de ser regra ética, política ou moral, às vezes esquecemo-nos disso.» É em Boliqueime que se isola para escrever. É lá que encontra espaço para se evadir e salpicar de «harmonia e correcção» o mundo que a rodeia. ENTREVISTA: Elisabete Pato – FOTOGRAFIA: Bruno Portela Porque é que decidiu escrever Acho que quando não se é solidário é Quando está a escrever isola-se? agora para crianças? porque a solidariedade está corrom- Sim. Preciso de muito isolamento. Neste caso o impulso veio da pida. Os seres humanos existem em Enquanto estou a ler e a escrever editora. Tinha esta história para rede, em cachos, em grupos. Quando textos pequenos e breves consigo crianças e tenho outras. É preciso a solidariedade não é praticada isso estar no meu lugar comum, aqui em uma espécie de predisposição para se significa que há uma corrupção Lisboa. Mas para escrever preciso de escrever sobre crianças. Escrever daquilo que é o nosso princípio de ir para longe. Gosto de estar no para crianças necessita que a pessoa coexistência e até de sobrevivência. campo. deixe que viva e passe a assumir a É uma regra biológica, antes de ser memória da criança que tem dentro regra ética, política ou moral, às Em Boliqueime... de si. Devo dizer que foi fácil. vezes esquecemo-nos disso. Alguém Sim. É lá que consigo concentrar- Imaginei-me pequena, à altura dos que é absolutamente egocêntrico me e fazer aquilo que é necessário meus afilhados. está a pôr em perigo todo um sistema para escrever. e a sua própria sobrevivência. Foi fácil e desafiante? Como se fosse um exílio? Foi um desafio pelo olhar das Foi professora do ensino Um exílio dourado, escolhido. crianças como personagem... Em secundário na Beira. Depois viveu e Aqui, o exílio não tem o sentido de geral perpassam pelos meus livros deu aulas em África... sofrimento. Mas também não é o crianças, por exemplo. Tenho muitos Na altura as raparigas, em geral, paraíso porque não acontece tudo contos com crianças. Mas escrever acompanhavam os rapazes. E foi o bem, digamos que é o lugar da para elas nunca o tinha feito. Quando que aconteceu. O meu primeiro evasão. O sítio onde o mundo se o levei à editora não sabia se iriam casamento foi com um oficial da reconstrói doutra maneira. Quando interessar-se pela história. Força Aérea. África foi uma experi- me isolo tenho a noção de que vou ência intensa porque estive muito medir o meu poder. […] Ora tenho a Quando é que a escreveu? próxima da guerra. Foi muito duro e ideia de que escrevi uma página Há dois anos. agressivo, mas ao mesmo tempo de maravilhosa, ora faço um balanço uma riqueza humana muito grande. absolutamente depreciativo, pen- É uma história que se baseia em Talvez tenha aprendido, se é que sando que nunca escrevi aquilo que factos verídicos. Foi buscá-la à sua aprendi, e sublinho isto, a colocar o eu própria sonhei que seria capaz. Infância? meu ombro a lado dos ombros dos Não, esta história foi vivida há outros. Passei pela experiência de E reescreve essas páginas? cinco anos por um amigo meu. O morte que foi África e ao mesmo Há páginas que reescrevo muitís- Henrique Gaspar não é uma figura tempo de traição das pessoas. E foi simas vezes. Quando volto a abrir um inventada. É real. Se fosse vivo teria lá que aprendi que as mulheres livro descubro quais são as páginas a minha idade. Era vizinho da minha podem ser tão agressivas quanto os reescritas. Há outras que, feliz- mãe e conheci-o rodeado de pássa- homens. Vi muitas mulheres discu- mente, não é preciso reescrever. ros, de bichos. Os animais conviviam tirem a valentia dos seus maridos Parece que a vida as dá. Parece que com ele em casa. Um dia, fui encon- com muito mais cegueira do que eles tudo se encaixa e as palavras chegam trá-lo com um pardal nesta situação próprios. já de forma definitiva. Essas também que descrevo. as descubro quando abro um livro. Esteve lá quanto tempo? Sei como é que se iniciaram e Na vida real o pardal também só Estive entre 1969 e 71 e 73 e 74. terminaram as frases, foi um fio que tinha uma pata? se desenrolou sem haver interrupção. Sim. Voltou para cá e continuou a dar aulas... Em absoluto silêncio? Neste livro fala de amizade, de Em Tomar, enquanto estava a Sim. Ouço música nos intervalos: solidariedade. São preocupações do acabar a tese de licenciatura sobre Tchaikovsky, Mozart, etc. Gosto seu dia-a-dia? Peregrinação, de Fernão Mendes muito de música brasileira, africana São o ingrediente vivo da minha Pinto. Ao mesmo tempo escrevia e argentina. O Piazzolla é uma refe- vida. Nem vejo outra forma de viver. histórias, diários. rência para mim. A única irmã que E.S.S.M.O 09-11-2007 Página 4 de 5
  • 5. José Paulo Vasconcelos tenho é argentina. O meu pai está acontece comigo, vive muito qual- Irrita-me quando as mulheres sepultado na Argentina. Ele viveu em quer alegria que eu tenha, e também acham que são superiores aos vários países, constituiu uma segunda tem medo do que me pode acon- homens, que são transportadoras de família. tecer. Muitas vezes falo com ela uma mensagem de libertação mais sobre as histórias que estou a elevada do que a dos homens. Acho A sua mãe está em Boliqueime. escrever. Mas ultimamente o meu que o problema das mulheres é Sim. Vive no nosso «Monte dos filho é de facto o meu grande leitor, terem dificuldade em perceber que Vendavais». É a curadora da nossa ajuda-me muito porque é um bom são parceiras e não mestres. É bom casa, que é o único bem material. A crítico do ponto de vista do texto em que percebamos aquilo que é a nossa minha mãe empurrou-me para a si. A minha filha, Ana Clara Bárbara, configuração feminina. Os homens modernidade, quebrou todos os é escultora, e o meu filho, Duarte perante a natureza e a divindade têm tabus. E a minha avó deu-me o Bárbara, é editor. Estão ligados às mais revolta, mais sentido de sentido ético da vida. artes, de facto. individualidade. As mulheres para se afirmarem não precisam de se É a segunda vez que fala da sua A sua obra fala também sobre o travestir de gestos masculinos. avó. Como é que ela era? papel da mulher na sociedade. Era uma pessoa de um grande Ficou contente com a entrega do Em Portugal tratamos bem as rigor, uma camponesa admirável. Prémio Nobel da Literatura a Doris mulheres? Tínhamos uma casa de lavoura. Os Lessing? Não. Mas as mulheres têm a culpa animais, com o arado, traçavam Acho que foi extraordinário. Toda Revejo-me na frase: «Ninguém se regos na terra e ela andava o dobro a gente pensava que ninguém mais liberta se não quiser ser libertado.» do caminho percorrido pelos animais. iria dar o prémio à Doris. Corria a Escrevi-a no livro O Dia dos Prodígios Sozinha para lá ia pondo mãozinhas ideia de que ela era demasiado [1980]. As mulheres acomodaram-se. de guano. Dava um passo, lançava comprometida para ser uma escritora Como a Agustina Bessa-Luís diz: «A uma mãozinha de guano. A minha avó de natureza estética. Têm até falado obediência é uma economia do com- levantava-se ao bater do relógio, que muito dela, sobretudo os países aqui portamento.» Existe em obedecer ainda temos. Dava umas horas que do Sul, onde não há muitas uma espécie de gratificação para as acordava toda a gente em casa e nos traduções, sobretudo em Portugal, mulheres, que é bom porque desobe- arredores. Ela levantava-se às cinco sem a terem lido. Lendo percebe-se decer ou fazer o seu próprio caminho ou seis horas da manhã. Ainda hoje, que além do lado fraterno com o exige uma luta, um trabalho de luta quando sou atacada de preguiça, mundo e do comprometimento com a contra a cobardia. Em geral as porque eu sou muito preguiçosa, mudança social, Doris Lessing é uma religiões, não são só as nossas mas as lembro-me da forma como ela se criadora, é uma artista de imensa que fundam as grandes civilizações, erguia. Hoje pergunto: porquê? Qual dimensão. É um erro menosprezá-la. puseram como dogma a inferioridade foi o suco que ela deixou na vida? das mulheres. E a mulher consentiu. Algum deve ter deixado. E o Nobel é suficiente para que se construa outra imagem de Doris Mas em Portugal as mulheres Que relação têm os seus filhos Lessing? estão a libertar-se. consigo enquanto escritora? O Nobel é um prémio impossível, Sim. Nos últimos trinta anos, e de Enquanto eram pequenos procurei sempre que é dado a alguém fica forma acelerada, as mulheres têm não os envolver. Eles não liam os uma centena de escritores no mundo vindo a ganhar um estatuto assina- meus livros. Os meus filhos tinham o por premiar. Foi simbólico porque lável. Aquilo que mais sublinho é o problema da ausência do pai e deram a uma mulher velha, cheia de facto de terem tido acesso à procurei que eles tivessem a sua mãe cabelos brancos, empenhada e uma magistratura e de a estarem a exer- por inteiro. Eu tinha esse grande grande escritora. A forma como ela cer com tanta dignidade como os vício da escrita e ao mesmo tempo recebeu o prémio, aliás corre no homens. A decisão de dizer quem é tinha uma profissão. Hoje acho que youtube, a saída dela do táxi, acho criminoso ou inocente é apanágio do não fui uma mãe exemplar, mas na que é de uma comoção imensa. Ela nível mais elevado da sociedade. altura julguei que as opções que fiz com o filho, com o braço doente, foram sempre as melhores. Conheci tendo ele numa das mãos uma Acredita em Deus? filhos de escritores que viveram com alcachofra e na outra uma réstia de Era bom existir um princípio que a sensação de que os pais eram cebolas... E a surpresa dela, justificasse a nossa vida obscura. pessoas com importância. Os filhos desgrenhada como qualquer mulher Vimos de um escuro e vamos para têm de saber que eles é que são velha que vai às compras. Acho que uma interrogação. E a maior parte importantes. foi um presente para todas as das vidas não tem sentido. A nossa mulheres, que nunca terão reconhe- vida é procurar esse sentido, e é E agora como é que é? cimento pela sua própria vida. pouco. Imaginar essa busca pode ser São grandes companheiros. A a razão. É uma traição enorme à minha filha, que vive em Inglaterra, O que é que a irrita na vivência natureza humana se não houver uma interessa-se bastante com o que da mulher na sociedade? divindade. Entrevista publicada na revista Notícias Magazine, de 04 de Novembro de 2007. Texto reproduzido com cortes. E.S.S.M.O 09-11-2007 Página 5 de 5