SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 8
Baixar para ler offline
Artigo


           Crise financeira ou crise histórica do
                       capitalismo?

Gilson Dantas                                                      financeira traria o sistema à ordem. Enxugar o excesso
                                                                    ou a irracionalidade “exuberante” dos mercados seria
         Introdução                                                 o grande remédio, passando pelo resgate, é claro,
         A massa desproporcional de capital financeiro              daquelas corporações ou bancos “grandes demais para
especulativo das últimas décadas e todo o foco centrado             quebrarem”.
– na mídia e na academia – em torno da economia-                            A questão, no entanto, examinando-se o sistema
cassino, da agiotagem desenfreada ou da geração maciça              de conjunto e historicamente, é mais complicada. Em
de capital fictício e até mesmo a idéia de grande parte da          primeiro lugar é essencial entender de onde veio esse
esquerda de “dominância dos mercados financeiros” ou                exuberante crescimento da finança e o que ele significa.
mesmo de “novo regime de acumulação financeirizada”                A análise que vá além das aparências vai revelar, em
alimentou um tipo de diagnóstico bem particular sobre               vez de força do sistema – ou até desvio “irracional”-
a crise atual.                                                      fraqueza na capacidade de acumular capital além da sua
         Segundo esta ótica, a crise seria fundamentalmente         tendência de fundo à estagnação.
financeira ou teria que ser entendida a partir de sua                       Vejamos alguns pontos.
lógica financeira. Nesta mesma linha de raciocínio, a
desproporcionalidade da esfera especulativo-financeira                      A crise financeira
é tomada recorrentemente como causa ou, em outro                            Uma aplicação financeira, como se sabe, só
sentido, como um problema (excesso, desvio) a ser                   cresce porque promete ganhos. Só que, ao mesmo
corrigido.                                                          tempo, e embora os ideólogos da econometria burguesa
         Constatou-se: a massa de capital no mercado                procurem ignorar este fato, a esfera financeira – seja a
financeiro é astronômica e extrapolou em muitas vezes               de pura especulação, portanto fictícia, seja a do capital
a economia real, revelando uma espécie de bolha ou um               do banqueiro que empresta ao empresário fabril – não
tumor que para vários comentaristas ou políticos – de               gera qualquer ativo que não seja de natureza financeira;
Martin Wolf a Sarkozy - teria crescido sobre um corpo               em outras palavras: a esfera financeira não produz livros,
sadio. Esse artigo pretende problematizar essa questão.             sapatos, alimentos e, de fato, sobrevive da riqueza –
         Ou seja, parte dos que diagnosticam que “o                 mais-valia – que punciona da esfera chamada produtiva.
problema” da economia mundial é a hipertrofia da                    Vive da fração de riqueza, de mais-valia, que conseguir
finança (ou o excesso de “capital zumbi” ou fictício),              deslocar da esfera produtiva. Ou então da expectativa de
enxergam a economia capitalista com um organismo que                riqueza a ser gerada na produção (esta é uma razão pela
ia bem (na era “keynesiano-fordista” de prosperidade do             qual as ações que crescem de cotação na Bolsa, dentro
pós-Guerra) até ir sendo parasitado pelo rentista, pelo             da expectativa de ganhos futuros).
capital fictício. Nessa perspectiva se alinham autores                      Não há manobra especulativa que gere riqueza,
cujo pensamento é, de uma forma ou de outra, vinculado              valor. Ou, em outras palavras, tomando o argumento de
ao keynesianismo e/ou à escola regulacionista (ou aos               Astarita:
chamados desenvolvimentistas tipo M. Conceição                             Segundo a teoria do valor, este só é gerado através do
Tavares, Beluzzo e outros). A fraqueza desse diagnóstico                   trabalho humano e a um valor gerado na produção deve
                                                                           corresponder, na média, um valor equivalente pelo lado
será examinada mais adiante, no entanto um problema
                                                                           da demanda. O valor não pode ser incrementado através
digamos assim, prático, desse diagnóstico é que supõe                      de manobras especulativas nem pela compra e venda de
que um expurgo e/ou forte disciplinamento da esfera                        papéis. Naturalmente a teoria burguesa pretende que o
                                                                           valor se cria graças às extremas habilidades dos executivos
                                                                           e financistas; mas o que esta gente faz é apropriar-se de
 Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília, escreveu             trabalho alheio não pago e passar de mão em mão, mais-
EUA: militarismo e economia da destruição, Achiamé, Rio de
                                                                           valias (008).
Janeiro, 007 e organizou O capital de Karl Marx: resumo (Engels,
Lenine, Trotski), Ícone, Brasília, 008.                             Produtiva nos temos de Marx, aplicados ao capitalismo, tem o
 Ver, por exemplo, CHESNAIS (997).                                sentido de esfera geradora de mais-valia.
Contra a Corrente                                                                                                                

        Partindo deste princípio e agora argumentando do     populistas (bonapartistas) e aproveitando-se da postura
ponto de vista histórico, vários estudiosos já se ocuparam   defensiva, sem independência de classe e/ou frente-
da história do último meio século do capitalismo e,          populista das burocracias sindicais e do stalinismo
explicaram a prosperidade e crise do sistema. Explicaram     (Partidos Comunistas do mundo inteiro, como no Chile
que, passadas as condições excepcionais de crescimento       de 97, Argentina em 97/6, Brasil de 964, França
econômico capitalista do pós-Guerra e como parte da          de 968 e assim por diante) no sentido de desviar/conter
dinâmica de movimento do próprio capital, por exemplo,       o movimento revolucionário da classe trabalhadora,
com o crescente investimento em capital fixo (progressivo    as forças do capital obtiveram sucesso na sua ofensiva
aumento da composição orgânica do capital), o sistema        contra o trabalho e afirmaram-se naquelas décadas
finalmente esbarrou em suas contradições agudamente          conhecidas como neoliberais. O sistema estabeleceu um
manifestas na eclosão da crise da virada dos 960 para       equilíbrio (instável) que, com vais-e-vens, durou até um
os 970.                                                     ano atrás.
        Seus principais indicadores mostravam um                     Tomou forma um período que ficou marcado
sistema que tendia à estagnação, em queda brutal das         pela franca expansão do capital financeiro e que alguns
taxas de crescimento. O gráfico a seguir, abarcando          estudiosos explicam como essencialmente decorrente
todas décadas desde 96 revela essa desaceleração           da ação do Estado – sobretudo o Estado rentista norte-
econômica. Veja-se, no mesmo gráfico, a outra curva,         americano – no sentido de desmontar as barreiras à
meteoricamente ascendente, desde pouco antes dos             circulação do capital, em especial das frações mais
anos 990, do capital especulativo, dos “derivados”          financeirizadas do capital.
financeiros:                                                         Foi a era dos “mercados financeiros” dos ativos e
                                                             produtos financeiros. Portanto, vale reiterar, da expansão
    Desaceleração econômica e expansão financeira            do capital que nada cria no mundo da riqueza:
                                                                   O capital que permanece como capital financeiro não extrai
                                                                   mais-valia. A mais-valia só surge do trabalho voltado à
                                                                   produção de bens ou prestação de serviços socialmente
                                                                   necessários. O capital financeiro, que procura obter lucro
                                                                   sem envolver-se na produção de nada, não aporta coisa
                                                                   alguma à mais-valia gerada pelo conjunto dos capitais
                                                                   produtivos, este fundo comum do qual surgem os lucros
                                                                   de todos os capitalistas. (...) Por outro lado (...) é ‘cada vez
                                                                   mais difícil converter em capital ampliado novas massas
                                                                   de trabalho não pago’. A massa de mais-valia extraída
                                                                   dos operários é cada vez mais irrelevante em relação às
                                                                   outras forças que entram em ação na produção capitalista
                                                                   (MERCATANTE, 007).
                                                                     Aquilo que deve ser bem destacado nesse
                                                             processo é que não se tratou de um desenvolvimento
                                                             autônomo do capital financeiro e deslocado da realidade,
                                                             da produção. Os enormes ganhos financeiros – e a pirâmide
                                                             que tais ganhos alimentavam – eram impulsionados por
                                                             um determinado aspecto da economia “não-financeira”
                                                             que vem a ser justamente a ampla e crescente exploração
                                                             do trabalho que o capital foi impondo mundo afora e
Fonte (BEINSTEIN, 009)
                                                             especialmente na Ásia (e também em áreas antes vedadas
                                                             ao capital e agora sob devastadora restauração capitalista
         Do ponto de vista teórico, o que se observa nesse   pela ação das burocracias “comunistas”).
processo é que volta a se impor a tendência secular,                 Aquilo que chamam de neoliberalismo não
imanente ao capitalismo, da queda da taxa média              deixou de ser uma tentativa – diante da profunda crise
de lucro. Diante desse problema grave para a classe          deflagrada na virada dos anos 970 – de, através da
capitalista, várias contra-tendências foram postas em        intervenção estatal, evitar a marcha para uma “saída”
ação, o Estado interveio pesadamente - em meio a um          do tipo Grande Depressão ou até refletiu a falta de
processo de tensões inter-estatais e de revoluções sociais   condições para o sistema evoluir rumo à “solução”
que se estendeu pelo período de décadas - e agiu com         de uma catastrófica III Guerra. A classe dominante
especial força através do recurso do crédito, da demanda     desenvolveu uma lenta e terrível ofensiva contra a classe
estatal bélica, dos gastos dissipatórios de todo tipo.       trabalhadora, tratando de arrancar o máximo possível -
                                                             naquelas condições políticas, de derrotas do proletariado
        As décadas neoliberais                               - de mais-valia. Ao mesmo tempo em que, como será
        Atropelando a impotência          das    direções    mais adiante argumentado, a acumulação do capital
Crise financeira ou crise histórica do capitalismo?                                                                            

não se expandiu como poderia: boa parte da mais-                        do trabalho. A proletarização do camponês asiático
valia rumou – de forma surpreendente para os padrões                    foi uma contra-tendência de peso neste sentido; o que
orgânicos do capitalismo - para a esfera do crédito, do                 inclui abertura de áreas ao Leste, de força de trabalho
financiamento de dívidas.                                               barata e educada. A parte mais visível ou exuberante
        O crédito tem esse papel elástico de ampliar                    desse processo que ocorreu em vários países na Ásia
limites, no funcionamento do sistema, que a produção,                   deu-se na China: milhões de camponeses tornaram-se
por sua rigidez não possui. Na definição de Marx o                      assalariados, em sua grande maioria com salários abaixo
sistema de crédito é “elástico por sua própria natureza”, e             da média internacional. Também fez parte dessa extração
se destaca como a “principal alavanca” de superprodução                 de riqueza a privatização neoliberal de ativos públicos
e super-especulação no comércio”.                                       nos vários quadrantes do mundo. De toda forma, o
        A esse respeito vale lembrar o argumento de                     elemento central ou “o qualitativo foi o aumento da taxa
Rosa:                                                                   de exploração dos trabalhadores, expressão da situação
       O crédito preenche, na economia capitalista, diversas            de retrocesso da classe operária mundial nas ultimas
       funções, mas o seu papel mais importante, como se sabe, é        décadas” (CHINGO, 009).
       aumentar a capacidade de extensão da produção e facilitar
                                                                                A ofensiva contra os salários leva ao
       a troca. Onde quer que a tendência interna da produção
       capitalista à expansão ilimitada privada, esbarre nas            achatamento da demanda de bens; também decaiu o
       dimensões restritas do capital privado, o crédito aparece        consumo produtivo dos capitalistas (taxa menor de
       como meio de ultrapassar esses limites de maneira                reinversões). No entanto, aquela ofensiva anti-salários
       capitalista, de fundir num só capital muitos capitais            foi parcialmente compensada, no mesmo processo, pelo
       privados – sociedades por ações – e de permitir que um           crédito e consumo de luxo. Duas tentativas de superar os
       capitalista disponha de capitais alheios – crédito industrial.
                                                                        limites da crise dos anos 970 sem passar pela maciça
       Por outro lado, na qualidade de crédito comercial, acelera
       a troca de mercadorias e, por conseguinte, o refluxo do
                                                                        queima de capitais (ambas geradoras de instabilidade).
       capital para a produção ou, em outras palavras, todo o ciclo             O ataque contra a massa salarial já foi destacado
       do processo de produção. É fácil compreender a influência        em vários estudos e o economista Michel Husson chama
       que essas duas funções principais do crédito exercem na          a atenção para esse elemento nos dois gráficos a seguir,
       formação das crises (LUXEMBURGO, 975, 4).                      sendo que no primeiro observa-se que a parte do salário
        O crédito teve e tem esse papel no capitalismo.                 em relação ao PIB, nos Estados Unidos (no longo
Nessas décadas recentes, o peso do crédito na economia                  período desde 960) apresentou tendência ao declínio,
capitalista assumiu, no entanto, proporção desigual,                    visivelmente acentuado desde a grande crise da virada
desproporcional, nos marcos da crise global do                          para os 970:
capitalismo. Um dólar de investimento na produção
começou a estabelecer correspondência com 0, 0, 40 na                        Gráfico
especulação, por exemplo. Uma verdadeira pirâmide.                             Parte do salário em relação ao PIB – Estados
       A maior parte do capital se encontra investida em operações      Unidos (960-005)
       que têm pouco a ver com a economia real, operações
       cujo valor flutua segundo as vontades de movimentos
       especulativos e cujo montante é jogado aos cimos mais
       altos através dos efeitos de alavancagem dando lugar a um
       endividamento da ordem de 40 dólares por dólar investido.
       A importância principal do desenvolvimento do mercado
       de crédito fora do sistema bancário regulamentado, como
       conseqüência do lugar ocupado crescentemente pelos
       fundos especulativos (hedge funds) e pelos fundos de
       capitais privados não cotados na bolsa (private equity
       funds), contribui amplamente para seu desajuste e para
       alimentar as dúvidas mais sérias em relação de sua nova
       configuração (GILL, 008).

        O trabalho
        Décadas dessa pirâmide fictícia tiveram vários                  Fonte: (HUSSON, 008)
efeitos, sendo um deles o de ir postergando a crise
deflacionária tipo Grande Depressão ou mesmo um                                 No gráfico superior constam os salários nos
crack sistêmico.                                                        Estados Unidos como parte do PIB. No gráfico logo
        Ao mesmo tempo, na base, em setores                             abaixo, os salários nos Estados Unidos como parte do
determinados da produção se desenvolviam surtos de                      PIB, mas agora sem se levar em conta os % de altos
crescimento. A recuperação da taxa de lucro deu-se                      salários; no terceiro gráfico de cima para baixo, os
em todas as esferas e áreas da produção mundial onde                    salários na União Européia em relação ao PIB; o último
o capital conseguiu impor altas taxas de exploração                     gráfico, inferior, toma os salários nos Estados Unidos
Contra a Corrente                                                                                                      4

como parte do PIB, mas excluindo o grupo dos 5% de           de empresas (a destruição massiva de forças produtivas)
altos salários.                                              que permitisse recuperar a rentabilidade para o capital
        Observe-se que a queda salarial neste último         – em alta composição orgânica – na produção.
caso, quando se abstrai os altíssimos salários, é                    O caminho de fuga para adiante se deu pela
impressionante.                                              ofensiva sobre o capital variável (salário) e com o
        O mesmo processo se desenvolveu nas metrópoles       sistema agravando contradições, dentre elas o crescente
imperialistas como se vê a seguir, pela seqüência de         endividamento para gerar demanda pública (setor
dados comparativos entre economias como a França,            bélico) e privada (crédito ao consumo) em plena era do
o G7 (grupo dos sete países mais ricos) e a Europa;          achatamento salarial. Isso não pode ser qualificado como
no gráfico superior, aparece a evolução do salário em        crescimento orgânico. Que organicidade pode haver
relação ao PIB no G7; no gráfico de triângulos pretos,       quando o país imperialista efetivamente hegemônico (e
a mesma coisa agora referente à União Européia e, por        militarmente incontrastável) mergulha em um processo
fim, o gráfico de maior queda salarial recente, tomando      de desindustrialização?
a França como exemplo. Em todos os casos, a queda da                 Observe-se no gráfico a seguir, os claros sintomas
massa salarial nas décadas recentes é flagrante.             de declínio: as taxas de investimento (de formação de
                                                             capital fixo) dos Estados Unidos que já vinham sendo
       Gráfico                                               mais baixas que as da China, já estão entre as mais baixas
       Parte do salário em relação ao PIB – França,          dos Estados Unidos desde a II Guerra e ainda acontecem
Europa, G7                                                   em meio à ruptura de um equilíbrio no qual se apoiava a
                                                             hegemonia norte-americana:

                                                                    Taxa de formação de capital fixo desde o pós-
                                                             Guerra nos Estados Unidos




Fonte: (HUSSON, 008)

        O que se pode observar, portanto, é que a            Fonte (ROSS, 009)
hipertrofia da finança também contou com a rentabilidade
que o capital foi encontrando em nichos produtivos – a                Aqui se apresenta mais um sinal de que não se
China é o exemplo mais forte – a partir do processo          trata de corpo jovem ou sadio: o capital extrai mais-valia
de achatamento salarial e precarização/terceirização         – investe com rentabilidade – no entanto não reinveste
do trabalho, o que incluiu os países imperialistas. A        na mesma proporção; Husson chama a atenção para
já mencionada privatização de patrimônio público             esse dado de que os lucros astronômicos em nichos
também foi parte desse processo que conduziu, no final,      produtivos4, não se traduziram em investimentos à altura
a mais exploração do trabalho, demissões em massa,           ou em taxas igualmente crescentes em capital fixo.
desconstrução do chamado Estado de bem-estar.                         Aqui reside um problema do ponto de vista global:
        Este processo – que aqui sempre está sendo           a acumulação do capital (na produção, portanto) não
tomado globalmente, na perspectiva do conjunto               acompanhou aquela ofensiva “bem sucedida” do capital.
dos capitais, no entanto está longe de ter assumido as       Ou seja, não apenas deu-se um processo de economia
características de um corpo sadio sobre o qual incidia uma   francamente movida a endividamento em proporções
“excessiva” (ou parasitária) punção financeira. Tudo ao      que não possuem qualquer precedente histórico em
contrário. Não há saúde no sistema quando o capital tem      tempos de “paz”, como a taxa de acumulação do capital
oportunidade de investir e não investe. Quando reina a       foi se lentificando, as oportunidades de investimentos
mais ampla sobreacumulação de capitais. E quando o           produtivos não apareciam no mesmo ritmo.
sistema não conta com expansão da massa salarial para                 Qual o destino daquela massa crescente de mais-
poder realizar as mercadorias que são fabricadas.
                                                             4 Como parte de novo equilíbrio global instável onde a China
        Sabe-se que aquela grave crise econômica dos
                                                             produz e os Estados Unidos compram e que há um ano vem se
70 foi empurrada para adiante sem a quebra significativa     decompondo.
Crise financeira ou crise histórica do capitalismo?                                                                                   

valia não acumulada?                                                    (ponto.com, imóveis), mesmo quando força e consegue
       Foi principalmente distribuída sob a forma de                    uma maior rentabilidade na produção por conta da mais
       rendas financeiras, tornando-se fonte do processo de             profunda exploração do trabalho, de todas as formas,
       financeirização. Daí que a diferença entre a taxa de lucro
                                                                        aquela dificuldade histórica termina aflorando.
       e a taxa de investimento seja, por si mesma, um bom
       indicador do grau de financeirização. Pode-se também                     Uma vez que o capital, em última instância,
       verificar que a subida do desemprego e de precariedade           acumula-se somando as horas de trabalho não-pago que
       trabalhista cresce junto com a hipertrofia da esfera             arranca da classe trabalhadora, o que aqui parece ficar
       financira. Inclusive, neste caso, a razão é simples: o sistema   evidente é aquilo que Marx argumenta nos Grundisse
       financeiro conseguiu captar a maior parte dos aumentos           (Elementos fundamentais para a crítica da economia
       da produtividade à custa dos assalariados, reduzindo os
                                                                        política): as bases estreitas – cada vez mais estreitas ou
       salários, mas sem reduzir de forma suficiente, inclusive
       aumentando, a duração da jornada de trabalho (HUSSON,
                                                                        miseráveis – para o roubo de tempo de trabalho alheio.
                                                                              O crescimento acelerado do capital financeiro em busca
       009).
                                                                              de valorização, mesmo que exista a ilusão de que possa
         Nas palavras de Husson, deu-se um processo                           funcionar como fonte de enriquecimento autônomo, não
onde                                                                          faz mais do que gerar lucro através de punção operada
       a participação dos salários diminuiu e a dos lucros                    sobre a mais-valia. Ou seja, o montante acrescentado
       aumentou. Mas as empresas, nem por isso, passaram                      de capital financeiro não consegue desembaraçar-se dos
       a investir. Comparando o período 000-006 às duas                     estreitos limites da exploração do trabalho. O crescimento
       décadas precedentes, um relatório da ONU mostra que                    das cotizações, o investimento através da alavancagem
       num grande número de países, incluída a França, a taxa                 (tomando empréstimos), o endividamento das empresas,
       de investimento caiu, a despeito do aumento dos lucros no              deve encontrar uma correlação na possibilidade de gerar
       valor acrescentado (008b).                                            mais-valia. A massa crescente de ativos financeiros
         O gráfico abaixo é esclarecedor a esse respeito.                     incrementa a pressão sobre o capital produtivo, para
                                                                              arrancar fatias crescentes da mais-valia gerada. Inclusive
       Gráfico                                                                através do crédito ao consumo (intimamente ligado à
       Crescimento, acumulação e lucro na Tríade5                             queda nos níveis salariais): o capital financeiro punciona
                                                                              cada vez mais sobre as remunerações dos trabalhadores
(96-006)
                                                                              (MERCATANTE, 008).
                                                                                Por isso em toda essa era da financeirização
                                                                        (ou da chamada “acumulação financeirizada”) o que se
                                                                        constatou foram bases débeis da acumulação do capital
                                                                        na produção. E sua contrapartida: sobreacumulação
                                                                        de capitais de capacidades produtivas cada vez mais
                                                                        redundantes em relação ao crescimento avassalador da
                                                                        finança, do direito de propriedade sobre a riqueza (“efeito
                                                                        riqueza”). O fluxo de endividamento sem precedentes
                                                                        funcionou como contra-tendência, como vazão para
                                                                        contradições não-resolvidas do sistema. O enfoque do
                                                                        parasitismo entre capitais não dá conta de explicar o
                                                                        processo.
                                                                              A influência das finanças não deve ser entendida como
                                                                              uma forma de parasitismo que impediria o capitalismo
                                                                              de funcionar corretamente. Trata-se, ao contrário, de um
                                                                              dispositivo que permite o estabelecimento tendencial
Fonte: (HUSSON, 008)
                                                                              de um mercado mundial, no qual os salários são postos
                                                                              em competição direta e submetidos às exigências de
        Observe-se o gráfico superior, de crescimento da                      rentabilidade que se opõem à satisfação das necessidades
taxa de lucro que se “descola” das curvas declinantes de                      sociais não-rentáveis. Graças às finanças, o capitalismo
crescimento e de acumulação do capital, especialmente                         contemporâneo aproxima-se de um funcionamento “puro”
desde os anos 980.                                                           no sentido de que se desembaraça progressivamente
                                                                              de tudo o que poderia enquadrá-lo ou regulá-lo. Este
        Esta lentificação na acumulação do capital em
                                                                              movimento não tem como auto-reformar-se e implica
relação à rentabilidade alcançada é um dado histórico                         em distribuição regressiva da riqueza. É por isso que as
que deve ser enfatizado, dentre outras razões porque se                       construções que propõem separar o joio do trigo – por
trata de um aparente paradoxo refletindo um processo                          exemplo, o “bom” capitalismo produtivo do “mau”
que exterioriza limites profundos, históricos, para a                         capitalismo financeiro – ou imaginar um capitalismo
valorização do capital. Mesmo quando o sistema se vale                        ao mesmo tempo hiper-competitivo e mais igualitário,
                                                                              relevam um utopia reformista que não corresponde ao seu
dos ganhos financeiros, das bolhas baseadas no crédito
                                                                              curso atual (HUSSON, 005).
                                                                               É o que alguns chamam de “economia do
5 A Tríade inclui Europa, Japão e Estados Unidos.                       endividamento” ou “economia do cartão de crédito”.
Contra a Corrente                                                                                                   

Uma colossal massa de empréstimos tornou-se “a                nas mercadorias de informática; ou em outro momento,
força condutora subjacente ao aumento do consumo na           casas, mas é importante sempre levar em conta que
economia dos Estados Unidos, uma vez que os salários          isso se deu em um mesmo processo onde, por exemplo,
reais estiveram em declínio durante mais de três décadas.     aparecia como mais lucrativo financiar a compra do
O crédito tornou-se o novo conserto para o problema           computador pessoal ou de hipotecas de casas. Sem esse
clássico – se as pessoas não podem permitir-se comprar        financiamento os norte-americanos não consumiriam o
toda a tralha que produzem, então se pode emprestar o         que consomem. Mas como se vê não se trata de consumo
dinheiro para que o façam” (GLAZEBROOK, 009).                por aumento da massa salarial.
                                                                      O outro aspecto dessa forma de crescimento
       O gráfico a seguir, quase que resume esse              baseado no achatamento salarial numa ponta, mas no
argumento através daquela linha ascendente.                   crédito e no crescimento do consumo pelos altos salários
       Endividamento dos Estados Unidos (em bilhões           e ganhos da esfera financeira na outra, é a concentração
de U$)                                                        de renda. A “era da financeirização” mostrou-se como a
                                                              “era da crescente desigualdade social”, dos super-ricos.
                                                              Veja-se a tabela a seguir:

                                                                     Tabela
                                                                     Rendimento médio dos 0,0 % do topo da
                                                              pirâmide de renda (como múltiplo do rendimento médio dos
                                                              90% da base)




(Fonte: GEAB, 009c)

        Por tudo isso, não se trata de uma crise financeira
que tenha impactado sobre a produção ou sobre o mercado.
Há crise de insolvência, de capitais sobreacumulados, de
fracas taxas de acumulação em relação à taxa de lucro.
Não é, portanto, falta de liquidez (que se “resolveria”
com a massa de liquidez injetada na economia através
dos bilhões do Estado ou de novos bilhões) mas uma
crise de conjunto do capital.
        Cuja base veio sendo o adiamento da destruição
profunda de capitais, de forças produtivas. E, nesse
sentido, não há recurso público por maciço que seja
– que por outro lado agrava o endividamento do Estado
e as contradições do sistema, inclusive na pressão sobre
o dólar – que possa funcionar como contra-tendência
de efeito duradouro. Existe, como se pôde constatar
nesses meses recentes da crise, o efeito imediato e, em
determinado sentido, a contenção da quebra de grandes                     Fonte: (WHITNEY, 009)
companhias, sobretudo financeiras. E, em alguma
medida, as “atuais políticas de estabilização estão                   A disparidade entre o americano médio e o
permitindo ao sistema evitar uma crise como aquela dos        super-rico atingiu o maior recorde de todos os tempos.
anos 90, mas não envolvem medidas capazes de evitar         O seleto clube dos 0,0%, no topo dos mais ricos, detém
uma depressão semelhante àquela que o Japão atravessou        rendimentos de pelo menos ,5 milhões por ano, em
nos anos 990” (HUSSON, 009c).                               007. Não há precedentes em termos de concentração de
        O problema continua de pé: grande parte da            renda. Pura expressão de que maior punção salarial – ou
mais-valia não é reinvestida na produção. Mesmo que           maior extração de mais-valia – não se traduziu em mais
se tenha em conta que em certo momento deu-se o boom          investimentos e sim em rendas financeiras em economia
Crise financeira ou crise histórica do capitalismo?                                                                               

financeira alavancada.                                              tentando descarregar o custo da sua sobrevivência mais
                                                                    uma vez sobre a classe que vive do trabalho; são dois
         Considerações finais                                       momentos: primeiro a hipetrofiada esfera dos ganhos
         Tem importância, portanto, como parte de uma               financeiros irreais desfechou – como se procurou mostrar
análise estratégica, que se leve em conta os seguintes              neste texto – brutal ataque a todas as conquistas da
aspectos na crise financeira atual.                                 classe trabalhadora e desenvolveu achatamento salarial
         Primeiro, que não se trata de crise financeira             de longo prazo. Contou com essa vantagem econômica
strictu sensu. O processo de crise nasceu de dificuldades           a seu favor nos chamados anos neoliberais centralmente
históricas de valorização do capital na produção.                   apoiado nas derrotas das lutas dos trabalhadores.
Dificuldades que foram empurradas para adiante – com                         E segundo, quando eclode a atual crise histórica
o recurso do crédito maciço, por exemplo e contando                 a partir das bolhas financeiras, o governo socorre aos
com condições políticas favoráveis – mas que, longe                 oligopólios e grandes grupos financeiros com os trilhões
de se atenuarem, só se ampliaram, com todas suas                    de dólares que “não existiam” para saúde e educação
contradições, sendo uma delas um crescimento sem                    públicas e muito menos salários e se atira sobre os
bases reais e que agora ameaça ruir.                                trabalhadores exigindo que apertem os cintos. Neste
       A hipertrofia financeira gerada durante estas décadas está   segundo movimento, vem exigir que aceitem o conto
       se decompondo a ritmos cada dia mais acelerados. Por         de que o problema era um bando de maus capitalistas,
       isso, o problema não é de fácil solução. Acontece que o
                                                                    agiotas e “aventureiros de mercado”, e que é preciso
       estoque acumulado da dívida norte-americana cresceu
       de 6 % do PNB em 980 a 46 % em 007. Dois                confiar – pasmem todos! - que a cúpula que ganhou
       setores da economia foram os principais responsáveis         rios de dinheiro por décadas com a finança (aliás, aqui
       por esta escalada: os lares, cuja dívida saltou de 50 % em   tanto faz ser são financeiras ou montadoras) e agora vem
       980 a 7 % no anos de 000, pulando para 00 % em           exigir “austeridade” dos trabalhadores possa dar alguma
       007 e o setor financeiro, cujo endividamento colossal       saída, ou conduzir as massas em outra direção que não a
       foi se convertendo mais e mais no combustível ou na
                                                                    devastação social e ambiental.
       força motriz do crescimento. Isto não significa que a
       financeirização tenha sido um fator autônomo e sim que
                                                                             Os super-ricos, o grande capital pode dar alguma
       foi a contra-partida do aumento da taxa de exploração e da   resposta que não seja a de procurar salvar a própria
       falta de oportunidades de investimentos suficientemente      pele e o sistema? Na verdade, a única resposta virá se e
       rentáveis. Neste contexto, de carência de oportunidades de   quando a classe que cria a riqueza passar, ela mesma, a
       investimentos rentáveis para o capitalismo, a pressão das    ser, coletivamente, gestora e planificadora dos meios de
       finanças se exerceu brutalmente levando o crescimento        produção tornados, finalmente, propriedade pública.
       a níveis para além do que seria sustentável. Por isso
       o choque com a realidade é tão duro e ameaça ruir o
       hipertrofiado sistema financeiro gerado em todos esses
       anos (CHINGO, 008).                                                   Bibliografia
        Portanto, detrás das bolhas financeiras, aparece a                    ASTARITA, Rolando, 008. Crítica de la tesis de la
                                                                    financiarización. Disponível em: www.rolandoastarita.com/
nu a face estagnacionista e destrutiva do capitalismo.
                                                                    dt-crítica. Acessado em: 0/09/009.
        Um sistema que, mesmo quando reencontra a                             BEINSTEIN, Jorge, 009. A crise na era senil do
rentabilidade – nos nichos asiáticos, por exemplo, mas              capitalismo, fevereiro 009. Disponível em: http://resistir.info
esbarra nos limites da elevação da composição orgânica              Acessado: 8/04/009. Original se encontra-se em: El viejo
do capital, da sobreacumulação de capitais que acorrem              topo, Barcelona, n. 5, fevereiro 009.
à esfera do financiamento ao comércio, ao “sistema de                         CHESNAIS, François, 997. Mundialização do
crédito” que tem a elasticidade para forçar os limites que          capital, regime de acumulação predominantemente financeira
o sistema encontrou na produção. Mas não para superá-               e programa de ruptura com o neoliberalismo. In Revista
los.                                                                da Sociedade Brasileira de Economia Política, n., Rio de
        Ampla deflação (ou seu contrário, intensa                   Janeiro.
                                                                              CHINGO, Juan, 009. El capitalismo mundial en
inflação), profunda depressão ou, mais diretamente,
                                                                    una crisis histórica. In Revista Estratégia Internacional n.5,
intensa destruição de forças produtivas, através de                 deciembre 008/ enero 009, Buenos Aires.
guerras, quebras de grandes corporações e mais violentos                      CHINGO, Juan, 008. Escandaloso rescate del sistema
ataques à classe trabalhadora: eis alguns mecanismos que            financeiro norte-americano. Suplementos EconoCrítica n. 6,
o sistema, em sua senilidade, necessita para se contrapor à         8/09/008, Buenos Aires.
queda tendencial da taxa de lucro, à falta de oportunidades                   GEAB (Global Europe Anticipation Bulletin), 009c.
para investimentos – na era da hiper-competição entre               Fase V da crise sistêmica: começa a seqüência da insolvência
os oligopólios cada vez mais concentrados – mesmo                   global, 5/0/009. Original encontra-se em: www.leap00.
quando consegue elevar a rentabilidade nos nichos de                eu
super-exploração do trabalho.                                                 GILL, Louis, 008. A realidade contemporânea à lulz
                                                                    da análise marxista. In O Olho da História n. , dezembro
        Este quadro está longe de sugerir uma crise
                                                                    008. Disponível em: http://oolhodahistoria.org/n/textos/
nascida na finança: é muito mais o organismo senil
Contra a Corrente                                                 


louisgill.pdf Acessado em: /08/009.
         GRAZEBROOK, Dan, 009. Retorno ao estado
natural de estagnação, /8/09. Disponível em : www.resistir.
info. Acessado em: /9/009. O original encontra-se em www.
morningstaronline.co.uk.
         HUSSON, Michel, 005. La economía mundial
desequilibrada. In Imprecor n. 50/50, enero 005. Disponível
em: www.revoltaglobal.net/WEB/ Acessado em: /09/009.
Publicado em espanhol por Panorama Internacional.
         HUSSON, Michel, 008. Um pur capitalisme. France:
Editions Page Deux.
         HUSSON, Michel, 008b. Crise –salários contra
lucros. Disponível em: http://www.fpa.org.br/portal.
Acessado em: /09/009.
         HUSSON, Michel, 009. La dictadura de la
economia va a volverse más brutal - Entrevista al economista
frances Michel Husson. In El Aromo, Argentina, n.49, 009.
Disponível em: www.hussonet.free.fr/ aromo49.pdf. Acessado
em: / 09/ 09.
         HUSSON, Michel, 009c. The criris of neo-liberal
capitalism, 04/ 0/ 009. Disponível em: www.hussonet.free.
fr Acessado em : / 09/ 009.
         LUXEMBURGO, Rosa, 975. Reforma, revisionismo
e oportunismo. Rio de Janeiro/Lisboa: Civilização Brasileira/
Centro do Livro Brasileiro.
         MERCATANTE, Esteban, 007. Algunos elementos
para aproximar-se al trasfondo de la crisis bursátil: finanzas,
burbuja inmobiliária y tasa de ganancia, /08/007.
Disponível em: www.ips.org.ar/rubriquephp            Acessado:
/09/009.
         MERCATANTE, Esteban, 008. “Eutanasia del
rentista” o matar al capitalismo? Suplementos EconoCrítica
n. 6, 8/09/008, Buenos Aires.
         ROSS, John, 009. US Ist Quarter GDP – an
unprecedent post-war investment fall. Disponível em: www.
johnross4 Acessado em: 07/0/009.
         WHITNEY, Mike, 009. O longo “ajustamento
econômico”: quão mau será? Colapso nos gastos do consumidor.
Disponível em: http://resistir.info Acessado em: setembro 009.
Original em: www.globalresearch.ca/index.php

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Slides - economia
Slides - economia Slides - economia
Slides - economia Felipe Hiago
 
Aula 44 modelo de adam smith
Aula 44   modelo de adam smithAula 44   modelo de adam smith
Aula 44 modelo de adam smithpetecoslides
 
Texto giovanni alves formacao ces2011
Texto giovanni alves formacao ces2011Texto giovanni alves formacao ces2011
Texto giovanni alves formacao ces2011Giovanni Alves
 
Paradigmas na teoria das organizações revista
Paradigmas na teoria das organizações revistaParadigmas na teoria das organizações revista
Paradigmas na teoria das organizações revistaCIRINEU COSTA
 
O combate às desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e piketty
O combate às  desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e pikettyO combate às  desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e piketty
O combate às desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e pikettyFernando Alcoforado
 
Teoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeter
Teoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeterTeoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeter
Teoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeterJoão Cláudio Arroyo
 
A ciência e os avanços do conhecimento em economia
A ciência e os avanços do conhecimento em economiaA ciência e os avanços do conhecimento em economia
A ciência e os avanços do conhecimento em economiaFernando Alcoforado
 
Iniciação à teoria econômica marxista
Iniciação à teoria econômica marxistaIniciação à teoria econômica marxista
Iniciação à teoria econômica marxistaLeonardo Canaan
 
4º Bloco Conceitos BáSicos Do Marxismo Marcos Costa
4º Bloco   Conceitos BáSicos Do Marxismo   Marcos Costa4º Bloco   Conceitos BáSicos Do Marxismo   Marcos Costa
4º Bloco Conceitos BáSicos Do Marxismo Marcos CostaWladimir Crippa
 
Erika batista
Erika batistaErika batista
Erika batistaGlherme
 
Curso marxismo-aula-o-trabalho-profc2aa-lucieneida-praun
Curso marxismo-aula-o-trabalho-profc2aa-lucieneida-praunCurso marxismo-aula-o-trabalho-profc2aa-lucieneida-praun
Curso marxismo-aula-o-trabalho-profc2aa-lucieneida-praunHernane Guedes Jaques
 
karl marx
karl marxkarl marx
karl marxMaicke
 
Breve historia do_pensamento_economico
Breve historia do_pensamento_economicoBreve historia do_pensamento_economico
Breve historia do_pensamento_economicoVanessa Fenner
 

Mais procurados (19)

Slides - economia
Slides - economia Slides - economia
Slides - economia
 
Aula 2
Aula 2Aula 2
Aula 2
 
Aula 44 modelo de adam smith
Aula 44   modelo de adam smithAula 44   modelo de adam smith
Aula 44 modelo de adam smith
 
Texto giovanni alves formacao ces2011
Texto giovanni alves formacao ces2011Texto giovanni alves formacao ces2011
Texto giovanni alves formacao ces2011
 
Paradigmas na teoria das organizações revista
Paradigmas na teoria das organizações revistaParadigmas na teoria das organizações revista
Paradigmas na teoria das organizações revista
 
O combate às desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e piketty
O combate às  desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e pikettyO combate às  desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e piketty
O combate às desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e piketty
 
López ruiz o jovem rural
López ruiz o jovem ruralLópez ruiz o jovem rural
López ruiz o jovem rural
 
Teoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeter
Teoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeterTeoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeter
Teoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeter
 
A ciência e os avanços do conhecimento em economia
A ciência e os avanços do conhecimento em economiaA ciência e os avanços do conhecimento em economia
A ciência e os avanços do conhecimento em economia
 
Iniciação à teoria econômica marxista
Iniciação à teoria econômica marxistaIniciação à teoria econômica marxista
Iniciação à teoria econômica marxista
 
Epe hunt cap 8
Epe hunt cap 8Epe hunt cap 8
Epe hunt cap 8
 
4º Bloco Conceitos BáSicos Do Marxismo Marcos Costa
4º Bloco   Conceitos BáSicos Do Marxismo   Marcos Costa4º Bloco   Conceitos BáSicos Do Marxismo   Marcos Costa
4º Bloco Conceitos BáSicos Do Marxismo Marcos Costa
 
Erika batista
Erika batistaErika batista
Erika batista
 
Sociologia jullia
Sociologia julliaSociologia jullia
Sociologia jullia
 
Curso marxismo-aula-o-trabalho-profc2aa-lucieneida-praun
Curso marxismo-aula-o-trabalho-profc2aa-lucieneida-praunCurso marxismo-aula-o-trabalho-profc2aa-lucieneida-praun
Curso marxismo-aula-o-trabalho-profc2aa-lucieneida-praun
 
Trabalho e subjetividade - espírito do toyotismo
Trabalho e subjetividade - espírito do toyotismoTrabalho e subjetividade - espírito do toyotismo
Trabalho e subjetividade - espírito do toyotismo
 
karl marx
karl marxkarl marx
karl marx
 
Epe hunt cap10
Epe hunt cap10Epe hunt cap10
Epe hunt cap10
 
Breve historia do_pensamento_economico
Breve historia do_pensamento_economicoBreve historia do_pensamento_economico
Breve historia do_pensamento_economico
 

Semelhante a Crise financeira ou crise histórica do capitalismo?

O sistema mundo capitalista rumo à derrocada
O sistema mundo capitalista rumo à derrocadaO sistema mundo capitalista rumo à derrocada
O sistema mundo capitalista rumo à derrocadaFernando Alcoforado
 
Prova para analista legislativo
Prova para analista legislativoProva para analista legislativo
Prova para analista legislativoma.no.el.ne.ves
 
37 o capitalismo-em-crise-i
37 o capitalismo-em-crise-i37 o capitalismo-em-crise-i
37 o capitalismo-em-crise-iJoyce Silva
 
Ciclos econômicos
Ciclos econômicosCiclos econômicos
Ciclos econômicosDelza
 
Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...
Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...
Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...A. Rui Teixeira Santos
 
Lições de Finanças Públicas 2012/13 Prof. Doutor Rui Teixeira Santos
Lições de Finanças Públicas 2012/13 Prof. Doutor Rui Teixeira SantosLições de Finanças Públicas 2012/13 Prof. Doutor Rui Teixeira Santos
Lições de Finanças Públicas 2012/13 Prof. Doutor Rui Teixeira SantosA. Rui Teixeira Santos
 
A teoria do regime de acumulação financeirizado: conteúdo, alcance e interrog...
A teoria do regime de acumulação financeirizado: conteúdo, alcance e interrog...A teoria do regime de acumulação financeirizado: conteúdo, alcance e interrog...
A teoria do regime de acumulação financeirizado: conteúdo, alcance e interrog...Filipe Rubim de Castro
 
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercado
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercadoDecrescimento, capitalismo e democracia de mercado
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercadoGRAZIA TANTA
 
o-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdf
o-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdfo-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdf
o-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdfHildoCezarFreireMont
 
Neoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororoba
Neoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororobaNeoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororoba
Neoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororobaGRAZIA TANTA
 
O desempenho do sistema capitalista mundial no período recente
O desempenho do sistema capitalista mundial no período recenteO desempenho do sistema capitalista mundial no período recente
O desempenho do sistema capitalista mundial no período recenteFernando Alcoforado
 
SISTEMA CAPITALISTA E SOCIALISTA- AULA 2.pptx
SISTEMA CAPITALISTA E SOCIALISTA- AULA 2.pptxSISTEMA CAPITALISTA E SOCIALISTA- AULA 2.pptx
SISTEMA CAPITALISTA E SOCIALISTA- AULA 2.pptxMARIAAPARECIDADOSSAN98
 
AULA 2 - TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.ppt
AULA 2 - TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.pptAULA 2 - TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.ppt
AULA 2 - TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.pptalexandreamoreira2
 
Mhenrique1
Mhenrique1Mhenrique1
Mhenrique1mhmcrj
 
O mundo pos-covid que chegará… um dia
O mundo pos-covid que chegará… um diaO mundo pos-covid que chegará… um dia
O mundo pos-covid que chegará… um diaGRAZIA TANTA
 

Semelhante a Crise financeira ou crise histórica do capitalismo? (20)

58977786 chesnais
58977786 chesnais58977786 chesnais
58977786 chesnais
 
O sistema mundo capitalista rumo à derrocada
O sistema mundo capitalista rumo à derrocadaO sistema mundo capitalista rumo à derrocada
O sistema mundo capitalista rumo à derrocada
 
Prova para analista legislativo
Prova para analista legislativoProva para analista legislativo
Prova para analista legislativo
 
37 o capitalismo-em-crise-i
37 o capitalismo-em-crise-i37 o capitalismo-em-crise-i
37 o capitalismo-em-crise-i
 
Ciclos econômicos
Ciclos econômicosCiclos econômicos
Ciclos econômicos
 
Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...
Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...
Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...
 
Lições de Finanças Públicas 2012/13 Prof. Doutor Rui Teixeira Santos
Lições de Finanças Públicas 2012/13 Prof. Doutor Rui Teixeira SantosLições de Finanças Públicas 2012/13 Prof. Doutor Rui Teixeira Santos
Lições de Finanças Públicas 2012/13 Prof. Doutor Rui Teixeira Santos
 
A teoria do regime de acumulação financeirizado: conteúdo, alcance e interrog...
A teoria do regime de acumulação financeirizado: conteúdo, alcance e interrog...A teoria do regime de acumulação financeirizado: conteúdo, alcance e interrog...
A teoria do regime de acumulação financeirizado: conteúdo, alcance e interrog...
 
O imperialismo
O imperialismoO imperialismo
O imperialismo
 
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercado
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercadoDecrescimento, capitalismo e democracia de mercado
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercado
 
o-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdf
o-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdfo-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdf
o-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdf
 
Crise virginia e altamiro
Crise virginia e altamiroCrise virginia e altamiro
Crise virginia e altamiro
 
O futuro do capitalismo
O futuro do capitalismoO futuro do capitalismo
O futuro do capitalismo
 
Neoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororoba
Neoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororobaNeoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororoba
Neoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororoba
 
O capitalismo
O capitalismoO capitalismo
O capitalismo
 
O desempenho do sistema capitalista mundial no período recente
O desempenho do sistema capitalista mundial no período recenteO desempenho do sistema capitalista mundial no período recente
O desempenho do sistema capitalista mundial no período recente
 
SISTEMA CAPITALISTA E SOCIALISTA- AULA 2.pptx
SISTEMA CAPITALISTA E SOCIALISTA- AULA 2.pptxSISTEMA CAPITALISTA E SOCIALISTA- AULA 2.pptx
SISTEMA CAPITALISTA E SOCIALISTA- AULA 2.pptx
 
AULA 2 - TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.ppt
AULA 2 - TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.pptAULA 2 - TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.ppt
AULA 2 - TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.ppt
 
Mhenrique1
Mhenrique1Mhenrique1
Mhenrique1
 
O mundo pos-covid que chegará… um dia
O mundo pos-covid que chegará… um diaO mundo pos-covid que chegará… um dia
O mundo pos-covid que chegará… um dia
 

Mais de Alessandro de Moura

Juventude, marxismo e revolução
Juventude, marxismo e revoluçãoJuventude, marxismo e revolução
Juventude, marxismo e revoluçãoAlessandro de Moura
 
Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”
Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”
Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”Alessandro de Moura
 
A Comuna de Oaxaca: dois anos depois
A Comuna de Oaxaca: dois anos depoisA Comuna de Oaxaca: dois anos depois
A Comuna de Oaxaca: dois anos depoisAlessandro de Moura
 
Capitalismo, monopólios e patentes: propriedade intelectual e a desmedida exp...
Capitalismo, monopólios e patentes: propriedade intelectual e a desmedida exp...Capitalismo, monopólios e patentes: propriedade intelectual e a desmedida exp...
Capitalismo, monopólios e patentes: propriedade intelectual e a desmedida exp...Alessandro de Moura
 
Lula, o homem e a imagem - critica do filme Lula, o filho do Brasil, de Fábio...
Lula, o homem e a imagem - critica do filme Lula, o filho do Brasil, de Fábio...Lula, o homem e a imagem - critica do filme Lula, o filho do Brasil, de Fábio...
Lula, o homem e a imagem - critica do filme Lula, o filho do Brasil, de Fábio...Alessandro de Moura
 
O problema da ideologia na suposta morter do marxismo
O problema da ideologia na suposta morter do marxismoO problema da ideologia na suposta morter do marxismo
O problema da ideologia na suposta morter do marxismoAlessandro de Moura
 
A crise do capital e seus efeitos desiguais e combinados na Europa: um breve ...
A crise do capital e seus efeitos desiguais e combinados na Europa: um breve ...A crise do capital e seus efeitos desiguais e combinados na Europa: um breve ...
A crise do capital e seus efeitos desiguais e combinados na Europa: um breve ...Alessandro de Moura
 
Três teses em torno do PT das Origens
Três teses em torno do PT das OrigensTrês teses em torno do PT das Origens
Três teses em torno do PT das OrigensAlessandro de Moura
 
Uma polêmica sobre as frentes "antineoliberais" e os "partidos amplos anticap...
Uma polêmica sobre as frentes "antineoliberais" e os "partidos amplos anticap...Uma polêmica sobre as frentes "antineoliberais" e os "partidos amplos anticap...
Uma polêmica sobre as frentes "antineoliberais" e os "partidos amplos anticap...Alessandro de Moura
 
Revoluçâo e socialismo: notas teóricas
Revoluçâo e socialismo: notas teóricasRevoluçâo e socialismo: notas teóricas
Revoluçâo e socialismo: notas teóricasAlessandro de Moura
 
Crise econômica internacional: começou o segundo capítulo?
Crise econômica internacional: começou o segundo capítulo?Crise econômica internacional: começou o segundo capítulo?
Crise econômica internacional: começou o segundo capítulo?Alessandro de Moura
 
China, Brasil, América Latina e a esquerda no contexto da atual crise econômi...
China, Brasil, América Latina e a esquerda no contexto da atual crise econômi...China, Brasil, América Latina e a esquerda no contexto da atual crise econômi...
China, Brasil, América Latina e a esquerda no contexto da atual crise econômi...Alessandro de Moura
 
A produçao do espaço e da escala pelo capital
A produçao do espaço e da escala pelo capitalA produçao do espaço e da escala pelo capital
A produçao do espaço e da escala pelo capitalAlessandro de Moura
 
O capitalismo em crise histórica e suas tentativas de escapar da depressão
O capitalismo em crise histórica e suas tentativas de escapar da depressãoO capitalismo em crise histórica e suas tentativas de escapar da depressão
O capitalismo em crise histórica e suas tentativas de escapar da depressãoAlessandro de Moura
 
Um ano de posse: Obama frente al desgaste de su gobierno
Um ano de posse: Obama frente al desgaste de su gobiernoUm ano de posse: Obama frente al desgaste de su gobierno
Um ano de posse: Obama frente al desgaste de su gobiernoAlessandro de Moura
 

Mais de Alessandro de Moura (18)

Revista Contra a Corrente. N. 6
Revista Contra a Corrente. N. 6Revista Contra a Corrente. N. 6
Revista Contra a Corrente. N. 6
 
Juventude, marxismo e revolução
Juventude, marxismo e revoluçãoJuventude, marxismo e revolução
Juventude, marxismo e revolução
 
Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”
Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”
Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”
 
A Comuna de Oaxaca: dois anos depois
A Comuna de Oaxaca: dois anos depoisA Comuna de Oaxaca: dois anos depois
A Comuna de Oaxaca: dois anos depois
 
Capitalismo, monopólios e patentes: propriedade intelectual e a desmedida exp...
Capitalismo, monopólios e patentes: propriedade intelectual e a desmedida exp...Capitalismo, monopólios e patentes: propriedade intelectual e a desmedida exp...
Capitalismo, monopólios e patentes: propriedade intelectual e a desmedida exp...
 
Lula, o homem e a imagem - critica do filme Lula, o filho do Brasil, de Fábio...
Lula, o homem e a imagem - critica do filme Lula, o filho do Brasil, de Fábio...Lula, o homem e a imagem - critica do filme Lula, o filho do Brasil, de Fábio...
Lula, o homem e a imagem - critica do filme Lula, o filho do Brasil, de Fábio...
 
O problema da ideologia na suposta morter do marxismo
O problema da ideologia na suposta morter do marxismoO problema da ideologia na suposta morter do marxismo
O problema da ideologia na suposta morter do marxismo
 
A crise do capital e seus efeitos desiguais e combinados na Europa: um breve ...
A crise do capital e seus efeitos desiguais e combinados na Europa: um breve ...A crise do capital e seus efeitos desiguais e combinados na Europa: um breve ...
A crise do capital e seus efeitos desiguais e combinados na Europa: um breve ...
 
Três teses em torno do PT das Origens
Três teses em torno do PT das OrigensTrês teses em torno do PT das Origens
Três teses em torno do PT das Origens
 
Daniel Bensaid (1946-2010)
Daniel Bensaid (1946-2010)Daniel Bensaid (1946-2010)
Daniel Bensaid (1946-2010)
 
Uma polêmica sobre as frentes "antineoliberais" e os "partidos amplos anticap...
Uma polêmica sobre as frentes "antineoliberais" e os "partidos amplos anticap...Uma polêmica sobre as frentes "antineoliberais" e os "partidos amplos anticap...
Uma polêmica sobre as frentes "antineoliberais" e os "partidos amplos anticap...
 
Revoluçâo e socialismo: notas teóricas
Revoluçâo e socialismo: notas teóricasRevoluçâo e socialismo: notas teóricas
Revoluçâo e socialismo: notas teóricas
 
Crise econômica internacional: começou o segundo capítulo?
Crise econômica internacional: começou o segundo capítulo?Crise econômica internacional: começou o segundo capítulo?
Crise econômica internacional: começou o segundo capítulo?
 
China, Brasil, América Latina e a esquerda no contexto da atual crise econômi...
China, Brasil, América Latina e a esquerda no contexto da atual crise econômi...China, Brasil, América Latina e a esquerda no contexto da atual crise econômi...
China, Brasil, América Latina e a esquerda no contexto da atual crise econômi...
 
A produçao do espaço e da escala pelo capital
A produçao do espaço e da escala pelo capitalA produçao do espaço e da escala pelo capital
A produçao do espaço e da escala pelo capital
 
Ag gd cac3
Ag gd cac3Ag gd cac3
Ag gd cac3
 
O capitalismo em crise histórica e suas tentativas de escapar da depressão
O capitalismo em crise histórica e suas tentativas de escapar da depressãoO capitalismo em crise histórica e suas tentativas de escapar da depressão
O capitalismo em crise histórica e suas tentativas de escapar da depressão
 
Um ano de posse: Obama frente al desgaste de su gobierno
Um ano de posse: Obama frente al desgaste de su gobiernoUm ano de posse: Obama frente al desgaste de su gobierno
Um ano de posse: Obama frente al desgaste de su gobierno
 

Crise financeira ou crise histórica do capitalismo?

  • 1. Artigo Crise financeira ou crise histórica do capitalismo? Gilson Dantas financeira traria o sistema à ordem. Enxugar o excesso ou a irracionalidade “exuberante” dos mercados seria Introdução o grande remédio, passando pelo resgate, é claro, A massa desproporcional de capital financeiro daquelas corporações ou bancos “grandes demais para especulativo das últimas décadas e todo o foco centrado quebrarem”. – na mídia e na academia – em torno da economia- A questão, no entanto, examinando-se o sistema cassino, da agiotagem desenfreada ou da geração maciça de conjunto e historicamente, é mais complicada. Em de capital fictício e até mesmo a idéia de grande parte da primeiro lugar é essencial entender de onde veio esse esquerda de “dominância dos mercados financeiros” ou exuberante crescimento da finança e o que ele significa. mesmo de “novo regime de acumulação financeirizada” A análise que vá além das aparências vai revelar, em alimentou um tipo de diagnóstico bem particular sobre vez de força do sistema – ou até desvio “irracional”- a crise atual. fraqueza na capacidade de acumular capital além da sua Segundo esta ótica, a crise seria fundamentalmente tendência de fundo à estagnação. financeira ou teria que ser entendida a partir de sua Vejamos alguns pontos. lógica financeira. Nesta mesma linha de raciocínio, a desproporcionalidade da esfera especulativo-financeira A crise financeira é tomada recorrentemente como causa ou, em outro Uma aplicação financeira, como se sabe, só sentido, como um problema (excesso, desvio) a ser cresce porque promete ganhos. Só que, ao mesmo corrigido. tempo, e embora os ideólogos da econometria burguesa Constatou-se: a massa de capital no mercado procurem ignorar este fato, a esfera financeira – seja a financeiro é astronômica e extrapolou em muitas vezes de pura especulação, portanto fictícia, seja a do capital a economia real, revelando uma espécie de bolha ou um do banqueiro que empresta ao empresário fabril – não tumor que para vários comentaristas ou políticos – de gera qualquer ativo que não seja de natureza financeira; Martin Wolf a Sarkozy - teria crescido sobre um corpo em outras palavras: a esfera financeira não produz livros, sadio. Esse artigo pretende problematizar essa questão. sapatos, alimentos e, de fato, sobrevive da riqueza – Ou seja, parte dos que diagnosticam que “o mais-valia – que punciona da esfera chamada produtiva. problema” da economia mundial é a hipertrofia da Vive da fração de riqueza, de mais-valia, que conseguir finança (ou o excesso de “capital zumbi” ou fictício), deslocar da esfera produtiva. Ou então da expectativa de enxergam a economia capitalista com um organismo que riqueza a ser gerada na produção (esta é uma razão pela ia bem (na era “keynesiano-fordista” de prosperidade do qual as ações que crescem de cotação na Bolsa, dentro pós-Guerra) até ir sendo parasitado pelo rentista, pelo da expectativa de ganhos futuros). capital fictício. Nessa perspectiva se alinham autores Não há manobra especulativa que gere riqueza, cujo pensamento é, de uma forma ou de outra, vinculado valor. Ou, em outras palavras, tomando o argumento de ao keynesianismo e/ou à escola regulacionista (ou aos Astarita: chamados desenvolvimentistas tipo M. Conceição Segundo a teoria do valor, este só é gerado através do Tavares, Beluzzo e outros). A fraqueza desse diagnóstico trabalho humano e a um valor gerado na produção deve corresponder, na média, um valor equivalente pelo lado será examinada mais adiante, no entanto um problema da demanda. O valor não pode ser incrementado através digamos assim, prático, desse diagnóstico é que supõe de manobras especulativas nem pela compra e venda de que um expurgo e/ou forte disciplinamento da esfera papéis. Naturalmente a teoria burguesa pretende que o valor se cria graças às extremas habilidades dos executivos e financistas; mas o que esta gente faz é apropriar-se de Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília, escreveu trabalho alheio não pago e passar de mão em mão, mais- EUA: militarismo e economia da destruição, Achiamé, Rio de valias (008). Janeiro, 007 e organizou O capital de Karl Marx: resumo (Engels, Lenine, Trotski), Ícone, Brasília, 008. Produtiva nos temos de Marx, aplicados ao capitalismo, tem o Ver, por exemplo, CHESNAIS (997). sentido de esfera geradora de mais-valia.
  • 2. Contra a Corrente Partindo deste princípio e agora argumentando do populistas (bonapartistas) e aproveitando-se da postura ponto de vista histórico, vários estudiosos já se ocuparam defensiva, sem independência de classe e/ou frente- da história do último meio século do capitalismo e, populista das burocracias sindicais e do stalinismo explicaram a prosperidade e crise do sistema. Explicaram (Partidos Comunistas do mundo inteiro, como no Chile que, passadas as condições excepcionais de crescimento de 97, Argentina em 97/6, Brasil de 964, França econômico capitalista do pós-Guerra e como parte da de 968 e assim por diante) no sentido de desviar/conter dinâmica de movimento do próprio capital, por exemplo, o movimento revolucionário da classe trabalhadora, com o crescente investimento em capital fixo (progressivo as forças do capital obtiveram sucesso na sua ofensiva aumento da composição orgânica do capital), o sistema contra o trabalho e afirmaram-se naquelas décadas finalmente esbarrou em suas contradições agudamente conhecidas como neoliberais. O sistema estabeleceu um manifestas na eclosão da crise da virada dos 960 para equilíbrio (instável) que, com vais-e-vens, durou até um os 970. ano atrás. Seus principais indicadores mostravam um Tomou forma um período que ficou marcado sistema que tendia à estagnação, em queda brutal das pela franca expansão do capital financeiro e que alguns taxas de crescimento. O gráfico a seguir, abarcando estudiosos explicam como essencialmente decorrente todas décadas desde 96 revela essa desaceleração da ação do Estado – sobretudo o Estado rentista norte- econômica. Veja-se, no mesmo gráfico, a outra curva, americano – no sentido de desmontar as barreiras à meteoricamente ascendente, desde pouco antes dos circulação do capital, em especial das frações mais anos 990, do capital especulativo, dos “derivados” financeirizadas do capital. financeiros: Foi a era dos “mercados financeiros” dos ativos e produtos financeiros. Portanto, vale reiterar, da expansão Desaceleração econômica e expansão financeira do capital que nada cria no mundo da riqueza: O capital que permanece como capital financeiro não extrai mais-valia. A mais-valia só surge do trabalho voltado à produção de bens ou prestação de serviços socialmente necessários. O capital financeiro, que procura obter lucro sem envolver-se na produção de nada, não aporta coisa alguma à mais-valia gerada pelo conjunto dos capitais produtivos, este fundo comum do qual surgem os lucros de todos os capitalistas. (...) Por outro lado (...) é ‘cada vez mais difícil converter em capital ampliado novas massas de trabalho não pago’. A massa de mais-valia extraída dos operários é cada vez mais irrelevante em relação às outras forças que entram em ação na produção capitalista (MERCATANTE, 007). Aquilo que deve ser bem destacado nesse processo é que não se tratou de um desenvolvimento autônomo do capital financeiro e deslocado da realidade, da produção. Os enormes ganhos financeiros – e a pirâmide que tais ganhos alimentavam – eram impulsionados por um determinado aspecto da economia “não-financeira” que vem a ser justamente a ampla e crescente exploração do trabalho que o capital foi impondo mundo afora e Fonte (BEINSTEIN, 009) especialmente na Ásia (e também em áreas antes vedadas ao capital e agora sob devastadora restauração capitalista Do ponto de vista teórico, o que se observa nesse pela ação das burocracias “comunistas”). processo é que volta a se impor a tendência secular, Aquilo que chamam de neoliberalismo não imanente ao capitalismo, da queda da taxa média deixou de ser uma tentativa – diante da profunda crise de lucro. Diante desse problema grave para a classe deflagrada na virada dos anos 970 – de, através da capitalista, várias contra-tendências foram postas em intervenção estatal, evitar a marcha para uma “saída” ação, o Estado interveio pesadamente - em meio a um do tipo Grande Depressão ou até refletiu a falta de processo de tensões inter-estatais e de revoluções sociais condições para o sistema evoluir rumo à “solução” que se estendeu pelo período de décadas - e agiu com de uma catastrófica III Guerra. A classe dominante especial força através do recurso do crédito, da demanda desenvolveu uma lenta e terrível ofensiva contra a classe estatal bélica, dos gastos dissipatórios de todo tipo. trabalhadora, tratando de arrancar o máximo possível - naquelas condições políticas, de derrotas do proletariado As décadas neoliberais - de mais-valia. Ao mesmo tempo em que, como será Atropelando a impotência das direções mais adiante argumentado, a acumulação do capital
  • 3. Crise financeira ou crise histórica do capitalismo? não se expandiu como poderia: boa parte da mais- do trabalho. A proletarização do camponês asiático valia rumou – de forma surpreendente para os padrões foi uma contra-tendência de peso neste sentido; o que orgânicos do capitalismo - para a esfera do crédito, do inclui abertura de áreas ao Leste, de força de trabalho financiamento de dívidas. barata e educada. A parte mais visível ou exuberante O crédito tem esse papel elástico de ampliar desse processo que ocorreu em vários países na Ásia limites, no funcionamento do sistema, que a produção, deu-se na China: milhões de camponeses tornaram-se por sua rigidez não possui. Na definição de Marx o assalariados, em sua grande maioria com salários abaixo sistema de crédito é “elástico por sua própria natureza”, e da média internacional. Também fez parte dessa extração se destaca como a “principal alavanca” de superprodução de riqueza a privatização neoliberal de ativos públicos e super-especulação no comércio”. nos vários quadrantes do mundo. De toda forma, o A esse respeito vale lembrar o argumento de elemento central ou “o qualitativo foi o aumento da taxa Rosa: de exploração dos trabalhadores, expressão da situação O crédito preenche, na economia capitalista, diversas de retrocesso da classe operária mundial nas ultimas funções, mas o seu papel mais importante, como se sabe, é décadas” (CHINGO, 009). aumentar a capacidade de extensão da produção e facilitar A ofensiva contra os salários leva ao a troca. Onde quer que a tendência interna da produção capitalista à expansão ilimitada privada, esbarre nas achatamento da demanda de bens; também decaiu o dimensões restritas do capital privado, o crédito aparece consumo produtivo dos capitalistas (taxa menor de como meio de ultrapassar esses limites de maneira reinversões). No entanto, aquela ofensiva anti-salários capitalista, de fundir num só capital muitos capitais foi parcialmente compensada, no mesmo processo, pelo privados – sociedades por ações – e de permitir que um crédito e consumo de luxo. Duas tentativas de superar os capitalista disponha de capitais alheios – crédito industrial. limites da crise dos anos 970 sem passar pela maciça Por outro lado, na qualidade de crédito comercial, acelera a troca de mercadorias e, por conseguinte, o refluxo do queima de capitais (ambas geradoras de instabilidade). capital para a produção ou, em outras palavras, todo o ciclo O ataque contra a massa salarial já foi destacado do processo de produção. É fácil compreender a influência em vários estudos e o economista Michel Husson chama que essas duas funções principais do crédito exercem na a atenção para esse elemento nos dois gráficos a seguir, formação das crises (LUXEMBURGO, 975, 4). sendo que no primeiro observa-se que a parte do salário O crédito teve e tem esse papel no capitalismo. em relação ao PIB, nos Estados Unidos (no longo Nessas décadas recentes, o peso do crédito na economia período desde 960) apresentou tendência ao declínio, capitalista assumiu, no entanto, proporção desigual, visivelmente acentuado desde a grande crise da virada desproporcional, nos marcos da crise global do para os 970: capitalismo. Um dólar de investimento na produção começou a estabelecer correspondência com 0, 0, 40 na Gráfico especulação, por exemplo. Uma verdadeira pirâmide. Parte do salário em relação ao PIB – Estados A maior parte do capital se encontra investida em operações Unidos (960-005) que têm pouco a ver com a economia real, operações cujo valor flutua segundo as vontades de movimentos especulativos e cujo montante é jogado aos cimos mais altos através dos efeitos de alavancagem dando lugar a um endividamento da ordem de 40 dólares por dólar investido. A importância principal do desenvolvimento do mercado de crédito fora do sistema bancário regulamentado, como conseqüência do lugar ocupado crescentemente pelos fundos especulativos (hedge funds) e pelos fundos de capitais privados não cotados na bolsa (private equity funds), contribui amplamente para seu desajuste e para alimentar as dúvidas mais sérias em relação de sua nova configuração (GILL, 008). O trabalho Décadas dessa pirâmide fictícia tiveram vários Fonte: (HUSSON, 008) efeitos, sendo um deles o de ir postergando a crise deflacionária tipo Grande Depressão ou mesmo um No gráfico superior constam os salários nos crack sistêmico. Estados Unidos como parte do PIB. No gráfico logo Ao mesmo tempo, na base, em setores abaixo, os salários nos Estados Unidos como parte do determinados da produção se desenvolviam surtos de PIB, mas agora sem se levar em conta os % de altos crescimento. A recuperação da taxa de lucro deu-se salários; no terceiro gráfico de cima para baixo, os em todas as esferas e áreas da produção mundial onde salários na União Européia em relação ao PIB; o último o capital conseguiu impor altas taxas de exploração gráfico, inferior, toma os salários nos Estados Unidos
  • 4. Contra a Corrente 4 como parte do PIB, mas excluindo o grupo dos 5% de de empresas (a destruição massiva de forças produtivas) altos salários. que permitisse recuperar a rentabilidade para o capital Observe-se que a queda salarial neste último – em alta composição orgânica – na produção. caso, quando se abstrai os altíssimos salários, é O caminho de fuga para adiante se deu pela impressionante. ofensiva sobre o capital variável (salário) e com o O mesmo processo se desenvolveu nas metrópoles sistema agravando contradições, dentre elas o crescente imperialistas como se vê a seguir, pela seqüência de endividamento para gerar demanda pública (setor dados comparativos entre economias como a França, bélico) e privada (crédito ao consumo) em plena era do o G7 (grupo dos sete países mais ricos) e a Europa; achatamento salarial. Isso não pode ser qualificado como no gráfico superior, aparece a evolução do salário em crescimento orgânico. Que organicidade pode haver relação ao PIB no G7; no gráfico de triângulos pretos, quando o país imperialista efetivamente hegemônico (e a mesma coisa agora referente à União Européia e, por militarmente incontrastável) mergulha em um processo fim, o gráfico de maior queda salarial recente, tomando de desindustrialização? a França como exemplo. Em todos os casos, a queda da Observe-se no gráfico a seguir, os claros sintomas massa salarial nas décadas recentes é flagrante. de declínio: as taxas de investimento (de formação de capital fixo) dos Estados Unidos que já vinham sendo Gráfico mais baixas que as da China, já estão entre as mais baixas Parte do salário em relação ao PIB – França, dos Estados Unidos desde a II Guerra e ainda acontecem Europa, G7 em meio à ruptura de um equilíbrio no qual se apoiava a hegemonia norte-americana: Taxa de formação de capital fixo desde o pós- Guerra nos Estados Unidos Fonte: (HUSSON, 008) O que se pode observar, portanto, é que a Fonte (ROSS, 009) hipertrofia da finança também contou com a rentabilidade que o capital foi encontrando em nichos produtivos – a Aqui se apresenta mais um sinal de que não se China é o exemplo mais forte – a partir do processo trata de corpo jovem ou sadio: o capital extrai mais-valia de achatamento salarial e precarização/terceirização – investe com rentabilidade – no entanto não reinveste do trabalho, o que incluiu os países imperialistas. A na mesma proporção; Husson chama a atenção para já mencionada privatização de patrimônio público esse dado de que os lucros astronômicos em nichos também foi parte desse processo que conduziu, no final, produtivos4, não se traduziram em investimentos à altura a mais exploração do trabalho, demissões em massa, ou em taxas igualmente crescentes em capital fixo. desconstrução do chamado Estado de bem-estar. Aqui reside um problema do ponto de vista global: Este processo – que aqui sempre está sendo a acumulação do capital (na produção, portanto) não tomado globalmente, na perspectiva do conjunto acompanhou aquela ofensiva “bem sucedida” do capital. dos capitais, no entanto está longe de ter assumido as Ou seja, não apenas deu-se um processo de economia características de um corpo sadio sobre o qual incidia uma francamente movida a endividamento em proporções “excessiva” (ou parasitária) punção financeira. Tudo ao que não possuem qualquer precedente histórico em contrário. Não há saúde no sistema quando o capital tem tempos de “paz”, como a taxa de acumulação do capital oportunidade de investir e não investe. Quando reina a foi se lentificando, as oportunidades de investimentos mais ampla sobreacumulação de capitais. E quando o produtivos não apareciam no mesmo ritmo. sistema não conta com expansão da massa salarial para Qual o destino daquela massa crescente de mais- poder realizar as mercadorias que são fabricadas. 4 Como parte de novo equilíbrio global instável onde a China Sabe-se que aquela grave crise econômica dos produz e os Estados Unidos compram e que há um ano vem se 70 foi empurrada para adiante sem a quebra significativa decompondo.
  • 5. Crise financeira ou crise histórica do capitalismo? valia não acumulada? (ponto.com, imóveis), mesmo quando força e consegue Foi principalmente distribuída sob a forma de uma maior rentabilidade na produção por conta da mais rendas financeiras, tornando-se fonte do processo de profunda exploração do trabalho, de todas as formas, financeirização. Daí que a diferença entre a taxa de lucro aquela dificuldade histórica termina aflorando. e a taxa de investimento seja, por si mesma, um bom indicador do grau de financeirização. Pode-se também Uma vez que o capital, em última instância, verificar que a subida do desemprego e de precariedade acumula-se somando as horas de trabalho não-pago que trabalhista cresce junto com a hipertrofia da esfera arranca da classe trabalhadora, o que aqui parece ficar financira. Inclusive, neste caso, a razão é simples: o sistema evidente é aquilo que Marx argumenta nos Grundisse financeiro conseguiu captar a maior parte dos aumentos (Elementos fundamentais para a crítica da economia da produtividade à custa dos assalariados, reduzindo os política): as bases estreitas – cada vez mais estreitas ou salários, mas sem reduzir de forma suficiente, inclusive aumentando, a duração da jornada de trabalho (HUSSON, miseráveis – para o roubo de tempo de trabalho alheio. O crescimento acelerado do capital financeiro em busca 009). de valorização, mesmo que exista a ilusão de que possa Nas palavras de Husson, deu-se um processo funcionar como fonte de enriquecimento autônomo, não onde faz mais do que gerar lucro através de punção operada a participação dos salários diminuiu e a dos lucros sobre a mais-valia. Ou seja, o montante acrescentado aumentou. Mas as empresas, nem por isso, passaram de capital financeiro não consegue desembaraçar-se dos a investir. Comparando o período 000-006 às duas estreitos limites da exploração do trabalho. O crescimento décadas precedentes, um relatório da ONU mostra que das cotizações, o investimento através da alavancagem num grande número de países, incluída a França, a taxa (tomando empréstimos), o endividamento das empresas, de investimento caiu, a despeito do aumento dos lucros no deve encontrar uma correlação na possibilidade de gerar valor acrescentado (008b). mais-valia. A massa crescente de ativos financeiros O gráfico abaixo é esclarecedor a esse respeito. incrementa a pressão sobre o capital produtivo, para arrancar fatias crescentes da mais-valia gerada. Inclusive Gráfico através do crédito ao consumo (intimamente ligado à Crescimento, acumulação e lucro na Tríade5 queda nos níveis salariais): o capital financeiro punciona cada vez mais sobre as remunerações dos trabalhadores (96-006) (MERCATANTE, 008). Por isso em toda essa era da financeirização (ou da chamada “acumulação financeirizada”) o que se constatou foram bases débeis da acumulação do capital na produção. E sua contrapartida: sobreacumulação de capitais de capacidades produtivas cada vez mais redundantes em relação ao crescimento avassalador da finança, do direito de propriedade sobre a riqueza (“efeito riqueza”). O fluxo de endividamento sem precedentes funcionou como contra-tendência, como vazão para contradições não-resolvidas do sistema. O enfoque do parasitismo entre capitais não dá conta de explicar o processo. A influência das finanças não deve ser entendida como uma forma de parasitismo que impediria o capitalismo de funcionar corretamente. Trata-se, ao contrário, de um dispositivo que permite o estabelecimento tendencial Fonte: (HUSSON, 008) de um mercado mundial, no qual os salários são postos em competição direta e submetidos às exigências de Observe-se o gráfico superior, de crescimento da rentabilidade que se opõem à satisfação das necessidades taxa de lucro que se “descola” das curvas declinantes de sociais não-rentáveis. Graças às finanças, o capitalismo crescimento e de acumulação do capital, especialmente contemporâneo aproxima-se de um funcionamento “puro” desde os anos 980. no sentido de que se desembaraça progressivamente de tudo o que poderia enquadrá-lo ou regulá-lo. Este Esta lentificação na acumulação do capital em movimento não tem como auto-reformar-se e implica relação à rentabilidade alcançada é um dado histórico em distribuição regressiva da riqueza. É por isso que as que deve ser enfatizado, dentre outras razões porque se construções que propõem separar o joio do trigo – por trata de um aparente paradoxo refletindo um processo exemplo, o “bom” capitalismo produtivo do “mau” que exterioriza limites profundos, históricos, para a capitalismo financeiro – ou imaginar um capitalismo valorização do capital. Mesmo quando o sistema se vale ao mesmo tempo hiper-competitivo e mais igualitário, relevam um utopia reformista que não corresponde ao seu dos ganhos financeiros, das bolhas baseadas no crédito curso atual (HUSSON, 005). É o que alguns chamam de “economia do 5 A Tríade inclui Europa, Japão e Estados Unidos. endividamento” ou “economia do cartão de crédito”.
  • 6. Contra a Corrente Uma colossal massa de empréstimos tornou-se “a nas mercadorias de informática; ou em outro momento, força condutora subjacente ao aumento do consumo na casas, mas é importante sempre levar em conta que economia dos Estados Unidos, uma vez que os salários isso se deu em um mesmo processo onde, por exemplo, reais estiveram em declínio durante mais de três décadas. aparecia como mais lucrativo financiar a compra do O crédito tornou-se o novo conserto para o problema computador pessoal ou de hipotecas de casas. Sem esse clássico – se as pessoas não podem permitir-se comprar financiamento os norte-americanos não consumiriam o toda a tralha que produzem, então se pode emprestar o que consomem. Mas como se vê não se trata de consumo dinheiro para que o façam” (GLAZEBROOK, 009). por aumento da massa salarial. O outro aspecto dessa forma de crescimento O gráfico a seguir, quase que resume esse baseado no achatamento salarial numa ponta, mas no argumento através daquela linha ascendente. crédito e no crescimento do consumo pelos altos salários Endividamento dos Estados Unidos (em bilhões e ganhos da esfera financeira na outra, é a concentração de U$) de renda. A “era da financeirização” mostrou-se como a “era da crescente desigualdade social”, dos super-ricos. Veja-se a tabela a seguir: Tabela Rendimento médio dos 0,0 % do topo da pirâmide de renda (como múltiplo do rendimento médio dos 90% da base) (Fonte: GEAB, 009c) Por tudo isso, não se trata de uma crise financeira que tenha impactado sobre a produção ou sobre o mercado. Há crise de insolvência, de capitais sobreacumulados, de fracas taxas de acumulação em relação à taxa de lucro. Não é, portanto, falta de liquidez (que se “resolveria” com a massa de liquidez injetada na economia através dos bilhões do Estado ou de novos bilhões) mas uma crise de conjunto do capital. Cuja base veio sendo o adiamento da destruição profunda de capitais, de forças produtivas. E, nesse sentido, não há recurso público por maciço que seja – que por outro lado agrava o endividamento do Estado e as contradições do sistema, inclusive na pressão sobre o dólar – que possa funcionar como contra-tendência de efeito duradouro. Existe, como se pôde constatar nesses meses recentes da crise, o efeito imediato e, em determinado sentido, a contenção da quebra de grandes Fonte: (WHITNEY, 009) companhias, sobretudo financeiras. E, em alguma medida, as “atuais políticas de estabilização estão A disparidade entre o americano médio e o permitindo ao sistema evitar uma crise como aquela dos super-rico atingiu o maior recorde de todos os tempos. anos 90, mas não envolvem medidas capazes de evitar O seleto clube dos 0,0%, no topo dos mais ricos, detém uma depressão semelhante àquela que o Japão atravessou rendimentos de pelo menos ,5 milhões por ano, em nos anos 990” (HUSSON, 009c). 007. Não há precedentes em termos de concentração de O problema continua de pé: grande parte da renda. Pura expressão de que maior punção salarial – ou mais-valia não é reinvestida na produção. Mesmo que maior extração de mais-valia – não se traduziu em mais se tenha em conta que em certo momento deu-se o boom investimentos e sim em rendas financeiras em economia
  • 7. Crise financeira ou crise histórica do capitalismo? financeira alavancada. tentando descarregar o custo da sua sobrevivência mais uma vez sobre a classe que vive do trabalho; são dois Considerações finais momentos: primeiro a hipetrofiada esfera dos ganhos Tem importância, portanto, como parte de uma financeiros irreais desfechou – como se procurou mostrar análise estratégica, que se leve em conta os seguintes neste texto – brutal ataque a todas as conquistas da aspectos na crise financeira atual. classe trabalhadora e desenvolveu achatamento salarial Primeiro, que não se trata de crise financeira de longo prazo. Contou com essa vantagem econômica strictu sensu. O processo de crise nasceu de dificuldades a seu favor nos chamados anos neoliberais centralmente históricas de valorização do capital na produção. apoiado nas derrotas das lutas dos trabalhadores. Dificuldades que foram empurradas para adiante – com E segundo, quando eclode a atual crise histórica o recurso do crédito maciço, por exemplo e contando a partir das bolhas financeiras, o governo socorre aos com condições políticas favoráveis – mas que, longe oligopólios e grandes grupos financeiros com os trilhões de se atenuarem, só se ampliaram, com todas suas de dólares que “não existiam” para saúde e educação contradições, sendo uma delas um crescimento sem públicas e muito menos salários e se atira sobre os bases reais e que agora ameaça ruir. trabalhadores exigindo que apertem os cintos. Neste A hipertrofia financeira gerada durante estas décadas está segundo movimento, vem exigir que aceitem o conto se decompondo a ritmos cada dia mais acelerados. Por de que o problema era um bando de maus capitalistas, isso, o problema não é de fácil solução. Acontece que o agiotas e “aventureiros de mercado”, e que é preciso estoque acumulado da dívida norte-americana cresceu de 6 % do PNB em 980 a 46 % em 007. Dois confiar – pasmem todos! - que a cúpula que ganhou setores da economia foram os principais responsáveis rios de dinheiro por décadas com a finança (aliás, aqui por esta escalada: os lares, cuja dívida saltou de 50 % em tanto faz ser são financeiras ou montadoras) e agora vem 980 a 7 % no anos de 000, pulando para 00 % em exigir “austeridade” dos trabalhadores possa dar alguma 007 e o setor financeiro, cujo endividamento colossal saída, ou conduzir as massas em outra direção que não a foi se convertendo mais e mais no combustível ou na devastação social e ambiental. força motriz do crescimento. Isto não significa que a financeirização tenha sido um fator autônomo e sim que Os super-ricos, o grande capital pode dar alguma foi a contra-partida do aumento da taxa de exploração e da resposta que não seja a de procurar salvar a própria falta de oportunidades de investimentos suficientemente pele e o sistema? Na verdade, a única resposta virá se e rentáveis. Neste contexto, de carência de oportunidades de quando a classe que cria a riqueza passar, ela mesma, a investimentos rentáveis para o capitalismo, a pressão das ser, coletivamente, gestora e planificadora dos meios de finanças se exerceu brutalmente levando o crescimento produção tornados, finalmente, propriedade pública. a níveis para além do que seria sustentável. Por isso o choque com a realidade é tão duro e ameaça ruir o hipertrofiado sistema financeiro gerado em todos esses anos (CHINGO, 008). Bibliografia Portanto, detrás das bolhas financeiras, aparece a ASTARITA, Rolando, 008. Crítica de la tesis de la financiarización. Disponível em: www.rolandoastarita.com/ nu a face estagnacionista e destrutiva do capitalismo. dt-crítica. Acessado em: 0/09/009. Um sistema que, mesmo quando reencontra a BEINSTEIN, Jorge, 009. A crise na era senil do rentabilidade – nos nichos asiáticos, por exemplo, mas capitalismo, fevereiro 009. Disponível em: http://resistir.info esbarra nos limites da elevação da composição orgânica Acessado: 8/04/009. Original se encontra-se em: El viejo do capital, da sobreacumulação de capitais que acorrem topo, Barcelona, n. 5, fevereiro 009. à esfera do financiamento ao comércio, ao “sistema de CHESNAIS, François, 997. Mundialização do crédito” que tem a elasticidade para forçar os limites que capital, regime de acumulação predominantemente financeira o sistema encontrou na produção. Mas não para superá- e programa de ruptura com o neoliberalismo. In Revista los. da Sociedade Brasileira de Economia Política, n., Rio de Ampla deflação (ou seu contrário, intensa Janeiro. CHINGO, Juan, 009. El capitalismo mundial en inflação), profunda depressão ou, mais diretamente, una crisis histórica. In Revista Estratégia Internacional n.5, intensa destruição de forças produtivas, através de deciembre 008/ enero 009, Buenos Aires. guerras, quebras de grandes corporações e mais violentos CHINGO, Juan, 008. Escandaloso rescate del sistema ataques à classe trabalhadora: eis alguns mecanismos que financeiro norte-americano. Suplementos EconoCrítica n. 6, o sistema, em sua senilidade, necessita para se contrapor à 8/09/008, Buenos Aires. queda tendencial da taxa de lucro, à falta de oportunidades GEAB (Global Europe Anticipation Bulletin), 009c. para investimentos – na era da hiper-competição entre Fase V da crise sistêmica: começa a seqüência da insolvência os oligopólios cada vez mais concentrados – mesmo global, 5/0/009. Original encontra-se em: www.leap00. quando consegue elevar a rentabilidade nos nichos de eu super-exploração do trabalho. GILL, Louis, 008. A realidade contemporânea à lulz da análise marxista. In O Olho da História n. , dezembro Este quadro está longe de sugerir uma crise 008. Disponível em: http://oolhodahistoria.org/n/textos/ nascida na finança: é muito mais o organismo senil
  • 8. Contra a Corrente louisgill.pdf Acessado em: /08/009. GRAZEBROOK, Dan, 009. Retorno ao estado natural de estagnação, /8/09. Disponível em : www.resistir. info. Acessado em: /9/009. O original encontra-se em www. morningstaronline.co.uk. HUSSON, Michel, 005. La economía mundial desequilibrada. In Imprecor n. 50/50, enero 005. Disponível em: www.revoltaglobal.net/WEB/ Acessado em: /09/009. Publicado em espanhol por Panorama Internacional. HUSSON, Michel, 008. Um pur capitalisme. France: Editions Page Deux. HUSSON, Michel, 008b. Crise –salários contra lucros. Disponível em: http://www.fpa.org.br/portal. Acessado em: /09/009. HUSSON, Michel, 009. La dictadura de la economia va a volverse más brutal - Entrevista al economista frances Michel Husson. In El Aromo, Argentina, n.49, 009. Disponível em: www.hussonet.free.fr/ aromo49.pdf. Acessado em: / 09/ 09. HUSSON, Michel, 009c. The criris of neo-liberal capitalism, 04/ 0/ 009. Disponível em: www.hussonet.free. fr Acessado em : / 09/ 009. LUXEMBURGO, Rosa, 975. Reforma, revisionismo e oportunismo. Rio de Janeiro/Lisboa: Civilização Brasileira/ Centro do Livro Brasileiro. MERCATANTE, Esteban, 007. Algunos elementos para aproximar-se al trasfondo de la crisis bursátil: finanzas, burbuja inmobiliária y tasa de ganancia, /08/007. Disponível em: www.ips.org.ar/rubriquephp Acessado: /09/009. MERCATANTE, Esteban, 008. “Eutanasia del rentista” o matar al capitalismo? Suplementos EconoCrítica n. 6, 8/09/008, Buenos Aires. ROSS, John, 009. US Ist Quarter GDP – an unprecedent post-war investment fall. Disponível em: www. johnross4 Acessado em: 07/0/009. WHITNEY, Mike, 009. O longo “ajustamento econômico”: quão mau será? Colapso nos gastos do consumidor. Disponível em: http://resistir.info Acessado em: setembro 009. Original em: www.globalresearch.ca/index.php