SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 8
Baixar para ler offline
Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 1
O mundo pos-covid que chegará… um dia
Sumário:
1 – Os seres humanos, instrumentos do capital
2- A acumulação infinita de capital
3 -Excedente de pessoas
wwwwwwwwww XXXXX wwwwwwwwww
1 – Os seres humanos, instrumentos do capital
Entre os múltiplos efeitos da pandemia podem destacar-se alguns – não sanitários -,
tais como um maior apuro no aproveitamento, pelos grandes empórios, quanto ao
escrutínio, enquadramento, manipulação de dados pessoais, para efeitos da sua
segmentação ou homogeneização, com o estabelecimento de normas a cumprir e a
concomitante vigilância, diluindo capacidades individuais num trabalho alienante e
inútil, articulado com um tempo de lazer preenchido com atividades estupidificantes.
Essas atividades inúteis servem apenas para convencer o seu praticante a manter-se
integrado no circo do capital, por muito inútil que seja o seu “trabalho” do ponto de
vista económico, social ou de enriquecimento cultural. Trabalho, sendo esforço, só tem
cabimento se produz algo de socialmente necessário ou útil; porém, em muitos casos,
toda a vida do executante é atravessada sem que ele se aperceba alguma vez da
inutilidade ou dos danos que resultaram da aplicação do seu tempo e das suas
capacidades físicas e anímicas. Essa distorção na vida dos seres humanos tornou-se
típica do capitalismo e, pela sua dimensão, conduz a danos de ordem anímica,
ambiental e sanitária que afetam grandes grupos humanos ou mesmo a Humanidade;
como é o caso da cangalhada militar.
Antigamente, nas classes dominantes, mormente na nobreza, as suas principais
atividades eram o lazer e a guerra, com a entrega da gestão do património, da
captação de impostos e tributos, a alguém capacitado para o efeito - um eclesiástico
ou um plebeu. Nas outras camadas populacionais, no campo ou nas embrionárias
cidades, não havia lugar para tarefas inúteis, encaradas como trabalho; todos sabiam o
objetivo e a utilidade real do seu esforço de trabalho, mesmo que este fosse o lazer ou
a satisfação de um capricho de um senhor. Tratava-se de garantir a subsistência e de
medir o esforço laboral em função das necessidades do grupo familiar e do pagamento
Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 2
do tributo ao senhor local – em géneros, jovens para a guerra ou para o serviço
doméstico no castelo ou no palácio.
Em épocas de epidemia, de más colheitas ou de devastação pela guerra - não havendo
… subsídios de desemprego ou tarefas definidas pelos poderes públicos para colmatar
a ausência de um rendimento, como no New Deal, só restava a emigração ou, a
procura de ocupação nas cidades, onde a atividade produtiva era bem mais
diversificada do que no campo.
A mobilidade, após a expansão europeia do século XVI alargou-se ao espaço global,
por cobiça, espírito de aventura, guerra ou, através do comércio de especiarias,
escravos, armas... Essa mobilidade envolvia áreas onde viviam sociedades complexas e
até mais avançadas do que as europeias mas que cederam à colonização europeia.
Onde isso não acontecia, como na América do Norte e nas Caraíbas a regra foi o
extermínio dos seus habitantes e o recurso massivo à escravatura… a coberto das
figuras divinas do panteão cristão e dos seus sacerdotes.
O capitalismo, gerando a procura incessante da acumulação de capital e beneficiando
de tecnologias geradoras de elevados ganhos de produtividade, poderia reduzir o
tempo dedicado ao trabalho libertando a Humanidade do esforço laboral e dando-lhe
tempo livre para sua utilização no deleite da cultura, do desporto, da sociabilidade...
Mas não o fez e continuará a não fazer. Beneficia do essencial dos ganhos de
produtividade, constrói enormes burocracias e instrumentos de controlo do trabalho e
dos seus executantes, para que a mão-de-obra se mantenha pacificada e capturada
pela lógica do capitalismo, aceitando como escrita nas estrelas a sua subalternidade
face os capitalistas.
Desenvolve-se toda uma ideologia baseada na segmentação dos rendimentos do
trabalho entre trabalhadores e patrões; e estes, mesmo sendo muito minoritários
beneficiam da maioria dos ganhos. Dizem os próceres do capital que é essencial haver
capitalistas porque são estes que criam o emprego, pagam os salários… evidenciando
assim, o caráter secundário, acessório dos trabalhadores. Na bíblia dos capitalistas,
Deus criou o capitalista e, no seguimento, criou o assalariado para assegurar o bem-
estar e o entretenimento do primeiro.
2- A acumulação infinita de capital
O capitalismo não concebe limites para a acumulação e inventa formas de a aumentar
até ao infinito, para assim consolidar a sua perenidade e perpetuar o seu poder sobre a
população e os recursos do planeta. Por um lado, no capítulo da produção de bens e
Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 3
serviços, procura maximizar a sua oferta para incrementar os lucros; e, por outro, em
contradição total, procura manter o comedimento nos rendimentos do trabalho
sabendo que um poder de compra restringido significa menos consumo, menos gasto.
E, daí que aponte às pessoas o recurso insensato a dívida para alimentar o consumismo
em todas as camadas sociais, após a secagem da capacidade de utilização dos
rendimentos do trabalho. Como se sai disto?
Claro que tudo isso é insuficiente. Daí resulta a demência inerente ao sistema
financeiro, que, como elemento central de multiplicação de capital, vive tomado de
uma pulsão, uma gula que nunca se satisfaz, com o aumento e a valorização dos títulos
que emite; nem com as margens de lucro que obtém nas transações que protagoniza, a
todo o instante. Daí surgem as crises financeiras, os conflitos militares e o
“investimento” em armamento, com o protagonismo dos gestores dos grandes bancos
centrais, de instituições globais como o FMI ou o BIS – Bank of International
Settlements que acompanha a situação do sistema financeiro global; bem como dos
governos nacionais e das classes políticas que se encarregam de gerir os impactos do
desvario financeiro, e transformá-los, em crise social e económica, com agudeza
crescente e cada vez mais frequentes, como se pode observar comparando a crise de
Wall Street em 2008 com a que se desenvolve na boleia do coronavírus.
A financiarização, com a criação de dinheiro em exponencial, de forma virtual, inserida
em redes de circulação de dados, gerados de modo instantâneo e encadeados entre si,
configura, a todo o momento, redes de negócios especulativos. A base material da
economia, assente na produção de bens e serviços ou da auto-produção doméstica e
do auto-consumo perdeu relevância e tornou-se um apêndice, um subproduto do
mercado, devidamente supervisionado pelos aparelhos de Estado.
3 -Excedente de pessoas1
No momento presente vive-se um tempo de grande incerteza perante o vírus e de
temor perante o assalto ao rendimento das classes populares. Entre os efeitos da
pandemia podem destacar-se alguns, tais como um maior apuro no aproveitamento,
pelos grandes empórios, do escrutínio, do enquadramento, da manipulação de dados
pessoais, para efeitos da sua segmentação ou homogeneização; também, com o
estabelecimento de normas a cumprir e a adequada vigilância, diluindo capacidades
individuais num trabalho alienante e inútil; ou ainda, com um tempo de lazer
preenchido com atividades estupidificantes. Com essas inúteis atividades – não
1
Segundo a ministra portuguesa do Trabalho, 42000 empresas recorreram ao layoff simplificado (dois salários
mínimos) e outras medidas que envolveram 380000 trabalhadores
Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 4
sentidas como tal pelo trabalhador - pretende-se dar-lhe uma ideia falsa sobre a
importância do seu labor. É uma prática alienante e pacificadora – típica do capitalismo.
Nos modos de produção anteriores ao capitalismo, as funções laborais poderiam ser
penosas mas sabiam-se as suas finalidades; ninguém exercia funções sem saber o
objetivo, mesmo que fosse a satisfação de um capricho do seu senhor. No capitalismo,
as tecnologias permitiriam fortes reduções de tempo de trabalho, sem perda de
rendimentos, se todas as funções a desempenhar fossem reconhecidas como
socialmente úteis. Isso significaria um tempo acrescido de lazer, para estudo, cultura ou
desporto e daí resultaria a grande questão de ordem política – se os meios permitem a
produção de todos os bens e serviços úteis à Humanidade, é preciso abolir quantos
condenam a multidão a jornadas de trabalho longas, penosas e com baixos
rendimentos. Bem como todas as atividades socialmente inúteis ou nocivas.
Pela forma como a multidão - em tempos de covid-19 - permite o desemprego
massivo, o layoff, o recurso ampliado à caridade, as limitações na circulação no espaço
físico, a perda de horas de vida com os olhos vidrados na nova teletela, um futuro
muito nebuloso e pouco promissor, deduz-se que a articulação entre os capitalistas e
as classes políticas domina a situação.
Em Portugal está ainda bem presente o que se seguiu ao descalabro financeiro
provocado pelo partido-estado PS/PSD, antes e durante a intervenção da troika (2011-
2015); e, a pacificação pela “esquerda” da parca contestação então havida, ainda
evidencia os seus efeitos. A classe política portuguesa, como em outros países, não
resolveu qualquer problema dos então existentes e somou ainda os efeitos imputados
ao covid-19.
A ocupação do Estado por partidos políticos que colocam todas as responsabilidades
de gestão económica e social da sociedade nos seus próprios membros e apaniguados,
remete a população para a situação de objeto manso e mole, de mainatos
subordinados aos interesses da classe política. A crise do vírus, que no momento
presente mostra uma duração muito para além do inicialmente previsto, revela, numa
primeira instância a imensa incapacidade de gestão por parte das classes políticas –
com relevo para a Europa Ocidental, EUA e Brasil – contrastante com a frieza e
capacidade observada em vários países da Ásia Oriental. Em todos os casos, porém, há
uma constante – a ausência de iniciativas populares capazes de se organizarem em
rede, afastando-se das lógicas piramidais e da monstruosa burocracia que carateriza os
aparelhos estatais; as populações colam-se à tv e assistem, passivas ao espetáculo
repetitivo protagonizado por hordas de mandarins e plumitivos; e, imbecilizados,
Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 5
estarão prontos a dormir com máscara ou banharem-se alcatrão se determinado por
um primeiro-ministro.
Se a humanidade não pode, por limitações físicas ou institucionais, produzir o
rendimento necessário para acompanhar a deriva especulativa financeira, esta tem de
recorrer a artifícios para aumentar o capital envolvido no circuito económico; e, nesse
processo, o sistema financeiro globalizado e os governos que o servem desestruturam
as sociedades, espalham sofrimento, artificializam as economias, ofendem o planeta.
Em Portugal, neste verão, a taxa de poupança ultrapassou 10%, o que se confronta com
valores próximos de zero (quando não, negativos), nos últimos anos; e isso, relaciona-
se com grandes quebras no consumo e no rendimento disponível. O povo tem o bom
senso de se precaver para dias piores, porém, do sistema bancário e dos governos não
se sabe o que pode surgir; por exemplo, podem penalizar as contas com saldo acima
de determinado valor para incentivar o consumo ou, aumentar a carga fiscal para
reduzir o deficit público. O poder quer voltar à taxa de poupança nula para que o
dinheiro possa ser captado pelo carrossel financeiro; o seu negócio é a geração de
dívida, não de poupanças. E, em 2023, espera-se que na Europa do euro, deixe de haver
dinheiro em papel ou metal; tudo ficará gravado, não nas estrelas mas nos servidores
do sistema financeiro globalizado2
, num grau muito mais elevado de controlo das vidas
das populações.
Hoje, o tão desejado crescimento económico, o do nebuloso PIB, tem como fulcral e
mais usual, o recurso a dívidas contraídas por famílias, empresas e Estados. O carrossel
financeiro roda num outro palco.
Em regra, as famílias endividam-se junto dos bancos, nomeadamente para suportar a
posse de casa e meios de transporte, necessidades essenciais descuradas pelos
Estados; estes, ávidos cobradores de impostos, cederam a sua satisfação à sagrada
“iniciativa privada”3
. A engrenagem da dívida, com origem nas famílias, tem o seguinte
enquadramento:
2
A desaparição do dinheiro físico na Europa do euro – hoje, um valor de $ 14,5^
11
- que incorporará as
disponibilidades do sistema financeiro para a especulação a que se deve acrescer os custos do abastecimento das
populações com notas e moedas, deixando as populações sem quaisquer instrumentos próprios de troca que não a
direta, trocar batatas por cebolas, por exemplo. Se se pensar que a fortuna dos cinco mais ricos do planeta – Bezos,
Gates, Arnaud, Zuckerberg e Ellison – é de $ 414^
9
… talvez não seja muito…
3
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/12/a-nao-politica-de-habitacao-e-o-imi-1.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2013/01/a-nao-politica-de-habitacao-e-o-imi.html
Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 6
 As famílias endividam-se por décadas, aproveitando a baixa das taxas de juro
concedidas pelos bancos; e os Estados mostram o seu parasitismo captando
impostos – IMT, Selo e, posteriormente, IMI, ad secula seculorum.
 O risco para os bancos é baixo porque o imóvel é objeto de hipoteca e de fianças;
o risco, é todo das famílias, em casos de desemprego ou separação conjugal, por
exemplo;
 As baixas taxas de juro coadunam-se com os salários, também com fraca evolução.
E as primeiras não preocupam particularmente os bancos, como se verá a seguir;
 Os bancos credores, não ficam à espera que passem décadas para recuperar o
capital emprestado e os juros. Juntam um grande número de créditos, repartem o
seu valor em títulos que colocam no mercado financeiro, recuperando o
equivalente a grande parte do crédito concedido às famílias devedoras. A essa
operação chama-se titularização e corresponde à constituição de uma cascata de
operações sucessivas, com a inclusão de novos créditos, envolvendo sucessivos
grupos de compradores de habitações ou outros, de longo prazo;
 Sucintamente, há uma dívida familiar constituída para várias décadas e um banco
concedente do empréstimo. Esse banco vai reunir vários empréstimos desse tipo (e
outros) e emitir títulos que serão comprados por outras instituições, recuperando
assim, um valor onde se inclui o valor da totalidade desses vários empréstimos
concedidos. Porém, não deixou de ser credor daquela família e de outras; apenas
utilizou um expediente para antecipar o retorno dos valores dos empréstimos.
A transação colocou, em circulação, um valor que é o espelho dos empréstimos
para habitação ali englobados; e, isso pode multiplicar-se n vezes, tantas quantas
as titularizações efetuadas envolvendo os débitos, podendo associar-se a um jogo
de espelhos ou à constituição das pirâmides de Ponzi, cujo valor máximo é,
teoricamente, o infinito. Juntando todas aquelas dívidas, o mesmo banco torna-se
devedor de quantos adquiriram os títulos emitidos, mas recolheu dinheiro para
novas aplicações.
De permeio, os bancos podem aumentar as suas disponibilidades para a concessão de
crédito, adquirindo títulos de dívida pública - eventualmente com taxas negativas – e
que entregam, de imediato, ao banco central em troca de dinheiro para o seu uso
corrente, a concessão de crédito ou a especulação bolsista. Isto é, os bancos centrais,
sem alterar nada no equilíbrio dos seus balanços, procedem a acréscimos dos seus
créditos sobre o volátil sistema financeiro que, em teoria deveriam controlar (como se
Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 7
viu nos casos… BPN, BES…) e aceitam como garantia títulos de dívida pública que virão
a ser pagos pela carga fiscal que incide sobre os povos, por imposição das suas classes
políticas, fachadas dos interesses do sistema financeiro e das transnacionais. O
equilíbrio financeiro não se altera; o que acresce é a punção fiscal presente e futura
para pagar a dívida pública e o endividamento particular, resultante do abandono pelos
Estados de políticas de habitação e de transportes públicos em favor da tão cantada
iniciativa privada.
Também as empresas recorrem ao endividamento. As baixas taxas de juro radicam-se
na política dos bancos centrais no mesmo sentido, com as devidas repercussões na
banca comercial que, por sua vez, desenvolve ações de titularização para libertar
capitais para novos empréstimos.
O crédito barato - e as quase nulas taxas de remuneração dos depósitos - articulam-se
para fomentar o consumo e, simultaneamente, desencorajar a poupança; daí que se
forme uma quase obrigação no sentido do endividamento… como interessa ao sistema
financeiro e às classes políticas que, na sequência, se apossam do futuro de pessoas e
empresas, capturadas pelas obrigações face ao sistema financeiro. Assim, a formação
do crédito nasce, não das poupanças mas nas pirâmides de Ponzi em que se insere a
prática das titularizações.
Essas pirâmides engrandecem-se ainda com a constante entrada nos circuitos “legais”
do dinheiro proveniente dos vários tráficos (drogas, armas, seres humanos…),
corrupção, etc. para alegria do sistema financeiro e com o olhar distraído da supervisão
dos bancos centrais e outros pomposos reguladores; em regra, os governos assanham-
se mais contra as fugas fiscais dos pequenos negócios e muito pouco com a evasão
fiscal dos ricos4
. Esses reguladores e os governos nacionais, tradicionalmente, mostram-
se distraídos com o dinheiro que circula entre o sistema financeiro visível e as dezenas
de registos offshore espalhados pelo mundo, mormente em ilhas remotas.
As empresas, maximizando a obtenção do crédito barato, reduzem a utilização de
capitais próprios; e, no caso português, banalizou-se também – e há muitos anos - a
utilização, pelas empresas de contribuições, devidas e não pagas, à sonolenta
Segurança Social portuguesa, parasitada por todos os governos… sem qualquer
protesto do mundo sindical ou dos partidos ditos da oposição. A delapidação da
4
Em Portugal, o caso BES é um bom exemplo do entrançado de circuitos e da parcimónia como os
governos encaram o assunto, incorporando nos seus elencos gente muito bem relacionada com o crime
financeiro ou seniors de escritórios de advogados. Nenhum governante se quer (ou pode) mostrar como
um Robin dos Bosques, embora abundem no seu seio os funcionários dos… sheriffs de Nottingham.
Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 8
Segurança Social é uma prática recorrente que faz parte de um acordo tácito no seio
da classe política.
A competitividade das empresas vai assim surgir dos baixos níveis salariais dos
trabalhadores – atomizados e desorganizados - nas horas de trabalho não pagas, no
trabalho precário, no despedimento facilitado ou mesmo, pelos layoffs facilitados pelo
governo em tempos de covid-19.
Todo este sistema baseado em cascatas de crédito é extremamente vulnerável mesmo
que ancorado em taxas de juro bastante baixas, para evitar dificuldades às empresas e,
ligadas a taxas de inflação igualmente baixas; assim, fomenta-se uma elevada
propensão consumista da população que, com salários estagnados, envereda pelo
recurso ao crédito, facilitado pela banca.
Este modelo de integração de entidades – empresas, mormente as mais pequenas, os
Estados e a banca – depende essencialmente do banco central que dificilmente o
poderá cancelar:
 O abastecimento do sistema financeiro não pode cessar pois o crédito bancário
seria bem mais caro e difícil de obter sem firmes garantias, o que muitas empresas
não poderiam oferecer;
 A sua cessação conduziria a uma enorme crise global, seria o desabar de um
castelo de cartas, com a falência de inúmeras empresas, endividadas e com
acumulação de malparado nos bancos. A ativação de hipotecas conduziria à
acumulação de imobiliário sem compradores e, portanto, desvalorizado, com
impactos a montante, na construção, que incorpora elementos de muitas
indústrias, serviços e trabalho;
 Os despedimentos de trabalhadores e a mobilização de rendimentos de
substituição, vindos da esfera estatal, não evitariam dificuldades no pagamento das
prestações dos créditos para habitação;
 Os subsequentes efeitos nas contas públicas (deficits) afetariam o habitual recurso
a “leilões” de dívida pública, certamente com taxas de juro muito mais altas do que
hoje.
Este e outros textos em:
http://grazia-tanta.blogspot.com/
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
https://pt.scribd.com/uploads

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Emigrações, imigrações, vidas precárias
Emigrações, imigrações, vidas precáriasEmigrações, imigrações, vidas precárias
Emigrações, imigrações, vidas precáriasGRAZIA TANTA
 
Jornal Inconfidência nº232
Jornal Inconfidência nº232Jornal Inconfidência nº232
Jornal Inconfidência nº232Lucio Borges
 
A passagem da pandemia ao aprisionamento do trabalho (2)
A passagem da pandemia ao aprisionamento do trabalho (2)A passagem da pandemia ao aprisionamento do trabalho (2)
A passagem da pandemia ao aprisionamento do trabalho (2)GRAZIA TANTA
 
O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política GRAZIA TANTA
 
A Miséria do Século XXI - Luis Estenssoro
A Miséria do Século XXI - Luis EstenssoroA Miséria do Século XXI - Luis Estenssoro
A Miséria do Século XXI - Luis EstenssoroLuis E R Estenssoro
 
Eleições em portugal o assalto à marmita
Eleições em portugal   o assalto à marmitaEleições em portugal   o assalto à marmita
Eleições em portugal o assalto à marmitaGRAZIA TANTA
 
Os desafios actuais e as insuficiências à esquerda
Os desafios actuais e as insuficiências à esquerdaOs desafios actuais e as insuficiências à esquerda
Os desafios actuais e as insuficiências à esquerdaGRAZIA TANTA
 
O vírus e quem dele se aproveita (1)
O vírus e quem dele se aproveita (1)O vírus e quem dele se aproveita (1)
O vírus e quem dele se aproveita (1)GRAZIA TANTA
 
Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)
Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)
Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)GRAZIA TANTA
 
Capitalismo e autoritarismo
Capitalismo e autoritarismoCapitalismo e autoritarismo
Capitalismo e autoritarismoGRAZIA TANTA
 
O COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTY
O COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTYO COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTY
O COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTYFernando Alcoforado
 
Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1
Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1
Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1GRAZIA TANTA
 
Pensar à esquerda, sem vacas sagradas
Pensar à esquerda, sem vacas sagradasPensar à esquerda, sem vacas sagradas
Pensar à esquerda, sem vacas sagradasGRAZIA TANTA
 
Inconfidência nº 260 / 31 de janeiro
Inconfidência nº 260 / 31 de janeiroInconfidência nº 260 / 31 de janeiro
Inconfidência nº 260 / 31 de janeiroLucio Borges
 
Jose maria eugenio de almeida
Jose maria eugenio de almeidaJose maria eugenio de almeida
Jose maria eugenio de almeidaJanuário Esteves
 
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxiGRAZIA TANTA
 

Mais procurados (20)

Emigrações, imigrações, vidas precárias
Emigrações, imigrações, vidas precáriasEmigrações, imigrações, vidas precárias
Emigrações, imigrações, vidas precárias
 
Jornal Inconfidência nº232
Jornal Inconfidência nº232Jornal Inconfidência nº232
Jornal Inconfidência nº232
 
A passagem da pandemia ao aprisionamento do trabalho (2)
A passagem da pandemia ao aprisionamento do trabalho (2)A passagem da pandemia ao aprisionamento do trabalho (2)
A passagem da pandemia ao aprisionamento do trabalho (2)
 
O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política
 
A Miséria do Século XXI - Luis Estenssoro
A Miséria do Século XXI - Luis EstenssoroA Miséria do Século XXI - Luis Estenssoro
A Miséria do Século XXI - Luis Estenssoro
 
13
1313
13
 
844 3595-1-pb (1)
844 3595-1-pb (1)844 3595-1-pb (1)
844 3595-1-pb (1)
 
Eleições em portugal o assalto à marmita
Eleições em portugal   o assalto à marmitaEleições em portugal   o assalto à marmita
Eleições em portugal o assalto à marmita
 
Os desafios actuais e as insuficiências à esquerda
Os desafios actuais e as insuficiências à esquerdaOs desafios actuais e as insuficiências à esquerda
Os desafios actuais e as insuficiências à esquerda
 
O vírus e quem dele se aproveita (1)
O vírus e quem dele se aproveita (1)O vírus e quem dele se aproveita (1)
O vírus e quem dele se aproveita (1)
 
Cooperar, verbo infinito?
Cooperar, verbo infinito?Cooperar, verbo infinito?
Cooperar, verbo infinito?
 
Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)
Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)
Desigualdades na dinâmica demográfica na Península Ibérica (1990/2019)
 
Capitalismo e autoritarismo
Capitalismo e autoritarismoCapitalismo e autoritarismo
Capitalismo e autoritarismo
 
O COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTY
O COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTYO COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTY
O COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTY
 
Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1
Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1
Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1
 
Pensar à esquerda, sem vacas sagradas
Pensar à esquerda, sem vacas sagradasPensar à esquerda, sem vacas sagradas
Pensar à esquerda, sem vacas sagradas
 
O Sociocapitalismo
O SociocapitalismoO Sociocapitalismo
O Sociocapitalismo
 
Inconfidência nº 260 / 31 de janeiro
Inconfidência nº 260 / 31 de janeiroInconfidência nº 260 / 31 de janeiro
Inconfidência nº 260 / 31 de janeiro
 
Jose maria eugenio de almeida
Jose maria eugenio de almeidaJose maria eugenio de almeida
Jose maria eugenio de almeida
 
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
 

Semelhante a O mundo pos-covid que chegará… um dia

Decrescimento, capitalismo e democracia de mercado
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercadoDecrescimento, capitalismo e democracia de mercado
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercadoGRAZIA TANTA
 
Convergências, pensões e os golpes dos ladrões
Convergências, pensões e os golpes dos ladrõesConvergências, pensões e os golpes dos ladrões
Convergências, pensões e os golpes dos ladrõesGRAZIA TANTA
 
O Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vida
O Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vidaO Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vida
O Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vidaGRAZIA TANTA
 
O Homem, ser social e fragmentado
O Homem, ser social e fragmentadoO Homem, ser social e fragmentado
O Homem, ser social e fragmentadoGRAZIA TANTA
 
Neoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororoba
Neoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororobaNeoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororoba
Neoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororobaGRAZIA TANTA
 
O 'mercado', o PIB e a vida
O 'mercado', o PIB e a vidaO 'mercado', o PIB e a vida
O 'mercado', o PIB e a vidaGRAZIA TANTA
 
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à solta
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à soltaUnião dos Povos da Europa ou o nacionalismo à solta
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à soltaGRAZIA TANTA
 
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ue
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ueGrécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ue
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ueGRAZIA TANTA
 
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e político
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e políticoO pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e político
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e políticoGRAZIA TANTA
 
Dívida pública beneficiários e pagadores 1ª parte-
Dívida pública   beneficiários e pagadores  1ª parte-Dívida pública   beneficiários e pagadores  1ª parte-
Dívida pública beneficiários e pagadores 1ª parte-GRAZIA TANTA
 
Crescimento, vantagens competitivas e desigualdades
Crescimento, vantagens competitivas e desigualdadesCrescimento, vantagens competitivas e desigualdades
Crescimento, vantagens competitivas e desigualdadesGRAZIA TANTA
 
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismoReflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismoGRAZIA TANTA
 
Capitalismo e o espírito naif para a construção do futuro
Capitalismo e o espírito naif para a construção do futuroCapitalismo e o espírito naif para a construção do futuro
Capitalismo e o espírito naif para a construção do futuroGRAZIA TANTA
 
Aceitando o capitalismo e o Estado, a ecologia reduz-se a um devaneio técnico
Aceitando o capitalismo e o Estado, a ecologia reduz-se a um devaneio técnicoAceitando o capitalismo e o Estado, a ecologia reduz-se a um devaneio técnico
Aceitando o capitalismo e o Estado, a ecologia reduz-se a um devaneio técnicoGRAZIA TANTA
 
Europa, periferias e desastres periféricos
Europa, periferias e desastres periféricosEuropa, periferias e desastres periféricos
Europa, periferias e desastres periféricosGRAZIA TANTA
 
Para um novo paradigma político; a re criação da democracia
Para um novo paradigma político; a re criação da democraciaPara um novo paradigma político; a re criação da democracia
Para um novo paradigma político; a re criação da democraciaGRAZIA TANTA
 
A dívida de pessoas e empresas – a dependência eterna
A dívida de pessoas e empresas – a dependência eternaA dívida de pessoas e empresas – a dependência eterna
A dívida de pessoas e empresas – a dependência eternaGRAZIA TANTA
 
Gestão E Desenvolvimento 1 Adn 02
Gestão E Desenvolvimento 1 Adn 02Gestão E Desenvolvimento 1 Adn 02
Gestão E Desenvolvimento 1 Adn 02lupajero
 

Semelhante a O mundo pos-covid que chegará… um dia (20)

Decrescimento, capitalismo e democracia de mercado
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercadoDecrescimento, capitalismo e democracia de mercado
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercado
 
Convergências, pensões e os golpes dos ladrões
Convergências, pensões e os golpes dos ladrõesConvergências, pensões e os golpes dos ladrões
Convergências, pensões e os golpes dos ladrões
 
O Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vida
O Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vidaO Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vida
O Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vida
 
O Homem, ser social e fragmentado
O Homem, ser social e fragmentadoO Homem, ser social e fragmentado
O Homem, ser social e fragmentado
 
Neoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororoba
Neoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororobaNeoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororoba
Neoliberalismo e keynesianismo, dois pratos da mesma gororoba
 
O 'mercado', o PIB e a vida
O 'mercado', o PIB e a vidaO 'mercado', o PIB e a vida
O 'mercado', o PIB e a vida
 
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à solta
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à soltaUnião dos Povos da Europa ou o nacionalismo à solta
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à solta
 
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ue
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ueGrécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ue
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ue
 
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e político
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e políticoO pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e político
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e político
 
Dívida pública beneficiários e pagadores 1ª parte-
Dívida pública   beneficiários e pagadores  1ª parte-Dívida pública   beneficiários e pagadores  1ª parte-
Dívida pública beneficiários e pagadores 1ª parte-
 
Crescimento, vantagens competitivas e desigualdades
Crescimento, vantagens competitivas e desigualdadesCrescimento, vantagens competitivas e desigualdades
Crescimento, vantagens competitivas e desigualdades
 
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismoReflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
 
Crise virginia e altamiro
Crise virginia e altamiroCrise virginia e altamiro
Crise virginia e altamiro
 
A precariedade está hoje por toda parte (bourdieu)
A precariedade está hoje por toda parte (bourdieu)A precariedade está hoje por toda parte (bourdieu)
A precariedade está hoje por toda parte (bourdieu)
 
Capitalismo e o espírito naif para a construção do futuro
Capitalismo e o espírito naif para a construção do futuroCapitalismo e o espírito naif para a construção do futuro
Capitalismo e o espírito naif para a construção do futuro
 
Aceitando o capitalismo e o Estado, a ecologia reduz-se a um devaneio técnico
Aceitando o capitalismo e o Estado, a ecologia reduz-se a um devaneio técnicoAceitando o capitalismo e o Estado, a ecologia reduz-se a um devaneio técnico
Aceitando o capitalismo e o Estado, a ecologia reduz-se a um devaneio técnico
 
Europa, periferias e desastres periféricos
Europa, periferias e desastres periféricosEuropa, periferias e desastres periféricos
Europa, periferias e desastres periféricos
 
Para um novo paradigma político; a re criação da democracia
Para um novo paradigma político; a re criação da democraciaPara um novo paradigma político; a re criação da democracia
Para um novo paradigma político; a re criação da democracia
 
A dívida de pessoas e empresas – a dependência eterna
A dívida de pessoas e empresas – a dependência eternaA dívida de pessoas e empresas – a dependência eterna
A dívida de pessoas e empresas – a dependência eterna
 
Gestão E Desenvolvimento 1 Adn 02
Gestão E Desenvolvimento 1 Adn 02Gestão E Desenvolvimento 1 Adn 02
Gestão E Desenvolvimento 1 Adn 02
 

Mais de GRAZIA TANTA

Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfUcrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfGRAZIA TANTA
 
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docAs desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docGRAZIA TANTA
 
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfBalofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfGRAZIA TANTA
 
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfAs balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfGRAZIA TANTA
 
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfUnião Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfGRAZIA TANTA
 
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaAs desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaGRAZIA TANTA
 
A BideNato flight over
A BideNato flight overA BideNato flight over
A BideNato flight overGRAZIA TANTA
 
Um sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfUm sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfGRAZIA TANTA
 
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfNATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfGRAZIA TANTA
 
USA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfUSA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfGRAZIA TANTA
 
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfEUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfGRAZIA TANTA
 
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfA NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfGRAZIA TANTA
 
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UENato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UEGRAZIA TANTA
 
Speculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUSpeculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUGRAZIA TANTA
 
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueOs especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueGRAZIA TANTA
 
Human beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemHuman beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemGRAZIA TANTA
 
Seres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroSeres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroGRAZIA TANTA
 
Textos de circunstância - 10
Textos de circunstância  - 10Textos de circunstância  - 10
Textos de circunstância - 10GRAZIA TANTA
 
Glasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGlasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGRAZIA TANTA
 
As canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à soltaAs canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à soltaGRAZIA TANTA
 

Mais de GRAZIA TANTA (20)

Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfUcrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
 
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docAs desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
 
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfBalofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
 
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfAs balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
 
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfUnião Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
 
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaAs desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
 
A BideNato flight over
A BideNato flight overA BideNato flight over
A BideNato flight over
 
Um sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfUm sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdf
 
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfNATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
 
USA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfUSA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdf
 
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfEUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
 
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfA NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
 
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UENato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
 
Speculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUSpeculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EU
 
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueOs especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
 
Human beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemHuman beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial system
 
Seres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroSeres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiro
 
Textos de circunstância - 10
Textos de circunstância  - 10Textos de circunstância  - 10
Textos de circunstância - 10
 
Glasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGlasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the loose
 
As canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à soltaAs canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à solta
 

O mundo pos-covid que chegará… um dia

  • 1. Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 1 O mundo pos-covid que chegará… um dia Sumário: 1 – Os seres humanos, instrumentos do capital 2- A acumulação infinita de capital 3 -Excedente de pessoas wwwwwwwwww XXXXX wwwwwwwwww 1 – Os seres humanos, instrumentos do capital Entre os múltiplos efeitos da pandemia podem destacar-se alguns – não sanitários -, tais como um maior apuro no aproveitamento, pelos grandes empórios, quanto ao escrutínio, enquadramento, manipulação de dados pessoais, para efeitos da sua segmentação ou homogeneização, com o estabelecimento de normas a cumprir e a concomitante vigilância, diluindo capacidades individuais num trabalho alienante e inútil, articulado com um tempo de lazer preenchido com atividades estupidificantes. Essas atividades inúteis servem apenas para convencer o seu praticante a manter-se integrado no circo do capital, por muito inútil que seja o seu “trabalho” do ponto de vista económico, social ou de enriquecimento cultural. Trabalho, sendo esforço, só tem cabimento se produz algo de socialmente necessário ou útil; porém, em muitos casos, toda a vida do executante é atravessada sem que ele se aperceba alguma vez da inutilidade ou dos danos que resultaram da aplicação do seu tempo e das suas capacidades físicas e anímicas. Essa distorção na vida dos seres humanos tornou-se típica do capitalismo e, pela sua dimensão, conduz a danos de ordem anímica, ambiental e sanitária que afetam grandes grupos humanos ou mesmo a Humanidade; como é o caso da cangalhada militar. Antigamente, nas classes dominantes, mormente na nobreza, as suas principais atividades eram o lazer e a guerra, com a entrega da gestão do património, da captação de impostos e tributos, a alguém capacitado para o efeito - um eclesiástico ou um plebeu. Nas outras camadas populacionais, no campo ou nas embrionárias cidades, não havia lugar para tarefas inúteis, encaradas como trabalho; todos sabiam o objetivo e a utilidade real do seu esforço de trabalho, mesmo que este fosse o lazer ou a satisfação de um capricho de um senhor. Tratava-se de garantir a subsistência e de medir o esforço laboral em função das necessidades do grupo familiar e do pagamento
  • 2. Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 2 do tributo ao senhor local – em géneros, jovens para a guerra ou para o serviço doméstico no castelo ou no palácio. Em épocas de epidemia, de más colheitas ou de devastação pela guerra - não havendo … subsídios de desemprego ou tarefas definidas pelos poderes públicos para colmatar a ausência de um rendimento, como no New Deal, só restava a emigração ou, a procura de ocupação nas cidades, onde a atividade produtiva era bem mais diversificada do que no campo. A mobilidade, após a expansão europeia do século XVI alargou-se ao espaço global, por cobiça, espírito de aventura, guerra ou, através do comércio de especiarias, escravos, armas... Essa mobilidade envolvia áreas onde viviam sociedades complexas e até mais avançadas do que as europeias mas que cederam à colonização europeia. Onde isso não acontecia, como na América do Norte e nas Caraíbas a regra foi o extermínio dos seus habitantes e o recurso massivo à escravatura… a coberto das figuras divinas do panteão cristão e dos seus sacerdotes. O capitalismo, gerando a procura incessante da acumulação de capital e beneficiando de tecnologias geradoras de elevados ganhos de produtividade, poderia reduzir o tempo dedicado ao trabalho libertando a Humanidade do esforço laboral e dando-lhe tempo livre para sua utilização no deleite da cultura, do desporto, da sociabilidade... Mas não o fez e continuará a não fazer. Beneficia do essencial dos ganhos de produtividade, constrói enormes burocracias e instrumentos de controlo do trabalho e dos seus executantes, para que a mão-de-obra se mantenha pacificada e capturada pela lógica do capitalismo, aceitando como escrita nas estrelas a sua subalternidade face os capitalistas. Desenvolve-se toda uma ideologia baseada na segmentação dos rendimentos do trabalho entre trabalhadores e patrões; e estes, mesmo sendo muito minoritários beneficiam da maioria dos ganhos. Dizem os próceres do capital que é essencial haver capitalistas porque são estes que criam o emprego, pagam os salários… evidenciando assim, o caráter secundário, acessório dos trabalhadores. Na bíblia dos capitalistas, Deus criou o capitalista e, no seguimento, criou o assalariado para assegurar o bem- estar e o entretenimento do primeiro. 2- A acumulação infinita de capital O capitalismo não concebe limites para a acumulação e inventa formas de a aumentar até ao infinito, para assim consolidar a sua perenidade e perpetuar o seu poder sobre a população e os recursos do planeta. Por um lado, no capítulo da produção de bens e
  • 3. Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 3 serviços, procura maximizar a sua oferta para incrementar os lucros; e, por outro, em contradição total, procura manter o comedimento nos rendimentos do trabalho sabendo que um poder de compra restringido significa menos consumo, menos gasto. E, daí que aponte às pessoas o recurso insensato a dívida para alimentar o consumismo em todas as camadas sociais, após a secagem da capacidade de utilização dos rendimentos do trabalho. Como se sai disto? Claro que tudo isso é insuficiente. Daí resulta a demência inerente ao sistema financeiro, que, como elemento central de multiplicação de capital, vive tomado de uma pulsão, uma gula que nunca se satisfaz, com o aumento e a valorização dos títulos que emite; nem com as margens de lucro que obtém nas transações que protagoniza, a todo o instante. Daí surgem as crises financeiras, os conflitos militares e o “investimento” em armamento, com o protagonismo dos gestores dos grandes bancos centrais, de instituições globais como o FMI ou o BIS – Bank of International Settlements que acompanha a situação do sistema financeiro global; bem como dos governos nacionais e das classes políticas que se encarregam de gerir os impactos do desvario financeiro, e transformá-los, em crise social e económica, com agudeza crescente e cada vez mais frequentes, como se pode observar comparando a crise de Wall Street em 2008 com a que se desenvolve na boleia do coronavírus. A financiarização, com a criação de dinheiro em exponencial, de forma virtual, inserida em redes de circulação de dados, gerados de modo instantâneo e encadeados entre si, configura, a todo o momento, redes de negócios especulativos. A base material da economia, assente na produção de bens e serviços ou da auto-produção doméstica e do auto-consumo perdeu relevância e tornou-se um apêndice, um subproduto do mercado, devidamente supervisionado pelos aparelhos de Estado. 3 -Excedente de pessoas1 No momento presente vive-se um tempo de grande incerteza perante o vírus e de temor perante o assalto ao rendimento das classes populares. Entre os efeitos da pandemia podem destacar-se alguns, tais como um maior apuro no aproveitamento, pelos grandes empórios, do escrutínio, do enquadramento, da manipulação de dados pessoais, para efeitos da sua segmentação ou homogeneização; também, com o estabelecimento de normas a cumprir e a adequada vigilância, diluindo capacidades individuais num trabalho alienante e inútil; ou ainda, com um tempo de lazer preenchido com atividades estupidificantes. Com essas inúteis atividades – não 1 Segundo a ministra portuguesa do Trabalho, 42000 empresas recorreram ao layoff simplificado (dois salários mínimos) e outras medidas que envolveram 380000 trabalhadores
  • 4. Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 4 sentidas como tal pelo trabalhador - pretende-se dar-lhe uma ideia falsa sobre a importância do seu labor. É uma prática alienante e pacificadora – típica do capitalismo. Nos modos de produção anteriores ao capitalismo, as funções laborais poderiam ser penosas mas sabiam-se as suas finalidades; ninguém exercia funções sem saber o objetivo, mesmo que fosse a satisfação de um capricho do seu senhor. No capitalismo, as tecnologias permitiriam fortes reduções de tempo de trabalho, sem perda de rendimentos, se todas as funções a desempenhar fossem reconhecidas como socialmente úteis. Isso significaria um tempo acrescido de lazer, para estudo, cultura ou desporto e daí resultaria a grande questão de ordem política – se os meios permitem a produção de todos os bens e serviços úteis à Humanidade, é preciso abolir quantos condenam a multidão a jornadas de trabalho longas, penosas e com baixos rendimentos. Bem como todas as atividades socialmente inúteis ou nocivas. Pela forma como a multidão - em tempos de covid-19 - permite o desemprego massivo, o layoff, o recurso ampliado à caridade, as limitações na circulação no espaço físico, a perda de horas de vida com os olhos vidrados na nova teletela, um futuro muito nebuloso e pouco promissor, deduz-se que a articulação entre os capitalistas e as classes políticas domina a situação. Em Portugal está ainda bem presente o que se seguiu ao descalabro financeiro provocado pelo partido-estado PS/PSD, antes e durante a intervenção da troika (2011- 2015); e, a pacificação pela “esquerda” da parca contestação então havida, ainda evidencia os seus efeitos. A classe política portuguesa, como em outros países, não resolveu qualquer problema dos então existentes e somou ainda os efeitos imputados ao covid-19. A ocupação do Estado por partidos políticos que colocam todas as responsabilidades de gestão económica e social da sociedade nos seus próprios membros e apaniguados, remete a população para a situação de objeto manso e mole, de mainatos subordinados aos interesses da classe política. A crise do vírus, que no momento presente mostra uma duração muito para além do inicialmente previsto, revela, numa primeira instância a imensa incapacidade de gestão por parte das classes políticas – com relevo para a Europa Ocidental, EUA e Brasil – contrastante com a frieza e capacidade observada em vários países da Ásia Oriental. Em todos os casos, porém, há uma constante – a ausência de iniciativas populares capazes de se organizarem em rede, afastando-se das lógicas piramidais e da monstruosa burocracia que carateriza os aparelhos estatais; as populações colam-se à tv e assistem, passivas ao espetáculo repetitivo protagonizado por hordas de mandarins e plumitivos; e, imbecilizados,
  • 5. Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 5 estarão prontos a dormir com máscara ou banharem-se alcatrão se determinado por um primeiro-ministro. Se a humanidade não pode, por limitações físicas ou institucionais, produzir o rendimento necessário para acompanhar a deriva especulativa financeira, esta tem de recorrer a artifícios para aumentar o capital envolvido no circuito económico; e, nesse processo, o sistema financeiro globalizado e os governos que o servem desestruturam as sociedades, espalham sofrimento, artificializam as economias, ofendem o planeta. Em Portugal, neste verão, a taxa de poupança ultrapassou 10%, o que se confronta com valores próximos de zero (quando não, negativos), nos últimos anos; e isso, relaciona- se com grandes quebras no consumo e no rendimento disponível. O povo tem o bom senso de se precaver para dias piores, porém, do sistema bancário e dos governos não se sabe o que pode surgir; por exemplo, podem penalizar as contas com saldo acima de determinado valor para incentivar o consumo ou, aumentar a carga fiscal para reduzir o deficit público. O poder quer voltar à taxa de poupança nula para que o dinheiro possa ser captado pelo carrossel financeiro; o seu negócio é a geração de dívida, não de poupanças. E, em 2023, espera-se que na Europa do euro, deixe de haver dinheiro em papel ou metal; tudo ficará gravado, não nas estrelas mas nos servidores do sistema financeiro globalizado2 , num grau muito mais elevado de controlo das vidas das populações. Hoje, o tão desejado crescimento económico, o do nebuloso PIB, tem como fulcral e mais usual, o recurso a dívidas contraídas por famílias, empresas e Estados. O carrossel financeiro roda num outro palco. Em regra, as famílias endividam-se junto dos bancos, nomeadamente para suportar a posse de casa e meios de transporte, necessidades essenciais descuradas pelos Estados; estes, ávidos cobradores de impostos, cederam a sua satisfação à sagrada “iniciativa privada”3 . A engrenagem da dívida, com origem nas famílias, tem o seguinte enquadramento: 2 A desaparição do dinheiro físico na Europa do euro – hoje, um valor de $ 14,5^ 11 - que incorporará as disponibilidades do sistema financeiro para a especulação a que se deve acrescer os custos do abastecimento das populações com notas e moedas, deixando as populações sem quaisquer instrumentos próprios de troca que não a direta, trocar batatas por cebolas, por exemplo. Se se pensar que a fortuna dos cinco mais ricos do planeta – Bezos, Gates, Arnaud, Zuckerberg e Ellison – é de $ 414^ 9 … talvez não seja muito… 3 http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/12/a-nao-politica-de-habitacao-e-o-imi-1.html http://grazia-tanta.blogspot.pt/2013/01/a-nao-politica-de-habitacao-e-o-imi.html
  • 6. Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 6  As famílias endividam-se por décadas, aproveitando a baixa das taxas de juro concedidas pelos bancos; e os Estados mostram o seu parasitismo captando impostos – IMT, Selo e, posteriormente, IMI, ad secula seculorum.  O risco para os bancos é baixo porque o imóvel é objeto de hipoteca e de fianças; o risco, é todo das famílias, em casos de desemprego ou separação conjugal, por exemplo;  As baixas taxas de juro coadunam-se com os salários, também com fraca evolução. E as primeiras não preocupam particularmente os bancos, como se verá a seguir;  Os bancos credores, não ficam à espera que passem décadas para recuperar o capital emprestado e os juros. Juntam um grande número de créditos, repartem o seu valor em títulos que colocam no mercado financeiro, recuperando o equivalente a grande parte do crédito concedido às famílias devedoras. A essa operação chama-se titularização e corresponde à constituição de uma cascata de operações sucessivas, com a inclusão de novos créditos, envolvendo sucessivos grupos de compradores de habitações ou outros, de longo prazo;  Sucintamente, há uma dívida familiar constituída para várias décadas e um banco concedente do empréstimo. Esse banco vai reunir vários empréstimos desse tipo (e outros) e emitir títulos que serão comprados por outras instituições, recuperando assim, um valor onde se inclui o valor da totalidade desses vários empréstimos concedidos. Porém, não deixou de ser credor daquela família e de outras; apenas utilizou um expediente para antecipar o retorno dos valores dos empréstimos. A transação colocou, em circulação, um valor que é o espelho dos empréstimos para habitação ali englobados; e, isso pode multiplicar-se n vezes, tantas quantas as titularizações efetuadas envolvendo os débitos, podendo associar-se a um jogo de espelhos ou à constituição das pirâmides de Ponzi, cujo valor máximo é, teoricamente, o infinito. Juntando todas aquelas dívidas, o mesmo banco torna-se devedor de quantos adquiriram os títulos emitidos, mas recolheu dinheiro para novas aplicações. De permeio, os bancos podem aumentar as suas disponibilidades para a concessão de crédito, adquirindo títulos de dívida pública - eventualmente com taxas negativas – e que entregam, de imediato, ao banco central em troca de dinheiro para o seu uso corrente, a concessão de crédito ou a especulação bolsista. Isto é, os bancos centrais, sem alterar nada no equilíbrio dos seus balanços, procedem a acréscimos dos seus créditos sobre o volátil sistema financeiro que, em teoria deveriam controlar (como se
  • 7. Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 7 viu nos casos… BPN, BES…) e aceitam como garantia títulos de dívida pública que virão a ser pagos pela carga fiscal que incide sobre os povos, por imposição das suas classes políticas, fachadas dos interesses do sistema financeiro e das transnacionais. O equilíbrio financeiro não se altera; o que acresce é a punção fiscal presente e futura para pagar a dívida pública e o endividamento particular, resultante do abandono pelos Estados de políticas de habitação e de transportes públicos em favor da tão cantada iniciativa privada. Também as empresas recorrem ao endividamento. As baixas taxas de juro radicam-se na política dos bancos centrais no mesmo sentido, com as devidas repercussões na banca comercial que, por sua vez, desenvolve ações de titularização para libertar capitais para novos empréstimos. O crédito barato - e as quase nulas taxas de remuneração dos depósitos - articulam-se para fomentar o consumo e, simultaneamente, desencorajar a poupança; daí que se forme uma quase obrigação no sentido do endividamento… como interessa ao sistema financeiro e às classes políticas que, na sequência, se apossam do futuro de pessoas e empresas, capturadas pelas obrigações face ao sistema financeiro. Assim, a formação do crédito nasce, não das poupanças mas nas pirâmides de Ponzi em que se insere a prática das titularizações. Essas pirâmides engrandecem-se ainda com a constante entrada nos circuitos “legais” do dinheiro proveniente dos vários tráficos (drogas, armas, seres humanos…), corrupção, etc. para alegria do sistema financeiro e com o olhar distraído da supervisão dos bancos centrais e outros pomposos reguladores; em regra, os governos assanham- se mais contra as fugas fiscais dos pequenos negócios e muito pouco com a evasão fiscal dos ricos4 . Esses reguladores e os governos nacionais, tradicionalmente, mostram- se distraídos com o dinheiro que circula entre o sistema financeiro visível e as dezenas de registos offshore espalhados pelo mundo, mormente em ilhas remotas. As empresas, maximizando a obtenção do crédito barato, reduzem a utilização de capitais próprios; e, no caso português, banalizou-se também – e há muitos anos - a utilização, pelas empresas de contribuições, devidas e não pagas, à sonolenta Segurança Social portuguesa, parasitada por todos os governos… sem qualquer protesto do mundo sindical ou dos partidos ditos da oposição. A delapidação da 4 Em Portugal, o caso BES é um bom exemplo do entrançado de circuitos e da parcimónia como os governos encaram o assunto, incorporando nos seus elencos gente muito bem relacionada com o crime financeiro ou seniors de escritórios de advogados. Nenhum governante se quer (ou pode) mostrar como um Robin dos Bosques, embora abundem no seu seio os funcionários dos… sheriffs de Nottingham.
  • 8. Grazia.tanta@gmail.com 1/10/2020 8 Segurança Social é uma prática recorrente que faz parte de um acordo tácito no seio da classe política. A competitividade das empresas vai assim surgir dos baixos níveis salariais dos trabalhadores – atomizados e desorganizados - nas horas de trabalho não pagas, no trabalho precário, no despedimento facilitado ou mesmo, pelos layoffs facilitados pelo governo em tempos de covid-19. Todo este sistema baseado em cascatas de crédito é extremamente vulnerável mesmo que ancorado em taxas de juro bastante baixas, para evitar dificuldades às empresas e, ligadas a taxas de inflação igualmente baixas; assim, fomenta-se uma elevada propensão consumista da população que, com salários estagnados, envereda pelo recurso ao crédito, facilitado pela banca. Este modelo de integração de entidades – empresas, mormente as mais pequenas, os Estados e a banca – depende essencialmente do banco central que dificilmente o poderá cancelar:  O abastecimento do sistema financeiro não pode cessar pois o crédito bancário seria bem mais caro e difícil de obter sem firmes garantias, o que muitas empresas não poderiam oferecer;  A sua cessação conduziria a uma enorme crise global, seria o desabar de um castelo de cartas, com a falência de inúmeras empresas, endividadas e com acumulação de malparado nos bancos. A ativação de hipotecas conduziria à acumulação de imobiliário sem compradores e, portanto, desvalorizado, com impactos a montante, na construção, que incorpora elementos de muitas indústrias, serviços e trabalho;  Os despedimentos de trabalhadores e a mobilização de rendimentos de substituição, vindos da esfera estatal, não evitariam dificuldades no pagamento das prestações dos créditos para habitação;  Os subsequentes efeitos nas contas públicas (deficits) afetariam o habitual recurso a “leilões” de dívida pública, certamente com taxas de juro muito mais altas do que hoje. Este e outros textos em: http://grazia-tanta.blogspot.com/ http://www.slideshare.net/durgarrai/documents https://pt.scribd.com/uploads