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subconsumista superacumulacionista
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subconsumista superacumulacionista
Divisória:
o que
divide os
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macroeconomia
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subconsumista
Explicação
superacumulacionista
Lei
tendencial
da queda
da taxa de
lucro
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não-
marxianos
ou mesmo
Marxistas
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Marxistas
marxianos
Justificativa da divisória
• Marx, no capítulo A lei tendencial da queda
da taxa de juros, afirma:
“(...) tampouco toda a Economia até hoje (...)
conseguiu descobri-la. (...) Dada, porém, a
grande importância que essa lei tem para a
produção capitalista, pode-se dizer que constitui
o mistério em torno de cuja solução toda a
Economia Política gira (...)”
O que é a lei de Marx?
Apresentação mecânica
Taxa de lucro =
𝑚
𝑐+𝑣
=
𝑚𝑣
𝑣(𝑐+𝑣)
=
𝑚𝑐+𝑚𝑣−𝑚𝑐
𝑣(𝑐+𝑣)
=
r =
𝑚
𝑣
[ 𝑐+𝑣
𝑐+𝑣
−
𝑐
𝑐+𝑣
]= s (1 – q) →
Apresentação mecânica
r = s (1 – q)
Nessa igualdade, s =
𝑚
𝑣
→ taxa de mais-valia.
E q =
𝑐
𝑐+𝑣
→ composição orgânica do capital
O que é... (cont.)
Lei na forma mecânica
Como r = s (1 – q), se “s” permanece
constante mas “q” se eleva, então “r”
cai.
Ora, ter-se-á uma lei mecânica válida
se esse modelo reger de fato a
acumulação de capital.
Por que essa explicação
é mecânica?
?
Resp.: Sistema Fechado
Por que Marx fala em
lei tendencial?
?
Resp.: Sistema Aberto
A lei em resumo
1) O MPC impõem uma lógica ao
capitalista:
a) economizar trabalho (aumentar a
produtividade do trabalho). Daí, Marx, com
mediações, vai tirar a lei da queda tendencial da
taxa de lucro.
b) incorporar mais trabalho (acumular,
acumular). Daí Marx vai tirar a tendência ao
aumento da massa de mais valia.
2) No processo da concorrência, os
capitalistas são levados a introduzir novos meios
de produção e a incorporar novas tecnologias.
Ao fazê-lo, eles buscam aumentar sobretudo a
produtividade do trabalho.
Nota: A competição é um fenômeno muito
mais complexo. O seu caráter acima ressaltado é
crucial para entender a lei de Marx.
3) Para o capitalista individual, aumentar a
produtividade do trabalho implica em aumentar
a taxa de lucro que pode obter.
Ao mesmo tempo, a vantagem competitiva
lhe permite aumentar a massa de lucro que
pode capturar.
4) As novas tecnologias tendem a
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orgânica dos setores em que as empresas
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individual não se preocupa com isso.
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Marx: “a taxa de lucro não cai porque o trabalho
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torna mais produtivo”.
6) As empresas inovadoras aumentam a
produtividade para obter mais lucro. Ela não
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menos valor e menos mais-valia.
Como isto é possível? Sem que saibam, as
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tecnologicamente e de outros setores.
Assim, em consequência, nas empresas
inovadoras, a taxa de lucro sobe, mas no setor e
na economia como um todo, a taxa de lucro cai.
Marx: “Como tudo na concorrência, e
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assim também essa lei...”
7) A lei é tendencial. Surgem contra-
tendências: algumas são autônomas (ex.:
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induzidas pela própria atuação da lei (ex.:
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8) A lei é mais forte do que as contra-
tendências no longo prazo. Conforme declina o
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quebram; o desemprego aumenta.
9) A crise, ao destruir capital, faz com que
diminua a composição orgânica; ela cria, assim,
as condições para a recuperação da TML: a volta
dos investimentos.
10) Períodos de crescimento se alteram
com períodos de crise e recessão. Como o
sistema econômico é complexo e dinâmico, só
se pode apreender o seu evolver
historicamente.
A história do capitalismo norte-americano
confirma ou refuta a lei de Marx?
Seguem evidências empíricas fornecidas por
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Evidência
empírica
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orgânica do capital para os setor
produtivos da economia norte americana
– 1948-2009.
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Taxa de lucro médio e Taxa de exploração
para os setor produtivos da economia
norte americana – 1948-2009.
Evidência
empírica
Taxa de lucro médio para os setor
produtivos da economia norte americana,
supondo que a taxa de exploração
mantivesse a tendência média entre 1948
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A lei de Marx
A compreensão do capitalismo
Marx: “A produção capitalista procura
constantemente superar as barreiras que lhe são
imanentes, mas só as supera por meios que lhe
antepõem novamente essas barreiras e em
escala mais poderosa”
A barreira é imanente
O capital é sujeito
Marx: “A verdadeira barreira da produção
capitalista é o próprio capital, isto é: que o
capital e sua autovalorização apareçam como
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motivo e finalidade da produção; que a
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“A questão que examinarei” – diz em seu
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completamente desenvolvido, pensado como
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difundido e universal, vem a ser capaz de
desenvolver o seu processo reprodutivo
continua e indefinidamente, ou se esse processo
de expansão chega a limites de um tipo ou
outro, os quais ele não pode superar”
(Grossmann, 1992, p. 31).
É a crise que decorre do excesso de capital
frente à massa de mais-valia que está sendo
gerada na esfera da produção.
Ela é produzida, segundo Marx, pelo
próprio desenvolvimento da relação de capital, a
qual ele denomina de contradição em processo
e sujeito automático.
É a crise que decorre da limitação do
consumo frente às possibilidades da produção.
Ela é produzida, segundo Sweezy, porque a
economia capitalista é um sistema de produção
que promove a riqueza dos capitalistas às custas
da pobreza dos trabalhadores.
Segundo Sweezy, “o processo de produção
é e deve permanecer, qualquer que seja a sua
forma histórica, um processo de produção de
bens para o consumo humano...
Os meios de produção são produzidos
tendo em vista a sua utilização final, direta ou
indireta, na produção de bens de consumo.
A tarefa real da teoria do subconsumo é
demostrar que o capitalismo tem uma tendência
inerente a expandir a sua capacidade de
produzir bens de consumo mais rapidamente do
que a demanda de bens de consumo”.
E então...
O que pensa David Harvey sobre:
a) a lei de Marx?
b) o valor?
c) o capital?
d) a crise?
A lei de Marx funciona?
Resposta: “É difícil fazer a teoria de Marx
sobre a queda da taxa de lucros funcionar
quando a inovação é tanto para economizar (...)
meios de produção quanto para economizar
trabalho” (EC, p. 82).
Logo, segundo Harvey, o capitalista é
indiferente entre economizar meios de
produção ou trabalho; eis que ambos são meros
fatores de produção para o capitalista.
Marx foi consistente?
Resposta: Ademais “o próprio Marx, na
verdade, listou uma série de influências de
contra-tendências para a queda da taxa de lucro
(...)” (EC, p. 82).
Conclui-se portanto, segundo Harvey, que
Marx foi contraditório, apresentou uma lei e a
sua negação?
Qual o erro de Marx?
Resposta: “Essa lista é tão longa que torna
a explicação de uma “lei” sólida de queda de
lucros uma resposta mecânica à inovação para
economizar trabalho, que permanece uma
proposta insuficiente” (EC, p. 82).
Conclui-se portanto, segundo Harvey, que
Marx era mecanicista – talvez
involuntariamente?
Que lei é essa, afinal?
Resposta: “Há, de fato, uma boa dose de
confusão quanto ao estatuto epistemológico
dessa lei – uma confusão assinalada por Marx
de várias formas referindo-se a ela como uma
‘lei’, uma ‘tendência’ ou mesmo como um
híbrido ‘lei de tendência’.” (LC, p. 180).
Conclui-se portanto, segundo Harvey, que Marx
era um “epistemólogo” muito confuso?
E sobre o valor?
Comentando a tese do capitalismo
monopolista de Baran e Sweezy, Harvey diz:
“O abandono do ‘modelo competitivo’ em
Marx acarreta certamente o abandono da lei do
valor – o que, para o seu crédito, Baran e
Sweezy estavam totalmente preparados para
fazê-lo.” (LC, p. 141). Cont.
“A dificuldade é que não se pode subtrai-la [a lei do
valor], chave da análise de Marx, sem questionar
seriamente e comprometer todas as outras categorias
marxianas.” (LC, p. 141).
“Há certa ironia aqui. Enquanto Baran e Sweezy
abandonam a lei do valor na troca, Braverman (...) mostra
como ela captura com extraordinária precisão
devastadora o que prevalece na produção. Como o valor
pode prevalecer na produção, mas não na troca, é um
mistério para mim” (LC, p. 142).
Ou seja, o valor é sobretudo uma
explicação de preços que não funciona.
E sobre o capital?
“O capital é o sangue que flui através do
corpo político de todas as sociedades que
chamamos de capitalistas. (...)
(...) É graças a esse fluxo que nós, que
vivemos no capitalismo, adquirimos nosso pão
de cada dia, assim como nossas casas, carros,
telefones celulares, camisas, sapatos e todos os
outros bens necessários para garantir nossa
vida no dia a dia” (EC, p. 7).
E sobre a teoria crise?
“Na ausência de quaisquer limites ou
barreiras, a necessidade de reinvestir a fim de
continuar a ser um capitalista impulsiona o
capitalismo a se expandir a uma taxa composta.
Isso cria então uma necessidade permanente
de encontrar novos campos de atividade para
absorver o capital reinvestido: daí ‘o problema da
absorção do excedente de capital’. De onde virão as
novas oportunidades de investimento? Existem
limites” (EC, p. 45).
“Mas existem outros potenciais obstáculos à
circulação do capital, que, ao se tornarem
instransponíveis, podem produzir uma crise
(definida como uma condição em que os
excedentes de produção e reinvestimento estão
bloqueados).
O crescimento, em seguida, para e parece
haver um excesso ou superacumulação de capital
em relação às possibilidades de uso desse capital de
forma lucrativa. Se o crescimento não recomeça,
então o capital superacumulado se desvaloriza ou é
destruído” (EC, p. 45).
“O exame do fluxo de capital por meio da
produção revela seis barreiras potenciais à
acumulação, que devem ser negociadas para o
capital ser reproduzido:
i) capital inicial sobre a forma de dinheiro
insuficiente;
ii) escassez de oferta de trabalho ou
dificuldades políticas associadas a ela;
iii) meios de produção inadequados,
incluindo os chamados ‘limites naturais’;
iv) tecnologias e formas organizacionais
inadequadas;
v) resistências ou ineficiências no processo
de trabalho;
e vi) falta de demanda fundamentada em
dinheiro para pagar no mercado.
Um bloqueio em qualquer um desses
pontos interrompe a continuidade do fluxo de
capital e, se prolongado, acaba produzindo uma
crise de desvalorização” (EC, p. 46-47).
E sobre a crise atual?
O neoliberalismo “se refere a um projeto
de classe que surgiu na crise dos anos 70. (...)
legitimou políticas draconianas destinadas a
restaurar e consolidar o poder da classe
capitalista” (EC, p. 16).
Assim, com base em diversas
transformações, ele mostra que “o trabalho não
é mais um problema para o capital, e não tem
sido pelos últimos 25 anos” (EC, p. 22).
“Mas o trabalho desempoderado significa
baixos salários, e os trabalhadores pobres não
constituem um mercado vibrante”
‘“A persistente repressão salarial, portanto,
coloca o problema da falta de demanda para a
expansão da produção das corporações
capitalistas”
“Um obstáculo para a acumulação de
capital – a questão [do poder] do trabalho – é
superado em detrimento da criação de outro – a
falta de mercado. Então, como contornar essa
segunda barreira?” (EC, p. 22).
“A lacuna entre o que o trabalho estava
ganhando e o que ele poderia gastar foi
preenchida pelo crescimento da indústria de
cartões de crédito e aumento do
endividamento” (EC, p. 22).
Em conclusão
David Harvey explica a crise pelo
subconsumismo. E o subconsumismo, vale
lembrar, pressupõem que a meta do sistema é a
produção de valores de uso.
Como a crise para Marx é centralmente de
superacumulação, David Harvey é um marxista
não-marxiano.
CQD

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  • 1. O enigma do capital e as crises do capitalismo de David Harvey – um comentário de cabeça erguida
  • 2. Compreensão da Crise Financista (Centra-se na esfera do capital financeiro) Industrialista (Centra-se na esfera do capital industrial) subconsumista superacumulacionista Robin Blackburn Chris Harman John Bellamy Foster
  • 3. Compreensão da Crise Financista Industrialista Explicação subconsumista superacumulacionista Divisória: o que divide os marxistas? Divisória: autonomia da macroeconomia
  • 4. Explicação subconsumista Explicação superacumulacionista Lei tendencial da queda da taxa de lucro Marxistas não- marxianos ou mesmo Marxistas keynesianos Marxistas marxianos
  • 5. Justificativa da divisória • Marx, no capítulo A lei tendencial da queda da taxa de juros, afirma: “(...) tampouco toda a Economia até hoje (...) conseguiu descobri-la. (...) Dada, porém, a grande importância que essa lei tem para a produção capitalista, pode-se dizer que constitui o mistério em torno de cuja solução toda a Economia Política gira (...)”
  • 6. O que é a lei de Marx? Apresentação mecânica Taxa de lucro = 𝑚 𝑐+𝑣 = 𝑚𝑣 𝑣(𝑐+𝑣) = 𝑚𝑐+𝑚𝑣−𝑚𝑐 𝑣(𝑐+𝑣) = r = 𝑚 𝑣 [ 𝑐+𝑣 𝑐+𝑣 − 𝑐 𝑐+𝑣 ]= s (1 – q) →
  • 7. Apresentação mecânica r = s (1 – q) Nessa igualdade, s = 𝑚 𝑣 → taxa de mais-valia. E q = 𝑐 𝑐+𝑣 → composição orgânica do capital O que é... (cont.)
  • 8. Lei na forma mecânica Como r = s (1 – q), se “s” permanece constante mas “q” se eleva, então “r” cai. Ora, ter-se-á uma lei mecânica válida se esse modelo reger de fato a acumulação de capital.
  • 9. Por que essa explicação é mecânica? ? Resp.: Sistema Fechado
  • 10. Por que Marx fala em lei tendencial? ? Resp.: Sistema Aberto
  • 11. A lei em resumo 1) O MPC impõem uma lógica ao capitalista: a) economizar trabalho (aumentar a produtividade do trabalho). Daí, Marx, com mediações, vai tirar a lei da queda tendencial da taxa de lucro. b) incorporar mais trabalho (acumular, acumular). Daí Marx vai tirar a tendência ao aumento da massa de mais valia.
  • 12. 2) No processo da concorrência, os capitalistas são levados a introduzir novos meios de produção e a incorporar novas tecnologias. Ao fazê-lo, eles buscam aumentar sobretudo a produtividade do trabalho. Nota: A competição é um fenômeno muito mais complexo. O seu caráter acima ressaltado é crucial para entender a lei de Marx.
  • 13. 3) Para o capitalista individual, aumentar a produtividade do trabalho implica em aumentar a taxa de lucro que pode obter. Ao mesmo tempo, a vantagem competitiva lhe permite aumentar a massa de lucro que pode capturar.
  • 14. 4) As novas tecnologias tendem a substituir trabalhadores por meios de produção. Isto gera desemprego. E aumenta a composição orgânica das empresas inovadoras. Ora, isto aumenta, também, a composição orgânica dos setores em que as empresas inovadores produzem. Assim como, da economia como um todo. Porém, o capitalista individual não se preocupa com isso.
  • 15. 5) Por que cai a TLM? Como o trabalho cria valor, menos trabalho vivo significa menos valor. A inovação poupadora de trabalho aumenta o trabalho morto em detrimento do trabalho vivo. São dois lados da mesma moeda: cai a TLM e aumenta a produtividade do trabalho. Marx: “a taxa de lucro não cai porque o trabalho se torna menos produtivo, mas porque ele se torna mais produtivo”.
  • 16. 6) As empresas inovadoras aumentam a produtividade para obter mais lucro. Ela não sabem que os seus trabalhadores produzirão menos valor e menos mais-valia. Como isto é possível? Sem que saibam, as empresas avançadas tecnologicamente “chupam” mais-valia das empresas atrasadas tecnologicamente e de outros setores.
  • 17. Assim, em consequência, nas empresas inovadoras, a taxa de lucro sobe, mas no setor e na economia como um todo, a taxa de lucro cai. Marx: “Como tudo na concorrência, e portanto na consciência dos agentes da concorrência, se apresenta de modo invertido, assim também essa lei...”
  • 18. 7) A lei é tendencial. Surgem contra- tendências: algumas são autônomas (ex.: economia de capital constante); outras são induzidas pela própria atuação da lei (ex.: aumento da taxa de exploração). 8) A lei é mais forte do que as contra- tendências no longo prazo. Conforme declina o estímulo para investir, a crise emerge: empresas quebram; o desemprego aumenta.
  • 19. 9) A crise, ao destruir capital, faz com que diminua a composição orgânica; ela cria, assim, as condições para a recuperação da TML: a volta dos investimentos. 10) Períodos de crescimento se alteram com períodos de crise e recessão. Como o sistema econômico é complexo e dinâmico, só se pode apreender o seu evolver historicamente.
  • 20. A história do capitalismo norte-americano confirma ou refuta a lei de Marx? Seguem evidências empíricas fornecidas por Guilhermo Carchedi... ?
  • 21. Evidência empírica Taxa de lucro médio e Composição orgânica do capital para os setor produtivos da economia norte americana – 1948-2009.
  • 22. Evidência empírica Taxa de lucro médio e Taxa de exploração para os setor produtivos da economia norte americana – 1948-2009.
  • 23. Evidência empírica Taxa de lucro médio para os setor produtivos da economia norte americana, supondo que a taxa de exploração mantivesse a tendência média entre 1948 e 1986.
  • 24. A lei de Marx A compreensão do capitalismo Marx: “A produção capitalista procura constantemente superar as barreiras que lhe são imanentes, mas só as supera por meios que lhe antepõem novamente essas barreiras e em escala mais poderosa”
  • 25. A barreira é imanente O capital é sujeito Marx: “A verdadeira barreira da produção capitalista é o próprio capital, isto é: que o capital e sua autovalorização apareçam como ponto de partida e ponto de chegada, como motivo e finalidade da produção; que a produção seja apenas produção para o capital e não inversamente (...).
  • 26. A contradição principal O capital é autotélico... e autodestrutivo Marx: “O meio – desenvolvimento incondicional das forças produtivas sociais do trabalho – entra em contínuo conflito com o objetivo limitado, a valorização do capital existente”.
  • 27. A divisória de Grossmann “A questão que examinarei” – diz em seu livro clássico – “é se o capitalismo completamente desenvolvido, pensado como um sistema econômico que prevalece de modo difundido e universal, vem a ser capaz de desenvolver o seu processo reprodutivo continua e indefinidamente, ou se esse processo de expansão chega a limites de um tipo ou outro, os quais ele não pode superar” (Grossmann, 1992, p. 31).
  • 28. É a crise que decorre do excesso de capital frente à massa de mais-valia que está sendo gerada na esfera da produção. Ela é produzida, segundo Marx, pelo próprio desenvolvimento da relação de capital, a qual ele denomina de contradição em processo e sujeito automático.
  • 29. É a crise que decorre da limitação do consumo frente às possibilidades da produção. Ela é produzida, segundo Sweezy, porque a economia capitalista é um sistema de produção que promove a riqueza dos capitalistas às custas da pobreza dos trabalhadores.
  • 30. Segundo Sweezy, “o processo de produção é e deve permanecer, qualquer que seja a sua forma histórica, um processo de produção de bens para o consumo humano... Os meios de produção são produzidos tendo em vista a sua utilização final, direta ou indireta, na produção de bens de consumo. A tarefa real da teoria do subconsumo é demostrar que o capitalismo tem uma tendência inerente a expandir a sua capacidade de produzir bens de consumo mais rapidamente do que a demanda de bens de consumo”.
  • 31. E então... O que pensa David Harvey sobre: a) a lei de Marx? b) o valor? c) o capital? d) a crise?
  • 32. A lei de Marx funciona? Resposta: “É difícil fazer a teoria de Marx sobre a queda da taxa de lucros funcionar quando a inovação é tanto para economizar (...) meios de produção quanto para economizar trabalho” (EC, p. 82). Logo, segundo Harvey, o capitalista é indiferente entre economizar meios de produção ou trabalho; eis que ambos são meros fatores de produção para o capitalista.
  • 33. Marx foi consistente? Resposta: Ademais “o próprio Marx, na verdade, listou uma série de influências de contra-tendências para a queda da taxa de lucro (...)” (EC, p. 82). Conclui-se portanto, segundo Harvey, que Marx foi contraditório, apresentou uma lei e a sua negação?
  • 34. Qual o erro de Marx? Resposta: “Essa lista é tão longa que torna a explicação de uma “lei” sólida de queda de lucros uma resposta mecânica à inovação para economizar trabalho, que permanece uma proposta insuficiente” (EC, p. 82). Conclui-se portanto, segundo Harvey, que Marx era mecanicista – talvez involuntariamente?
  • 35. Que lei é essa, afinal? Resposta: “Há, de fato, uma boa dose de confusão quanto ao estatuto epistemológico dessa lei – uma confusão assinalada por Marx de várias formas referindo-se a ela como uma ‘lei’, uma ‘tendência’ ou mesmo como um híbrido ‘lei de tendência’.” (LC, p. 180). Conclui-se portanto, segundo Harvey, que Marx era um “epistemólogo” muito confuso?
  • 36. E sobre o valor? Comentando a tese do capitalismo monopolista de Baran e Sweezy, Harvey diz: “O abandono do ‘modelo competitivo’ em Marx acarreta certamente o abandono da lei do valor – o que, para o seu crédito, Baran e Sweezy estavam totalmente preparados para fazê-lo.” (LC, p. 141). Cont.
  • 37. “A dificuldade é que não se pode subtrai-la [a lei do valor], chave da análise de Marx, sem questionar seriamente e comprometer todas as outras categorias marxianas.” (LC, p. 141). “Há certa ironia aqui. Enquanto Baran e Sweezy abandonam a lei do valor na troca, Braverman (...) mostra como ela captura com extraordinária precisão devastadora o que prevalece na produção. Como o valor pode prevalecer na produção, mas não na troca, é um mistério para mim” (LC, p. 142). Ou seja, o valor é sobretudo uma explicação de preços que não funciona.
  • 38. E sobre o capital? “O capital é o sangue que flui através do corpo político de todas as sociedades que chamamos de capitalistas. (...) (...) É graças a esse fluxo que nós, que vivemos no capitalismo, adquirimos nosso pão de cada dia, assim como nossas casas, carros, telefones celulares, camisas, sapatos e todos os outros bens necessários para garantir nossa vida no dia a dia” (EC, p. 7).
  • 39. E sobre a teoria crise? “Na ausência de quaisquer limites ou barreiras, a necessidade de reinvestir a fim de continuar a ser um capitalista impulsiona o capitalismo a se expandir a uma taxa composta. Isso cria então uma necessidade permanente de encontrar novos campos de atividade para absorver o capital reinvestido: daí ‘o problema da absorção do excedente de capital’. De onde virão as novas oportunidades de investimento? Existem limites” (EC, p. 45).
  • 40. “Mas existem outros potenciais obstáculos à circulação do capital, que, ao se tornarem instransponíveis, podem produzir uma crise (definida como uma condição em que os excedentes de produção e reinvestimento estão bloqueados). O crescimento, em seguida, para e parece haver um excesso ou superacumulação de capital em relação às possibilidades de uso desse capital de forma lucrativa. Se o crescimento não recomeça, então o capital superacumulado se desvaloriza ou é destruído” (EC, p. 45).
  • 41. “O exame do fluxo de capital por meio da produção revela seis barreiras potenciais à acumulação, que devem ser negociadas para o capital ser reproduzido: i) capital inicial sobre a forma de dinheiro insuficiente; ii) escassez de oferta de trabalho ou dificuldades políticas associadas a ela; iii) meios de produção inadequados, incluindo os chamados ‘limites naturais’;
  • 42. iv) tecnologias e formas organizacionais inadequadas; v) resistências ou ineficiências no processo de trabalho; e vi) falta de demanda fundamentada em dinheiro para pagar no mercado. Um bloqueio em qualquer um desses pontos interrompe a continuidade do fluxo de capital e, se prolongado, acaba produzindo uma crise de desvalorização” (EC, p. 46-47).
  • 43. E sobre a crise atual? O neoliberalismo “se refere a um projeto de classe que surgiu na crise dos anos 70. (...) legitimou políticas draconianas destinadas a restaurar e consolidar o poder da classe capitalista” (EC, p. 16). Assim, com base em diversas transformações, ele mostra que “o trabalho não é mais um problema para o capital, e não tem sido pelos últimos 25 anos” (EC, p. 22).
  • 44. “Mas o trabalho desempoderado significa baixos salários, e os trabalhadores pobres não constituem um mercado vibrante” ‘“A persistente repressão salarial, portanto, coloca o problema da falta de demanda para a expansão da produção das corporações capitalistas”
  • 45. “Um obstáculo para a acumulação de capital – a questão [do poder] do trabalho – é superado em detrimento da criação de outro – a falta de mercado. Então, como contornar essa segunda barreira?” (EC, p. 22). “A lacuna entre o que o trabalho estava ganhando e o que ele poderia gastar foi preenchida pelo crescimento da indústria de cartões de crédito e aumento do endividamento” (EC, p. 22).
  • 46. Em conclusão David Harvey explica a crise pelo subconsumismo. E o subconsumismo, vale lembrar, pressupõem que a meta do sistema é a produção de valores de uso. Como a crise para Marx é centralmente de superacumulação, David Harvey é um marxista não-marxiano. CQD