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A ECONOMIA GEOPOLÍTICA DO PÓS-GUERRA


Agradecimentos; Agradeço a Carlos Medeiros, Franklin Serrano e Luiz Eduardo Melin de C. Silva pelas
discussões que antecederam a elaboração do artigo. A José Ribeiro de Lira cujo convívio e leitura de seu
trabalho “Economia de Guerra e Capitalismo”, lamentavelmente inédito, permitiram que pudesse escrever
este texto provisório. Todos estão, obviamente, isentos das impropriedades que estão presente neste
artigo.



PROLEGÔMENOS 1

Devo iniciar este artigo com um bom punhado de desculpas.A primeira delas pelo caráter
informal do texto. A segunda pelo conteúdo especulativo que fica entre a ousadia e a
inocência. Mas não ficamos por aí.As idéias que apresento a seguir têm lacunas e
imprecisões; desde logo reconheço.Algumas parecerão velhas e arcaicas. Outras são ,de
fato, antigas idéias mas, como espero mostrar, serão vigorosas na explicação das
questões sobre as quais escrevo.Acho que este preâmbulo revela algumas das fraquezas
desse trabalho; as outras serão descobertas ao longo de sua leitura se o leitor tiver a
dose de paciência para tal.

Poder, dinheiro, capitalismo, tecnologia, cultura , estados, nações, geopolítica etc, são
alguns elementos que estão no centro das explicações da dinâmica do mundo
contemporâneo.Nem sempre aparecem todos esses elementos articulados em uma
teoria; também a forma de articulá-los varia a cada explicação.

A Economia Política,uma das mais elaboradas tentativas de explicar a dinâmica e a
natureza da sociedade burguesa,realiza uma separação radical entre economia e poder.
Mesmo em sua formulação marxista, o Estado é suprimido como elemento independente
que persegue objetivos próprios. Aparece em papel coadjuvante na luta de
classes,teorizado como instrumento da dominação capitalista e auxiliar da acumulação de
capital.

Não devemos esquecer que a economia política privilegiou o estudo do capital enquanto
um elemento exclusivamente econômico. Os aspectos sociais enfocados se relacionam
com o papel dos homens na distribuição e produção. A idéia de sistema econômico, algo
objetivo e natural, está no âmago do discurso da economia no momento de sua fundação
como ciência.O resultado levou a construção do fato econômico em estado puro.

Um bom exemplo onde essa operação de construção do puro econômico fica mais
evidente é na teoria monetária, cujo desenvolvimento originou um conceito de mercadoria
moeda que, ao possuir uma lógica autônoma,negou, em última instância, a moeda do
Príncipe. O resultado desta construção deixou o Estado fora do núcleo de reflexão da
economia política, remetendo-o para a periferia da teoria.

A tentativa de se estudar o capitalismo deve fazer retroceder essa assepsia teórica e
construir a noção de capitalismo incorporando outras características históricas.


1
    Esta parte resume algumas idéias apresentadas no artigo Valor, Marxismo e História (Castro, 1998,109-124)
-2-


A Geopolítica, para utilizarmos um paradigma de pensamento com distintas raízes
intelectuais,supervaloriza os elementos Estado, Nação, Povo etc,construindo uma lógica
onde as questões referentes ao poder na esfera internacional escondem a complexidade
da dinâmica social (as contradições de classe, por exemplo) e problemas do processo de
acumulação de capital.Mas essas lacunas não invalidam a intuição de que o poder na
esfera internacional é uma questão central para o entendimento do mundo atual2.

Tendo esses dois paradigmas como limites tentaremos rascunhar uma interpretação onde
poder    e    dinheiro  componham     o    núcleo    da   explicação    do    mundo
contemporâneo,alternando-se como variáveis independentes ou mesmo tornando-se
inseparáveis.O que tentaremos fazer é algo que poderíamos chamar de Economia
Geopolítica3.

Em certo sentido essa proposta pode parecer um recuo ao pensamento mercantilista,que
não separava plenamente riqueza e poder. Mas espero que fique claro ao longo deste
artigo que a Economia não só em termos analíticos mas também em termos
instrumentais,como política econômica, jogará um papel muito mais complexo do que
aquele que foi pensado pelo mercantilismo.

Contudo gostaria que ficasse claro que ,apesar da relevância da Economia assinalada no
parágrafo anterior,as motivações de Poder e de Estado prevalecerão como determinantes
na nossa concepção.

Por isso mesmo, o ponto fundamental da noção de capitalismo que devemos explorar
refere-se ao fato de que desde seu surgimento Capital e Estado são aspectos de um
mesmo processo. O desenvolvimento da propriedade privada e do Estado, ambos
apoiados no ressurgimento do direito romano (privado e público,respectivamente), deu
origem a uma estrutura social singular na história. A criação do trabalhador livre e do
capital, tão bem apresentada no capítulo sobre a acumulação primitiva , deve ser
conjugada com a criação do cidadão. Dizendo de forma mais clara, dois elementos são
estruturantes do capitalismo: a relação cidadão-cidadão dada pelo direito privado,que
fundamentará a propriedade privada; a relação cidadão-Estado regulada pelo direito
público.

Essa estrutura social não só permitiu a acumulação de riquezas ao criar condições
favoráveis à acumulação do capital mercantil, como possibilitou o desenvolvimento de sua
forma monetária. A forma mais líquida e especificamente capitalista de riqueza, mas
também sua forma mais regulada e, por que não dizer, estatal .Portanto ,ao se pensar a
economia capitalista como uma economia monetária, não devemos esquecer que a
moeda é ,antes de tudo, uma criatura do Estado e que o mundo dos fenômenos

2
   Talvez a principal fraqueza da geopolítica seja a utilização da geografia como disciplina básica para a discussão dos
problemas de política internacional. Em que pese que as questões internacionais sejam projetadas em territórios,e isso é
uma tautologia, as motivações podem ter, e quase sempre terão, causas distintas. A Geopolítica, por ser identificada
com posições políticas reacionárias, ficou estigmatizada como um saber equivocado.Trata-se de um conhecimento a ser
desenvolvido superando-se os equivocos de suas fo rmulações iniciais.
3
  Agnew & Corbridge no livro “ Mastering Space: hegemony, territory and international political economy “, usam o
termo “geopolitical economy’ no sentido em que usaremos. Vale exclarecer:buscando desenvolver a geopolítica em
bases dis tintas.Revisitando as hipóteses através de um esforço de atualização,historicizando a primazia do Estado
Nacional.
-3-


econômicos, se é que podemos falar de tal coisa, não pode ser dissociado do Estado e
suas razões.

A INVISIBILIDADE DA CONSTRUÇÃO DO IMPÉRIO OU A CORUJA SÓ PODE SER
VISTA NA BOCA DA NOITE.

Mas vamos deixar essas considerações de caráter metodológico para outra oportunidade.
O que gostaria de apresentar agora é um conjunto de idéias que estão atazanando meus
pensamentos há algum tempo. E para não me perder ao longo da explicação, além do
esperado pela complexidade do assunto, vou começar pelo fim, ou seja ,pelo produto
histórico em sua forma mais desenvolvida.

Hoje existe um quase consenso sobre a situação dos Estados Unidos no panorama
mundial. São indubitavelmente a potência hegemônica, a potência imperial.

 Entretanto, o que é curioso com relação a este fato foi o retardo com que se percebeu
essa posição singular. Ao longo do período no qual os Estados Unidos estavam
construindo tal Império sua posição quase sempre foi percebida como frágil. A crise do
petróleo, o fim da guerra do Vietnam e a crise do dólar marcaram para muitos, no início
dos anos setenta, o início do fim da era americana, que de resto não tinha conseguido
implantar-se plenamente devido ao incômodo soviético .

Os desarranjos aparentes do dólar perante as outras moedas serviram para testemunhar,
segundo muitos, a fraqueza americana. Mesmo a derrocada do sistema soviético deu
pouco caso a percepção do império que estava em formação. Ainda nos anos finais da
década de oitenta vamos encontrar uma grande adesão à tese da formação de um
mundo multipolar, onde Japão e Alemanha apareciam sempre como titulares em qualquer
escalação das potências globais que estruturariam a economia mundial a partir de blocos.

Inúmeras explicações foram dadas para o “declínio” americano. Muitas, exacerbando um
viés economicista, baseavam-se em algum tipo de análise da estrutura produtiva, para
mostrar que o capitalismo americano tinha ficado para trás na corrida por novas
tecnologias e formas de organizar e administrar as unidades econômicas. Também as
políticas econômicas não seriam adequadas na medida em que não contemplavam ações
de fomento para o aparelho produtivo.

Uma obra que influenciou a opinião no final dos oitenta foi o livro “Ascensão e Queda das
Grandes Potências”. A tese básica defendida pelo autor diz que os gastos militares, a
longo prazo,inviabilizam os investimentos em atividades civis e produtivas.

Arrighi,em obra de indiscutível sucesso,interpreta os desajustes no sistema monetário
internacional como crise sistêmica sinalizadora do declínio americano. Aqui o calcanhar
de Aquiles residiria na especulação financeira e na fragilidade do dólar.

Thurow também abraçou a tese da possibilidade dos Estados Unidos perderem a
competição econômica para os competidores, principalmente o Japão.
-4-


Afinal de contas o que estaria por trás desse conjunto de idéias? Arrisco, mesmo que
precariamente, uma explicação. E com ela estamos nos aproximando do verdadeiro cerne
deste artigo.

Houve excesso de economicismo na análise do capitalismo do pós-guerra. Todas as
atenções se voltaram para o desempenho econômico. O próprio enfrentamento
estratégico das duas superpotências foi muitas vezes apresentado como uma competição
econômica. Dessa forma em nenhum momento questionou-se a possibilidade da
economia ser tão somente um instrumento,uma arma mesmo,na disputa pelo mundo,pois
é disto que se trata 4.


CRISE NA ECONOMIA DOS OUTROS É REFRESCO.


Me explico melhor.A idéia que quero apresentar difere daquela que releva a importância
dos gastos militares para o funcionamento da economia no pós-guerra.Nada contra;
aceitamos a existência do complexo industrial-militar e a idéia de uma “ economia de
guerra em tempo de paz.” (Lira, 1980)

O que queremos ressaltar são duas coisas: a primeira é sublinhar o papel dominante dos
objetivos políticos no jogo estratégico.Vale dizer, se o mundo no pós-guerra só pode ser
pensado a partir da guerra fria,o objetivo principal dos Estados Unidos era o de destruir a
União Soviética,qualquer que fosse o preço desta empreitada. Para tal, os interesses dos
capitalistas individuais seriam sempre subordinados ao interesse estratégico. A segunda é
mostrar como a economia pode ser usada como arma para combalir o inimigo e
pressionar os aliados. De forma sintética estaremos falando de como usar imediatamente
o poder do dinheiro para conquistar mais poder.

A primeira idéia não é controvertida e é facilmente exemplificada.Como entender a
recuperação econômica da Alemanha e do Japão senão no contexto da guerra fria? E a
Coréia que recebeu expressivas quantias dos USA?E o plano Marshall? E os boicotes e
bloqueios comerciais que tiravam das subsidiárias americanas rentáveis oportunidades?E
a abertura dos mercados americanos para os países estrategicamente selecionados?

A segunda tenta ver o processo econômico de forma diferente da visão tradicional.Se a
economia está subordinada à política é perfeitamente aceitável que o desequilíbrio
econômico possa ser um objetivo a ser perseguido. Há inúmeros exemplos de como a
economia foi utilizada para fins políticos. E atenção,estamos falando de fomento a crises
e não de ações de fomento de desenvolvimento nos padrões do plano Marshall,por
exemplo.

Devemos buscar alguns exemplos para melhor desenvolver esta tese.




4
  A exceção a essa hipertrofia do economicismo reside na literatura sobre estratégia,geopolítica e relações
internacionais, bem como no seminal artigo de Tavares (1997).
-5-


O primeiro que pode ser recuperado é o da operação de desestabilização do regime de
Allende, no Chile do início dos anos setenta 5. O relatório do Senado dos USA apresenta
de forma atraente, quase romanesca, como a ITT, a CIA e o Departamento de Estado
estiveram envolvidos em planos para a criação do caos econômico.Resumiremos, dada a
modernidade dos elementos, alguns dos ítens que compõem o “plan to create chilean
economic chaos.” (op.cit. pp 41-42)
- restringir os empréstimos de bancos internacionais governamentais;
- induzir os bancos privados a restringirem seus empréstimos;
- idem para os bancos estrangeiros;
- adiar as compras dos produtos chilenos por seis meses;usar os estoques de cobre já
comprados;
- provocar a escassez de dólares no Chile;
- fechar o mercado americano para as exportações chilenas,bem como suspender
exportações americanas que sejam de grande importância para Allende.

Mas o Chile é um pequeno país, se pode ponderar, e nestes casos as operações para a
desestabilização dos governos são baratas e não põem o sistema em risco. Mas o que
pensarmos da operação contra a URSS? Não estou falando da guerra fria como um todo
e sim daquilo que se convencionou chamar de último estágio, do esforço engendrado pela
administração Reagan. Vamos relembrar alguns de seus elementos?

Para início de conversa devemos deixar claro que, apesar de todos os negativos fatores
estruturais e tensões acumuladas pelo socialismo real,a queda do muro (1989) e da
URSS (1991) foram frutos de uma operação de desestabilização. E, por favor, não
confunda isto com uma teoria conspiratória da história ;trata-se, mesmo, de historiar uma
conspiração, tarefa que foi competentemente realizada por Peter Schweizer (1994).

Vamos qualificar melhor o que foi esta ofensiva americana.Ela atuou no sentido de
exacerbar os problemas que estavam inerentes a economia soviética. O objetivo foi o de
provocar uma crise de recursos e sua principal arma foi uma política econômica agressiva
que, por um lado, provocava uma corrida militar e, por outro lado,agia no sentido de
sabotar ou criar dificuldades para a URSS.

“As metas e meios desta ofensiva foram delineadas em uma série de NSDDs (national
security decision directives) assinadas pelo presidente Reagan em 1982 e
1983”(Schweizer,1994,xv-xvi)

 A Bill Casey coube centralizar através da CIA a implementação da seguinte estratégia:
apoiar o movimento Solidariedade, na Polônia, e o movimento de resistência afegã.
Desenvolver uma campanha para reduzir dramaticamente a disponibilidade de divisas da
URSS. Duas ações seriam fundamentais para a realização desta meta.Conseguir a
cooperação da Arábia Saudita para derrubar os preços do petróleo; limitar as exportações
de gás natural para o ocidente. Reduzir drasticamente o acesso soviético a tecnologia de
ponta.Produzir uma campanha de desinformação para afetar a economia. E, a mais
conhecida meta, iniciar o programa que ficou conhecido como “guerra nas estrelas”.


5
 Uma apresentação detalhada de um plano de desestabilização de um governo é apresentada no relatório sobre a ITT e
o Chile produzido pelo Subcomitê das Corporações Multinacionais do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos
Estados Unidos-1973.
-6-


(Schweizer,1994,xviii-xix)

A contrapartida interna desta estratégia foi a adoção da ‘’reganomics’’que já foi
apresentada no já citado trabalho de Tavares. (1997) O que nos interessa é sublinhar que
o sistema de aliança americano foi forçado a financiar o mais elevado orçamento militar
do pós-guerra. A movida da administração Reagan põe em xeque a URSS ao mesmo
tempo que tensiona seu sistema de alianças, mas hoje fica mais visível o que estava
sendo jogado e quais as prioridades americanas. Uma vez superado o problema soviético
o reenquadramento dos aliados põe fim a idéia de multipolaridade que se desenvolvera
ao longo dos anos oitenta. Anos onde o poder americano estava comprometido com a
destruição de seu principal inimigo, o que deu a errada sensação de que os aliados
estavam ficando fortes.

Mas gostaria de apresentar um outro caso onde a política econômica é influenciada
diretamente por fins estratégicos.

O cerne da guerra-fria foi a preparação para o enfrentamento militar. Podemos sintetizar
esta corrida em duas grandes pistas: a do armamento convencional e a do armamento
nuclear. Para os dois lados o problema do financiamento e, principalmente, o rateio dos
custos entre os respectivos aliados era fundamental.

No que se refere aos americanos logo cedo, ainda na gestão Eisenhauer-Dulles, ficou
evidente que uma política de retaliação maciça implicava no desenvolvimento de
capacidade militar em todas as frentes o que exigia crescentes custos para a economia, o
que levou os USA a adotarem uma estratégia de resposta flexível que se apoiaria numa
‘’divisão de trabalho’’ das funções militares. A resistência dos aliados, principalmente da
França, em aceitarem esta estratégia, forçou que a economia americana arcasse com
crescentes custos militares quando se defrontou com uma guerra realizada com
armamentos convencionais , como ocorreu no Vietnam. O final desta história é conhecido
e implicou no abandono unilateral, por parte dos USA do sistema de Bretton Woods,

A URSS também não passou incólume por este problema. A posição chinesa com relação
a bomba atômica não só privou os soviéticos das divisões militares da China, como
também obrigou-os a concentrarem na fronteira chinesa numerosas forças convencionais.
A tentativa de Kruchev       de definir uma estratégia que se concentrasse na força
nuclear, e para tal seria fundamental      a   descentralização  econômica,    pois    a
possibilidade de retaliação militar ficaria comprometida se houvesse um centro único de
comando, também foi frustrada diante das resistências internas e do quadro do seu falido
sistema de alianças.

Neste último exemplo se a crise econômica não foi um objetivo a ser alcançado, como
nos dois casos anteriores, foi uma conseqüência da predominância dos interesses
estratégicos.

O IMPÉRIO AMERICANO OU A PRODUÇÃO FORDISTA DE CRISES.

O fim da guerra-fria apresentou para o sistema americano de alianças do pós guerra uma
situação totalmente nova. Os USA passam, imediatamente,a reenquadrarem o papel
-7-


relativo de seus aliados. Vamos consultar um trecho de um documento do Departamento
de Defesa para termos uma idéia da estratégia americana na atualidade.

“our first objective is to prevent the re-emergence of a new rival, either on the territory of
the former Soviet Union or elsewhere,that poses a threat on the order of that posed
formerly by the Soviet Union. This is a dominant consideration underlying the new regional
defense strategy and requires that we endeavor to prevent any hostile power from
dominating a region whose resources would, under consolidated control, be sufficient to
general global power.” E segue o documento de forma mais esclarecedora.”The U.S. must
show the leadership necessary to establish and protect a new order that holds the promise
of convincing potential competitors that they need not aspire to a greater role or pursue a
more agressive posture to protect their legitimate interests. In non-defense areas, we must
account sufficiently for the interests of the advanced industrial nations to discourage them
from challenging our leadership... We must maintain the mechanism for deterring potential
competitors from even aspiring to a larger regional or global role.” Continua o
documento.”Our most fundamental goal is to deter or defeat attack from whatever
source...The second goal is to strengthen and extend the system of defense arrangements
that binds democratic and like-minded nations together in common defense against
agression , build habits of cooperation, avoid the renationalization of security policies, and
provide secutity at lower cost and with lower risks for all. Our preference for a collective
response to preclude threats, or, if necessary, to deal with them is a key feature of regional
defense strategy. The third goal is to prelude any hostile power from dominating a region
critical to our interests, and also thereby to strengthen the barriers against the re-
emergence of a global threat to the interests of the U.S. and our allies.
(Rasler&Thompson, 1994,xv-xvi)

O documento acima é suficientemente esclarecedor da geopolítica americana na
atualidade. Resta apenas, a partir de sua leitura, tirarmos algumas conclusões da política
americana para o ordenamento mundial.

A situação americana é singular na história da humanidade. Nenhuma potência imperial
concentrou tanto poder: supremacia militar, controle das principais reservas de petróleo,
liderança tecnológica, cultura universalizante e, principalmente, o poder emissor da
moeda mundial, que pela primeira vez é abertamente uma moeda fiduciária sem nenhum
mecanismo de controle que não o próprio governo americano.

As recentes crises monetárias , da Ásia, Rússia e mesmo a do Brasil , quando lidas com a
hipótese da geopolítica, como instrumentos de controle e dominação, fazem-nos pensar
que com este esquema de aliança a existência de inimigos é totalmente supérflua. Antes
de serem um sintoma do descontrole dos mercados poderão ser, como foi denunciado por
ocasião do ataque especulativo à Malásia, uma operação para obter objetivos políticos.As
exigências por ocasião das negociações com as instituições que operam o Consenso de
Washington vêm reforçar este argumento.

A idéia de que as crises econômicas no contexto imperial não interessam a ninguém já
começa a ser questionada por alguns autores.Citaremos um deles para sairmos de uma
incômoda e falsa solidão. Achcar(1998,105) assinala que os U.S., Alemanha e Japão têm
medo de uma Rússia forte por óbvias razões históricas e geopolíticas, e eles todos sabem
-8-


perfeitamente bem que a reconstrução econômica da Rússia pode somente ajudá-la a
tornar-se forte.

A política imperial vai de encontro a qualquer idéia de independência por parte de Estados
Nacionais, natural portanto que na nova ordem suas instituições basilares sejam
percebidas pela ótica do hegemon como desnecessários e ineficientes anacronismos.

Moeda, Forças Armadas e Legislação Nacional, os atributos do príncipe deverão ser
rapidamente substituídos por instituições globais, que são apresentadas como universais,
como uma conquista da Humanidade no “Fim da História”.




                                       Bibliografia

Achcar, Gibert. “The Strategic Triad: The United States, Russia and China.’’ In New Left
Review 228/1998.

Agnew,John & Corbridge,Stuart. ‘’Mastering Space: hegemony,territory and international
political economy. Routeledge,new york,1995

Arrighi,giovanni. “O Longo Século XX”. Contraponto. 1996

Castro, Marcio H. M. de. “Valor, Marxismo e História”;in Archétypon,Rio de Janeiro,
maio/agosto 1998

Lira, José ribeiro de. “Economia de Guerra e Capitalismo”. Mimeo 1980.

Kennedy,ppaul.   “Ascensão    e   Queda    das   Grandes     Potências’.   Campos.Rio   de
Janeiro.1989.

Rasler, Karen A. & Thompson, William R.. “The Great Powers and Global Struggle 1490-
1990”. The University Press of Kentucky.1994.

Schweizer,Peter. “Victory”. The Atlantic Monthly Press. New York.1994.

Tavares, Maria da Conceição. “A Retomada da Hegemonia Norte-Americana” ;in “Poder
e Dinheiro”, Vozes.1997.

Thurow, Lester. “Cabeça a Cabeça”. Rocco.1993.

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  • 1. A ECONOMIA GEOPOLÍTICA DO PÓS-GUERRA Agradecimentos; Agradeço a Carlos Medeiros, Franklin Serrano e Luiz Eduardo Melin de C. Silva pelas discussões que antecederam a elaboração do artigo. A José Ribeiro de Lira cujo convívio e leitura de seu trabalho “Economia de Guerra e Capitalismo”, lamentavelmente inédito, permitiram que pudesse escrever este texto provisório. Todos estão, obviamente, isentos das impropriedades que estão presente neste artigo. PROLEGÔMENOS 1 Devo iniciar este artigo com um bom punhado de desculpas.A primeira delas pelo caráter informal do texto. A segunda pelo conteúdo especulativo que fica entre a ousadia e a inocência. Mas não ficamos por aí.As idéias que apresento a seguir têm lacunas e imprecisões; desde logo reconheço.Algumas parecerão velhas e arcaicas. Outras são ,de fato, antigas idéias mas, como espero mostrar, serão vigorosas na explicação das questões sobre as quais escrevo.Acho que este preâmbulo revela algumas das fraquezas desse trabalho; as outras serão descobertas ao longo de sua leitura se o leitor tiver a dose de paciência para tal. Poder, dinheiro, capitalismo, tecnologia, cultura , estados, nações, geopolítica etc, são alguns elementos que estão no centro das explicações da dinâmica do mundo contemporâneo.Nem sempre aparecem todos esses elementos articulados em uma teoria; também a forma de articulá-los varia a cada explicação. A Economia Política,uma das mais elaboradas tentativas de explicar a dinâmica e a natureza da sociedade burguesa,realiza uma separação radical entre economia e poder. Mesmo em sua formulação marxista, o Estado é suprimido como elemento independente que persegue objetivos próprios. Aparece em papel coadjuvante na luta de classes,teorizado como instrumento da dominação capitalista e auxiliar da acumulação de capital. Não devemos esquecer que a economia política privilegiou o estudo do capital enquanto um elemento exclusivamente econômico. Os aspectos sociais enfocados se relacionam com o papel dos homens na distribuição e produção. A idéia de sistema econômico, algo objetivo e natural, está no âmago do discurso da economia no momento de sua fundação como ciência.O resultado levou a construção do fato econômico em estado puro. Um bom exemplo onde essa operação de construção do puro econômico fica mais evidente é na teoria monetária, cujo desenvolvimento originou um conceito de mercadoria moeda que, ao possuir uma lógica autônoma,negou, em última instância, a moeda do Príncipe. O resultado desta construção deixou o Estado fora do núcleo de reflexão da economia política, remetendo-o para a periferia da teoria. A tentativa de se estudar o capitalismo deve fazer retroceder essa assepsia teórica e construir a noção de capitalismo incorporando outras características históricas. 1 Esta parte resume algumas idéias apresentadas no artigo Valor, Marxismo e História (Castro, 1998,109-124)
  • 2. -2- A Geopolítica, para utilizarmos um paradigma de pensamento com distintas raízes intelectuais,supervaloriza os elementos Estado, Nação, Povo etc,construindo uma lógica onde as questões referentes ao poder na esfera internacional escondem a complexidade da dinâmica social (as contradições de classe, por exemplo) e problemas do processo de acumulação de capital.Mas essas lacunas não invalidam a intuição de que o poder na esfera internacional é uma questão central para o entendimento do mundo atual2. Tendo esses dois paradigmas como limites tentaremos rascunhar uma interpretação onde poder e dinheiro componham o núcleo da explicação do mundo contemporâneo,alternando-se como variáveis independentes ou mesmo tornando-se inseparáveis.O que tentaremos fazer é algo que poderíamos chamar de Economia Geopolítica3. Em certo sentido essa proposta pode parecer um recuo ao pensamento mercantilista,que não separava plenamente riqueza e poder. Mas espero que fique claro ao longo deste artigo que a Economia não só em termos analíticos mas também em termos instrumentais,como política econômica, jogará um papel muito mais complexo do que aquele que foi pensado pelo mercantilismo. Contudo gostaria que ficasse claro que ,apesar da relevância da Economia assinalada no parágrafo anterior,as motivações de Poder e de Estado prevalecerão como determinantes na nossa concepção. Por isso mesmo, o ponto fundamental da noção de capitalismo que devemos explorar refere-se ao fato de que desde seu surgimento Capital e Estado são aspectos de um mesmo processo. O desenvolvimento da propriedade privada e do Estado, ambos apoiados no ressurgimento do direito romano (privado e público,respectivamente), deu origem a uma estrutura social singular na história. A criação do trabalhador livre e do capital, tão bem apresentada no capítulo sobre a acumulação primitiva , deve ser conjugada com a criação do cidadão. Dizendo de forma mais clara, dois elementos são estruturantes do capitalismo: a relação cidadão-cidadão dada pelo direito privado,que fundamentará a propriedade privada; a relação cidadão-Estado regulada pelo direito público. Essa estrutura social não só permitiu a acumulação de riquezas ao criar condições favoráveis à acumulação do capital mercantil, como possibilitou o desenvolvimento de sua forma monetária. A forma mais líquida e especificamente capitalista de riqueza, mas também sua forma mais regulada e, por que não dizer, estatal .Portanto ,ao se pensar a economia capitalista como uma economia monetária, não devemos esquecer que a moeda é ,antes de tudo, uma criatura do Estado e que o mundo dos fenômenos 2 Talvez a principal fraqueza da geopolítica seja a utilização da geografia como disciplina básica para a discussão dos problemas de política internacional. Em que pese que as questões internacionais sejam projetadas em territórios,e isso é uma tautologia, as motivações podem ter, e quase sempre terão, causas distintas. A Geopolítica, por ser identificada com posições políticas reacionárias, ficou estigmatizada como um saber equivocado.Trata-se de um conhecimento a ser desenvolvido superando-se os equivocos de suas fo rmulações iniciais. 3 Agnew & Corbridge no livro “ Mastering Space: hegemony, territory and international political economy “, usam o termo “geopolitical economy’ no sentido em que usaremos. Vale exclarecer:buscando desenvolver a geopolítica em bases dis tintas.Revisitando as hipóteses através de um esforço de atualização,historicizando a primazia do Estado Nacional.
  • 3. -3- econômicos, se é que podemos falar de tal coisa, não pode ser dissociado do Estado e suas razões. A INVISIBILIDADE DA CONSTRUÇÃO DO IMPÉRIO OU A CORUJA SÓ PODE SER VISTA NA BOCA DA NOITE. Mas vamos deixar essas considerações de caráter metodológico para outra oportunidade. O que gostaria de apresentar agora é um conjunto de idéias que estão atazanando meus pensamentos há algum tempo. E para não me perder ao longo da explicação, além do esperado pela complexidade do assunto, vou começar pelo fim, ou seja ,pelo produto histórico em sua forma mais desenvolvida. Hoje existe um quase consenso sobre a situação dos Estados Unidos no panorama mundial. São indubitavelmente a potência hegemônica, a potência imperial. Entretanto, o que é curioso com relação a este fato foi o retardo com que se percebeu essa posição singular. Ao longo do período no qual os Estados Unidos estavam construindo tal Império sua posição quase sempre foi percebida como frágil. A crise do petróleo, o fim da guerra do Vietnam e a crise do dólar marcaram para muitos, no início dos anos setenta, o início do fim da era americana, que de resto não tinha conseguido implantar-se plenamente devido ao incômodo soviético . Os desarranjos aparentes do dólar perante as outras moedas serviram para testemunhar, segundo muitos, a fraqueza americana. Mesmo a derrocada do sistema soviético deu pouco caso a percepção do império que estava em formação. Ainda nos anos finais da década de oitenta vamos encontrar uma grande adesão à tese da formação de um mundo multipolar, onde Japão e Alemanha apareciam sempre como titulares em qualquer escalação das potências globais que estruturariam a economia mundial a partir de blocos. Inúmeras explicações foram dadas para o “declínio” americano. Muitas, exacerbando um viés economicista, baseavam-se em algum tipo de análise da estrutura produtiva, para mostrar que o capitalismo americano tinha ficado para trás na corrida por novas tecnologias e formas de organizar e administrar as unidades econômicas. Também as políticas econômicas não seriam adequadas na medida em que não contemplavam ações de fomento para o aparelho produtivo. Uma obra que influenciou a opinião no final dos oitenta foi o livro “Ascensão e Queda das Grandes Potências”. A tese básica defendida pelo autor diz que os gastos militares, a longo prazo,inviabilizam os investimentos em atividades civis e produtivas. Arrighi,em obra de indiscutível sucesso,interpreta os desajustes no sistema monetário internacional como crise sistêmica sinalizadora do declínio americano. Aqui o calcanhar de Aquiles residiria na especulação financeira e na fragilidade do dólar. Thurow também abraçou a tese da possibilidade dos Estados Unidos perderem a competição econômica para os competidores, principalmente o Japão.
  • 4. -4- Afinal de contas o que estaria por trás desse conjunto de idéias? Arrisco, mesmo que precariamente, uma explicação. E com ela estamos nos aproximando do verdadeiro cerne deste artigo. Houve excesso de economicismo na análise do capitalismo do pós-guerra. Todas as atenções se voltaram para o desempenho econômico. O próprio enfrentamento estratégico das duas superpotências foi muitas vezes apresentado como uma competição econômica. Dessa forma em nenhum momento questionou-se a possibilidade da economia ser tão somente um instrumento,uma arma mesmo,na disputa pelo mundo,pois é disto que se trata 4. CRISE NA ECONOMIA DOS OUTROS É REFRESCO. Me explico melhor.A idéia que quero apresentar difere daquela que releva a importância dos gastos militares para o funcionamento da economia no pós-guerra.Nada contra; aceitamos a existência do complexo industrial-militar e a idéia de uma “ economia de guerra em tempo de paz.” (Lira, 1980) O que queremos ressaltar são duas coisas: a primeira é sublinhar o papel dominante dos objetivos políticos no jogo estratégico.Vale dizer, se o mundo no pós-guerra só pode ser pensado a partir da guerra fria,o objetivo principal dos Estados Unidos era o de destruir a União Soviética,qualquer que fosse o preço desta empreitada. Para tal, os interesses dos capitalistas individuais seriam sempre subordinados ao interesse estratégico. A segunda é mostrar como a economia pode ser usada como arma para combalir o inimigo e pressionar os aliados. De forma sintética estaremos falando de como usar imediatamente o poder do dinheiro para conquistar mais poder. A primeira idéia não é controvertida e é facilmente exemplificada.Como entender a recuperação econômica da Alemanha e do Japão senão no contexto da guerra fria? E a Coréia que recebeu expressivas quantias dos USA?E o plano Marshall? E os boicotes e bloqueios comerciais que tiravam das subsidiárias americanas rentáveis oportunidades?E a abertura dos mercados americanos para os países estrategicamente selecionados? A segunda tenta ver o processo econômico de forma diferente da visão tradicional.Se a economia está subordinada à política é perfeitamente aceitável que o desequilíbrio econômico possa ser um objetivo a ser perseguido. Há inúmeros exemplos de como a economia foi utilizada para fins políticos. E atenção,estamos falando de fomento a crises e não de ações de fomento de desenvolvimento nos padrões do plano Marshall,por exemplo. Devemos buscar alguns exemplos para melhor desenvolver esta tese. 4 A exceção a essa hipertrofia do economicismo reside na literatura sobre estratégia,geopolítica e relações internacionais, bem como no seminal artigo de Tavares (1997).
  • 5. -5- O primeiro que pode ser recuperado é o da operação de desestabilização do regime de Allende, no Chile do início dos anos setenta 5. O relatório do Senado dos USA apresenta de forma atraente, quase romanesca, como a ITT, a CIA e o Departamento de Estado estiveram envolvidos em planos para a criação do caos econômico.Resumiremos, dada a modernidade dos elementos, alguns dos ítens que compõem o “plan to create chilean economic chaos.” (op.cit. pp 41-42) - restringir os empréstimos de bancos internacionais governamentais; - induzir os bancos privados a restringirem seus empréstimos; - idem para os bancos estrangeiros; - adiar as compras dos produtos chilenos por seis meses;usar os estoques de cobre já comprados; - provocar a escassez de dólares no Chile; - fechar o mercado americano para as exportações chilenas,bem como suspender exportações americanas que sejam de grande importância para Allende. Mas o Chile é um pequeno país, se pode ponderar, e nestes casos as operações para a desestabilização dos governos são baratas e não põem o sistema em risco. Mas o que pensarmos da operação contra a URSS? Não estou falando da guerra fria como um todo e sim daquilo que se convencionou chamar de último estágio, do esforço engendrado pela administração Reagan. Vamos relembrar alguns de seus elementos? Para início de conversa devemos deixar claro que, apesar de todos os negativos fatores estruturais e tensões acumuladas pelo socialismo real,a queda do muro (1989) e da URSS (1991) foram frutos de uma operação de desestabilização. E, por favor, não confunda isto com uma teoria conspiratória da história ;trata-se, mesmo, de historiar uma conspiração, tarefa que foi competentemente realizada por Peter Schweizer (1994). Vamos qualificar melhor o que foi esta ofensiva americana.Ela atuou no sentido de exacerbar os problemas que estavam inerentes a economia soviética. O objetivo foi o de provocar uma crise de recursos e sua principal arma foi uma política econômica agressiva que, por um lado, provocava uma corrida militar e, por outro lado,agia no sentido de sabotar ou criar dificuldades para a URSS. “As metas e meios desta ofensiva foram delineadas em uma série de NSDDs (national security decision directives) assinadas pelo presidente Reagan em 1982 e 1983”(Schweizer,1994,xv-xvi) A Bill Casey coube centralizar através da CIA a implementação da seguinte estratégia: apoiar o movimento Solidariedade, na Polônia, e o movimento de resistência afegã. Desenvolver uma campanha para reduzir dramaticamente a disponibilidade de divisas da URSS. Duas ações seriam fundamentais para a realização desta meta.Conseguir a cooperação da Arábia Saudita para derrubar os preços do petróleo; limitar as exportações de gás natural para o ocidente. Reduzir drasticamente o acesso soviético a tecnologia de ponta.Produzir uma campanha de desinformação para afetar a economia. E, a mais conhecida meta, iniciar o programa que ficou conhecido como “guerra nas estrelas”. 5 Uma apresentação detalhada de um plano de desestabilização de um governo é apresentada no relatório sobre a ITT e o Chile produzido pelo Subcomitê das Corporações Multinacionais do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos Estados Unidos-1973.
  • 6. -6- (Schweizer,1994,xviii-xix) A contrapartida interna desta estratégia foi a adoção da ‘’reganomics’’que já foi apresentada no já citado trabalho de Tavares. (1997) O que nos interessa é sublinhar que o sistema de aliança americano foi forçado a financiar o mais elevado orçamento militar do pós-guerra. A movida da administração Reagan põe em xeque a URSS ao mesmo tempo que tensiona seu sistema de alianças, mas hoje fica mais visível o que estava sendo jogado e quais as prioridades americanas. Uma vez superado o problema soviético o reenquadramento dos aliados põe fim a idéia de multipolaridade que se desenvolvera ao longo dos anos oitenta. Anos onde o poder americano estava comprometido com a destruição de seu principal inimigo, o que deu a errada sensação de que os aliados estavam ficando fortes. Mas gostaria de apresentar um outro caso onde a política econômica é influenciada diretamente por fins estratégicos. O cerne da guerra-fria foi a preparação para o enfrentamento militar. Podemos sintetizar esta corrida em duas grandes pistas: a do armamento convencional e a do armamento nuclear. Para os dois lados o problema do financiamento e, principalmente, o rateio dos custos entre os respectivos aliados era fundamental. No que se refere aos americanos logo cedo, ainda na gestão Eisenhauer-Dulles, ficou evidente que uma política de retaliação maciça implicava no desenvolvimento de capacidade militar em todas as frentes o que exigia crescentes custos para a economia, o que levou os USA a adotarem uma estratégia de resposta flexível que se apoiaria numa ‘’divisão de trabalho’’ das funções militares. A resistência dos aliados, principalmente da França, em aceitarem esta estratégia, forçou que a economia americana arcasse com crescentes custos militares quando se defrontou com uma guerra realizada com armamentos convencionais , como ocorreu no Vietnam. O final desta história é conhecido e implicou no abandono unilateral, por parte dos USA do sistema de Bretton Woods, A URSS também não passou incólume por este problema. A posição chinesa com relação a bomba atômica não só privou os soviéticos das divisões militares da China, como também obrigou-os a concentrarem na fronteira chinesa numerosas forças convencionais. A tentativa de Kruchev de definir uma estratégia que se concentrasse na força nuclear, e para tal seria fundamental a descentralização econômica, pois a possibilidade de retaliação militar ficaria comprometida se houvesse um centro único de comando, também foi frustrada diante das resistências internas e do quadro do seu falido sistema de alianças. Neste último exemplo se a crise econômica não foi um objetivo a ser alcançado, como nos dois casos anteriores, foi uma conseqüência da predominância dos interesses estratégicos. O IMPÉRIO AMERICANO OU A PRODUÇÃO FORDISTA DE CRISES. O fim da guerra-fria apresentou para o sistema americano de alianças do pós guerra uma situação totalmente nova. Os USA passam, imediatamente,a reenquadrarem o papel
  • 7. -7- relativo de seus aliados. Vamos consultar um trecho de um documento do Departamento de Defesa para termos uma idéia da estratégia americana na atualidade. “our first objective is to prevent the re-emergence of a new rival, either on the territory of the former Soviet Union or elsewhere,that poses a threat on the order of that posed formerly by the Soviet Union. This is a dominant consideration underlying the new regional defense strategy and requires that we endeavor to prevent any hostile power from dominating a region whose resources would, under consolidated control, be sufficient to general global power.” E segue o documento de forma mais esclarecedora.”The U.S. must show the leadership necessary to establish and protect a new order that holds the promise of convincing potential competitors that they need not aspire to a greater role or pursue a more agressive posture to protect their legitimate interests. In non-defense areas, we must account sufficiently for the interests of the advanced industrial nations to discourage them from challenging our leadership... We must maintain the mechanism for deterring potential competitors from even aspiring to a larger regional or global role.” Continua o documento.”Our most fundamental goal is to deter or defeat attack from whatever source...The second goal is to strengthen and extend the system of defense arrangements that binds democratic and like-minded nations together in common defense against agression , build habits of cooperation, avoid the renationalization of security policies, and provide secutity at lower cost and with lower risks for all. Our preference for a collective response to preclude threats, or, if necessary, to deal with them is a key feature of regional defense strategy. The third goal is to prelude any hostile power from dominating a region critical to our interests, and also thereby to strengthen the barriers against the re- emergence of a global threat to the interests of the U.S. and our allies. (Rasler&Thompson, 1994,xv-xvi) O documento acima é suficientemente esclarecedor da geopolítica americana na atualidade. Resta apenas, a partir de sua leitura, tirarmos algumas conclusões da política americana para o ordenamento mundial. A situação americana é singular na história da humanidade. Nenhuma potência imperial concentrou tanto poder: supremacia militar, controle das principais reservas de petróleo, liderança tecnológica, cultura universalizante e, principalmente, o poder emissor da moeda mundial, que pela primeira vez é abertamente uma moeda fiduciária sem nenhum mecanismo de controle que não o próprio governo americano. As recentes crises monetárias , da Ásia, Rússia e mesmo a do Brasil , quando lidas com a hipótese da geopolítica, como instrumentos de controle e dominação, fazem-nos pensar que com este esquema de aliança a existência de inimigos é totalmente supérflua. Antes de serem um sintoma do descontrole dos mercados poderão ser, como foi denunciado por ocasião do ataque especulativo à Malásia, uma operação para obter objetivos políticos.As exigências por ocasião das negociações com as instituições que operam o Consenso de Washington vêm reforçar este argumento. A idéia de que as crises econômicas no contexto imperial não interessam a ninguém já começa a ser questionada por alguns autores.Citaremos um deles para sairmos de uma incômoda e falsa solidão. Achcar(1998,105) assinala que os U.S., Alemanha e Japão têm medo de uma Rússia forte por óbvias razões históricas e geopolíticas, e eles todos sabem
  • 8. -8- perfeitamente bem que a reconstrução econômica da Rússia pode somente ajudá-la a tornar-se forte. A política imperial vai de encontro a qualquer idéia de independência por parte de Estados Nacionais, natural portanto que na nova ordem suas instituições basilares sejam percebidas pela ótica do hegemon como desnecessários e ineficientes anacronismos. Moeda, Forças Armadas e Legislação Nacional, os atributos do príncipe deverão ser rapidamente substituídos por instituições globais, que são apresentadas como universais, como uma conquista da Humanidade no “Fim da História”. Bibliografia Achcar, Gibert. “The Strategic Triad: The United States, Russia and China.’’ In New Left Review 228/1998. Agnew,John & Corbridge,Stuart. ‘’Mastering Space: hegemony,territory and international political economy. Routeledge,new york,1995 Arrighi,giovanni. “O Longo Século XX”. Contraponto. 1996 Castro, Marcio H. M. de. “Valor, Marxismo e História”;in Archétypon,Rio de Janeiro, maio/agosto 1998 Lira, José ribeiro de. “Economia de Guerra e Capitalismo”. Mimeo 1980. Kennedy,ppaul. “Ascensão e Queda das Grandes Potências’. Campos.Rio de Janeiro.1989. Rasler, Karen A. & Thompson, William R.. “The Great Powers and Global Struggle 1490- 1990”. The University Press of Kentucky.1994. Schweizer,Peter. “Victory”. The Atlantic Monthly Press. New York.1994. Tavares, Maria da Conceição. “A Retomada da Hegemonia Norte-Americana” ;in “Poder e Dinheiro”, Vozes.1997. Thurow, Lester. “Cabeça a Cabeça”. Rocco.1993.