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O capitalismo em crise? - I
Publicado no JCAM em 05 e 06 de outubro de 2008
Nilson Pimentel (*)
Desde o surgimento do que hoje se conhece por Capitalismo, acredita-se que seja o mais
competente e vigoroso sistema econômico que o mundo civilizado conheça. Ao contrário do
que dizem seus opositores, o Capitalismo já deu provas de longa sobrevivência e de
renascimentos após graves crises de desconstruções e de processos de novos paradigmas de
reconstruções de seus modos de produção. Mesmo a despeito do progresso material
alcançado pela humanidade, o Capitalismo possui ferrenhos opositores, principalmente, em
face da absorção e mobilização dos fatores de produção para produzir bens e serviços que
tanto os indivíduos em sociedade saciam suas necessidades e geram riqueza.
Sabe-se que um dos principais dilemas do Capitalismo é a compatibilização em atender as
necessidades materiais ilimitadas do homem versus os recursos produtivos escassos e
limitados, via ciclo econômico produtivo, no qual ocorre a interação entre os agentes
econômicos. Entretanto, sempre existiu os opositores que profetizavam as crises e a queda
final do Capitalismo.
Primeiramente, lembrem-se do fato provocado pela ‘primeira’ crise instalada no incipiente
Capitalismo nascente, ocorrida no inverno de 1857/1858, mais precisamente no outono de
1857, quando Marx se reportava a seu amigo Engels, no final daquele ano ... “Estou a
trabalhar como louco, noite e dia, objetivando finalizar meus estudos econômicos, de modo
que possa ter um esboço claro, antes do dilúvio final”. Aquela crise foi, de fato, a primeira de
abrangência global do Capitalismo moderno, na qual envolveu os principais países capitalistas
da época – Inglaterra, França, USA e Alemanha. O temor de Marx que a crise levasse a
movimentos turbulentos e revolucionários, não se confirmou, pois não conduziu a um colapso
do Capitalismo nem a qualquer espécie de movimento. No inicio do verão de 1858, a crise foi
debelada e o Sistema Capitalista saiu mais fortalecido, como houvesse sido brutalmente
purificado.
Então, mesmo Marx, questionado sobre o término de sua obra “O Capital” disse: “Entretanto,
o curso desta crise pode desenvolver-se, porém o mais importante é o estudioso da Produção
Capitalista e os profissionais, observá-la em seus pormenores, ultrapassar-se, como as demais
antecessoras, e iniciar um novo ciclo industrial, com todas as suas fases diversificadas de
prosperidade”.
Crise ciclícas
Destarte Marx ter declinado da tese do colapso do Capitalismo, seus seguidores não, ainda. E,
que o Capitalismo pereceria em função das crises cada vez mais fortes que gera. Contudo, a
cada recuperação é interpretada como seu último alento antes do colapso final e inevitável.
Visto da ressurreição da Alemanha reunificada no início dos anos 90, o mundo globalizado
passou crise do peso em 1995, pela crise asiática de 1997/98, pela crise da Rússia e dos países
do leste europeu e, 1998, pela crise do Brasil em 1999, estagnação do Japão, pela crise da
Turquia em 2000, crash da bolsa-bolha NASDAC da “Nova Economia” em 2000/2001, a crise
Argentina em 2001/2002 e agora a crise imobiliária-financeira americana. Cada uma delas
foram analisadas a seu tempo e com sinal de crise de colapso final do Capitalismo, mas todas
foram ultrapassadas rapidamente, ao contrário dos prognósticos de colapso, saiu-se
fortalecido. Contudo, essas crises sempre deixam enormes seqüelas. Senão fosse assim, como
escreve Schumpeter, “o capitalismo possui o DNA da descontrução positiva”.
A Crise americana globalizada
Partindo-se da crise imobiliária americana à crise financeira internacional, como se fosse um
poderoso tsunami catastrófico econômico mundo afora.
Olhem o que aconteceu no segmento de imóveis no mercado americano, o ‘overtrading’, foi
rápido em sua expansão até a explosão da bolha especulativa financeira, naquilo que resultou
dos financiamentos cumulativos, dentro do sistema financeiro, dos imóveis no decorrer dessa
ultima década. Isto é, para os analistas de mercado, essa especulativa “pirâmide” financeira
tinha data para explodir em crise, que levaria o sistema financeiro americano ao quase
‘deblaquê’ total na Bolsa e das Instituições financeiras.
Segundo os especialistas, desde a explosão da bolha especulativa (NASDAC) da Nova
Economia em 2000, o Federal Reserve – o Banco Central americano – reduziu a taxa dos
fundos federais de 6,5% para 1% de janeiro de 2001 até o final de 2003, com o objetivo de
estimular o investimento via crédito barato, prevalecendo durante por mais três anos essas
taxas federais era mesmo mais baixa do que a taxa de inflação. Como todos sabem, taxas de
juros em baixa tornam as compras de bens de consumo duráveis, como imóveis, atraentes,
foi o que justamente aconteceu nos anos de 2000 a 2005, o montante das hipotecas de
imóveis triplicou de volume, provocando forte pressão na oferta desses bens, fazendo com
que os preços dos imóveis aumentassem até 20% ao ano e o montante financiado chegou a
100% do valor do imóvel, sem que o promitente comprador não desembolsasse nada.
Como se pode ver, o que normalmente os bancos de financiamentos faziam em épocas atrás,
era financiar de 60 até 80% do valor do imóvel, fazendo um colchão amortecedor para não
incorrer em perdas, se o imóvel fosse vendida por inadimplência do comprador. No caso
dessa crise anunciada, os bancos ‘acreditavam’ que nada poderia dar errado, já que os preços
dos imóveis continuavam em ascendência e que a falta daquele colchão poderia ser
compensado pelos preços crescentes. Mas, não contavam com as artimanhas dos
proprietários que usam o mesmo argumento dos preços em alta, para aumentar o montante
de seus empréstimos, com o objetivo de financiar suas outras despesas de consumo familiar.
Então, os bancos começaram a emitir títulos de créditos conhecidos no mercado financeiro
pela sigla “Ninja”, o que significa, sem rendimento, sem emprego ou ativos por parte do
tomador do empréstimo. Tais empréstimos para tomadores que não tinham condições
nenhuma para fazer tais empréstimos, o que fica claro o alto risco de inadimplência, porém
os bancos poderiam compensar cobrando altas taxas de juros e contando com os preços dos
imóveis em alta e revendendo a outros bancos seguradores, através do que se livrariam de
qualquer contratempo em caso de inadimplência dos emprestadores.
Continuaremos a análise no próximo artigo...
(*) Economista, Engenheiro, e administrador de empresas, pós-graduação: MBA in Management
(FGV), Engenharia Econômica (UFRJ), Consultor Industrial (UNICAMP), Mestre em Economia
(FGV), Consultor Empresarial e Professor Universitário. nilsonpimentel@uol.com.br

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  • 1. O capitalismo em crise? - I Publicado no JCAM em 05 e 06 de outubro de 2008 Nilson Pimentel (*) Desde o surgimento do que hoje se conhece por Capitalismo, acredita-se que seja o mais competente e vigoroso sistema econômico que o mundo civilizado conheça. Ao contrário do que dizem seus opositores, o Capitalismo já deu provas de longa sobrevivência e de renascimentos após graves crises de desconstruções e de processos de novos paradigmas de reconstruções de seus modos de produção. Mesmo a despeito do progresso material alcançado pela humanidade, o Capitalismo possui ferrenhos opositores, principalmente, em face da absorção e mobilização dos fatores de produção para produzir bens e serviços que tanto os indivíduos em sociedade saciam suas necessidades e geram riqueza. Sabe-se que um dos principais dilemas do Capitalismo é a compatibilização em atender as necessidades materiais ilimitadas do homem versus os recursos produtivos escassos e limitados, via ciclo econômico produtivo, no qual ocorre a interação entre os agentes econômicos. Entretanto, sempre existiu os opositores que profetizavam as crises e a queda final do Capitalismo. Primeiramente, lembrem-se do fato provocado pela ‘primeira’ crise instalada no incipiente Capitalismo nascente, ocorrida no inverno de 1857/1858, mais precisamente no outono de 1857, quando Marx se reportava a seu amigo Engels, no final daquele ano ... “Estou a trabalhar como louco, noite e dia, objetivando finalizar meus estudos econômicos, de modo que possa ter um esboço claro, antes do dilúvio final”. Aquela crise foi, de fato, a primeira de abrangência global do Capitalismo moderno, na qual envolveu os principais países capitalistas da época – Inglaterra, França, USA e Alemanha. O temor de Marx que a crise levasse a movimentos turbulentos e revolucionários, não se confirmou, pois não conduziu a um colapso do Capitalismo nem a qualquer espécie de movimento. No inicio do verão de 1858, a crise foi debelada e o Sistema Capitalista saiu mais fortalecido, como houvesse sido brutalmente purificado. Então, mesmo Marx, questionado sobre o término de sua obra “O Capital” disse: “Entretanto, o curso desta crise pode desenvolver-se, porém o mais importante é o estudioso da Produção Capitalista e os profissionais, observá-la em seus pormenores, ultrapassar-se, como as demais antecessoras, e iniciar um novo ciclo industrial, com todas as suas fases diversificadas de prosperidade”. Crise ciclícas Destarte Marx ter declinado da tese do colapso do Capitalismo, seus seguidores não, ainda. E, que o Capitalismo pereceria em função das crises cada vez mais fortes que gera. Contudo, a cada recuperação é interpretada como seu último alento antes do colapso final e inevitável.
  • 2. Visto da ressurreição da Alemanha reunificada no início dos anos 90, o mundo globalizado passou crise do peso em 1995, pela crise asiática de 1997/98, pela crise da Rússia e dos países do leste europeu e, 1998, pela crise do Brasil em 1999, estagnação do Japão, pela crise da Turquia em 2000, crash da bolsa-bolha NASDAC da “Nova Economia” em 2000/2001, a crise Argentina em 2001/2002 e agora a crise imobiliária-financeira americana. Cada uma delas foram analisadas a seu tempo e com sinal de crise de colapso final do Capitalismo, mas todas foram ultrapassadas rapidamente, ao contrário dos prognósticos de colapso, saiu-se fortalecido. Contudo, essas crises sempre deixam enormes seqüelas. Senão fosse assim, como escreve Schumpeter, “o capitalismo possui o DNA da descontrução positiva”. A Crise americana globalizada Partindo-se da crise imobiliária americana à crise financeira internacional, como se fosse um poderoso tsunami catastrófico econômico mundo afora. Olhem o que aconteceu no segmento de imóveis no mercado americano, o ‘overtrading’, foi rápido em sua expansão até a explosão da bolha especulativa financeira, naquilo que resultou dos financiamentos cumulativos, dentro do sistema financeiro, dos imóveis no decorrer dessa ultima década. Isto é, para os analistas de mercado, essa especulativa “pirâmide” financeira tinha data para explodir em crise, que levaria o sistema financeiro americano ao quase ‘deblaquê’ total na Bolsa e das Instituições financeiras. Segundo os especialistas, desde a explosão da bolha especulativa (NASDAC) da Nova Economia em 2000, o Federal Reserve – o Banco Central americano – reduziu a taxa dos fundos federais de 6,5% para 1% de janeiro de 2001 até o final de 2003, com o objetivo de estimular o investimento via crédito barato, prevalecendo durante por mais três anos essas taxas federais era mesmo mais baixa do que a taxa de inflação. Como todos sabem, taxas de juros em baixa tornam as compras de bens de consumo duráveis, como imóveis, atraentes, foi o que justamente aconteceu nos anos de 2000 a 2005, o montante das hipotecas de imóveis triplicou de volume, provocando forte pressão na oferta desses bens, fazendo com que os preços dos imóveis aumentassem até 20% ao ano e o montante financiado chegou a 100% do valor do imóvel, sem que o promitente comprador não desembolsasse nada. Como se pode ver, o que normalmente os bancos de financiamentos faziam em épocas atrás, era financiar de 60 até 80% do valor do imóvel, fazendo um colchão amortecedor para não incorrer em perdas, se o imóvel fosse vendida por inadimplência do comprador. No caso dessa crise anunciada, os bancos ‘acreditavam’ que nada poderia dar errado, já que os preços dos imóveis continuavam em ascendência e que a falta daquele colchão poderia ser compensado pelos preços crescentes. Mas, não contavam com as artimanhas dos proprietários que usam o mesmo argumento dos preços em alta, para aumentar o montante de seus empréstimos, com o objetivo de financiar suas outras despesas de consumo familiar. Então, os bancos começaram a emitir títulos de créditos conhecidos no mercado financeiro pela sigla “Ninja”, o que significa, sem rendimento, sem emprego ou ativos por parte do
  • 3. tomador do empréstimo. Tais empréstimos para tomadores que não tinham condições nenhuma para fazer tais empréstimos, o que fica claro o alto risco de inadimplência, porém os bancos poderiam compensar cobrando altas taxas de juros e contando com os preços dos imóveis em alta e revendendo a outros bancos seguradores, através do que se livrariam de qualquer contratempo em caso de inadimplência dos emprestadores. Continuaremos a análise no próximo artigo... (*) Economista, Engenheiro, e administrador de empresas, pós-graduação: MBA in Management (FGV), Engenharia Econômica (UFRJ), Consultor Industrial (UNICAMP), Mestre em Economia (FGV), Consultor Empresarial e Professor Universitário. nilsonpimentel@uol.com.br