SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 7
Baixar para ler offline
...
PAUL MARLOR SWEEZY
'.
, (
Teoria do Desenvolvimento
Capitalista
CIP'~rasil. Catalogação-na-Publicação
Cãrnara Brasileira do Livro. SP "'-J
'-.J
ç-
"J
'.ri
S978t
2.ed.
S"eezy, Paul Marlor. 1910-
Teoria do desenvolvimento capitalista: princípios de economIa
política marxista / Paul Marlor Sweezy ; apresentação de Helga
Hoffmann ; tradução de Waltensir Dutra. - 2.ed. - São Pau.
10 : Nova Cultural. 1986.
(Os economistas)
1. Capitalismo 2. Economia marxista 3. Marx. Karl. 1818-1883
4. Socialismo I. Hoffmann, Helga. 11.Título. 111Série.
Apresentação de Helga Hoffmann
Tradução de Waltensir Outra
85-1013
17 e 18. CDD-3354
17. -330.15
18... -330.122
[7' -335.411
~ -335.412
Índices para catálogo sistemático:
1. Capitalismo: Economia 330.15 (17.) 330.122 (18.)
2. Economia marxista 335.411 (17.) 335.412 (18.)
3. Marx. Karl. 1818-1883: Conceitos económicos 335.'!,1 (17.)
335.412 (18.)
4. Marxismo: Economia 335.4 (17. e 18.)
5. Socialismo marxista: Economia 335.4 (17. e 18)
1986
NOV A CULTURAL.
mos à nossa volta é uma economia mundial imer-reiacion:.daconslltuída de nume.
rosos países capitalistas. semic"<!;::itaiistase não-capitalistas. nos quais o monopó!:o.
em graus variadoc;,é um fenômeno comum. Veremos que esses fatos nãQ são ad-
demais e pertencem à natureza mesma do capitalismo como fase da história mun-
dial. Fazer abstração deles foi um estágio necessário, mas provisório. de nossa aná-
lise. Chegou o momento de irmos além dessa posição, levando em conta uma va-
riedade de aspectos do desenvolvimento capitalista. até agora omitidos de nossas
considerações. Com isso, veremos que novos problemas e condições surgem. alte-
rando profundamente nossa visão do futuro do capitalismo e do papel que nele te-
rá o Estado.
Nossa próxima tarefa deve, portanto, ser a análise das tendências estruturais e
institucionais do capitalismo que modificam seu caráter competitivo; e analisar as
características evolutivas da economia mundial. As duas tarefas estão relaci~nadas
entre si da forma mais íntima. Somente quando estiverem concluídas, poderemos
aplicar os princípios apresentados neste capítulo e avaliar concretamente o papel
da atividade estatal no destino da ordem capitalista.
C.."PITULO XIV
Desenvolvimento do Capital Monopolizador
. As tendências do capitalismo que se distanciam da concorrência livre entre
produtores e no sentido da formação de monopólios estão intimamente ligadas à
crescente composição orgànica do capital. examinada em capítulos anteriores.
Dois aspectos devem ser considerados: primeiro, o crescimento do capital constan-
te em relação ao variável; e, segundo, o crescimento da parte fixa do capital cons-
tante, isto é, de edifícios e máquinas em relação às matérias-primas, processadas e
auxiliares. O resultado dessas duas tendências é a eleva ão no taman é i da
unidade produtiva. Marx observêu que isso po ia ocorrer e uas formas, que va-
mosagoraexammar. ~
1. Concentração do capital
(

l'
~
(..
I
-.91?1O>v VV'
/
rSe os capitalistasindividualmente acJ.llDlllam,de forma a aumentar a quantida-
de de capital controlada por cada um isoladamente, isso possibilita uma escala de
produção maior. Marx denomina esse processo de "concentração do capital". A
concentração nesse sentido é companheira normal da acumulação e obviamente
não pode ocorrer sem ela) A reciproca, porém, não é necessariamente verdadeira,
pois é possível imaginar a acumulação ao mesmo tempo que os capitais individuais
diminuem de volume, talvez devido a repetidas subdivi~ões entre seus herdeiros.
Apesar das tendências contrabalançadoras desse gênero( a concentração em si se-
ria sem dúvida suficiente para explicar o aumento crescente na escala de produção

e a tendência, pelo menos sob certos aspectos, no sentido da eliminação da Cõn-
corrência. Juntamente com a concentração há um segundo e mais importante pro-
cesso qué Marxchamou de "centralização do capitqL- )
2. Centralização do capital
(
I
A centralização, que não deve ser confundida com a concentração, significaa
reunião de capitaisjá existentes:
1"
"
'I..
l
"Esse processo difere do primeiro pelo fato de pressupor apenas uma modificação
197
198. IMPERIAUSMO
(

1"
f
~
l

na àistribuição do capital já existente e em atividade. Seu campo de ação não se limita
portanto pelo. crescimento absoluto da riqu
.
eza S
.
ocial. pelos limitesabsolutos da acumu-
!;lção. O capital cresce nUnI detenninado lugar até atingir uma massa imensa. sob .1m
controle único, porque em outro lugar loi perdido por muitos investidores. Isso é a cen-
tralização, em contraposição à acumula~ão_eà COf!ç~l].tração~ J -
Marx não tentou expor "as leis dessa centralização de capitais", contentando-
se com "uma breve indicação de uns poucos fatos". Isso se deve ao plano de sua
obra, e não à opinião de que o fenômeno fosse destituído de impo,5lância. Mesmo
assim, suas indicações breves são instrutivas e merecem exame.
O principal fator subjacente na centralização está nas economias de produção
em grande escala. ---
"A batalha da concorrência é travada no barateamento das mercadorias. Esse bara-
teamento depende. ceteris paribus. da produtividade do trabalho. e esta novamente
'da escala de produção. Portanto, os capitalistas maiores derrotam os menores. "2
Parte dos capitais menores desaparece, outra parte passa às mãos das empresas
mais eficientes, que dessa forma aumentam de tamanho. A luta da concorrência é,
assim, um agente da centralização.j
Há outra força que atua no mesmo sentido, mas de modo diverso - o "s.!§!g-
ma de crédi~'. Marx dá a essa expressão um sentido amplo que inclui não só os
bancos, mas toda a maquinaria financeira de casas de investimentos, mercados de
títulos etc.
f "No princípio, o sistema de crédito surgiu como um auxiliar modesto da acumula-
ção, conduzindo por fios invisíveisas fontes de recursos espalhadas por toda a socieda-
de para as mãos de capitalistas individuais ou reunidos em grupos. Mas toma-se logo
uma nova e lonnidável anna na luta da concorrência e finalmente se transfonna num
mecanismo socialimenso para a centralizaçãoeloscapitais."3
A centralização por intermédio do sistema de crédito. em sua forma desenvol-
vida, não significaa expropriação dos capitalistasmenores pelos maiores, mas a
"fusão de um certo número de capitais já existentes ou em processo de lonnação... pe-
la estrada mais suave da fonnação de sociedade por ações" .4
É o método mais rápido de ampliar a escala de produção.
.Q,)c-
l
"O mundo ainda estaria sem estradas de lerro se tivesse sido obrigado a esperar até
tAc.."K que a acumulação pennitisse a alguns capitalistas individuais empreenderem a constru-
f~)...~..k ção de. uma ferrovia.!' c~ntralização, por outro lado, realizou isso rapidamente através
""I das socIedades por açoes. S
f.J.M." .-
q.- ~
r
o fim da centralização em qualquer ramo da indústria é atingido quando testa
'-.:.: ape!,as uma firma,6mas para a sociedade como um todo o limite extremo só che-
gara quando
)
I O Capital.I.p. 686.
2Ibid.. p. 686.
'Ibid.. p. 687.
'Ibld., p. 688.
'Ibid.
6 Engels acrescentou ~ 4.. ediçAo alemA a seguinte nota: "Os maIS recentes 'trusles' ingleses e amencanos têm o ob,en.
vo de realizar isso tentando unir pelo menos todos OSgrandes empreendimentos de um cena ramo de mdÕ5ma numa
gr3nde companhia de açOescom um monopólio pratico" O Capital. I. p. 688.
.L
,
"j
"j,
'f
"~
I...
.l
.L
I...,
DESENVOL'JlME.'ITO DO CAPITAL MONOPOUZADOR 199 .,
L"tOdO. ~ capital s<><:i,a~estiver unido seja nas mãos de um único capitalista, ou nas de 
umaumcaempresa.' --1 )
Essa observação. e na realidade toda a análise que Marx faz da centralização, dei-
xa claro que ele não considera o processo do ponto de vista da propriedade legal
- que pode ser distribuída entre grande número de acionistas - mas do ponto de
vistada grandeza do capital sob direção unificada.
Os principais efeitos da centralização, e em menor grau da concentração. são
três. Em primeiro lugar, leva a uma socialização e racionalização do processo de
trabalho dentro dos limitesdo capitalismo;quanto a isso, Marx fala da
II
"transfonnação progressiva dos processos de produção socialmente combinados e
cientificamente administrados". g
.j
.~,I
..
I
Em segundo lugar, a centralização, em si mesma conseqüência da m(ldificação téc-
nica e da crescente composição orgânica do capital, age para apressar ainda mais
as modificaçõestécnicas.
.., "A centralização. acelerando e intensificando assim os efeitos da acumulação, am-
plia ao mesmo tempo as revoluções na composição técnica do capital. que aumentam
sua parte constante às expensas da variável e portanto reduz a procura relativa do tra-
balho.".
O terceiro efeito, que não interessava a Marx naquela fase de sua exposição onde
tratava da centralização, é evidentemente um corolário, ou seja. a substituição pro-
gressiva da concorrência entre um grande número de produtores pelo controle mo-
nopolista ou semimonopolista dos mercados, por um Requeno número.
..
3" Sociedades anônimas
Vimos que Marx reconheceu a sociedade anônima como instrumento essen-
J
(
cial da centralização. Sabia ainda que as sociedades anônimas têm certas influên- 
cias de grande alcance sobre o caráter e o funcionamento da produção capitalista.I , '{'
Essasinfluênciassão assinaladasnum dos rascunhosmanuscritosque Engelsreu- ,..
niu para formar o volume 111de O Capital.0 Emboraaindaem rascunho,a análise IL
mostra que Marx estava muito adiante de seu tempo ao compreender a significa-
~~~~ ~-Marx faz três observações em relação às sociedades por ações:
"1. Uma enonne expansão da escala de produção e das empresas, que eram impos- '1
síveis para os capitais individualmente... J
. 2. Capital.. está aqui dotado da fonna de capital social.. em contraposição 30 capi-
tal privado, e suas empresas assumem a fonna de empresas sociais em contraposição
; às empresas individuais. É a abolição do capital como propriedade privada dentro dos
, limites da própria produção capitalista.
3. A transfonnação do capitalista atual num simples gerente, administrador do capi-
tal de outras pessoas, e dos proprietários do capital em meros donos, meros capitalis-
tas do dinheiro". li
-O Capital. I. p. 688.
'/bid.
, O Caoda/. I. p. 689. ~1!0 foi o único ef"to da cenlmlização na modlfica~o técnica. Ver adiante. p. 213.
:. O CapItal 111.capo XXVII("Papel do Crédilo na Produ~ão Capotali5ra").
"Ibocl. p. 516
_vv
DESENVOLVIMENTO DO CAPITAL MONOPOLlZADOR 201
o primeiro desses pontos já foi tratado. O segundo e o terceiro resumem com-
pactamente a essência de um grande volume de trabalhos sobre as sociedades anô-
nimas, aparecidos nas últimas duas ou três dêcadas. A produção particular. jét en-
fraquecida pelo advento do sistema fabril. desaparece quase totalmente nas gran-
des sociedades anônimas. e o verdadeiro dono do capital se afasta mais ou menos
totalmente do processo de produção. Marx, porêm, não comete o erro, em que in-
cidiram muitos autores modernos sobre o assunto, de considerar a sociedade anô-
nima como um passo direto no sentido do controle social da produção. Pelo con-
trário,a conseqüência desse desenvolvimento é f
mação de sociedades anônimas como uma fonte de grandes fortunas. De ambas
as formas ele estimula o crescimento da escala de produção e a centralização do cã:"
pital.
O ato da promoção ou organização ~e consuma na em:ssão e venda de novas
ações aos que dispõem de capital livre. E por isso que o especialista na venda de
novas ações chegou a ocupar uma posição-chave na formação de empresas, exe-
cutando diretamente. por vezes, as funções da organização e colhendo a parte do
leão do lucro dos organizadores. Na Alemanha, os grandes bancos comerciais,
com seus amplos recursos e contatos financeiros, ingressaram cedo no setor de
venda de novas ações e se estabeleceram em posição destacada no setor de orga-
nização de empresas. Nos Estados Unidos, por outro lado, foram os banqueiros
particulares, que se ocupam de câmbio interno e externo, que primeiro ingressa-
ram no campo das novas ações, e dessa forma aos poucos aperfeiçoaram a institui-
ção do banco de investimentos, em contraposição ao banco comercial, até que nu-
ma fase posterior de desenvolvimento estes ingressaram também no setor dos in-
vestimentos, através das chamadas companhias filiadas.Apesar do curso de evolu-
ção por vezes divergente, principalmente devido às diferenças nas limitações legais
de liberdade dos bancos comerciais, o resultado tanto nos Estados Unidos como
na Alemanha, países que Hilferdingtomou como base de suas generalizações, foi
substancialmente o mesmo. Os financistas tiveram o papel mais importante na or-
ganização de novas empresas e com isso conseguiram uma posição altamente signi-
ficativa,e por vezes dominante, na estrutura das sociedades anônimas. Foi devido
a esse fenômeno que Hilferding deu a seu livro o título de O Capital Financeiro.
Veremos mais adiante, porém, que ele errou ao superestimar a importância do pre-
domínio financeiro na última fase do desenvolvimento capitalista.
Além de proporcionar a base do lucro do organizador, a separação entre o ca-
pitalista individual e seu papel nq, processo produtivo leva a uma maior centraliza-
ção do controle sobre o capital.[O controle nominàl da sociedade anônima está
nas mãos do corpo de acionistas'-'Mas mesmo legalmente os proprietários da maio-
ria das ações têm praticamente õ' controle completo do capital de todos os acionis-
tas, e na prática a proporção necessária é muito inferior à da maioria, "apenas um
terço ou um quarto do capital, e mesmo menos". 15 Com isso, o capitalista que po-
de controlar um grande volume de ações em uma ou mais sociedades anônimas
tem sob seu controle um volume de capital várias vezes superior ao que possui. Is-
so mostra claramente um atributo da forma de organização da sociedade anônima
que Hilferding não deixa bem explícito, ou seja, o de que embora propriedade de
ações como tai esteja afastada do controle e direção da produção, não obstante a
propriedade de uma quantidade de ações suficientemente grande proporciona o
controle da produção em escala multiplicada. 16
Isso porém ainda não dá uma idéia precisa da possibilidade de centralização
de controle pelo uso da forma de sociedade anônima, pois devemos lembrar que
uma sociedade pode ser dona de ações de outras sociedades. Assim, um capitalis-
ta pode controlar a sociedade anônima A possuindo, digamos, um terço de suas
ações. Parte do capital de A pode ser usada para obter o controle das sociedades
B, C e O, e o capital destas por sua vez pode trazer para o grupo outras empresas.
'''uma nova aristocracia das finanças, uma nova sorte de parasitas na forma de organi-
zadores de companhias, especuladores e diretores meramente nominais, de todo um
sistema de fraudes e tapeações por meio de toda sorte de malabarismos, burlas e espe-
culações com ações. É a produção privada sem o controle da propriedade privada",'2
A teoria marxista das sociedades anônimas foi completada e ampliada por Ru-
doU Hilferding, em sua importante obra O Capital Financeiro. publicada em 1910.
Economicamente, o aspecto mais importante dessa forma de organização é a disso-
lução do laço entre a propriedade do capital e a direção da produção, "a liberta-
ção do capitalista industrial da função de empresário industrial", como expressou
Hilferding.13Foi na apresentação das conseqüências desse fenômeno que Hilfer-
ding fezsua contribuição maisimportante à teoria das sociedades anônimas.
Não ê a sociedade anônima como tal que transforma o capitalista industrial
em capitalista financeiro; uma firma particular pode realizar o processo legal de in-
corporação sem modificação essencial alguma, do ponto de vista econômico. Deci-
sivo é I) crescimento de um mercado firme para as ações das sociedades anôni-
mas, o que em si constitui um processo histórico longo, que não pode ser analisa-
do aqui. A razão disso é clara: some'nte através do mercado de ações pode o capi-
talista conseguir a independência do destino da empresa em que investiu seu di-
nheiro. Quanto mais perfeito for o mercado de ações, tanto menos o acionista se
parece com o antiquado capitalista e administrador e tanto mais com o realizador
de empréstimos que pode recuperar imediatamente seu dinheiro. Sempre perma-
nece, porém, uma diferença, ou seja, a de que o acionista corre um risco m,aiorde
perda do que o emprestador puro e simples e portanto a sua participação nos lu-
cros deve ser maior do que os juros sobre o dinheiro, através de um prêmio do ris-
co variável. Com essa, ressalva, a transformação do acionista de"capitalista indus-
trial que recebe lucro num capitalista financeiro que recebe juros está, em princí-
pio, completa.
A primeira conseqüência dessa transformação é o aparecimento do "lucro do
organizador" (GlÜndergewinnJque Hilferdingdesigna, COT:'justeza, como "catego-
ria econômica sui generis".14 Se uma empresa Oá em existência ou planejada) pro-
porcionará um lucro de 20% sobre o capital investido, digamos, e se o lucro de
ações em empresas de risco comparável ê de 10%, então, incorporando a empre-
sa e colocando seus títulos no mercado, os organizadores poderão vender ações
que dupliquem o total do capital realmente investido.A diferença vai direta ou indi-
retamente para os bolsos dos organizadores, que com isso se enriquecem e se for-
talecem para outras operações. O lucro dos promotores é tanto um incentivo à for- "Com o desenvolvimento da forma de sociedade anônima, começa a existir uma
"/bid.. p, 521.
13Das Finanzkapital, p. 112.
"/bid.. p. 118,
"/bid.. p. 130,
16Temos aqui uma ilustraç!o do prindpio dJaléticode que em certas drcunst!ncias uma modificação na quantidade
alémde um pontodefinido leva a uma modificaçãona Qualidade.
202 IMPERIALISMO"
DESENVOLVIMENTO DO CAPITAL MONOPOUZADOR 203
técnica financeira espedal que tem a finalidade de assegurar a uma quantidade míni-
ma de capital próprio o domínio sobre o maior volume possível de capital de ou-tr "17os.
4. Cartéis, tnJstes efusães
Resta-nos notar agora a fase final do processo de centralização possibilitada
pela sociedade anônima. De um lado, o lucro do organizador coloca grandes rique-
zas nas mãos de um número relativamente pequeno de capitalistas e instituições
bancárias; do outro, essa riqueza pode ser empregada de fonna a conseguir o con-
trole de um totalde capital muito maior. Dessa fonna, como expr~u Hilferding,
"Corma-se um círculo de pessoas que, graças a sua posse de capital ou como represen-
tantes de um poder concentrado sobre o capital de outras pessoas (diretores de ban-
cos), sentam-se nas juntas administrativas de um grande número de sociedades anôni-
mas. Surge assim uma espéde de união pessoal [Per.oonafunion] seja entre as próprias
sociedades diver.oas, seja entre estas e os bancos. drcunstanda que deve ser da maior
importanda para a política dessas instituições, pois entre elas surgiu uma comunidade
de interesses (gemeinsame Besitzinteresse]."18
Em muitos casos, essa união pessoal entre "os que estão dentro" é a causa.
ou pelo menos a origem, de uma unificação orgânica ainda mais fechada, na for-
ma de cartéis, trustes ou fusões. com o objetivo direto do controle monopolista do
mercado. Essas fonnas orgânicas serão examinadas isoladamente na seção seguin-te.
A conseqüênda geral da difusão da fonna de sociedade anônima pode ser re-
sumida assim: a intensificaçãodo processo de centralização juntamente com a ace-
leração da acumulação em geral, de um lado; do outro, a fonnação de uma cama-
da superior relativamente pequena de grandes capitalistascujo controle se estende
muito além dos limites de sua propriedade. Este último ponto tem sido tão mal
compreendido pelos autores modernos que nos parece oportuno acrescentar uma
palavra a seu respeito.
Nos últimos anos temos lido muito sobre a separação entre a propriedade e o
controle nas grandes sociedades anônimas. Trata-se de uma descrição correta de
tendências atuais, se por isso entendemos que a concentração do controle do capi-
tal não é limitada pela concentração da propriedade. Se, porém. for interpretada
como significando que o controle escapa totalmente das mãos dos proprietários e
se toma' prerrogativa de algum outro grupo social. está completamente errada. O
que realmente ocorre é que a grande maioria dos proprietários perde o controle
em favor de uma pequena minoria de proprietários. A grande sodedade anônima
não significa,portanto, nem a democratização nem a abolição das funções de con-
trole da propriedade, mas sua concentração num pequeno grupo de grandes do-
nos de propriedades. O que muitos donos de propriedades perdem, uns poucos
ganham. Hilferdingestava perfeitamente certo ao dizer que
A fase final do desenvolvimento do capital monopolista ocorre quando se for-
mam combinações com o objetivo consciente de dominar concorrência. Essa fase
só é atingida tendo como base um graú relativamente alto de centralização que. re-
duzindo o número de empresas em detenninado setor de produção, toma a con-
corrência cada vez mais severa e perigosa para os sobreviventes. A concorrênda
tende a se transfonnar numa luta mortal que não benefida ninguém. Quando isso
ocorre, o terreno para o movimento de combinação está preparado.
Marx completou sua obra 'êêonôrrlÍca-antês qúe o movimento de combinação
surgisse, e conseqüentemente não existe nenhuma anãlise, de sua pena. sobre a
questão nos três volumes de O Capital. Na época em que Engels iniciou o preparo
do volume 111,em meados da década de 1880, porém, a direção dos acontedmen-
tos já era clara. Numa longa nota inserida na análise feita por Marx das sodedades
anônimas. Engelsfalou das
"companhias por ações de segundo e terceiro grau", na forma de cartéis e "em al-
guns setores... a concentração de toda a produção desse setor numa única grande so-
ciedade por ações, sob uma administração conjunta". E observou ainda: "A !iberdad2
de competição atingiu o fim de sua carreira e está obrigada a anundar sua própria e
evidente bancarrota". 20
"os capitalistas Cormam uma sociedade na direção da qual a maioria deles nada tem a
dizer. A verdadeira orientação do capital produtivo pertence aos que apenas conlIibuí-
ram com uma parte dele". 19
Hilferding, tendo à sua frente a rica experiência da .c.Jemanhae Estados Uni-
dos nos anos entre 1890 e 1910, pôde enquadrar a questão no corp9 da econo-
mia marxista. Nossa anãlise segue as linhas gerais da anãlise de Hilferding,embora
com modificações apropriadas para os leitores mais familiarizadoscom as condi-
ções norte-americanas do que com as alemãs.
A característica específica das fonnas de organização que vamos examinar, o
que as distingue da sociedade anônima como tal, é o fato de serem destinadas deli-
beradamente a aumentar os lucros por meio de controles de mercado de caráter
monopolista. Para atingir esse objetivo, é necessária a transferência ou limitação da
independência de ação das empresas participantes, e sua coordenação sob uma
poIrticaunificada e definida. Como há uma grande escala de graus de limitação, se-
gue-se que há muitas fonnas diferentes de combinação monopolista. Mendonare-
mos algumas das mais importantes, começando com as fonnas de associação me-
nos rígidas e chegando até a fusão completa de finnas concorrentes. Devemos lem-
brar que uma comunidade de interesse entre concorrentes, ,paseada em diretorias
ligadas entre si ou em ligações bancárias comuns. quando existe, aplaina o caminho
e fortalece grandemente a tendência no sentido da combinação. Realmente. pode-
ríamos mesmo dizer que uma comurlidade de interesse é. num certo sentido, um ti-
po de combinação que leva fadlmente a fonnas mais rígidas.
Talvez a fonna mais fraca de combinação seja o chamado "acordo tácito",
que é essencialmente a articulação de uma polftica comum com a concordância
dos concorrentes. mas sem qualquer força de obrigação sobre nenhum deles. O in-
centivo para que cada finna individualmente rompa o acordo, porém, é grande, e
os entendimentos desse tipo raramente duram longo período.
Um estágio mais avançado é a fonnação de um pool, ou combinação para
fins especulativos. no qual os negócios são distribuídos segundo uma fónnula apro-
vada entre os partidpantes. Esse acordo é geralmente feito por escrito; mas seu
11Das Anonkapitol. p. 130-131. HUfetding notou que têcnica adngiu a perfeição no financiamento dos sistemas
fe~rios norte-americanos" Ip. 131). Devemos dizer que esse n(veL por mais alto que fosse. fOIsuperado pelo selorde utilidades públicas. durante a década de 1920.
,. Das FinanzkDpitoi.p. 132.
t9 Das Ananz/cQpitoi.p. 145. As provas d tese. nos Estados Unidos. podem ser rartamente encontradas em dois re.
latórios cuidadosamente documentados. organizados peJa Comis~o Nacional Econclmica Temporália. ou seja. a Mo-
nognsfia n.. 29. Intilu1ada The DÍSlJibulion o{ Ownership in lhe 200 Largest Nonfinancial CorportUions. e MonognsHa
n.. 30. Survery of Shareholdlng. in 1.710 CorportUions wilh Securilies Listed on a National Securilies Exchange. '" O Ccp.fJ1/. 111.p. 518.
204 IMPERIAUSMO DESENVOLVIMENTO DO CAPITAL MONOPOUZADOR
cumprimento depende principalmente da cooperação voluntária de seus mem-
bros. Por isso,comoo acordotácito.o pool é instávele geralmentenão passade
um fenômeno transitório.
Certos tipos de cartéis se assemelham muito ao pool e participam de sua fra-
queza, que pode porém ser superada distribuindo o controle do cartel entre seus
membros e criando sanções contra os que se recusam a cumprir seus ten1os. O
cartel trpico tem uma comissão central com a incumbência de fixar preços e quotas
de produção. e o poder de punir os violadores com multas ou outras sanções. A in-
dependência dos membros pode ser limitada ainda mais pela centralização das
compras e vendas num único agente. interrompendo com isso a relação direta en-
tre as firmas individuais e seus clientes. e dando mesmo à comissão central o po-
der de fechar as fábricas ineficientes e distribuir os lucros totais segundo uma fór-
mula estabelecida. Quando essa última medida é tomada, o cartel se aproxima
muito. sob vários a$pectos.da fusão total.
Uma forma de organização mais rigorosa do que o cartel é o truste, no senti-
do pre::!soda palavra, e que gozou de grande voga nos Estados Unidos, durante ai.
gum tempo, até ser proibido por lei. ~o_~e, os donE-s_de uma l11~joriage jlções
de várias sociedades anônimas independentes'passam su!is ações para um grupo
de depositários, em 'iróCãde um certificado de depósito. 10s depositários adminis-
tram as companhias e os portadores dos certificados recebem os dividendos. Dessa
forma. a unificação completa de políticas das companhias é realizada, ao passo
que a identidade legal e comercial dos seus constituintes não é prejudicada. como
no cartel. O truste nesse sentido não deve ser confundido com o sentido comum
do termo. de denominação genérica cobrindo quase toda a escala de combinações
monopolistas.
Finalmente, chegamos à fusão completa, na qual a independência das firmas
participantes é abolida. A fusão pode ocorrer de várias formas, sendo as principais
delas a absorção de todas as firmas por uma única firma grande, e o desapareci-
mento de todas as firmas antigas em favor de uma nova entidade comercial. De
qualquer forma, O'resultado é o mesmo: completa unidade orgânica sob uma dire-
ção única. Essa é, evidentemente, a forma mais eficiente de combinação, do ponto
de vistade realizaruma políticamonopolista.
Os fatores determinantes das formas de combinação a serem adotadas nas vá-
rias circunstâncias de tempo e lugar constituem um ramo especial da economia
aplicada. Em geral, podemos dizer que se relacionam com as condições particula-
res existentes nos diferentes setores da indústria, com as debilidades das formas de
associação menos rápidas e com as disposições legais em vigor nos diferentes paí-
ses. Assim, por exemplo, nos Estados Unidos as leis proibidoras das combinações
do tipo de cartel e truste estimularam as fusões diretas como método de obter finali-
dades monopolistas, ao passo que na Alemanha. onde o cartel tinha uma situação
legalmente reconhecida, essa forma floresceu.
De nosso ponto de vista. tais diferenças são de importância secundária. O fato
decisivo é que esse movimento de combinação varreu todos os países capitalistas
adiantados durante as duas décadas, aproximadamente, que cercaram a passagem
do século, e provocaram uma modificação qualitativa no caráter da produção capi-
talista. A livre concorrência, que fora o caráter dominante (embora não exclusivo)
do mercado capitalista, foi definitivamentesuperada pelos vários graus de monopó-
lio, como traço dominante. As conseqüências dessa transição sobre as leis gerais
do movimento da sociedade capitalista serão cuidadosamente examinadas nos
dois capítulos seguintes.
5. O papel dos bancos
Já observamos que os bancos. devido à sua posição estratégica na emissão e
venda de novos títulos. desempenham um papel peculiarmente importante na for-
mação de sociedades anônimas. e o mesmo se aplica à fusão de empresas já exis-
tentes. Os bancos conservam para si uma parte principal do lucro do organizador.
nomeiam seus representantes para participar da direção de empresas e exercem
grande influênciasobre as políticasadotadas.
. Em que direção se exerce tal influência?Sempre na direção da eliminação da
concorrência. Uma companhia isolada pode. sentindo-se bastante forte. enfrentar
uma luta de morte com suas concorrentes, esperando atravessar um período tem.
porário de lucros reduzidos, na esperança de compensar posteriormente suas per'
das. Mas para um banco que tem relações com muitas companhias. essa atitude
inevitavelmente parece fútil e contraproducente. Os lucros de uma companhia são
compensados pelas perdas de outras. Como acentuou Hilferding,
"Ponanto. a luta dos bancos para eliminar concorrência entre as firmas em que es-
tão interessados ê absoluta. Todo banco tem interesse no mais alto lucro possível. Em
condições iguais, tal objetivo ê atingido em determinado ramo da indústria quando a
competição ê tC1i1lmente excluída. Daí a luta dos bancos pelo monopólio."21
Quanto mais amplas as ligações de um banco e mais poderosa a sua voz, tan-
to mais eficientemente pode pôr em prática sua política de eliminar a concorrência
e estabelecer monopólios. Daí a centralização de capital na esfera industrial encon-
trar sua contrapartiàa no crescimento de unidades bancárias cada vez maiores. Dis-
so surge a união pessoal interna de diretorias comuns e comunidades de interesse
que unem os grandes banqueiros e magnatas industriais em todos os países capita-
listasadiantados.
Até aqui é possível aceitar a análise de Hilferding, com algumas restrições.
Mas ele vai consideravelmente mais longe, afirmando por vezes abertamente e
sempre implicitamente que na sociedade entre o capital industrial e bancário é o úl-
timo que ocupa posição predominante. "Capital financeiro" é definido a certa altu-
ra como "capital controlado pelos bancos e utilizadopelos industriais"22e a tendên-
cia do capitalismo é retratada como envolveedo a crescente sujeição de todos os
aspectos da vida econômica a um círculo cada vez mais estreito de grandes ban-
cos. Issose evidencia claramente no trecho seguinte:
"Com o desenvolvimento dos bancos. com as relações cada vez mais íntimas entre
bancos e indústrias, aumenta a tendência. de um lado. para excluir a concorrência en-
tre os bancos. de outro. para que todo o capital se concentre na forma de capital finan-
ceiro e atinja colocações produtivas somente através dos bancos. Em última análise. es-
sa tendência levaria a uma situação na qual todo o capital estaria à disposição de um
banco ou grupo de bancos. Esse 'banco central' exerceria então o controle de toda a
produção social". 23
Não pode haver dúvida de que essa interpretação é errônea. Hilferding con-
funde uma. fase transitória do desenvolvimento capitalista com uma tendência per-
manente. E certo que durante o período do próprio movimento de combinação,
" Das Finanzkap.UJ/. p. 231.
Z2Ib.d.. p. 283.
ZJ Ibíd. p. 218.
'- 206
DESENVOLVIMENTODO CAPITAL :.10NOPOUZ DOR 207
1~IPERIAUSMO
quando as sociedades anônimas e as fusões estão em processo de formação. os
bancos desfrutam uma posição estratégica que Ihes permite influirsobre áreas-cha-
ves do sistema produtivo. O processo de combinação. porém. não pode continuar
indefinidamente. O limite linal será atingido em qualquer indústria quando somen-
te restar uma firma. mas como norma o processo se detém consideravelmeme an-
tes que esse limite linal seja atingido. A concorrência de forma perigosa desaparece
efetivamente quando algo da ordem de três quartos ou quatro quintos de uma de-
terminada indústria estão nas mãos de algumas poucas companhias grandes. Alêm
desse ponto a tendência a novas combinações é grandemente Iftlfraquecidae po-
de mesmo ser totalmente neutralizada pelas forças contrabalançadoras. Grupos ri-
vais de grandes capitalistas continuam existindo e cada qual espera sempre poder
melhorar sua posição a expensas dos outros: cada qual necessita de bases nos seto-
res industriais mais importantes. como fonte de força e possíveis trunfos no jogo
das negociações com os outros. Uma vez afastado o aspecto da concorrência mor-
tal. e descoberto um modus uiuendi para as finalidades monopolistas mais gerais e
necessárias. novas combinações se tomam menos freqüentes e podem cessar mes-
mo totalmente.
Ao se atingir essa fase. a posição dos bancos sofre uma modificação acentua-
da. A função de emitir novas ações. em que se baseava originalmente sua força.
toma-se muito menos importante. As grandes empresas monopolizadoras se en-
contram, em proporção direta ao seu êxito (ou seja. lucratividade), de posse de
fontes internas de fundos, não sô na forma de lucros que podem ser acumulados
ao invés de distribuídos como dividendos aos acionistas, como ainda na forma de
depreciação, manutenção. obsolescência. e outras chamadas "reservas" contábeis.
que são transferidas. em proporções cada vez maiores, para as finalidades de acu-
mulação. Com essas fontes internas de capital adicional à sua disposição, as admi-
nistrações das sociedades anônimas estão mais ou menos liberadas do mercado pa-
ra novas ações c~mo fonte de capital. e pela mesma razão estão livres da depen-
dência dos banqueiros. Na realidade, nos casos em que a influênciados bancos es-
tá firmemente estabelecida, isso não significaum declfnio imediato de sua força.
Mas, com o tempo, o poderio econômico não relacionado com uma função econô-
mica está destinado a se enfraquecer e finalmente desaparecer. É exatamente o
que ocorre ao poderio dos bancos na medida em que se baseia no controle sobre
emissã6 de novas ações. A função se atrofia e o poder ao qual ela deu origem de-
clina, deixando os bancos em posição secundária. O capital bancário, que já teve
seus dias de glôria. volta novamente a uma posição subsidiária em relação ao capi-
tal industrial, restabelecendo dessa forma a relação que existia antes do movimen-
to de combinação. Não se entenda por isso que o capitalismo em geral volte à sua
fase anterior; pelo contrário, o monopôlio e o domínio de uma pequena classe su-
perior de grandes capitalistas se solidificarame expandem gradualmente. assimilan-
do setores cada vez maiores do sistema produtivo e distribuidor.A diferença é ape- .
nas a de terem como base o capital industrial e não, como Hilferdingjulgou que
ocorreria, o capital bancário. O predomínio deste último é uma fase passageira do
desenvolvimento capitalista, que coincide aproximadamente com a transição do sis-
tema de concorrência para o de monopólio.24
importantes no caráter do processo de acumulação. particularmente o crescimemo
do financiamento interno das empresas.25E leva a ilusões profundas sobre a natu-
reza e dificuldadeda tarefa de realizaruma sociedade socialista.Já em 1910 Hilfer-
ding expressava a opinião de que
"o conmto de seus grandes bancos berlinenses significaria o contisco das mais impor-
tantes esferas da grande indústria" .lb
Mesmo na época. isso estava longe de ser a verdade. sendo fora de dúvida. po-
rém, que a tomada dos grandes bancos poderia ter afetado seriamente as indús-
trias que deles dependiam. Mas hoje. todo o sistema bancário poderia ser "toma-
do" nos Estados Unidos. por exef!1plo,sem provocar senão uma agitação passagei-
ra nas fileirasdo grande capital. E claro que. se a teoria do capitalismo financeiro
for interpretada como significandoo domínio dos bancos. teremos então uma base
muito precária para elaborar uma políticasocialista.
Ao concluir esta exposição, porém. devemos notar que a expressão "capital Ii-
nanceiro" não tem necessariamente as conotações que Hilferding lhe atribuiu. Lê-
ninoem particular, criticou-lhe a definição do capital financeiro sob a alegação de
que
"silencia sobre um dos pontos mais importantes. ou seja. o crescimento da concentra-
ção de produção e de capital em tão grande escala que a concentração leva, e tem le-
vado. ao monopólio".
Para o "capital controlado pelos bancos e utilizado pelos industriais" de Hilferding,
Lênin apresentava o seguinte substitutivo:
"A concentração da produção. os monopólios que dela surgem. a fusão ou concres-
cência dos bancos com a indústria: essa a história do crescimento do capital tinanceiro
e o conteúdo desse conceito" .2'
A teoria de Lênin não está. portanto. sujeita às críticas que foram feitas à de
Hilferding. Não obstante. é de duvidar que a expressão "capital financeiro" possa
ser afastada do sentido de domínio dos banqueiros que Hilferdinglhe atribuiu. Se
assim for, será preferível abandoná-Ia inteiramente e substituí-Ia pela expressão
"capital monopolizador". que indica claramente o que ê essencial ao conceito de
Lênin de "capital monopolizador", que indica claramente o que é essencial ao con-
ceito de Lênin de "capital financeiro" e não leva o leitor incauto a uma dedução er-
rônea.
O erro de Hilferdingé importante sob dois aspectos. Uma conc€pção antecipa-
da do domínio financeiro impede a compreensão das modificações recentes mais
24 o reconhecimento mais ex~{cito. por um aUlor marxista. do caráter transitório do domínio financeiro es~ em
GROSSMANN. Op. cil.. p. 572 .. seqs. Para um esboço do enf,aqueClmenlo do pode, financeiro nos Eslados Umdos.
d. SWEEZY. Paul M. "The Decline o. lhe Inv..rmen! Banker". In: Anriocn Reu.ew. Prima"",.. t941.
~ É interessante notar que. apesar de todas as modificações ocomdas entre 1910 e 1930. neste último ano Hilferding
repetia. quase que palavra por palavra. os argumentos de Das Frnanzkaprrol.Ver seu alugo "Die E:gengeseutichke11
der kapilalisdschen Entw1cklung" In: HARMS. Bemha,d. ed. Kopllol und Koplto/ismus (19311. v. I.
,. 00$ Fmonzkop,tol. p. 231.
21Impenolism. Nova York. Inlemabonal Publishers Cu. 1933. p. .4

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Karl marx abordagens socioantropologicas nas organizações
Karl marx    abordagens socioantropologicas nas organizaçõesKarl marx    abordagens socioantropologicas nas organizações
Karl marx abordagens socioantropologicas nas organizaçõesAriela
 
Crise financeira ou crise histórica do capitalismo?
Crise financeira ou crise histórica do capitalismo?Crise financeira ou crise histórica do capitalismo?
Crise financeira ou crise histórica do capitalismo?Alessandro de Moura
 
A Lei Geral da Acumulação Capitalista
A Lei Geral da Acumulação CapitalistaA Lei Geral da Acumulação Capitalista
A Lei Geral da Acumulação Capitalistavania morales sierra
 
O processo de valorização do capital
O processo de valorização do capitalO processo de valorização do capital
O processo de valorização do capitalWagner Constantino
 
O combate às desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e piketty
O combate às  desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e pikettyO combate às  desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e piketty
O combate às desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e pikettyFernando Alcoforado
 
37 o capitalismo-em-crise-i
37 o capitalismo-em-crise-i37 o capitalismo-em-crise-i
37 o capitalismo-em-crise-iJoyce Silva
 
Slides - economia
Slides - economia Slides - economia
Slides - economia Felipe Hiago
 
Harvey o novo imperialismo
Harvey o novo imperialismoHarvey o novo imperialismo
Harvey o novo imperialismoFelix
 
Piero srafa produção de mercadorias por meio de mercadorias
Piero srafa   produção de mercadorias por meio de mercadoriasPiero srafa   produção de mercadorias por meio de mercadorias
Piero srafa produção de mercadorias por meio de mercadoriascosmonina
 
Teoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeter
Teoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeterTeoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeter
Teoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeterJoão Cláudio Arroyo
 
A inexorável tendência de queda da taxa de lucro do sistema capitalista mundial
A inexorável tendência de queda da taxa de lucro do  sistema capitalista mundialA inexorável tendência de queda da taxa de lucro do  sistema capitalista mundial
A inexorável tendência de queda da taxa de lucro do sistema capitalista mundialFernando Alcoforado
 
O COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTY
O COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTYO COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTY
O COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTYFernando Alcoforado
 

Mais procurados (19)

Karl marx abordagens socioantropologicas nas organizações
Karl marx    abordagens socioantropologicas nas organizaçõesKarl marx    abordagens socioantropologicas nas organizações
Karl marx abordagens socioantropologicas nas organizações
 
Crise financeira ou crise histórica do capitalismo?
Crise financeira ou crise histórica do capitalismo?Crise financeira ou crise histórica do capitalismo?
Crise financeira ou crise histórica do capitalismo?
 
Importante 08 ler
Importante 08 lerImportante 08 ler
Importante 08 ler
 
Immanuel wallerstein
Immanuel wallersteinImmanuel wallerstein
Immanuel wallerstein
 
De keynes até marx
De keynes até marxDe keynes até marx
De keynes até marx
 
A Lei Geral da Acumulação Capitalista
A Lei Geral da Acumulação CapitalistaA Lei Geral da Acumulação Capitalista
A Lei Geral da Acumulação Capitalista
 
O processo de valorização do capital
O processo de valorização do capitalO processo de valorização do capital
O processo de valorização do capital
 
O combate às desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e piketty
O combate às  desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e pikettyO combate às  desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e piketty
O combate às desigualdades sociais no capitalismo segundo marx e piketty
 
Epe hunt cap10
Epe hunt cap10Epe hunt cap10
Epe hunt cap10
 
Epe hunt cap 8
Epe hunt cap 8Epe hunt cap 8
Epe hunt cap 8
 
37 o capitalismo-em-crise-i
37 o capitalismo-em-crise-i37 o capitalismo-em-crise-i
37 o capitalismo-em-crise-i
 
Slides - economia
Slides - economia Slides - economia
Slides - economia
 
Acumulação e Gasto Improdutivo na Economia do Desenvolvimento
Acumulação e Gasto Improdutivo na Economia do DesenvolvimentoAcumulação e Gasto Improdutivo na Economia do Desenvolvimento
Acumulação e Gasto Improdutivo na Economia do Desenvolvimento
 
Harvey o novo imperialismo
Harvey o novo imperialismoHarvey o novo imperialismo
Harvey o novo imperialismo
 
Piero srafa produção de mercadorias por meio de mercadorias
Piero srafa   produção de mercadorias por meio de mercadoriasPiero srafa   produção de mercadorias por meio de mercadorias
Piero srafa produção de mercadorias por meio de mercadorias
 
Teoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeter
Teoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeterTeoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeter
Teoria do desenvolvimento crise e inovação schumpeter
 
Disciplina iii unb (texto 2)
Disciplina  iii unb (texto 2)Disciplina  iii unb (texto 2)
Disciplina iii unb (texto 2)
 
A inexorável tendência de queda da taxa de lucro do sistema capitalista mundial
A inexorável tendência de queda da taxa de lucro do  sistema capitalista mundialA inexorável tendência de queda da taxa de lucro do  sistema capitalista mundial
A inexorável tendência de queda da taxa de lucro do sistema capitalista mundial
 
O COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTY
O COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTYO COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTY
O COMBATE ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS NO CAPITALISMO SEGUNDO MARX E PIKETTY
 

Semelhante a Teoria do Desenvolvimento Capitalista

o-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdf
o-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdfo-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdf
o-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdfHildoCezarFreireMont
 
Ciclos econômicos
Ciclos econômicosCiclos econômicos
Ciclos econômicosDelza
 
Capitalismo monopolista e servico social
Capitalismo monopolista e servico socialCapitalismo monopolista e servico social
Capitalismo monopolista e servico socialPatricia Silva
 
4º Bloco A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista Dilermando Toni
4º Bloco   A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista   Dilermando Toni4º Bloco   A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista   Dilermando Toni
4º Bloco A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista Dilermando ToniWladimir Crippa
 
4º Bloco A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista Dilermando Toni
4º Bloco   A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista   Dilermando Toni4º Bloco   A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista   Dilermando Toni
4º Bloco A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista Dilermando ToniWladimir Crippa
 
25 cadernosdocesit
25 cadernosdocesit25 cadernosdocesit
25 cadernosdocesitGênia Darc
 
capitalismo-140224154700-phpapp01 (1).pdf
capitalismo-140224154700-phpapp01 (1).pdfcapitalismo-140224154700-phpapp01 (1).pdf
capitalismo-140224154700-phpapp01 (1).pdfAnderson Torres Pereira
 
2.a globalicao da_economia_mundial
2.a globalicao da_economia_mundial2.a globalicao da_economia_mundial
2.a globalicao da_economia_mundialOlavo Gomez
 
Teorias de Crescimento Económico (Aulas do Mestrado de Marketing Research da ...
Teorias de Crescimento Económico (Aulas do Mestrado de Marketing Research da ...Teorias de Crescimento Económico (Aulas do Mestrado de Marketing Research da ...
Teorias de Crescimento Económico (Aulas do Mestrado de Marketing Research da ...Vítor João Pereira Domingues Martinho
 
APRESENTAÇÃO TEORIA NEO-SCHUMPETERIANA.ppt
APRESENTAÇÃO TEORIA NEO-SCHUMPETERIANA.pptAPRESENTAÇÃO TEORIA NEO-SCHUMPETERIANA.ppt
APRESENTAÇÃO TEORIA NEO-SCHUMPETERIANA.pptSarita115085
 
O sistema mundo capitalista rumo à derrocada
O sistema mundo capitalista rumo à derrocadaO sistema mundo capitalista rumo à derrocada
O sistema mundo capitalista rumo à derrocadaFernando Alcoforado
 
Gestão e economia
Gestão e economiaGestão e economia
Gestão e economiacattonia
 
Texto de apoio: Capitalismo
Texto de apoio: CapitalismoTexto de apoio: Capitalismo
Texto de apoio: CapitalismoCADUCOC
 
Texto escolar3anoconstrucaoespacomundialnumaperspectivacapitalismo
Texto escolar3anoconstrucaoespacomundialnumaperspectivacapitalismoTexto escolar3anoconstrucaoespacomundialnumaperspectivacapitalismo
Texto escolar3anoconstrucaoespacomundialnumaperspectivacapitalismoechechurry
 
Revisão de geo
Revisão de geoRevisão de geo
Revisão de geoedudeoliv
 

Semelhante a Teoria do Desenvolvimento Capitalista (20)

O imperialismo
O imperialismoO imperialismo
O imperialismo
 
O capitalismo
O capitalismoO capitalismo
O capitalismo
 
o-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdf
o-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdfo-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdf
o-enigma-do-capital-e-as-crises-do-capitalismo.pdf
 
Ciclos econômicos
Ciclos econômicosCiclos econômicos
Ciclos econômicos
 
Capitalismo monopolista e servico social
Capitalismo monopolista e servico socialCapitalismo monopolista e servico social
Capitalismo monopolista e servico social
 
4º Bloco A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista Dilermando Toni
4º Bloco   A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista   Dilermando Toni4º Bloco   A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista   Dilermando Toni
4º Bloco A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista Dilermando Toni
 
4º Bloco A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista Dilermando Toni
4º Bloco   A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista   Dilermando Toni4º Bloco   A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista   Dilermando Toni
4º Bloco A DinâMica Do Modo De ProduçãO Capitalista Dilermando Toni
 
25 cadernosdocesit
25 cadernosdocesit25 cadernosdocesit
25 cadernosdocesit
 
Karlmarx
KarlmarxKarlmarx
Karlmarx
 
capitalismo-140224154700-phpapp01 (1).pdf
capitalismo-140224154700-phpapp01 (1).pdfcapitalismo-140224154700-phpapp01 (1).pdf
capitalismo-140224154700-phpapp01 (1).pdf
 
2.a globalicao da_economia_mundial
2.a globalicao da_economia_mundial2.a globalicao da_economia_mundial
2.a globalicao da_economia_mundial
 
Teorias de Crescimento Económico (Aulas do Mestrado de Marketing Research da ...
Teorias de Crescimento Económico (Aulas do Mestrado de Marketing Research da ...Teorias de Crescimento Económico (Aulas do Mestrado de Marketing Research da ...
Teorias de Crescimento Económico (Aulas do Mestrado de Marketing Research da ...
 
APRESENTAÇÃO TEORIA NEO-SCHUMPETERIANA.ppt
APRESENTAÇÃO TEORIA NEO-SCHUMPETERIANA.pptAPRESENTAÇÃO TEORIA NEO-SCHUMPETERIANA.ppt
APRESENTAÇÃO TEORIA NEO-SCHUMPETERIANA.ppt
 
O sistema mundo capitalista rumo à derrocada
O sistema mundo capitalista rumo à derrocadaO sistema mundo capitalista rumo à derrocada
O sistema mundo capitalista rumo à derrocada
 
Gestão e economia
Gestão e economiaGestão e economia
Gestão e economia
 
O longo século xx arrighi - resenha
O longo século xx   arrighi - resenhaO longo século xx   arrighi - resenha
O longo século xx arrighi - resenha
 
Texto de apoio: Capitalismo
Texto de apoio: CapitalismoTexto de apoio: Capitalismo
Texto de apoio: Capitalismo
 
Capitalismo
CapitalismoCapitalismo
Capitalismo
 
Texto escolar3anoconstrucaoespacomundialnumaperspectivacapitalismo
Texto escolar3anoconstrucaoespacomundialnumaperspectivacapitalismoTexto escolar3anoconstrucaoespacomundialnumaperspectivacapitalismo
Texto escolar3anoconstrucaoespacomundialnumaperspectivacapitalismo
 
Revisão de geo
Revisão de geoRevisão de geo
Revisão de geo
 

Teoria do Desenvolvimento Capitalista

  • 1. ... PAUL MARLOR SWEEZY '. , ( Teoria do Desenvolvimento Capitalista CIP'~rasil. Catalogação-na-Publicação Cãrnara Brasileira do Livro. SP "'-J '-.J ç- "J '.ri S978t 2.ed. S"eezy, Paul Marlor. 1910- Teoria do desenvolvimento capitalista: princípios de economIa política marxista / Paul Marlor Sweezy ; apresentação de Helga Hoffmann ; tradução de Waltensir Dutra. - 2.ed. - São Pau. 10 : Nova Cultural. 1986. (Os economistas) 1. Capitalismo 2. Economia marxista 3. Marx. Karl. 1818-1883 4. Socialismo I. Hoffmann, Helga. 11.Título. 111Série. Apresentação de Helga Hoffmann Tradução de Waltensir Outra 85-1013 17 e 18. CDD-3354 17. -330.15 18... -330.122 [7' -335.411 ~ -335.412 Índices para catálogo sistemático: 1. Capitalismo: Economia 330.15 (17.) 330.122 (18.) 2. Economia marxista 335.411 (17.) 335.412 (18.) 3. Marx. Karl. 1818-1883: Conceitos económicos 335.'!,1 (17.) 335.412 (18.) 4. Marxismo: Economia 335.4 (17. e 18.) 5. Socialismo marxista: Economia 335.4 (17. e 18) 1986 NOV A CULTURAL.
  • 2. mos à nossa volta é uma economia mundial imer-reiacion:.daconslltuída de nume. rosos países capitalistas. semic"<!;::itaiistase não-capitalistas. nos quais o monopó!:o. em graus variadoc;,é um fenômeno comum. Veremos que esses fatos nãQ são ad- demais e pertencem à natureza mesma do capitalismo como fase da história mun- dial. Fazer abstração deles foi um estágio necessário, mas provisório. de nossa aná- lise. Chegou o momento de irmos além dessa posição, levando em conta uma va- riedade de aspectos do desenvolvimento capitalista. até agora omitidos de nossas considerações. Com isso, veremos que novos problemas e condições surgem. alte- rando profundamente nossa visão do futuro do capitalismo e do papel que nele te- rá o Estado. Nossa próxima tarefa deve, portanto, ser a análise das tendências estruturais e institucionais do capitalismo que modificam seu caráter competitivo; e analisar as características evolutivas da economia mundial. As duas tarefas estão relaci~nadas entre si da forma mais íntima. Somente quando estiverem concluídas, poderemos aplicar os princípios apresentados neste capítulo e avaliar concretamente o papel da atividade estatal no destino da ordem capitalista. C.."PITULO XIV Desenvolvimento do Capital Monopolizador . As tendências do capitalismo que se distanciam da concorrência livre entre produtores e no sentido da formação de monopólios estão intimamente ligadas à crescente composição orgànica do capital. examinada em capítulos anteriores. Dois aspectos devem ser considerados: primeiro, o crescimento do capital constan- te em relação ao variável; e, segundo, o crescimento da parte fixa do capital cons- tante, isto é, de edifícios e máquinas em relação às matérias-primas, processadas e auxiliares. O resultado dessas duas tendências é a eleva ão no taman é i da unidade produtiva. Marx observêu que isso po ia ocorrer e uas formas, que va- mosagoraexammar. ~ 1. Concentração do capital ( l' ~ (.. I -.91?1O>v VV' / rSe os capitalistasindividualmente acJ.llDlllam,de forma a aumentar a quantida- de de capital controlada por cada um isoladamente, isso possibilita uma escala de produção maior. Marx denomina esse processo de "concentração do capital". A concentração nesse sentido é companheira normal da acumulação e obviamente não pode ocorrer sem ela) A reciproca, porém, não é necessariamente verdadeira, pois é possível imaginar a acumulação ao mesmo tempo que os capitais individuais diminuem de volume, talvez devido a repetidas subdivi~ões entre seus herdeiros. Apesar das tendências contrabalançadoras desse gênero( a concentração em si se- ria sem dúvida suficiente para explicar o aumento crescente na escala de produção e a tendência, pelo menos sob certos aspectos, no sentido da eliminação da Cõn- corrência. Juntamente com a concentração há um segundo e mais importante pro- cesso qué Marxchamou de "centralização do capitqL- ) 2. Centralização do capital ( I A centralização, que não deve ser confundida com a concentração, significaa reunião de capitaisjá existentes: 1" " 'I.. l "Esse processo difere do primeiro pelo fato de pressupor apenas uma modificação 197
  • 3. 198. IMPERIAUSMO ( 1" f ~ l na àistribuição do capital já existente e em atividade. Seu campo de ação não se limita portanto pelo. crescimento absoluto da riqu . eza S . ocial. pelos limitesabsolutos da acumu- !;lção. O capital cresce nUnI detenninado lugar até atingir uma massa imensa. sob .1m controle único, porque em outro lugar loi perdido por muitos investidores. Isso é a cen- tralização, em contraposição à acumula~ão_eà COf!ç~l].tração~ J - Marx não tentou expor "as leis dessa centralização de capitais", contentando- se com "uma breve indicação de uns poucos fatos". Isso se deve ao plano de sua obra, e não à opinião de que o fenômeno fosse destituído de impo,5lância. Mesmo assim, suas indicações breves são instrutivas e merecem exame. O principal fator subjacente na centralização está nas economias de produção em grande escala. --- "A batalha da concorrência é travada no barateamento das mercadorias. Esse bara- teamento depende. ceteris paribus. da produtividade do trabalho. e esta novamente 'da escala de produção. Portanto, os capitalistas maiores derrotam os menores. "2 Parte dos capitais menores desaparece, outra parte passa às mãos das empresas mais eficientes, que dessa forma aumentam de tamanho. A luta da concorrência é, assim, um agente da centralização.j Há outra força que atua no mesmo sentido, mas de modo diverso - o "s.!§!g- ma de crédi~'. Marx dá a essa expressão um sentido amplo que inclui não só os bancos, mas toda a maquinaria financeira de casas de investimentos, mercados de títulos etc. f "No princípio, o sistema de crédito surgiu como um auxiliar modesto da acumula- ção, conduzindo por fios invisíveisas fontes de recursos espalhadas por toda a socieda- de para as mãos de capitalistas individuais ou reunidos em grupos. Mas toma-se logo uma nova e lonnidável anna na luta da concorrência e finalmente se transfonna num mecanismo socialimenso para a centralizaçãoeloscapitais."3 A centralização por intermédio do sistema de crédito. em sua forma desenvol- vida, não significaa expropriação dos capitalistasmenores pelos maiores, mas a "fusão de um certo número de capitais já existentes ou em processo de lonnação... pe- la estrada mais suave da fonnação de sociedade por ações" .4 É o método mais rápido de ampliar a escala de produção. .Q,)c- l "O mundo ainda estaria sem estradas de lerro se tivesse sido obrigado a esperar até tAc.."K que a acumulação pennitisse a alguns capitalistas individuais empreenderem a constru- f~)...~..k ção de. uma ferrovia.!' c~ntralização, por outro lado, realizou isso rapidamente através ""I das socIedades por açoes. S f.J.M." .- q.- ~ r o fim da centralização em qualquer ramo da indústria é atingido quando testa '-.:.: ape!,as uma firma,6mas para a sociedade como um todo o limite extremo só che- gara quando ) I O Capital.I.p. 686. 2Ibid.. p. 686. 'Ibid.. p. 687. 'Ibld., p. 688. 'Ibid. 6 Engels acrescentou ~ 4.. ediçAo alemA a seguinte nota: "Os maIS recentes 'trusles' ingleses e amencanos têm o ob,en. vo de realizar isso tentando unir pelo menos todos OSgrandes empreendimentos de um cena ramo de mdÕ5ma numa gr3nde companhia de açOescom um monopólio pratico" O Capital. I. p. 688. .L , "j "j, 'f "~ I... .l .L I..., DESENVOL'JlME.'ITO DO CAPITAL MONOPOUZADOR 199 ., L"tOdO. ~ capital s<><:i,a~estiver unido seja nas mãos de um único capitalista, ou nas de umaumcaempresa.' --1 ) Essa observação. e na realidade toda a análise que Marx faz da centralização, dei- xa claro que ele não considera o processo do ponto de vista da propriedade legal - que pode ser distribuída entre grande número de acionistas - mas do ponto de vistada grandeza do capital sob direção unificada. Os principais efeitos da centralização, e em menor grau da concentração. são três. Em primeiro lugar, leva a uma socialização e racionalização do processo de trabalho dentro dos limitesdo capitalismo;quanto a isso, Marx fala da II "transfonnação progressiva dos processos de produção socialmente combinados e cientificamente administrados". g .j .~,I .. I Em segundo lugar, a centralização, em si mesma conseqüência da m(ldificação téc- nica e da crescente composição orgânica do capital, age para apressar ainda mais as modificaçõestécnicas. .., "A centralização. acelerando e intensificando assim os efeitos da acumulação, am- plia ao mesmo tempo as revoluções na composição técnica do capital. que aumentam sua parte constante às expensas da variável e portanto reduz a procura relativa do tra- balho.". O terceiro efeito, que não interessava a Marx naquela fase de sua exposição onde tratava da centralização, é evidentemente um corolário, ou seja. a substituição pro- gressiva da concorrência entre um grande número de produtores pelo controle mo- nopolista ou semimonopolista dos mercados, por um Requeno número. .. 3" Sociedades anônimas Vimos que Marx reconheceu a sociedade anônima como instrumento essen- J ( cial da centralização. Sabia ainda que as sociedades anônimas têm certas influên- cias de grande alcance sobre o caráter e o funcionamento da produção capitalista.I , '{' Essasinfluênciassão assinaladasnum dos rascunhosmanuscritosque Engelsreu- ,.. niu para formar o volume 111de O Capital.0 Emboraaindaem rascunho,a análise IL mostra que Marx estava muito adiante de seu tempo ao compreender a significa- ~~~~ ~-Marx faz três observações em relação às sociedades por ações: "1. Uma enonne expansão da escala de produção e das empresas, que eram impos- '1 síveis para os capitais individualmente... J . 2. Capital.. está aqui dotado da fonna de capital social.. em contraposição 30 capi- tal privado, e suas empresas assumem a fonna de empresas sociais em contraposição ; às empresas individuais. É a abolição do capital como propriedade privada dentro dos , limites da própria produção capitalista. 3. A transfonnação do capitalista atual num simples gerente, administrador do capi- tal de outras pessoas, e dos proprietários do capital em meros donos, meros capitalis- tas do dinheiro". li -O Capital. I. p. 688. '/bid. , O Caoda/. I. p. 689. ~1!0 foi o único ef"to da cenlmlização na modlfica~o técnica. Ver adiante. p. 213. :. O CapItal 111.capo XXVII("Papel do Crédilo na Produ~ão Capotali5ra"). "Ibocl. p. 516
  • 4. _vv DESENVOLVIMENTO DO CAPITAL MONOPOLlZADOR 201 o primeiro desses pontos já foi tratado. O segundo e o terceiro resumem com- pactamente a essência de um grande volume de trabalhos sobre as sociedades anô- nimas, aparecidos nas últimas duas ou três dêcadas. A produção particular. jét en- fraquecida pelo advento do sistema fabril. desaparece quase totalmente nas gran- des sociedades anônimas. e o verdadeiro dono do capital se afasta mais ou menos totalmente do processo de produção. Marx, porêm, não comete o erro, em que in- cidiram muitos autores modernos sobre o assunto, de considerar a sociedade anô- nima como um passo direto no sentido do controle social da produção. Pelo con- trário,a conseqüência desse desenvolvimento é f mação de sociedades anônimas como uma fonte de grandes fortunas. De ambas as formas ele estimula o crescimento da escala de produção e a centralização do cã:" pital. O ato da promoção ou organização ~e consuma na em:ssão e venda de novas ações aos que dispõem de capital livre. E por isso que o especialista na venda de novas ações chegou a ocupar uma posição-chave na formação de empresas, exe- cutando diretamente. por vezes, as funções da organização e colhendo a parte do leão do lucro dos organizadores. Na Alemanha, os grandes bancos comerciais, com seus amplos recursos e contatos financeiros, ingressaram cedo no setor de venda de novas ações e se estabeleceram em posição destacada no setor de orga- nização de empresas. Nos Estados Unidos, por outro lado, foram os banqueiros particulares, que se ocupam de câmbio interno e externo, que primeiro ingressa- ram no campo das novas ações, e dessa forma aos poucos aperfeiçoaram a institui- ção do banco de investimentos, em contraposição ao banco comercial, até que nu- ma fase posterior de desenvolvimento estes ingressaram também no setor dos in- vestimentos, através das chamadas companhias filiadas.Apesar do curso de evolu- ção por vezes divergente, principalmente devido às diferenças nas limitações legais de liberdade dos bancos comerciais, o resultado tanto nos Estados Unidos como na Alemanha, países que Hilferdingtomou como base de suas generalizações, foi substancialmente o mesmo. Os financistas tiveram o papel mais importante na or- ganização de novas empresas e com isso conseguiram uma posição altamente signi- ficativa,e por vezes dominante, na estrutura das sociedades anônimas. Foi devido a esse fenômeno que Hilferding deu a seu livro o título de O Capital Financeiro. Veremos mais adiante, porém, que ele errou ao superestimar a importância do pre- domínio financeiro na última fase do desenvolvimento capitalista. Além de proporcionar a base do lucro do organizador, a separação entre o ca- pitalista individual e seu papel nq, processo produtivo leva a uma maior centraliza- ção do controle sobre o capital.[O controle nominàl da sociedade anônima está nas mãos do corpo de acionistas'-'Mas mesmo legalmente os proprietários da maio- ria das ações têm praticamente õ' controle completo do capital de todos os acionis- tas, e na prática a proporção necessária é muito inferior à da maioria, "apenas um terço ou um quarto do capital, e mesmo menos". 15 Com isso, o capitalista que po- de controlar um grande volume de ações em uma ou mais sociedades anônimas tem sob seu controle um volume de capital várias vezes superior ao que possui. Is- so mostra claramente um atributo da forma de organização da sociedade anônima que Hilferding não deixa bem explícito, ou seja, o de que embora propriedade de ações como tai esteja afastada do controle e direção da produção, não obstante a propriedade de uma quantidade de ações suficientemente grande proporciona o controle da produção em escala multiplicada. 16 Isso porém ainda não dá uma idéia precisa da possibilidade de centralização de controle pelo uso da forma de sociedade anônima, pois devemos lembrar que uma sociedade pode ser dona de ações de outras sociedades. Assim, um capitalis- ta pode controlar a sociedade anônima A possuindo, digamos, um terço de suas ações. Parte do capital de A pode ser usada para obter o controle das sociedades B, C e O, e o capital destas por sua vez pode trazer para o grupo outras empresas. '''uma nova aristocracia das finanças, uma nova sorte de parasitas na forma de organi- zadores de companhias, especuladores e diretores meramente nominais, de todo um sistema de fraudes e tapeações por meio de toda sorte de malabarismos, burlas e espe- culações com ações. É a produção privada sem o controle da propriedade privada",'2 A teoria marxista das sociedades anônimas foi completada e ampliada por Ru- doU Hilferding, em sua importante obra O Capital Financeiro. publicada em 1910. Economicamente, o aspecto mais importante dessa forma de organização é a disso- lução do laço entre a propriedade do capital e a direção da produção, "a liberta- ção do capitalista industrial da função de empresário industrial", como expressou Hilferding.13Foi na apresentação das conseqüências desse fenômeno que Hilfer- ding fezsua contribuição maisimportante à teoria das sociedades anônimas. Não ê a sociedade anônima como tal que transforma o capitalista industrial em capitalista financeiro; uma firma particular pode realizar o processo legal de in- corporação sem modificação essencial alguma, do ponto de vista econômico. Deci- sivo é I) crescimento de um mercado firme para as ações das sociedades anôni- mas, o que em si constitui um processo histórico longo, que não pode ser analisa- do aqui. A razão disso é clara: some'nte através do mercado de ações pode o capi- talista conseguir a independência do destino da empresa em que investiu seu di- nheiro. Quanto mais perfeito for o mercado de ações, tanto menos o acionista se parece com o antiquado capitalista e administrador e tanto mais com o realizador de empréstimos que pode recuperar imediatamente seu dinheiro. Sempre perma- nece, porém, uma diferença, ou seja, a de que o acionista corre um risco m,aiorde perda do que o emprestador puro e simples e portanto a sua participação nos lu- cros deve ser maior do que os juros sobre o dinheiro, através de um prêmio do ris- co variável. Com essa, ressalva, a transformação do acionista de"capitalista indus- trial que recebe lucro num capitalista financeiro que recebe juros está, em princí- pio, completa. A primeira conseqüência dessa transformação é o aparecimento do "lucro do organizador" (GlÜndergewinnJque Hilferdingdesigna, COT:'justeza, como "catego- ria econômica sui generis".14 Se uma empresa Oá em existência ou planejada) pro- porcionará um lucro de 20% sobre o capital investido, digamos, e se o lucro de ações em empresas de risco comparável ê de 10%, então, incorporando a empre- sa e colocando seus títulos no mercado, os organizadores poderão vender ações que dupliquem o total do capital realmente investido.A diferença vai direta ou indi- retamente para os bolsos dos organizadores, que com isso se enriquecem e se for- talecem para outras operações. O lucro dos promotores é tanto um incentivo à for- "Com o desenvolvimento da forma de sociedade anônima, começa a existir uma "/bid.. p, 521. 13Das Finanzkapital, p. 112. "/bid.. p. 118, "/bid.. p. 130, 16Temos aqui uma ilustraç!o do prindpio dJaléticode que em certas drcunst!ncias uma modificação na quantidade alémde um pontodefinido leva a uma modificaçãona Qualidade.
  • 5. 202 IMPERIALISMO" DESENVOLVIMENTO DO CAPITAL MONOPOUZADOR 203 técnica financeira espedal que tem a finalidade de assegurar a uma quantidade míni- ma de capital próprio o domínio sobre o maior volume possível de capital de ou-tr "17os. 4. Cartéis, tnJstes efusães Resta-nos notar agora a fase final do processo de centralização possibilitada pela sociedade anônima. De um lado, o lucro do organizador coloca grandes rique- zas nas mãos de um número relativamente pequeno de capitalistas e instituições bancárias; do outro, essa riqueza pode ser empregada de fonna a conseguir o con- trole de um totalde capital muito maior. Dessa fonna, como expr~u Hilferding, "Corma-se um círculo de pessoas que, graças a sua posse de capital ou como represen- tantes de um poder concentrado sobre o capital de outras pessoas (diretores de ban- cos), sentam-se nas juntas administrativas de um grande número de sociedades anôni- mas. Surge assim uma espéde de união pessoal [Per.oonafunion] seja entre as próprias sociedades diver.oas, seja entre estas e os bancos. drcunstanda que deve ser da maior importanda para a política dessas instituições, pois entre elas surgiu uma comunidade de interesses (gemeinsame Besitzinteresse]."18 Em muitos casos, essa união pessoal entre "os que estão dentro" é a causa. ou pelo menos a origem, de uma unificação orgânica ainda mais fechada, na for- ma de cartéis, trustes ou fusões. com o objetivo direto do controle monopolista do mercado. Essas fonnas orgânicas serão examinadas isoladamente na seção seguin-te. A conseqüênda geral da difusão da fonna de sociedade anônima pode ser re- sumida assim: a intensificaçãodo processo de centralização juntamente com a ace- leração da acumulação em geral, de um lado; do outro, a fonnação de uma cama- da superior relativamente pequena de grandes capitalistascujo controle se estende muito além dos limites de sua propriedade. Este último ponto tem sido tão mal compreendido pelos autores modernos que nos parece oportuno acrescentar uma palavra a seu respeito. Nos últimos anos temos lido muito sobre a separação entre a propriedade e o controle nas grandes sociedades anônimas. Trata-se de uma descrição correta de tendências atuais, se por isso entendemos que a concentração do controle do capi- tal não é limitada pela concentração da propriedade. Se, porém. for interpretada como significando que o controle escapa totalmente das mãos dos proprietários e se toma' prerrogativa de algum outro grupo social. está completamente errada. O que realmente ocorre é que a grande maioria dos proprietários perde o controle em favor de uma pequena minoria de proprietários. A grande sodedade anônima não significa,portanto, nem a democratização nem a abolição das funções de con- trole da propriedade, mas sua concentração num pequeno grupo de grandes do- nos de propriedades. O que muitos donos de propriedades perdem, uns poucos ganham. Hilferdingestava perfeitamente certo ao dizer que A fase final do desenvolvimento do capital monopolista ocorre quando se for- mam combinações com o objetivo consciente de dominar concorrência. Essa fase só é atingida tendo como base um graú relativamente alto de centralização que. re- duzindo o número de empresas em detenninado setor de produção, toma a con- corrência cada vez mais severa e perigosa para os sobreviventes. A concorrênda tende a se transfonnar numa luta mortal que não benefida ninguém. Quando isso ocorre, o terreno para o movimento de combinação está preparado. Marx completou sua obra 'êêonôrrlÍca-antês qúe o movimento de combinação surgisse, e conseqüentemente não existe nenhuma anãlise, de sua pena. sobre a questão nos três volumes de O Capital. Na época em que Engels iniciou o preparo do volume 111,em meados da década de 1880, porém, a direção dos acontedmen- tos já era clara. Numa longa nota inserida na análise feita por Marx das sodedades anônimas. Engelsfalou das "companhias por ações de segundo e terceiro grau", na forma de cartéis e "em al- guns setores... a concentração de toda a produção desse setor numa única grande so- ciedade por ações, sob uma administração conjunta". E observou ainda: "A !iberdad2 de competição atingiu o fim de sua carreira e está obrigada a anundar sua própria e evidente bancarrota". 20 "os capitalistas Cormam uma sociedade na direção da qual a maioria deles nada tem a dizer. A verdadeira orientação do capital produtivo pertence aos que apenas conlIibuí- ram com uma parte dele". 19 Hilferding, tendo à sua frente a rica experiência da .c.Jemanhae Estados Uni- dos nos anos entre 1890 e 1910, pôde enquadrar a questão no corp9 da econo- mia marxista. Nossa anãlise segue as linhas gerais da anãlise de Hilferding,embora com modificações apropriadas para os leitores mais familiarizadoscom as condi- ções norte-americanas do que com as alemãs. A característica específica das fonnas de organização que vamos examinar, o que as distingue da sociedade anônima como tal, é o fato de serem destinadas deli- beradamente a aumentar os lucros por meio de controles de mercado de caráter monopolista. Para atingir esse objetivo, é necessária a transferência ou limitação da independência de ação das empresas participantes, e sua coordenação sob uma poIrticaunificada e definida. Como há uma grande escala de graus de limitação, se- gue-se que há muitas fonnas diferentes de combinação monopolista. Mendonare- mos algumas das mais importantes, começando com as fonnas de associação me- nos rígidas e chegando até a fusão completa de finnas concorrentes. Devemos lem- brar que uma comunidade de interesse entre concorrentes, ,paseada em diretorias ligadas entre si ou em ligações bancárias comuns. quando existe, aplaina o caminho e fortalece grandemente a tendência no sentido da combinação. Realmente. pode- ríamos mesmo dizer que uma comurlidade de interesse é. num certo sentido, um ti- po de combinação que leva fadlmente a fonnas mais rígidas. Talvez a fonna mais fraca de combinação seja o chamado "acordo tácito", que é essencialmente a articulação de uma polftica comum com a concordância dos concorrentes. mas sem qualquer força de obrigação sobre nenhum deles. O in- centivo para que cada finna individualmente rompa o acordo, porém, é grande, e os entendimentos desse tipo raramente duram longo período. Um estágio mais avançado é a fonnação de um pool, ou combinação para fins especulativos. no qual os negócios são distribuídos segundo uma fónnula apro- vada entre os partidpantes. Esse acordo é geralmente feito por escrito; mas seu 11Das Anonkapitol. p. 130-131. HUfetding notou que têcnica adngiu a perfeição no financiamento dos sistemas fe~rios norte-americanos" Ip. 131). Devemos dizer que esse n(veL por mais alto que fosse. fOIsuperado pelo selorde utilidades públicas. durante a década de 1920. ,. Das FinanzkDpitoi.p. 132. t9 Das Ananz/cQpitoi.p. 145. As provas d tese. nos Estados Unidos. podem ser rartamente encontradas em dois re. latórios cuidadosamente documentados. organizados peJa Comis~o Nacional Econclmica Temporália. ou seja. a Mo- nognsfia n.. 29. Intilu1ada The DÍSlJibulion o{ Ownership in lhe 200 Largest Nonfinancial CorportUions. e MonognsHa n.. 30. Survery of Shareholdlng. in 1.710 CorportUions wilh Securilies Listed on a National Securilies Exchange. '" O Ccp.fJ1/. 111.p. 518.
  • 6. 204 IMPERIAUSMO DESENVOLVIMENTO DO CAPITAL MONOPOUZADOR cumprimento depende principalmente da cooperação voluntária de seus mem- bros. Por isso,comoo acordotácito.o pool é instávele geralmentenão passade um fenômeno transitório. Certos tipos de cartéis se assemelham muito ao pool e participam de sua fra- queza, que pode porém ser superada distribuindo o controle do cartel entre seus membros e criando sanções contra os que se recusam a cumprir seus ten1os. O cartel trpico tem uma comissão central com a incumbência de fixar preços e quotas de produção. e o poder de punir os violadores com multas ou outras sanções. A in- dependência dos membros pode ser limitada ainda mais pela centralização das compras e vendas num único agente. interrompendo com isso a relação direta en- tre as firmas individuais e seus clientes. e dando mesmo à comissão central o po- der de fechar as fábricas ineficientes e distribuir os lucros totais segundo uma fór- mula estabelecida. Quando essa última medida é tomada, o cartel se aproxima muito. sob vários a$pectos.da fusão total. Uma forma de organização mais rigorosa do que o cartel é o truste, no senti- do pre::!soda palavra, e que gozou de grande voga nos Estados Unidos, durante ai. gum tempo, até ser proibido por lei. ~o_~e, os donE-s_de uma l11~joriage jlções de várias sociedades anônimas independentes'passam su!is ações para um grupo de depositários, em 'iróCãde um certificado de depósito. 10s depositários adminis- tram as companhias e os portadores dos certificados recebem os dividendos. Dessa forma. a unificação completa de políticas das companhias é realizada, ao passo que a identidade legal e comercial dos seus constituintes não é prejudicada. como no cartel. O truste nesse sentido não deve ser confundido com o sentido comum do termo. de denominação genérica cobrindo quase toda a escala de combinações monopolistas. Finalmente, chegamos à fusão completa, na qual a independência das firmas participantes é abolida. A fusão pode ocorrer de várias formas, sendo as principais delas a absorção de todas as firmas por uma única firma grande, e o desapareci- mento de todas as firmas antigas em favor de uma nova entidade comercial. De qualquer forma, O'resultado é o mesmo: completa unidade orgânica sob uma dire- ção única. Essa é, evidentemente, a forma mais eficiente de combinação, do ponto de vistade realizaruma políticamonopolista. Os fatores determinantes das formas de combinação a serem adotadas nas vá- rias circunstâncias de tempo e lugar constituem um ramo especial da economia aplicada. Em geral, podemos dizer que se relacionam com as condições particula- res existentes nos diferentes setores da indústria, com as debilidades das formas de associação menos rápidas e com as disposições legais em vigor nos diferentes paí- ses. Assim, por exemplo, nos Estados Unidos as leis proibidoras das combinações do tipo de cartel e truste estimularam as fusões diretas como método de obter finali- dades monopolistas, ao passo que na Alemanha. onde o cartel tinha uma situação legalmente reconhecida, essa forma floresceu. De nosso ponto de vista. tais diferenças são de importância secundária. O fato decisivo é que esse movimento de combinação varreu todos os países capitalistas adiantados durante as duas décadas, aproximadamente, que cercaram a passagem do século, e provocaram uma modificação qualitativa no caráter da produção capi- talista. A livre concorrência, que fora o caráter dominante (embora não exclusivo) do mercado capitalista, foi definitivamentesuperada pelos vários graus de monopó- lio, como traço dominante. As conseqüências dessa transição sobre as leis gerais do movimento da sociedade capitalista serão cuidadosamente examinadas nos dois capítulos seguintes. 5. O papel dos bancos Já observamos que os bancos. devido à sua posição estratégica na emissão e venda de novos títulos. desempenham um papel peculiarmente importante na for- mação de sociedades anônimas. e o mesmo se aplica à fusão de empresas já exis- tentes. Os bancos conservam para si uma parte principal do lucro do organizador. nomeiam seus representantes para participar da direção de empresas e exercem grande influênciasobre as políticasadotadas. . Em que direção se exerce tal influência?Sempre na direção da eliminação da concorrência. Uma companhia isolada pode. sentindo-se bastante forte. enfrentar uma luta de morte com suas concorrentes, esperando atravessar um período tem. porário de lucros reduzidos, na esperança de compensar posteriormente suas per' das. Mas para um banco que tem relações com muitas companhias. essa atitude inevitavelmente parece fútil e contraproducente. Os lucros de uma companhia são compensados pelas perdas de outras. Como acentuou Hilferding, "Ponanto. a luta dos bancos para eliminar concorrência entre as firmas em que es- tão interessados ê absoluta. Todo banco tem interesse no mais alto lucro possível. Em condições iguais, tal objetivo ê atingido em determinado ramo da indústria quando a competição ê tC1i1lmente excluída. Daí a luta dos bancos pelo monopólio."21 Quanto mais amplas as ligações de um banco e mais poderosa a sua voz, tan- to mais eficientemente pode pôr em prática sua política de eliminar a concorrência e estabelecer monopólios. Daí a centralização de capital na esfera industrial encon- trar sua contrapartiàa no crescimento de unidades bancárias cada vez maiores. Dis- so surge a união pessoal interna de diretorias comuns e comunidades de interesse que unem os grandes banqueiros e magnatas industriais em todos os países capita- listasadiantados. Até aqui é possível aceitar a análise de Hilferding, com algumas restrições. Mas ele vai consideravelmente mais longe, afirmando por vezes abertamente e sempre implicitamente que na sociedade entre o capital industrial e bancário é o úl- timo que ocupa posição predominante. "Capital financeiro" é definido a certa altu- ra como "capital controlado pelos bancos e utilizadopelos industriais"22e a tendên- cia do capitalismo é retratada como envolveedo a crescente sujeição de todos os aspectos da vida econômica a um círculo cada vez mais estreito de grandes ban- cos. Issose evidencia claramente no trecho seguinte: "Com o desenvolvimento dos bancos. com as relações cada vez mais íntimas entre bancos e indústrias, aumenta a tendência. de um lado. para excluir a concorrência en- tre os bancos. de outro. para que todo o capital se concentre na forma de capital finan- ceiro e atinja colocações produtivas somente através dos bancos. Em última análise. es- sa tendência levaria a uma situação na qual todo o capital estaria à disposição de um banco ou grupo de bancos. Esse 'banco central' exerceria então o controle de toda a produção social". 23 Não pode haver dúvida de que essa interpretação é errônea. Hilferding con- funde uma. fase transitória do desenvolvimento capitalista com uma tendência per- manente. E certo que durante o período do próprio movimento de combinação, " Das Finanzkap.UJ/. p. 231. Z2Ib.d.. p. 283. ZJ Ibíd. p. 218.
  • 7. '- 206 DESENVOLVIMENTODO CAPITAL :.10NOPOUZ DOR 207 1~IPERIAUSMO quando as sociedades anônimas e as fusões estão em processo de formação. os bancos desfrutam uma posição estratégica que Ihes permite influirsobre áreas-cha- ves do sistema produtivo. O processo de combinação. porém. não pode continuar indefinidamente. O limite linal será atingido em qualquer indústria quando somen- te restar uma firma. mas como norma o processo se detém consideravelmeme an- tes que esse limite linal seja atingido. A concorrência de forma perigosa desaparece efetivamente quando algo da ordem de três quartos ou quatro quintos de uma de- terminada indústria estão nas mãos de algumas poucas companhias grandes. Alêm desse ponto a tendência a novas combinações é grandemente Iftlfraquecidae po- de mesmo ser totalmente neutralizada pelas forças contrabalançadoras. Grupos ri- vais de grandes capitalistas continuam existindo e cada qual espera sempre poder melhorar sua posição a expensas dos outros: cada qual necessita de bases nos seto- res industriais mais importantes. como fonte de força e possíveis trunfos no jogo das negociações com os outros. Uma vez afastado o aspecto da concorrência mor- tal. e descoberto um modus uiuendi para as finalidades monopolistas mais gerais e necessárias. novas combinações se tomam menos freqüentes e podem cessar mes- mo totalmente. Ao se atingir essa fase. a posição dos bancos sofre uma modificação acentua- da. A função de emitir novas ações. em que se baseava originalmente sua força. toma-se muito menos importante. As grandes empresas monopolizadoras se en- contram, em proporção direta ao seu êxito (ou seja. lucratividade), de posse de fontes internas de fundos, não sô na forma de lucros que podem ser acumulados ao invés de distribuídos como dividendos aos acionistas, como ainda na forma de depreciação, manutenção. obsolescência. e outras chamadas "reservas" contábeis. que são transferidas. em proporções cada vez maiores, para as finalidades de acu- mulação. Com essas fontes internas de capital adicional à sua disposição, as admi- nistrações das sociedades anônimas estão mais ou menos liberadas do mercado pa- ra novas ações c~mo fonte de capital. e pela mesma razão estão livres da depen- dência dos banqueiros. Na realidade, nos casos em que a influênciados bancos es- tá firmemente estabelecida, isso não significaum declfnio imediato de sua força. Mas, com o tempo, o poderio econômico não relacionado com uma função econô- mica está destinado a se enfraquecer e finalmente desaparecer. É exatamente o que ocorre ao poderio dos bancos na medida em que se baseia no controle sobre emissã6 de novas ações. A função se atrofia e o poder ao qual ela deu origem de- clina, deixando os bancos em posição secundária. O capital bancário, que já teve seus dias de glôria. volta novamente a uma posição subsidiária em relação ao capi- tal industrial, restabelecendo dessa forma a relação que existia antes do movimen- to de combinação. Não se entenda por isso que o capitalismo em geral volte à sua fase anterior; pelo contrário, o monopôlio e o domínio de uma pequena classe su- perior de grandes capitalistas se solidificarame expandem gradualmente. assimilan- do setores cada vez maiores do sistema produtivo e distribuidor.A diferença é ape- . nas a de terem como base o capital industrial e não, como Hilferdingjulgou que ocorreria, o capital bancário. O predomínio deste último é uma fase passageira do desenvolvimento capitalista, que coincide aproximadamente com a transição do sis- tema de concorrência para o de monopólio.24 importantes no caráter do processo de acumulação. particularmente o crescimemo do financiamento interno das empresas.25E leva a ilusões profundas sobre a natu- reza e dificuldadeda tarefa de realizaruma sociedade socialista.Já em 1910 Hilfer- ding expressava a opinião de que "o conmto de seus grandes bancos berlinenses significaria o contisco das mais impor- tantes esferas da grande indústria" .lb Mesmo na época. isso estava longe de ser a verdade. sendo fora de dúvida. po- rém, que a tomada dos grandes bancos poderia ter afetado seriamente as indús- trias que deles dependiam. Mas hoje. todo o sistema bancário poderia ser "toma- do" nos Estados Unidos. por exef!1plo,sem provocar senão uma agitação passagei- ra nas fileirasdo grande capital. E claro que. se a teoria do capitalismo financeiro for interpretada como significandoo domínio dos bancos. teremos então uma base muito precária para elaborar uma políticasocialista. Ao concluir esta exposição, porém. devemos notar que a expressão "capital Ii- nanceiro" não tem necessariamente as conotações que Hilferding lhe atribuiu. Lê- ninoem particular, criticou-lhe a definição do capital financeiro sob a alegação de que "silencia sobre um dos pontos mais importantes. ou seja. o crescimento da concentra- ção de produção e de capital em tão grande escala que a concentração leva, e tem le- vado. ao monopólio". Para o "capital controlado pelos bancos e utilizado pelos industriais" de Hilferding, Lênin apresentava o seguinte substitutivo: "A concentração da produção. os monopólios que dela surgem. a fusão ou concres- cência dos bancos com a indústria: essa a história do crescimento do capital tinanceiro e o conteúdo desse conceito" .2' A teoria de Lênin não está. portanto. sujeita às críticas que foram feitas à de Hilferding. Não obstante. é de duvidar que a expressão "capital financeiro" possa ser afastada do sentido de domínio dos banqueiros que Hilferdinglhe atribuiu. Se assim for, será preferível abandoná-Ia inteiramente e substituí-Ia pela expressão "capital monopolizador". que indica claramente o que ê essencial ao conceito de Lênin de "capital monopolizador", que indica claramente o que é essencial ao con- ceito de Lênin de "capital financeiro" e não leva o leitor incauto a uma dedução er- rônea. O erro de Hilferdingé importante sob dois aspectos. Uma conc€pção antecipa- da do domínio financeiro impede a compreensão das modificações recentes mais 24 o reconhecimento mais ex~{cito. por um aUlor marxista. do caráter transitório do domínio financeiro es~ em GROSSMANN. Op. cil.. p. 572 .. seqs. Para um esboço do enf,aqueClmenlo do pode, financeiro nos Eslados Umdos. d. SWEEZY. Paul M. "The Decline o. lhe Inv..rmen! Banker". In: Anriocn Reu.ew. Prima"",.. t941. ~ É interessante notar que. apesar de todas as modificações ocomdas entre 1910 e 1930. neste último ano Hilferding repetia. quase que palavra por palavra. os argumentos de Das Frnanzkaprrol.Ver seu alugo "Die E:gengeseutichke11 der kapilalisdschen Entw1cklung" In: HARMS. Bemha,d. ed. Kopllol und Koplto/ismus (19311. v. I. ,. 00$ Fmonzkop,tol. p. 231. 21Impenolism. Nova York. Inlemabonal Publishers Cu. 1933. p. .4