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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP
ESCOLA DE ARTES CIENCIAS E HUMANIDADES – EACH
TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Professor Dr. Edegar Luis Tomazzoni
São Paulo, 2020
Teorias do Desenvolvimento Econômico
 O primeiro a abordar teoricamente o tema foi Adam Smith (1776), e
diversos autores sucederam-no, questionando as razões do
desenvolvimento.
 Após a Segunda Guerra Mundial, passou-se a questionar as causas
do subdesenvolvimento e do terceiro mundo, principalmente, na
CEPAL.
 Intensificou-se a discussão a partir de 1990 em razão do cenário de
crescimento altíssimo da economia mundial, mas de crises nos
Tigres Asiáticos, no México, na Rússia e no Brasil.
 Aumento dos indicadores de renda em muitos países em
desenvolvimento, mas não do nível de qualidade de vida (educação,
saúde, mortalidade infantil, déficit democrático).
 Há duas correntes da conceituação: 1) crescimento econômico é
sinônimo de desenvolvimento; 2) crescimento é parte e condição
indispensável do desenvolvimento, mas não suficiente.
 Na primeira, a ênfase é a acumulação de capital e renda pelos
detentores dos meios de produção implicando melhoria dos padrões
de vida da sociedade.
 Na segunda, o desenvolvimento implica mudanças qualitativas no
modo de vida e nas instituições da sociedade.
Teorias do Desenvolvimento Econômico
 Na evolução histórica, o mercantilismo foi um dos primeiros
sistemas econômicos e priorizava a balança comercial positiva por
meio do comércio de ouro e prata pelo Estado.
 Os fisiocratas combatiam a doutrina mercantilista, propondo uma
conduta mais liberal do Estado, com base na valorização da
agricultura, único setor que proporcionava riqueza real e líquida.
(Quesnay).
Adam Smith (A Riqueza das Nações, 1776)
 O trabalho produtivo e sua divisão são fatores essenciais do
aumento da riqueza nacional, pois geram excedente sobre o custo
de produção.
 O trabalhador não pode produzir todos os bens para sua
sobrevivência, produz aqueles para os quais tem habilidades e
recursos e adquire os demais bens.
 Ciclo virtuoso de ampliação dos mercados: maior especialização da
produção, lucros, progresso técnico, demanda e oferta de trabalho,
aumento da massa salarial e processo cumulativo de crescimento.
 Precursor do liberalismo, mão invisível, laissez-faire (mão invisível),
mas o Estado deve atuar como regulador da economia.
Teorias do Desenvolvimento Econômico
David Ricardo (Princípios de Economia Política e Tributação, 1817)
 Análise das leis que regulavam a distribuição dos resultados da
produção, entre proprietários capitalistas e trabalhadores, na forma
de rendas, lucros e salários.
 A distribuição dependeria da fertilidade do solo agrícola, da
acumulação do capital e do crescimento demográfico.
 Os capitalistas deveriam concentrar renda, pois eram os
responsáveis pela acumulação do capital, pelo aumento do nível de
emprego e pelo crescimento econômico.
 Teoria das vantagens comparativas: cada país deveria especializar-
se nas produções que apresentassem vantagens comparativas de
custos, proporcionando benefícios para todos os países no comércio
internacional.
John Stuart Mill (Princípios de Economia Política e Aplicações, 1848)
 O crescimento demográfico, a acumulação de capital e as inovações
tecnológicas são fatores de aumento da produção e do comércio de
bens. É preciso distribuição de riqueza. Ênfase ao aperfeiçoamento
da agricultura para baratear alimentos e redução de custos dos
insumos.
Teorias do Desenvolvimento Econômico
Karl Marx (O Capital, 1867)
 A exploração dos trabalhadores pelos capitalistas, proprietários dos
meios de produção, gerariam conflitos distributivos entre as classes
sociais, na trajetória do crescimento econômico.
 O crescimento capitalista proporcionaria concentração de renda e
riqueza, às custas de desemprego crescente dos trabalhadores
(exército industrial de reserva).
 A evolução tecnológica gera crescimento maior do capital constante
(valor dos meios de produção) em relação ao capital variável (valor
da força de trabalho), agravando a situação dos trabalhadores.
 No processo cíclico, a acumulação do capital eleva a produtividade e
a mais-valia relativa, assim como o valor do capital constante em
relação ao valor do capital variável.
 Aumenta o exército industrial de reserva, a maioria da população
empobrece, e reduz-se o consumo global, o que se traduz em
contradição interna do modo de produção capitalista.
 Com as crises e conflitos sociais, a tendência é a auto-destruição, no
longo prazo, do sistema capitalista.
Teorias do Desenvolvimento Econômico
Joseph Schumpeter (Teoria do Desenvolvimento Econômico, 1911)
 Destaque ao papel do empresário na dinamização da oferta de
produtos, pois ele cria novos produtos e novas maneiras de expandir
a produção, de reduzir custos e de diminuir preços.
 O empresário inovador é o motor do desenvolvimento econômico,
sua iniciativa pioneira gera o enxame de empresários.
 Elementos do desenvolvimento: a) inovação tecnológica; b) ação do
empresário inovador; c) crédito bancário.
 Inovações classificam-se em: a) introdução de novos produtos; b)
novos métodos de produção; c) abertura de mercados; d)
descoberta de novas fontes de matérias-primas; e) novas formas de
organização individual.
 A mudança do equilíbrio da economia, pelo aumento da renda e
riqueza, não só pelo crescimento populacional, gera ciclos em que se
destrói o antigo, substituindo-se pelo novo, num processo de
destruição criadora.
 As fases dos ciclos são: prosperidade, recessão, depressão,
recuperação.
Teorias do Desenvolvimento Econômico
John Maynard Keynes (A Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da
Moeda, 1936)
 O Capitalismo é um sistema instável, cujos desequilíbrios não
podem ser resolvidos pelos mecanismos de mercado, mas pela
intervenção governamental no alto nível de desemprego e na falta
de demanda.
 “Revolução Keynesiana”: é a procura (demanda) e não a oferta o
motor da economia; o emprego é o gerador da procura, num ciclo
virtuoso de três fatores psicológicos: preferência pela liquidez,
estímulo para investir e propensão a consumir.
 O Estado deve gerar empregos, incentivar investimentos e
consumo, evitando o entesouramento inútil, por meio de políticas
de juros baixos, crédito e mercado livre, inclusive, empreendendo
grandes obras públicas.
 O comércio internacional é fonte de renda, emprego e
fortalecimento da economia nacional, por meio de superávits na
balança comercial.
 Sua idéias sobre a cooperação internacional formaram o “Plano
Keynes”, e o FMI foi criado sob orientação de suas teorias.
Teorias do Desenvolvimento Econômico
A CEPAL e o pensamento de Raúl Prebish
 Diagnóstico dos problemas do desenvolvimento, especialmente, dos
países da América Latina, com base no conceito centro-periferia.
 No sistema de relações econômicas internacionais, os países
industrializados (mais avançados tecnologicamente) seriam o
centro, e os não industrializados (atrasados tecnologicamente), a
periferia.
 Crítica à teoria das vantagens comparativas de David Ricardo, de
acordo com a qual a América Latina deveria produzir alimentos e
matérias-primas para exportar e importar manufaturados, pois os
países subdesenvolvidos não precisariam se industrializar.
 De acordo com a teoria ricardiana, os preços dos manufaturados
seriam reduzidos pelo progresso técnico dos países centrais, ao
mesmo tempo em que a maior incorporação de tecnologia na
produção primária e o aumento da renda dos países centrais
elevariam os preços das matérias-primas.
 A tendência era, entretanto, que os preços das matérias-primas e
dos produtos primários cairiam em relação aos preços dos produtos
industriais, deteriorando os termos de troca.
Teorias do Desenvolvimento Econômico
A CEPAL e o pensamento de Raúl Prebish
 Para mudar o modelo de desenvolvimento para fora, a estratégia é a
industrialização e a diversificação dos mercados externos pelos
países periféricos.
 O rompimento da estrutura centro-preferia seria pela elevação da
renda geral, em razão do aumento da demanda pela melhoria da
tecnológica da produção, além da elevação salarial e dos empregos.
 Essa mudança proporcionaria o aumento da acumulação de capital,
fator essencial de que a América Latina não dispunha.
 Deve haver ampla participação do Estado no planejamento e no
ingresso de capital externo para manter a renda, romper o ciclo e
importar bens de capital para a industrialização.
 As idéias cepalinas foram assimilados pelos formuladores de
políticas latianomericanos, mas a industrialização teve
consequências inesperadas, sendo necessárias reformas agrária e
fiscal e políticas sociais.
 Enfatizou-se a análise sociológica do desenvolvimento e a
diferenciação entre crescimento, como desempenho econômico, e
desenvolvimento, como distribuição social dos frutos do crescimento
econômico.
Teorias do Desenvolvimento Econômico
 Furtado (1979): Importação de certos padrões culturais e
mudança do estilo de vida beneficiaram a elite do Brasil.
Lança o conceito de complementaridade, (diversificação
produtiva) e ação estatal para mudar relação centro-
periferia.
 Rosenstein-Rodan (1961): Teoria do grande impulso,
desenvolvimento em saltos descontínuos, investimentos em
uma gama de indústrias, expansão da massa salarial e
surgimento de mercados consumidores.
 Hirschman (1961): Critica o desenvolvimento em grande
impulso e saltos e propõe o desenvolvimento equilibrado,
concentração de investimento em indústrias-chave ou
setores-chave.
 Rostow (1961): Cinco etapas do desenvolvimento: a)
produção para subsistência, b) incipiente atividade
empreendedora, c) arrancada, take off, migração de
trabalhadores da agricultura para a indústria e concentração
regional, d) marcha para maturidade, com expansão
tecnológica e investimentos, e) consumo de massas e
florescimento dos serviços.
Teorias do Desenvolvimento Econômico
 Greschenkron (1973): As tipologias de
industrialização são: autóctona ou derivada, forçada
ou autônoma, de bens de produção ou de consumo,
com ou sem progresso da agricultura. O atraso
econômico deve ser analisado pela ótica
antropológica, dos efeitos culturais sobre a
industrialização.
 Wallich (1969), neoschumpeteriano, argumenta que a
teoria de Schumpeter não se aplica aos países menos
desenvolvidos. Desenvolvimento derivado: importação
de tecnologia pelo Estado como empreendedor.
 Chang (2002) defende reconstrução do Estado
desenvolvimentista, pois os países desenvolvidos
“chutaram a escada”, e neoliberalismo despolitiza a
economia.
Teorias do Desenvolvimento Econômico
Douglass North (novo institucionalismo)
 O crescimento de longo prazo, ou a evolução histórica de uma sociedade, é
condicionado pela formação e evolução de suas instituições, a evolução
institucional pode ser mais importante do que inovações tecnológicas.
 As instituições reduzem a incerteza pois proporcionam uma estrutura à vida,
definindo, limitando, ou ampliando as escolhas dos indivíduos.
 Quanto maior for a capacidade de garantir direitos de propriedade, que
possibilitarão investimentos em atividades produtivas, maior a acumulação de
capital e de conhecimento.
 O subdesenvolvimento dos países do terceiro mundo pode ser explicado pela
ineficiência de suas instituições. As instituições eficientes reduzem os custos
de negociação e a incerteza, facilitando a coordenação econômica.
 Não há uma fórmula única para os problemas do desenvolvimento. Ambientes
institucionais diferentes apresentam respostas distintas ao mesmo estímulo,
impossibilitando a generalização.
 O indivíduo, por meio das instituições por ele criadas, ou como agente de
decisões econômicas, influencia diretamente o processo de desenvolvimento
econômico, humanizando-se a análise.

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Teorias Desenvolvimento Econômico

  • 1. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP ESCOLA DE ARTES CIENCIAS E HUMANIDADES – EACH TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Professor Dr. Edegar Luis Tomazzoni São Paulo, 2020
  • 2. Teorias do Desenvolvimento Econômico  O primeiro a abordar teoricamente o tema foi Adam Smith (1776), e diversos autores sucederam-no, questionando as razões do desenvolvimento.  Após a Segunda Guerra Mundial, passou-se a questionar as causas do subdesenvolvimento e do terceiro mundo, principalmente, na CEPAL.  Intensificou-se a discussão a partir de 1990 em razão do cenário de crescimento altíssimo da economia mundial, mas de crises nos Tigres Asiáticos, no México, na Rússia e no Brasil.  Aumento dos indicadores de renda em muitos países em desenvolvimento, mas não do nível de qualidade de vida (educação, saúde, mortalidade infantil, déficit democrático).  Há duas correntes da conceituação: 1) crescimento econômico é sinônimo de desenvolvimento; 2) crescimento é parte e condição indispensável do desenvolvimento, mas não suficiente.  Na primeira, a ênfase é a acumulação de capital e renda pelos detentores dos meios de produção implicando melhoria dos padrões de vida da sociedade.  Na segunda, o desenvolvimento implica mudanças qualitativas no modo de vida e nas instituições da sociedade.
  • 3. Teorias do Desenvolvimento Econômico  Na evolução histórica, o mercantilismo foi um dos primeiros sistemas econômicos e priorizava a balança comercial positiva por meio do comércio de ouro e prata pelo Estado.  Os fisiocratas combatiam a doutrina mercantilista, propondo uma conduta mais liberal do Estado, com base na valorização da agricultura, único setor que proporcionava riqueza real e líquida. (Quesnay). Adam Smith (A Riqueza das Nações, 1776)  O trabalho produtivo e sua divisão são fatores essenciais do aumento da riqueza nacional, pois geram excedente sobre o custo de produção.  O trabalhador não pode produzir todos os bens para sua sobrevivência, produz aqueles para os quais tem habilidades e recursos e adquire os demais bens.  Ciclo virtuoso de ampliação dos mercados: maior especialização da produção, lucros, progresso técnico, demanda e oferta de trabalho, aumento da massa salarial e processo cumulativo de crescimento.  Precursor do liberalismo, mão invisível, laissez-faire (mão invisível), mas o Estado deve atuar como regulador da economia.
  • 4. Teorias do Desenvolvimento Econômico David Ricardo (Princípios de Economia Política e Tributação, 1817)  Análise das leis que regulavam a distribuição dos resultados da produção, entre proprietários capitalistas e trabalhadores, na forma de rendas, lucros e salários.  A distribuição dependeria da fertilidade do solo agrícola, da acumulação do capital e do crescimento demográfico.  Os capitalistas deveriam concentrar renda, pois eram os responsáveis pela acumulação do capital, pelo aumento do nível de emprego e pelo crescimento econômico.  Teoria das vantagens comparativas: cada país deveria especializar- se nas produções que apresentassem vantagens comparativas de custos, proporcionando benefícios para todos os países no comércio internacional. John Stuart Mill (Princípios de Economia Política e Aplicações, 1848)  O crescimento demográfico, a acumulação de capital e as inovações tecnológicas são fatores de aumento da produção e do comércio de bens. É preciso distribuição de riqueza. Ênfase ao aperfeiçoamento da agricultura para baratear alimentos e redução de custos dos insumos.
  • 5. Teorias do Desenvolvimento Econômico Karl Marx (O Capital, 1867)  A exploração dos trabalhadores pelos capitalistas, proprietários dos meios de produção, gerariam conflitos distributivos entre as classes sociais, na trajetória do crescimento econômico.  O crescimento capitalista proporcionaria concentração de renda e riqueza, às custas de desemprego crescente dos trabalhadores (exército industrial de reserva).  A evolução tecnológica gera crescimento maior do capital constante (valor dos meios de produção) em relação ao capital variável (valor da força de trabalho), agravando a situação dos trabalhadores.  No processo cíclico, a acumulação do capital eleva a produtividade e a mais-valia relativa, assim como o valor do capital constante em relação ao valor do capital variável.  Aumenta o exército industrial de reserva, a maioria da população empobrece, e reduz-se o consumo global, o que se traduz em contradição interna do modo de produção capitalista.  Com as crises e conflitos sociais, a tendência é a auto-destruição, no longo prazo, do sistema capitalista.
  • 6. Teorias do Desenvolvimento Econômico Joseph Schumpeter (Teoria do Desenvolvimento Econômico, 1911)  Destaque ao papel do empresário na dinamização da oferta de produtos, pois ele cria novos produtos e novas maneiras de expandir a produção, de reduzir custos e de diminuir preços.  O empresário inovador é o motor do desenvolvimento econômico, sua iniciativa pioneira gera o enxame de empresários.  Elementos do desenvolvimento: a) inovação tecnológica; b) ação do empresário inovador; c) crédito bancário.  Inovações classificam-se em: a) introdução de novos produtos; b) novos métodos de produção; c) abertura de mercados; d) descoberta de novas fontes de matérias-primas; e) novas formas de organização individual.  A mudança do equilíbrio da economia, pelo aumento da renda e riqueza, não só pelo crescimento populacional, gera ciclos em que se destrói o antigo, substituindo-se pelo novo, num processo de destruição criadora.  As fases dos ciclos são: prosperidade, recessão, depressão, recuperação.
  • 7. Teorias do Desenvolvimento Econômico John Maynard Keynes (A Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda, 1936)  O Capitalismo é um sistema instável, cujos desequilíbrios não podem ser resolvidos pelos mecanismos de mercado, mas pela intervenção governamental no alto nível de desemprego e na falta de demanda.  “Revolução Keynesiana”: é a procura (demanda) e não a oferta o motor da economia; o emprego é o gerador da procura, num ciclo virtuoso de três fatores psicológicos: preferência pela liquidez, estímulo para investir e propensão a consumir.  O Estado deve gerar empregos, incentivar investimentos e consumo, evitando o entesouramento inútil, por meio de políticas de juros baixos, crédito e mercado livre, inclusive, empreendendo grandes obras públicas.  O comércio internacional é fonte de renda, emprego e fortalecimento da economia nacional, por meio de superávits na balança comercial.  Sua idéias sobre a cooperação internacional formaram o “Plano Keynes”, e o FMI foi criado sob orientação de suas teorias.
  • 8. Teorias do Desenvolvimento Econômico A CEPAL e o pensamento de Raúl Prebish  Diagnóstico dos problemas do desenvolvimento, especialmente, dos países da América Latina, com base no conceito centro-periferia.  No sistema de relações econômicas internacionais, os países industrializados (mais avançados tecnologicamente) seriam o centro, e os não industrializados (atrasados tecnologicamente), a periferia.  Crítica à teoria das vantagens comparativas de David Ricardo, de acordo com a qual a América Latina deveria produzir alimentos e matérias-primas para exportar e importar manufaturados, pois os países subdesenvolvidos não precisariam se industrializar.  De acordo com a teoria ricardiana, os preços dos manufaturados seriam reduzidos pelo progresso técnico dos países centrais, ao mesmo tempo em que a maior incorporação de tecnologia na produção primária e o aumento da renda dos países centrais elevariam os preços das matérias-primas.  A tendência era, entretanto, que os preços das matérias-primas e dos produtos primários cairiam em relação aos preços dos produtos industriais, deteriorando os termos de troca.
  • 9. Teorias do Desenvolvimento Econômico A CEPAL e o pensamento de Raúl Prebish  Para mudar o modelo de desenvolvimento para fora, a estratégia é a industrialização e a diversificação dos mercados externos pelos países periféricos.  O rompimento da estrutura centro-preferia seria pela elevação da renda geral, em razão do aumento da demanda pela melhoria da tecnológica da produção, além da elevação salarial e dos empregos.  Essa mudança proporcionaria o aumento da acumulação de capital, fator essencial de que a América Latina não dispunha.  Deve haver ampla participação do Estado no planejamento e no ingresso de capital externo para manter a renda, romper o ciclo e importar bens de capital para a industrialização.  As idéias cepalinas foram assimilados pelos formuladores de políticas latianomericanos, mas a industrialização teve consequências inesperadas, sendo necessárias reformas agrária e fiscal e políticas sociais.  Enfatizou-se a análise sociológica do desenvolvimento e a diferenciação entre crescimento, como desempenho econômico, e desenvolvimento, como distribuição social dos frutos do crescimento econômico.
  • 10. Teorias do Desenvolvimento Econômico  Furtado (1979): Importação de certos padrões culturais e mudança do estilo de vida beneficiaram a elite do Brasil. Lança o conceito de complementaridade, (diversificação produtiva) e ação estatal para mudar relação centro- periferia.  Rosenstein-Rodan (1961): Teoria do grande impulso, desenvolvimento em saltos descontínuos, investimentos em uma gama de indústrias, expansão da massa salarial e surgimento de mercados consumidores.  Hirschman (1961): Critica o desenvolvimento em grande impulso e saltos e propõe o desenvolvimento equilibrado, concentração de investimento em indústrias-chave ou setores-chave.  Rostow (1961): Cinco etapas do desenvolvimento: a) produção para subsistência, b) incipiente atividade empreendedora, c) arrancada, take off, migração de trabalhadores da agricultura para a indústria e concentração regional, d) marcha para maturidade, com expansão tecnológica e investimentos, e) consumo de massas e florescimento dos serviços.
  • 11. Teorias do Desenvolvimento Econômico  Greschenkron (1973): As tipologias de industrialização são: autóctona ou derivada, forçada ou autônoma, de bens de produção ou de consumo, com ou sem progresso da agricultura. O atraso econômico deve ser analisado pela ótica antropológica, dos efeitos culturais sobre a industrialização.  Wallich (1969), neoschumpeteriano, argumenta que a teoria de Schumpeter não se aplica aos países menos desenvolvidos. Desenvolvimento derivado: importação de tecnologia pelo Estado como empreendedor.  Chang (2002) defende reconstrução do Estado desenvolvimentista, pois os países desenvolvidos “chutaram a escada”, e neoliberalismo despolitiza a economia.
  • 12. Teorias do Desenvolvimento Econômico Douglass North (novo institucionalismo)  O crescimento de longo prazo, ou a evolução histórica de uma sociedade, é condicionado pela formação e evolução de suas instituições, a evolução institucional pode ser mais importante do que inovações tecnológicas.  As instituições reduzem a incerteza pois proporcionam uma estrutura à vida, definindo, limitando, ou ampliando as escolhas dos indivíduos.  Quanto maior for a capacidade de garantir direitos de propriedade, que possibilitarão investimentos em atividades produtivas, maior a acumulação de capital e de conhecimento.  O subdesenvolvimento dos países do terceiro mundo pode ser explicado pela ineficiência de suas instituições. As instituições eficientes reduzem os custos de negociação e a incerteza, facilitando a coordenação econômica.  Não há uma fórmula única para os problemas do desenvolvimento. Ambientes institucionais diferentes apresentam respostas distintas ao mesmo estímulo, impossibilitando a generalização.  O indivíduo, por meio das instituições por ele criadas, ou como agente de decisões econômicas, influencia diretamente o processo de desenvolvimento econômico, humanizando-se a análise.