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Ano XXIII nº 41, jan.-jun. 2014 – ISSN 2176-6622
p. 280-292
RESENHA CRÍTICA DA OBRA:
“Um Discurso Sobre as Ciências”,
de Boaventura de Sousa Santos1
Monique Bertotti
Advogada. Graduada em Direito pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Mestranda em Direito pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Bolsista do
Programa de Bolsas de Mestrado e Doutorado da PUCRS –
Probolsas, com atuação no Parque Científico e Tecnológico
da PUCRS – Tecnopuc. moniquebertotti@yahoo.com.br
1 INTRODUÇÃO
A obra “Um discurso sobre as ciências”, de Boaventura de Sousa
Santos, é um resgate histórico das ciências desde o paradigma dominante na
modernidade, passando pela sua crise, até chegar ao período de transição em
que vivemos, quando emerge um novo paradigma.
A resenha será dividida em duas partes, e a primeira sublinhará as críti-
cas feitas pelo autor ao uso do paradigma dominante na atualidade, tendo em
vista que não responde mais aos anseios científicos e sociais. Ademais, trará a
ideia do autor de que o modelo de ciência dominante, ou seja, da racionalidade
científica, deve ser substituído por um novo paradigma, qual seja, o “paradig-
ma de um conhecimento prudente para uma vida decente”. Para justificar o
paradigma proposto, o autor apresenta um conjunto de teses, que serão sin-
tetizadas ao longo da exposição: a) todo o conhecimento científico-natural é
científico-social; b) todo conhecimento é local e total; c) todo conhecimento
é autoconhecimento; d) todo conhecimento científico visa a se constituir em
1
	 Santos, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 16. ed. Porto: B. Sousa Santos
e Edições Afrontamento, 2010. 59p.
RESENHA
Resenha Crítica da Obra:“Um Discurso Sobre as Ciências”, de Boaventura de Sousa Santos
281
Direito em Debate – Revista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da Unijuí
senso comum. Por sua vez, a segunda parte do trabalho trará considerações
críticas acerca da obra, com o escopo de frisar a pertinência das colocações
do autor na atualidade.
2 RESENHA
O autor inicia a obra, cuja primeira edição é de 1987, citando as ambi-
guidades, complexidades e incertezas que pairam no tempo presente. Destarte,
ao analisarmos a ciência do passado, veremos que, ao mesmo tempo em que
parece ser parte de uma pré-história longínqua, é a base do campo teórico da
ciência atual. Do mesmo modo, ao voltarmos os olhos para o futuro, também
veremos situações contraditórias convivendo, na medida em que, ao mesmo
tempo em que vislumbramos a sociedade da informação e do conhecimento,
quando a tecnologia é o centro de tudo, nos deparamos com uma ciência sem
limites, que desemboca em guerras nucleares e em catástrofes ambientais. Tal
paradoxo é típico de momentos de transição, como o ainda vivido nos dias de
hoje (em que pese a obra seja de 1987, a fase de transição citada pelo autor
ainda não chegou ao fim). Nesses momentos, urge que façamos perguntas
simples, ou seja, profundas, mas de fácil entendimento, pois são essas que são
capazes de causar revoluções. Foram perguntas assim as feitas por Rousseau
em meados do século 18, quando a humanidade vivia outra fase de transição.
Diferentemente, contudo, das respostas que Rousseau elaborou outrora, as
nossas serão, com certeza, extremamente complexas, até porque também é
altamente complexo o contexto em que a pergunta é feita, tanto em termos
sociológicos quanto em termos psicológicos.
A transição citada por Boaventura de Sousa Santos diz respeito ao
fim do ciclo de hegemonia de uma certa ordem científica. Para explicar essa
transição entre tempos científicos, estrutura a obra de forma a, primeiro, carac-
terizar a ordem científica hegemônica para, em seguida, analisar a crise dessa
hegemonia e, finalmente, propor um perfil de uma ordem científica emergente. 
Monique Bertotti
282
ano XXIII nº 41, jan.-jun. 2014
2.1 O paradigma dominante
O modelo de ciência dominante é o de racionalidade científica.
Constituiu-se a partir da Revolução Científica do século 16 e desenvolveu-se,
primeiramente, tendo como base as ciências naturais – apenas no século 19
estendeu-se às ciências sociais emergentes, tornando-se um modelo global.
O modelo em comento admite uma variedade interna considerável, mas não
tolera o senso comum e as humanidades ou estudos humanísticos (estudos
históricos, filológicos, jurídicos, literários, filosóficos e teológicos). Ademais,
como modelo global que é, o modelo da racionalidade científica é totalitário,
uma vez que nega o caráter racional a todas as formas de conhecimento que
não seguirem seus princípios epistemológicos e suas regras metodológicas.
O paradigma dominante, portanto, aceita apenas uma forma de conhe-
cimento verdadeiro, a saber, a que segue os seus preceitos. Assim, o autor cita
seguidores dessa racionalidade científica: Copérnico, Kepler, Galileu, Newton,
Bacon e Descartes, cientistas que acreditavam ter encontrado, nas suas áreas
de pesquisa, o único conhecimento verdadeiro. Esse paradigma científico luta,
de forma ferrenha, contra todas as formas de dogmatismo e de autoridade,
uma vez que seus cientistas estão certos de que o que os separa do paradigma
aristotélico e medieval é uma nova visão do mundo e da vida, a qual distin-
gue conhecimento científico de conhecimento do senso comum e natureza
de pessoa humana. Ademais, ao contrário da ciência aristotélica, desconfia
sistematicamente das evidências das experiências imediatas, as quais, por estar
na base do conhecimento vulgar, são ilusórias. Nas palavras de Boaventura
de Sousa Santos: “Com base nesses pressupostos, o conhecimento científico
avança pela observação descomprometida e livre, sistemática e tanto quanto
possível rigorosa dos fenómenos naturais” (2010, p. 13).
A ciência moderna empregava como instrumento de análise a ma-
temática, a fim de encontrar o conhecimento mais profundo e rigoroso da
natureza. Dessa ode à matemática derivaram duas consequências principais:
1º) conhecimento como sinônimo de quantificação: as qualidades do objeto
Resenha Crítica da Obra:“Um Discurso Sobre as Ciências”, de Boaventura de Sousa Santos
283
Direito em Debate – Revista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da Unijuí
investigado são relegadas a segundo plano, uma vez que o mais importante é a
sua tradução em quantidade, ou seja, a sua quantificação; 2º) redução da com-
plexidade do mundo, por meio da divisão e classificação sistemática: a divisão
primordial é a que distingue entre condições iniciais e leis da natureza. Assim,
a descoberta de leis da natureza requer o isolamento das condições iniciais
relevantes e pressupõe que o resultado se produzirá independentemente do
lugar e do tempo em que se realizarem as condições iniciais, ou seja, a posição
absoluta e o tempo absoluto nunca são condições iniciais relevantes. Conforme
Wigner, citado por Boaventura de Sousa Santos (2010), esse princípio é o mais
importante teorema da invariância da física clássica.
De acordo com Santos (2010), as leis da ciência moderna são um tipo
de causa formal aristotélica, na medida em que privilegia o como funciona
em detrimento de qual o agente ou qual o fim das coisas. É nesse ponto que o
conhecimento científico rompe com o senso comum, uma vez que nele a causa
e a intenção convivem harmoniosamente, enquanto naquele a determinação
da causa formal é obtida por meio da expulsão da intenção.
A ciência moderna pressupõe um mundo sem mudanças, em que pre-
valece a segurança, a ordem e a previsibilidade em todos os sentidos da vida.
Nesse contexto, é possível formular leis e pretender que elas sejam seguidas
e respeitadas, seja nas ciências naturais (com Newton, principalmente), seja
nas ciências sociais (nas quais os grandes precursores foram Bacon, Vico e
Montesquieu). Essa ideia de mundo-máquina é a chave do mecanicismo da
época moderna. É paradoxal concluir que toda a transformação que nos conduz
à sociedade da informação e do conhecimento, à era das incertezas, em que
as leis não têm vez, é oriunda de uma visão de mundo em que a ordem e a
estabilidade imperam. Consoante o autor, a verdade é que são precondições
para as transformações em curso.
A previsibilidade dos fenômenos naturais, por meio de leis físicas e
matemáticas, fundamentou o determinismo mecanicista que irá sustentar a
ciência moderna. Esse modelo de fazer ciência, então hegemônico, logo foi
empregado pelas ciências sociais. Afinal, se foi possível descobrir as leis da
Monique Bertotti
284
ano XXIII nº 41, jan.-jun. 2014
natureza, seria possível descobrir as leis da sociedade. Assim, com a emergência
das ciências sociais, em meados do século 19 duas correntes distintas a respeito
do emprego do modelo mecanicista pelas ciências sociais emergiram: a primeira
visava a aplicar, na medida do possível, ao estudo da sociedade os princípios
epistemológicos e metodológicos utilizados no estudo da natureza (ciências
sociais como parte das ciências naturais; modelo eleito por Durkheim); a se-
gunda reivindicava uma epistemologia e uma metodologia próprias ao estudo
das ciências sociais, com base nas especificidades do seu objeto de estudo, a
saber, o ser humano (Max Weber, Peter Winch).
Ambas as correntes, contudo, são concepções da ciência moderna,
ainda que a segunda represente um sinal de crise e possua alguns elementos
da transição para um outro paradigma científico. Explica-se: ambos os
entendimentos seguem o modelo de racionalidade das ciências naturais, visto
que empregam distinções como natureza X ser humano, natureza X cultura
e ser humano X animal, típicas do paradigma dominante e são prisioneiras
do reconhecimento da superioridade das ciências naturais em detrimento das
ciências sociais.
2.2 A crise do paradigma dominante
Há diversos sinais de que o paradigma dominante atravessa uma crise
que, além de profunda, é irreversível. Tal crise é resultado de uma pluralidade
de condições, as quais podem ser distintas entre condições sociais e teóricas.
Quanto às condições teóricas, o autor destaca que contribuíram para a
crise do paradigma dominante: 1. a revolução científica iniciada com Einstein e
sua teoria da relatividade (importa salientar que Einstein relativizou as leis de
Newton, consideradas até então como intocáveis, no domínio da astrofísica; 2.
a mecânica quântica (relativizou as leis de Newton no domínio da microfísica,
com Heisenberg e Bohr); 3. o rigor da matemática (nesse contexto, importa
destacar as investigações de Gödel, com o teorema da incompletude e os
teoremas sobre a impossibilidade); 4. o avanço do conhecimento nas áreas
Resenha Crítica da Obra:“Um Discurso Sobre as Ciências”, de Boaventura de Sousa Santos
285
Direito em Debate – Revista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da Unijuí
da microfísica, química e biologia na segunda metade do século 20 (como
exemplo, têm-se as investigações do cientista Ilya Prigogine, como a teoria
das estruturas dissipativas e o princípio da ordem por meio de flutuações).
No que respeita às condições sociais da crise do paradigma da ciência
moderna, não são tratadas de forma detalhada, certamente em virtude de
sua complexidade e de sua extensão. De acordo com o autor, o que a ciência
ganhou em rigor das últimas décadas do século 20, perdeu em capacidade de
autorregulamentação. Destarte, as ideias de autonomia da ciência e do desin-
teresse do conhecimento findaram com o fenômeno global da industrialização
da ciência. O fato pode ser exemplificado tanto com o ocorrido no Japão,
com as bombas de Hiroshima e Nagasaki, quanto, mais recentemente, com
as catástrofes ecológicas e os constantes perigos de guerras nucleares. Como
discorre o autor, portanto, é notório que a industrialização possui compromis-
so com os centros de poder econômico, social e político, os quais definem as
prioridades das ciências. Por fim, Boaventura de Sousa Santos ainda salienta
dois efeitos principais oriundos da industrialização da ciência, quais sejam,
a estratificação da sociedade científica, com a proletarização de inúmeros
cientistas, e a investigação capital-intensivista, que tornou impossível o livre-
-acesso a equipamentos, aumentando o fosso de desenvolvimento científico
entre países ricos e pobres.
2.3 O paradigma emergente
Os sinais da crise do paradigma dominante permitem especulações
acerca de qual será o paradigma emergente, mas não o determinam. Nesse
sentido, o autor propõe o “paradigma de um conhecimento prudente para
uma vida decente” (Santos, 2010, p. 7), o qual não é apenas um paradigma
científico de conhecimento prudente, mas também um paradigma social de vida
decente, tendo em vista que a revolução científica ocorre em uma sociedade
revolucionada pela ciência. Para justificar o paradigma proposto, Boaventura
apresenta um conjunto de teses: a) todo o conhecimento científico-natural é
Monique Bertotti
286
ano XXIII nº 41, jan.-jun. 2014
científico-social; b) todo conhecimento é local e total; c) todo conhecimento
é autoconhecimento; d) todo conhecimento científico visa a se constituir em
senso comum.
a) Todo o conhecimento científico-natural é científico-social
De acordo com o autor, não há mais sentido a concepção mecanicista
que faz distinções entre ciências naturais e ciências sociais, ainda mais que
os avanços recentes da física e da biologia rechaçam tal dualismo. Ademais,
ao contrário do que ocorria na ciência moderna, no paradigma emergente a
inteligibilidade da natureza é presidida por conceitos, teorias, metáforas e
analogias das ciências sociais, na tentativa, inclusive, de aproximar as ciências
da humanidade. Nas palavras do autor: “É como se o dito de Durkheim se
tivesse invertido e em vez de serem os fenómenos sociais a serem estudados
como se fossem fenómenos naturais, serem os fenómenos naturais estudados
como se fossem fenómenos sociais” (Santos, 2010, p. 42).
b) Todo conhecimento é local e total
Na ciência moderna, tem-se a ideia de que quanto mais específico é o
conhecimento, melhor é a pesquisa, e mais explorado está o seu objeto. Tal
conhecimento, contudo, é segregador, e torna o cientista um ignorante especia-
lizado. Assim, no paradigma emergente, o conhecimento é total e, sendo total,
é também local, pois é útil aos indivíduos de determinada comunidade. Sendo
local, também é total, porque reconstitui os projetos de conhecimento locais,
ou seja, incentiva a emigrarem para outros lugares cognitivos. O conhecimento
do paradigma emergente, portanto, ao ser total, não é determinístico e, ao
ser local, não é descritivista. Ademais, não segue um único método científico,
mas utiliza de uma pluralidade metodológica (no paradigma dominante, vista
como uma transgressão metodológica).
Resenha Crítica da Obra:“Um Discurso Sobre as Ciências”, de Boaventura de Sousa Santos
287
Direito em Debate – Revista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da Unijuí
c) Todo conhecimento é autoconhecimento
A maior personalização do conhecimento advém da composição
transdisciplinar e individual que caracterizam o paradigma emergente. Assim
como não há mais razão na distinção entre ciências naturais e ciências sociais,
também não se pode mais tolerar a distinção entre sujeito e objeto feita pela
ciência moderna. Desse modo, podemos afirmar que todo o conhecimento,
ou seja, todo o ato de conhecer o objeto é autoconhecimento, isto é, forma
de o cientista conhecer.
d) Todo conhecimento científico visa a se constituir em senso comum
A ciência moderna faz do cientista um ignorante especializado e do
cidadão comum um ignorante generalizado. O paradigma emergente, ao
contrário, entende que nenhum conhecimento é desprezível, e estimula a inte-
ração entre os mesmos. Destarte, não despreza o senso comum, pois entende
que, apesar de, sozinho, ser conservador, sua interação com o conhecimento
científico é extremamente enriquecedora, e cria uma nova racionalidade, a
qual é feita de racionalidades.
3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos é um dos maiores
pensadores contemporâneos, e suas críticas, sempre muito bem formuladas
e fundamentadas, versam acerca de temas como globalização, sociologia
do direito, epistemologia, democracia e direitos humanos. Na obra ora em
análise, não é diferente: o autor critica o paradigma dominante e rechaça as
diferenciações que tendem a criar desigualdades científicas, como a distinção
entre ciências naturais e ciências sociais e o desprezo ao senso comum. Assim,
e em busca de uma democratização do conhecimento científico, vislumbra a
Monique Bertotti
288
ano XXIII nº 41, jan.-jun. 2014
emergência de um novo paradigma, o qual denomina “paradigma de um co-
nhecimento prudente para uma vida decente”, apto a valorizar as mais variadas
experiências humanas e ampliar o acesso ao conhecimento.
Na obra aqui analisada, o autor faz reflexões acerca das mudanças que
estão ocorrendo nas ciências a partir da crise do paradigma dominante, ou
seja, a crise da ciência moderna e a emergência de um novo paradigma, que
acompanha a ciência pós-moderna. Tais modificações estão inseridas em um
contexto de mudanças sociais, uma vez que não há como modificar a socieda-
de sem refletir nas ciências – e nem se quer que assim seja. Essas mudanças
sociais são muito bem explicadas por Bauman, que define o contexto em que
a ciência moderna se desenvolveu como “fase sólida” e o contexto atual como
“fase líquida”:
Em primeiro lugar, a passagem da fase “sólida” da modernidade para
a “líquida” – ou seja, para uma condição em que as organizações sociais
(estruturas que limitam as escolhas individuais, instituições que asseguram a
repetição de rotinas, padrões de comportamento aceitável) não podem mais
manter sua forma por muito tempo (nem se espera que o façam), pois se de-
compõem e se dissolvem mais rápido que o tempo que leva para moldá-las e,
uma vez reorganizadas, para que se estabeleçam. É pouco provável que essas
formas, que já presentes ou apenas vislumbradas, tenham tempo suficiente para
se estabelecer, e elas não podem servir de arcabouços de referencias para as
ações humanas, assim como para as estratégias existenciais a longo prazo, em
razão de sua expectativa de vida curta: com efeito, uma expectativa mais curta
que o tempo que leva para desenvolver uma estratégia coesa e consistente, e
ainda mais curta que o necessário para a realização de um “projeto de vida”
individual (2003, p. 7).
Na fase líquida, em que a sociedade se organiza em rede, não há lugar
para as definições hierárquicas e estratificadas que dominaram na ciência
moderna. A insegurança, a não conformidade às regras, a incerteza e a in-
quietude, não são mais as vilãs, as causadoras dos maus sociais e científicos,
Resenha Crítica da Obra:“Um Discurso Sobre as Ciências”, de Boaventura de Sousa Santos
289
Direito em Debate – Revista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da Unijuí
mas as grandes propulsoras das novas descobertas científicas, as quais só são
possíveis a partir de uma desconstrução das leis e das hierarquias que vigeram
no passado.
Apesar, contudo, de todas as mudanças, de toda a desconstrução de
Leis e da vigência de uma nova ciência, ainda aprendemos ciência a partir do
paradigma antigo. Não obstante a transição ser lenta, uma vez que o paradigma
moderno não irá sucumbir repentinamente,2
ensinar ainda a Física sob as leis
de Newton ou o Direito como somente aquilo que está legislado, demonstra o
quão é difícil se desapegar das certezas e seguranças do passado, que, apesar
de falsas, acomodavam-nos (e, infelizmente, ainda nos acomodam). Na era da
incerteza e da insegurança, a inquietude é a maior virtude, a mola propulsora
das novas descobertas.
No âmbito do Direito não é diferente. Os paradigmas que serviram
à modernidade não atendem mais aos anseios que acompanham a pós-
-modernidade:
Os tradicionais paradigmas que serviram bem ao Estado de Direito
do século XIX não se encaixam mais para formar a peça articulada de que
necessita o Estado contemporâneo para a execução de políticas públicas
efetivas. Assim, perdem significação: a universalidade da lei, pois os atores
sociais possuem características peculiares não divisáveis pela legislação abs-
trata; o princípio da objetividade do direito, que o torna formalmente isento
de qualquer contaminação de forças políticas, quando se sabe que toda a
legislação vem formulada na base de negociações políticas e partidárias; a
2
	 “A pós-modernidade chega para se instalar definitivamente, mas a modernidade ainda não
deixou de estar presente entre nós, e isto é fato. Suas verdades, seus preceitos, seus princípios,
suas instituições, seus valores (impregnados do ideário burguês, capitalista e liberal), ainda
permeiam grande parte das práticas institucionais e sociais, de modo que a simples superação
imediata da modernidade é ilusão. Obviamente, nenhum processo histórico instaura uma
nova ordem, ou uma nova fonte de inspiração de valores sociais, do dia para a noite, e o
viver transitivo é exatamente um viver intertemporal, ou seja, entre dois tempos, entre dois
universos de valores – enfim, entre passado erodido e presente multifário” (Bittar, 2008, p.
133-134).
Monique Bertotti
290
ano XXIII nº 41, jan.-jun. 2014
idéia da contenção do arbítrio pela lei, fator em descrédito frente à ineficácia
e à inefetividade das atitudes de combate à corrupção e às taxas elevadíssimas
de impunidade; a regra de igualdade perante a lei, como garantia da indis-
tinção e do deferimento dos mesmos direitos a sujeitos igualmente capazes
e produtivos no mercado, quando se sabe que as oportunidades são maiores
para uns e menores para outros; a idéia de que a codificação representaria
uma obra científico-legislativa, obra-prima do saber jurídico, com disciplina
única e sistemática das matérias por ele versadas, insuscetíveis de lacunas e
de erronias, possibilitando a exegese harmônica do sistema, quando se sabe
que os códigos possuem o mesmo potencial de dissincronia com as mudanças
sociais que os demais textos normativos; a tripartição clara das competências
das esferas e das instâncias do poder como forma de manter o equilíbrio do
Estado, o que na prática resulta em dissintonia entre as políticas legislativas,
as políticas judiciárias e as políticas administrativas e governamentais, criando
Estados simultâneos orientados por valores desconexos; a idéia da democracia
representativa como fomento à igualdade de todos e à realização da vontade
geral rousseauniana, quando se sabe que a população vive à mercê dos usos e
abusos na publicidade, no discurso e na manipulação políticas; a intocabilidade
da soberania, como forma de garantia da esfera de atuação com exclusividade
dos poderes legislativos, jurisdicionais e executivos em bases territoriais fixas
e determinadas na ordem internacional, quando se sabe que a interface da
internacionalização dos mercados e da interdependência econômica tornam
inevitável o processo de integração; a garantia de direitos universais de primeira
geração, como forma de expressar a proteção à pessoa humana, o que na prá-
tica ainda pouco se incorporou às realizações sócio-econômicas; a garantia da
existência da jurisdição como garantia de acesso a direitos, quando se sabe que,
em verdade, a justiça se diferencia para ricos e pobres, pelos modos como se
pratica e pelas deficiências reais de acesso que possui (Bittar, 2008, p. 145-146).
A nova realidade social e científica em que vivemos força-nos a repensar,
a aprender e a ensinar a ciência jurídica a partir desse novo paradigma, ou seja,
do paradigma emergente. Destarte, urge deixarmos para trás o positivismo e
Resenha Crítica da Obra:“Um Discurso Sobre as Ciências”, de Boaventura de Sousa Santos
291
Direito em Debate – Revista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da Unijuí
a segurança jurídica, e a visão de que somente é Direito o que está nos Có-
digos: o Direito é muito maior que isso, e não se pode querer que, em plena
modernidade líquida, quando a transformação é permanente, os cidadãos
vejam suas condutas engessadas em Códigos e em milhares de leis, as quais,
em sua maioria, sequer conhecem.
O novo pensar científico defendido por Boaventura de Sousa Santos,
portanto, traduz a nova ordem social, em que a interação, a incerteza e a in-
segurança são as principais características. Essa nova ciência exige um novo
paradigma, uma vez que seus anseios não são mais atendidos pelos métodos
conservadores, hierárquicos e ortodoxos da ciência moderna. Esse paradigma
deve ser, além de científico, social, uma vez que, na pós-modernidade, o co-
nhecimento científico e não científico estão em permanente contato e servem
à sociedade, a fim de torná-la menos desigual e mais democrática. A adoção
do novo paradigma é urgente, pois as mudanças sociais a exigem. Assim,
Ou enfrentamos os excrementos sociais expelidos pelos parlamentos,
instituições e favelas, para recolher o que de proveitoso resta na reconstrução
dialógica de um futuro melhor para a humanidade; ou prosseguimos cegos,
bebendo do vinho desse louco Bacco cartesiano, para que as gerações vindouras
decidam o que fazer com o que restar dela e do mundo que conhecemos ou
que conseguimos reconhecer (Aronne, 2010, p. 38).
4 REFERÊNCIAS
ARONNE, Ricardo. Aproximações críticas ao Direito Civil-Constitucional, re-
personalização, Direitos Reais e caos: determinismo dogmático e indeterminação
jurisprudencial. In: ARONNE, Ricardo. Razão e caos no discurso jurídico e outros
ensaios de Direito Civil-Constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.
p. 37-76.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução Plínio Dentzien. Rio de
Janeiro: Zahar, 2003. 258p.
Monique Bertotti
292
ano XXIII nº 41, jan.-jun. 2014
BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. O direito na pós-modernidade. Revista Seqüência,
n. 57, p. 131-151, dez. 2008.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 16. ed. Porto: B.
Sousa Santos e Edições Afrontamento, 2010. 59p.
Recebido em: 24/2/2014
Aceito em: 9/3/2014

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Boaventura de Souza Santos - Um discurso sobre ciencias

  • 1. https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate Ano XXIII nº 41, jan.-jun. 2014 – ISSN 2176-6622 p. 280-292 RESENHA CRÍTICA DA OBRA: “Um Discurso Sobre as Ciências”, de Boaventura de Sousa Santos1 Monique Bertotti Advogada. Graduada em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestranda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Bolsista do Programa de Bolsas de Mestrado e Doutorado da PUCRS – Probolsas, com atuação no Parque Científico e Tecnológico da PUCRS – Tecnopuc. moniquebertotti@yahoo.com.br 1 INTRODUÇÃO A obra “Um discurso sobre as ciências”, de Boaventura de Sousa Santos, é um resgate histórico das ciências desde o paradigma dominante na modernidade, passando pela sua crise, até chegar ao período de transição em que vivemos, quando emerge um novo paradigma. A resenha será dividida em duas partes, e a primeira sublinhará as críti- cas feitas pelo autor ao uso do paradigma dominante na atualidade, tendo em vista que não responde mais aos anseios científicos e sociais. Ademais, trará a ideia do autor de que o modelo de ciência dominante, ou seja, da racionalidade científica, deve ser substituído por um novo paradigma, qual seja, o “paradig- ma de um conhecimento prudente para uma vida decente”. Para justificar o paradigma proposto, o autor apresenta um conjunto de teses, que serão sin- tetizadas ao longo da exposição: a) todo o conhecimento científico-natural é científico-social; b) todo conhecimento é local e total; c) todo conhecimento é autoconhecimento; d) todo conhecimento científico visa a se constituir em 1 Santos, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 16. ed. Porto: B. Sousa Santos e Edições Afrontamento, 2010. 59p. RESENHA
  • 2. Resenha Crítica da Obra:“Um Discurso Sobre as Ciências”, de Boaventura de Sousa Santos 281 Direito em Debate – Revista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da Unijuí senso comum. Por sua vez, a segunda parte do trabalho trará considerações críticas acerca da obra, com o escopo de frisar a pertinência das colocações do autor na atualidade. 2 RESENHA O autor inicia a obra, cuja primeira edição é de 1987, citando as ambi- guidades, complexidades e incertezas que pairam no tempo presente. Destarte, ao analisarmos a ciência do passado, veremos que, ao mesmo tempo em que parece ser parte de uma pré-história longínqua, é a base do campo teórico da ciência atual. Do mesmo modo, ao voltarmos os olhos para o futuro, também veremos situações contraditórias convivendo, na medida em que, ao mesmo tempo em que vislumbramos a sociedade da informação e do conhecimento, quando a tecnologia é o centro de tudo, nos deparamos com uma ciência sem limites, que desemboca em guerras nucleares e em catástrofes ambientais. Tal paradoxo é típico de momentos de transição, como o ainda vivido nos dias de hoje (em que pese a obra seja de 1987, a fase de transição citada pelo autor ainda não chegou ao fim). Nesses momentos, urge que façamos perguntas simples, ou seja, profundas, mas de fácil entendimento, pois são essas que são capazes de causar revoluções. Foram perguntas assim as feitas por Rousseau em meados do século 18, quando a humanidade vivia outra fase de transição. Diferentemente, contudo, das respostas que Rousseau elaborou outrora, as nossas serão, com certeza, extremamente complexas, até porque também é altamente complexo o contexto em que a pergunta é feita, tanto em termos sociológicos quanto em termos psicológicos. A transição citada por Boaventura de Sousa Santos diz respeito ao fim do ciclo de hegemonia de uma certa ordem científica. Para explicar essa transição entre tempos científicos, estrutura a obra de forma a, primeiro, carac- terizar a ordem científica hegemônica para, em seguida, analisar a crise dessa hegemonia e, finalmente, propor um perfil de uma ordem científica emergente. 
  • 3. Monique Bertotti 282 ano XXIII nº 41, jan.-jun. 2014 2.1 O paradigma dominante O modelo de ciência dominante é o de racionalidade científica. Constituiu-se a partir da Revolução Científica do século 16 e desenvolveu-se, primeiramente, tendo como base as ciências naturais – apenas no século 19 estendeu-se às ciências sociais emergentes, tornando-se um modelo global. O modelo em comento admite uma variedade interna considerável, mas não tolera o senso comum e as humanidades ou estudos humanísticos (estudos históricos, filológicos, jurídicos, literários, filosóficos e teológicos). Ademais, como modelo global que é, o modelo da racionalidade científica é totalitário, uma vez que nega o caráter racional a todas as formas de conhecimento que não seguirem seus princípios epistemológicos e suas regras metodológicas. O paradigma dominante, portanto, aceita apenas uma forma de conhe- cimento verdadeiro, a saber, a que segue os seus preceitos. Assim, o autor cita seguidores dessa racionalidade científica: Copérnico, Kepler, Galileu, Newton, Bacon e Descartes, cientistas que acreditavam ter encontrado, nas suas áreas de pesquisa, o único conhecimento verdadeiro. Esse paradigma científico luta, de forma ferrenha, contra todas as formas de dogmatismo e de autoridade, uma vez que seus cientistas estão certos de que o que os separa do paradigma aristotélico e medieval é uma nova visão do mundo e da vida, a qual distin- gue conhecimento científico de conhecimento do senso comum e natureza de pessoa humana. Ademais, ao contrário da ciência aristotélica, desconfia sistematicamente das evidências das experiências imediatas, as quais, por estar na base do conhecimento vulgar, são ilusórias. Nas palavras de Boaventura de Sousa Santos: “Com base nesses pressupostos, o conhecimento científico avança pela observação descomprometida e livre, sistemática e tanto quanto possível rigorosa dos fenómenos naturais” (2010, p. 13). A ciência moderna empregava como instrumento de análise a ma- temática, a fim de encontrar o conhecimento mais profundo e rigoroso da natureza. Dessa ode à matemática derivaram duas consequências principais: 1º) conhecimento como sinônimo de quantificação: as qualidades do objeto
  • 4. Resenha Crítica da Obra:“Um Discurso Sobre as Ciências”, de Boaventura de Sousa Santos 283 Direito em Debate – Revista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da Unijuí investigado são relegadas a segundo plano, uma vez que o mais importante é a sua tradução em quantidade, ou seja, a sua quantificação; 2º) redução da com- plexidade do mundo, por meio da divisão e classificação sistemática: a divisão primordial é a que distingue entre condições iniciais e leis da natureza. Assim, a descoberta de leis da natureza requer o isolamento das condições iniciais relevantes e pressupõe que o resultado se produzirá independentemente do lugar e do tempo em que se realizarem as condições iniciais, ou seja, a posição absoluta e o tempo absoluto nunca são condições iniciais relevantes. Conforme Wigner, citado por Boaventura de Sousa Santos (2010), esse princípio é o mais importante teorema da invariância da física clássica. De acordo com Santos (2010), as leis da ciência moderna são um tipo de causa formal aristotélica, na medida em que privilegia o como funciona em detrimento de qual o agente ou qual o fim das coisas. É nesse ponto que o conhecimento científico rompe com o senso comum, uma vez que nele a causa e a intenção convivem harmoniosamente, enquanto naquele a determinação da causa formal é obtida por meio da expulsão da intenção. A ciência moderna pressupõe um mundo sem mudanças, em que pre- valece a segurança, a ordem e a previsibilidade em todos os sentidos da vida. Nesse contexto, é possível formular leis e pretender que elas sejam seguidas e respeitadas, seja nas ciências naturais (com Newton, principalmente), seja nas ciências sociais (nas quais os grandes precursores foram Bacon, Vico e Montesquieu). Essa ideia de mundo-máquina é a chave do mecanicismo da época moderna. É paradoxal concluir que toda a transformação que nos conduz à sociedade da informação e do conhecimento, à era das incertezas, em que as leis não têm vez, é oriunda de uma visão de mundo em que a ordem e a estabilidade imperam. Consoante o autor, a verdade é que são precondições para as transformações em curso. A previsibilidade dos fenômenos naturais, por meio de leis físicas e matemáticas, fundamentou o determinismo mecanicista que irá sustentar a ciência moderna. Esse modelo de fazer ciência, então hegemônico, logo foi empregado pelas ciências sociais. Afinal, se foi possível descobrir as leis da
  • 5. Monique Bertotti 284 ano XXIII nº 41, jan.-jun. 2014 natureza, seria possível descobrir as leis da sociedade. Assim, com a emergência das ciências sociais, em meados do século 19 duas correntes distintas a respeito do emprego do modelo mecanicista pelas ciências sociais emergiram: a primeira visava a aplicar, na medida do possível, ao estudo da sociedade os princípios epistemológicos e metodológicos utilizados no estudo da natureza (ciências sociais como parte das ciências naturais; modelo eleito por Durkheim); a se- gunda reivindicava uma epistemologia e uma metodologia próprias ao estudo das ciências sociais, com base nas especificidades do seu objeto de estudo, a saber, o ser humano (Max Weber, Peter Winch). Ambas as correntes, contudo, são concepções da ciência moderna, ainda que a segunda represente um sinal de crise e possua alguns elementos da transição para um outro paradigma científico. Explica-se: ambos os entendimentos seguem o modelo de racionalidade das ciências naturais, visto que empregam distinções como natureza X ser humano, natureza X cultura e ser humano X animal, típicas do paradigma dominante e são prisioneiras do reconhecimento da superioridade das ciências naturais em detrimento das ciências sociais. 2.2 A crise do paradigma dominante Há diversos sinais de que o paradigma dominante atravessa uma crise que, além de profunda, é irreversível. Tal crise é resultado de uma pluralidade de condições, as quais podem ser distintas entre condições sociais e teóricas. Quanto às condições teóricas, o autor destaca que contribuíram para a crise do paradigma dominante: 1. a revolução científica iniciada com Einstein e sua teoria da relatividade (importa salientar que Einstein relativizou as leis de Newton, consideradas até então como intocáveis, no domínio da astrofísica; 2. a mecânica quântica (relativizou as leis de Newton no domínio da microfísica, com Heisenberg e Bohr); 3. o rigor da matemática (nesse contexto, importa destacar as investigações de Gödel, com o teorema da incompletude e os teoremas sobre a impossibilidade); 4. o avanço do conhecimento nas áreas
  • 6. Resenha Crítica da Obra:“Um Discurso Sobre as Ciências”, de Boaventura de Sousa Santos 285 Direito em Debate – Revista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da Unijuí da microfísica, química e biologia na segunda metade do século 20 (como exemplo, têm-se as investigações do cientista Ilya Prigogine, como a teoria das estruturas dissipativas e o princípio da ordem por meio de flutuações). No que respeita às condições sociais da crise do paradigma da ciência moderna, não são tratadas de forma detalhada, certamente em virtude de sua complexidade e de sua extensão. De acordo com o autor, o que a ciência ganhou em rigor das últimas décadas do século 20, perdeu em capacidade de autorregulamentação. Destarte, as ideias de autonomia da ciência e do desin- teresse do conhecimento findaram com o fenômeno global da industrialização da ciência. O fato pode ser exemplificado tanto com o ocorrido no Japão, com as bombas de Hiroshima e Nagasaki, quanto, mais recentemente, com as catástrofes ecológicas e os constantes perigos de guerras nucleares. Como discorre o autor, portanto, é notório que a industrialização possui compromis- so com os centros de poder econômico, social e político, os quais definem as prioridades das ciências. Por fim, Boaventura de Sousa Santos ainda salienta dois efeitos principais oriundos da industrialização da ciência, quais sejam, a estratificação da sociedade científica, com a proletarização de inúmeros cientistas, e a investigação capital-intensivista, que tornou impossível o livre- -acesso a equipamentos, aumentando o fosso de desenvolvimento científico entre países ricos e pobres. 2.3 O paradigma emergente Os sinais da crise do paradigma dominante permitem especulações acerca de qual será o paradigma emergente, mas não o determinam. Nesse sentido, o autor propõe o “paradigma de um conhecimento prudente para uma vida decente” (Santos, 2010, p. 7), o qual não é apenas um paradigma científico de conhecimento prudente, mas também um paradigma social de vida decente, tendo em vista que a revolução científica ocorre em uma sociedade revolucionada pela ciência. Para justificar o paradigma proposto, Boaventura apresenta um conjunto de teses: a) todo o conhecimento científico-natural é
  • 7. Monique Bertotti 286 ano XXIII nº 41, jan.-jun. 2014 científico-social; b) todo conhecimento é local e total; c) todo conhecimento é autoconhecimento; d) todo conhecimento científico visa a se constituir em senso comum. a) Todo o conhecimento científico-natural é científico-social De acordo com o autor, não há mais sentido a concepção mecanicista que faz distinções entre ciências naturais e ciências sociais, ainda mais que os avanços recentes da física e da biologia rechaçam tal dualismo. Ademais, ao contrário do que ocorria na ciência moderna, no paradigma emergente a inteligibilidade da natureza é presidida por conceitos, teorias, metáforas e analogias das ciências sociais, na tentativa, inclusive, de aproximar as ciências da humanidade. Nas palavras do autor: “É como se o dito de Durkheim se tivesse invertido e em vez de serem os fenómenos sociais a serem estudados como se fossem fenómenos naturais, serem os fenómenos naturais estudados como se fossem fenómenos sociais” (Santos, 2010, p. 42). b) Todo conhecimento é local e total Na ciência moderna, tem-se a ideia de que quanto mais específico é o conhecimento, melhor é a pesquisa, e mais explorado está o seu objeto. Tal conhecimento, contudo, é segregador, e torna o cientista um ignorante especia- lizado. Assim, no paradigma emergente, o conhecimento é total e, sendo total, é também local, pois é útil aos indivíduos de determinada comunidade. Sendo local, também é total, porque reconstitui os projetos de conhecimento locais, ou seja, incentiva a emigrarem para outros lugares cognitivos. O conhecimento do paradigma emergente, portanto, ao ser total, não é determinístico e, ao ser local, não é descritivista. Ademais, não segue um único método científico, mas utiliza de uma pluralidade metodológica (no paradigma dominante, vista como uma transgressão metodológica).
  • 8. Resenha Crítica da Obra:“Um Discurso Sobre as Ciências”, de Boaventura de Sousa Santos 287 Direito em Debate – Revista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da Unijuí c) Todo conhecimento é autoconhecimento A maior personalização do conhecimento advém da composição transdisciplinar e individual que caracterizam o paradigma emergente. Assim como não há mais razão na distinção entre ciências naturais e ciências sociais, também não se pode mais tolerar a distinção entre sujeito e objeto feita pela ciência moderna. Desse modo, podemos afirmar que todo o conhecimento, ou seja, todo o ato de conhecer o objeto é autoconhecimento, isto é, forma de o cientista conhecer. d) Todo conhecimento científico visa a se constituir em senso comum A ciência moderna faz do cientista um ignorante especializado e do cidadão comum um ignorante generalizado. O paradigma emergente, ao contrário, entende que nenhum conhecimento é desprezível, e estimula a inte- ração entre os mesmos. Destarte, não despreza o senso comum, pois entende que, apesar de, sozinho, ser conservador, sua interação com o conhecimento científico é extremamente enriquecedora, e cria uma nova racionalidade, a qual é feita de racionalidades. 3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos é um dos maiores pensadores contemporâneos, e suas críticas, sempre muito bem formuladas e fundamentadas, versam acerca de temas como globalização, sociologia do direito, epistemologia, democracia e direitos humanos. Na obra ora em análise, não é diferente: o autor critica o paradigma dominante e rechaça as diferenciações que tendem a criar desigualdades científicas, como a distinção entre ciências naturais e ciências sociais e o desprezo ao senso comum. Assim, e em busca de uma democratização do conhecimento científico, vislumbra a
  • 9. Monique Bertotti 288 ano XXIII nº 41, jan.-jun. 2014 emergência de um novo paradigma, o qual denomina “paradigma de um co- nhecimento prudente para uma vida decente”, apto a valorizar as mais variadas experiências humanas e ampliar o acesso ao conhecimento. Na obra aqui analisada, o autor faz reflexões acerca das mudanças que estão ocorrendo nas ciências a partir da crise do paradigma dominante, ou seja, a crise da ciência moderna e a emergência de um novo paradigma, que acompanha a ciência pós-moderna. Tais modificações estão inseridas em um contexto de mudanças sociais, uma vez que não há como modificar a socieda- de sem refletir nas ciências – e nem se quer que assim seja. Essas mudanças sociais são muito bem explicadas por Bauman, que define o contexto em que a ciência moderna se desenvolveu como “fase sólida” e o contexto atual como “fase líquida”: Em primeiro lugar, a passagem da fase “sólida” da modernidade para a “líquida” – ou seja, para uma condição em que as organizações sociais (estruturas que limitam as escolhas individuais, instituições que asseguram a repetição de rotinas, padrões de comportamento aceitável) não podem mais manter sua forma por muito tempo (nem se espera que o façam), pois se de- compõem e se dissolvem mais rápido que o tempo que leva para moldá-las e, uma vez reorganizadas, para que se estabeleçam. É pouco provável que essas formas, que já presentes ou apenas vislumbradas, tenham tempo suficiente para se estabelecer, e elas não podem servir de arcabouços de referencias para as ações humanas, assim como para as estratégias existenciais a longo prazo, em razão de sua expectativa de vida curta: com efeito, uma expectativa mais curta que o tempo que leva para desenvolver uma estratégia coesa e consistente, e ainda mais curta que o necessário para a realização de um “projeto de vida” individual (2003, p. 7). Na fase líquida, em que a sociedade se organiza em rede, não há lugar para as definições hierárquicas e estratificadas que dominaram na ciência moderna. A insegurança, a não conformidade às regras, a incerteza e a in- quietude, não são mais as vilãs, as causadoras dos maus sociais e científicos,
  • 10. Resenha Crítica da Obra:“Um Discurso Sobre as Ciências”, de Boaventura de Sousa Santos 289 Direito em Debate – Revista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da Unijuí mas as grandes propulsoras das novas descobertas científicas, as quais só são possíveis a partir de uma desconstrução das leis e das hierarquias que vigeram no passado. Apesar, contudo, de todas as mudanças, de toda a desconstrução de Leis e da vigência de uma nova ciência, ainda aprendemos ciência a partir do paradigma antigo. Não obstante a transição ser lenta, uma vez que o paradigma moderno não irá sucumbir repentinamente,2 ensinar ainda a Física sob as leis de Newton ou o Direito como somente aquilo que está legislado, demonstra o quão é difícil se desapegar das certezas e seguranças do passado, que, apesar de falsas, acomodavam-nos (e, infelizmente, ainda nos acomodam). Na era da incerteza e da insegurança, a inquietude é a maior virtude, a mola propulsora das novas descobertas. No âmbito do Direito não é diferente. Os paradigmas que serviram à modernidade não atendem mais aos anseios que acompanham a pós- -modernidade: Os tradicionais paradigmas que serviram bem ao Estado de Direito do século XIX não se encaixam mais para formar a peça articulada de que necessita o Estado contemporâneo para a execução de políticas públicas efetivas. Assim, perdem significação: a universalidade da lei, pois os atores sociais possuem características peculiares não divisáveis pela legislação abs- trata; o princípio da objetividade do direito, que o torna formalmente isento de qualquer contaminação de forças políticas, quando se sabe que toda a legislação vem formulada na base de negociações políticas e partidárias; a 2 “A pós-modernidade chega para se instalar definitivamente, mas a modernidade ainda não deixou de estar presente entre nós, e isto é fato. Suas verdades, seus preceitos, seus princípios, suas instituições, seus valores (impregnados do ideário burguês, capitalista e liberal), ainda permeiam grande parte das práticas institucionais e sociais, de modo que a simples superação imediata da modernidade é ilusão. Obviamente, nenhum processo histórico instaura uma nova ordem, ou uma nova fonte de inspiração de valores sociais, do dia para a noite, e o viver transitivo é exatamente um viver intertemporal, ou seja, entre dois tempos, entre dois universos de valores – enfim, entre passado erodido e presente multifário” (Bittar, 2008, p. 133-134).
  • 11. Monique Bertotti 290 ano XXIII nº 41, jan.-jun. 2014 idéia da contenção do arbítrio pela lei, fator em descrédito frente à ineficácia e à inefetividade das atitudes de combate à corrupção e às taxas elevadíssimas de impunidade; a regra de igualdade perante a lei, como garantia da indis- tinção e do deferimento dos mesmos direitos a sujeitos igualmente capazes e produtivos no mercado, quando se sabe que as oportunidades são maiores para uns e menores para outros; a idéia de que a codificação representaria uma obra científico-legislativa, obra-prima do saber jurídico, com disciplina única e sistemática das matérias por ele versadas, insuscetíveis de lacunas e de erronias, possibilitando a exegese harmônica do sistema, quando se sabe que os códigos possuem o mesmo potencial de dissincronia com as mudanças sociais que os demais textos normativos; a tripartição clara das competências das esferas e das instâncias do poder como forma de manter o equilíbrio do Estado, o que na prática resulta em dissintonia entre as políticas legislativas, as políticas judiciárias e as políticas administrativas e governamentais, criando Estados simultâneos orientados por valores desconexos; a idéia da democracia representativa como fomento à igualdade de todos e à realização da vontade geral rousseauniana, quando se sabe que a população vive à mercê dos usos e abusos na publicidade, no discurso e na manipulação políticas; a intocabilidade da soberania, como forma de garantia da esfera de atuação com exclusividade dos poderes legislativos, jurisdicionais e executivos em bases territoriais fixas e determinadas na ordem internacional, quando se sabe que a interface da internacionalização dos mercados e da interdependência econômica tornam inevitável o processo de integração; a garantia de direitos universais de primeira geração, como forma de expressar a proteção à pessoa humana, o que na prá- tica ainda pouco se incorporou às realizações sócio-econômicas; a garantia da existência da jurisdição como garantia de acesso a direitos, quando se sabe que, em verdade, a justiça se diferencia para ricos e pobres, pelos modos como se pratica e pelas deficiências reais de acesso que possui (Bittar, 2008, p. 145-146). A nova realidade social e científica em que vivemos força-nos a repensar, a aprender e a ensinar a ciência jurídica a partir desse novo paradigma, ou seja, do paradigma emergente. Destarte, urge deixarmos para trás o positivismo e
  • 12. Resenha Crítica da Obra:“Um Discurso Sobre as Ciências”, de Boaventura de Sousa Santos 291 Direito em Debate – Revista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da Unijuí a segurança jurídica, e a visão de que somente é Direito o que está nos Có- digos: o Direito é muito maior que isso, e não se pode querer que, em plena modernidade líquida, quando a transformação é permanente, os cidadãos vejam suas condutas engessadas em Códigos e em milhares de leis, as quais, em sua maioria, sequer conhecem. O novo pensar científico defendido por Boaventura de Sousa Santos, portanto, traduz a nova ordem social, em que a interação, a incerteza e a in- segurança são as principais características. Essa nova ciência exige um novo paradigma, uma vez que seus anseios não são mais atendidos pelos métodos conservadores, hierárquicos e ortodoxos da ciência moderna. Esse paradigma deve ser, além de científico, social, uma vez que, na pós-modernidade, o co- nhecimento científico e não científico estão em permanente contato e servem à sociedade, a fim de torná-la menos desigual e mais democrática. A adoção do novo paradigma é urgente, pois as mudanças sociais a exigem. Assim, Ou enfrentamos os excrementos sociais expelidos pelos parlamentos, instituições e favelas, para recolher o que de proveitoso resta na reconstrução dialógica de um futuro melhor para a humanidade; ou prosseguimos cegos, bebendo do vinho desse louco Bacco cartesiano, para que as gerações vindouras decidam o que fazer com o que restar dela e do mundo que conhecemos ou que conseguimos reconhecer (Aronne, 2010, p. 38). 4 REFERÊNCIAS ARONNE, Ricardo. Aproximações críticas ao Direito Civil-Constitucional, re- personalização, Direitos Reais e caos: determinismo dogmático e indeterminação jurisprudencial. In: ARONNE, Ricardo. Razão e caos no discurso jurídico e outros ensaios de Direito Civil-Constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 37-76. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. 258p.
  • 13. Monique Bertotti 292 ano XXIII nº 41, jan.-jun. 2014 BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. O direito na pós-modernidade. Revista Seqüência, n. 57, p. 131-151, dez. 2008. SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 16. ed. Porto: B. Sousa Santos e Edições Afrontamento, 2010. 59p. Recebido em: 24/2/2014 Aceito em: 9/3/2014