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FACULDADE INTEGRADA
Especialiazação em Filosofiados Direitos Humanos
Disciplina: Ética e Filosofia Política (Direito Natural, Direito Subjetivo e Direitos
Humanos)
Rubens Lima da Silva
Ensaio acerca da mudança
de paradigma cultural e a
crise da civilização e dos
valores na
contemporaneidade.
São Paulo
2015
Ensaio acerca da mudança de paradigma cultural e a crise da
civilização e dos valores na contemporaneidade
Nosso objetivo neste ensaio é proporcionar uma reflexão a respeito de um processo –
a legitimação e a crise de uma visão de mundo. A primeira fase deste processo refere-
se a institucionalização da ciência como forma de saber dominante da época moderna,
ou seja, como o paradigma dominante do ocidente, realizou uma radical separação da
ciência das outras formas de saber – mitologia, senso comum, religião, filosofia,
culminando com o desencantamento do mundo. E a segunda relaciona-se com o
surgimento das primeiras criticas a este paradigma, bem como a possibilidade de
reencantamento do real. Como suporte desta reflexão iremos utilizar os capítulos II e
III do livro O Ponto de Mutação de F. Capra, o ensaio O Alienista de Machado de Assis
e o CD “Quanta” de Gilberto Gil.
A metáfora do “desencantamento do mundo” foi produzida pelo sociólogo alemão Max
Weber e refere-se à perda da eficácia das explicações mágicas, mitológicas e
religiosas e a emergência da racionalidade instrumental/técnica como forma de
explicação dos fenômenos naturais e humanos. Nesta perspectiva, o mundo dos
deuses e mitos foi despovoado, e sua magia substituída pelo conhecimento cientifica.
A crença numa explicação do real seguindo um raciocínio lógico, marcado por uma
fala objetiva, fria e neutra surge como a grande quimera da ciência moderna.
“A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.”
Thiago de Melo
A formação de uma visão de mundo
Como o intuito desta investigação é o estudo de uma processualidade–a legitimação
da ciência moderna e sua crise, assim como as mudanças de paradigmas que levaram
o século XX até nossos dias à crise atual, é oportuno apresentar os marco histórico
que iremos nos reportar - os séculos XVI a XVII como o momento de emergência e o
período de sua crise, que se inicia no século XX. Pelo exposto, estamos nos referido a
emergência e a própria crise da modernidade. Assim, a processualidade em questão
relaciona-se com o capitalismo, com os avanços tecnológicos, com a sociedade
industrial e a produção em massa.
A ciência moderna se constituiu num paradigma mecanicista, nele o mundo aparece
como uma máquina pronta para ser explorada – a grande metáfora da modernidade, e
também reducionista, visto que um dos seus corolários é a crença de que tudo pode
ser explicado pelo isolamento das partes. Mas o que ocasionou esta visão de mundo?
Algumas respostas podem ser fornecidas, tais como: as mudanças operadas no
âmbito da física, com as teorias de Galileu e Isaac Newton a partir do século XVI, as
descobertas da astronomia, a fundação do método analítico de raciocínio de
Descartes. Estamos falando da idade da revolução cientifica e do surgimento de ideais
que preconizavam a certeza de uma descrição matemática da natureza.
Para o cientista moderno a maior contribuição do método analítico de Descartes
consistiu na possibilidade de realizar a decomposição do pensamento e do real em
suas partes componentes para em seguida dispô-las em uma ordem lógica. O método
analítico promoveu a fragmentação do pensamento e do real, a separação da mente
da matéria, e do corpo da alma.
Por ser um paradigma, um modelo de interpretação do real, age oferecendo as
palavras através da quais expressamos as visões de mundo subjacentes, ou seja,
fornece as categorias semânticas através do qual o paradigma se expressa; definiu
também a relação entre o sujeito e objeto da pesquisa - o sujeito foi separado do
objeto, nesta separação o objeto ficou reservado para sofrer a ação do sujeito. A
ciência moderna opera pela dissociação entre o sujeito que conhece e o objeto a ser
conhecido. Agindo assim, realiza uma divisão interna a forma de produzir
conhecimento, bem como uma hierarquização entre as ciências; formando um campo
que se ocupa do estudo da natureza e outro que investiga os sujeitos – uma ciência
sobre o sujeito do conhecimento.
As ciências humanas vão emergir copiando o modelo cartesiano, separando o sujeito
do objeto. A força do paradigma moderno potencializou o surgimento de filósofos que
aprimoraram a defesa de uma ciência que se empregasse exclusivamente da vida
social, dentre eles, o filósofo social Augusto Comte ganhou notoriedade, no século
XIX, defendendo a Física Social com a expressão acabada de uma ciência específica
para o estudo da vida social.
A ciência moderna também provocou um rompimento substantivo em relação à função
do conhecimento, principalmente em relação à função que ele possuía na antiguidade.
Na época antiga a finalidade do conhecimento era a compreensão dos princípios
geradores do equilíbrio, enquanto na modernidade o objetivo passa a ser a utilidade
do conhecimento. Na visão moderna, o conhecimento tem que ser usado para
controlar a natureza, possuindo uma finalidade prática. Os problemas ecológicos do
nosso tempo podem ser entendidos como consequência desse modo cartesiano de
operar, que concebe a natureza como uma máquina pronta para ser explorada.
O ficcional ajudando no entendimento de um processo
Como expressão da racionalidade moderna, a literatura brasileira nos fornece o ensaio
“O Alienista” de Machado de Assis, uma obra que apresenta elementos para
fundamentar o debate acerca das conseqüências do desencantamento do real e do
esgotamento de uma visão de mundo baseado na racionalidade.
O ensaio tem sua centralidade no estudo da loucura; empreendimento realizado pelo
médico Simão Bacarmarte – cientista renomado em Portugal, que representa o sábio
que só presta contas para a ciência, da qual se diz devoto. Vejamos como Machado
de Assis apresenta o seu personagem:
As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo
médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do
Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro
anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra,
regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia
(MACHADO DE ASSIS, 1997 p. 39).
Operando com os elementos mais característico do cientificismo – a classificação do
real, realiza um minucioso estudo sobre as espécies de loucuras existentes e,
dividiu-os primeiramente em duas classes principais: os furiosos e os mansos; daí
passou às subclasses, monomanias, delírios, alucinações diversas. Isto feito, começou
um estudo acurado e contínuo; analisava os hábitos de cada louco, as horas de
acesso, as aversões, as simpatias, as palavras, os gestos, as tendências; inquiria da
vida dos enfermos, profissão, costumes, circunstâncias da revelação mórbida,
acidentes da infância e da mocidade, doenças de outra espécie, antecedentes na
família, uma devassa, enfim, como a não faria o mais atilado corregedor. E cada dia
notava uma observação nova, uma descoberta interessante, um fenômeno
extraordinário. Ao mesmo tempo estudava o melhor regímen, as substâncias
medicamentosas, os meios curativos e os meios paliativos, não só os que vinham nos
seus amados árabes, como os que ele mesmo descobria, à força de sagacidade e
paciência. (MACHADO DE ASSIS, 1997 p. 45).
A realidade fantasiosa do povo de Itaguaí foi substituída pelas explicações racionais, e
objetivas do representante da ciência. No texto encontramos uma explícita crítica ao
cientificismo, ao caráter transitório e fugaz da consciência humana, aos limites da
moralidade e aos comportamentos tidos como padrão - as mudanças realizadas na
teoria da loucura expressam bem este caráter transitório. O autor utilizando os
elementos da literatura realista faz o desnudamento do real e das relações humanas,
apresentando principalmente as incertezas abertas do cotidiano.
O Alienista também é uma análise da luta pelo poder, e do modo como à ciência a ele
se oferece, domina, e dirige. Esta relação encontra-se de forma basta evidente no
modo como os habitantes de Itaguaí aparecem diante dos absurdos provocados pelo
médico. Mesmo tentando reagir através de levantes, é o medico, travestido de sábio,
que dá a ultima palavra, dito de forma metafórica, eles encontram-se dominados pela
ciência. Este aspecto possibilita uma reflexão importante sobre as consequências da
cientificidade levada ao extremo.
O inicio das críticas
Este padrão de conhecimento passou a ser questionado ainda no inicio do século XX,
mas é partir da segunda metade deste século XX, que a critica a ciência moderna
ganham corpo e lança as bases para novas possibilidades de interpretação do real. As
críticas apontam principalmente para a necessidade de uma reflexão radical sobre o
paradigma dominante do ocidente, o paradigma cartesiano, que tem sua materialidade
na “ciência moderna”.
As novas gerações de cientistas, influenciados pelas descobertas da teoria da
relatividade de Einstein e da teoria quântica, propõem uma perspectiva sistêmica ou
holística como meio de interpretar as formas do mundo contemporâneo. A teoria da
relatividade provocou mudanças de conteúdo em relação à noção de tempo e espaço,
esta teoria preconiza que o tempo e o espaço devem ser percebidos a partir das
relações que estabelecem e não de forma absoluta, rompendo com princípios da física
de Newton - o tempo e espaço como absolutos.
Segundo Capra (2006), a teoria quântica e a teoria da relatividade lançaram novas
bases intelectivas para o conhecimento da realidade. As descobertas do
funcionamento do mundo subatômico evidenciaram a existência da
complementaridade, assim a natureza não poderia mais ser analisada a partir de
elementos isolados; substituiu a certeza matemática pela probabilidade, os físicos
passaram a pensar definitivamente em termos de probabilidades. A divisão cartesiana
entre mente e matéria perde espaço e o observador é incorporado no processo de
construção do conhecimento, como bem reforça Capra (2006. p.81) “minha decisão
consciente acerca de como observar, [....] determinará, em certa medida, as
propriedades do elétron ”.
Quando Gilbeto Gil no cd “Quanta” apresenta a “pílula de alho” como instrumento de
cura para várias enfermidades ou quando na música “Quanta” diz “Sei que a arte é
irmã da ciência, ambas filhas de um deus fugaz, que faz num momento e no mesmo
desfaz, esse vago deus por trás do mundo”, está apresentado uma reflexão sobre as
formas de interpretação do real, dialogando com saber popular, com os avanços e
retrocessos da ciência. E, por que não dizer: ele está mostrando que é possível ver o
mundo com outras lentes, que se forem bem ajustadas podem identificar a magia, os
ensinamentos do senso comum, e os encantos do mundo.
Por outro lado, analisando uma obra de Ciro Flamarion, Domínios da História, o
paradigma iluminista em seu processo de desenvolvimento e maturescência, na luta
por expandir o estatuto científico aos estudos sociais, revelaram correntes de
pensamento influentes até os dias atuais, sendo as principais o marxismo e a Escola
dos Annales, às quais acrescentaria a escola de Frankfurt, com sua crítica ao
chamado socialismo real soviético e a busca de uma visão mais deacordo com as
realidades do século XX.
As correntes historiográficas “filhas” do paradigma iluminista viveram seu apogeu
durante as décadas de 1950 e 1960, militaram em prol de uma história cientifica,
caracterizada por modelos macro-históricos, objetivando sempre a inteligibilidade e a
explicação. No marxismo, por exemplo, são apresentadas leis que agem sobre as
sociedades e suas transformações no tempo, a realidade social é mutável, as
mudanças conduzem a períodos de relativo equilíbrio temporário, existe uma relação
dialética entre sujeito e mundo exterior, relação esta mediada pela práxis (prática,
trabalho, produção, etc.). Essa relação dialética estabelecida entre sujeito e objeto é
conhecida por “teoria modificada do reflexo”, por opor-se a “teoria do reflexo”, onde é
dado ao sujeito um papel passivo, refletor da realidade externa do objeto.
Quanto à Escola dos Annales, segundo Geoffrey Barraclough, sua importância se
deve, em grande medida, por esta não procurar impor uma nova ideologia política e
filosófica aos historiadores, e sim convida – los a que mudem seus métodos de
trabalho, sem vinculação rígida a uma teoria, expandindo seus horizontes. O autor
enumera como sendo as principais características dessa corrente, destacando-se a
crença no caráter cientifico da história, o dialogo constante com as demais ciências
sociais, a meta de formular uma síntese histórico-social global, a ampliação do leque
das metodologias e das fontes a serem investigadas, a consciência dos múltiplos
níveis de temporalidade, e especialmente a elaboração de uma historia problema,
ciência do passado e do presente simultaneamente.
Apesar de teoricamente se propor como uma corrente totalmente desvinculada do
materialismo histórico, alguns historiadores como Le Roy Ladurie afirmam haver uma
“influencia oculta do marxismo” em alguns de seus membros, isso se confirma em
alguns pontos convergentes entre as duas correntes, como por exemplo: a busca por
uma síntese global da história social humana, a noção de que a consciência dos
homens a respeito de sua sociedade nunca corresponde à realidade real dessa
sociedade, o respeito às particularidades políticas, ideológicas, culturais e sociais de
cada período e sociedade, o rompimento das fronteiras que separam e isolam as
ciências sociais, e a preocupação de pensar a pesquisa histórica partindo das
indagações do presente.
Segundo Flamarion, estes modelos teóricos vivem um momento atual de crise que
transcende - os isoladamente, trata-se de uma crise paradigmática que atinge em
especial os historiadores, por se tratar de uma atual ausência de sentido da história,
de uma certa impossibilidade de surgirem novas teorias e ideologias que expliquem a
sociedade atual, bem como as passadas. Ele afirma que vivemos hoje um momento
de transição, onde o mundo atual ainda carrega características da contemporaneidade
clássica, simbolizados especialmente pelos desdobramentos das revoluções
industriais do século XIX e XX, e elementos de um novo mundo, em grande parte
ainda desconhecido, caracterizado pela revolução informacional que vem acontecendo
nos últimos 20 anos, com a universalização da internet e do uso de computadores,
além de diversos outros elementos tecnológicos como o fax, os meios digitais de
armazenagem, e a robótica.
Eis o grande desafio para Flamarion, forjar uma teoria que dê conta de explicar um
mundo que ainda não se constituiu completamente, onde passado e presente,
permanências e rupturas habitam o mesmo plano material e ideológico. O autor
acredita que as mudanças que se acumularam do século XIX até o momento atual são
suficientes para o nascimento de uma nova teoria renovada da história, e ela será
herdeira do paradigma iluminista, com elementos do marxismo e também dos annales.
(pag.1 – 14)
Quanto ao paradigma pós-moderno, este se desenvolveu a partir da década de 60 do
século passado, e desde então vem transformando consideravelmente a produção
historiográfica, ele rompe com os conceitos tradicionais de compreensão e
inteligibilidade do paradigma iluminista, como o marxismo e as primeiras gerações dos
annales. Nessa visão histórica pós-moderna chama a atenção o fato de ser impossível
reconstituir o passado, sendo possível acessá-lo apenas através das fontes
preservadas, além disso, para os pós- modernos o entendimento do passado e a
produção historiográfica se constituem sempre como um discurso baseado numa
leitura critica de determinadas fontes. A pretensa “neutralidade científica” aqui também
é negada, porem a subjetividade do historiador é destacada, como elemento
particularizador no processo de construção do discurso sobre o passado.
Quanto à subjetividade do historiador, deve-se destacar a falta de transparência na
linguagem, os pós-modernistas não assumem vinculação direta entre texto, autoria e
contexto, os textos possuem leis particulares de construção e estrutura, não existem
sentidos naturais, nem verdades universais, assim, não pode haver uma ligação direta
e correspondente entre o passado propriamente dito, e seus vestígios, levando-se em
conta que estes vestígios também são produtos da subjetividade humana que os
concebeu. Há uma seria discussão sobre a naturalização dos conceitos, visto que
esses passaram a ser concebidos como fruto dessa subjetividade, daí questiona-se
sua generalização e aplicabilidade às diversas sociedades históricas.
No que tange aos fenômenos, os pós-modernos recusam-se a busca por leis
universais, aqui o objeto de investigação é focado no particular e suas significações, a
multiplicidade é privilegiada, bem como as contradições e descontinuidades.
Entretanto esse paradigma tem sido alvo de muitas criticas, segundo o autor, os pós-
modernos em sua atenção excessiva a elementos como a linguagem, o texto, o
gênero, dentre outras coisas, se esqueceram dos velhos problemas dos pensadores
do século XIX, que permanecem sem resolução. Alguns autores afirmam que o anti-
racionalismo da corrente é acompanhado de um “certo desleixo teórico e
metodológico”. Flamarion ainda afirma que a paixão pelo cotidiano e pela microanálise
pode desaguar em uma tradição historiográfica que superestima as emoções,
chegando num irracionalismo metafísico.
Ciro Flamarion conclui fazendo uma analise dos aspectos que, segundo ele,
permanecerão em nosso meio apesar da crise paradigmática, como “a ampliação
considerável dos objetos e estratégias de pesquisa e a reivindicação do individual, do
subjetivo, do simbólico como dimensões necessárias e legitimas da análise histórica.”
(pag.15 – 23)
A escola de Frankfurt buscou fazer a análise da realidade contemporânea buscando
compreende-lo por meio do método marxista, ou seja, uma reconstrução da
compreensão do mundo moderno, fazendo uma crítica ao modelo do socialismo
soviético e ao fascismo, que segundo seus expoentes eram respostas extremas que
negavam a autonomia do homem. Buscou entender a arte por meio do materiaslimo
histórico, com Walter Benjamin, e o conceito de Indústria cultural com Theodor-
Adorno.
conclusões.
Considerando o propósito do ensaio – uma reflexão sobre a legitimação e a crise da
ciência, recorro a epigrafe, do poeta Thiago de Melo, que apresenta a liberdade como
“algo vivo e transparente”, para dizer que além do afirmado pelo poeta, ela deve
garantira libertação do pensamento humano para pensar a realidade em sua
complexidade, e seu reencantamento. E por que reencantar o real? As respostas não
são definitivas. Contudo é importante ressaltar que o momento atual, marcado pelo
esgotamento do padrão capitalista de produção, tendo como consequência a eminente
crise ecológica, dentre outras, cobra a consciência de que não existe somente uma
forma de acesso à ciência e não há nenhum conhecimento que se possa se
considerar absoluto, único, superior. Também não se estar propondo uma volta aos
padrões de inteligibilidade anterior à modernidade, ou a emergência do irracionalismo,
o que se apresentar como urgente é a necessária liberdade para estabelecer diálogos
com outras lógicas de percepção da realidade, sem hierarquizá-las.
Se não temos conclusões prontas, fica o ensinamento: os conhecimentos precisam
dialogar sempre! As novas possibilidades de interpretação do real e, porque não dizer,
as novas narrativas se singularizam por apresentarem um mundo sistêmico, onde tudo
está relacionado, e por romperem com uma visão de mundo mecânica, burocrática e
extremamente racionalizada. Enfim, cabe a liberdade para olhar a diversidade do real
e ver as suas narrativas mitológicas, mágicas, utópicas, ideológicas como acervo de
elaborações que vão se reconstruindo no processo histórico e cultural.
Também no âmbito dos estudos históricos que busca analisar a crise da modernidade
e da pós-modernidade, vimos em síntese as mudanças de paradigmas nas visões que
nos vem desde o iluminismo, sendo que o filtro que nos serve de método segundo o
marxismo e a Escola dos Annales é o método dialético. Com a escola de Frankfurt
destacamos a compreensão do mundo contemporâneo com o advento da indústria
cultural, que por meio da proletarização da sociedade criou a indústria cultural voltada
para as massas, usando a reprodução da obra de arte de forma massificada, para
homogeneizar o consumo visando a lucratividade do capitalismo, que até nos
momentos de ócio a máquina deve estar atuando sobre o lazer do homem
contemporâneo “Quando o homem não está produzindo está consumindo”, segndo
Erich Frhom, em “A revolução da esperança”.
BIBLIOGRAFIA
ASSIS, Machado. O Alienista. In: Contos Escolhidos. V17. São Paulo: O Globo, 1997,
CAPRA, F.J. O ponto de mutação. São Paulo: Cutrix, 2006, pp 47-155.
GIL, Gilberto. Quanta. In: CD Quanta, 1997.
CARDOSO, Ciro Flamarion. História e Paradigmas Rivais. In: CARDOSO, Ciro Flamarion,
VAINFAS, Ronaldo (Org.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de
Janeiro, Campus, 1997. P. 1-23.
Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, pref. Theodor W. Adorno, Lisboa: Relógio
d`Àgua, 1992.
Benjamin,Walter.A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica (1936).
Erich Frhom, em “A revolução da esperança”.

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Ensaio sobre a mudança de paradigma cultural e a crise da civilização

  • 1. AVM FACULDADE INTEGRADA Especialiazação em Filosofiados Direitos Humanos Disciplina: Ética e Filosofia Política (Direito Natural, Direito Subjetivo e Direitos Humanos) Rubens Lima da Silva Ensaio acerca da mudança de paradigma cultural e a crise da civilização e dos valores na contemporaneidade. São Paulo 2015
  • 2. Ensaio acerca da mudança de paradigma cultural e a crise da civilização e dos valores na contemporaneidade Nosso objetivo neste ensaio é proporcionar uma reflexão a respeito de um processo – a legitimação e a crise de uma visão de mundo. A primeira fase deste processo refere- se a institucionalização da ciência como forma de saber dominante da época moderna, ou seja, como o paradigma dominante do ocidente, realizou uma radical separação da ciência das outras formas de saber – mitologia, senso comum, religião, filosofia, culminando com o desencantamento do mundo. E a segunda relaciona-se com o surgimento das primeiras criticas a este paradigma, bem como a possibilidade de reencantamento do real. Como suporte desta reflexão iremos utilizar os capítulos II e III do livro O Ponto de Mutação de F. Capra, o ensaio O Alienista de Machado de Assis e o CD “Quanta” de Gilberto Gil. A metáfora do “desencantamento do mundo” foi produzida pelo sociólogo alemão Max Weber e refere-se à perda da eficácia das explicações mágicas, mitológicas e religiosas e a emergência da racionalidade instrumental/técnica como forma de explicação dos fenômenos naturais e humanos. Nesta perspectiva, o mundo dos deuses e mitos foi despovoado, e sua magia substituída pelo conhecimento cientifica. A crença numa explicação do real seguindo um raciocínio lógico, marcado por uma fala objetiva, fria e neutra surge como a grande quimera da ciência moderna. “A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.” Thiago de Melo A formação de uma visão de mundo Como o intuito desta investigação é o estudo de uma processualidade–a legitimação da ciência moderna e sua crise, assim como as mudanças de paradigmas que levaram o século XX até nossos dias à crise atual, é oportuno apresentar os marco histórico que iremos nos reportar - os séculos XVI a XVII como o momento de emergência e o período de sua crise, que se inicia no século XX. Pelo exposto, estamos nos referido a emergência e a própria crise da modernidade. Assim, a processualidade em questão relaciona-se com o capitalismo, com os avanços tecnológicos, com a sociedade industrial e a produção em massa. A ciência moderna se constituiu num paradigma mecanicista, nele o mundo aparece como uma máquina pronta para ser explorada – a grande metáfora da modernidade, e também reducionista, visto que um dos seus corolários é a crença de que tudo pode ser explicado pelo isolamento das partes. Mas o que ocasionou esta visão de mundo? Algumas respostas podem ser fornecidas, tais como: as mudanças operadas no âmbito da física, com as teorias de Galileu e Isaac Newton a partir do século XVI, as descobertas da astronomia, a fundação do método analítico de raciocínio de Descartes. Estamos falando da idade da revolução cientifica e do surgimento de ideais
  • 3. que preconizavam a certeza de uma descrição matemática da natureza. Para o cientista moderno a maior contribuição do método analítico de Descartes consistiu na possibilidade de realizar a decomposição do pensamento e do real em suas partes componentes para em seguida dispô-las em uma ordem lógica. O método analítico promoveu a fragmentação do pensamento e do real, a separação da mente da matéria, e do corpo da alma. Por ser um paradigma, um modelo de interpretação do real, age oferecendo as palavras através da quais expressamos as visões de mundo subjacentes, ou seja, fornece as categorias semânticas através do qual o paradigma se expressa; definiu também a relação entre o sujeito e objeto da pesquisa - o sujeito foi separado do objeto, nesta separação o objeto ficou reservado para sofrer a ação do sujeito. A ciência moderna opera pela dissociação entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido. Agindo assim, realiza uma divisão interna a forma de produzir conhecimento, bem como uma hierarquização entre as ciências; formando um campo que se ocupa do estudo da natureza e outro que investiga os sujeitos – uma ciência sobre o sujeito do conhecimento. As ciências humanas vão emergir copiando o modelo cartesiano, separando o sujeito do objeto. A força do paradigma moderno potencializou o surgimento de filósofos que aprimoraram a defesa de uma ciência que se empregasse exclusivamente da vida social, dentre eles, o filósofo social Augusto Comte ganhou notoriedade, no século XIX, defendendo a Física Social com a expressão acabada de uma ciência específica para o estudo da vida social. A ciência moderna também provocou um rompimento substantivo em relação à função do conhecimento, principalmente em relação à função que ele possuía na antiguidade. Na época antiga a finalidade do conhecimento era a compreensão dos princípios geradores do equilíbrio, enquanto na modernidade o objetivo passa a ser a utilidade do conhecimento. Na visão moderna, o conhecimento tem que ser usado para controlar a natureza, possuindo uma finalidade prática. Os problemas ecológicos do nosso tempo podem ser entendidos como consequência desse modo cartesiano de operar, que concebe a natureza como uma máquina pronta para ser explorada. O ficcional ajudando no entendimento de um processo Como expressão da racionalidade moderna, a literatura brasileira nos fornece o ensaio “O Alienista” de Machado de Assis, uma obra que apresenta elementos para fundamentar o debate acerca das conseqüências do desencantamento do real e do esgotamento de uma visão de mundo baseado na racionalidade. O ensaio tem sua centralidade no estudo da loucura; empreendimento realizado pelo médico Simão Bacarmarte – cientista renomado em Portugal, que representa o sábio que só presta contas para a ciência, da qual se diz devoto. Vejamos como Machado de Assis apresenta o seu personagem: As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia (MACHADO DE ASSIS, 1997 p. 39). Operando com os elementos mais característico do cientificismo – a classificação do real, realiza um minucioso estudo sobre as espécies de loucuras existentes e, dividiu-os primeiramente em duas classes principais: os furiosos e os mansos; daí
  • 4. passou às subclasses, monomanias, delírios, alucinações diversas. Isto feito, começou um estudo acurado e contínuo; analisava os hábitos de cada louco, as horas de acesso, as aversões, as simpatias, as palavras, os gestos, as tendências; inquiria da vida dos enfermos, profissão, costumes, circunstâncias da revelação mórbida, acidentes da infância e da mocidade, doenças de outra espécie, antecedentes na família, uma devassa, enfim, como a não faria o mais atilado corregedor. E cada dia notava uma observação nova, uma descoberta interessante, um fenômeno extraordinário. Ao mesmo tempo estudava o melhor regímen, as substâncias medicamentosas, os meios curativos e os meios paliativos, não só os que vinham nos seus amados árabes, como os que ele mesmo descobria, à força de sagacidade e paciência. (MACHADO DE ASSIS, 1997 p. 45). A realidade fantasiosa do povo de Itaguaí foi substituída pelas explicações racionais, e objetivas do representante da ciência. No texto encontramos uma explícita crítica ao cientificismo, ao caráter transitório e fugaz da consciência humana, aos limites da moralidade e aos comportamentos tidos como padrão - as mudanças realizadas na teoria da loucura expressam bem este caráter transitório. O autor utilizando os elementos da literatura realista faz o desnudamento do real e das relações humanas, apresentando principalmente as incertezas abertas do cotidiano. O Alienista também é uma análise da luta pelo poder, e do modo como à ciência a ele se oferece, domina, e dirige. Esta relação encontra-se de forma basta evidente no modo como os habitantes de Itaguaí aparecem diante dos absurdos provocados pelo médico. Mesmo tentando reagir através de levantes, é o medico, travestido de sábio, que dá a ultima palavra, dito de forma metafórica, eles encontram-se dominados pela ciência. Este aspecto possibilita uma reflexão importante sobre as consequências da cientificidade levada ao extremo. O inicio das críticas Este padrão de conhecimento passou a ser questionado ainda no inicio do século XX, mas é partir da segunda metade deste século XX, que a critica a ciência moderna ganham corpo e lança as bases para novas possibilidades de interpretação do real. As críticas apontam principalmente para a necessidade de uma reflexão radical sobre o paradigma dominante do ocidente, o paradigma cartesiano, que tem sua materialidade na “ciência moderna”. As novas gerações de cientistas, influenciados pelas descobertas da teoria da relatividade de Einstein e da teoria quântica, propõem uma perspectiva sistêmica ou holística como meio de interpretar as formas do mundo contemporâneo. A teoria da relatividade provocou mudanças de conteúdo em relação à noção de tempo e espaço, esta teoria preconiza que o tempo e o espaço devem ser percebidos a partir das relações que estabelecem e não de forma absoluta, rompendo com princípios da física de Newton - o tempo e espaço como absolutos. Segundo Capra (2006), a teoria quântica e a teoria da relatividade lançaram novas bases intelectivas para o conhecimento da realidade. As descobertas do funcionamento do mundo subatômico evidenciaram a existência da complementaridade, assim a natureza não poderia mais ser analisada a partir de elementos isolados; substituiu a certeza matemática pela probabilidade, os físicos passaram a pensar definitivamente em termos de probabilidades. A divisão cartesiana entre mente e matéria perde espaço e o observador é incorporado no processo de construção do conhecimento, como bem reforça Capra (2006. p.81) “minha decisão consciente acerca de como observar, [....] determinará, em certa medida, as propriedades do elétron ”.
  • 5. Quando Gilbeto Gil no cd “Quanta” apresenta a “pílula de alho” como instrumento de cura para várias enfermidades ou quando na música “Quanta” diz “Sei que a arte é irmã da ciência, ambas filhas de um deus fugaz, que faz num momento e no mesmo desfaz, esse vago deus por trás do mundo”, está apresentado uma reflexão sobre as formas de interpretação do real, dialogando com saber popular, com os avanços e retrocessos da ciência. E, por que não dizer: ele está mostrando que é possível ver o mundo com outras lentes, que se forem bem ajustadas podem identificar a magia, os ensinamentos do senso comum, e os encantos do mundo. Por outro lado, analisando uma obra de Ciro Flamarion, Domínios da História, o paradigma iluminista em seu processo de desenvolvimento e maturescência, na luta por expandir o estatuto científico aos estudos sociais, revelaram correntes de pensamento influentes até os dias atuais, sendo as principais o marxismo e a Escola dos Annales, às quais acrescentaria a escola de Frankfurt, com sua crítica ao chamado socialismo real soviético e a busca de uma visão mais deacordo com as realidades do século XX. As correntes historiográficas “filhas” do paradigma iluminista viveram seu apogeu durante as décadas de 1950 e 1960, militaram em prol de uma história cientifica, caracterizada por modelos macro-históricos, objetivando sempre a inteligibilidade e a explicação. No marxismo, por exemplo, são apresentadas leis que agem sobre as sociedades e suas transformações no tempo, a realidade social é mutável, as mudanças conduzem a períodos de relativo equilíbrio temporário, existe uma relação dialética entre sujeito e mundo exterior, relação esta mediada pela práxis (prática, trabalho, produção, etc.). Essa relação dialética estabelecida entre sujeito e objeto é conhecida por “teoria modificada do reflexo”, por opor-se a “teoria do reflexo”, onde é dado ao sujeito um papel passivo, refletor da realidade externa do objeto. Quanto à Escola dos Annales, segundo Geoffrey Barraclough, sua importância se deve, em grande medida, por esta não procurar impor uma nova ideologia política e filosófica aos historiadores, e sim convida – los a que mudem seus métodos de trabalho, sem vinculação rígida a uma teoria, expandindo seus horizontes. O autor enumera como sendo as principais características dessa corrente, destacando-se a crença no caráter cientifico da história, o dialogo constante com as demais ciências sociais, a meta de formular uma síntese histórico-social global, a ampliação do leque das metodologias e das fontes a serem investigadas, a consciência dos múltiplos níveis de temporalidade, e especialmente a elaboração de uma historia problema, ciência do passado e do presente simultaneamente. Apesar de teoricamente se propor como uma corrente totalmente desvinculada do materialismo histórico, alguns historiadores como Le Roy Ladurie afirmam haver uma “influencia oculta do marxismo” em alguns de seus membros, isso se confirma em alguns pontos convergentes entre as duas correntes, como por exemplo: a busca por uma síntese global da história social humana, a noção de que a consciência dos homens a respeito de sua sociedade nunca corresponde à realidade real dessa sociedade, o respeito às particularidades políticas, ideológicas, culturais e sociais de cada período e sociedade, o rompimento das fronteiras que separam e isolam as ciências sociais, e a preocupação de pensar a pesquisa histórica partindo das indagações do presente. Segundo Flamarion, estes modelos teóricos vivem um momento atual de crise que transcende - os isoladamente, trata-se de uma crise paradigmática que atinge em especial os historiadores, por se tratar de uma atual ausência de sentido da história, de uma certa impossibilidade de surgirem novas teorias e ideologias que expliquem a sociedade atual, bem como as passadas. Ele afirma que vivemos hoje um momento de transição, onde o mundo atual ainda carrega características da contemporaneidade clássica, simbolizados especialmente pelos desdobramentos das revoluções industriais do século XIX e XX, e elementos de um novo mundo, em grande parte ainda desconhecido, caracterizado pela revolução informacional que vem acontecendo
  • 6. nos últimos 20 anos, com a universalização da internet e do uso de computadores, além de diversos outros elementos tecnológicos como o fax, os meios digitais de armazenagem, e a robótica. Eis o grande desafio para Flamarion, forjar uma teoria que dê conta de explicar um mundo que ainda não se constituiu completamente, onde passado e presente, permanências e rupturas habitam o mesmo plano material e ideológico. O autor acredita que as mudanças que se acumularam do século XIX até o momento atual são suficientes para o nascimento de uma nova teoria renovada da história, e ela será herdeira do paradigma iluminista, com elementos do marxismo e também dos annales. (pag.1 – 14) Quanto ao paradigma pós-moderno, este se desenvolveu a partir da década de 60 do século passado, e desde então vem transformando consideravelmente a produção historiográfica, ele rompe com os conceitos tradicionais de compreensão e inteligibilidade do paradigma iluminista, como o marxismo e as primeiras gerações dos annales. Nessa visão histórica pós-moderna chama a atenção o fato de ser impossível reconstituir o passado, sendo possível acessá-lo apenas através das fontes preservadas, além disso, para os pós- modernos o entendimento do passado e a produção historiográfica se constituem sempre como um discurso baseado numa leitura critica de determinadas fontes. A pretensa “neutralidade científica” aqui também é negada, porem a subjetividade do historiador é destacada, como elemento particularizador no processo de construção do discurso sobre o passado. Quanto à subjetividade do historiador, deve-se destacar a falta de transparência na linguagem, os pós-modernistas não assumem vinculação direta entre texto, autoria e contexto, os textos possuem leis particulares de construção e estrutura, não existem sentidos naturais, nem verdades universais, assim, não pode haver uma ligação direta e correspondente entre o passado propriamente dito, e seus vestígios, levando-se em conta que estes vestígios também são produtos da subjetividade humana que os concebeu. Há uma seria discussão sobre a naturalização dos conceitos, visto que esses passaram a ser concebidos como fruto dessa subjetividade, daí questiona-se sua generalização e aplicabilidade às diversas sociedades históricas. No que tange aos fenômenos, os pós-modernos recusam-se a busca por leis universais, aqui o objeto de investigação é focado no particular e suas significações, a multiplicidade é privilegiada, bem como as contradições e descontinuidades. Entretanto esse paradigma tem sido alvo de muitas criticas, segundo o autor, os pós- modernos em sua atenção excessiva a elementos como a linguagem, o texto, o gênero, dentre outras coisas, se esqueceram dos velhos problemas dos pensadores do século XIX, que permanecem sem resolução. Alguns autores afirmam que o anti- racionalismo da corrente é acompanhado de um “certo desleixo teórico e metodológico”. Flamarion ainda afirma que a paixão pelo cotidiano e pela microanálise pode desaguar em uma tradição historiográfica que superestima as emoções, chegando num irracionalismo metafísico. Ciro Flamarion conclui fazendo uma analise dos aspectos que, segundo ele, permanecerão em nosso meio apesar da crise paradigmática, como “a ampliação considerável dos objetos e estratégias de pesquisa e a reivindicação do individual, do subjetivo, do simbólico como dimensões necessárias e legitimas da análise histórica.” (pag.15 – 23) A escola de Frankfurt buscou fazer a análise da realidade contemporânea buscando compreende-lo por meio do método marxista, ou seja, uma reconstrução da compreensão do mundo moderno, fazendo uma crítica ao modelo do socialismo soviético e ao fascismo, que segundo seus expoentes eram respostas extremas que negavam a autonomia do homem. Buscou entender a arte por meio do materiaslimo histórico, com Walter Benjamin, e o conceito de Indústria cultural com Theodor- Adorno.
  • 7. conclusões. Considerando o propósito do ensaio – uma reflexão sobre a legitimação e a crise da ciência, recorro a epigrafe, do poeta Thiago de Melo, que apresenta a liberdade como “algo vivo e transparente”, para dizer que além do afirmado pelo poeta, ela deve garantira libertação do pensamento humano para pensar a realidade em sua complexidade, e seu reencantamento. E por que reencantar o real? As respostas não são definitivas. Contudo é importante ressaltar que o momento atual, marcado pelo esgotamento do padrão capitalista de produção, tendo como consequência a eminente crise ecológica, dentre outras, cobra a consciência de que não existe somente uma forma de acesso à ciência e não há nenhum conhecimento que se possa se considerar absoluto, único, superior. Também não se estar propondo uma volta aos padrões de inteligibilidade anterior à modernidade, ou a emergência do irracionalismo, o que se apresentar como urgente é a necessária liberdade para estabelecer diálogos com outras lógicas de percepção da realidade, sem hierarquizá-las. Se não temos conclusões prontas, fica o ensinamento: os conhecimentos precisam dialogar sempre! As novas possibilidades de interpretação do real e, porque não dizer, as novas narrativas se singularizam por apresentarem um mundo sistêmico, onde tudo está relacionado, e por romperem com uma visão de mundo mecânica, burocrática e extremamente racionalizada. Enfim, cabe a liberdade para olhar a diversidade do real e ver as suas narrativas mitológicas, mágicas, utópicas, ideológicas como acervo de elaborações que vão se reconstruindo no processo histórico e cultural. Também no âmbito dos estudos históricos que busca analisar a crise da modernidade e da pós-modernidade, vimos em síntese as mudanças de paradigmas nas visões que nos vem desde o iluminismo, sendo que o filtro que nos serve de método segundo o marxismo e a Escola dos Annales é o método dialético. Com a escola de Frankfurt destacamos a compreensão do mundo contemporâneo com o advento da indústria cultural, que por meio da proletarização da sociedade criou a indústria cultural voltada para as massas, usando a reprodução da obra de arte de forma massificada, para homogeneizar o consumo visando a lucratividade do capitalismo, que até nos momentos de ócio a máquina deve estar atuando sobre o lazer do homem contemporâneo “Quando o homem não está produzindo está consumindo”, segndo Erich Frhom, em “A revolução da esperança”. BIBLIOGRAFIA ASSIS, Machado. O Alienista. In: Contos Escolhidos. V17. São Paulo: O Globo, 1997, CAPRA, F.J. O ponto de mutação. São Paulo: Cutrix, 2006, pp 47-155. GIL, Gilberto. Quanta. In: CD Quanta, 1997. CARDOSO, Ciro Flamarion. História e Paradigmas Rivais. In: CARDOSO, Ciro Flamarion, VAINFAS, Ronaldo (Org.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro, Campus, 1997. P. 1-23. Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, pref. Theodor W. Adorno, Lisboa: Relógio d`Àgua, 1992. Benjamin,Walter.A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica (1936).
  • 8. Erich Frhom, em “A revolução da esperança”.