Conferência SC 24 | Estratégias de diversificação de investimento em mídias d...
A (juris) prudência do registrador intérprete - Marcelo
1. A (juris) prudência do registrador intérprete
Desembargador Marcelo Rodrigues
XXXVIII Encontro Nacional dos Registradores de
Imóveis – IRIB
Fortaleza, 20 de setembro de 2011
2. JURISPRUDÊNCIA
• do latim ‘jus’ (justo) + ‘prudentia’ (prudência)
= conjunto das decisões e interpretações das leis
• origem na Common Law do Direito inglês, cuja
criação veio da necessidade de combater os
costumes locais que não eram comuns
→ aplicação de estudo de casos jurídicos na
tomada de decisões judiciais
3. Registrador intérprete
• No exercício de sua atividade, incumbe ao oficial
registrador a tarefa de assimilar, valorar e integrar
elementos normativos abertos, vagos e imprecisos ou
mesmo legislações conflitantes, no intuito de garantir
os objetivos da autenticidade, publicidade, eficácia
e, sobretudo, da segurança jurídica, desincumbindo de
tal ônus atento à ética, no exercício do poder
discricionário que a Administração Pública lhe confere
e nos limites da prerrogativa de independência que a
lei lhe atribui
4. juristas
• Na busca do ‘justo’ os registradores buscam
diretamente a segurança jurídica
≠
• juízes ‘dizem o direito’ → declaram o direito
enquanto justo → jurisdição, judicatura, jus
dicere, jus dictio
5. serviços delegados do extrajudicial
• atividade integrante da Administração Pública
• orientada pelos princípios da
legalidade, moralidade, impessoalidade, publicid
ade e eficiência (art. 37, caput CR)
= fundamentos de validade da ação administrativa
6. Registro de Imóveis
• no tocante às normas que o regulam, pode ser
classificado em direito material e direto formal.
• ‘O direito material do registro imobiliário
compreende os efeitos do direito civil ligados às
inscrições do registro, princípios da inscrição, os
da publicidade e lugar dos direitos reais. O direito
formal do registro imobiliário regulamenta a
organização, o estabelecimento do registro e
outras instituições, assim como o processo a
seguir em matéria de inscrição’
7. peculiaridades
• Normas do direito formal em geral são do tipo
‘fechado’ → taxativas, completas, imperativas,
etc. Ex.: advérbio ‘somente’ dos artigos 207 e
221 da LRP
• Exceções: normas do tipo ‘aberto’, com
elementos normativos que necessitam da
integração e valoração do intérprete. Ex.:
artigos 11; 19§5º, 24-25 LRP; etc.
8. elementos normativos
• a ratio decendi de casos anteriores não tem
necessariamente carga hermenêutica suficiente para
serem universalizadas
• o intérprete tem o poder de fechar o tipo, ou seja, em
razão da ausência de descrição ou de esta estar
incompleta, é transferida a ele a tarefa de completá-la,
integrá-la ao caso concreto. Tidos como ‘janelas
abertas’, que demandam para a sua eficácia o
esclarecimento sobre o significado da expressão
contida no elemento descritivo
9. Registrador intérprete
• Na qualificação dos títulos que tomam o
protocolo e almejam o fólio real, o juízo
prudencial é exclusivo do oficial registrador.
Neste sentido, diz-se que o registrador é o juiz
natural do título cujo ingresso é reclamado pelo
interessado
• Neste cenário, a independência, o bom senso e o
descortino do delegado imobiliário são
especialmente importantes, notadamente em
atividade cujo objetivo primário é proporcionar
segurança jurídica
10. Registrador intérprete
• ‘o ato das subsunção ou subordinação do fato à
norma, não é reflexo e passivo, mas sim um ato
de participação criativa do intérprete’
• na premência de dar vida ao direito, será o
registrador um autêntico aplicador das normas, já
que todo ato de aplicação é, ao mesmo
tempo, um ato de criação normativa? Diante da
dificuldade de valorar elementos normativos
indeterminados sucumbirá ao apelo
indiscriminado da suscitação de dúvida?
11. prerrogativa da independência
• resulta da função criativa da interpretação
outra faceta da prerrogativa legal da
independência no exercício da atividade, que
se destina a ser preservada e exercitada no
cumprimento da missão que a lei lhe atribui
(art. 28, Lei 8.935, 1994 - LNR)
12. Ética profissional
a idoneidade profissional exige estudo e
exercício inteligente e constante da profissão.
No que concerne às profissões jurídicas, o
estudo deve abranger: (a) a normatividade;
(b) aos fatos e situações concretas; e (c) a
peculiar aplicação das normas a esses fatos e
situações (interpretação)
13. Inflexões da Civil Law
= sistema ordenado, coerente e completo de
normas escritas, onde predomina uma
concepção racionalista do Direito, cujo vigor
resulta do desenvolvimento lógico de
conceitos abstratos
14. critérios valorativos = discricionariedade
• mesmo no âmbito da Civil Law, as doutrinas
contemporâneas sobre interpretação e argumentação
jurídica flexibilizaram a posição original, de modo
que, hoje, o debate está centrado a uma posição mais
concreta, que é a questão dos valores. Fundamental
para alcançar o ‘justo’, atender ao fim social e às
exigências do bem comum, a disposição e capacidade
de o intérprete compreender, sopesar e ponderar
valores.
• de qualquer forma, submetida fica essa independência
ao poder discricionário do Poder Público.
15. princípio da proporcionalidade
• Esse princípio, que equivale à proibição do excesso,
decorre de uma interpretação sistemática de normas
constitucionais, que permite o sacrifício de um direito
ou garantia constitucional em prol de outro direito ou
garantia constitucional
• Preconiza o princípio da proporcionalidade a
possibilidade do sacrifício de um direito ou garantia
constitucional em prol de outro de igual ou superior
valia, notadamente quando está em jogo interesse
público relevante
16. princípio da proporcionalidade
• seu mais valioso fundamento, portanto, é
conter o excesso de poder, restringir os atos,
decisões e condutas dos agentes públicos que
ultrapassam os limites adequados, tendo em
conta os objetivos colimados pela
Administração ou mesmo pelos Poderes do
Estado
17. Lei de introdução ao Código Civil
• Art. 5º. Na aplicação da lei, o juiz atenderá os
fins sociais a que ela se dirige e às exigências
do bem comum
• O intérprete tem o dever de manter-se
intimamente conectado com a vida e ‘segui-la
em sua evolução e a ela adaptar-se, o que
resulta assim que a norma se destina a um fim
social, de que o aplicador do direito deve
participar ao interpretar o preceito normativo’
18. Registrador intérprete
• Fim social = o objetivo de uma sociedade, encerrado
na somatória de atos que constituíram a razão de sua
composição, abrangendo assim o útil, a necessidade
social, seus anseios, o equilíbrio de interesses, etc.
• Bem comum = diretriz para a solução de casos
duvidosos. Na escolha entre duas ou mais opções o
intérprete deve optar por aquela que mais entrega
utilidade comum dos cidadãos, pois se trata não de
uma mera orientação interpretativa, mas de um dever
que se impõe ao aplicador da norma
19. equidade
• a equidade apresenta-se como elemento de
adaptação e integração da norma ao caso
concreto, a capacidade que a norma tem de
atenuar o seu rigor, moldando-se ao caso
concreto. Nesta sua função, a equidade não
pretende quebrar a norma, mas adaptá-la às
circunstâncias sócio-valorativas do fato
concreto no instante de sua aplicação
20. Art. 11 LRP
• Os oficiais adotarão o melhor regime interno
de modo a assegurar às partes a ordem de
precedência na apresentação dos seus títulos,
estabelecendo-se, sempre, o número de
ordem geral.
21. Art. 12 LRP
• Nenhuma exigência fiscal, ou dívida, obstará a
apresentação de um título e o seu lançamento do
Protocolo com o respectivo número de
ordem, nos casos em que da precedência
decorra prioridade de direitos para o
apresentante.
• Parágrafo único. Independem de apontamento
no Protocolo os títulos apresentados apenas
para exame e cálculo dos respectivos
emolumentos
22. Art. 19 LRP
• A certidão será lavrada em inteiro teor, em
resumo, ou em relatório, conforme quesitos, e
devidamente autenticada pelo oficial ou seus
substitutos legais, não podendo ser retardada por
mais de 5 (cinco) dias. (Redação dada pela Lei nº
6.216, de 1974)
• § 5º As certidões extraídas dos registros públicos
deverão ser fornecidas em papel e mediante
escrita que permitam a sua reprodução por
fotocópia, ou outro processo equivalente.
(Incluído dada pela Lei nº 6.216, de 1974)
23. Artigos 24 e 25 LRP
• Art. 24. Os oficiais devem manter em segurança,
permanentemente, os livros e documentos e
respondem pela sua ordem e conservação
• Art. 25. Os papéis referentes ao serviço do
registro serão arquivados em cartório mediante a
utilização de processos racionais que facilitem as
buscas, facultada a utilização de microfilmagem e
de outros meios de reprodução autorizados em
lei
24. Art. 167, II, ‘5’ LRP
• No Registro de Imóveis, além da matrícula,
serão feitos
• II - a averbação:
• 5) da alteração do nome por casamento ou
por desquite, ou, ainda, de outras
circunstâncias que, de qualquer modo,
tenham influência no registro ou nas pessoas
nele interessadas;
25. Art. 169, II LRP
• - Todos os atos enumerados no art. 167 são
obrigatórios e efetuar-se-ão no Cartório da
situação do imóvel, salvo:
• II – os registros relativos a imóveis situados
em comarcas ou circunscrições limítrofes, que
serão feitos em todas elas, devendo os
Registros de Imóveis fazer constar dos
registros tal ocorrência.
26. Art. 171 LRP x Lei 11.483 x art. 1.502 C.C.
• Art. 171. Os atos relativos, a vias férreas serão registrados no
cartório correspondente à estação inicial da respectiva linha.
• Veja o que diz a Lei 11.483 de 31 de maio de 2007 que dispõe sobre
a revitalização do setor ferroviário, altera dispositivos da Lei no
10.233, de 5 de junho de 2001, e dá outras providências
• Art. 16. Na alienação dos imóveis referidos nos arts. 10, 12, 13 e 14
desta Lei, observar-se-á o seguinte:
• IV - o registro será efetuado no cartório da localidade mais próxima
de onde se situa o imóvel, não se aplicando o disposto no art. 171
da Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973.
• Já o Código Civil diz :
• Art. 1.502. As hipotecas sobre as estradas de ferro serão registradas
no Município da estação inicial da respectiva linha.
27. Art. 176, I LRP
• O Livro nº 2 - Registro Geral - será
destinado, à matrícula dos imóveis e ao
registro ou averbação dos atos relacionados
no art. 167 e não atribuídos ao Livro nº 3.
• I - cada imóvel terá matrícula própria, que
será aberta por ocasião do primeiro registro a
ser feito na vigência desta Lei;
28. Artigos 190 e 197 LRP
• Art. 190 - Não serão registrados, no mesmo dia,
títulos pelos quais se constituam direitos reais
contraditórios sobre o mesmo imóvel
• Art. 197 - Quando o título anterior estiver
registrado em outro cartório, o novo título será
apresentado juntamente com certidão
atualizada, comprobatória do registro anterior, e
da existência ou inexistência de ônus
29. Art. 246 LRP
• Além dos casos expressamente indicados no
item II do artigo 167, serão averbados na
matrícula as subrogações e outras ocorrências
que, por qualquer modo, alterem o registro
30. Art. 259 + 250, I LRP
• - O cancelamento não pode ser feito em
virtude de sentença sujeita, ainda, a recurso
• E quando vier um mandado?
31. conclusão
• o intérprete ‘deve descobrir o direito e não
(propriamente) criá-lo’, com disposição e
capacidade para ponderar valores, com
freqüência, antagônicos
• ‘A melhor interpretação da lei é a que se
preocupa com a solução justa, não podendo o
seu aplicador esquecer que o rigorismo na
exegese dos textos legais pode levar a injustiças’
32. • Obrigado !
• marcelo@tjmg.jus.br
• Fortaleza, 20 de setembro de 2011