Psic doc3 m1

Agrupamento de Escolas da Azambuja
Psicologia – Cursos Profissionais 10º Ano
Módulo 1 – Descobrindo a Psicologia
Documento 3
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A Psicologia Experimental
Nos finais do século XIX assistimos ao que podemos designar por era da Psicologia
Experimental. Nesta altura, todas as áreas do saber que pretendem obter o estatuto científico,
têm de preencher os seguintes requisitos:
Submissão plena aos factos;
A decomposição das matérias de que se ocupam em elementos mais simples.
Ciências como a Física e a Química são áreas de estudo valorizadas.
Wundt e o Estruturalismo
Wundt (1832 – 1920) quer fazer da Psicologia uma ciência à semelhança da química, isto é,
uma ciência experimental, por isso cria o primeiro laboratório de Psicologia, em Leipzig, na
Alemanha, em 1879.
Segundo Wundt, o objeto de estudo da Psicologia é a consciência e os seus processos mentais.
Concebe a consciência humana como sendo constituída por elementos simples: as sensações.
Os processos mentais resultam das associações destas unidades básicas.
Neste laboratório, Wundt e os seus alunos ouvem, analisam e interpretam as descrições dos
pacientes sobre o que sentem quando são expostos a determinado estímulo, visual ou
auditivo, por exemplo. Cada um dos pacientes, por ter vivido uma determinada experiência,
descreve eanalisa as sensações e emoções que sente o mais detalhadamente possível.
Comoesta descrição corresponde a uma análise interior, o método da Psicologia é, para este
autor, a introspeção. Mas este relato é feito em condições controladas por Wundt. As
experiências são realizadas por quem sabe relatar o mais fielmente possível as suas sensações
(estímulos visuais, auditivos ou tácteis) de forma mensurável, isto é, quantificada, tanto
quanto possível. Isto significa que se trata de uma introspeção controlada ou provocada.
Pede-se ao sujeito submetido a determinadas estimulações, para observar os estados
interiores e para fazer deles uma descrição sincera e exata. É um método de auto-observação,
uma vez que é possível através dele que uma consciência se observe a si mesma.
Este método apresenta algumas limitações, quer a nível de rigor quer a nível de aplicação.
Vejamos algumas dessas limitações:
Não permite um conhecimento objetivo uma vez que a análise dos estados interiores
relatados pelos sujeitos, depende essencialmente do que os mesmos pretendem, consciente
ou inconscientemente, relatar; sendo, por isso, subjetivo. O sujeito é simultaneamente
observador e observado: é difícil dividirmo-nos em dois - um que está a ser observado e
outro que observa.
A análise efetuada é sempre posterior à sensação, portanto acaba por ser uma retro-análise.
Os fenómenos psíquicos não se dão em simultâneo com a sua observação, esta é feita
sempre depois daqueles. Isto significa que o que descrevemos corresponde à memória que
temos
daquilo que experienciámos antes e não do que experienciamos diretamente, o que pode
não ser exatamente a mesma coisa, pode provocar algumas distorções.
Não permite outros observadores que não o próprio, pois ninguém pode observar a
consciência dos outros.
Pode ser difícil aos sujeitos a descrição do que se passa no seu interior, nomeadamente por
não possuírem a linguagem mais correta para tal.
Não permite conhecer processos mentais mais complexos.
Não tem uma aplicação universal, não pode ser aplicado a quem não seja capaz de fazer uma
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autoanálise: crianças, doentes mentais e animais.
Só pode ser aplicado a fenómenos conscientes, não sendo possível a observação de
fenómenos inconscientes.
Em conclusão:
Com o estruturalismo de Wundt, a Psicologia assume-se como uma ciência autónoma.
O papel pioneiro de Wundt na história da Psicologia é inegável: cria o primeiro laboratório
experimental de Psicologia, apresenta um objetode estudo para a Psicologia (a consciência e
os processos mentais) e um método específico de trabalho: a introspeção controlada.
CONCEITOS
OBJETO A consciência é o objeto de estudo da Psicologia.
É constituída por sensações que são os seus elementos mais simples.
Os processos mentais resultam da estruturação de sensações.
Método A introspeção éo método da Psicologia, que consiste numa análise interior das
sensações provocadas por determinados estímulos.
É realizada de forma provocada, controlada e quantificada, o que a torna diferente
de uma introspeção vulgar.
Por defender que a consciência é uma associação de unidades básicas, o
estruturalismo de Wundt é também conhecido por associacionismo.
Pavlov e o Condicionamento Clássico
Pavlov distancia-se de Wundt, pois considera a Psicologia uma espécie de reflexologia, isto é, o
estudo de reflexos fisiológicos. É este o objeto da Psicologia, segundo Pavlov, e não a
consciência. Defende que a Psicologia para ser uma ciência deve ter apenas como objeto de
estudo o que é observável.
Aproveitando os estudos que efetuou no campo da fisiologia, mais exatamente o reflexo da
salivação nos cães, Pavlov pensa que no jogo das secreções estaria uma forma objetiva de
pesquisa psicológica que permitiria, assim, estabelecer leis rigorosas no domínio de funções
superiores do cérebro. Pensa que se pode estabelecer semelhanças entre o comportamento
animal e o humano e, para provar tais semelhanças, concebe um dispositivo que lhe permite
realizar experiências, praticando o método experimental, no sentido de perceber o
fundamento destas leis do comportamento. Em que consistem estas experiências?
Um cão é colocado numa sala à prova de som de modo a eliminar fatores que possam
interferir na situação experimental. Na primeira fase, Pavlov apresenta carne ao cão, que é um
estímulo incondicionado, porque provoca uma reação natural, a salivação, ou seja, provoca
uma reação sem qualquer condicionante. A esta reação chamamos reflexo incondicionado, é
um reflexo inato, uma vez que ocorre espontaneamente, não sendo consequência de nenhum
tipo de aprendizagem. Numa segunda fase, Pavlov emite um som e de imediato coloca carne
na boca do animal. O cão saliva.
Nas fases seguintes, Pavlov consta que a salivação do cão começa cada vez mais cedo e a certa
altura o cão saliva sem que de facto lhe apresentem a carne, mas apenas na presença do som
da campainha. Significa que o cão aprende, através deste condicionamento, pois há uma
aquisição de um comportamento que não tinha antes; salivando sem de facto estar perante
comida.
Pavlov conclui que, depois de repetida a experiência uma série de vezes, a salivação, que
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inicialmente era provocada apenas pela presença da carne na boca do animal, é agora também
provocada por um estímulo que inicialmente não fazia o animal reagir: o som de
ummetrónomo ou de uma campainha. Este som é um estímulo condicionado, porque funciona
apenas se associado a outro estímulo incondicionado (a carne, neste caso), provocando a
salivação, que é um reflexo condicionado. A este processo chamamos condicionamento, mais
propriamente condicionamento clássico, porque foi o primeiro a ser estudado.
Em que consiste este condicionamento? Consiste numa associação de estímulos, o
condicionado e o natural ou incondicionado, de tal modo que o indivíduo reage
posteriormente apenas ao estímulo condicionado do mesmo modo que reage ao estímulo
natural. Esta é uma das formas mais básicas de aprendizagem. Há outros aspetos importantes
relacionados com o condicionamento clássico, mas que serão estudados no Módulo 3, no
capítulo da aprendizagem.
Em conclusão:
Com o contributo de Pavlov a Psicologia adota um novo objeto de estudo: o comportamento
humano e animal, os reflexos observáveis.
Pavlov dá um importante contributo para a Psicologia científica, uma vez que demonstra
uma forma elementar de aprendizagem: o condicionamento.
CONCEITOS
REFLEXO É uma reação ou resposta a um determinado estímulo.
OBJETO O comportamento reflexivo observável.
MÉTODO
EXPERIMENTAL
Realização de experiências para observação dos factos.
REFLEXO
INCONDICIONADO
É uma resposta natural a um determinado estímulo, que não necessita
de outras condições além desse estímulo para acontecer.
AQUISIÇÃO Revela que a resposta condicionada é fruto de uma aprendizagem: o
indivíduo associa o estímulo condicionado ao estímulo incondicionado
evidenciando a aquisição de um novo comportamento.
REFLEXO
CONDICIONADO
É uma resposta não natural a um determinado estímulo e em que é
necessário certas condições para que ela se dê.
CONDICIONAMENTO
CLÁSSICO
Consiste no emparelhamento de um estímulo incondicionado com um
estímulo condicionado, do qual resulta que a apresentação separada
do estímulo condicionado provoca um reflexo condicionado
semelhante ao reflexo incondicionado.
Freud e a Psicanálise
Desejos recalcados, sonhos, traumas e complexos são termos que todos nós conhecemos do
quotidiano. São também termos que expressam conceitos relativos à Psicanálise, teoria e
método criados por Freud. Em que consiste a Psicanálise?
Freud(1856-1939) recupera a ideia de Wundt de que a Psicologia é o estudo dos processos
mentais, no entanto não se refere apenas aos processos conscientes, dado que introduz um
novo conceito na Psicologia e um novoobjeto, o inconsciente. O que é o inconsciente? Freud
concebe o psiquismo humano de uma forma que pode ser explicada a partir de um exemplo
da natureza: um iceberg.
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"Freud descreveu o psiquismo como sendo composto de três partes: o consciente, o
subconsciente (pré-consciente) e o inconsciente. A parte consciente assemelha-se à pequena
parte do iceberg acima da água; o pré-consciente é equivalente àquela secção que se eleva
acima e desce abaixo da linha de água com a agitação do mar; o inconsciente é a massa maior
oculta sob a água."
H. Kendler, Introdução â Psicologia II, Fundação Calouste Gulbenkian, 1975
O inconsciente é formado por um conjunto de pulsões e conflitos de base sexual, designado
por libido, a maior parte das vezes socialmente condenáveis, e ao qual não podemos ter
acesso direto. O conteúdo inconsciente pretende tornar-se consciente mas existe uma espécie
de resistência que impede esta passagem: a aprovação social. Em caso de resposta negativa,
estas pulsões são recalcadas, não podendo ser concretizadas.
O consciente é constituído por processos psicológicos simples como imagens e recordações
que se podem evocar, conhecer e até controlar.
Posteriormente, Freud, na segunda tópica, descreve o nosso psiquismo como sendo
constituído por uma dimensão inconsciente com uma influência ainda mais forte no
comportamento humano. O psiquismo humano é aqui concebido como sendo formado por
três instâncias, que se relacionam e que muitas vezes entram em conflito:
O Id surge nos primeiros meses de vida, sendo por isso a parte mais primitiva da
personalidade. É constituído por pulsões inatas de ordem agressiva e sexual e exige
satisfação imediata. Estas pulsões são consideradas um reservatório de energia psíquica
instintiva ou libido. O Id age apenas segundo o princípio do prazer e do sentimento, não
distinguindo a realidade da fantasia, nem o que é socialmente permitido ou proibido fazer.
O Ego orienta as pulsões do Id de acordo com o princípio da realidade, de modo a tornar
possível a adaptação da criança. Equilibra assim as relações que existem entre o mundo
exterior e o seu lado inconsciente que é impulsivo. Ao tentar satisfazer o inconsciente, tem
em conta o que é ou não permitido. O Ego, ao distinguir os nossos desejos da realidade,
ajuda-nos a não vivermos apenas na fantasia.
O Superego representa as regras e as imposições que os pais e a sociedade em geral dirigem
a cada um de nós e que vamos integrando no nosso psiquismo. Porque vivemos em
sociedade, assimilamos regras e normas de conduta que, por não dependerem da nossa
vontade, nos surgem como uma imposição social. Representa a possibilidade de uma
preocupação moral com os nossos atos, a função de tentar impedir ou tentar recalcar
pulsões que sejam moralmente inaceitáveis.
Freud evidencia, assim, que o ser humano é o depositário de uma luta permanente entre
superego (exigência moral) e o id (exigência pulsional ou instintiva). Esta luta pulsional ocorre
sem que cada um de nós tenha, a maior parte das vezes, conhecimento e acompanha-nos ao
longo da vida. Mas, uma vez que não é diretamente observável, como aceder ao inconsciente?
Qual o método defendido por Freud?
Num primeiro momento, Freud aplica nos seus pacientes com perturbações nervosas a
hipnose, mas abandonou-a por considerar que este método é insuficiente. Freud adota então
o método da psicanálise, que consiste numa análise psicológica através de certas técnicas:
Associação livre - através da qual o paciente pode relatar situações por si vividas ou falar
apenas do que lhe apetece espontaneamente, o que depois será analisado pelo psicanalista,
tentando encontrar nesses relatos, desejos, resistências e recalcamentos.
A análise de sonhos - os sonhos são tentativas de realização de desejos e pulsões que, por
serem de impossível concretização, são recalcados, isto é, são colocados fora da consciência.
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No sonho estão presentes dois conteúdos: a parte do sonho que é facilmente observável e
evidente, o sonho manifesto, e o significado não evidente desse sonho só acessível através
da psicanálise, o sonho latente.
A análise de atos falhados - segundo Freud, os lapsos involuntários manifestam desejos
recalcados no inconsciente. O psicanalista tenta interpretar os esquecimentos, lapsos e erros
de linguagem no sentido de descobrir o que lhes está subjacente.
"Freud dá à psicanálise uma definição que é, na realidade, tripla: processo de investigação
específica das formações de pensamentos inconscientes (conteúdo latente); método
terapêutico das perturbações neuróticas; nova disciplina no campo da psicologia."
R. Doron e F. Parot, Dicionário de Psicologia, Climepsi editores, 2001
A psicanálise permitiu a Freud descobrir que este conflito inconsciente presente nos sonhos
reporta-se, muitas vezes, a situações relativas aos primeiros anos de vida. Por isso mesmo,
Freud concede especial atenção a esta fase do desenvolvimento humano, considerando que
envolve pulsões sexuais que se refletem no comportamento de cada um de nós.
Esta teoria de Freud não foi bem aceite na época, provocando grande polémica. Contudo,
estas pulsões, que Freud define como sendo energia psíquica ou libido, não podem ser
entendidas da mesma forma que vulgarmente se entende a sexualidade. Esta tem em Freud
um significado muito mais amplo, não implica apenas o ato sexual, mas o que pode dar prazer
e satisfação ao ser humano, associado a certas zonas do corpo, as zonas erógenas, e
desenvolve-se por diferentes fases até à idade adulta. Assim, Freud define o desenvolvimento
psicossexual em quatro estádios.
"A teoria do desenvolvimento psicossexual destaca estádios diferentes, cada um dos quais
construído sobre as realizações dos anteriores, (...) Na perspetiva de Freud, a criança inicia a
vida como um feixe de tendências em busca de prazer. O prazer obtém-se pela estimulação de
certas zonas do corpo, particularmente sensíveis ao tato: a boca, o ânus e os órgãos genitais.
Freud designou estas regiões de zonas erógenas, pois pensava que os diversos prazeres
associados a cada uma tinham um elemento em comum que era sexual. À medida que a
criança se desenvolve, a importância relativa das zonas muda. De início, a maior parte da
busca do prazer faz-se através da boca (estádio oral). Com o advento dos problemas de asseio,
o relevo passa para o ânus (o estádio anal). Mais tarde ainda, verifica-se um interesse
acrescido pelo prazer que pode ser encontrado com a estimulação dos órgãos genitais (o
estádio fálico). O ponto culminante do desenvolvimento psicossexual é alcançado com a
sexualidade adulta, altura em que o prazer envolve não apenas a gratificação própria mas
também a satisfação social e corporal na outra pessoa (o estádio genital)."
H. Gleitman, Psicologia, Fundação Calouste Gulbenkian, 1997
Em conclusão:
Graças a Freud a Psicologia conquista um objeto de estudo mais complexo: o inconsciente,
acessível através da interpretação psicanalítica.
Este objeto de estudo revela uma perspetiva dinâmica do psiquismo humano.
A psicanálise torna possível uma nova compreensão da personalidade humana, da qual o
inconsciente é uma dimensão constitutiva.
A psicanálise foi a primeira corrente da Psicologia a atribuir aos primeiros anos de vida uma
importância fulcral na estruturação da personalidade, o que motivou muitas teorias relativas
à infância.
A Psicologia mostra que o ser humano já não pode ter de si mesmo a ideia clássica de ser
racional, que tudo controla: é um ser que vive de acordo com um conflito intrapsíquico.
Página | 6
CONCEITOS
OBJETO, O INCONSCIENTE É o sistema psíquico independente da consciência, que age de
acordo com as suas próprias leis e regras; é o conteúdo ausente
da consciência. Define as operações mentais inacessíveis à
consciência do sujeito.
LIBIDO Energia psíquica, conjunto das pulsões sexuais.
CONSCIENTE O conteúdo psíquico consciente refere-se a tudo a que o
sujeito consegue facilmente recordar, constitui aquilo de que
temos conhecimento.
MÉTODO Inicialmente a hipnose, mas depois defende como método a
psicanálise, que recorre a certas técnicas: análise de sonhos e a
associação livre.
SONHO MANIFESTO É constituído pelo conteúdo manifesto, ou seja, as situações do
sonho que cada um de nós facilmente recorda.
Watson e o Behaviorismo
"No início do século XX, o surgimento de outra importante escola de pensamento alterou
dramaticamente o curso da psicologia. Fundada por John B. Watson [1878-1958], o
behaviorismo é uma orientação teórica baseada na premissa de que a psicologia científica
deveria estudar apenas o comportamento observável. [...] Watson [...] propunha que os
psicólogos abandonassem totalmente o estudo da consciência e enfocassem exclusivamente
comportamentos que se pudesse observar diretamente. Em resumo, ele estava redefinindo o
que a psicologia científica deveria estudar. Por que argumentava por uma mudança de
direcionamento tão fundamental? Porque, para ele, o poder do método científico estava na
sua possibilidade de verificação. Em princípio, afirmações científicas podem sempre ser
verificadas [ou desaprovadas) por qualquer pessoa que esteja disposta a isso e que seja capaz
de fazer as observações necessárias. Contudo, esse poder depende de se estudar coisas que
possam ser observadas objetivamente. De outra forma, a vantagem de se usar abordagem
científica - substituindo a especulação vaga e a opinião pessoal por conhecimento exato e
confiável - fica perdida.
Para Watson, os processos mentais não eram assunto apropriado para estudo científico por
serem eventos privados. Além disso, ninguém pode ver ou tocar os pensamentos de outra
pessoa. Consequentemente, se a psicologia era para ser uma ciência, ela teria de desistir da
consciência como seu tema central e tornar-se a ciência do comportamento."
Wayne Weiten, Introdução à Psicologia, Pioneira Thomson, 2002, [adaptado]
Segundo Watson(1878-1958), o objeto de estudo da Psicologia é o comportamento que se
pode observar num organismo animal. Watson rejeita a introspeção porque a considera um
método impreciso uma vez que se baseia em descrições não observáveis. Assim, Watson nega
a possibilidade da Psicologia estudar a consciência ou a vida mental: a consciência não é um
objeto cientificamente observável. Para que a Psicologia seja uma ciência, não deve basear-se
nesta pretensa observação interior mas deve seguir o exemplo das ciências experimentais:
observação exterior, pesquisa experimental, ordenação dos factos e mensurabilidade. Este
exemplo deve inspirar o novo método da Psicologia.
Deste modo, a Psicologia afasta-se radicalmente das primeiras conceções da alma humana,
negando, desta forma também, a Psicologia da consciência. Apenas o comportamento
observável tem agora lugar na Psicologia, que pretende também condicionar, prever e
controlar os comportamentos. O que significa prever o comportamento? A partir de um
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determinado estímulo prever a resposta que surgirá e inversamente, a partir da resposta
reconhecer o estímulo que a originou.
Para simplificar, a pergunta é esta: Um grande concertista ou um criminoso já nascem assim
ou são transformados em tal? Watson argumentava que cada um deles seria transformado em
criminoso ou concertista, e não nasceriam assim. Ele anulava a importância da
hereditariedade, mantendo que o comportamento é governado inteiramente pelo meio. Na
verdade ele corajosamente afirmava:
"Dêem-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e o meu mundo especial para que
elas sejam criadas nele e eu garanto que se tomar uma delas aleatoriamente a treinarei para
que se torne um especialista que eu escolha - médico, advogado, artista, comerciante, e, sim,
até um mendigo ou um ladrão -, sem ter em atenção os seus talentos, gostos, tendências,
habilidades, vocação ou a raça dos seus ancestrais". (...)
Por razões óbvias, o desafio irónico de Watson nunca foi testado.
Wayne Weiten, Introdução ã Psicologia, Pioneira Thomson, 2002, [adaptado)
O psicólogo não pode interpretar subjetivamente o facto de um determinado estímulo ou
conjunto de estímulos, que constituem a situação (S), desencadear certa resposta (R), mas sim
avaliar o comportamento em termos de ligações objetivas e observáveis entre
estímulo-resposta.
A teoria de Watson apresenta algumas limitações:
Nega a consciência como objeto de Psicologia.
Ao assemelhar a Psicologia às ciências objetivas, utilizando apenas o método experimental,
não tem em conta a complexidade do ser humano.
Não tem em consideração a influência da pessoa, da personalidade, da originalidade que
cada um de nós revela, mas valoriza apenas o papel do meio no comportamento humano.
Em conclusão:
Watson define o comportamento enquanto conjunto das reações adaptativas, objetivamente
observáveis, que o organismo executa em resposta a estímulos.
Pretende descrever as leis do comportamento.
Considera que é possível controlar e prever o comportamento humano.
CONCEITOS
OBJETO São os comportamentos animais e humanos, isto é, as reações
diretamente observáveis e verificáveis de um organismo.
MÉTODO A Psicologia deve adotar o método das ciências da natureza: o método
experimental.
COMPORTAMENTO O conjunto dos atos observáveis que constituem reações aos estímulos
que o ser humano recebe.
R = f (S)

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  • 1. Agrupamento de Escolas da Azambuja Psicologia – Cursos Profissionais 10º Ano Módulo 1 – Descobrindo a Psicologia Documento 3 Página | 1 A Psicologia Experimental Nos finais do século XIX assistimos ao que podemos designar por era da Psicologia Experimental. Nesta altura, todas as áreas do saber que pretendem obter o estatuto científico, têm de preencher os seguintes requisitos: Submissão plena aos factos; A decomposição das matérias de que se ocupam em elementos mais simples. Ciências como a Física e a Química são áreas de estudo valorizadas. Wundt e o Estruturalismo Wundt (1832 – 1920) quer fazer da Psicologia uma ciência à semelhança da química, isto é, uma ciência experimental, por isso cria o primeiro laboratório de Psicologia, em Leipzig, na Alemanha, em 1879. Segundo Wundt, o objeto de estudo da Psicologia é a consciência e os seus processos mentais. Concebe a consciência humana como sendo constituída por elementos simples: as sensações. Os processos mentais resultam das associações destas unidades básicas. Neste laboratório, Wundt e os seus alunos ouvem, analisam e interpretam as descrições dos pacientes sobre o que sentem quando são expostos a determinado estímulo, visual ou auditivo, por exemplo. Cada um dos pacientes, por ter vivido uma determinada experiência, descreve eanalisa as sensações e emoções que sente o mais detalhadamente possível. Comoesta descrição corresponde a uma análise interior, o método da Psicologia é, para este autor, a introspeção. Mas este relato é feito em condições controladas por Wundt. As experiências são realizadas por quem sabe relatar o mais fielmente possível as suas sensações (estímulos visuais, auditivos ou tácteis) de forma mensurável, isto é, quantificada, tanto quanto possível. Isto significa que se trata de uma introspeção controlada ou provocada. Pede-se ao sujeito submetido a determinadas estimulações, para observar os estados interiores e para fazer deles uma descrição sincera e exata. É um método de auto-observação, uma vez que é possível através dele que uma consciência se observe a si mesma. Este método apresenta algumas limitações, quer a nível de rigor quer a nível de aplicação. Vejamos algumas dessas limitações: Não permite um conhecimento objetivo uma vez que a análise dos estados interiores relatados pelos sujeitos, depende essencialmente do que os mesmos pretendem, consciente ou inconscientemente, relatar; sendo, por isso, subjetivo. O sujeito é simultaneamente observador e observado: é difícil dividirmo-nos em dois - um que está a ser observado e outro que observa. A análise efetuada é sempre posterior à sensação, portanto acaba por ser uma retro-análise. Os fenómenos psíquicos não se dão em simultâneo com a sua observação, esta é feita sempre depois daqueles. Isto significa que o que descrevemos corresponde à memória que temos daquilo que experienciámos antes e não do que experienciamos diretamente, o que pode não ser exatamente a mesma coisa, pode provocar algumas distorções. Não permite outros observadores que não o próprio, pois ninguém pode observar a consciência dos outros. Pode ser difícil aos sujeitos a descrição do que se passa no seu interior, nomeadamente por não possuírem a linguagem mais correta para tal. Não permite conhecer processos mentais mais complexos. Não tem uma aplicação universal, não pode ser aplicado a quem não seja capaz de fazer uma
  • 2. Página | 2 autoanálise: crianças, doentes mentais e animais. Só pode ser aplicado a fenómenos conscientes, não sendo possível a observação de fenómenos inconscientes. Em conclusão: Com o estruturalismo de Wundt, a Psicologia assume-se como uma ciência autónoma. O papel pioneiro de Wundt na história da Psicologia é inegável: cria o primeiro laboratório experimental de Psicologia, apresenta um objetode estudo para a Psicologia (a consciência e os processos mentais) e um método específico de trabalho: a introspeção controlada. CONCEITOS OBJETO A consciência é o objeto de estudo da Psicologia. É constituída por sensações que são os seus elementos mais simples. Os processos mentais resultam da estruturação de sensações. Método A introspeção éo método da Psicologia, que consiste numa análise interior das sensações provocadas por determinados estímulos. É realizada de forma provocada, controlada e quantificada, o que a torna diferente de uma introspeção vulgar. Por defender que a consciência é uma associação de unidades básicas, o estruturalismo de Wundt é também conhecido por associacionismo. Pavlov e o Condicionamento Clássico Pavlov distancia-se de Wundt, pois considera a Psicologia uma espécie de reflexologia, isto é, o estudo de reflexos fisiológicos. É este o objeto da Psicologia, segundo Pavlov, e não a consciência. Defende que a Psicologia para ser uma ciência deve ter apenas como objeto de estudo o que é observável. Aproveitando os estudos que efetuou no campo da fisiologia, mais exatamente o reflexo da salivação nos cães, Pavlov pensa que no jogo das secreções estaria uma forma objetiva de pesquisa psicológica que permitiria, assim, estabelecer leis rigorosas no domínio de funções superiores do cérebro. Pensa que se pode estabelecer semelhanças entre o comportamento animal e o humano e, para provar tais semelhanças, concebe um dispositivo que lhe permite realizar experiências, praticando o método experimental, no sentido de perceber o fundamento destas leis do comportamento. Em que consistem estas experiências? Um cão é colocado numa sala à prova de som de modo a eliminar fatores que possam interferir na situação experimental. Na primeira fase, Pavlov apresenta carne ao cão, que é um estímulo incondicionado, porque provoca uma reação natural, a salivação, ou seja, provoca uma reação sem qualquer condicionante. A esta reação chamamos reflexo incondicionado, é um reflexo inato, uma vez que ocorre espontaneamente, não sendo consequência de nenhum tipo de aprendizagem. Numa segunda fase, Pavlov emite um som e de imediato coloca carne na boca do animal. O cão saliva. Nas fases seguintes, Pavlov consta que a salivação do cão começa cada vez mais cedo e a certa altura o cão saliva sem que de facto lhe apresentem a carne, mas apenas na presença do som da campainha. Significa que o cão aprende, através deste condicionamento, pois há uma aquisição de um comportamento que não tinha antes; salivando sem de facto estar perante comida. Pavlov conclui que, depois de repetida a experiência uma série de vezes, a salivação, que
  • 3. Página | 3 inicialmente era provocada apenas pela presença da carne na boca do animal, é agora também provocada por um estímulo que inicialmente não fazia o animal reagir: o som de ummetrónomo ou de uma campainha. Este som é um estímulo condicionado, porque funciona apenas se associado a outro estímulo incondicionado (a carne, neste caso), provocando a salivação, que é um reflexo condicionado. A este processo chamamos condicionamento, mais propriamente condicionamento clássico, porque foi o primeiro a ser estudado. Em que consiste este condicionamento? Consiste numa associação de estímulos, o condicionado e o natural ou incondicionado, de tal modo que o indivíduo reage posteriormente apenas ao estímulo condicionado do mesmo modo que reage ao estímulo natural. Esta é uma das formas mais básicas de aprendizagem. Há outros aspetos importantes relacionados com o condicionamento clássico, mas que serão estudados no Módulo 3, no capítulo da aprendizagem. Em conclusão: Com o contributo de Pavlov a Psicologia adota um novo objeto de estudo: o comportamento humano e animal, os reflexos observáveis. Pavlov dá um importante contributo para a Psicologia científica, uma vez que demonstra uma forma elementar de aprendizagem: o condicionamento. CONCEITOS REFLEXO É uma reação ou resposta a um determinado estímulo. OBJETO O comportamento reflexivo observável. MÉTODO EXPERIMENTAL Realização de experiências para observação dos factos. REFLEXO INCONDICIONADO É uma resposta natural a um determinado estímulo, que não necessita de outras condições além desse estímulo para acontecer. AQUISIÇÃO Revela que a resposta condicionada é fruto de uma aprendizagem: o indivíduo associa o estímulo condicionado ao estímulo incondicionado evidenciando a aquisição de um novo comportamento. REFLEXO CONDICIONADO É uma resposta não natural a um determinado estímulo e em que é necessário certas condições para que ela se dê. CONDICIONAMENTO CLÁSSICO Consiste no emparelhamento de um estímulo incondicionado com um estímulo condicionado, do qual resulta que a apresentação separada do estímulo condicionado provoca um reflexo condicionado semelhante ao reflexo incondicionado. Freud e a Psicanálise Desejos recalcados, sonhos, traumas e complexos são termos que todos nós conhecemos do quotidiano. São também termos que expressam conceitos relativos à Psicanálise, teoria e método criados por Freud. Em que consiste a Psicanálise? Freud(1856-1939) recupera a ideia de Wundt de que a Psicologia é o estudo dos processos mentais, no entanto não se refere apenas aos processos conscientes, dado que introduz um novo conceito na Psicologia e um novoobjeto, o inconsciente. O que é o inconsciente? Freud concebe o psiquismo humano de uma forma que pode ser explicada a partir de um exemplo da natureza: um iceberg.
  • 4. Página | 4 "Freud descreveu o psiquismo como sendo composto de três partes: o consciente, o subconsciente (pré-consciente) e o inconsciente. A parte consciente assemelha-se à pequena parte do iceberg acima da água; o pré-consciente é equivalente àquela secção que se eleva acima e desce abaixo da linha de água com a agitação do mar; o inconsciente é a massa maior oculta sob a água." H. Kendler, Introdução â Psicologia II, Fundação Calouste Gulbenkian, 1975 O inconsciente é formado por um conjunto de pulsões e conflitos de base sexual, designado por libido, a maior parte das vezes socialmente condenáveis, e ao qual não podemos ter acesso direto. O conteúdo inconsciente pretende tornar-se consciente mas existe uma espécie de resistência que impede esta passagem: a aprovação social. Em caso de resposta negativa, estas pulsões são recalcadas, não podendo ser concretizadas. O consciente é constituído por processos psicológicos simples como imagens e recordações que se podem evocar, conhecer e até controlar. Posteriormente, Freud, na segunda tópica, descreve o nosso psiquismo como sendo constituído por uma dimensão inconsciente com uma influência ainda mais forte no comportamento humano. O psiquismo humano é aqui concebido como sendo formado por três instâncias, que se relacionam e que muitas vezes entram em conflito: O Id surge nos primeiros meses de vida, sendo por isso a parte mais primitiva da personalidade. É constituído por pulsões inatas de ordem agressiva e sexual e exige satisfação imediata. Estas pulsões são consideradas um reservatório de energia psíquica instintiva ou libido. O Id age apenas segundo o princípio do prazer e do sentimento, não distinguindo a realidade da fantasia, nem o que é socialmente permitido ou proibido fazer. O Ego orienta as pulsões do Id de acordo com o princípio da realidade, de modo a tornar possível a adaptação da criança. Equilibra assim as relações que existem entre o mundo exterior e o seu lado inconsciente que é impulsivo. Ao tentar satisfazer o inconsciente, tem em conta o que é ou não permitido. O Ego, ao distinguir os nossos desejos da realidade, ajuda-nos a não vivermos apenas na fantasia. O Superego representa as regras e as imposições que os pais e a sociedade em geral dirigem a cada um de nós e que vamos integrando no nosso psiquismo. Porque vivemos em sociedade, assimilamos regras e normas de conduta que, por não dependerem da nossa vontade, nos surgem como uma imposição social. Representa a possibilidade de uma preocupação moral com os nossos atos, a função de tentar impedir ou tentar recalcar pulsões que sejam moralmente inaceitáveis. Freud evidencia, assim, que o ser humano é o depositário de uma luta permanente entre superego (exigência moral) e o id (exigência pulsional ou instintiva). Esta luta pulsional ocorre sem que cada um de nós tenha, a maior parte das vezes, conhecimento e acompanha-nos ao longo da vida. Mas, uma vez que não é diretamente observável, como aceder ao inconsciente? Qual o método defendido por Freud? Num primeiro momento, Freud aplica nos seus pacientes com perturbações nervosas a hipnose, mas abandonou-a por considerar que este método é insuficiente. Freud adota então o método da psicanálise, que consiste numa análise psicológica através de certas técnicas: Associação livre - através da qual o paciente pode relatar situações por si vividas ou falar apenas do que lhe apetece espontaneamente, o que depois será analisado pelo psicanalista, tentando encontrar nesses relatos, desejos, resistências e recalcamentos. A análise de sonhos - os sonhos são tentativas de realização de desejos e pulsões que, por serem de impossível concretização, são recalcados, isto é, são colocados fora da consciência.
  • 5. Página | 5 No sonho estão presentes dois conteúdos: a parte do sonho que é facilmente observável e evidente, o sonho manifesto, e o significado não evidente desse sonho só acessível através da psicanálise, o sonho latente. A análise de atos falhados - segundo Freud, os lapsos involuntários manifestam desejos recalcados no inconsciente. O psicanalista tenta interpretar os esquecimentos, lapsos e erros de linguagem no sentido de descobrir o que lhes está subjacente. "Freud dá à psicanálise uma definição que é, na realidade, tripla: processo de investigação específica das formações de pensamentos inconscientes (conteúdo latente); método terapêutico das perturbações neuróticas; nova disciplina no campo da psicologia." R. Doron e F. Parot, Dicionário de Psicologia, Climepsi editores, 2001 A psicanálise permitiu a Freud descobrir que este conflito inconsciente presente nos sonhos reporta-se, muitas vezes, a situações relativas aos primeiros anos de vida. Por isso mesmo, Freud concede especial atenção a esta fase do desenvolvimento humano, considerando que envolve pulsões sexuais que se refletem no comportamento de cada um de nós. Esta teoria de Freud não foi bem aceite na época, provocando grande polémica. Contudo, estas pulsões, que Freud define como sendo energia psíquica ou libido, não podem ser entendidas da mesma forma que vulgarmente se entende a sexualidade. Esta tem em Freud um significado muito mais amplo, não implica apenas o ato sexual, mas o que pode dar prazer e satisfação ao ser humano, associado a certas zonas do corpo, as zonas erógenas, e desenvolve-se por diferentes fases até à idade adulta. Assim, Freud define o desenvolvimento psicossexual em quatro estádios. "A teoria do desenvolvimento psicossexual destaca estádios diferentes, cada um dos quais construído sobre as realizações dos anteriores, (...) Na perspetiva de Freud, a criança inicia a vida como um feixe de tendências em busca de prazer. O prazer obtém-se pela estimulação de certas zonas do corpo, particularmente sensíveis ao tato: a boca, o ânus e os órgãos genitais. Freud designou estas regiões de zonas erógenas, pois pensava que os diversos prazeres associados a cada uma tinham um elemento em comum que era sexual. À medida que a criança se desenvolve, a importância relativa das zonas muda. De início, a maior parte da busca do prazer faz-se através da boca (estádio oral). Com o advento dos problemas de asseio, o relevo passa para o ânus (o estádio anal). Mais tarde ainda, verifica-se um interesse acrescido pelo prazer que pode ser encontrado com a estimulação dos órgãos genitais (o estádio fálico). O ponto culminante do desenvolvimento psicossexual é alcançado com a sexualidade adulta, altura em que o prazer envolve não apenas a gratificação própria mas também a satisfação social e corporal na outra pessoa (o estádio genital)." H. Gleitman, Psicologia, Fundação Calouste Gulbenkian, 1997 Em conclusão: Graças a Freud a Psicologia conquista um objeto de estudo mais complexo: o inconsciente, acessível através da interpretação psicanalítica. Este objeto de estudo revela uma perspetiva dinâmica do psiquismo humano. A psicanálise torna possível uma nova compreensão da personalidade humana, da qual o inconsciente é uma dimensão constitutiva. A psicanálise foi a primeira corrente da Psicologia a atribuir aos primeiros anos de vida uma importância fulcral na estruturação da personalidade, o que motivou muitas teorias relativas à infância. A Psicologia mostra que o ser humano já não pode ter de si mesmo a ideia clássica de ser racional, que tudo controla: é um ser que vive de acordo com um conflito intrapsíquico.
  • 6. Página | 6 CONCEITOS OBJETO, O INCONSCIENTE É o sistema psíquico independente da consciência, que age de acordo com as suas próprias leis e regras; é o conteúdo ausente da consciência. Define as operações mentais inacessíveis à consciência do sujeito. LIBIDO Energia psíquica, conjunto das pulsões sexuais. CONSCIENTE O conteúdo psíquico consciente refere-se a tudo a que o sujeito consegue facilmente recordar, constitui aquilo de que temos conhecimento. MÉTODO Inicialmente a hipnose, mas depois defende como método a psicanálise, que recorre a certas técnicas: análise de sonhos e a associação livre. SONHO MANIFESTO É constituído pelo conteúdo manifesto, ou seja, as situações do sonho que cada um de nós facilmente recorda. Watson e o Behaviorismo "No início do século XX, o surgimento de outra importante escola de pensamento alterou dramaticamente o curso da psicologia. Fundada por John B. Watson [1878-1958], o behaviorismo é uma orientação teórica baseada na premissa de que a psicologia científica deveria estudar apenas o comportamento observável. [...] Watson [...] propunha que os psicólogos abandonassem totalmente o estudo da consciência e enfocassem exclusivamente comportamentos que se pudesse observar diretamente. Em resumo, ele estava redefinindo o que a psicologia científica deveria estudar. Por que argumentava por uma mudança de direcionamento tão fundamental? Porque, para ele, o poder do método científico estava na sua possibilidade de verificação. Em princípio, afirmações científicas podem sempre ser verificadas [ou desaprovadas) por qualquer pessoa que esteja disposta a isso e que seja capaz de fazer as observações necessárias. Contudo, esse poder depende de se estudar coisas que possam ser observadas objetivamente. De outra forma, a vantagem de se usar abordagem científica - substituindo a especulação vaga e a opinião pessoal por conhecimento exato e confiável - fica perdida. Para Watson, os processos mentais não eram assunto apropriado para estudo científico por serem eventos privados. Além disso, ninguém pode ver ou tocar os pensamentos de outra pessoa. Consequentemente, se a psicologia era para ser uma ciência, ela teria de desistir da consciência como seu tema central e tornar-se a ciência do comportamento." Wayne Weiten, Introdução à Psicologia, Pioneira Thomson, 2002, [adaptado] Segundo Watson(1878-1958), o objeto de estudo da Psicologia é o comportamento que se pode observar num organismo animal. Watson rejeita a introspeção porque a considera um método impreciso uma vez que se baseia em descrições não observáveis. Assim, Watson nega a possibilidade da Psicologia estudar a consciência ou a vida mental: a consciência não é um objeto cientificamente observável. Para que a Psicologia seja uma ciência, não deve basear-se nesta pretensa observação interior mas deve seguir o exemplo das ciências experimentais: observação exterior, pesquisa experimental, ordenação dos factos e mensurabilidade. Este exemplo deve inspirar o novo método da Psicologia. Deste modo, a Psicologia afasta-se radicalmente das primeiras conceções da alma humana, negando, desta forma também, a Psicologia da consciência. Apenas o comportamento observável tem agora lugar na Psicologia, que pretende também condicionar, prever e controlar os comportamentos. O que significa prever o comportamento? A partir de um
  • 7. Página | 7 determinado estímulo prever a resposta que surgirá e inversamente, a partir da resposta reconhecer o estímulo que a originou. Para simplificar, a pergunta é esta: Um grande concertista ou um criminoso já nascem assim ou são transformados em tal? Watson argumentava que cada um deles seria transformado em criminoso ou concertista, e não nasceriam assim. Ele anulava a importância da hereditariedade, mantendo que o comportamento é governado inteiramente pelo meio. Na verdade ele corajosamente afirmava: "Dêem-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e o meu mundo especial para que elas sejam criadas nele e eu garanto que se tomar uma delas aleatoriamente a treinarei para que se torne um especialista que eu escolha - médico, advogado, artista, comerciante, e, sim, até um mendigo ou um ladrão -, sem ter em atenção os seus talentos, gostos, tendências, habilidades, vocação ou a raça dos seus ancestrais". (...) Por razões óbvias, o desafio irónico de Watson nunca foi testado. Wayne Weiten, Introdução ã Psicologia, Pioneira Thomson, 2002, [adaptado) O psicólogo não pode interpretar subjetivamente o facto de um determinado estímulo ou conjunto de estímulos, que constituem a situação (S), desencadear certa resposta (R), mas sim avaliar o comportamento em termos de ligações objetivas e observáveis entre estímulo-resposta. A teoria de Watson apresenta algumas limitações: Nega a consciência como objeto de Psicologia. Ao assemelhar a Psicologia às ciências objetivas, utilizando apenas o método experimental, não tem em conta a complexidade do ser humano. Não tem em consideração a influência da pessoa, da personalidade, da originalidade que cada um de nós revela, mas valoriza apenas o papel do meio no comportamento humano. Em conclusão: Watson define o comportamento enquanto conjunto das reações adaptativas, objetivamente observáveis, que o organismo executa em resposta a estímulos. Pretende descrever as leis do comportamento. Considera que é possível controlar e prever o comportamento humano. CONCEITOS OBJETO São os comportamentos animais e humanos, isto é, as reações diretamente observáveis e verificáveis de um organismo. MÉTODO A Psicologia deve adotar o método das ciências da natureza: o método experimental. COMPORTAMENTO O conjunto dos atos observáveis que constituem reações aos estímulos que o ser humano recebe. R = f (S)