1. Donald Super
e o desenvolvimento
vocacional
Psicologia – Módulo 2
Profª Isaura Silva
2. Conceção do desenvolvimento que se relaciona
com a profissão, a carreira, o desenvolvimento
vocacional.
O papel do trabalho, da carreira
profissional tem vindo a ganhar
progressiva importância nas últimas
décadas.
As grandes transformações tecnológicas
e sociais a que assistimos criaram novas
exigências.
As competências requeridas ao
trabalhador não se limitam ao
conhecimento técnico: tem de ter
capacidade de adaptação, ser criativo,
tomar iniciativa, trabalhar em equipa.
Exige-se cada vez mais disponibilidade e
dedicação ao trabalhador, o que gera
frequentemente
um
desgaste
profissional e emocional.
Esta nova situação veio chamar a
atenção para a importância da
carreira, que se transformou
num dos aspetos mais relevantes
no desenvolvimento e equilíbrio
do indivíduo.
A psicologia teve de considerar
que, na sociedade moderna, a
carreira é um aspeto a ter em
conta, a par da vida familiar, dos
estudos, do lazer, etc.
Daí a crescente importância da
escolha de uma profissão, da
identificação
da
vocação
profissional.
3. Super considera que a escolha de uma profissão, de uma
ocupação, não se resume a um momento da vida de uma
pessoa, um momento único e estático.
Super defende que é um processo que se desenvolve ao
longo de toda a vida das pessoas, insistindo na ideia da
continuidade do desenvolvimento humano.
O desenvolvimento vocacional é um processo contínuo que
vai desde a infância até à velhice.
4. O autor parte de um conjunto de ideias-base, de
princípios que justificam as suas conceções
as características das pessoas (capacidades, personalidade,
necessidades, valores, qualificam-nas para determinadas ocupações e
profissões;
cada profissão requer um conjunto de capacidades e características
de personalidade, ainda que não de uma forma rígida;
as preferências vocacionais das pessoas não são estáticas: modificamse ao longo da vida por influência da sua experiência e das situações;
o desenvolvimento vocacional decorre em vários estádios ou fases da
vida marcados por características próprias.
5. Autoconceito
Uma das contribuições mais significativas de Super foi a
importância dada a desenvolvimento do autoconceito.
Segundo o autor, cada um desenvolve um autoconceito
vocacional/profissional corresponde ao conjunto de
interesses, competências, valores associados a uma
profissão ou ocupação.
Ao manifestar uma preferência vocacional, o indivíduo
exprime a pessoa que pensa ser, a pessoa que quer ser.
Quando assume uma determinada profissão, o indivíduo
atualiza o seu autoconceito.
6. Numa entrevista que deu a Suzanne Freeman, Super
recorre a um exemplo para explicar melhor noção de
autoconceito.
"Um estudante universitário pode considerar-se bom aluno e
mau atleta ou vice-versa. Qual destes é o seu autoconceito?
Nenhum! São autoconceitos (role self concepts). São os
autoconceitos que são importantes, tais como "Eu sou um
bom aluno e um mau atleta" ou "Eu sou um mau aluno e um
bom atleta". Também podemos falar de bom/mau professor
bom/mau marido, bom/mau cidadão. O que cada um de nós
tem é uma constelação de autoconceitos: alguns são
negativos, outros são positivos."
7. O autoconceito muda ao longo do tempo, da vida, como
resultado da experiência.
Corresponde às características ligadas ao desenvolvimento
profissional de uma pessoa.
8. Os estádios de vida
Segundo a teoria de desenvolvimento de Super, ao longo da
vida as pessoas passam por fases ou estádios que ocorrem
em determinadas idades, segundo uma sequência.
As idades indicadas são aproximadas.
A cada etapa ou estádio correspondem tarefas específicas a
ser realizadas.
Pode dizer-se que uma pessoa atingiu a maturidade
vocacional se está pronta para tomar decisões e assumir
comportamentos próprios do estádio em que se encontra.
9. O autor define cinco estádios:
Crescimento
Do nascimento aos 13-14 anos
Exploração
Dos 15 aos 24 anos
Estabelecimento
Dos 24 aos 44 anos
Manutenção
Dos 44 aos 64 anos
Descompromisso
Após os 64 anos
10. A designação de cada estádio remete para a principal tarefa do
estádio de vida.
Cada uma das tarefas principais se subdivide em três ou quatro
tarefas de desenvolvimento.
Segundo Super, estes estádios não são sempre lineares, dado que a
pessoa pode voltar a um estádio anterior do desenvolvimento, isto
é, os estádios podem ser cíclicos.
Esta situação - voltar a um estádio anterior -, a que Super chama de
reciclagem, não tem uma conotação negativa. É um processo
inerente ao desenvolvimento vocacional.
11. Crescimento
Desde o nascimento, a criança desenvolve-se num contexto social
através do processo de socialização.
É na relação com os outros (pais, professores, outros adultos
significativos e colegas) que, ao identificar-se com eles, ela vai
construir o autoconceito vocacional: preocupa-se com o futuro,
compreende a importância de ter sucesso na escola, adquire
hábitos e rotinas de trabalho, procura ser competente.
Apesar de este estádio abranger idades com características muito
diferentes, o percurso que a criança efetua é no sentido de as
capacidades e interesses serem progressivamente dominantes.
12. Exploração
Esta fase vai desde a
adolescência ao início do estado
adulto e corresponde a um
período de exploração de si
próprio, do mundo do trabalho e
dos papéis das outras pessoas
nas suas ocupações.
O
autoconceito
vocacional
constrói-se na interação com os
outros, com as experiências
pessoais, com o desempenho
dos papéis em casa, na escola e
noutros contextos de vida.
Num primeiro momento, as
opções vocacionais são ensaiadas
nas conversas com os outros e na
fantasia.
Progressivamente, o jovem vai
construindo o seu autoconceito
vocacionai em contacto com a
realidade.
Escolhida
uma
profissão,
desenvolve as tarefas desta fase,
especificando, implementando a
sua opção.
Contudo, a escolha não está
finalizada.
13. Estabelecimento
Na fase do estabelecimento,
que decorre entre os 25 e
os 44 anos, podem surgir
questões relacionadas com
experimentações e ensaios
na
procura
de
um
autoconceito
vocacional
seguro.
Esta situação pode refletirse, por exemplo, na
mudança de emprego e na
procura de novos percursos
de vida profissional através
de
novas
experiências
laborais.
À medida que o tempo
avança, o adulto procura
dar solidez do mundo do
trabalho,
estabilizando,
consolidando e progredindo
na sua ocupação.
14. Manutenção
A designação deste estádio
reflete a principal preocupação
das pessoas: preservar e manter
com sucesso o autoconceito
vocacional estabelecido.
Desenvolver, conservar e cuidar
são as tarefas que caracterizam
esta etapa.
Contudo, tal
estagnação.
não
significa
Se a pessoa não se sente
autorrealizada na sua ocupação
pode abraçar novos desafios.
É comum, nesta fase da vida,
muitos colocarem a si próprios
a pergunta: "É isto que quero
fazer nos próximos anos?".
Neste contexto podem surgir
mudanças e, por isso, inovar é
também uma tarefa deste
estádio de desenvolvimento.
A frustração pode surgir se a
pessoa
não
conseguir
estabilizar-se numa ocupação
que a autorrealize, que seja
adequada ao seu perfil.
15. Descompromisso
É a fase da vida em que se assiste a
uma
desaceleração
no
desenvolvimento da carreira através
da pré-reforma ou mesmo da
aposentação.
Assiste-se a uma diminuição da
energia, ao abrandamento dos
ritmos de atividade, ao declínio dos
processos físicos e mentais.
O trabalho a tempo inteiro pode ser
substituído por um trabalho a tempo
parcial e por hobbies.
O elemento comum neste
estádio é a necessidade de se
reformular o estilo e a estrutura
de vida.
Algumas pessoas encaram este
período de uma forma positiva,
outras sofrem com sentimentos
de desilusão e desapontamento.
É cada vez mais importante o
planeamento atempado da
reforma para se poder responder
ao desafio de uma nova de vida.
16. A importância da teoria de Super
As grandes mudanças tecnológicas e sociais e a importância da profissão na
vida das pessoas criaram um novo cenário que Super soube interpretar.
Este autor, através da sua teoria sobre o desenvolvimento vocacional, veio
enriquecer e dar mais sentido ao desenvolvimento humano, sobretudo das
sociedades mais industrializadas.
É de realçar na sua teoria a ideia de que o desenvolvimento que se processa
por estádios não é linear: podem surgir questões num estádio que
correspondem a etapas anteriores. Uma pessoa que se encontre no último
estádio pode, por exemplo, procurar novos papéis ocupacionais, o que é
uma tarefa própria do estádio de crescimento. Esta é uma perspetiva de
dinâmica do desenvolvimento humano.
17. Super apresentou uma aplicação prática da sua teoria para
apoiar os orientadores de carreira.
Chama-se Modelo de Avaliação e Orientação de Carreira e é
um instrumento muito utilizado pelos orientadores
profissionais para auxiliar as pessoas a resolverem os seus
problemas de carreira.