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Questão 128                                                  CURSO E COLÉGIO


                               Entrevista com Marcos Bagno

Pode parecer inacreditável, mas muitas das prescrições da pedagogia tradicional da
língua até hoje se baseiam nos usos que os escritores portugueses do século XIX
faziam da língua. Se tantas pessoas condenam, por exemplo, o uso do verbo “ter” no
lugar do verbo “haver”, como em “hoje tem feijoada”, é simplesmente porque os
portugueses, em dado momento da história de sua língua, deixaram de fazer esse uso
existencial do verbo “ter”.
No entanto, temos registros escritos da época medieval em que aparece centenas
desses usos. Se nós, brasileiros, assim como os falantes africanos de português,
usamos até hoje o verbo “ter” como existencial é porque recebemos esses usos de
nossos ex colonizadores. Não faz sentido imaginar que brasileiros, angolanos e
moçambicanos decidiram se juntar para “errar” na mesma coisa. E assim acontece
com muitas outras coisas: regências verbais, colocação pronominal, concordâncias
nominais e verbais etc. Temos uma língua própria, mas ainda somos obrigados a
seguir uma gramática normativa de outra língua diferente. Às vésperas de
comemorarmos nosso bicentenário de independência, não faz sentido continuar
rejeitando o que é nosso para só aceitar o que vem de fora.
Não faz sentido rejeitar a língua de 190 milhões de brasileiros para só considerar certo
o que é usado por menos de dez milhões de portugueses. Só na cidade de São Paulo
temos mais falantes de português que em toda a Europa!

                                                                Informativo Parábola Editorial , s/d.



   Na entrevista , o autor defende o uso de formas linguísticas coloquiais e faz uso da
   norma de padrão em toda a extensão do texto. Isso pode ser explicado pelo fato
   de que ele
   A) adapta o nível de linguagem à situação comunicativa,uma vez que o gênero
      entrevista requer o uso da norma padrão.
   B) apresenta argumentos carentes de comprovação científica e, por isso, defende
      um ponto de vista difícil de ser verificado na materialidade do texto.
   C) propõe que o padrão normativo deve ser usado por falantes escolarizados
      como ele, enquanto a norma coloquial deve ser usada por falantes não
      escolarizados.
   D) acredita que a língua genuinamente brasileira está em construção, o que o
      obriga a incorporar em seu cotidiano a gramática normativa do português
      europeu.
   E) defende que a quantidade de falantes português brasileiro ainda é insuficiente
      para acabar com a hegemonia do antigo colonizador.


       Alternativa: A                                        CURSO E COLÉGIO


   O linguista Marcos Bagno, um dos maiores críticos da gramática normativa no Brasil, discute
   sobre a norma culta em sua entrevista. No entanto, embora defenda a valorização do
português não padrão, utiliza da correção gramatical em sua entrevista, pois se adéqua às
características do gênero formal oral que é a entrevista.

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  • 1. Questão 128 CURSO E COLÉGIO Entrevista com Marcos Bagno Pode parecer inacreditável, mas muitas das prescrições da pedagogia tradicional da língua até hoje se baseiam nos usos que os escritores portugueses do século XIX faziam da língua. Se tantas pessoas condenam, por exemplo, o uso do verbo “ter” no lugar do verbo “haver”, como em “hoje tem feijoada”, é simplesmente porque os portugueses, em dado momento da história de sua língua, deixaram de fazer esse uso existencial do verbo “ter”. No entanto, temos registros escritos da época medieval em que aparece centenas desses usos. Se nós, brasileiros, assim como os falantes africanos de português, usamos até hoje o verbo “ter” como existencial é porque recebemos esses usos de nossos ex colonizadores. Não faz sentido imaginar que brasileiros, angolanos e moçambicanos decidiram se juntar para “errar” na mesma coisa. E assim acontece com muitas outras coisas: regências verbais, colocação pronominal, concordâncias nominais e verbais etc. Temos uma língua própria, mas ainda somos obrigados a seguir uma gramática normativa de outra língua diferente. Às vésperas de comemorarmos nosso bicentenário de independência, não faz sentido continuar rejeitando o que é nosso para só aceitar o que vem de fora. Não faz sentido rejeitar a língua de 190 milhões de brasileiros para só considerar certo o que é usado por menos de dez milhões de portugueses. Só na cidade de São Paulo temos mais falantes de português que em toda a Europa! Informativo Parábola Editorial , s/d. Na entrevista , o autor defende o uso de formas linguísticas coloquiais e faz uso da norma de padrão em toda a extensão do texto. Isso pode ser explicado pelo fato de que ele A) adapta o nível de linguagem à situação comunicativa,uma vez que o gênero entrevista requer o uso da norma padrão. B) apresenta argumentos carentes de comprovação científica e, por isso, defende um ponto de vista difícil de ser verificado na materialidade do texto. C) propõe que o padrão normativo deve ser usado por falantes escolarizados como ele, enquanto a norma coloquial deve ser usada por falantes não escolarizados. D) acredita que a língua genuinamente brasileira está em construção, o que o obriga a incorporar em seu cotidiano a gramática normativa do português europeu. E) defende que a quantidade de falantes português brasileiro ainda é insuficiente para acabar com a hegemonia do antigo colonizador. Alternativa: A CURSO E COLÉGIO O linguista Marcos Bagno, um dos maiores críticos da gramática normativa no Brasil, discute sobre a norma culta em sua entrevista. No entanto, embora defenda a valorização do
  • 2. português não padrão, utiliza da correção gramatical em sua entrevista, pois se adéqua às características do gênero formal oral que é a entrevista.