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UNIDADE E DIVERSIDADE
NORMA E VARIAÇÃO
Lisboa, fevereiro de 2011
Norma vs. Variação
 Em qualquer língua existe variação:
- Variação histórica
p. ex. o verbo soer ‘costumar’ desaparece
- Variação regional
p. ex. frigideira ~ sertã
- Variação social
p. ex. bué ~ muito
- Variação de registos
p. ex. indivíduo ~ fulano ~ tipo
 Qualquer falante deverá dominar registos diferenciados.
Variação no português
 A variação pode verificar-se em diferentes áreas da
gramática:
 Léxico
 Eu vou apanhar um autocarro. (PE)
 Eu vou pegar um ônibus. (PB)
 Sintaxe
 Ele deu-me um livro. (PE)
 Ele me deu um livro. (PB)
 Fonética/Fonologia
 cabo ≠ cavo (centro e sul de Portugal)
 cabo = cavo (norte de Portugal)
Variação no português
 A variação pode verificar-se em diferentes áreas da
gramática:
 Semântica
 O Pedro disse ao João que não tem trabalho.
 O Pedro disse ao João que não há trabalho.
 O Pedro disse ao João que está desempregado.
 Pragmática
 Onde é que a Rita vai?
 Onde é que a senhora vai?
 Onde é que você vai?
 Onde é que tu vais?
Como se define uma norma?
 Uma norma é uma variedade linguística,
normalmente associada à variedade das classes
sociais mais cultas e aos centros urbanos de maior
influência, que se impõe como variedade de prestígio
e que é instituída como modelo a seguir em situações
de uso mais institucional da língua.
Como se define uma norma?
 A norma é uma convenção social e abrange:
- Ortoépia (=pronúncia correta);
- Seleção vocabular;
- Questões sintáticas;
- Atribuição de significados;
- Conetores;
- Ortografia (=grafia correta);
- Princípios de interação conversacional;
- Princípios de cortesia;
- Outras convenções de escrita.
A norma é relativa
 Do ponto de vista linguístico, nenhuma variedade é
“melhor” ou “mais correta” do que outra.
 Qualquer variedade poderia ser norma, desde que as
condições sociais, históricas, políticas e culturais
assim o determinassem.
 A norma muda ao longo do tempo: aquilo que é
considerado erro em determinada época pode deixar
de o ser.
A norma muda…
 A norma é meramente convencional.
 A norma muda, acompanhando as mudanças sociais.
 A norma adota as formas linguísticas consideradas
mais prestigiadas numa determinada época e numa
determinada comunidade.
Testemunhos de mudança da norma
“Quando vos noto estes defeitos de pronunciação e vícios de
linguagem (quantos outros se poderão apontar!) mais
frequentes entre os provincianos, não quero por isso dizer que
os não há na capital. É muito frequente entre a gente ordinária
de Lisboa mudar o E em A nalgumas palavras: dizem Panha,
Lanha por Penha, Lenha.
Ajuntam às vezes um N onde não devem, dizendo Menza em
lugar de Mesa, Choramingas por Choramigas, Estringir por
Estrugir, Corpanzil por Corpazil.”
José Inácio Roquete, 1845, Código do bom tom, apud Marquilhas e
Albino. 2005. Por toda a parte. Uma certa história da língua
portuguesa. Lisboa, p. 64.
Testemunhos de mudança da norma
 “De alguns vocábulos que usam os plebeios, ou idiotas que os homens polidos
não devem usar [excertos]
Quanto os homens polidos devam escusar de falar palavras insolentes e
grosseiras.
Ajuntaremos aqui à sombra de palavras antigas, que se também não devem
usar, estas que nos lembraram:
Assente – por repousado
Atabafar – por encobrir com engano
Barafustar – por relutar
Cenreira – por birra ou teima
Corriqueira cousa – por vulgar, ou costumada
Escafeder – por fugir
Falcatrua – por engano
Focinho – por rostro
Matreiro – por astuto”
Duarte Nunes de Leão, 1606, Origem da Língua Portuguesa, apud Marquilhas e Albino. 2005. Por
toda a parte. Uma certa história da língua portuguesa. Lisboa, p. 66.
Como se define uma norma?
 A norma é uma convenção social
 A norma estabelece-se por força do hábito
 A norma segue geralmente a tradição culta
Há muita arbitrariedade na norma!
Nem sempre a justificação é óbvia…
Por que é necessária uma norma?
 A norma é uma variedade unificadora da língua
 A norma é a variedade consagrada nos instrumentos
associados à institucionalização de uma língua, ao seu
ensino e à sua difusão: dicionários, gramáticas, manuais
escolares…
 Paradoxalmente, a norma é a variedade que permite
igualdade de oportunidades a todos, independentemente da
sua origem.
 A norma é um veículo de integração social.
 A norma garante alguma estabilidade na comunicação.
Por que é necessária uma norma?
 A norma permite ao falante integrar-se socialmente,
sobretudo em situações de maior formalidade.
 O falante deverá saber dominar diferentes registos:
 Formal
 Académico
 Familiar
Definidos por vocabulário específico, formas de tratamento,
construções particulares, etc.
Uma norma ou várias normas?
 Atualmente, existem duas normas nacionais do português,
associadas aos dois países em que o português é
maioritariamente língua materna:
 A norma europeia: variedade falada pelas camadas cultas dos
centros urbanos de Lisboa e Coimbra
 A norma brasileira: variedade falada pelas camadas cultas dos
centros urbanos de Rio de Janeiro e São Paulo (mas também Recife,
Salvador, Porto Alegre projeto NURC, desde 1970)
 Os outros países de língua oficial portuguesa ainda não têm
uma norma própria; tendem a seguir a norma europeia, mas
nada impede que, progressivamente, venham a ter a sua
própria norma.
Uma norma ou várias normas?
 Na realidade, pode considerar-se que coexistem
várias normas.
 O falante adapta-se às diferentes situações
geográficas, sociais e comunicativas, seguindo as
convenções próprias do meio em que se insere:
 A norma do Porto não é exatamente idêntica à norma de
Lisboa; um falante de Lisboa é estranhado no Norte e vice-
versa
 A norma no meio académico não é idêntica à norma no meio
familiar
Só se deve ensinar uma norma?
 É desejável considerar diferentes normas no ensino
da língua
 É desejável considerar, no ensino da língua, a
variação linguística (quer de natureza geográfica,
quer de natureza social, quer de natureza discursiva)
 É desejável compreender que todas as línguas
apresentam variação e todas as línguas estão sujeitas
a mudança
Só se deve ensinar uma norma?
 As orientações nacionais preveem claramente que
sejam respeitadas as diferentes variedades nacionais
do português (cf. http://www.dgidc.min-
edu.pt/linguaportuguesa/Documents/PLNM_perfis-
linguisticos.pdf), sobretudo pp. 8-10
Só se deve ensinar uma norma?
“Os professores em geral, e os professores de português em
particular, devem dispor de informação que lhes permita
distinguir nesses alunos, o que são características próprias
de uma correcta apropriação da variedade de referência
do PB, logo tão legítimas e respeitáveis como as manifestações do
padrão PE, e o que são desvios em relação a essa variedade
de referência, que como tal seriam objecto de correcção em
qualquer escola brasileira. Os professores devem ainda saber
distinguir claramente ente factos da língua e factos da
ortografia. Para isso, devem conhecer as convenções ortográficas
do PB, de modo a, caso o aluno tenha iniciado a sua escolaridade no
Brasil, poderem identificar os erros cometidos em relação a estas
regras. E, evidentemente, a não penalizarem os alunos pelo
escrupuloso cumprimento dessas mesmas regras.”
Português Língua Não Materna no Currículo Nacional. Orientações
Nacionais: Perfis linguísticos da população escolar que frequenta as escolas
portuguesas, pg. 9
Só se deve ensinar uma norma?
“É esta atitude de respeito pela diversidade linguística e
cultural dos alunos que se espera da escola portuguesa,
em vez de tentativas mais ou menos assumidas de forçar a
integração destes alunos na norma portuguesa, em nome de uma
inexistente uniformidade lusófona ou de hábitos centralizadores e
uniformizadores que apenas faziam sentido no passado. Isso não
significa, no entanto, que, em resultado da imersão linguística em
que se encontram, os alunos de origem brasileira não venham, com
o tempo e no seu tempo, a adquirir a norma-padrão do PE e a
integrar-se pelos seus próprios meios.”
Português Língua Não Materna no Currículo Nacional. Orientações
Nacionais: Perfis linguísticos da população escolar que frequenta as escolas
portuguesas, pg. 9
A norma e a escola
 Cabe à escola fazer com que o aluno conheça e reconheça
diferentes manifestações que a língua pode ter, condicionadas
por fatores geográficos, sociais e discursivos, e saiba adequar o
modo como escreve e fala a diferentes situações
comunicativas.
 Cabe à escola promover a tolerância linguística, contribuindo
para a diminuição da exclusão social.
 Cabe à escola fazer com que o aluno domine as normas
linguísticas que lhe permitirão adaptar-se a diferentes
situações sociais e profissionais.

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  • 1. UNIDADE E DIVERSIDADE NORMA E VARIAÇÃO Lisboa, fevereiro de 2011
  • 2. Norma vs. Variação Em qualquer língua existe variação: - Variação histórica p. ex. o verbo soer ‘costumar’ desaparece - Variação regional p. ex. frigideira ~ sertã - Variação social p. ex. bué ~ muito - Variação de registos p. ex. indivíduo ~ fulano ~ tipo Qualquer falante deverá dominar registos diferenciados.
  • 3. Variação no português A variação pode verificar-se em diferentes áreas da gramática: Léxico Eu vou apanhar um autocarro. (PE) Eu vou pegar um ônibus. (PB) Sintaxe Ele deu-me um livro. (PE) Ele me deu um livro. (PB) Fonética/Fonologia cabo ≠ cavo (centro e sul de Portugal) cabo = cavo (norte de Portugal)
  • 4. Variação no português A variação pode verificar-se em diferentes áreas da gramática: Semântica O Pedro disse ao João que não tem trabalho. O Pedro disse ao João que não há trabalho. O Pedro disse ao João que está desempregado. Pragmática Onde é que a Rita vai? Onde é que a senhora vai? Onde é que você vai? Onde é que tu vais?
  • 5. Como se define uma norma? Uma norma é uma variedade linguística, normalmente associada à variedade das classes sociais mais cultas e aos centros urbanos de maior influência, que se impõe como variedade de prestígio e que é instituída como modelo a seguir em situações de uso mais institucional da língua.
  • 6. Como se define uma norma? A norma é uma convenção social e abrange: - Ortoépia (=pronúncia correta); - Seleção vocabular; - Questões sintáticas; - Atribuição de significados; - Conetores; - Ortografia (=grafia correta); - Princípios de interação conversacional; - Princípios de cortesia; - Outras convenções de escrita.
  • 7. A norma é relativa Do ponto de vista linguístico, nenhuma variedade é “melhor” ou “mais correta” do que outra. Qualquer variedade poderia ser norma, desde que as condições sociais, históricas, políticas e culturais assim o determinassem. A norma muda ao longo do tempo: aquilo que é considerado erro em determinada época pode deixar de o ser.
  • 8. A norma muda… A norma é meramente convencional. A norma muda, acompanhando as mudanças sociais. A norma adota as formas linguísticas consideradas mais prestigiadas numa determinada época e numa determinada comunidade.
  • 9. Testemunhos de mudança da norma “Quando vos noto estes defeitos de pronunciação e vícios de linguagem (quantos outros se poderão apontar!) mais frequentes entre os provincianos, não quero por isso dizer que os não há na capital. É muito frequente entre a gente ordinária de Lisboa mudar o E em A nalgumas palavras: dizem Panha, Lanha por Penha, Lenha. Ajuntam às vezes um N onde não devem, dizendo Menza em lugar de Mesa, Choramingas por Choramigas, Estringir por Estrugir, Corpanzil por Corpazil.” José Inácio Roquete, 1845, Código do bom tom, apud Marquilhas e Albino. 2005. Por toda a parte. Uma certa história da língua portuguesa. Lisboa, p. 64.
  • 10. Testemunhos de mudança da norma “De alguns vocábulos que usam os plebeios, ou idiotas que os homens polidos não devem usar [excertos] Quanto os homens polidos devam escusar de falar palavras insolentes e grosseiras. Ajuntaremos aqui à sombra de palavras antigas, que se também não devem usar, estas que nos lembraram: Assente – por repousado Atabafar – por encobrir com engano Barafustar – por relutar Cenreira – por birra ou teima Corriqueira cousa – por vulgar, ou costumada Escafeder – por fugir Falcatrua – por engano Focinho – por rostro Matreiro – por astuto” Duarte Nunes de Leão, 1606, Origem da Língua Portuguesa, apud Marquilhas e Albino. 2005. Por toda a parte. Uma certa história da língua portuguesa. Lisboa, p. 66.
  • 11. Como se define uma norma? A norma é uma convenção social A norma estabelece-se por força do hábito A norma segue geralmente a tradição culta Há muita arbitrariedade na norma! Nem sempre a justificação é óbvia…
  • 12. Por que é necessária uma norma? A norma é uma variedade unificadora da língua A norma é a variedade consagrada nos instrumentos associados à institucionalização de uma língua, ao seu ensino e à sua difusão: dicionários, gramáticas, manuais escolares… Paradoxalmente, a norma é a variedade que permite igualdade de oportunidades a todos, independentemente da sua origem. A norma é um veículo de integração social. A norma garante alguma estabilidade na comunicação.
  • 13. Por que é necessária uma norma? A norma permite ao falante integrar-se socialmente, sobretudo em situações de maior formalidade. O falante deverá saber dominar diferentes registos: Formal Académico Familiar Definidos por vocabulário específico, formas de tratamento, construções particulares, etc.
  • 14. Uma norma ou várias normas? Atualmente, existem duas normas nacionais do português, associadas aos dois países em que o português é maioritariamente língua materna: A norma europeia: variedade falada pelas camadas cultas dos centros urbanos de Lisboa e Coimbra A norma brasileira: variedade falada pelas camadas cultas dos centros urbanos de Rio de Janeiro e São Paulo (mas também Recife, Salvador, Porto Alegre projeto NURC, desde 1970) Os outros países de língua oficial portuguesa ainda não têm uma norma própria; tendem a seguir a norma europeia, mas nada impede que, progressivamente, venham a ter a sua própria norma.
  • 15. Uma norma ou várias normas? Na realidade, pode considerar-se que coexistem várias normas. O falante adapta-se às diferentes situações geográficas, sociais e comunicativas, seguindo as convenções próprias do meio em que se insere: A norma do Porto não é exatamente idêntica à norma de Lisboa; um falante de Lisboa é estranhado no Norte e vice- versa A norma no meio académico não é idêntica à norma no meio familiar
  • 16. Só se deve ensinar uma norma? É desejável considerar diferentes normas no ensino da língua É desejável considerar, no ensino da língua, a variação linguística (quer de natureza geográfica, quer de natureza social, quer de natureza discursiva) É desejável compreender que todas as línguas apresentam variação e todas as línguas estão sujeitas a mudança
  • 17. Só se deve ensinar uma norma? As orientações nacionais preveem claramente que sejam respeitadas as diferentes variedades nacionais do português (cf. http://www.dgidc.min- edu.pt/linguaportuguesa/Documents/PLNM_perfis- linguisticos.pdf), sobretudo pp. 8-10
  • 18. Só se deve ensinar uma norma? “Os professores em geral, e os professores de português em particular, devem dispor de informação que lhes permita distinguir nesses alunos, o que são características próprias de uma correcta apropriação da variedade de referência do PB, logo tão legítimas e respeitáveis como as manifestações do padrão PE, e o que são desvios em relação a essa variedade de referência, que como tal seriam objecto de correcção em qualquer escola brasileira. Os professores devem ainda saber distinguir claramente ente factos da língua e factos da ortografia. Para isso, devem conhecer as convenções ortográficas do PB, de modo a, caso o aluno tenha iniciado a sua escolaridade no Brasil, poderem identificar os erros cometidos em relação a estas regras. E, evidentemente, a não penalizarem os alunos pelo escrupuloso cumprimento dessas mesmas regras.” Português Língua Não Materna no Currículo Nacional. Orientações Nacionais: Perfis linguísticos da população escolar que frequenta as escolas portuguesas, pg. 9
  • 19. Só se deve ensinar uma norma? “É esta atitude de respeito pela diversidade linguística e cultural dos alunos que se espera da escola portuguesa, em vez de tentativas mais ou menos assumidas de forçar a integração destes alunos na norma portuguesa, em nome de uma inexistente uniformidade lusófona ou de hábitos centralizadores e uniformizadores que apenas faziam sentido no passado. Isso não significa, no entanto, que, em resultado da imersão linguística em que se encontram, os alunos de origem brasileira não venham, com o tempo e no seu tempo, a adquirir a norma-padrão do PE e a integrar-se pelos seus próprios meios.” Português Língua Não Materna no Currículo Nacional. Orientações Nacionais: Perfis linguísticos da população escolar que frequenta as escolas portuguesas, pg. 9
  • 20. A norma e a escola Cabe à escola fazer com que o aluno conheça e reconheça diferentes manifestações que a língua pode ter, condicionadas por fatores geográficos, sociais e discursivos, e saiba adequar o modo como escreve e fala a diferentes situações comunicativas. Cabe à escola promover a tolerância linguística, contribuindo para a diminuição da exclusão social. Cabe à escola fazer com que o aluno domine as normas linguísticas que lhe permitirão adaptar-se a diferentes situações sociais e profissionais.