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teoria da literatura
Gênero épico no ENEM
        Manoel Neves
INSTRUÇÃO
                        teoria da literatura no ENEM
O autor do texto a seguir critica, ainda que em linguagem metafórica, a sociedade
contemporânea em relação aos seus hábitos alimentares.
TEXTO
                               teoria da literatura no ENEM
Vocês que têm mais de 15 anos, se lembram quando a gente comprava leite em garrafa, na
leiteria da esquina? [...]
Mas vocês não se lembram de nada, pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem o que é leite.
Estou falando isso porque agora mesmo peguei um pacote de leite – leite em pacote, imagina,
Tereza! – na porta dos fundos e estava escrito que é pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem
vitamina, é garantido pela embromatologia, foi enriquecido e o escambau.
Será que isso é mesmo leite? No dicionário diz que leite é outra coisa: ‘Líquido branco, contendo
água, proteína, açúcar e sais minerais’. Um alimento pra ninguém botar defeito. O ser humano o
usa há mais de 5.000 anos. É o único alimento só alimento. A carne serve pro animal andar, a
fruta serve pra fazer outra fruta, o ovo serve pra fazer outra galinha [...] O leite é só leite. Ou
toma ou bota fora.
Esse aqui examinando bem, é só pra botar fora. Tem chumbo, tem benzina, tem mais água do
que leite, tem serragem, sou capaz de jurar que nem vaca tem por trás desse negócio.
Depois o pessoal ainda acha estranho que os meninos não gostem de leite. Mas, como não
gostam? Não gostam como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!
                        FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo, 22 de agosto de 1999.
QUESTÃO 01
                                         ENEM-2000
                                A crítica do autor é dirigida:
ao desconhecimento, pelas novas gerações, da importância do gado leiteiro para a economia
nacional.
à diminuição da produção de leite após o desenvolvimento de tecnologias que têm substituído
os produtos naturais por produtos artificiais.
à artificialização abusiva de alimentos tradicionais, com perda de critério para julgar sua
qualidade e sabor.
à permanência de hábitos alimentares a partir da revolução agrícola e da domesticação de
animais iniciada há 5.000 anos.
à importância dada ao pacote de leite para a conservação de um produto perecível e que
necessita de aperfeiçoamento tecnológico.
SOLUÇÃO COMENTADA
                                        teoria da literatura no ENEM
Logo nos primeiros parágrafos, percebe-se que a temática do texto é a sociedade
contemporânea.
A crônica contrapõe presente a passado. O elemento que propicia a comparação é o leite.
Afirma-se que o leite moderno é de má qualidade. A perda de qualidade se justifica porque,
neste leite, segundo o locutor, tem chumbo, tem benzina, tem mais água do que leite, tem
serragem. Tais elementos, segundo a argumentação do locutor, fizeram o leite perder a
qualidade e o sabor.
Assinale-se, pois, a alternativa “c”.
QUESTÃO 02
                                          ENEM-2000
                        A palavra embromatologia usada pelo autor é:
um termo científico que significa estudo dos bromatos.
uma composição do termo de gíria “embromação” (enganação) com bromatologia, que é o
estudo dos alimentos.
uma junção do termo de gíria “embromação” (enganação) com lactologia, que é o estudo das
embalagens para leite.
um neologismo da química orgânica que significa a técnica de retirar bromatos dos laticínios.
uma corruptela de termo da agropecuária que significa a ordenha mecânica.
SOLUÇÃO COMENTADA
                              teoria da literatura no ENEM
O neologismo embromatologia, apesar de derivado de bromatologia [estudo dos alimentos]
remete, no texto, imediatamente, ao substantivo embromar [regionalismo que significa
enganar, calotear usando de lábia]. Assinale-se, pois, a alternativa “b”.
QUESTÃO 03
                                          ENEM-2001
Os provérbios constituem um produto da sabedoria popular e, em geral, pretendem transmitir
um ensinamento. A alternativa em que os dois provérbios remetem a ensinamentos
semelhantes é:
“Quem diz o que quer, ouve o que não quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe parece”.
“Devagar se vai ao longe” e “De grão em grão, a galinha enche o papo”.
“Mais vale um pássaro na mão do que dois voando” e “Não se deve atirar pérolas aos porcos”.
“Quem casa quer casa” e “Santo de casa não faz milagre”.
“Quem com ferro fere, com ferro será ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de pau”.
SOLUÇÃO COMENTADA
                                teoria da literatura no ENEM
Em “a”, o provérbio Quem diz o que quer, ouve o que não quer sugere que se deve assumir a
responsabilidade por aquilo que se faz. Já Quem ama o feio, bonito lhe parece sugere que o
amor cega as pessoas.
Em “b”, o provérbio Devagar se vai ao longe sugere que se deve ter paciência. O provérbio De
grão em grão, a galinha enche o papo também sugere que se deve ser perseverante, paciente.
Assinale-se, pois, a alternativa “b”.
Em “c”, o provérbio Mais vale um pássaro na mão do que dois voando sugere que se deve
valorizar aquilo que se tem. Já Não se deve atirar pérolas aos porcos sugere que não se deve
perder tempo em tarefas inúteis.
Em “d”, o provérbio Quem casa quer casa indica, quase que literalmente, que as pessoas que
casam almejam uma vida a dois e as responsabilidades advindas dessa escolha. Já em Santo de
casa não faz milagre, sugere-se que não se deve esperar muito das pessoas mais próximas.
Em “e”, o provérbio Quem com ferro fere, com ferro será ferido indica que quem comete uma
má ação receberá a mesma em troca. Já Casa de ferreiro, espeto de pau, sugere-se que as
pessoas, em geral, não usam as habilidades que possuem em benefício próprio.
MIGUILIM
                                    João Guimarães Rosa
De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro de roupa.
Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos,
corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo.
– Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome?
– Miguilim. Eu sou irmão do Dito.
– E o seu irmão Dito é o dono daqui?
– Não, meu senhor. O Ditinho está em glória.
O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zelado, manteúdo, formoso como nenhum
outro. Redizia:
– Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda... Mas que é que há, Miguilim?
Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava.
MIGUILIM
                                      João Guimarães Rosa
– Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que
está em tua casa?
– É Mãe, e os meninos...
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos. O senhor alto e claro se apeou. O outro, que vinha
com ele, era um camarada.
O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: ...
Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?.
            ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
QUESTÃO 04
                                          ENEM-2002
Esta história, com narrador observador em terceira pessoa, apresenta os acontecimentos da
perspectiva de Miguilim. O fato de o ponto de vista do narrador ter Miguilim como referência,
inclusive espacial, fica explicitado em:
O homem trouxe o cavalo cá bem junto.
Ele era de óculos, corado, alto (...)
O homem esbarrava o avanço do cavalo, (...)
Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, (...)
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos
SOLUÇÃO COMENTADA
                                 teoria da literatura no ENEM
O advérbio de lugar cá indica proximidade [no trecho em que aparece, indica o lugar de onde o
locutor emite o discurso]. Como no enunciado da questão afirma-se que o narrador de terceira
pessoa apresenta a história sob a perspectiva de Miguilim e esta personagem é a protagonista
do trecho em questão, deve-se assinalar a alternativa “a”.
TEXTO
                              teoria da literatura no ENEM
Narizinho correu os olhos pela assistência. Não podia haver nada mais curioso. Besourinhos de
fraque e flores na lapela conversavam com baratinhas de mantilha e miosótis nos cabelos.
Abelhas douradas, verdes e azuis, falavam mal das vespas de cintura fina – achando que era
exagero usarem coletes tão apertados. Sardinhas aos centos criticavam os cuidados excessivos
que as borboletas de toucados de gaze tinham com o pó das suas asas. Mamangavas de ferrões
amarrados para não morderem. E canários cantando, e beija-flores beijando flores, e camarões
camaronando, e caranguejos caranguejando, tudo que é pequenino e não morde,
pequeninando e não mordendo.
                   LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Brasiliense, 1947.
QUESTÃO 05
                                    ENEM-2002
No último período do trecho, há uma série de verbos no gerúndio que contribuem para
caracterizar o ambiente fantástico descrito. Expressões como “camaronando”,
“caranguejando” e “pequeninando e não mordendo” criam, principalmente, efeitos de
esvaziamento de sentido.
monotonia do ambiente.
estaticidade dos animais.
interrupção dos movimentos.
dinamicidade do cenário.
SOLUÇÃO COMENTADA
                                 teoria da literatura no ENEM
Posto que o gerúndio indica uma ação que transcorre no momento em que se fala, infere-se que
o uso do gerúndio, nos fragmentos destacados no enunciado da questão, sugerem o movimento
dos seres e, por extensão, a dinamicidade do cenário. Por isso, assinale-se a alternativa “e”.
INSTRUÇÃO
                            teoria da literatura no ENEM
Em 1958, a seleção brasileira foi campeã mundial pela primeira vez. O texto foi extraído da
crônica “A alegria de ser brasileiro”, do dramaturgo Nelson Rodrigues, publicada naquele ano
pelo jornal Última hora.
TEXTO
                               teoria da literatura no ENEM
Agora, com a chegada da equipe imortal, as lágrimas rolam. Convenhamos que a seleção as
merece. Merece por tudo: não só pelo futebol, que foi o mais belo que os olhos mortais já
contemplaram, como também pelo seu maravilhoso índice disciplinar. Até este Campeonato, o
brasileiro julgava-se um cafajeste nato e hereditário. Olhava o inglês e tinha-lhe inveja. Achava o
inglês o sujeito mais fino, mais sóbrio, de uma polidez e de uma cerimônia inenarráveis. E,
súbito, há o Mundial. Todo mundo baixou o sarrafo no Brasil. Suecos, britânicos, alemães,
franceses, checos, russos, davam botinadas em penca. Só o brasileiro se mantinha ferozmente
dentro dos limites rígidos da esportividade. Então, se verificou o seguinte: o inglês, tal como o
concebíamos, não existe. O único inglês que apareceu no Mundial foi o brasileiro. Por tantos
motivos, vamos perder a vergonha (...), vamos sentar no meio-fio e chorar. Porque é uma alegria
ser brasileiro, amigos.
                    LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Brasiliense, 1947.
QUESTÃO 06
                                          ENEM-2002
Além de destacar a beleza do futebol brasileiro, Nelson Rodrigues quis dizer que o
comportamento dos jogadores dentro do campo
foi prejudicial para a equipe e quase pôs a perder a conquista da copa do mundo.
mostrou que os brasileiros tinham as mesmas qualidades que admiravam nos europeus,
principalmente nos ingleses.
ressaltou o sentimento de inferioridade dos jogadores brasileiros em relação aos europeus, o
que os impediu de revidar as agressões sofridas.
mostrou que o choro poderia aliviar o sentimento de que os europeus eram superiores aos
brasileiros.
mostrou que os brasileiros eram iguais aos europeus, podendo comportar-se como eles, que
não respeitavam os limites da esportividade.
SOLUÇÃO COMENTADA
                                 teoria da literatura no ENEM
No fragmento da crônica “A alegria de ser brasileiro”, afirma-se que o brasileiro invejava o
futebol inglês, pela sua fineza, sobriedade, polidez e cerimônia.
Durante a Copa do Mundo, entretanto, verificou-se que os europeus [e, principalmente, os
ingleses], diante do futebol brasileiro, não mantiveram as características aludidas acima, mas
davam botinadas em penca.
O time brasileiro, por sua vez, se mantinha ferozmente dentro dos limites rígidos da
esportividade e apresentou as mesmas qualidades que admirava no futebol europeu,
principalmente no inglês. Por isso, deve-se assinalar a alternativa “b”.
TEXTO
                                   teoria da literatura no ENEM
A palavra tatuagem é relativamente recente. Toda a gente sabe que foi o navegador Cook que a
introduziu no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo da Polinésia de tatou ou tutahou,
“desenho”.
Desde os mais remotos tempos, vemo-la a transformar-se: distintivo honorífico entre uns
homens, ferrete de ignomínia entre outros, meio de assustar o adversário para os bretões,
marca de uma classe de selvagens das ilhas marquesas (...) sinal de amor, de desprezo, de ódio
(...). Há três casos de tatuagem no Rio, completamente diversos na sua significação moral: os
negros, os turcos com o fundo religioso e o bando de meretrizes, dos rufiões e dos humildes,
que se marcam por crime ou por ociosidade.
    RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos. 1904, apud: A alma encantadora das ruas, SP: Cia das Letras, 1999
QUESTÃO 07
                                             ENEM-2002
                    Com base no texto são feitas as seguintes afirmações:
João do Rio revela como a tatuagem já estava presente na cidade do Rio de Janeiro, pelo menos
desde o início do século XX, e era mais utilizada por alguns setores da população.
A tatuagem, de origem polinésia, difundiu-se no ocidente com a característica que permanece
até hoje: utilização entre os jovens com função estritamente estética.
O texto mostra como a tatuagem é uma prática que se transforma no tempo e que alcança
inúmeros sentidos nos diversos setores das sociedades e para as diferentes culturas.
                             Está CORRETO apenas o que se afirma em:
                         I                      II                 III
                                    I e II               I e III
SOLUÇÃO COMENTADA
                                 teoria da literatura no ENEM
No trecho da crônica de João do Rio, datado de 1904, mostra-se que a tatuagem já estava
presente no Rio de Janeiro, no início do século XX e era de uso específico de uma camada da
população. Por isso, o que se afirma em I é verdadeiro.
O texto evidencia, ainda, que em cada sociedade a tatuagem assume um valor cultural diferente
– motivo de honra em alguns lugares, é motivo de discriminação em outros, o que nos leva a
afirmar que o item III também é verdadeiro.
TEXTO
                                  teoria da literatura no ENEM
Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. E muito da vida, com as suas
maldades e as suas grandezas, a gente encontrava naqueles heróis e naqueles intrigantes, que
eram sempre castigados com mortes horríveis! O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a
cor local que ela punha nos seus descritivos. Quando ela queria pintar um reino era como se
estivesse falando dum engenho fabuloso. Os rios e florestas por onde andavam os seus
personagens se pareciam muito com a Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um
senhor de engenho de Pernambuco.
        José Lins do Rego. Menino de engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).
QUESTÃO 08
                                           ENEM-2003
A cor local que a personagem velha Totonha colocava em suas histórias é ilustrada, pelo autor,
na seguinte passagem
O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco.
Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações.
Era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de prodígio.
Andava léguas e léguas a pé, como uma edição viva das Mil e uma noites.
Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa, como notas explicativas.
SOLUÇÃO COMENTADA
                                 teoria da literatura no ENEM
A cor local aparece no fragmento transcrito na alternativa "a", no qual o locutor afirma que a
personagem ambienta as histórias fantásticas no interior do Nordeste.
JIVARO
                                       Rubem Braga
Um Sr. Matter, que fez uma viagem de exploração à América do Sul, conta a um jornal sua
conversa com um índio jivaro, desses que sabem reduzir a cabeça de um morto até ela ficar bem
pequenina. Queria assistir a uma dessas operações, e o índio lhe disse que exatamente ele tinha
contas a acertar com um inimigo.
O Sr. Matter:
― Não, não! Um homem, não. Faça isso com a cabeça de um macaco.
E o índio:
― Por que um macaco? Ele não me fez nenhum mal!
QUESTÃO 09
                                       ENEM-2004
O assunto de uma crônica pode ser uma experiência pessoal do cronista, uma informação
obtida por ele ou um caso imaginário. O modo de apresentar o assunto também varia: pode
ser uma descrição objetiva, uma exposição argumentativa ou uma narrativa sugestiva. Quanto
à finalidade pretendida, pode-se promover uma reflexão, definir um sentimento ou tão-
somente provocar o riso.
Na crônica O jivaro, escrita a partir da reportagem de um jornal, Rubem Braga se vale dos
seguintes elementos:

           assunto                 modo de apresentar                 finalidade
       caso imaginário              descrição objetiva              provocar o riso
      informação colhida            narrativa sugestiva           promover reflexão
      informação colhida            descrição objetiva          definir um sentimento
     experiência pessoal            narrativa sugestiva             provocar o riso
     experiência pessoal         exposição argumentativa          promover reflexão
SOLUÇÃO COMENTADA
                                teoria da literatura no ENEM
A crônica em análise nesta questão apresenta sequências predominantemente narrativas, o que
se constata pela presença de narrador, personagens, tempo, espaço, enredo e verbos de ação.
Pode-se afirmar que o objetivo do locutor é provocar a reflexão acerca do modo como o homem
[civilizado] trata os animais. Sendo assim, assinale-se a alternativa “b”.
TEXTO
                             teoria da literatura no ENEM
ÓBITO DO AUTOR: expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869,
na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era
solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos.
Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia − peneirava −
uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis
da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova:
−”Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar
chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade.
Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe
funéreo, tudo isto é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso
é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.”
                          ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas.
QUESTÃO 10
                                          ENEM-2005
Compare o texto de Machado de Assis com a ilustração de Portinari. É correto afirmar que a
ilustração do pintor
apresenta detalhes ausentes na cena descrita no texto verbal.
retrata fielmente a cena descrita por Machado de Assis.
distorce a cena descrita no romance.
expressa um sentimento inadequado à situação.
contraria o que descreve Machado de Assis.
SOLUÇÃO COMENTADA
                                 teoria da literatura no ENEM
A cena retratada por Portinari apresenta detalhes que não foram apresentados no texto
machadiano, tais como o caixão, as outras covas, a roupa dos presentes e a paisagem. Assinale-
se, pois, a alternativa “a”.
TEXTO
                              teoria da literatura no ENEM
Não se conformou: devia haver engano. (...) Com certeza havia um erro no papel do branco. Não
se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco,
entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca
arranjar carta de alforria?
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço
noutra fazenda.
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não.
                    Graciliano Ramos. Vidas secas. 91.ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.
QUESTÃO 11
                                           ENEM-2006
No fragmento transcrito, o padrão formal da linguagem convive com marcas de regionalismo e
de coloquialismo no vocabulário. Pertence à variedade do padrão formal da linguagem o
seguinte trecho:
“Não se conformou: devia haver engano”.
“e Fabiano perdeu os estribos”.
“Passar a vida inteira assim no toco”.
“entregando o que era dele de mão beijada!”.
“Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou”.
SOLUÇÃO COMENTADA
                teoria da literatura no ENEM
O padrão formal, culto, é mantido apenas na alternativa “a”.
TEXTO
                                teoria da literatura no ENEM
São Paulo vai se recensear. O governo quer saber quantas pessoas governa. A indagação atingirá
a fauna e a flora domesticadas. Bois, mulheres e algodoeiros serão reduzidos a números e
invertidos em estatísticas. O homem do censo entrará pelos bangalôs, pelas pensões, pelas
casas de barro e de cimento armado, pelo sobradinho e pelo apartamento, pelo cortiço e pelo
hotel, perguntando:
— Quantos são aqui?
Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:
— Aqui havia mulheres e criancinhas. Agora, felizmente, só há pulgas e ratos.
E outro:
— Amigo, tenho aqui esta mulher, este papagaio, esta sogra e algumas baratas. Tome nota dos
seus nomes, se quiser. Querendo levar todos, é favor...
E outro:
— Dois, cidadão, somos dois. Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está aqui, está, está! A sua
saudade jamais sairá de meu quarto e de meu peito!
                Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3. São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).
QUESTÃO 12
                                       ENEM-2008
O fragmento acima, em que há referência a um fato sócio histórico — o recenseamento —,
apresenta característica marcante do gênero crônica ao
expressar o tema de forma abstrata, evocando imagens e buscando apresentar a ideia de uma
coisa por meio de outra.
manter-se fiel aos acontecimentos, retratando os personagens em um só tempo e um só
espaço.
contar história centrada na solução de um enigma, construindo os personagens
psicologicamente e revelando-os pouco a pouco.
evocar, de maneira satírica, a vida na cidade, visando transmitir ensinamentos práticos do
cotidiano, para manter as pessoas informadas.
valer-se de tema do cotidiano como ponto de partida para a construção de texto que recebe
tratamento estético.
SOLUÇÃO COMENTADA
                                  teoria da literatura no ENEM
A crônica é a única espécime literária em que o locutor parte de um evento do real e o reelabora
artisticamente. A definição que mais se aproxima da anterior é a transcrita na alternativa “e”.
TEXTO
                                  teoria da literatura no ENEM
A velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um acontecimento para a
meninada... Que talento ela possuía para contar as suas histórias, com um jeito admirável de
falar em nome de todos os personagens, sem nenhum dente na boca, e com uma voz que dava
todos os tons às palavras!
Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. E muito da vida, com as suas
maldades e as suas grandezas, a gente encontrava naqueles heróis e naqueles intrigantes, que
eram sempre castigados com mortes horríveis! O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a
cor local que ela punha nos seus descritivos. Quando ela queria pintar um reino era como se
estivesse falando dum engenho fabuloso. Os rios e florestas por onde andavam os seus
personagens se pareciam muito com a Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um
senhor de engenho de Pernambuco.
        José Lins do Rego. Menino de engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).
QUESTÃO 13
                                           ENEM-2008
Na construção da personagem “velha Totonha”, é possível identificar traços que revelam
marcas do processo de colonização e de civilização do país. Considerando o texto acima,
infere-se que a velha Totonha
tira o seu sustento da produção da literatura, apesar de suas condições de vida e de trabalho,
que denotam que ela enfrenta situação econômica muito adversa.
compõe, em suas histórias, narrativas épicas e realistas da história do país colonizado, livres da
influência de temas e modelos não representativos da realidade nacional.
retrata, na constituição do espaço dos contos, a civilização urbana europeia em concomitância
com a representação literária de engenhos, rios e florestas do Brasil.
aproxima-se, ao incluir elementos fabulosos nos contos, do próprio romancista, o qual pretende
retratar a realidade brasileira de forma tão grandiosa quanto a europeia.
imprime marcas da realidade local a suas narrativas, que têm como modelo e origem as fontes
da literatura e da cultura europeia universalizada.
SOLUÇÃO COMENTADA
                                  teoria da literatura no ENEM
A personagem Velha Totonha conta histórias de origem europeia [contos de fadas], adaptando-
os à realidade local, principalmente no que diz respeito às notações espaciais. Assinale-se, pois,
a alternativa “e”.
TEXTO
                                  teoria da literatura no ENEM
Acordei pela madrugada. A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente
dormir. Inútil, o sono esgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava das três. Restava-
me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco. Veio-me então o desejo de
não passar mais nem uma hora naquela casa. Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas
cadeias de disciplina e de amor.
Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me e,
voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama.
Minha avó continuava dormindo. Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras... Que
me custava acordá-la, dizer-lhe adeus?
          LINS, O. A partida. Melhores contos. Seleção e prefácio de Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003.
QUESTÃO 14
                                            ENEM-2009
No texto, o personagem narrador, na iminência da partida, descreve a sua hesitação em
separar-se da avó. Esse sentimento contraditório fica claramente expresso no trecho:
“A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir”.
“Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco”.
“Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama”.
“Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e amor”.
“Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras...”.
SOLUÇÃO COMENTADA
                                  teoria da literatura no ENEM
A hesitação entre cortar os vínculos [fugir] ou mantê-los [falar com ela] está expressa na frase
transcrita na alternativa “e”.
TEXTO
                              teoria da literatura no ENEM
[...] já foi o tempo em que via a convivência como viável, só exigindo deste bem comum,
piedosamente, o meu quinhão, já foi o tempo em que consentia num contrato, deixando muitas
coisas de fora sem ceder contudo no que me era vital, já foi o tempo em que reconhecia a
existência escandalosa de imaginados valores, coluna vertebral de toda ‘ordem’; mas não tive
sequer o sopro necessário, e, negado o respiro, me foi imposto o sufoco; é esta consciência que
me libera, é ela hoje que me empurra, são outras agora minhas preocupações, é hoje outro o
meu universo de problemas; num mundo estapafúrdio — definitivamente fora de foco — cedo
ou tarde tudo acaba se reduzindo a um ponto de vista, e você que vive paparicando as ciências
humanas, nem suspeita que paparica uma piada: impossível ordenar o mundo dos valores,
ninguém arruma a casa do capeta; me recuso pois a pensar naquilo em que não mais acredito,
seja o amor, a amizade, a família, a igreja, a humanidade; me lixo com tudo isso! me apavora
ainda a existência, mas não tenho medo de ficar sozinho, foi conscientemente que escolhi o
exílio, me bastando hoje o cinismo dos grandes indiferentes [...].
                    NASSAR, R. Um copo de cólera. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
TEXTO
                                   teoria da literatura no ENEM
Raduan Nassar lançou a novela Um copo de cólera em 1978, fervilhante narrativa de um
confronto verbal entre amantes, em que a fúria das palavras cortantes se estilhaçava no ar. O
embate conjugal ecoava o autoritário discurso do poder e da submissão de um Brasil que vivia
sob o jugo da ditadura militar.
     COMODO, R. Um silêncio inquietante. IstoÉ. Disponível em: http://www.terra.com.br. Acesso em: 15 jul. 2009.
QUESTÃO 15
                                          ENEM-2009
Considerando-se os textos apresentados e o contexto político e social no qual foi produzida a
obra Um copo de cólera, verifica-se que o narrador, ao dirigir-se à sua parceira, nessa novela,
tece um discurso
conformista, que procura defender as instituições nas quais repousava a autoridade do regime
militar no Brasil, a saber: a Igreja, a família e o Estado.
pacifista, que procura defender os ideais libertários representativos da intelectualidade
brasileira opositora à ditadura militar na década de 70 do século passado.
desmistificador, escrito em um discurso ágil e contundente, que critica os grandes princípios
humanitários supostamente defendidos por sua interlocutora.
politizado, pois apela para o engajamento nas causas sociais e para a defesa dos direitos
humanos como uma única forma de salvamento para a humanidade.
contraditório, ao acusar a sua interlocutora de compactuar com o regime repressor da ditadura
militar, por meio da defesa de instituições como a família e a Igreja.
SOLUÇÃO COMENTADA
                                teoria da literatura no ENEM
Não há complacência por parte do locutor. Por intermédio de um discurso cáustico, ele acaba
por criticar os ideais de humanidade, bondade e certeza. Marque-se, pois, a alternativa “c”.
QUESTÃO 16
                                         ENEM-2009
Na novela Um copo de cólera, o autor lança mão de recursos estilísticos e expressivos típicos
da literatura produzida na década de 70 do século passado no Brasil, que, nas palavras do
crítico Antonio Candido, aliam “vanguarda estética e amargura política”. Com relação à
temática abordada e à concepção narrativa da novela, o texto I
é escrito em terceira pessoa, com narrador onisciente, apresentando a disputa entre um homem
e uma mulher em linguagem sóbria, condizente com a seriedade da temática político-social do
período da ditadura militar.
articula o discurso dos interlocutores em torno de uma luta verbal, veiculada por meio de
linguagem simples e objetiva, que busca traduzir a situação de exclusão social do narrador.
representa a literatura dos anos 70 do século XX e aborda, por meio de expressão clara e
objetiva e de ponto de vista distanciado, os problemas da urbanização das grandes metrópoles
brasileiras.
evidencia uma crítica à sociedade em que vivem os personagens, por meio de fluxo verbal
contínuo de tom agressivo.
traduz, em linguagem subjetiva e intimista, a partir do ponto de vista interno, os dramas
psicológicos da mulher moderna, às voltas com a questão da priorização do trabalho em
detrimento da vida familiar e amorosa.
SOLUÇÃO COMENTADA
                                 teoria da literatura no ENEM
Assinale-se a alternativa “d”, porque, no fragmento 01, há um locutor de primeira pessoa que,
por intermédio de uma linguagem altamente agressiva e contínua [fluxo de consciência] faz
considerações críticas acerca da sociedade.
INSTRUÇÃO
teoria da literatura no ENEM
Leia atentamente o poema a seguir.
TEXTO
                  teoria da literatura no ENEM
                             Ó meio-dia confuso,
                        ó vinte-e-um de abril sinistro,
                       que intrigas de ouro e de sonho
                          houve em tua formação?
                        Quem ordena, julga e pune?
                        Quem é culpado e inocente?
                          Na mesma cova do tempo
                           cai o castigo e o perdão.
                         Morre a tinta das sentenças
                        e o sangue dos enforcados...
                          — liras, espadas e cruzes
                             pura cinza agora são.
                        Na mesma cova, as palavras,
                            o secreto pensamento,
                          as coroas e os machados,
                          mentira e verdade estão.
MEIRELES, C. Romanceiro da Inconfi dência. Rio de Janeiro: Aguilar, 1972. (fragmento)
QUESTÃO 17
                                          ENEM-2009
O poema de Cecília Meireles tem como ponto de partida um fato da história nacional, a
Inconfidência Mineira. Nesse poema, a relação entre texto literário e contexto histórico indica
que a produção literária é sempre uma recriação da realidade, mesmo quando faz referência a
um fato histórico determinado. No poema de Cecília Meireles, a recriação se concretiza por
meio
do questionamento da ocorrência do próprio fato, que, recriado, passa a existir como forma
poética desassociada da história nacional.
da descrição idealizada e fantasiosa do fato histórico, transformado em batalha épica que exalta
a força dos ideais dos Inconfidentes.
da recusa da autora de inserir nos versos o desfecho histórico do movimento da Inconfidência: a
derrota, a prisão e a morte dos Inconfidentes.
do distanciamento entre o tempo da escrita e o da Inconfidência, que, questionada
poeticamente, alcança sua dimensão histórica mais profunda.
do caráter trágico, que, mesmo sem corresponder à realidade, foi atribuído ao fato histórico
pela autora, a fim de exaltar o heroísmo dos Inconfidentes.
SOLUÇÃO COMENTADA
                                  teoria da literatura no ENEM
A forma como o poema, publicado em 1953, retoma os eventos ligados à Inconfidência Mineira
demonstra que a autora não se preocupou em relatar exatamente o que aconteceu, mas em
apresentar uma versão artística daquele episódio da história nacional. Ao evocar o 21 de abril —
dia de 1792 em que Tiradentes foi enforcado —, o texto mostra que, com o passar dos anos, os
fatos da Inconfidência vão caindo na “cova do tempo” e ficando cada vez mais indistintos:
misturam-se então “culpado e inocente”, “mentira e verdade”, “castigo e perdão”. Ao ser
cantado em verso, aquele movimento político atingiu uma dimensão histórica profunda,
inserindo-se no imaginário do povo brasileiro, igualando-se a grandes eventos da civilização
ocidental que motivaram poemas, tais como: a Guerra de Tróia, tema da Ilíada, e o retorno de
Ulisses a Ítaca, tema da A Odisséia (ambos poemas do grego Homero); a viagem de Vasco da
Gama às Índias e Os Lusíadas, de Luís de Camões. Assinale-se, pois, a alternativa “d”.
TEXTO
                             teoria da literatura no ENEM
Principiei a leitura de má vontade. E logo emperrei na história de um menino vadio que,
dirigindo-se à escola, se retardava a conversar com os passarinhos e recebia deles opiniões
sisudas e bons conselhos. Em seguida vinham outros irracionais, igualmente bem-intencionados
e bem falantes. Havia a moscazinha que morava na parede de uma chaminé e voava à toa,
desobedecendo às ordens maternas, e tanto voou que afinal caiu no fogo. Esses contos me
intrigaram com o [livro] Barão de Macaúbas. Infelizmente um doutor, utilizando bichinhos,
impunha-nos a linguagem dos doutores. — Queres tu brincar comigo? O passarinho, no galho,
respondia com preceito e moral, e a mosca usava adjetivos colhidos no dicionário. A figura do
barão manchava o frontispício do livro, e a gente percebia que era dele o pedantismo atribuído
à mosca e ao passarinho. Ridículo um indivíduo hirsuto e grave, doutor e barão, pipilar
conselhos, zumbir admoestações.
                       RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1986 (adaptado).
TEXTO
                                 teoria da literatura no ENEM
Dado que a literatura, como a vida, ensina na medida em que atua com toda sua gama, é
artificial querer que ela funcione como os manuais de virtude e boa conduta. E a sociedade não
pode senão escolher o que em cada momento lhe parece adaptado aos seus fins, enfrentando
ainda assim os mais curiosos paradoxos, pois mesmo as obras consideradas indispensáveis para
a formação do moço trazem frequentemente o que as convenções desejariam banir. Aliás, essa
espécie de inevitável contrabando é um dos meios por que o jovem entra em contato com
realidades que se tenciona escamotear-lhe.
        CANDIDO, A. A literatura e a formação do homem. Duas Cidades. São Paulo: Ed. 34, 2002 (adaptado).
QUESTÃO 18
                                         ENEM-2009
Os dois textos acima, com enfoques diferentes, abordam um mesmo problema, que se refere,
simultaneamente, ao campo literário e ao social. Considerando-se a relação entre os dois
textos, verifica-se que eles têm em comum o fato de que
tratam do mesmo tema, embora com opiniões divergentes, expressas no primeiro texto por
meio da ficção e, no segundo, por análise sociológica.
foi usada, em ambos, linguagem de caráter moralista em defesa de uma mesma tese: a
literatura, muitas vezes, é nociva à formação do jovem estudante.
são utilizadas linguagens diferentes nos dois textos, que apresentam um mesmo ponto de vista:
a literatura deixa ver o que se pretende esconder.
a linguagem figurada é predominante em ambos, embora o primeiro seja uma fábula e o
segundo, um texto científico.
o tom humorístico caracteriza a linguagem de ambos os textos, em que se defende o caráter
pedagógico da literatura.
SOLUÇÃO COMENTADA
                                 teoria da literatura no ENEM
Assinale-se a alternativa “c”, pois tanto o texto de Graciliano Ramos quanto o de Antonio
Candido apontam para o caráter pedagógico, didático, didático que a literatura pode vir a ter.
TEXTO
                                           teoria da literatura no ENEM
                                                     NEGRINHA
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos
ruços e olhos assustados.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da
cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de
crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo
na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de
balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências,
discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma – “dama de grandes virtudes apostólicas,
esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo.
Ótima, a dona Inácia.
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. [...]
A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora
senhora de escravos – e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau.
Nunca se afizera ao regime novo – essa indecência de negro igual.
LOBATO, Monteiro. Negrinha. In.: Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. [fragmento]
QUESTÃO 19
                                           ENEM-2010
A narrativa focaliza um momento histórico-social de valores contraditórios. Essa contradição
infere-se, no contexto, pela
falta de aproximação entre a menina e a senhora, preocupada com as amigas.
receptividade da senhora para com os padres, mas deselegante para com as beatas.
ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa com as crianças.
resistência da senhora em aceitar a liberdade dos negros, evidenciada no final do texto.
rejeição aos criados por parte da senhora, que preferia tratá-los com castigos.
SOLUÇÃO COMENTADA
                                  teoria da literatura no ENEM
A contradição presente no texto se refere ao fato de, numa sociedade de iguais, a senhora tratar
os negros como diferentes. Assinale-se, pois, a alternativa “d”.

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Gênero épico no enem

  • 1. teoria da literatura Gênero épico no ENEM Manoel Neves
  • 2. INSTRUÇÃO teoria da literatura no ENEM O autor do texto a seguir critica, ainda que em linguagem metafórica, a sociedade contemporânea em relação aos seus hábitos alimentares.
  • 3. TEXTO teoria da literatura no ENEM Vocês que têm mais de 15 anos, se lembram quando a gente comprava leite em garrafa, na leiteria da esquina? [...] Mas vocês não se lembram de nada, pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem o que é leite. Estou falando isso porque agora mesmo peguei um pacote de leite – leite em pacote, imagina, Tereza! – na porta dos fundos e estava escrito que é pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem vitamina, é garantido pela embromatologia, foi enriquecido e o escambau. Será que isso é mesmo leite? No dicionário diz que leite é outra coisa: ‘Líquido branco, contendo água, proteína, açúcar e sais minerais’. Um alimento pra ninguém botar defeito. O ser humano o usa há mais de 5.000 anos. É o único alimento só alimento. A carne serve pro animal andar, a fruta serve pra fazer outra fruta, o ovo serve pra fazer outra galinha [...] O leite é só leite. Ou toma ou bota fora. Esse aqui examinando bem, é só pra botar fora. Tem chumbo, tem benzina, tem mais água do que leite, tem serragem, sou capaz de jurar que nem vaca tem por trás desse negócio. Depois o pessoal ainda acha estranho que os meninos não gostem de leite. Mas, como não gostam? Não gostam como? Nunca tomaram! Múúúúúúú! FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo, 22 de agosto de 1999.
  • 4. QUESTÃO 01 ENEM-2000 A crítica do autor é dirigida: ao desconhecimento, pelas novas gerações, da importância do gado leiteiro para a economia nacional. à diminuição da produção de leite após o desenvolvimento de tecnologias que têm substituído os produtos naturais por produtos artificiais. à artificialização abusiva de alimentos tradicionais, com perda de critério para julgar sua qualidade e sabor. à permanência de hábitos alimentares a partir da revolução agrícola e da domesticação de animais iniciada há 5.000 anos. à importância dada ao pacote de leite para a conservação de um produto perecível e que necessita de aperfeiçoamento tecnológico.
  • 5. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM Logo nos primeiros parágrafos, percebe-se que a temática do texto é a sociedade contemporânea. A crônica contrapõe presente a passado. O elemento que propicia a comparação é o leite. Afirma-se que o leite moderno é de má qualidade. A perda de qualidade se justifica porque, neste leite, segundo o locutor, tem chumbo, tem benzina, tem mais água do que leite, tem serragem. Tais elementos, segundo a argumentação do locutor, fizeram o leite perder a qualidade e o sabor. Assinale-se, pois, a alternativa “c”.
  • 6. QUESTÃO 02 ENEM-2000 A palavra embromatologia usada pelo autor é: um termo científico que significa estudo dos bromatos. uma composição do termo de gíria “embromação” (enganação) com bromatologia, que é o estudo dos alimentos. uma junção do termo de gíria “embromação” (enganação) com lactologia, que é o estudo das embalagens para leite. um neologismo da química orgânica que significa a técnica de retirar bromatos dos laticínios. uma corruptela de termo da agropecuária que significa a ordenha mecânica.
  • 7. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM O neologismo embromatologia, apesar de derivado de bromatologia [estudo dos alimentos] remete, no texto, imediatamente, ao substantivo embromar [regionalismo que significa enganar, calotear usando de lábia]. Assinale-se, pois, a alternativa “b”.
  • 8. QUESTÃO 03 ENEM-2001 Os provérbios constituem um produto da sabedoria popular e, em geral, pretendem transmitir um ensinamento. A alternativa em que os dois provérbios remetem a ensinamentos semelhantes é: “Quem diz o que quer, ouve o que não quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe parece”. “Devagar se vai ao longe” e “De grão em grão, a galinha enche o papo”. “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando” e “Não se deve atirar pérolas aos porcos”. “Quem casa quer casa” e “Santo de casa não faz milagre”. “Quem com ferro fere, com ferro será ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de pau”.
  • 9. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM Em “a”, o provérbio Quem diz o que quer, ouve o que não quer sugere que se deve assumir a responsabilidade por aquilo que se faz. Já Quem ama o feio, bonito lhe parece sugere que o amor cega as pessoas. Em “b”, o provérbio Devagar se vai ao longe sugere que se deve ter paciência. O provérbio De grão em grão, a galinha enche o papo também sugere que se deve ser perseverante, paciente. Assinale-se, pois, a alternativa “b”. Em “c”, o provérbio Mais vale um pássaro na mão do que dois voando sugere que se deve valorizar aquilo que se tem. Já Não se deve atirar pérolas aos porcos sugere que não se deve perder tempo em tarefas inúteis. Em “d”, o provérbio Quem casa quer casa indica, quase que literalmente, que as pessoas que casam almejam uma vida a dois e as responsabilidades advindas dessa escolha. Já em Santo de casa não faz milagre, sugere-se que não se deve esperar muito das pessoas mais próximas. Em “e”, o provérbio Quem com ferro fere, com ferro será ferido indica que quem comete uma má ação receberá a mesma em troca. Já Casa de ferreiro, espeto de pau, sugere-se que as pessoas, em geral, não usam as habilidades que possuem em benefício próprio.
  • 10. MIGUILIM João Guimarães Rosa De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo. – Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome? – Miguilim. Eu sou irmão do Dito. – E o seu irmão Dito é o dono daqui? – Não, meu senhor. O Ditinho está em glória. O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zelado, manteúdo, formoso como nenhum outro. Redizia: – Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda... Mas que é que há, Miguilim? Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava.
  • 11. MIGUILIM João Guimarães Rosa – Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa? – É Mãe, e os meninos... Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos. O senhor alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada. O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: ... Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?. ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
  • 12. QUESTÃO 04 ENEM-2002 Esta história, com narrador observador em terceira pessoa, apresenta os acontecimentos da perspectiva de Miguilim. O fato de o ponto de vista do narrador ter Miguilim como referência, inclusive espacial, fica explicitado em: O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos, corado, alto (...) O homem esbarrava o avanço do cavalo, (...) Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, (...) Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos
  • 13. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM O advérbio de lugar cá indica proximidade [no trecho em que aparece, indica o lugar de onde o locutor emite o discurso]. Como no enunciado da questão afirma-se que o narrador de terceira pessoa apresenta a história sob a perspectiva de Miguilim e esta personagem é a protagonista do trecho em questão, deve-se assinalar a alternativa “a”.
  • 14. TEXTO teoria da literatura no ENEM Narizinho correu os olhos pela assistência. Não podia haver nada mais curioso. Besourinhos de fraque e flores na lapela conversavam com baratinhas de mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas douradas, verdes e azuis, falavam mal das vespas de cintura fina – achando que era exagero usarem coletes tão apertados. Sardinhas aos centos criticavam os cuidados excessivos que as borboletas de toucados de gaze tinham com o pó das suas asas. Mamangavas de ferrões amarrados para não morderem. E canários cantando, e beija-flores beijando flores, e camarões camaronando, e caranguejos caranguejando, tudo que é pequenino e não morde, pequeninando e não mordendo. LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Brasiliense, 1947.
  • 15. QUESTÃO 05 ENEM-2002 No último período do trecho, há uma série de verbos no gerúndio que contribuem para caracterizar o ambiente fantástico descrito. Expressões como “camaronando”, “caranguejando” e “pequeninando e não mordendo” criam, principalmente, efeitos de esvaziamento de sentido. monotonia do ambiente. estaticidade dos animais. interrupção dos movimentos. dinamicidade do cenário.
  • 16. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM Posto que o gerúndio indica uma ação que transcorre no momento em que se fala, infere-se que o uso do gerúndio, nos fragmentos destacados no enunciado da questão, sugerem o movimento dos seres e, por extensão, a dinamicidade do cenário. Por isso, assinale-se a alternativa “e”.
  • 17. INSTRUÇÃO teoria da literatura no ENEM Em 1958, a seleção brasileira foi campeã mundial pela primeira vez. O texto foi extraído da crônica “A alegria de ser brasileiro”, do dramaturgo Nelson Rodrigues, publicada naquele ano pelo jornal Última hora.
  • 18. TEXTO teoria da literatura no ENEM Agora, com a chegada da equipe imortal, as lágrimas rolam. Convenhamos que a seleção as merece. Merece por tudo: não só pelo futebol, que foi o mais belo que os olhos mortais já contemplaram, como também pelo seu maravilhoso índice disciplinar. Até este Campeonato, o brasileiro julgava-se um cafajeste nato e hereditário. Olhava o inglês e tinha-lhe inveja. Achava o inglês o sujeito mais fino, mais sóbrio, de uma polidez e de uma cerimônia inenarráveis. E, súbito, há o Mundial. Todo mundo baixou o sarrafo no Brasil. Suecos, britânicos, alemães, franceses, checos, russos, davam botinadas em penca. Só o brasileiro se mantinha ferozmente dentro dos limites rígidos da esportividade. Então, se verificou o seguinte: o inglês, tal como o concebíamos, não existe. O único inglês que apareceu no Mundial foi o brasileiro. Por tantos motivos, vamos perder a vergonha (...), vamos sentar no meio-fio e chorar. Porque é uma alegria ser brasileiro, amigos. LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Brasiliense, 1947.
  • 19. QUESTÃO 06 ENEM-2002 Além de destacar a beleza do futebol brasileiro, Nelson Rodrigues quis dizer que o comportamento dos jogadores dentro do campo foi prejudicial para a equipe e quase pôs a perder a conquista da copa do mundo. mostrou que os brasileiros tinham as mesmas qualidades que admiravam nos europeus, principalmente nos ingleses. ressaltou o sentimento de inferioridade dos jogadores brasileiros em relação aos europeus, o que os impediu de revidar as agressões sofridas. mostrou que o choro poderia aliviar o sentimento de que os europeus eram superiores aos brasileiros. mostrou que os brasileiros eram iguais aos europeus, podendo comportar-se como eles, que não respeitavam os limites da esportividade.
  • 20. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM No fragmento da crônica “A alegria de ser brasileiro”, afirma-se que o brasileiro invejava o futebol inglês, pela sua fineza, sobriedade, polidez e cerimônia. Durante a Copa do Mundo, entretanto, verificou-se que os europeus [e, principalmente, os ingleses], diante do futebol brasileiro, não mantiveram as características aludidas acima, mas davam botinadas em penca. O time brasileiro, por sua vez, se mantinha ferozmente dentro dos limites rígidos da esportividade e apresentou as mesmas qualidades que admirava no futebol europeu, principalmente no inglês. Por isso, deve-se assinalar a alternativa “b”.
  • 21. TEXTO teoria da literatura no ENEM A palavra tatuagem é relativamente recente. Toda a gente sabe que foi o navegador Cook que a introduziu no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo da Polinésia de tatou ou tutahou, “desenho”. Desde os mais remotos tempos, vemo-la a transformar-se: distintivo honorífico entre uns homens, ferrete de ignomínia entre outros, meio de assustar o adversário para os bretões, marca de uma classe de selvagens das ilhas marquesas (...) sinal de amor, de desprezo, de ódio (...). Há três casos de tatuagem no Rio, completamente diversos na sua significação moral: os negros, os turcos com o fundo religioso e o bando de meretrizes, dos rufiões e dos humildes, que se marcam por crime ou por ociosidade. RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos. 1904, apud: A alma encantadora das ruas, SP: Cia das Letras, 1999
  • 22. QUESTÃO 07 ENEM-2002 Com base no texto são feitas as seguintes afirmações: João do Rio revela como a tatuagem já estava presente na cidade do Rio de Janeiro, pelo menos desde o início do século XX, e era mais utilizada por alguns setores da população. A tatuagem, de origem polinésia, difundiu-se no ocidente com a característica que permanece até hoje: utilização entre os jovens com função estritamente estética. O texto mostra como a tatuagem é uma prática que se transforma no tempo e que alcança inúmeros sentidos nos diversos setores das sociedades e para as diferentes culturas. Está CORRETO apenas o que se afirma em: I II III I e II I e III
  • 23. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM No trecho da crônica de João do Rio, datado de 1904, mostra-se que a tatuagem já estava presente no Rio de Janeiro, no início do século XX e era de uso específico de uma camada da população. Por isso, o que se afirma em I é verdadeiro. O texto evidencia, ainda, que em cada sociedade a tatuagem assume um valor cultural diferente – motivo de honra em alguns lugares, é motivo de discriminação em outros, o que nos leva a afirmar que o item III também é verdadeiro.
  • 24. TEXTO teoria da literatura no ENEM Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. E muito da vida, com as suas maldades e as suas grandezas, a gente encontrava naqueles heróis e naqueles intrigantes, que eram sempre castigados com mortes horríveis! O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela punha nos seus descritivos. Quando ela queria pintar um reino era como se estivesse falando dum engenho fabuloso. Os rios e florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito com a Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco. José Lins do Rego. Menino de engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).
  • 25. QUESTÃO 08 ENEM-2003 A cor local que a personagem velha Totonha colocava em suas histórias é ilustrada, pelo autor, na seguinte passagem O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco. Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. Era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de prodígio. Andava léguas e léguas a pé, como uma edição viva das Mil e uma noites. Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa, como notas explicativas.
  • 26. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM A cor local aparece no fragmento transcrito na alternativa "a", no qual o locutor afirma que a personagem ambienta as histórias fantásticas no interior do Nordeste.
  • 27. JIVARO Rubem Braga Um Sr. Matter, que fez uma viagem de exploração à América do Sul, conta a um jornal sua conversa com um índio jivaro, desses que sabem reduzir a cabeça de um morto até ela ficar bem pequenina. Queria assistir a uma dessas operações, e o índio lhe disse que exatamente ele tinha contas a acertar com um inimigo. O Sr. Matter: ― Não, não! Um homem, não. Faça isso com a cabeça de um macaco. E o índio: ― Por que um macaco? Ele não me fez nenhum mal!
  • 28. QUESTÃO 09 ENEM-2004 O assunto de uma crônica pode ser uma experiência pessoal do cronista, uma informação obtida por ele ou um caso imaginário. O modo de apresentar o assunto também varia: pode ser uma descrição objetiva, uma exposição argumentativa ou uma narrativa sugestiva. Quanto à finalidade pretendida, pode-se promover uma reflexão, definir um sentimento ou tão- somente provocar o riso. Na crônica O jivaro, escrita a partir da reportagem de um jornal, Rubem Braga se vale dos seguintes elementos: assunto modo de apresentar finalidade caso imaginário descrição objetiva provocar o riso informação colhida narrativa sugestiva promover reflexão informação colhida descrição objetiva definir um sentimento experiência pessoal narrativa sugestiva provocar o riso experiência pessoal exposição argumentativa promover reflexão
  • 29. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM A crônica em análise nesta questão apresenta sequências predominantemente narrativas, o que se constata pela presença de narrador, personagens, tempo, espaço, enredo e verbos de ação. Pode-se afirmar que o objetivo do locutor é provocar a reflexão acerca do modo como o homem [civilizado] trata os animais. Sendo assim, assinale-se a alternativa “b”.
  • 30. TEXTO teoria da literatura no ENEM ÓBITO DO AUTOR: expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia − peneirava − uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: −”Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isto é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.” ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas.
  • 31.
  • 32. QUESTÃO 10 ENEM-2005 Compare o texto de Machado de Assis com a ilustração de Portinari. É correto afirmar que a ilustração do pintor apresenta detalhes ausentes na cena descrita no texto verbal. retrata fielmente a cena descrita por Machado de Assis. distorce a cena descrita no romance. expressa um sentimento inadequado à situação. contraria o que descreve Machado de Assis.
  • 33. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM A cena retratada por Portinari apresenta detalhes que não foram apresentados no texto machadiano, tais como o caixão, as outras covas, a roupa dos presentes e a paisagem. Assinale- se, pois, a alternativa “a”.
  • 34. TEXTO teoria da literatura no ENEM Não se conformou: devia haver engano. (...) Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria? O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda. Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Graciliano Ramos. Vidas secas. 91.ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.
  • 35. QUESTÃO 11 ENEM-2006 No fragmento transcrito, o padrão formal da linguagem convive com marcas de regionalismo e de coloquialismo no vocabulário. Pertence à variedade do padrão formal da linguagem o seguinte trecho: “Não se conformou: devia haver engano”. “e Fabiano perdeu os estribos”. “Passar a vida inteira assim no toco”. “entregando o que era dele de mão beijada!”. “Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou”.
  • 36. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM O padrão formal, culto, é mantido apenas na alternativa “a”.
  • 37. TEXTO teoria da literatura no ENEM São Paulo vai se recensear. O governo quer saber quantas pessoas governa. A indagação atingirá a fauna e a flora domesticadas. Bois, mulheres e algodoeiros serão reduzidos a números e invertidos em estatísticas. O homem do censo entrará pelos bangalôs, pelas pensões, pelas casas de barro e de cimento armado, pelo sobradinho e pelo apartamento, pelo cortiço e pelo hotel, perguntando: — Quantos são aqui? Pergunta triste, de resto. Um homem dirá: — Aqui havia mulheres e criancinhas. Agora, felizmente, só há pulgas e ratos. E outro: — Amigo, tenho aqui esta mulher, este papagaio, esta sogra e algumas baratas. Tome nota dos seus nomes, se quiser. Querendo levar todos, é favor... E outro: — Dois, cidadão, somos dois. Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está aqui, está, está! A sua saudade jamais sairá de meu quarto e de meu peito! Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3. São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).
  • 38. QUESTÃO 12 ENEM-2008 O fragmento acima, em que há referência a um fato sócio histórico — o recenseamento —, apresenta característica marcante do gênero crônica ao expressar o tema de forma abstrata, evocando imagens e buscando apresentar a ideia de uma coisa por meio de outra. manter-se fiel aos acontecimentos, retratando os personagens em um só tempo e um só espaço. contar história centrada na solução de um enigma, construindo os personagens psicologicamente e revelando-os pouco a pouco. evocar, de maneira satírica, a vida na cidade, visando transmitir ensinamentos práticos do cotidiano, para manter as pessoas informadas. valer-se de tema do cotidiano como ponto de partida para a construção de texto que recebe tratamento estético.
  • 39. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM A crônica é a única espécime literária em que o locutor parte de um evento do real e o reelabora artisticamente. A definição que mais se aproxima da anterior é a transcrita na alternativa “e”.
  • 40. TEXTO teoria da literatura no ENEM A velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um acontecimento para a meninada... Que talento ela possuía para contar as suas histórias, com um jeito admirável de falar em nome de todos os personagens, sem nenhum dente na boca, e com uma voz que dava todos os tons às palavras! Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. E muito da vida, com as suas maldades e as suas grandezas, a gente encontrava naqueles heróis e naqueles intrigantes, que eram sempre castigados com mortes horríveis! O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela punha nos seus descritivos. Quando ela queria pintar um reino era como se estivesse falando dum engenho fabuloso. Os rios e florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito com a Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco. José Lins do Rego. Menino de engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).
  • 41. QUESTÃO 13 ENEM-2008 Na construção da personagem “velha Totonha”, é possível identificar traços que revelam marcas do processo de colonização e de civilização do país. Considerando o texto acima, infere-se que a velha Totonha tira o seu sustento da produção da literatura, apesar de suas condições de vida e de trabalho, que denotam que ela enfrenta situação econômica muito adversa. compõe, em suas histórias, narrativas épicas e realistas da história do país colonizado, livres da influência de temas e modelos não representativos da realidade nacional. retrata, na constituição do espaço dos contos, a civilização urbana europeia em concomitância com a representação literária de engenhos, rios e florestas do Brasil. aproxima-se, ao incluir elementos fabulosos nos contos, do próprio romancista, o qual pretende retratar a realidade brasileira de forma tão grandiosa quanto a europeia. imprime marcas da realidade local a suas narrativas, que têm como modelo e origem as fontes da literatura e da cultura europeia universalizada.
  • 42. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM A personagem Velha Totonha conta histórias de origem europeia [contos de fadas], adaptando- os à realidade local, principalmente no que diz respeito às notações espaciais. Assinale-se, pois, a alternativa “e”.
  • 43. TEXTO teoria da literatura no ENEM Acordei pela madrugada. A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir. Inútil, o sono esgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava das três. Restava- me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco. Veio-me então o desejo de não passar mais nem uma hora naquela casa. Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e de amor. Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me e, voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama. Minha avó continuava dormindo. Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras... Que me custava acordá-la, dizer-lhe adeus? LINS, O. A partida. Melhores contos. Seleção e prefácio de Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003.
  • 44. QUESTÃO 14 ENEM-2009 No texto, o personagem narrador, na iminência da partida, descreve a sua hesitação em separar-se da avó. Esse sentimento contraditório fica claramente expresso no trecho: “A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir”. “Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco”. “Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama”. “Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e amor”. “Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras...”.
  • 45. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM A hesitação entre cortar os vínculos [fugir] ou mantê-los [falar com ela] está expressa na frase transcrita na alternativa “e”.
  • 46. TEXTO teoria da literatura no ENEM [...] já foi o tempo em que via a convivência como viável, só exigindo deste bem comum, piedosamente, o meu quinhão, já foi o tempo em que consentia num contrato, deixando muitas coisas de fora sem ceder contudo no que me era vital, já foi o tempo em que reconhecia a existência escandalosa de imaginados valores, coluna vertebral de toda ‘ordem’; mas não tive sequer o sopro necessário, e, negado o respiro, me foi imposto o sufoco; é esta consciência que me libera, é ela hoje que me empurra, são outras agora minhas preocupações, é hoje outro o meu universo de problemas; num mundo estapafúrdio — definitivamente fora de foco — cedo ou tarde tudo acaba se reduzindo a um ponto de vista, e você que vive paparicando as ciências humanas, nem suspeita que paparica uma piada: impossível ordenar o mundo dos valores, ninguém arruma a casa do capeta; me recuso pois a pensar naquilo em que não mais acredito, seja o amor, a amizade, a família, a igreja, a humanidade; me lixo com tudo isso! me apavora ainda a existência, mas não tenho medo de ficar sozinho, foi conscientemente que escolhi o exílio, me bastando hoje o cinismo dos grandes indiferentes [...]. NASSAR, R. Um copo de cólera. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
  • 47. TEXTO teoria da literatura no ENEM Raduan Nassar lançou a novela Um copo de cólera em 1978, fervilhante narrativa de um confronto verbal entre amantes, em que a fúria das palavras cortantes se estilhaçava no ar. O embate conjugal ecoava o autoritário discurso do poder e da submissão de um Brasil que vivia sob o jugo da ditadura militar. COMODO, R. Um silêncio inquietante. IstoÉ. Disponível em: http://www.terra.com.br. Acesso em: 15 jul. 2009.
  • 48. QUESTÃO 15 ENEM-2009 Considerando-se os textos apresentados e o contexto político e social no qual foi produzida a obra Um copo de cólera, verifica-se que o narrador, ao dirigir-se à sua parceira, nessa novela, tece um discurso conformista, que procura defender as instituições nas quais repousava a autoridade do regime militar no Brasil, a saber: a Igreja, a família e o Estado. pacifista, que procura defender os ideais libertários representativos da intelectualidade brasileira opositora à ditadura militar na década de 70 do século passado. desmistificador, escrito em um discurso ágil e contundente, que critica os grandes princípios humanitários supostamente defendidos por sua interlocutora. politizado, pois apela para o engajamento nas causas sociais e para a defesa dos direitos humanos como uma única forma de salvamento para a humanidade. contraditório, ao acusar a sua interlocutora de compactuar com o regime repressor da ditadura militar, por meio da defesa de instituições como a família e a Igreja.
  • 49. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM Não há complacência por parte do locutor. Por intermédio de um discurso cáustico, ele acaba por criticar os ideais de humanidade, bondade e certeza. Marque-se, pois, a alternativa “c”.
  • 50. QUESTÃO 16 ENEM-2009 Na novela Um copo de cólera, o autor lança mão de recursos estilísticos e expressivos típicos da literatura produzida na década de 70 do século passado no Brasil, que, nas palavras do crítico Antonio Candido, aliam “vanguarda estética e amargura política”. Com relação à temática abordada e à concepção narrativa da novela, o texto I é escrito em terceira pessoa, com narrador onisciente, apresentando a disputa entre um homem e uma mulher em linguagem sóbria, condizente com a seriedade da temática político-social do período da ditadura militar. articula o discurso dos interlocutores em torno de uma luta verbal, veiculada por meio de linguagem simples e objetiva, que busca traduzir a situação de exclusão social do narrador. representa a literatura dos anos 70 do século XX e aborda, por meio de expressão clara e objetiva e de ponto de vista distanciado, os problemas da urbanização das grandes metrópoles brasileiras. evidencia uma crítica à sociedade em que vivem os personagens, por meio de fluxo verbal contínuo de tom agressivo. traduz, em linguagem subjetiva e intimista, a partir do ponto de vista interno, os dramas psicológicos da mulher moderna, às voltas com a questão da priorização do trabalho em detrimento da vida familiar e amorosa.
  • 51. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM Assinale-se a alternativa “d”, porque, no fragmento 01, há um locutor de primeira pessoa que, por intermédio de uma linguagem altamente agressiva e contínua [fluxo de consciência] faz considerações críticas acerca da sociedade.
  • 52. INSTRUÇÃO teoria da literatura no ENEM Leia atentamente o poema a seguir.
  • 53. TEXTO teoria da literatura no ENEM Ó meio-dia confuso, ó vinte-e-um de abril sinistro, que intrigas de ouro e de sonho houve em tua formação? Quem ordena, julga e pune? Quem é culpado e inocente? Na mesma cova do tempo cai o castigo e o perdão. Morre a tinta das sentenças e o sangue dos enforcados... — liras, espadas e cruzes pura cinza agora são. Na mesma cova, as palavras, o secreto pensamento, as coroas e os machados, mentira e verdade estão. MEIRELES, C. Romanceiro da Inconfi dência. Rio de Janeiro: Aguilar, 1972. (fragmento)
  • 54. QUESTÃO 17 ENEM-2009 O poema de Cecília Meireles tem como ponto de partida um fato da história nacional, a Inconfidência Mineira. Nesse poema, a relação entre texto literário e contexto histórico indica que a produção literária é sempre uma recriação da realidade, mesmo quando faz referência a um fato histórico determinado. No poema de Cecília Meireles, a recriação se concretiza por meio do questionamento da ocorrência do próprio fato, que, recriado, passa a existir como forma poética desassociada da história nacional. da descrição idealizada e fantasiosa do fato histórico, transformado em batalha épica que exalta a força dos ideais dos Inconfidentes. da recusa da autora de inserir nos versos o desfecho histórico do movimento da Inconfidência: a derrota, a prisão e a morte dos Inconfidentes. do distanciamento entre o tempo da escrita e o da Inconfidência, que, questionada poeticamente, alcança sua dimensão histórica mais profunda. do caráter trágico, que, mesmo sem corresponder à realidade, foi atribuído ao fato histórico pela autora, a fim de exaltar o heroísmo dos Inconfidentes.
  • 55. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM A forma como o poema, publicado em 1953, retoma os eventos ligados à Inconfidência Mineira demonstra que a autora não se preocupou em relatar exatamente o que aconteceu, mas em apresentar uma versão artística daquele episódio da história nacional. Ao evocar o 21 de abril — dia de 1792 em que Tiradentes foi enforcado —, o texto mostra que, com o passar dos anos, os fatos da Inconfidência vão caindo na “cova do tempo” e ficando cada vez mais indistintos: misturam-se então “culpado e inocente”, “mentira e verdade”, “castigo e perdão”. Ao ser cantado em verso, aquele movimento político atingiu uma dimensão histórica profunda, inserindo-se no imaginário do povo brasileiro, igualando-se a grandes eventos da civilização ocidental que motivaram poemas, tais como: a Guerra de Tróia, tema da Ilíada, e o retorno de Ulisses a Ítaca, tema da A Odisséia (ambos poemas do grego Homero); a viagem de Vasco da Gama às Índias e Os Lusíadas, de Luís de Camões. Assinale-se, pois, a alternativa “d”.
  • 56. TEXTO teoria da literatura no ENEM Principiei a leitura de má vontade. E logo emperrei na história de um menino vadio que, dirigindo-se à escola, se retardava a conversar com os passarinhos e recebia deles opiniões sisudas e bons conselhos. Em seguida vinham outros irracionais, igualmente bem-intencionados e bem falantes. Havia a moscazinha que morava na parede de uma chaminé e voava à toa, desobedecendo às ordens maternas, e tanto voou que afinal caiu no fogo. Esses contos me intrigaram com o [livro] Barão de Macaúbas. Infelizmente um doutor, utilizando bichinhos, impunha-nos a linguagem dos doutores. — Queres tu brincar comigo? O passarinho, no galho, respondia com preceito e moral, e a mosca usava adjetivos colhidos no dicionário. A figura do barão manchava o frontispício do livro, e a gente percebia que era dele o pedantismo atribuído à mosca e ao passarinho. Ridículo um indivíduo hirsuto e grave, doutor e barão, pipilar conselhos, zumbir admoestações. RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1986 (adaptado).
  • 57. TEXTO teoria da literatura no ENEM Dado que a literatura, como a vida, ensina na medida em que atua com toda sua gama, é artificial querer que ela funcione como os manuais de virtude e boa conduta. E a sociedade não pode senão escolher o que em cada momento lhe parece adaptado aos seus fins, enfrentando ainda assim os mais curiosos paradoxos, pois mesmo as obras consideradas indispensáveis para a formação do moço trazem frequentemente o que as convenções desejariam banir. Aliás, essa espécie de inevitável contrabando é um dos meios por que o jovem entra em contato com realidades que se tenciona escamotear-lhe. CANDIDO, A. A literatura e a formação do homem. Duas Cidades. São Paulo: Ed. 34, 2002 (adaptado).
  • 58. QUESTÃO 18 ENEM-2009 Os dois textos acima, com enfoques diferentes, abordam um mesmo problema, que se refere, simultaneamente, ao campo literário e ao social. Considerando-se a relação entre os dois textos, verifica-se que eles têm em comum o fato de que tratam do mesmo tema, embora com opiniões divergentes, expressas no primeiro texto por meio da ficção e, no segundo, por análise sociológica. foi usada, em ambos, linguagem de caráter moralista em defesa de uma mesma tese: a literatura, muitas vezes, é nociva à formação do jovem estudante. são utilizadas linguagens diferentes nos dois textos, que apresentam um mesmo ponto de vista: a literatura deixa ver o que se pretende esconder. a linguagem figurada é predominante em ambos, embora o primeiro seja uma fábula e o segundo, um texto científico. o tom humorístico caracteriza a linguagem de ambos os textos, em que se defende o caráter pedagógico da literatura.
  • 59. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM Assinale-se a alternativa “c”, pois tanto o texto de Graciliano Ramos quanto o de Antonio Candido apontam para o caráter pedagógico, didático, didático que a literatura pode vir a ter.
  • 60. TEXTO teoria da literatura no ENEM NEGRINHA Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças. Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma – “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo. Ótima, a dona Inácia. Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. [...] A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos – e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo – essa indecência de negro igual. LOBATO, Monteiro. Negrinha. In.: Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. [fragmento]
  • 61. QUESTÃO 19 ENEM-2010 A narrativa focaliza um momento histórico-social de valores contraditórios. Essa contradição infere-se, no contexto, pela falta de aproximação entre a menina e a senhora, preocupada com as amigas. receptividade da senhora para com os padres, mas deselegante para com as beatas. ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa com as crianças. resistência da senhora em aceitar a liberdade dos negros, evidenciada no final do texto. rejeição aos criados por parte da senhora, que preferia tratá-los com castigos.
  • 62. SOLUÇÃO COMENTADA teoria da literatura no ENEM A contradição presente no texto se refere ao fato de, numa sociedade de iguais, a senhora tratar os negros como diferentes. Assinale-se, pois, a alternativa “d”.