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111FEMINA | Fevereiro 2008 | vol 36 | nº 2
ATUALIZAÇÃO
ResumoAbstract
1
Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro - 33ª Enfermaria
Palavras-chave
Pré-eclâmpsia
Síndrome HELLP
Corticosteróides
Keywords
Pre-eclampsia
HELLP syndrome
Adrenal cortex hormones
Marcos Nakamura Pereira1
Carlos Antonio Barbosa Montenegro
1
Jorge Rezende Filho
1
HELLP Syndrome: Diagnosis and Management
Síndrome HELLP: diagnóstico e conduta
A síndrome HELLP é definida pela presença de hemólise, elevação de enzimas hepáticas e trombocitopenia
em gestante com toxemia. Sua incidência é estimada em aproximadamente 20% dos casos de pré-
eclampsia grave e está associada a grande morbidade materna e perinatal. O diagnóstico laboratorial
da síndrome HELLP constitui temática controversa, não havendo consenso tanto quanto aos testes
como aos valores a serem utilizados. A conduta das gestantes com síndrome HELLP deve levar em
consideração a idade gestacional, a presença de complicações maternas, a vitalidade fetal e as condições
do colo uterino. O tratamento ideal, assim como em qualquer caso de toxemia, é o parto. Recentemente,
tem-se aventado que a utilização de altas doses de corticóides pode melhorar o desfecho materno,
além do já comprovado benefício fetal.
HELLP Syndrome is defined by the presence of hemolysis, ellevated liver enzimes and thrombocytopenia
in a patient presenting with preeclampsia. The incidence of HELLP Syndrome occurs in around 20% of
patients with severe preeclampsia and is usually associated with an increased maternal and perinatal
morbidity. Laboratory diagnosis of HELLP Syndrome is controversial, and there is no consense either
to the tests or parameters to be used in that purpose. Management of patients with HELLP Syndrome
must take into consideration the gestational age, the presence of maternal complications, the fetal well
being and the cervical conditions. Delivery is the ideal treatment, as it is in any case of preeclampsia. I
has recently been suggested that he use of corticosteroids in a high-dose regimen may benefit not only
the fetal, but also the maternal outcome.
Femina_Fevereiro.indb 111Femina_Fevereiro.indb 111 8/5/08 9:40:47 AM8/5/08 9:40:47 AM
112 FEMINA | Fevereiro 2008 | vol 36 | nº 2
Síndrome HELLP: diagnóstico e conduta
Introdução
A presença de hemólise trombocitopenia e disfunção hepática em
gestantes toxêmicas foi descrita inicialmente na metade do século
passado, quando Pritchard et al.
1
, em 1954, descreveram três casos
de eclampsia em que essas alterações se faziam presentes. Em 1982,
Louis Weinstein
2
relatou 29 casos de pré-eclampsia grave complica-
dos com trombocitopenia, hemólise intravascular evidenciada pelos
achados no esfregaço de sangue periférico e alterações nos testes
de função hepática, sugerindo que as mulheres com esse quadro
laboratorial fossem distinguidas daquelas que tradicionalmente eram
classificadas com pré-eclampsia grave. A essa entidade de grave
repercussão materna e fetal ele denominou de síndrome HELLP, um
acrônimo dos três critérios estabelecidos para sua presença (H =
hemolysis; EL = elevated liver enzymes; LP = low platelets). Desde
então, vários estudos têm sido publicados sobre seu diagnóstico e
a melhor conduta a ser estabelecida frente a essa doença.
Fisiopatologia
É a toxemia gravídica uma doença em dois estágios, caracteri-
zada pela placentação defeituosa e pela disfunção endotelial. Como
forma de apresentação da pré-eclâmpsia grave, a síndrome HELLP
tem origem no desenvolvimento placentário anormal, ao qual se
segue a produção de fatores que sistemicamente promovem injúria
endotelial via ativação de plaquetas e/ou vasoconstritores.3
A lesão
endotelial dos vasos hepáticos seguida de ativação, agregação e
consumo de plaquetas, resultando em isquemia e morte dos hepa-
tócitos, é a principal hipótese para explicar o quadro laboratorial que
caracteriza a síndrome HELLP.4
Essa hipótese explicaria o achado
histopatológico clássico associado à doença: a necrose focal ou
periportal hepática com depósitos hialinos nos sinusóides.
Incidência e morbidade
A síndrome HELLP ocorre em aproximadamente 20% dos casos
de pré-eclâmpsia grave e está associada a grande morbidade materna
e perinatal, incluindo descolamento prematuro de placenta, insu-
ficiência renal, hematoma hepático subcapsular, parto prematuro,
podendo acarretar a morte da mãe e do concepto.5
Normalmente,
esta doença se desenvolve repentinamente na gestação (27-37
semanas), com rápida deterioração do quadro laboratorial; e em
15-25% dos casos pode surgir apenas no puerpério.
3
A morte ma-
terna ocorre em 1-24% dos casos6
, dependendo fundamentalmente
do suporte oferecido à gestante. Os principais eventos associados
ao óbito materno, de acordo com trabalho de Isler et al.6
, incluem
hemorragia cerebral (45%), falência cardiopulmonar (40%), coagu-
lação intravascular disseminada (39%), síndrome de desconforto
respiratório do adulto (28%), insuficiência renal (28%), sepse (23%)
e hemorragia hepática (20%), encefalopatia hipóxico-isquêmica
(16%). O desfecho perinatal não parece ser diferente daquele
encontrado na pré-eclampsia grave7
e é fortemente influenciado
pela idade gestacional e pelo peso do feto na ocasião do parto.
8
A mortalidade perinatal relatada varia de 7,4 a 20,4%, sendo a
maior parte com menos de 28 semanas, relacionando-se com o
crescimento intra-uterino restrito e o descolamento prematuro de
placenta.
9
A taxa de prematuridade é de aproximadamente 70%,
o que acarreta grande número de complicações neonatais como
síndrome de desconforto respiratório, displasia broncopulmonar,
hemorragia craniana e enterocolite necrotizante.
9
Diagnóstico e classificação
Os sinais e sintomas envolvidos na síndrome HELLP são extrema-
mente variáveis e confundem-se com aqueles da pré-eclampsia grave:
cefaléia, distúrbios visuais, mal-estar generalizado, entre outros. A dor
epigástrica ou no quadrante superior é o sintoma de mais relevância
para sugerir a existência da síndrome, estando freqüentemente
associado a náuseas e vômitos. No trabalho original de Weinstein2
,
este sintoma se fazia presente em 100% das pacientes avaliadas e
todas também apresentavam náuseas. Trabalhos posteriores não
mostraram a mesma prevalência, contudo, Martin et al.
10
demons-
traram haver maior número de gestantes com dor epigástrica ou no
quadrante superior quanto maior a gravidade do caso. Martin et al.3
defendem que esse sintoma, particularmente se associado a náuseas
e/ou vômitos, indica investigação laboratorial de síndrome HELLP.
Outra manifestação peculiar, que ocorre na maioria das mulheres,
é sensação de mal-estar nos dias que precedem à apresentação da
doença. Algumas gestantes apresentarão sintomas inespecíficos
similares a uma síndrome viral, quadro clínico que pode indicar
investigação laboratorial quando há suspeição de pré-eclampsia.
9
Como muitas pacientes podem apresentar sintomas inespecíficos
ou sinais sutis de toxemia, pode haver demora no diagnóstico
9
,
especialmente nos casos em que a hipertensão e/ou a proteinúria
estiverem ausentes, o que pode ocorrer em 18 e 10% das pacientes,
respectivamente. Este fato representa grande problema relacionado
à síndrome HELLP, já que, de acordo com estudo retrospectivo re-
alizado por Isler et al.
6
, a demora no diagnóstico esteve implicada
em 51,1% dos óbitos de mulheres com a doença.
Femina_Fevereiro.indb 112Femina_Fevereiro.indb 112 8/5/08 9:40:47 AM8/5/08 9:40:47 AM
113FEMINA | Fevereiro 2008 | vol 36 | nº 2
Síndrome HELLP: diagnóstico e conduta
Os critérios laboratoriais utilizados para diagnóstico da síndrome
HELLP constituem temática controversa. Sibai11
estabelece critérios
para o diagnóstico de cada elemento da síndrome, levando em
consideração três desvios-padrão acima da média: hemólise por
aumento do LDH > 600 U/L, aumento da bilirrubina ≥ 1,2 mg/dL
e evidência em amostra de sangue periférico; disfunção hepática
pela elevação da AST > 70 IU/L e LDH > 600 U/L; trombocitopenia
pela contagem de plaquetas < 100.000/mm3
. Entretanto, Martin
et al.10
consideram valores diferentes de contagem de plaque-
tas e de AST para o diagnóstico: nadir plaquetário ≤ 150.000/
μL; AST ou ALT ≥ 40 IU/L com LDH ≥ 600 UI/L para definir a
disfunção hepática; e alguma evidência de hemólise (aumento
do LDH, anemia progressiva). A utilização do LDH total para
atestar a hemólise (o grande marco da síndrome) é, no entanto,
questionada, já que apenas duas das cinco isoformas existentes
relacionam-se com a rotura das hemácias. Como o LDH pode
estar elevado pela isquemia hepática, muitos defendem que os
critérios para hemólise devem incluir as alterações na amostra
de sangue periférico, a elevação da bilirrubina ou a redução da
haptoglobina sérica.
9
A divergência entre os autores não se restringe apenas ao
diagnóstico, levando também a duas propostas de classificação da
síndrome HELLP, conhecidas pelos nomes dos estados americanos
de Mississipi e Tennessee (Quadro 1), sedes das Universidades
onde atuavam seus autores à época. Aquela de Mississipi divide os
casos de síndrome HELLP em três grupos, principalmente levando
em conta o grau de trombocitopenia, enquanto a do Tennessee
define um único critério laboratorial para o diagnóstico, conside-
rando a presença de síndromes HELLP parciais, quando ao menos
um dos critérios está presente na pré-eclâmpsia grave.3
O conhecimento dos diagnósticos diferenciais da síndrome
HELLP se impõe, já que os sinais, sintomas e achados laboratoriais
se sobrepõem àqueles encontrados em diversas síndromes clínicas
e cirúrgicas. Infecção respiratória, hepatite, colecistite, pancreatite,
esteatose hepática aguda e púrpura trombocitopênica imune, eis
algumas condições que podem ser confundidas com a síndrome
HELLP. Da mesma forma, a gravidez pode levar ao diagnóstico
errôneo da doença descrita por Weinstein e mascarar doenças
graves como a púrpura trombocitopênica trombótica, síndrome
hemolítico-urêmica, lúpus eritematoso sistêmico e síndrome
antifosfolipídio. O Quadro 2 apresenta os principais diagnósticos
diferenciais da síndrome HELLP.
9
Conduta
O manejo da gestante com síndrome HELLP não é tarefa fácil
e ainda representa grande desafio para os obstetras em todo o
mundo. Como, invariavelmente, há rápida e progressiva deterio-
ração do quadro materno e fetal, todas as pacientes com suspeita
de síndrome HELLP devem ser hospitalizadas. O tratamento ideal,
assim como em qualquer caso de toxemia, é o parto. De fato, essa
é a escolha quando a gestação ultrapassa 34 semanas ou quando
há coagulação intravascular disseminada, infarto ou hemorragia
hepática, insuficiência renal, suspeita de descolamento prematuro
de placenta ou sofrimento fetal.9
A interrupção também é a me-
lhor opção nas gestações que não atingiram 24 semanas. Acerca
das gravidezes entre 24-34 semanas não há consenso quanto
à conduta ideal quando as condições maternas são estáveis e
a vitalidade fetal não está afetada. Alguns autores recomendam
que sejam administrados corticóides para acelerar a maturidade
pulmonar fetal e que o parto ocorra em 24-48 horas, enquanto
outros defendem que seja estabelecida conduta expectante
Quadro 1 - Critérios diagnósticos e classificação da síndrome HELLP segundo as
propostas das Universidades de Mississippi (Martin) e Tennessee (Sibai)
Mississippi
Classe 1 – Plaquetas ≤ 50.000/μL + AST ou ALT ≥ 70 IU/L + LDH ≥ 600 IU/L
Classe 2 – Plaquetas entre 50.000 e 100.000/μL + AST ou ALT ≥ 70 IU/L + LDH
≥ 600 IU/L
Classe 3 – Plaquetas entre 100.000 e 150.000/μL + AST ou ALT ≥ 40 IU/L + LDH
≥ 600 IU/L
Tennessee
HELLP completa:
Plaquetas ≤ 100.000/μL
AST ≥ 70 IU/L
Esfregaço de sangue periférico anormal
LDH ≥ 600 IU/L ou Bilirrubina ≥ 1,2 mg/dL
HELLP parcial:
Pré-eclâmpsia grave + ELLP ou HEL ou EL ou LP
Quadro 2 - Principais diagnósticos diferenciados da Síndrome HELLP *
Diagnósticos Diferenciais da Síndrome HELLP
Esteatose Hepática Aguda
Púrpura Trombocitopênica Trombótica
Síndrome Hemolítico Urêmica
Lupus Eritematoso Sistêmico
Síndrome Antifosfolipídio
Púrpura Trombocitopênica Imune
Colecistite
Hepatite viral fulminante
Pancreatite Aguda
Herpes simplex disseminado
Choque séptico ou hemorrágico
* Adaptado de Sibai B. Obstet, Gynecol 2004; 103: 981-991.
Femina_Fevereiro.indb 113Femina_Fevereiro.indb 113 8/5/08 9:40:48 AM8/5/08 9:40:48 AM
114 FEMINA | Fevereiro 2008 | vol 36 | nº 2
Síndrome HELLP: diagnóstico e conduta
até que estejam completadas 34 semanas de gestação ou haja
indicação de interrupção pela deterioração do quadro da mãe e/
ou do concepto (Figura 1). Contudo, ainda há poucas evidências
que recomendem a conduta expectante na síndrome HELLP, não
devendo essa prática ser realizada rotineiramente.
A utilização dos corticóides
Não há dúvida de que a terapia com corticóides antes de 34
semanas de gestação reduz a morbidade e mortalidade neonatal.
A administração de betametasona 12 mg (a cada 24 horas, duas
doses) via intramuscular tem sido o esquema preconizado para
atingir a maturidade pulmonar. Recentemente, tem-se aventado
que a utilização de altas doses de corticóides na síndrome HELLP
melhora o desfecho materno. Essa hipótese fundamenta-se na
possibilidade da síndrome HELLP ser uma forma SIRS-like da pré-
eclampsia.
3
Diversos estudos têm demonstrado que há melhora
substancial da plaquetopenia e queda das enzimas hepáticas e do
LDH com o uso de dexametasona, porém há limitada evidência de
que essa prática reduza a morbidade da mãe.
4
Na Universidade do
Mississipi, foi verificada importante redução da morbidade (menos
necessidade de anti-hipertensivos e transfusões, recuperação mais
rápida no pós-parto, etc.) em mulheres com síndrome HELLP na
última década, quando a administração de altas doses de corticóide
tornou-se rotineira.3
Nesta instituição, utiliza-se a classificação em
três grupos, de acordo com o nadir plaquetário, para traçar a conduta
(Figura 2). As pacientes das classes 1 e 2 recebem dexametasona 10
mg intravenosa a cada 12 horas antes do parto, que se dará em 24-48
horas. Mesmo as gestantes com mais de 34 semanas de gestação
aguardarão 6-12 horas, para que haja benefício materno na utilização
dos corticóides. No puerpério, são administradas duas doses de
dexametasona 10 mg (12 horas de intervalo), as quais se seguem
mais duas doses de dexametasona 5 mg nas 24 horas seguintes. Já
as gestantes incluídas na classe 3 ou com HELLP parcial são avaliadas
quanto à presença de sinais e sintomas (coagulopatia, hipertensão
grave, dor epigástrica, eclampsia, etc.) que denotem a necessidade
SÍNDROME HELLP CONDUTA
- Sulfato de magnésio
- Anti-hipertensivos se PA ≥ 160 x 105mmHg
- Considerar transferência para unidade terciária
- Idade gestacional < 24 semanas
- Idade gestacional ≥ 34 semanas
- Sofrimento fetal agudo
- Complicações maternas
Eclâmpsia
CIVD
Insuficiência renal
DPP
Hematoma hepático
Distúrbios respiratórios
NÃOSIM
PARTO REALIZAR
CORTICOTERAPIA
Figura 1 - Algoritmo para conduta na Síndrome HELLP*
*Adaptado de Sibai B. Obstet & Gynecol 2004; 103: 981-991
SÍNDROME HELLP
CLASSES 1 e 2 CLASSES 3 PARCIAL
ANTEPARTO PÓS-PARTO COMPLICADA NÃO-COMPLICADA Acompanhar parâmetros
clínicos e laboratoriais
Dexametasona
10mg IV 12/12h
PARTO
Dexametasona
10mg IV 12 x 12h
Dexametasona
5mg IV 12/12h
+
Figura 2 - Algoritmo para utilização dos corticóides na síndrome HELLP*
*Adaptado de Martin et al.. Am J Obstet Gynecol 2006; 195: 914-934.
Femina_Fevereiro.indb 114Femina_Fevereiro.indb 114 8/5/08 9:40:48 AM8/5/08 9:40:48 AM
115FEMINA | Fevereiro 2008 | vol 36 | nº 2
Síndrome HELLP: diagnóstico e conduta
de tratamento imediato. Caso haja evidência de quadro clínico grave,
as pacientes são abordadas da mesma forma que aquelas das classes
1 e 2, caso contrário, o seguimento é expectante.
3
Conduta preconizada
O´Brien e Barton4
propõem seis passos fundamentais na
condução dos casos de síndrome HELLP:
1 – Identificação: realizar os exames laboratoriais necessários e consi-
derar os diagnósticos diferenciais.
2 – Estabilização: obter um acesso venoso; administrar sulfato de mag-
nésio e anti-hipertensivos; considerar uso de corticóides em altas
doses; manter controle de diurese, freqüência respiratória e reflexos
profundos; transfundir em caso de anemia, trombocitopenia grave
(< 20.000/mm
3
) ou coagulopatia; discutir caso com anestesista;
solicitar exame de imagem hepática, se necessário.
3 - Avaliação fetal: realizar ultra-sonografia, doppler de artéria umbilical
e cardiotocografia.
4 – Transporte/latência: transferir a paciente para centro terciário em
caso de estabilidade do quadro materno e fetal; aguardar 24-48
horas, dependendo da condição da mãe e do concepto.
5 – Parto: cesariana em caso de CIR com alteração do doppler de artéria
umbilical; considerar parto vaginal, se houver condição de indução do
parto e feto com boa vitabilidade, especialmente após 32 semanas.
6 – Manutenção/resolução: avaliação laboratorial a cada 6-24 horas,
dependendo da gravidade do quadro, para avaliar manutenção ou
resolução do quadro; suspender sulfato de magnésio 24 horas após o
parto se estiver havendo melhora; manter uso de anti-hipertensivos
e corticóide, caso necessário.
Não há na síndrome HELLP indicação de interrupção imediata.
Deve-se, antes, estabilizar o quadro toxêmico e realizar hemotransfu-
são caso haja indicação. Como em qualquer caso de toxemia grave,
as gestantes com síndrome HELLP deverão receber a profilaxia com
sulfato de magnésio. Entre nós, é popular o esquema de Zuspan
em que a dose de ataque é de 4 g e a manutenção se faz com 1-2 g
/h, por via intravenosa, que deve ser mantida por 24 horas no pós-
parto. Não menos importante é a utilização de anti-hipertensivos
para manter a pressão arterial abaixo de 160 X 105mmHg, o que
pode ser conseguido com 5 mg de hidralazina a cada 15-20 minutos
até a dose máxima de 20 mg por hora.9
As drogas de segunda linha
incluem o labetalol e a nifedipina. Todas as pacientes com trom-
bocitopenia ≤ 20.000/mm
3
ou que apresentarem sangramento nos
sítios de punção venosa deverão receber concentrados de plaquetas
(seis a 10 unidades) antes do parto. Quando houver anemia grave
ou coagulopatia, a transfusão de concentrados de hemácias e/ou
plasma fresco também está indicada.
4
O parto em mulheres com síndrome HELLP é sujeito a inúmeras
complicações: hemorragia pós-parto, infecção, hematoma vaginal e
de parede abdominal.4
A decisão acerca da via de parto dependerá
das condições do colo uterino, da idade gestacional e da vitalidade
fetal. Sibai (2004) recomenda a cesariana para todas as gestantes
que não estejam em trabalho de parto, com índice de Bishop < 5 e
idade gestacional < 30 semanas. Também se recomenda a via alta
para os fetos com CIR em que a idade gestacional < 32 semanas e
o colo seja desfavorável. De forma geral, as gestantes com mais de
30 semanas são candidatas ao parto vaginal, independentemente
das condições do colo uterino.
3
Em caso de parto transpélvico, o
bloqueio do nervo pudendo está contra-indicado, pelo risco de
sangramento e hematoma, podendo-se fazer uso de infiltrações
com anestésicos locais.9
A anestesia epidural também deve ser
evitada, principalmente quando há plaquetopenia < 75.000/mm3
.
Na cesariana, a anestesia geral é a regra. No entanto, a utilização
de altas de corticóides tem permitido, por vezes, a realização da
anestesia (e analgesia) regional, uma vez que promove incremento
significativo da contagem de plaquetas (> 100.000/mm
3
).
Prognóstico futuro
A imensa maioria das pacientes acometidas pela síndrome
HELLP recupera-se sem seqüelas. Até a presente data não foi
relatado caso de dano hepático permanente. E mesmo entre
aquelas que apresentaram insuficiência renal, praticamente
todas recuperam a função do órgão. A taxa de recorrência da
síndrome HELLP varia de 2-19%, dependendo da população
estudada, da idade gestacional de aparecimento e da presença
de vasculopatia concomitante. Contudo, ao menos 20% dessas
mulheres apresentarão alguma forma de hipertensão gestacional
em gravidez futura.3
É indispensável informar às pacientes que
elas estão sujeitas a mais alto risco de desfechos desfavoráveis
(parto pretermo, crescimento intra-uterino restrito, descolamento
de placenta e óbito fetal) em gestações subseqüentes.
4
Considerações finais
A síndrome HELLP está associada a grande morbidade materna
e perinatal e representa um grande desafio aos obstetras em todo
o mundo. É de fundamental importância o seu reconhecimento
precoce, em face da rápida deterioração do quadro laboratorial.
Femina_Fevereiro.indb 115Femina_Fevereiro.indb 115 8/5/08 9:40:48 AM8/5/08 9:40:48 AM
116 FEMINA | Fevereiro 2008 | vol 36 | nº 2
Síndrome HELLP: diagnóstico e conduta
Gestantes apresentando dor epigástrica ou no quadrante superior
associada a náuseas e/ou vômitos merecem investigação laboratorial
para detecção da síndrome HELLP, assim como mulheres com
sintomas similares a uma síndrome viral e suspeição de toxemia.
Os critérios laboratoriais utilizados para o diagnóstico ainda são
alvo de intensa polêmica, ainda que haja uniformidade nos testes
adotados. Os critérios adotados na classificação do Tennessee
certamente são mais difundidos e aceitos no mundo. Uma vez
realizado o diagnóstico, deve-se traçar a melhor conduta frente a
cada caso. A profilaxia da eclampsia com sulfato de magnésio e
o controle da pressão arterial são obrigatórios. Em gestações que
não alcançaram 24 semanas e que ultrapassaram 34 semanas, o
parto, após estabilização do quadro materno, é o tratamento de
eleição. Nas gravidezes entre 24-34 semanas, poderá ser adotada
conduta expectante para realização de corticoterapia, desde que
não haja comprometimento da vitalidade fetal e presença de com-
plicações maternas. O parto transpélvico deve ser considerado
para todas as mulheres com mais de 30 semanas de gestação,
independentemente das condições do colo uterino. Recentemente,
têm-se utilizado altas doses de corticóides na síndrome HELLP
para melhora do quadro laboratorial materno, porém há limitada
evidência de que essa prática reduza a morbidade da mãe.
Leituras suplementares
Pritchard JA, Weisman R Jr, Ratnoff OD, Vosburgh GJ. Intravascular1.
hemolysis, thrombocytopenia and other hematologic abnormalities
associated with severe toxemia of pregnancy. N Engl J Med. 1954;
250: 89-98.
Weinstein L. Syndrome of hemolysis, elevated liver enzymes, and low2.
platelet count: a severe consequence of hypertension in pregnancy.
Am J Obstet Gynecol. 1982; 142: 159-67.
Martin JN Jr, Rose CH, Briery CM. Understanding and managing3.
HELLP syndrome: The integral role of aggressive glucocorticoids for
mother and child. Am J Obstet Gynecol. 2006; 195: 914-34.
O´Brien JM, Barton JR. Controversies with the Diagnosis and4.
Management of HELLP Syndrome. Clin Obst Gynecol. 2005; 48:
460-77.
ACOG Practice Bulletin. Diagnosis and management of preeclampsia5.
and eclampsia. Obstet Gynecol. 2002; 99: 159-6.
Isler CM, Rinehart BK, Terrone DA, Martin RW, Magann EE, Martin6.
JN, Jr. Maternal mortality associated with HELLP (hemolysis, elevated
liver enzymes, and low platelets) syndrome. Am J Obstet Gynecol.
1999; 181: 924-8.
Baxter JK, Weinstein L. Hellp Syndrome: the state of art. Obstet7.
Surv. 2004; 59: 838-45.
Osmanagaoglu MA, Erdogan I, Zengin U, Bozkaya H. Comparison8.
between HELLP syndrome, chronic hypertension, and superimposed
preclampsia on chronic hypertension without HELLP syndrome. J
Perinat Méd. 2004; 32: 481-5.
Sibai B. Diagnosis, controversies, and management of Syndrome of9.
Hemolysis, elevated Liver Enzymes, and Low Platelet Count. Obstet
Gynecol. 2004, 103: 981-91.
Martin JN Jr, Rinehart BK, May WL, Magann EF, Terrone DA,10.
Blake PG. The spectrum of severe preeclampsia: Comparative
analysis by HELLP (hemolysis, elevated liver enzymes levels, and
low platelet count) syndrome classification. Am J Obstet Gynecol.
1999; 180: 1373-84.
Sibai BM. The HELLP syndrome (hemolysis, elevated liver enzymes,11.
and low platelets): much ado about nothing? Am J Obstet Gynecol.
1990; 162: 311-6.
Local: Porto Velho - RO
Realização: ASSOGIRO
Tel.: 55(69)3224-1974
Fax: 55(69)3224-1974
E-mail: assogiro@ibest.com.br
I Congresso Rondoniense de Ginecologia e Obstetrícia
PortoVelho-RO
26a28dejunhode2008
Femina_Fevereiro.indb 116Femina_Fevereiro.indb 116 8/5/08 9:40:49 AM8/5/08 9:40:49 AM

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Femina 2 fevereiro-111-116

  • 1. 111FEMINA | Fevereiro 2008 | vol 36 | nº 2 ATUALIZAÇÃO ResumoAbstract 1 Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro - 33ª Enfermaria Palavras-chave Pré-eclâmpsia Síndrome HELLP Corticosteróides Keywords Pre-eclampsia HELLP syndrome Adrenal cortex hormones Marcos Nakamura Pereira1 Carlos Antonio Barbosa Montenegro 1 Jorge Rezende Filho 1 HELLP Syndrome: Diagnosis and Management Síndrome HELLP: diagnóstico e conduta A síndrome HELLP é definida pela presença de hemólise, elevação de enzimas hepáticas e trombocitopenia em gestante com toxemia. Sua incidência é estimada em aproximadamente 20% dos casos de pré- eclampsia grave e está associada a grande morbidade materna e perinatal. O diagnóstico laboratorial da síndrome HELLP constitui temática controversa, não havendo consenso tanto quanto aos testes como aos valores a serem utilizados. A conduta das gestantes com síndrome HELLP deve levar em consideração a idade gestacional, a presença de complicações maternas, a vitalidade fetal e as condições do colo uterino. O tratamento ideal, assim como em qualquer caso de toxemia, é o parto. Recentemente, tem-se aventado que a utilização de altas doses de corticóides pode melhorar o desfecho materno, além do já comprovado benefício fetal. HELLP Syndrome is defined by the presence of hemolysis, ellevated liver enzimes and thrombocytopenia in a patient presenting with preeclampsia. The incidence of HELLP Syndrome occurs in around 20% of patients with severe preeclampsia and is usually associated with an increased maternal and perinatal morbidity. Laboratory diagnosis of HELLP Syndrome is controversial, and there is no consense either to the tests or parameters to be used in that purpose. Management of patients with HELLP Syndrome must take into consideration the gestational age, the presence of maternal complications, the fetal well being and the cervical conditions. Delivery is the ideal treatment, as it is in any case of preeclampsia. I has recently been suggested that he use of corticosteroids in a high-dose regimen may benefit not only the fetal, but also the maternal outcome. Femina_Fevereiro.indb 111Femina_Fevereiro.indb 111 8/5/08 9:40:47 AM8/5/08 9:40:47 AM
  • 2. 112 FEMINA | Fevereiro 2008 | vol 36 | nº 2 Síndrome HELLP: diagnóstico e conduta Introdução A presença de hemólise trombocitopenia e disfunção hepática em gestantes toxêmicas foi descrita inicialmente na metade do século passado, quando Pritchard et al. 1 , em 1954, descreveram três casos de eclampsia em que essas alterações se faziam presentes. Em 1982, Louis Weinstein 2 relatou 29 casos de pré-eclampsia grave complica- dos com trombocitopenia, hemólise intravascular evidenciada pelos achados no esfregaço de sangue periférico e alterações nos testes de função hepática, sugerindo que as mulheres com esse quadro laboratorial fossem distinguidas daquelas que tradicionalmente eram classificadas com pré-eclampsia grave. A essa entidade de grave repercussão materna e fetal ele denominou de síndrome HELLP, um acrônimo dos três critérios estabelecidos para sua presença (H = hemolysis; EL = elevated liver enzymes; LP = low platelets). Desde então, vários estudos têm sido publicados sobre seu diagnóstico e a melhor conduta a ser estabelecida frente a essa doença. Fisiopatologia É a toxemia gravídica uma doença em dois estágios, caracteri- zada pela placentação defeituosa e pela disfunção endotelial. Como forma de apresentação da pré-eclâmpsia grave, a síndrome HELLP tem origem no desenvolvimento placentário anormal, ao qual se segue a produção de fatores que sistemicamente promovem injúria endotelial via ativação de plaquetas e/ou vasoconstritores.3 A lesão endotelial dos vasos hepáticos seguida de ativação, agregação e consumo de plaquetas, resultando em isquemia e morte dos hepa- tócitos, é a principal hipótese para explicar o quadro laboratorial que caracteriza a síndrome HELLP.4 Essa hipótese explicaria o achado histopatológico clássico associado à doença: a necrose focal ou periportal hepática com depósitos hialinos nos sinusóides. Incidência e morbidade A síndrome HELLP ocorre em aproximadamente 20% dos casos de pré-eclâmpsia grave e está associada a grande morbidade materna e perinatal, incluindo descolamento prematuro de placenta, insu- ficiência renal, hematoma hepático subcapsular, parto prematuro, podendo acarretar a morte da mãe e do concepto.5 Normalmente, esta doença se desenvolve repentinamente na gestação (27-37 semanas), com rápida deterioração do quadro laboratorial; e em 15-25% dos casos pode surgir apenas no puerpério. 3 A morte ma- terna ocorre em 1-24% dos casos6 , dependendo fundamentalmente do suporte oferecido à gestante. Os principais eventos associados ao óbito materno, de acordo com trabalho de Isler et al.6 , incluem hemorragia cerebral (45%), falência cardiopulmonar (40%), coagu- lação intravascular disseminada (39%), síndrome de desconforto respiratório do adulto (28%), insuficiência renal (28%), sepse (23%) e hemorragia hepática (20%), encefalopatia hipóxico-isquêmica (16%). O desfecho perinatal não parece ser diferente daquele encontrado na pré-eclampsia grave7 e é fortemente influenciado pela idade gestacional e pelo peso do feto na ocasião do parto. 8 A mortalidade perinatal relatada varia de 7,4 a 20,4%, sendo a maior parte com menos de 28 semanas, relacionando-se com o crescimento intra-uterino restrito e o descolamento prematuro de placenta. 9 A taxa de prematuridade é de aproximadamente 70%, o que acarreta grande número de complicações neonatais como síndrome de desconforto respiratório, displasia broncopulmonar, hemorragia craniana e enterocolite necrotizante. 9 Diagnóstico e classificação Os sinais e sintomas envolvidos na síndrome HELLP são extrema- mente variáveis e confundem-se com aqueles da pré-eclampsia grave: cefaléia, distúrbios visuais, mal-estar generalizado, entre outros. A dor epigástrica ou no quadrante superior é o sintoma de mais relevância para sugerir a existência da síndrome, estando freqüentemente associado a náuseas e vômitos. No trabalho original de Weinstein2 , este sintoma se fazia presente em 100% das pacientes avaliadas e todas também apresentavam náuseas. Trabalhos posteriores não mostraram a mesma prevalência, contudo, Martin et al. 10 demons- traram haver maior número de gestantes com dor epigástrica ou no quadrante superior quanto maior a gravidade do caso. Martin et al.3 defendem que esse sintoma, particularmente se associado a náuseas e/ou vômitos, indica investigação laboratorial de síndrome HELLP. Outra manifestação peculiar, que ocorre na maioria das mulheres, é sensação de mal-estar nos dias que precedem à apresentação da doença. Algumas gestantes apresentarão sintomas inespecíficos similares a uma síndrome viral, quadro clínico que pode indicar investigação laboratorial quando há suspeição de pré-eclampsia. 9 Como muitas pacientes podem apresentar sintomas inespecíficos ou sinais sutis de toxemia, pode haver demora no diagnóstico 9 , especialmente nos casos em que a hipertensão e/ou a proteinúria estiverem ausentes, o que pode ocorrer em 18 e 10% das pacientes, respectivamente. Este fato representa grande problema relacionado à síndrome HELLP, já que, de acordo com estudo retrospectivo re- alizado por Isler et al. 6 , a demora no diagnóstico esteve implicada em 51,1% dos óbitos de mulheres com a doença. Femina_Fevereiro.indb 112Femina_Fevereiro.indb 112 8/5/08 9:40:47 AM8/5/08 9:40:47 AM
  • 3. 113FEMINA | Fevereiro 2008 | vol 36 | nº 2 Síndrome HELLP: diagnóstico e conduta Os critérios laboratoriais utilizados para diagnóstico da síndrome HELLP constituem temática controversa. Sibai11 estabelece critérios para o diagnóstico de cada elemento da síndrome, levando em consideração três desvios-padrão acima da média: hemólise por aumento do LDH > 600 U/L, aumento da bilirrubina ≥ 1,2 mg/dL e evidência em amostra de sangue periférico; disfunção hepática pela elevação da AST > 70 IU/L e LDH > 600 U/L; trombocitopenia pela contagem de plaquetas < 100.000/mm3 . Entretanto, Martin et al.10 consideram valores diferentes de contagem de plaque- tas e de AST para o diagnóstico: nadir plaquetário ≤ 150.000/ μL; AST ou ALT ≥ 40 IU/L com LDH ≥ 600 UI/L para definir a disfunção hepática; e alguma evidência de hemólise (aumento do LDH, anemia progressiva). A utilização do LDH total para atestar a hemólise (o grande marco da síndrome) é, no entanto, questionada, já que apenas duas das cinco isoformas existentes relacionam-se com a rotura das hemácias. Como o LDH pode estar elevado pela isquemia hepática, muitos defendem que os critérios para hemólise devem incluir as alterações na amostra de sangue periférico, a elevação da bilirrubina ou a redução da haptoglobina sérica. 9 A divergência entre os autores não se restringe apenas ao diagnóstico, levando também a duas propostas de classificação da síndrome HELLP, conhecidas pelos nomes dos estados americanos de Mississipi e Tennessee (Quadro 1), sedes das Universidades onde atuavam seus autores à época. Aquela de Mississipi divide os casos de síndrome HELLP em três grupos, principalmente levando em conta o grau de trombocitopenia, enquanto a do Tennessee define um único critério laboratorial para o diagnóstico, conside- rando a presença de síndromes HELLP parciais, quando ao menos um dos critérios está presente na pré-eclâmpsia grave.3 O conhecimento dos diagnósticos diferenciais da síndrome HELLP se impõe, já que os sinais, sintomas e achados laboratoriais se sobrepõem àqueles encontrados em diversas síndromes clínicas e cirúrgicas. Infecção respiratória, hepatite, colecistite, pancreatite, esteatose hepática aguda e púrpura trombocitopênica imune, eis algumas condições que podem ser confundidas com a síndrome HELLP. Da mesma forma, a gravidez pode levar ao diagnóstico errôneo da doença descrita por Weinstein e mascarar doenças graves como a púrpura trombocitopênica trombótica, síndrome hemolítico-urêmica, lúpus eritematoso sistêmico e síndrome antifosfolipídio. O Quadro 2 apresenta os principais diagnósticos diferenciais da síndrome HELLP. 9 Conduta O manejo da gestante com síndrome HELLP não é tarefa fácil e ainda representa grande desafio para os obstetras em todo o mundo. Como, invariavelmente, há rápida e progressiva deterio- ração do quadro materno e fetal, todas as pacientes com suspeita de síndrome HELLP devem ser hospitalizadas. O tratamento ideal, assim como em qualquer caso de toxemia, é o parto. De fato, essa é a escolha quando a gestação ultrapassa 34 semanas ou quando há coagulação intravascular disseminada, infarto ou hemorragia hepática, insuficiência renal, suspeita de descolamento prematuro de placenta ou sofrimento fetal.9 A interrupção também é a me- lhor opção nas gestações que não atingiram 24 semanas. Acerca das gravidezes entre 24-34 semanas não há consenso quanto à conduta ideal quando as condições maternas são estáveis e a vitalidade fetal não está afetada. Alguns autores recomendam que sejam administrados corticóides para acelerar a maturidade pulmonar fetal e que o parto ocorra em 24-48 horas, enquanto outros defendem que seja estabelecida conduta expectante Quadro 1 - Critérios diagnósticos e classificação da síndrome HELLP segundo as propostas das Universidades de Mississippi (Martin) e Tennessee (Sibai) Mississippi Classe 1 – Plaquetas ≤ 50.000/μL + AST ou ALT ≥ 70 IU/L + LDH ≥ 600 IU/L Classe 2 – Plaquetas entre 50.000 e 100.000/μL + AST ou ALT ≥ 70 IU/L + LDH ≥ 600 IU/L Classe 3 – Plaquetas entre 100.000 e 150.000/μL + AST ou ALT ≥ 40 IU/L + LDH ≥ 600 IU/L Tennessee HELLP completa: Plaquetas ≤ 100.000/μL AST ≥ 70 IU/L Esfregaço de sangue periférico anormal LDH ≥ 600 IU/L ou Bilirrubina ≥ 1,2 mg/dL HELLP parcial: Pré-eclâmpsia grave + ELLP ou HEL ou EL ou LP Quadro 2 - Principais diagnósticos diferenciados da Síndrome HELLP * Diagnósticos Diferenciais da Síndrome HELLP Esteatose Hepática Aguda Púrpura Trombocitopênica Trombótica Síndrome Hemolítico Urêmica Lupus Eritematoso Sistêmico Síndrome Antifosfolipídio Púrpura Trombocitopênica Imune Colecistite Hepatite viral fulminante Pancreatite Aguda Herpes simplex disseminado Choque séptico ou hemorrágico * Adaptado de Sibai B. Obstet, Gynecol 2004; 103: 981-991. Femina_Fevereiro.indb 113Femina_Fevereiro.indb 113 8/5/08 9:40:48 AM8/5/08 9:40:48 AM
  • 4. 114 FEMINA | Fevereiro 2008 | vol 36 | nº 2 Síndrome HELLP: diagnóstico e conduta até que estejam completadas 34 semanas de gestação ou haja indicação de interrupção pela deterioração do quadro da mãe e/ ou do concepto (Figura 1). Contudo, ainda há poucas evidências que recomendem a conduta expectante na síndrome HELLP, não devendo essa prática ser realizada rotineiramente. A utilização dos corticóides Não há dúvida de que a terapia com corticóides antes de 34 semanas de gestação reduz a morbidade e mortalidade neonatal. A administração de betametasona 12 mg (a cada 24 horas, duas doses) via intramuscular tem sido o esquema preconizado para atingir a maturidade pulmonar. Recentemente, tem-se aventado que a utilização de altas doses de corticóides na síndrome HELLP melhora o desfecho materno. Essa hipótese fundamenta-se na possibilidade da síndrome HELLP ser uma forma SIRS-like da pré- eclampsia. 3 Diversos estudos têm demonstrado que há melhora substancial da plaquetopenia e queda das enzimas hepáticas e do LDH com o uso de dexametasona, porém há limitada evidência de que essa prática reduza a morbidade da mãe. 4 Na Universidade do Mississipi, foi verificada importante redução da morbidade (menos necessidade de anti-hipertensivos e transfusões, recuperação mais rápida no pós-parto, etc.) em mulheres com síndrome HELLP na última década, quando a administração de altas doses de corticóide tornou-se rotineira.3 Nesta instituição, utiliza-se a classificação em três grupos, de acordo com o nadir plaquetário, para traçar a conduta (Figura 2). As pacientes das classes 1 e 2 recebem dexametasona 10 mg intravenosa a cada 12 horas antes do parto, que se dará em 24-48 horas. Mesmo as gestantes com mais de 34 semanas de gestação aguardarão 6-12 horas, para que haja benefício materno na utilização dos corticóides. No puerpério, são administradas duas doses de dexametasona 10 mg (12 horas de intervalo), as quais se seguem mais duas doses de dexametasona 5 mg nas 24 horas seguintes. Já as gestantes incluídas na classe 3 ou com HELLP parcial são avaliadas quanto à presença de sinais e sintomas (coagulopatia, hipertensão grave, dor epigástrica, eclampsia, etc.) que denotem a necessidade SÍNDROME HELLP CONDUTA - Sulfato de magnésio - Anti-hipertensivos se PA ≥ 160 x 105mmHg - Considerar transferência para unidade terciária - Idade gestacional < 24 semanas - Idade gestacional ≥ 34 semanas - Sofrimento fetal agudo - Complicações maternas Eclâmpsia CIVD Insuficiência renal DPP Hematoma hepático Distúrbios respiratórios NÃOSIM PARTO REALIZAR CORTICOTERAPIA Figura 1 - Algoritmo para conduta na Síndrome HELLP* *Adaptado de Sibai B. Obstet & Gynecol 2004; 103: 981-991 SÍNDROME HELLP CLASSES 1 e 2 CLASSES 3 PARCIAL ANTEPARTO PÓS-PARTO COMPLICADA NÃO-COMPLICADA Acompanhar parâmetros clínicos e laboratoriais Dexametasona 10mg IV 12/12h PARTO Dexametasona 10mg IV 12 x 12h Dexametasona 5mg IV 12/12h + Figura 2 - Algoritmo para utilização dos corticóides na síndrome HELLP* *Adaptado de Martin et al.. Am J Obstet Gynecol 2006; 195: 914-934. Femina_Fevereiro.indb 114Femina_Fevereiro.indb 114 8/5/08 9:40:48 AM8/5/08 9:40:48 AM
  • 5. 115FEMINA | Fevereiro 2008 | vol 36 | nº 2 Síndrome HELLP: diagnóstico e conduta de tratamento imediato. Caso haja evidência de quadro clínico grave, as pacientes são abordadas da mesma forma que aquelas das classes 1 e 2, caso contrário, o seguimento é expectante. 3 Conduta preconizada O´Brien e Barton4 propõem seis passos fundamentais na condução dos casos de síndrome HELLP: 1 – Identificação: realizar os exames laboratoriais necessários e consi- derar os diagnósticos diferenciais. 2 – Estabilização: obter um acesso venoso; administrar sulfato de mag- nésio e anti-hipertensivos; considerar uso de corticóides em altas doses; manter controle de diurese, freqüência respiratória e reflexos profundos; transfundir em caso de anemia, trombocitopenia grave (< 20.000/mm 3 ) ou coagulopatia; discutir caso com anestesista; solicitar exame de imagem hepática, se necessário. 3 - Avaliação fetal: realizar ultra-sonografia, doppler de artéria umbilical e cardiotocografia. 4 – Transporte/latência: transferir a paciente para centro terciário em caso de estabilidade do quadro materno e fetal; aguardar 24-48 horas, dependendo da condição da mãe e do concepto. 5 – Parto: cesariana em caso de CIR com alteração do doppler de artéria umbilical; considerar parto vaginal, se houver condição de indução do parto e feto com boa vitabilidade, especialmente após 32 semanas. 6 – Manutenção/resolução: avaliação laboratorial a cada 6-24 horas, dependendo da gravidade do quadro, para avaliar manutenção ou resolução do quadro; suspender sulfato de magnésio 24 horas após o parto se estiver havendo melhora; manter uso de anti-hipertensivos e corticóide, caso necessário. Não há na síndrome HELLP indicação de interrupção imediata. Deve-se, antes, estabilizar o quadro toxêmico e realizar hemotransfu- são caso haja indicação. Como em qualquer caso de toxemia grave, as gestantes com síndrome HELLP deverão receber a profilaxia com sulfato de magnésio. Entre nós, é popular o esquema de Zuspan em que a dose de ataque é de 4 g e a manutenção se faz com 1-2 g /h, por via intravenosa, que deve ser mantida por 24 horas no pós- parto. Não menos importante é a utilização de anti-hipertensivos para manter a pressão arterial abaixo de 160 X 105mmHg, o que pode ser conseguido com 5 mg de hidralazina a cada 15-20 minutos até a dose máxima de 20 mg por hora.9 As drogas de segunda linha incluem o labetalol e a nifedipina. Todas as pacientes com trom- bocitopenia ≤ 20.000/mm 3 ou que apresentarem sangramento nos sítios de punção venosa deverão receber concentrados de plaquetas (seis a 10 unidades) antes do parto. Quando houver anemia grave ou coagulopatia, a transfusão de concentrados de hemácias e/ou plasma fresco também está indicada. 4 O parto em mulheres com síndrome HELLP é sujeito a inúmeras complicações: hemorragia pós-parto, infecção, hematoma vaginal e de parede abdominal.4 A decisão acerca da via de parto dependerá das condições do colo uterino, da idade gestacional e da vitalidade fetal. Sibai (2004) recomenda a cesariana para todas as gestantes que não estejam em trabalho de parto, com índice de Bishop < 5 e idade gestacional < 30 semanas. Também se recomenda a via alta para os fetos com CIR em que a idade gestacional < 32 semanas e o colo seja desfavorável. De forma geral, as gestantes com mais de 30 semanas são candidatas ao parto vaginal, independentemente das condições do colo uterino. 3 Em caso de parto transpélvico, o bloqueio do nervo pudendo está contra-indicado, pelo risco de sangramento e hematoma, podendo-se fazer uso de infiltrações com anestésicos locais.9 A anestesia epidural também deve ser evitada, principalmente quando há plaquetopenia < 75.000/mm3 . Na cesariana, a anestesia geral é a regra. No entanto, a utilização de altas de corticóides tem permitido, por vezes, a realização da anestesia (e analgesia) regional, uma vez que promove incremento significativo da contagem de plaquetas (> 100.000/mm 3 ). Prognóstico futuro A imensa maioria das pacientes acometidas pela síndrome HELLP recupera-se sem seqüelas. Até a presente data não foi relatado caso de dano hepático permanente. E mesmo entre aquelas que apresentaram insuficiência renal, praticamente todas recuperam a função do órgão. A taxa de recorrência da síndrome HELLP varia de 2-19%, dependendo da população estudada, da idade gestacional de aparecimento e da presença de vasculopatia concomitante. Contudo, ao menos 20% dessas mulheres apresentarão alguma forma de hipertensão gestacional em gravidez futura.3 É indispensável informar às pacientes que elas estão sujeitas a mais alto risco de desfechos desfavoráveis (parto pretermo, crescimento intra-uterino restrito, descolamento de placenta e óbito fetal) em gestações subseqüentes. 4 Considerações finais A síndrome HELLP está associada a grande morbidade materna e perinatal e representa um grande desafio aos obstetras em todo o mundo. É de fundamental importância o seu reconhecimento precoce, em face da rápida deterioração do quadro laboratorial. Femina_Fevereiro.indb 115Femina_Fevereiro.indb 115 8/5/08 9:40:48 AM8/5/08 9:40:48 AM
  • 6. 116 FEMINA | Fevereiro 2008 | vol 36 | nº 2 Síndrome HELLP: diagnóstico e conduta Gestantes apresentando dor epigástrica ou no quadrante superior associada a náuseas e/ou vômitos merecem investigação laboratorial para detecção da síndrome HELLP, assim como mulheres com sintomas similares a uma síndrome viral e suspeição de toxemia. Os critérios laboratoriais utilizados para o diagnóstico ainda são alvo de intensa polêmica, ainda que haja uniformidade nos testes adotados. Os critérios adotados na classificação do Tennessee certamente são mais difundidos e aceitos no mundo. Uma vez realizado o diagnóstico, deve-se traçar a melhor conduta frente a cada caso. A profilaxia da eclampsia com sulfato de magnésio e o controle da pressão arterial são obrigatórios. Em gestações que não alcançaram 24 semanas e que ultrapassaram 34 semanas, o parto, após estabilização do quadro materno, é o tratamento de eleição. Nas gravidezes entre 24-34 semanas, poderá ser adotada conduta expectante para realização de corticoterapia, desde que não haja comprometimento da vitalidade fetal e presença de com- plicações maternas. O parto transpélvico deve ser considerado para todas as mulheres com mais de 30 semanas de gestação, independentemente das condições do colo uterino. Recentemente, têm-se utilizado altas doses de corticóides na síndrome HELLP para melhora do quadro laboratorial materno, porém há limitada evidência de que essa prática reduza a morbidade da mãe. Leituras suplementares Pritchard JA, Weisman R Jr, Ratnoff OD, Vosburgh GJ. Intravascular1. hemolysis, thrombocytopenia and other hematologic abnormalities associated with severe toxemia of pregnancy. N Engl J Med. 1954; 250: 89-98. Weinstein L. Syndrome of hemolysis, elevated liver enzymes, and low2. platelet count: a severe consequence of hypertension in pregnancy. Am J Obstet Gynecol. 1982; 142: 159-67. Martin JN Jr, Rose CH, Briery CM. Understanding and managing3. HELLP syndrome: The integral role of aggressive glucocorticoids for mother and child. Am J Obstet Gynecol. 2006; 195: 914-34. O´Brien JM, Barton JR. Controversies with the Diagnosis and4. Management of HELLP Syndrome. Clin Obst Gynecol. 2005; 48: 460-77. ACOG Practice Bulletin. Diagnosis and management of preeclampsia5. and eclampsia. Obstet Gynecol. 2002; 99: 159-6. Isler CM, Rinehart BK, Terrone DA, Martin RW, Magann EE, Martin6. JN, Jr. Maternal mortality associated with HELLP (hemolysis, elevated liver enzymes, and low platelets) syndrome. Am J Obstet Gynecol. 1999; 181: 924-8. Baxter JK, Weinstein L. Hellp Syndrome: the state of art. Obstet7. Surv. 2004; 59: 838-45. Osmanagaoglu MA, Erdogan I, Zengin U, Bozkaya H. Comparison8. between HELLP syndrome, chronic hypertension, and superimposed preclampsia on chronic hypertension without HELLP syndrome. J Perinat Méd. 2004; 32: 481-5. Sibai B. Diagnosis, controversies, and management of Syndrome of9. Hemolysis, elevated Liver Enzymes, and Low Platelet Count. Obstet Gynecol. 2004, 103: 981-91. Martin JN Jr, Rinehart BK, May WL, Magann EF, Terrone DA,10. Blake PG. The spectrum of severe preeclampsia: Comparative analysis by HELLP (hemolysis, elevated liver enzymes levels, and low platelet count) syndrome classification. Am J Obstet Gynecol. 1999; 180: 1373-84. Sibai BM. The HELLP syndrome (hemolysis, elevated liver enzymes,11. and low platelets): much ado about nothing? Am J Obstet Gynecol. 1990; 162: 311-6. Local: Porto Velho - RO Realização: ASSOGIRO Tel.: 55(69)3224-1974 Fax: 55(69)3224-1974 E-mail: assogiro@ibest.com.br I Congresso Rondoniense de Ginecologia e Obstetrícia PortoVelho-RO 26a28dejunhode2008 Femina_Fevereiro.indb 116Femina_Fevereiro.indb 116 8/5/08 9:40:49 AM8/5/08 9:40:49 AM