O documento discute os desafios da Igreja em comunicar a fé no ambiente digital. Aponta a necessidade de entender melhor o ambiente digital, romper isolamentos e promover encontros verdadeiros com o Evangelho. Também aborda a importância da narrativa na construção da identidade cristã e como criar "ecologias crentes" no mundo online.
2. Desafios
■ A realidade complexa que se costuma denominar como
“internet”, mais do que um média ou a conjugação de
diversos média, que não deixa de o ser, é um novo ambiente
que emerge e que transforma, em pouco tempo, a maneira
de comunicar, a linguagem, a relação com a escrita, as
relações sociais, a relação com o espaço e o tempo – a
perceção que deles se tem –, e o modo de aprender.
■ Este modo de entender os média leva a que eles não sejam
considerados apenas no seu aspeto material, mas sobretudo
como um ambiente, inserido plenamente na construção da
sociedade, com a consequente criação e recriação de
significados.
3. Desafios
■ «Os meios de comunicação podem ser os arquitetos de uma
nova proximidade, o resultado do confronto e de encontro,
ocasião contínua de revelação de si mesmo ao outro,
assumindo uma responsabilidade para com os outros»
(CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA).
■ Três desafios:
– Necessidade de conhecer bem o novo ambiente
– Romper isolamentos
– Potenciar encontros verdadeiros com o Evangelho
4. Desafios
■ «O mundo da comunicação afeta todo o universo cultural, social
e espiritual da pessoa humana. Se as novas linguagens têm um
impacto sobre o modo de pensar e de viver, isto diz respeito de
alguma maneira também ao mundo da fé, da sua inteligência e
expressão. (...) A cultura digital apresenta novos desafios à
nossa capacidade de falar e de ouvir uma linguagem simbólica
que fale da transcendência. O próprio Jesus, no anúncio do
Reino, soube utilizar elementos da cultura e do ambiente do
seu tempo: o rebanho, os campos, o banquete, as sementes, e
assim por diante. Hoje somos chamados a descobrir, também
na cultura digital, símbolos e metáforas significativos para as
pessoas, que possam servir de ajuda ao falar do Reino de Deus
ao homem contemporâneo» (BENTO XVI, Discurso do Papa Bento
XVI aos participantes na Assembleia Plenária do Pontifício
Conselho para as Comunicações Sociais).
5. Religião on-line
■ Na pós-modernidade homem volta a refugiar-se na
religião/espiritualidade para se livrar do caos. Mas a transmissão de
valores transcendentes que deem sentido ao conjunto da existência
não se pode confiar sem mais aos média, que não fazem outra coisa
que não seja aumentar a perplexidade na medida em que saturam de
informação sobre a complexidade existente.
■ Diante deste panorama a Igreja é desafiada a :
– Compreender e assumir os desafios da a ética hacker, o principal
desafio será, então, o de não confundir o conceito de conexão com o de
comunhão.
– Procurar que a conexão virtual se atualize em laços de familiaridade,
com todas as suas implicações, deixando a presença física de ser vista
como acessória e passando a ser parte integrante, objetivo a atingir,
nas diversas virtualizações.
6. Religião on-line
«Múltiplos laços existem entre a mensagem da salvação e a
cultura humana. Deus, com efeito, revelando-se ao seu povo até
à plena manifestação de Si mesmo no Filho encarnado, falou
segundo a cultura própria de cada época. Do mesmo modo, a
Igreja, vivendo no decurso dos tempos em diversos
condicionalismos, empregou os recursos das diversas culturas
para fazer chegar a todas as gentes a mensagem de Cristo, para
a explicar, investigar e penetrar mais profundamente e para lhe
dar melhor expressão na celebração da Liturgia e na vida da
multiforme comunidade dos fiéis» (GS 58).
7. Religião on-line
■ A autoridade
■ Na ética hacker a autoridade é distinta. Na hacker não há
qualquer autoridade exterior, valendo apenas os conceitos de
eficácia e de eficiência, o que determina o modo de entender a
experiência, de viver as relações e de conceber a realidade.
■ Mas o dom é mais do que troca gratuita. À Revelação, como
dom de Deus, não se chega apenas com as próprias forças.
■ Urge apresentar um princípio são de autoridade, que valorize o
fundamento externo ao homem e às suas possibilidades, da
Revelação e da graça.
■ A vida e o seu significado não são exauríveis numa rede
horizontal, mas que o homem é sempre orientado para a sua
transcendência.
8. Religião on-line
■ A autoridade
■ A autoridade vem do testemunho.
■ O testemunho é aquilo «que prende a própria existência na
sua profundidade e lhe dá significado perfeito e, neste
sentido, é profético porque é uma palavra para o futuro que
surge da comunidade e gera seguidores» (S. PIÉ-NINOT).
■ A autoridade vem da sinceridade da busca.
9. Identidade narrativa
■ Como encontrar permanência numa realidade tão volátil?
■ Testemunhar/narrar «constrói o carácter durável de um
personagem, que se pode chamar a sua identidade
narrativa, construindo o tipo de identidade dinâmica própria
à intriga que faz a identidade do personagem. É, pois, em
primeiro lugar, na intriga que é necessário procurar a
mediação entre permanência e mudança, antes de poder
aplicá-la à personagem. A vantagem deste desvio pela
intriga é que ela fornece o modelo de concordância
discordante sobre a qual é possível construir a identidade
narrativa do personagem. A identidade narrativa da
personagem só poderá ser correlativa da concordância
discordante da própria história» (P. RICOEUR)
10. Identidade narrativa
■ Como encontrar permanência numa realidade tão volátil?
■ O texto narrativo adquire, então, o seu pendor performativo,
«na medida em que, poieticamente, origina algo, a partir de
si mesmo. Esta eficácia constitui uma espécie de
“sacramentalidade” do texto, que vai muito além do
potencial informativo do mesmo e que pode ser considerada
a sua pragmática profunda – faz com que os leitores sejam
aquilo que são: origina o seu ser-assim ou a sua identidade»
(J. M. DUQUE).
■ Ao narrar-se, organiza-se a própria vida, dotando de
coerência a ação que vê na narrativa desta a unificação das
diversas dimensões, até aí dispersas, da sua identidade.
11. E-vangelização
■ Promover ecologias crentes (George Siemens):
«Uma ecologia é um ambiente que promove e suporta a criação
de comunidades. [...] uma ecologia é um sistema aberto,
dinâmico e interdependente, diversificado, parcialmente auto-
organizado, adaptativo e frágil. [...] [ecologia de digital é] um
conjunto de comunidades de interesses que se sobrepõem; uma
inter-polinização entre elas; uma evolução constante; sobretudo
auto-organizada» (José MOTA).
12. E-vangelização
■ As presenças devem ser:
– Ser informal e não estruturado, para permitir aos
participantes criarem de acordo com as suas necessidades;
– Ser rico em ferramentas, para proporcionar aos
participantes muitas oportunidades de partilha, através de
diversos suportes. Mas com ponderação, porque uma oferta
demasiado ampla pode, em vez de ajudar, confundir;
– Ter consistência no tempo, pois muitas comunidades e
projetos começam com grandes expetativas, notoriedade e
promoção e, depois, desaparecem lentamente. Para criar
uma ecologia de partilha de conhecimento, os participantes
precisam de um ambiente que evolui de forma consistente;
13. E-vangelização
■ As presenças devem ser:
– Ser confiável, pois só o contacto social intenso, presencial ou
em linha, permite desenvolver um sentimento de confiança e
de conforto, e para tal é necessário que os ambientes
transmitam segurança;
– Ser simples; a simplicidade deve ser prioritária. Há excelentes
ideias que falham devido à sua apresentação complexa. Quer
a seleção de ferramentas, quer a criação da estrutura da
comunidade devem refletir esta preocupação com a
simplicidade;
– Ser descentralizado, apoiado, conectado; a ecologia não
deveria estar centralizada e gerida de forma isolada, antes
permitir aos participantes a capacidade de formarem as suas
próprias conexões;
– Possuir um alto nível de tolerância à experimentação e ao
erro, já que a inovação é uma função da experimentação, da
causalidade e do erro. Deve procurar-se um ambiente com
grande tolerância e espírito inquisitivo, de modo a estimular o
crescimento do conhecimento.
14. Fatores que potenciam
■ Alguns conceitos:
– Literacia digital e mediática
– Nativo digital
– Presença visível ou invisível
– “Onde” se toca no mundo digital
■ O conceito de comunidade, mediação textual e autoridade
(Heide Campbell).
15.
16. Fatores que potenciam
■ Comunidade
■ Reconhecer as negociações que possam ocorrer dentro das
fronteiras de uma determinada comunidade.
■ Estas fronteiras estabelecem-se a partir dos padrões
acordados para aquilo que é admissível ou não integrar e
compaginar com um determinado texto de referência. O
texto sagrado ou identitário.
■ As fronteiras estão estreitamente ligadas à fisionomia
daqueles que nessa comunidade têm (ou se considera ter) o
direito e a responsabilidade de orientar para a interpretação
correta.
17. Fatores que potenciam
■ Mediação textual
■ Uma representação mais experiencial terá mais dificuldade do
que uma mais ligada à proclamação do texto?!
■ Observando a relação de uma comunidade com o seu texto
sagrado já dá para entender o modo como se relaciona com os
média.
■ A flexibilidade ou rigidez na interpretação dos textos sagrados
configura o modo como a representação de Deus é realizada no
ciberespaço.
■ E também sobre que tipo de Web será mais utilizada: Web 1.0
para conceções mais fixas e rígidas e Web 2.0 para conceções
mais flexíveis e com autoridades mais participadas.
18. Fatores que potenciam
■ Autoridade
■ O surgimento da possibilidade de qualquer pessoa poder ter
um espaço seu na Web, de forma gratuita e fácil, fez com
que as relações de poder fossem reconfiguradas.
■ O surgimento da blogosfera democratizou as vozes que se
expressam com mais liberdade no ciberespaço, o que
alterou a configuração dos magistérios que se ouvem.
■ A importância acaba por ser indexada ao destaque que se
alcança nos motores de buscas. O que não deixa de levantar
outras problemáticas.