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MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS
Artigo Especial
Medicina Baseada em Evidências: a arte de aplicar o
conhecimento científico na prática clínica
A.A. LOPES
Área de Concentração em Epidemiologia Clínica do Curso de Pós-Graduação em Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal da Bahia, Salvador, BA.
RESUMO – Este artigo foi escrito com o objetivo
de descrever o conceito de Medicina Baseada em
Evidências (MBE) e as competências necessárias
para a sua prática. MBE deve ser vista como a
integração da experiência clínica com a capacida-
de de analisar e aplicar racionalmente a informa-
ção científica ao cuidar de pacientes. A aplicação
de métodos e estratégias para fortalecer o alicer-
ce científico do médico, sem desprezar os valores
INTRODUÇÃO
Um movimento denominado Medicina Baseada
em Evidências (Evidence-Based Medicine, EBM
ou MBE)1
tem ajudado a ampliar a discussão sobre
o ensino e a prática da medicina. Embora o termo
Medicina Baseada em Evidências tenha sido intro-
duzido recentemente, os métodos didáticos que lhe
servem de alicerce não são totalmente novos2
. Não
se pode negar, no entanto, que a MBE, sendo um
movimento voltado para a formação de médicos
com espírito crítico aguçado e aptos a manter o
processo de educação continuada, tem ajudado a
definir novas estratégias e métodos didático-peda-
gógicos e a divulgar outros anteriormente desen-
volvidos. Este artigo foi escrito com o objetivo de
descrever o que se entende por Medicina Baseada
em Evidências e as competências necessárias para
os que desejam praticá-la.
O que significa Medicina Baseada em Evidên-
cias? MBE se traduz pela prática da medicina em
um contexto em que a experiência clínica é inte-
grada com a capacidade de analisar criticamente e
aplicar de forma racional a informação científica
de forma a melhorar a qualidade da assistência
médica. Na MBE, as dúvidas que surgem ao resol-
ver problemas de pacientes são os principais estí-
mulos para que se procure atualizar os conheci-
mentos1,3
. A filosofia da MBE guarda similarida-
des e pode ser integrada com a metodologia de
ensino-aprendizagem denominada Aprendizado
Baseado em Problemas4
. A aquisição de conheci-
mentos de Epidemiologia Clínica, o desenvolvi-
humanitários da profissão, deverá contribuir pa-
ra a melhoria da qualidade da assistência médica
que é oferecida no Brasil. As Escolas e Associa-
ções Médicas podem desempenhar importantes
papéis na promoção da MBE.
UNITERMOS: Medicina Baseada em Evidências. Educação
médica. Aprendizado baseado em problemas.
mento do raciocínio científico, atitudes de auto-
aprendizagem e capacidade de integrar conheci-
mentos de diversas áreas são fundamentais para a
prática da MBE3
.
Alguém pode ser considerado possuidor das
competências necessárias para a prática da MBE
quando for capaz de:
1. identificar os problemas relevantes do paciente;
2. converter os problemas em questões que condu-
zam às respostas necessárias;
3. pesquisar eficientemente as fontes de informação;
4. avaliar a qualidade da informação e a força da
evidência, favorecendo ou negando o valor de uma
determinada conduta5-10
;
5. chegar a uma conclusão correta quanto ao signi-
ficado da informação;
6. aplicar as conclusões dessa avaliação na melho-
ria dos cuidados prestados aos pacientes.
Como descrever o problema no contexto da
MBE?
No contexto da MBE, o problema deve enfocar o
paciente. Ao definir o problema, deve ser feito um
balanço entre precisão e prolixidade (Quadro). De-
pendendo de cada situação, existem determina-
das características do paciente que devem ser leva-
das em consideração na descrição do problema, de
forma a facilitar a localização das informações neces-
sárias. Por exemplo, se a febre é uma das manifes-
tações clínicas, o fato de o paciente ser uma crian-
ça de dois anos de idade, e não um adulto, modifica
de forma importante o contexto do problema.
A construção da questão no contexto da MBE
Rev Ass Med Brasil 2000; 46(3): 285-8286
LOPES, AA
A questão deve ser enunciada da forma mais
clara possível para facilitar a pesquisa da infor-
mação necessária e a identificação da melhor
alternativa para resolução do problema. A ques-
tão tem sido colocada em um contexto de quatro
elementos: 1) problema, 2) fator de predição,
3) alternativa e 4) resultado ou evento3
. É impor-
tante notar que, para determinar o valor pre-
ditivo de um determinado fator, torna-se necessá-
ria a comparação de duas ou mais alternativas.
Desta forma, os elementos dois e três podem ser
abordados em conjunto, passando a questão a ser
identificada por três elementos, fáceis de serem
lembrados através das iniciais PPR: o problema
(P), o fator de predição ou preditor (P), e o resul-
tado (R). O fator preditor de resultado pode ser
uma intervenção médica, visando o diagnóstico
(ex., teste diagnóstico positivo vs negativo) ou
tratamento (ex., anti-hipertensivo A vs anti-hi-
pertensivo B), uma exposição (ex. história positi-
va vs negativa para contato com portadores de
tuberculose) a que o paciente foi ou encontra-se
submetido, comportamento do paciente (ex. his-
tória positiva vs negativa para hábito de fumar
cigarros), uma característica sócio-demográfica
(ex., idade, procedência, tipo de ocupação), um
sintoma ou um sinal do exame físico. O resultado
costuma ser um evento tipo cura, ou melhora da
qualidade de vida. O Quadro “Elementos da Ques-
tão Clínica” traz dois exemplos de questões cons-
truídas dentro do contexto da Medicina Baseada
em Evidências. No primeiro exemplo, ao se unirem
os três elementos, problema (P), preditor (P) e
resultado (R), a questão poderia ser enunciada da
seguinte forma: Em pacientes adultos com cardio-
miopatia dilatada e em ritmo sinusal, o acréscimo
de anticoagulante oral à terapêutica habitual da
insuficiência cardíaca determina uma menor mor-
talidade e melhoria da qualidade de vida?
Pesquisa das fontes de evidência
É importante observar que, ao examinar um
paciente e detectar problemas, muitas das infor-
mações adicionais que irão orientar o que deve ser
feito são adquiridas através da observação atenta
da evolução, da avaliação laboratorial, da conver-
sa com os familiares e de consultas com outros
profissionais da equipe de saúde. Outra fonte de
informação é a literatura médica. Através de
softwares disponíveis em CD-ROM e da Internet,
resumos, artigos completos e capítulos de livros
podem ser facilmente pesquisados por um custo
relativamente baixo. A Biblioteca Nacional de
Medicina dos Estados Unidos (National Library of
Medicine, NLM), por exemplo, oferece, via Inter-
net, acesso grátis ao MEDLINE (o maior banco de
dados de resumos de artigos publicados). A NLM
pode ser acessada através do seguinte endereço:
http://www.nlm.nih.gov.
A existência de bibliotecas locais, que façam
assinaturas de bons periódicos, é importante
para a prática da MBE. No entanto, mesmo aque-
les que praticam medicina em locais afastados de
boas bibliotecas podem utilizar diversos meios
para conseguir cópias de artigos científicos pu-
blicados. O Centro Latino-Americano e do Caribe
de Informação em Ciências da Saúde (BIREME),
por exemplo, atende pedidos de fotocópias para
usuários cadastrados através do endereço, http:/
/www.bireme.br.
Avaliar a qualidade científica da informação
médica
Para que se avalie a qualidade de informações
publicadas, é importante o conhecimento de meto-
dologia de pesquisa. Cursos, livros3,11,12
e artigos5-
10,13-15
sobre Epidemiologia Clínica e Bioestatística
são úteis para concretizar este objetivo.
Os seguintes pontos devem ser observados na
ELEMENTOS DA QUESTÃO CLÍNICA
1 2 3
Problema Preditor Resultado
(P) (P) (R)
(fator de risco, de prognóstico,
ou intervaenção
Pontos a serem Tome por base o paciente e Perguntas: Que fator preditor de Pergunte: O que se espera
observados ao descreva o problema, balanceando resultado estou considerando? alcançar? O que pode realmente
construir precisão e prolixidade Qual a alternativa a ser comparada? ocorrer devido à exposição a este
a questão Seja o mais específico possível fator? Seja específico
Exemplo 1 Em pacientes adultos com cardiomiopatia dilatada e em ritmo sinusal, o acréscimo de anticoagulante oral à terapêutica habitual
da insuficiência cardíaca determina uma menor mortalidade e melhoria da qualidade de vida?
Exemplo 2 Em crianças febris (temperatura >38oC) e com idade ≤ 2 anos, atendidas na emergência, a determinação da freqüência
respiratória, acompanhada de critérios que permitam separar quem tem taquipnéia de quem tem freqüência respiratória normal,
ajuda a estimar a probabilidade de pneumonia e a reduzir a necessidade de RX de tórax, sem piorar o prognóstico?
Rev Ass Med Brasil 2000; 46(3): 285-8 287
MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS
análise de um artigo científico visando obter res-
posta para uma questão específica:
• O Objetivo do Estudo
• A Metodologia Empregada
• Os Resultados
• A Aplicabilidade dos Resultados na Prática
O objetivo do estudo permite concluir se o artigo
tem relação com a questão clínica. A análise da
metodologia do trabalho permite avaliar a credibi-
lidade que merece os resultados encontrados.
Como a metodologia de um trabalho está intima-
mente ligada com o objetivo, a análise metodoló-
gica não pode ser divorciada da questão clínica. Ao
se avaliar trabalhos sobre o valor de testes diag-
nósticos, por exemplo, deve ser observado se o
resultado do teste foi definido sem um conheci-
mento do diagnóstico definitivo (i.e., o diagnóstico
de acordo com o padrão ouro) ou vice-versa, de
forma a evitar viés de observação (e.g., erros ao se
classificar um teste diagnóstico como positivo ou
negativo ou a doença como presente ou ausente).
Quando o artigo é sobre a eficácia de intervenções
preventivas ou terapêuticas, é importante que a
designação (ou alocação) para os grupos seja feita
de forma randômica (ou aleatória) com o objetivo
de garantir probabilidades iguais de que pessoas
com diferentes características façam parte de
qualquer um dos grupos de tratamento.
Os conhecimentos necessários para que se ana-
lisem os resultados também dependem da nature-
za da questão. Na análise de estudos sobre testes
diagnósticos, por exemplo, é necessário que se
entenda pelo menos o significado dos termos sen-
sibilidade e especificidade. O entendimento do
significado dos termos risco relativo (relative
risk), redução do risco relativo (relative risk reduc-
tion ou RRR), redução do rico absoluto (absolute
risk reduction), número necessário para tratar
(number needed to treat, ou NNT), sobrevida cu-
mulativa (cumulative survival) é importante para
conclusões corretas sobre estudos de terapêutica e
prognóstico.
Aplicação da informação científica
No processo de praticar MBE, que vai da identi-
ficação do problema à escolha da alternativa a ser
adotada, não se pode esquecer que cada pessoa que
procura cuidados médicos é um ser único, apesar
de possuir características similares a diversos ou-
tros pacientes. Evidências que vêm de estudos
realizados com grupos de pacientes ajudam a to-
mar as decisões mais acertadas, mas não podem
ser desvinculadas da experiência clínica. Para
estabelecer as limitações em se aplicar os resulta-
dos de um determinado estudo para solucionar o
problema de um paciente, as seguintes perguntas
podem ajudar:
1) Se o estudo fosse realizado no local onde exerço
medicina, os resultados seriam semelhantes aos
encontrados pelo investigador?
2) O estudo oferece informações que permitam
avaliar se os resultados dependem de característi-
cas demográficas e clínicas dos pacientes, como
idade, sexo, nível educacional, gravidade da condi-
ção e doenças associadas?
3) Os benefícios foram avaliados juntamente com
os custos e riscos?
4) As informações realmente ajudam a orientar os
meus pacientes?
5) As informações ampliam a minha capacidade de
colaborar com colegas da minha área e com outros
profissionais de saúde?
Comentários finais
A filosofia da MBE é condizente com a idéia de
que a boa prática médica requer integração da
ciência e da arte. A introdução nas escolas médicas
de métodos didáticos que estimulem o auto-apren-
dizado, bem como de cursos de Epidemiologia Apli-
cada aos Problemas Clínicos e de Análise Crítica
de Trabalhos Científicos, deverá contribuir para a
formação de profissionais capazes de selecionar
adequadamente a fonte do conhecimento e de ava-
liar criteriosamente como se transferir a informa-
ção para a prática médica. Além do mais, é impor-
tante que as escolas utilizem métodos didáticos
que capacitem o estudante a pesquisar e criticar a
informação científica, contribuindo, desta forma,
para o desenvolvimento de atitudes que resultem
na melhoria da qualidade dos cuidados que o mes-
mo venha prestar aos seus pacientes ao se tornar
médico. O fato de que a escola médica onde o
profissional se formou não tenha atuado mais
diretamente para criar a capacidade de integrar o
conhecimento científico com a experiência clínica,
não deve servir de justificativa para que se despre-
ze a prática da MBE. As Associações e as Escolas
Médicas podem desempenhar importantes papéis
nesse sentido, através dos seus programas de edu-
cação continuada, cursos de extensão e de pós-
graduação.
SUMMARY
Evidence-Based Medicine: the art of app-
lying the scientific knowledge in the clinical
practice
This article was written with the objective of
describing the concept of Evidence Based Medicine
(EBM) and the competences required for its prac-
Rev Ass Med Brasil 2000; 46(3): 285-8288
LOPES, AA
tice. EBM should be viewed as an integration of
clinical experience with the ability to analyze and
rationally apply the scientific information while
taking care of patients. The application of metho-
ds and strategies to enhance the scientific back-
ground of the physician while taking into account
the humanitarian values of the medical profession
should contribute to improve the quality of the
medical care that is offered in Brazil. The Medical
Schools and Associations may play important
roles in the promotion of EBM. [Rev Ass Med Bras;
46(3): 285-8]
KEY WORDS: Evidence-based Medicine, Medical Educa-
tion. Problem-based Learning.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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test. A. Are the results of the study valid? JAMA 1994;
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8. Jaeschke R, Guyatt G, Sackett DL. III. How to use an article
about a diagnostic test. B. What are the results and will
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9. Levine M, Walter S, Lee H, Haynes T, Holbrook A, Moyer
V. IV. How to use an article about harm? JAMA 1994;
271:703-707.
10. Laupacis A, Wells G, Richardson WS, Tugwell P. Users’ guides
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1998; 2: 214-26.

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Medicina baseada em evidencias

  • 1. Rev Ass Med Brasil 2000; 46(3): 285-8 285 MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS Artigo Especial Medicina Baseada em Evidências: a arte de aplicar o conhecimento científico na prática clínica A.A. LOPES Área de Concentração em Epidemiologia Clínica do Curso de Pós-Graduação em Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA. RESUMO – Este artigo foi escrito com o objetivo de descrever o conceito de Medicina Baseada em Evidências (MBE) e as competências necessárias para a sua prática. MBE deve ser vista como a integração da experiência clínica com a capacida- de de analisar e aplicar racionalmente a informa- ção científica ao cuidar de pacientes. A aplicação de métodos e estratégias para fortalecer o alicer- ce científico do médico, sem desprezar os valores INTRODUÇÃO Um movimento denominado Medicina Baseada em Evidências (Evidence-Based Medicine, EBM ou MBE)1 tem ajudado a ampliar a discussão sobre o ensino e a prática da medicina. Embora o termo Medicina Baseada em Evidências tenha sido intro- duzido recentemente, os métodos didáticos que lhe servem de alicerce não são totalmente novos2 . Não se pode negar, no entanto, que a MBE, sendo um movimento voltado para a formação de médicos com espírito crítico aguçado e aptos a manter o processo de educação continuada, tem ajudado a definir novas estratégias e métodos didático-peda- gógicos e a divulgar outros anteriormente desen- volvidos. Este artigo foi escrito com o objetivo de descrever o que se entende por Medicina Baseada em Evidências e as competências necessárias para os que desejam praticá-la. O que significa Medicina Baseada em Evidên- cias? MBE se traduz pela prática da medicina em um contexto em que a experiência clínica é inte- grada com a capacidade de analisar criticamente e aplicar de forma racional a informação científica de forma a melhorar a qualidade da assistência médica. Na MBE, as dúvidas que surgem ao resol- ver problemas de pacientes são os principais estí- mulos para que se procure atualizar os conheci- mentos1,3 . A filosofia da MBE guarda similarida- des e pode ser integrada com a metodologia de ensino-aprendizagem denominada Aprendizado Baseado em Problemas4 . A aquisição de conheci- mentos de Epidemiologia Clínica, o desenvolvi- humanitários da profissão, deverá contribuir pa- ra a melhoria da qualidade da assistência médica que é oferecida no Brasil. As Escolas e Associa- ções Médicas podem desempenhar importantes papéis na promoção da MBE. UNITERMOS: Medicina Baseada em Evidências. Educação médica. Aprendizado baseado em problemas. mento do raciocínio científico, atitudes de auto- aprendizagem e capacidade de integrar conheci- mentos de diversas áreas são fundamentais para a prática da MBE3 . Alguém pode ser considerado possuidor das competências necessárias para a prática da MBE quando for capaz de: 1. identificar os problemas relevantes do paciente; 2. converter os problemas em questões que condu- zam às respostas necessárias; 3. pesquisar eficientemente as fontes de informação; 4. avaliar a qualidade da informação e a força da evidência, favorecendo ou negando o valor de uma determinada conduta5-10 ; 5. chegar a uma conclusão correta quanto ao signi- ficado da informação; 6. aplicar as conclusões dessa avaliação na melho- ria dos cuidados prestados aos pacientes. Como descrever o problema no contexto da MBE? No contexto da MBE, o problema deve enfocar o paciente. Ao definir o problema, deve ser feito um balanço entre precisão e prolixidade (Quadro). De- pendendo de cada situação, existem determina- das características do paciente que devem ser leva- das em consideração na descrição do problema, de forma a facilitar a localização das informações neces- sárias. Por exemplo, se a febre é uma das manifes- tações clínicas, o fato de o paciente ser uma crian- ça de dois anos de idade, e não um adulto, modifica de forma importante o contexto do problema. A construção da questão no contexto da MBE
  • 2. Rev Ass Med Brasil 2000; 46(3): 285-8286 LOPES, AA A questão deve ser enunciada da forma mais clara possível para facilitar a pesquisa da infor- mação necessária e a identificação da melhor alternativa para resolução do problema. A ques- tão tem sido colocada em um contexto de quatro elementos: 1) problema, 2) fator de predição, 3) alternativa e 4) resultado ou evento3 . É impor- tante notar que, para determinar o valor pre- ditivo de um determinado fator, torna-se necessá- ria a comparação de duas ou mais alternativas. Desta forma, os elementos dois e três podem ser abordados em conjunto, passando a questão a ser identificada por três elementos, fáceis de serem lembrados através das iniciais PPR: o problema (P), o fator de predição ou preditor (P), e o resul- tado (R). O fator preditor de resultado pode ser uma intervenção médica, visando o diagnóstico (ex., teste diagnóstico positivo vs negativo) ou tratamento (ex., anti-hipertensivo A vs anti-hi- pertensivo B), uma exposição (ex. história positi- va vs negativa para contato com portadores de tuberculose) a que o paciente foi ou encontra-se submetido, comportamento do paciente (ex. his- tória positiva vs negativa para hábito de fumar cigarros), uma característica sócio-demográfica (ex., idade, procedência, tipo de ocupação), um sintoma ou um sinal do exame físico. O resultado costuma ser um evento tipo cura, ou melhora da qualidade de vida. O Quadro “Elementos da Ques- tão Clínica” traz dois exemplos de questões cons- truídas dentro do contexto da Medicina Baseada em Evidências. No primeiro exemplo, ao se unirem os três elementos, problema (P), preditor (P) e resultado (R), a questão poderia ser enunciada da seguinte forma: Em pacientes adultos com cardio- miopatia dilatada e em ritmo sinusal, o acréscimo de anticoagulante oral à terapêutica habitual da insuficiência cardíaca determina uma menor mor- talidade e melhoria da qualidade de vida? Pesquisa das fontes de evidência É importante observar que, ao examinar um paciente e detectar problemas, muitas das infor- mações adicionais que irão orientar o que deve ser feito são adquiridas através da observação atenta da evolução, da avaliação laboratorial, da conver- sa com os familiares e de consultas com outros profissionais da equipe de saúde. Outra fonte de informação é a literatura médica. Através de softwares disponíveis em CD-ROM e da Internet, resumos, artigos completos e capítulos de livros podem ser facilmente pesquisados por um custo relativamente baixo. A Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (National Library of Medicine, NLM), por exemplo, oferece, via Inter- net, acesso grátis ao MEDLINE (o maior banco de dados de resumos de artigos publicados). A NLM pode ser acessada através do seguinte endereço: http://www.nlm.nih.gov. A existência de bibliotecas locais, que façam assinaturas de bons periódicos, é importante para a prática da MBE. No entanto, mesmo aque- les que praticam medicina em locais afastados de boas bibliotecas podem utilizar diversos meios para conseguir cópias de artigos científicos pu- blicados. O Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME), por exemplo, atende pedidos de fotocópias para usuários cadastrados através do endereço, http:/ /www.bireme.br. Avaliar a qualidade científica da informação médica Para que se avalie a qualidade de informações publicadas, é importante o conhecimento de meto- dologia de pesquisa. Cursos, livros3,11,12 e artigos5- 10,13-15 sobre Epidemiologia Clínica e Bioestatística são úteis para concretizar este objetivo. Os seguintes pontos devem ser observados na ELEMENTOS DA QUESTÃO CLÍNICA 1 2 3 Problema Preditor Resultado (P) (P) (R) (fator de risco, de prognóstico, ou intervaenção Pontos a serem Tome por base o paciente e Perguntas: Que fator preditor de Pergunte: O que se espera observados ao descreva o problema, balanceando resultado estou considerando? alcançar? O que pode realmente construir precisão e prolixidade Qual a alternativa a ser comparada? ocorrer devido à exposição a este a questão Seja o mais específico possível fator? Seja específico Exemplo 1 Em pacientes adultos com cardiomiopatia dilatada e em ritmo sinusal, o acréscimo de anticoagulante oral à terapêutica habitual da insuficiência cardíaca determina uma menor mortalidade e melhoria da qualidade de vida? Exemplo 2 Em crianças febris (temperatura >38oC) e com idade ≤ 2 anos, atendidas na emergência, a determinação da freqüência respiratória, acompanhada de critérios que permitam separar quem tem taquipnéia de quem tem freqüência respiratória normal, ajuda a estimar a probabilidade de pneumonia e a reduzir a necessidade de RX de tórax, sem piorar o prognóstico?
  • 3. Rev Ass Med Brasil 2000; 46(3): 285-8 287 MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS análise de um artigo científico visando obter res- posta para uma questão específica: • O Objetivo do Estudo • A Metodologia Empregada • Os Resultados • A Aplicabilidade dos Resultados na Prática O objetivo do estudo permite concluir se o artigo tem relação com a questão clínica. A análise da metodologia do trabalho permite avaliar a credibi- lidade que merece os resultados encontrados. Como a metodologia de um trabalho está intima- mente ligada com o objetivo, a análise metodoló- gica não pode ser divorciada da questão clínica. Ao se avaliar trabalhos sobre o valor de testes diag- nósticos, por exemplo, deve ser observado se o resultado do teste foi definido sem um conheci- mento do diagnóstico definitivo (i.e., o diagnóstico de acordo com o padrão ouro) ou vice-versa, de forma a evitar viés de observação (e.g., erros ao se classificar um teste diagnóstico como positivo ou negativo ou a doença como presente ou ausente). Quando o artigo é sobre a eficácia de intervenções preventivas ou terapêuticas, é importante que a designação (ou alocação) para os grupos seja feita de forma randômica (ou aleatória) com o objetivo de garantir probabilidades iguais de que pessoas com diferentes características façam parte de qualquer um dos grupos de tratamento. Os conhecimentos necessários para que se ana- lisem os resultados também dependem da nature- za da questão. Na análise de estudos sobre testes diagnósticos, por exemplo, é necessário que se entenda pelo menos o significado dos termos sen- sibilidade e especificidade. O entendimento do significado dos termos risco relativo (relative risk), redução do risco relativo (relative risk reduc- tion ou RRR), redução do rico absoluto (absolute risk reduction), número necessário para tratar (number needed to treat, ou NNT), sobrevida cu- mulativa (cumulative survival) é importante para conclusões corretas sobre estudos de terapêutica e prognóstico. Aplicação da informação científica No processo de praticar MBE, que vai da identi- ficação do problema à escolha da alternativa a ser adotada, não se pode esquecer que cada pessoa que procura cuidados médicos é um ser único, apesar de possuir características similares a diversos ou- tros pacientes. Evidências que vêm de estudos realizados com grupos de pacientes ajudam a to- mar as decisões mais acertadas, mas não podem ser desvinculadas da experiência clínica. Para estabelecer as limitações em se aplicar os resulta- dos de um determinado estudo para solucionar o problema de um paciente, as seguintes perguntas podem ajudar: 1) Se o estudo fosse realizado no local onde exerço medicina, os resultados seriam semelhantes aos encontrados pelo investigador? 2) O estudo oferece informações que permitam avaliar se os resultados dependem de característi- cas demográficas e clínicas dos pacientes, como idade, sexo, nível educacional, gravidade da condi- ção e doenças associadas? 3) Os benefícios foram avaliados juntamente com os custos e riscos? 4) As informações realmente ajudam a orientar os meus pacientes? 5) As informações ampliam a minha capacidade de colaborar com colegas da minha área e com outros profissionais de saúde? Comentários finais A filosofia da MBE é condizente com a idéia de que a boa prática médica requer integração da ciência e da arte. A introdução nas escolas médicas de métodos didáticos que estimulem o auto-apren- dizado, bem como de cursos de Epidemiologia Apli- cada aos Problemas Clínicos e de Análise Crítica de Trabalhos Científicos, deverá contribuir para a formação de profissionais capazes de selecionar adequadamente a fonte do conhecimento e de ava- liar criteriosamente como se transferir a informa- ção para a prática médica. Além do mais, é impor- tante que as escolas utilizem métodos didáticos que capacitem o estudante a pesquisar e criticar a informação científica, contribuindo, desta forma, para o desenvolvimento de atitudes que resultem na melhoria da qualidade dos cuidados que o mes- mo venha prestar aos seus pacientes ao se tornar médico. O fato de que a escola médica onde o profissional se formou não tenha atuado mais diretamente para criar a capacidade de integrar o conhecimento científico com a experiência clínica, não deve servir de justificativa para que se despre- ze a prática da MBE. As Associações e as Escolas Médicas podem desempenhar importantes papéis nesse sentido, através dos seus programas de edu- cação continuada, cursos de extensão e de pós- graduação. SUMMARY Evidence-Based Medicine: the art of app- lying the scientific knowledge in the clinical practice This article was written with the objective of describing the concept of Evidence Based Medicine (EBM) and the competences required for its prac-
  • 4. Rev Ass Med Brasil 2000; 46(3): 285-8288 LOPES, AA tice. EBM should be viewed as an integration of clinical experience with the ability to analyze and rationally apply the scientific information while taking care of patients. The application of metho- ds and strategies to enhance the scientific back- ground of the physician while taking into account the humanitarian values of the medical profession should contribute to improve the quality of the medical care that is offered in Brazil. The Medical Schools and Associations may play important roles in the promotion of EBM. [Rev Ass Med Bras; 46(3): 285-8] KEY WORDS: Evidence-based Medicine, Medical Educa- tion. Problem-based Learning. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Evidence-Based Medicine Working Group.Evidence-based medicine. A new approach to teaching the practice of medi- cine. JAMA 1992; 268:2420-2425. 2. Lopes AA. Raciocínio Clínico e Tomada de Decisões em Medicina: um curso integrando medicina interna e epide- miologia. Rev Bras Ed Med 1991; 45: 222-224. 3. Sackett DL, Richardson WS, Rosemberg WS, Rosenberg W, Haynes BR. Evidence-Based Medicine: how to practice and teach EBM. Churchill Livingstone, 1997. 4. Bligh J. Problem-based learning in medicine: an introduction. Postgrad Med J 1995; 7: 323-326. 5. Guyatt GH, Sackett DL, Cook DJ. Users’ guides to the medical literature. II. How to use an article about therapy or pre- vention. A. Are the results of the study valid?. JAMA 1993; 270:2598-2601. 6. Guyatt GH, Sackett DL, Cook DJ. Users’ guides to the medical literature. II. How to use an article about therapy or pre- vention. B. What were the results and will they help me in caring for my patients? JAMA 1994; 271:59-63. 7. Jaeschke R, Guyatt G, Sackett DL. Users’ guides to the medical literature. III. How to use an article about a diagnostic test. A. Are the results of the study valid? JAMA 1994; 271:389-391. 8. Jaeschke R, Guyatt G, Sackett DL. III. How to use an article about a diagnostic test. B. What are the results and will they help me in caring for my patients? JAMA 1994; 271:703-707. 9. Levine M, Walter S, Lee H, Haynes T, Holbrook A, Moyer V. IV. How to use an article about harm? JAMA 1994; 271:703-707. 10. Laupacis A, Wells G, Richardson WS, Tugwell P. Users’ guides to the medical literature. V. How to use an article about prognosis. JAMA 1994; 272:234-237. 11. Fletcher HR, Fletcher SW, Wagner EH; trad. Duncan BB, Schmidt MI. Epidemiologia Clínica: Elementos Essenciais, 3 ed. Porto Alegre, RS, Artes Médicas, 1996. 12. Friedland DJ. Evidence-Based Medicine: A Framework for Clinical Practice, Stanford, CT, Appleton & Lange, 1998. 13. Lopes AA. Statistical Inference: Basic concepts. Bras J Infect Dis. 1998; 2: 62-9. 14. Lopes AA. Statistical Inference: The normal and related dis- tribution. Bras J Infect Dis. 1998; 2: 170-4. 15. Lopes AA. Statistical Inference: Statistical Hypothesis Tes- ting and Confidence Interval Estimation. Bras J Infect Dis. 1998; 2: 214-26.