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RECONCILIAÇÃO: MATURIDADE DOS FILHOS DE DEUS
Pe. José Bortolini – Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades – Paulus, 2007
* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL *
ANO: C – TEMPO LITÚRGICO: 4° DOMINGO DA QUARESMA – COR: ROXO
I. INTRODUÇÃO GERAL
1. A história da humanidade é marcada continuamente pela
violência, exploração e ódio. O que a Palavra de Deus tem a
dizer a esse respeito?
2. O povo de Israel, amargando o exílio na Babilônia, toma
consciência de que o ideal a ser atingido é o de uma sociedade
reconciliada (cf. 1ª leitura Js 5,9a.10-12).
3. Ser filho de Deus é deixar de lado os rancores e aceitar o
irmão de volta, pois a reconciliação é a prova de maturidade
de que os seres humanos são filhos do Pai misericordioso (cf.
Evangelho Lc 15,1-3.11-32).
4. Em Jesus, e somente nele, as pessoas se reconciliam com
Deus. O cristão, seguindo o exemplo de Paulo, é proclamador
dessa nova realidade, colocando-se, espontânea e generosa-
mente, a serviço dela (cf. 2ª leitura 2Cor 5,17-21).
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1ª leitura (Js 5,9a.10-12): Criancice ou maturidade respon-
sável?
5. O livro de Josué não pretende contar como os fatos acon-
teceram. Ele é uma tentativa de jogar luz sobre os aconteci-
mentos catastróficos, detectar as raízes do mal e apresentar
soluções para mudanças radicais. Destinava-se aos exilados na
Babilônia, a fim de que tomassem consciência e percebessem
por que chegaram a tal situação, sem terra, escravizados e
explorados. Para mostrar que Israel se comportou infantilmen-
te é que o autor do livro de Josué recordou os fatos passados.
6. Os israelitas já haviam atravessado o rio Jordão (caps. 3-
4) e preparavam-se para conquistar a terra. Antes, porém,
Josué promove a circuncisão de todos os hebreus, requisito
indispensável para a festa da Páscoa que será celebrada a
seguir. A circuncisão era um sinal na carne. Tinha o objetivo
de selar a identidade de Israel enquanto povo da Aliança. Em
outras palavras, era o sinal da maturidade de um povo para
viver em harmonia e na liberdade responsável.
7. De que tipo de maturidade se trata? Javé declara: “Hoje
eu retirei de cima de vocês o opróbrio (vexame) do Egito” (v.
9a). O opróbrio é, sem dúvida, a incircuncisão, não somente
enquanto ausência do sinal na carne, mas sobretudo enquanto
símbolo de nação opressora, antifraterna e devoradora de
vidas humanas, como era o Egito. A circuncisão era, pois, um
sinal de ruptura com o sistema opressor, a fim de abraçar um
novo modo de vida, na fraternidade, liberdade e maturidade.
8. Os israelitas deram àquele lugar o nome Gilgal (Guilgal),
que em hebraico faz assonância com gallôti (= tirei) e, talvez,
com gulah (= exilar). Portanto, Gilgal não é um lugar geográ-
fico somente, mas um lugar teológico: é onde se remove todo
sistema escravista e injusto, para assumir comportamentos
maduros e fraternos. É bem provável que este texto, lido aos
exilados na Babilônia — o novo Egito —, fizesse brotar espe-
ranças de vida nova e fraterna, num clima tão desejado de
liberdade. Certamente o exílio soava como a grande prova da
imaturidade de Israel, que não soube ser responsável, carre-
gando agora novo opróbrio.
9. O texto continua, relatando a Páscoa que se celebrou nas
planícies de Jericó, recordando a Páscoa do Egito (Ex 12,17-
41). O sentido pode ser este: quando o povo atinge a maturi-
dade responsável, é capaz de estabelecer comunhão perfeita
com Deus. O texto se aproxima, quanto ao sentido, a Gn 1,26-
31, em que o homem é criado no sexto dia, às vésperas do
shabbat, a grande festa do encontro com Deus. Foi criado para
celebrar a vida. Como terão reagido os exilados diante disso?
10. Terminada a festa da Páscoa, os israelitas comem dos
frutos que a terra generosamente lhes oferece, sem que eles a
tenham cultivado. É a realização da promessa, o início da vida
nova. O maná cessa de cair. Reinicia o tempo da fraternidade,
da posse da terra, da partilha, na liberdade e responsabilidade.
11. Será que Israel foi responsável? Por que, então, está no
exílio, sem terra? A resposta pode ser encontrada além, em
outro texto exílico (Lv 26,34-35): “…Então a terra cumprirá
seus sábados, durante todos os dias de sua desolação, enquan-
to vocês estiverem na terra de seus inimigos. Então a terra
repousará e poderá cumprir seus sábados…”. Não, Israel não
se comportou como povo maduro. Na terra da qual tomou
posse comportou-se irresponsavelmente, repetindo as opres-
sões do Egito.
Evangelho (Lc 15,1-3.11-32): A fraternidade é fruto da
maturidade dos filhos de Deus
12. O capítulo 15 é o coração do evangelho de Lucas. Situado
no meio da viagem de Jesus a Jerusalém (cf. comentário ao
evangelho do domingo passado), revela o ser de Deus mani-
festado nas palavras e ações de Jesus. Revela também quem
são os autênticos filhos de Deus: os que aderem a Jesus, sem
manias de superioridade e sem preconceitos em relação aos
outros.
13. O que provocou as parábolas do cap. 15 de Lucas? Uma
informação importante vem dos vv. 1-2: cobradores de impos-
tos e pecadores (os marginalizados daquele tempo) se aproxi-
mam de Jesus. Os fariseus e os doutores da Lei contestam essa
solidariedade manifestada no ato de acolhê-los e de ter em
comum com eles inclusive as refeições (nas quais todos enfia-
vam as mãos na mesma panela em que estava a comida), cor-
rendo o risco de contaminação ritual e má fama. Outra infor-
mação pode ser deduzida da prática pastoral de Lucas, acom-
panhando Paulo em meio aos pagãos. Os judeus, longe de se
alegrar com a adesão dos pagãos, procuram infernizar a vida
dos missionários.
14. Por meio dessas duas informações já podemos identificar
as personagens da parábola do pai misericordioso: o pai é
Deus, que manifesta seu amor na prática de Jesus; o filho mais
velho é Israel, os que se julgam “irrepreensíveis” por praticar
os mandamentos. Entre eles, na primeira fila, estão os fariseus
(= separados) e os doutores da Lei (especializados no rigoris-
mo da Lei e na sua aplicação); o filho mais novo são os mar-
ginalizados, pecadores, cobradores de impostos e os pagãos
convertidos.
15. Vamos dividir a parábola em quatro cenas: a. O pai e o
filho mais novo (v. 12); b. O filho mais novo (vv.13-19); c. O
pai e o filho mais novo (vv. 20-24); d. O pai e o filho mais
velho (vv. 25-32).
a. O pai e o filho mais novo (v. 12): Imparcialidade
16. A cena é muito breve. Num gesto ousado, contrariando as
regras do jogo, o filho mais novo pede sua parte na herança.
(A divisão da herança era feita normalmente após a morte do
pai. Faltando este, o primogênito assumia a gestão dos bens,
cabendo-lhe dupla porção.) Aqui o pai não reage e consente,
dando a entender que para ele todos os filhos são iguais e têm
os mesmos direitos.
b. O filho mais novo (vv. 13-19): Irresponsabilidade
17. Longe dos cuidados paternos, a vida do filho se torna
extremamente ambígua. Está pagando o preço de sua imaturi-
dade. Estranho em terra estranha, passa a viver a condição de
servo: deixa de ser filho para ser escravo. Sua condição é
extremamente humilhante, pois cuida de porcos (animais
impuros por excelência para os judeus) e quer disputar com
eles um bocado de comida (v. 16. A comida desses porcos era,
provavelmente o fruto adocicado de algumas azinheiras).
18. Atingindo o fundo da humilhação (excluído da macabra
“mesa comum” com os porcos), planeja a possibilidade de
retorno: seu discurso de apresentação constará de três partes:
reconhecimento do pecado; reconhecimento da perda da filia-
ção; pedido para ser admitido como servo (vv. 18-19).
c. O pai e o filho mais novo (vv. 20-24): Filiação reconquis-
tada
19. Tem-se a impressão de que o pai jamais desistira da idéia
de que o filho não voltasse. Vendo-o ainda longe, encheu-se
de compaixão. Este verbo (splagchnizomai, em grego) é, nos
evangelhos, atribuído sempre a Jesus. Somente o bom samari-
tano (Lc 10,33) é capaz de tal ação (por isso pode-se dizer que
é uma ação divina). É a compaixão de Deus para com o sofri-
mento e a humilhação humanos (cf. Mt 9,36; 14,14; 15,32;
18,27; 20,34; Mc 1,41; 6,34; 8,2; 9,22; Lc 7,13).
20. A ação do pai visa restabelecer plenamente o filho perdi-
do. Seu primeiro gesto é não deixar que o filho repita o discur-
so de apresentação, e sobretudo evita que faça o pedido de ser
tratado como servo. Imediatamente os servos são chamados
para vestir o filho, devolvendo-lhe a dignidade e tornando-o
hóspede importante. Ordena que lhe ponham o anel, conferin-
do-lhe plenos poderes (talvez o anel fosse o sinete da família,
com o qual o portador podia dispor livremente dos bens da
mesma), e que o façam calçar sandálias, sinal da liberdade
adquirida. Por fim, manda matar o boi de engorda, pois a data
era extremamente importante: ele havia recuperado o seu filho
(em grego, com o artigo, dando a impressão de que fosse o
único filho que possuía). Trata-se de verdadeira ressurreição.
Por duas vezes o filho dissera: “Vou-me levantar” (em grego,
anastás, vv. 18.20, termo que faz referência à ressurreição,
anástasis), e o pai, por duas vezes, o havia considerado morto
(vv. 24.32).
d. O pai e o filho mais velho (vv. 25-32): Convite à reconcili-
ação
21. O filho mais velho estivera, até agora, fora de cena. Ti-
nha-se a impressão de que fosse bonzinho, verdadeiro ideal de
filho. Mas suas declarações o condenam. Sua irresponsabili-
dade fundamental é não querer se reconciliar, não aderir ao
projeto do pai (v. 28). E nas palavras que dirige ao pai dá a
conhecer quem ele é: “Há tantos anos que te sirvo” (v. 29).
Em outras palavras, não pauta sua vida no relacionamento pai-
filho, mas no de patrão-servo; até agora ele se comportou
como um dos empregados do v. 22. É ainda mais radical em
relação ao irmão mais novo: calunia-o de ter devorado os bens
do pai com prostitutas (v. 30; cf. v. 13) e não admite chamá-lo
de irmão. Limita-se a dizer “esse teu filho” (v. 30). O pai tenta
suscitar a reconciliação: “Meu filho… esse teu irmão estava
morto e voltou a viver” (vv. 31-32). O verdadeiro pai quer
autênticos filhos, e essa autenticidade requer a reconciliação,
custe o que custar.
22. A parábola não diz se o filho mais velho assumiu a recon-
ciliação para “entrar em casa”, ou se preferiu “ficar fora da
festa”. A resposta é o cristão quem, com sua prática em favor
dos excluídos, deverá dar.
2ª leitura (2Cor 5,17-21): “Vocês devem se reconciliar com
Deus”
23. A segunda carta aos Coríntios é uma coletânea de textos
que Paulo escreveu à comunidade em ocasiões diferentes e
respondendo a questões diferentes.
24. Paulo teve de escrever aos coríntios, comunidade por ele
fundada, para contestar a atitude dos falsos missionários que
nela se haviam infiltrado, pregando um evangelho diferente,
ao sabor de seus interesses. Eram missionários exibicionistas,
com cartas de apresentação, utilitaristas e interesseiros. Visa-
vam ao lucro e à promoção pessoal. Faziam-se sustentar pela
comunidade. Minavam a ação de Paulo, ridicularizavam-no e
punham em perigo a essência do Evangelho: agarravam-se à
Lei, esvaziando a paixão, morte e ressurreição de Jesus.
25. No texto em questão, Paulo reforça que “quem está unido
a Cristo é uma criatura nova. As coisas antigas passaram,
agora existe uma realidade nova!” (v. 17). O cerne do ser
cristão é reconhecer a novidade de Jesus, realizada na sua
vida, morte e ressurreição. É o grande gesto com que Deus se
reconcilia com a humanidade, não levando em conta seus
pecados. Para realizar essa reconciliação, Deus tratou Jesus
como vítima responsável pelo pecado, visto que o ser humano,
por si só, não se justifica (v. 21).
26. Paulo sente a responsabilidade de levar à frente esse pro-
jeto. Ele chama seu trabalho apostólico de diakonia, serviço
gratuito (v. 18). Ele exerce a função de representante legítimo
(embaixador), e suas palavras são as próprias palavras de
Cristo: “Vocês devem se reconciliar com Deus” (v. 20). Sem a
adesão a Cristo morto e ressuscitado não há reconciliação. E
sem o anúncio desapegado, espontâneo, verdadeiro serviço da
Palavra, os que pretendem falar em nome de Deus mal conse-
guem promover a si próprios, obstruindo o projeto de Deus..
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
27. Aprofundar o sentido de reconciliação como processo que leva à plena realização do
ser humano em Deus e com os irmãos entre si. Os excluídos de hoje, também os que não
dispõem de água de qualidade, têm chances de plena realização?
28. Levar a comunidade a assumir o projeto de Deus, tal como é apresentado no evange-
lho, como sinal de maturidade cristã. O que dizer e o que fazer diante dos que estão excluí-
dos? Nossas comunidades têm coragem de se reconciliar com os excluídos? Em que con-
sistiria essa reconciliação?
29. À luz da diakonia de Paulo, questionar a atitude de pastores e fiéis enquanto ministros
da reconciliação de Deus com as pessoas e destas entre si.

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Comentário: 4° Domingo da Quaresma - Ano C

  • 1. RECONCILIAÇÃO: MATURIDADE DOS FILHOS DE DEUS Pe. José Bortolini – Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades – Paulus, 2007 * LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL * ANO: C – TEMPO LITÚRGICO: 4° DOMINGO DA QUARESMA – COR: ROXO I. INTRODUÇÃO GERAL 1. A história da humanidade é marcada continuamente pela violência, exploração e ódio. O que a Palavra de Deus tem a dizer a esse respeito? 2. O povo de Israel, amargando o exílio na Babilônia, toma consciência de que o ideal a ser atingido é o de uma sociedade reconciliada (cf. 1ª leitura Js 5,9a.10-12). 3. Ser filho de Deus é deixar de lado os rancores e aceitar o irmão de volta, pois a reconciliação é a prova de maturidade de que os seres humanos são filhos do Pai misericordioso (cf. Evangelho Lc 15,1-3.11-32). 4. Em Jesus, e somente nele, as pessoas se reconciliam com Deus. O cristão, seguindo o exemplo de Paulo, é proclamador dessa nova realidade, colocando-se, espontânea e generosa- mente, a serviço dela (cf. 2ª leitura 2Cor 5,17-21). II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 1ª leitura (Js 5,9a.10-12): Criancice ou maturidade respon- sável? 5. O livro de Josué não pretende contar como os fatos acon- teceram. Ele é uma tentativa de jogar luz sobre os aconteci- mentos catastróficos, detectar as raízes do mal e apresentar soluções para mudanças radicais. Destinava-se aos exilados na Babilônia, a fim de que tomassem consciência e percebessem por que chegaram a tal situação, sem terra, escravizados e explorados. Para mostrar que Israel se comportou infantilmen- te é que o autor do livro de Josué recordou os fatos passados. 6. Os israelitas já haviam atravessado o rio Jordão (caps. 3- 4) e preparavam-se para conquistar a terra. Antes, porém, Josué promove a circuncisão de todos os hebreus, requisito indispensável para a festa da Páscoa que será celebrada a seguir. A circuncisão era um sinal na carne. Tinha o objetivo de selar a identidade de Israel enquanto povo da Aliança. Em outras palavras, era o sinal da maturidade de um povo para viver em harmonia e na liberdade responsável. 7. De que tipo de maturidade se trata? Javé declara: “Hoje eu retirei de cima de vocês o opróbrio (vexame) do Egito” (v. 9a). O opróbrio é, sem dúvida, a incircuncisão, não somente enquanto ausência do sinal na carne, mas sobretudo enquanto símbolo de nação opressora, antifraterna e devoradora de vidas humanas, como era o Egito. A circuncisão era, pois, um sinal de ruptura com o sistema opressor, a fim de abraçar um novo modo de vida, na fraternidade, liberdade e maturidade. 8. Os israelitas deram àquele lugar o nome Gilgal (Guilgal), que em hebraico faz assonância com gallôti (= tirei) e, talvez, com gulah (= exilar). Portanto, Gilgal não é um lugar geográ- fico somente, mas um lugar teológico: é onde se remove todo sistema escravista e injusto, para assumir comportamentos maduros e fraternos. É bem provável que este texto, lido aos exilados na Babilônia — o novo Egito —, fizesse brotar espe- ranças de vida nova e fraterna, num clima tão desejado de liberdade. Certamente o exílio soava como a grande prova da imaturidade de Israel, que não soube ser responsável, carre- gando agora novo opróbrio. 9. O texto continua, relatando a Páscoa que se celebrou nas planícies de Jericó, recordando a Páscoa do Egito (Ex 12,17- 41). O sentido pode ser este: quando o povo atinge a maturi- dade responsável, é capaz de estabelecer comunhão perfeita com Deus. O texto se aproxima, quanto ao sentido, a Gn 1,26- 31, em que o homem é criado no sexto dia, às vésperas do shabbat, a grande festa do encontro com Deus. Foi criado para celebrar a vida. Como terão reagido os exilados diante disso? 10. Terminada a festa da Páscoa, os israelitas comem dos frutos que a terra generosamente lhes oferece, sem que eles a tenham cultivado. É a realização da promessa, o início da vida nova. O maná cessa de cair. Reinicia o tempo da fraternidade, da posse da terra, da partilha, na liberdade e responsabilidade. 11. Será que Israel foi responsável? Por que, então, está no exílio, sem terra? A resposta pode ser encontrada além, em outro texto exílico (Lv 26,34-35): “…Então a terra cumprirá seus sábados, durante todos os dias de sua desolação, enquan- to vocês estiverem na terra de seus inimigos. Então a terra repousará e poderá cumprir seus sábados…”. Não, Israel não se comportou como povo maduro. Na terra da qual tomou posse comportou-se irresponsavelmente, repetindo as opres- sões do Egito. Evangelho (Lc 15,1-3.11-32): A fraternidade é fruto da maturidade dos filhos de Deus 12. O capítulo 15 é o coração do evangelho de Lucas. Situado no meio da viagem de Jesus a Jerusalém (cf. comentário ao evangelho do domingo passado), revela o ser de Deus mani- festado nas palavras e ações de Jesus. Revela também quem são os autênticos filhos de Deus: os que aderem a Jesus, sem manias de superioridade e sem preconceitos em relação aos outros. 13. O que provocou as parábolas do cap. 15 de Lucas? Uma informação importante vem dos vv. 1-2: cobradores de impos- tos e pecadores (os marginalizados daquele tempo) se aproxi- mam de Jesus. Os fariseus e os doutores da Lei contestam essa solidariedade manifestada no ato de acolhê-los e de ter em comum com eles inclusive as refeições (nas quais todos enfia- vam as mãos na mesma panela em que estava a comida), cor- rendo o risco de contaminação ritual e má fama. Outra infor- mação pode ser deduzida da prática pastoral de Lucas, acom- panhando Paulo em meio aos pagãos. Os judeus, longe de se alegrar com a adesão dos pagãos, procuram infernizar a vida dos missionários. 14. Por meio dessas duas informações já podemos identificar as personagens da parábola do pai misericordioso: o pai é Deus, que manifesta seu amor na prática de Jesus; o filho mais velho é Israel, os que se julgam “irrepreensíveis” por praticar os mandamentos. Entre eles, na primeira fila, estão os fariseus (= separados) e os doutores da Lei (especializados no rigoris- mo da Lei e na sua aplicação); o filho mais novo são os mar- ginalizados, pecadores, cobradores de impostos e os pagãos convertidos. 15. Vamos dividir a parábola em quatro cenas: a. O pai e o filho mais novo (v. 12); b. O filho mais novo (vv.13-19); c. O pai e o filho mais novo (vv. 20-24); d. O pai e o filho mais velho (vv. 25-32). a. O pai e o filho mais novo (v. 12): Imparcialidade 16. A cena é muito breve. Num gesto ousado, contrariando as regras do jogo, o filho mais novo pede sua parte na herança. (A divisão da herança era feita normalmente após a morte do pai. Faltando este, o primogênito assumia a gestão dos bens, cabendo-lhe dupla porção.) Aqui o pai não reage e consente,
  • 2. dando a entender que para ele todos os filhos são iguais e têm os mesmos direitos. b. O filho mais novo (vv. 13-19): Irresponsabilidade 17. Longe dos cuidados paternos, a vida do filho se torna extremamente ambígua. Está pagando o preço de sua imaturi- dade. Estranho em terra estranha, passa a viver a condição de servo: deixa de ser filho para ser escravo. Sua condição é extremamente humilhante, pois cuida de porcos (animais impuros por excelência para os judeus) e quer disputar com eles um bocado de comida (v. 16. A comida desses porcos era, provavelmente o fruto adocicado de algumas azinheiras). 18. Atingindo o fundo da humilhação (excluído da macabra “mesa comum” com os porcos), planeja a possibilidade de retorno: seu discurso de apresentação constará de três partes: reconhecimento do pecado; reconhecimento da perda da filia- ção; pedido para ser admitido como servo (vv. 18-19). c. O pai e o filho mais novo (vv. 20-24): Filiação reconquis- tada 19. Tem-se a impressão de que o pai jamais desistira da idéia de que o filho não voltasse. Vendo-o ainda longe, encheu-se de compaixão. Este verbo (splagchnizomai, em grego) é, nos evangelhos, atribuído sempre a Jesus. Somente o bom samari- tano (Lc 10,33) é capaz de tal ação (por isso pode-se dizer que é uma ação divina). É a compaixão de Deus para com o sofri- mento e a humilhação humanos (cf. Mt 9,36; 14,14; 15,32; 18,27; 20,34; Mc 1,41; 6,34; 8,2; 9,22; Lc 7,13). 20. A ação do pai visa restabelecer plenamente o filho perdi- do. Seu primeiro gesto é não deixar que o filho repita o discur- so de apresentação, e sobretudo evita que faça o pedido de ser tratado como servo. Imediatamente os servos são chamados para vestir o filho, devolvendo-lhe a dignidade e tornando-o hóspede importante. Ordena que lhe ponham o anel, conferin- do-lhe plenos poderes (talvez o anel fosse o sinete da família, com o qual o portador podia dispor livremente dos bens da mesma), e que o façam calçar sandálias, sinal da liberdade adquirida. Por fim, manda matar o boi de engorda, pois a data era extremamente importante: ele havia recuperado o seu filho (em grego, com o artigo, dando a impressão de que fosse o único filho que possuía). Trata-se de verdadeira ressurreição. Por duas vezes o filho dissera: “Vou-me levantar” (em grego, anastás, vv. 18.20, termo que faz referência à ressurreição, anástasis), e o pai, por duas vezes, o havia considerado morto (vv. 24.32). d. O pai e o filho mais velho (vv. 25-32): Convite à reconcili- ação 21. O filho mais velho estivera, até agora, fora de cena. Ti- nha-se a impressão de que fosse bonzinho, verdadeiro ideal de filho. Mas suas declarações o condenam. Sua irresponsabili- dade fundamental é não querer se reconciliar, não aderir ao projeto do pai (v. 28). E nas palavras que dirige ao pai dá a conhecer quem ele é: “Há tantos anos que te sirvo” (v. 29). Em outras palavras, não pauta sua vida no relacionamento pai- filho, mas no de patrão-servo; até agora ele se comportou como um dos empregados do v. 22. É ainda mais radical em relação ao irmão mais novo: calunia-o de ter devorado os bens do pai com prostitutas (v. 30; cf. v. 13) e não admite chamá-lo de irmão. Limita-se a dizer “esse teu filho” (v. 30). O pai tenta suscitar a reconciliação: “Meu filho… esse teu irmão estava morto e voltou a viver” (vv. 31-32). O verdadeiro pai quer autênticos filhos, e essa autenticidade requer a reconciliação, custe o que custar. 22. A parábola não diz se o filho mais velho assumiu a recon- ciliação para “entrar em casa”, ou se preferiu “ficar fora da festa”. A resposta é o cristão quem, com sua prática em favor dos excluídos, deverá dar. 2ª leitura (2Cor 5,17-21): “Vocês devem se reconciliar com Deus” 23. A segunda carta aos Coríntios é uma coletânea de textos que Paulo escreveu à comunidade em ocasiões diferentes e respondendo a questões diferentes. 24. Paulo teve de escrever aos coríntios, comunidade por ele fundada, para contestar a atitude dos falsos missionários que nela se haviam infiltrado, pregando um evangelho diferente, ao sabor de seus interesses. Eram missionários exibicionistas, com cartas de apresentação, utilitaristas e interesseiros. Visa- vam ao lucro e à promoção pessoal. Faziam-se sustentar pela comunidade. Minavam a ação de Paulo, ridicularizavam-no e punham em perigo a essência do Evangelho: agarravam-se à Lei, esvaziando a paixão, morte e ressurreição de Jesus. 25. No texto em questão, Paulo reforça que “quem está unido a Cristo é uma criatura nova. As coisas antigas passaram, agora existe uma realidade nova!” (v. 17). O cerne do ser cristão é reconhecer a novidade de Jesus, realizada na sua vida, morte e ressurreição. É o grande gesto com que Deus se reconcilia com a humanidade, não levando em conta seus pecados. Para realizar essa reconciliação, Deus tratou Jesus como vítima responsável pelo pecado, visto que o ser humano, por si só, não se justifica (v. 21). 26. Paulo sente a responsabilidade de levar à frente esse pro- jeto. Ele chama seu trabalho apostólico de diakonia, serviço gratuito (v. 18). Ele exerce a função de representante legítimo (embaixador), e suas palavras são as próprias palavras de Cristo: “Vocês devem se reconciliar com Deus” (v. 20). Sem a adesão a Cristo morto e ressuscitado não há reconciliação. E sem o anúncio desapegado, espontâneo, verdadeiro serviço da Palavra, os que pretendem falar em nome de Deus mal conse- guem promover a si próprios, obstruindo o projeto de Deus.. III. PISTAS PARA REFLEXÃO 27. Aprofundar o sentido de reconciliação como processo que leva à plena realização do ser humano em Deus e com os irmãos entre si. Os excluídos de hoje, também os que não dispõem de água de qualidade, têm chances de plena realização? 28. Levar a comunidade a assumir o projeto de Deus, tal como é apresentado no evange- lho, como sinal de maturidade cristã. O que dizer e o que fazer diante dos que estão excluí- dos? Nossas comunidades têm coragem de se reconciliar com os excluídos? Em que con- sistiria essa reconciliação? 29. À luz da diakonia de Paulo, questionar a atitude de pastores e fiéis enquanto ministros da reconciliação de Deus com as pessoas e destas entre si.