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ASSUNTO 4 - TANATOLOGIA
Tanatologia é a parte da Medicina Legal que estuda a morte e os problemas médico-legais dela
decorrentes. Com a morte cessa a personalidade civil do indivíduo, o que dá lugar a uma série de
consequências jurídicas de alta relevância.
A definição mais simples de morte é a cessação total e permanente das funções vitais. Porém, como
avanço da tecnologia médica, surgiram novos questionamentos, principalmente em relação ao exato
momento de se considerar alguém morto. (Isso é importante no caso da doação de órgãos para
transplante, por exemplo). Desta forma, define-se atualmente morte clínica como o estado irreversível
de defunção encefálica comprovada por exames específicos e não mais pela cessação da atividade
cardiorrespiratória (uma vez que a pessoa com morte encefálica pode manter a função
cardiorrespiratória preservada)
Mas o que seria a morte encefálica? A morte encefálica é a situação em que as estruturas vitais do
encéfalo encontram-se lesadas irreversivelmente. Caracterizando-se por:
-ausência total de resposta cerebral, com perda absoluta de consciência;
-abolição dos reflexos cefálicos, com hipotonia muscular e pupilas fixas indiferentes aos estímulos
dolorosos e luminosidade.
-ausência de respiração espontânea
-eletroencefalograma EEG plano, isoelétrico em todas as derivações;
-ausência de circulação cerebral em exame angiográfico.
O receio de ser enterrado vivo está presente em várias pessoas. Os numerosos casos, quase lendários,
contados pelos populares não passam de imaginação exaltada ou má observação.
Existem raríssimos casos de morte aparente, que ocorriam geralmente na antiguidade e em meio a
grandes epidemias, quando os médicos não faziam um exame mais apurado para diagnosticar a morte.
Nos IMLs e Anatomias de todo o mundo não se tem notícia de se ter iniciado um exame necroscópico em
uma pessoa ainda viva.
O diagnóstico da realidade da morte é feito através de vários meios, e os fenômenos decorrentes da
morte são divididos em várias etapas:
Fenômenos abióticos imediatos:
-perda da consciência
-perda da sensibilidade
-abolição da motilidade e do tônus muscular
-cessação da respiração
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-cessação da circulação (batimentos cardíacos)
-cessação da atividade cerebral
Existem alguns testes antigos, dos quais descreveremos alguns:
-Introduzir uma agulha na região precordial. Se o coração ainda bater, a agulha se movimentará;
-Fazer a ligadura de um dedo, se houver vida, o mesmo adquirirá cor violácea;
-Instilar duas gotas de éter nos olhos, se houver vida, haverá hiperemia;
-Aproximar uma vela da pele do indivíduo; se houver vida, haverá formação de uma vesícula
sanguinolenta;
-Fazer uma injeção de fluoresceína endovenosa. Se houver vida, em 30 minutos a pele adquire cor
amarela e os olhos cor verde.
Fenômenos abióticos consecutivos
-Desidratação: a evaporação da água nos tecidos orgânicos leva a diminuição de peso, ao ressecamento
da pele, os globos oculares sofrem opacificação das córneas, formando manchas negras na esclera.
-Resfriamento do corpo: Não havendo mais funcionamento dos centros cerebrais termorreguladores, o
cadáver perde calor, em média de 1 a 1,5 graus por hora, até atingir a temperatura ambiente.
-Rigidez cadavérica: causada por fenômenos bioquímicos que ocorrem dentro das células musculares,
começa entre 1 a 2 horas após a morte, chegando ao máximo cerca de 8 horas após. Desaparece com o
início da putrefação, geralmente depois de 24 horas. Inicia-se nos músculos da mandíbula, e
progressivamente dos membros superiores até os inferiores. Se desfaz com o início da putrefação,
inversamente como se instalou.
-Livores hipostáticos: São produzidos pela parada da circulação sanguínea, Surgem nas primeiras horas
após a morte, formando um rendilhado puntiforme. Se tornam fixos por volta de 8 a 12 horas após a
morte. De acordo com os livores, podemos descobrir a posição em que o cadáver estava na hora da
morte. (por exemplo, se ele morreu em decúbito ventral, a parte anterior ficará com livores)
Estes três últimos fenômenos podem ser assim descritos, para melhor memorização: ALGOR
(resfriamento), LIVOR (manchas de hipóstase) e RIGOR (rigidez cadavérica)
Fenômenos transformativos destrutivos
São aqueles que alteram a estrutura do cadáver.
Com a queda dos sistemas encefálicos superiores, as células permanecem ainda algumas horas em
funcionamento, formando catabólitos que vão acidificando o ambiente celular (pois não está havendo
entrada de oxigênio) de tal forma que a célula vai sendo destruída em um processo denominado autólise.
Ela representa o início bioquímico da putrefação.
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Entre 20 a 24 horas após a morte, o processo bacteriano presente no intestino passa a ser visualizável, a
partir de uma mancha verde que se instala na fossa ilíaca direita, por causa da proximidade do ceco
(início do intestino grosso) com a pele da parede abdominal. Essa fase é chamada de fase de coloração
Há também a formação do gás sulfídrico bacteriano, que combinado com a hemoglobina do sangue cria
um composto esverdeado denominado sulfometahemoglobina. Ocorre também a formação de dois
derivados da decomposição das proteínas, chamadas de putrefacina e cadaverina, ambas de odor muito
desagradável.
Continuando com o desenvolvimento bacteriano, os gases decorrentes da putrefação começam a
aumentar tremendamente nas pressões intracavitárias (caixa craniana, tórax e abdome), fazendo com
que o sangue já parcialmente putrefeito procure áreas de menos pressão; desta forma se instala um
mapeado dérmico conhecido como circulação póst mortem ou circulação póstuma de brouardel. Em
decorrência destas mesmas pressões, acontece a protusão da língua e das órbitas, o agigantamento do
cadáver, e nos homens, aumento da bolsa escrotal
Encontramos ainda nessa fase a formação de bolhas ou flíctenas putrefativas, cheias de líquido, com
descolamento da pele do cadáver. Ele então adquire uma posição chamada de “posição de boxeador”. A
esse conjunto de características damos o nome de fase gasosa da putrefação. Ela geralmente dura
vários dias até semanas, dependendo de fatores como condições climáticas, local onde o corpo se
encontra etc.
Um número incontável de bactérias agora auxiliadas por outros animais necrofágicos, começa a destruir
a arquitetura orgânica. Principalmente as larvas de moscas e outros insetos.
Com o passar dos dias, as partes moles vão se destruindo, e as partes ósseas mais proeminentes vão
aparecendo; surge um líquido pútrido de cor escura que se espalha por todo o cadáver. Os cabelos caem,
os restos viscerais se transformam em uma massa negra. Esta fase se chama coliquativa. Essa fase pode
durar de semanas a meses.
Passando esta fase, a pele e os músculos já estão destruídos por completo, deixando os ossos expostos; é
a esqueletização. Esse processo demora vários anos para se concluir;
Os cabelos, os ossos e os dentes resistem muito tempo aos fenômenos destrutivos. O resto, porém,
desaparece por completo. Existem alguns fenômenos post mortem que alteram a ordem de putrefação
mostrada acima, são os FENOMENOS CONSERVADORES.
Fenômenos transformativos conservadores
São aqueles que ocorrem atrasando o processo de putrefação, ou até mesmo impedindo o seu
aparecimento.
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O primeiro é a saponificação ou adipocera, que ocorre em cadáveres de indivíduos obesos, enterrados em
terrenos com grande umidade, frios e pouco ventilados. Os ácidos graxos se transformam em sabão,
impedindo a proliferação das bactérias.
O outro é a mumificação, que ocorre com cadáveres de indivíduos magros, colocados em ambiente seco,
quente e bem ventilado. Sua dessecação é tão intensa que as bactérias não sobrevivem e o corpo se
mumificará.
O ultimo deles é a maceração, que ocorre nos abortos retidos, onde o feto é mantido morto dentro do
útero por várias semanas. Ele não entra em putrefação porque o líquido amniótico é estéril; porém ele se
deforma, e a cabeça se tumefaz.
1. DIREITOS SOBRE O CADÁVER
O CORPO HUMANO é de natureza extrapatrimonial, é res extra commercium, inacessível (teoricamente)
aos negócios habituais. Ele não é um bem econômico. O direito sobre o corpo não é um direito de
propriedade, e o cadáver não pode ser utilizado para fins lucrativos.
O cadáver não faz parte da sucessão. A família tem direitos e deveres. Tem como dever primordial
respeitar e executar a vontade do falecido, se essa vontade é lícita.
A. DESTINO DO CADÁVER
I. Inumação
A inumação realiza-se em Sepultura de 1,70m de profundidade por 80cm de largura, espaçadas umas das
outras pelo menos 60cm, em todos os sentidos. Só pode ser realizado 24 horas após a morte. É de hábito
abrir-se o caixão para certificar-se da presença do cadáver.
II. Cremação
Consiste em reduzir o corpo, em fornos especiais, a cinzas, que poderão ser guardadas em pequenos
recipientes. Do ponto de vista médico legal, existem argumentos contrários, porque a cremação impede
qualquer verificação post-mortem que poderia ser realizada, como uma exumação. Por isso ela nunca
deve ser permitida sem um exame minucioso do cadáver
B. CRONOTANATOGNOSE
É a parte da Medicina Legal destinada a estudar a data da morte. Baseia-se num conjunto de elementos
que nos permitem dizer há quanto tempo ocorreu a morte. Esses elementos são:
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a) resfriamento do cadáver: ocorre em um tempo que é calculado em cerca de 24 horas
b) livores cadavéricos: levam de 4 a 5 horas para se instalarem, sendo deslocáveis nas 8 horas que se
seguem. Após esse período se tornam fixos
c) rigidez cadavérica: inicia-se na primeira hora, atinge o máximo em 8 a 12 horas e se desfaz
completamente em 24 horas
d) mancha verde abdominal: surge no fim de 24 horas, ou um pouco antes se o clima estiver quente
e) crescimento da barba: só ocorre nas primeiras horas após a morte. A barba cresce cerca de 21
milésimos de milímetro por hora. Basta dividir-se o comprimento que os pelos da barba do cadáver
apresentam por 21 milésimos de milímetro que saberemos o numero de horas decorridas após a ultima
feitura da barba.
f) Fauna cadavérica: existe uma parte da Medicina Legal chamada Entomologia Forense, que estuda
os insetos que formam a fauna necrofágica, ou seja, que se alimentam dos cadáveres. Através dos tipos de
insetos encontrados no cadáver, é possível determinar o tempo aproximado de morte, porque existe uma
sequência de tipos de insetos e larvas que se alimentam do cadáver de acordo com sua fase de putrefação
Nestas mesmas larvas ainda podem ser encontrados resíduos de substâncias como venenos e drogas. A
Entomologia Forense infelizmente ainda não é muito estudada no Brasil, sendo mais desenvolvida na
Europa e EUA.
2. NECRÓPSIA
Exame necroscópico, necroscopia, autópsia, autopsia, necropsia, necropsia, tanatoscopia, autósia, são
todos termos sinônimos utilizados para definir o exame externo e interno do cadáver realizado com
o objetivo de definir a causa da morte do indivíduo, tanto do ponto de vista médico quanto do ponto
de vista jurídico.
A necropsia é um trabalho em equipe, e uma tarefa de paciência. A necrópsia constitui a maior fonte de
ensinamento na medicina legal e também na Patologia.
Trabalho árduo, nem sempre bem interpretado e aceito pela comunidade e inclusive pela comunidade
hospitalar, a necrópsia deve ser realizada com a consciência de sua importância no aprimoramento da
Medicina, na Medicina Legal e como instrumento de controle do seu próprio exercício.
O médico legista, o patologista e o auxiliar em necropsia não podem deixar de considerar o trauma que
representa a necrópsia para os familiares do morto, e a eles toda atenção e respeito devem ser dados,
incluindo a preocupação de não mutilar o cadáver.
A necrópsia não serve apenas para identificar a causa do óbito, ou apenas para finalidade médico-legal
como muitos pensam. Ela tem diversas outras funções:
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 Controle de qualidade do diagnóstico e do tratamento, através do conhecimento, por parte da
equipe que atendeu o paciente, dos achados da necrópsia, visando identificar possíveis erros e suas
causas, buscando sua correção, para que não se repitam em outro paciente.
 Material para ensino dos residentes, alunos e professores. A correlação clínico-patológica
realizada durante todas as etapas da necrópsia é um excelente exercício, trazendo um aperfeiçoamento
crescente em todas as áreas da Patologia. Fornece também "peças" que são fixadas em formol e utilizadas
no ensino.
 Fonte de informação para a Secretaria de Saúde, permitindo a feitura de estatísticas precisas
sobre as doenças mais frequentes, o que influi na política de saúde do Estado e do Município.
 Material para pesquisa.
 Reconhecimento de novas doenças e de novos padrões de lesão.
 Reconhecimento do efeito do tratamento na evolução da doença.
 Esclarecimento de casos sem diagnóstico clínico firmado ou naqueles em que a morte do paciente
foi inesperada.
 Casos suspeitos de doença ambiental ou ocupacional.
Desta forma, existem dois tipos básicos de necropsia: a necropsia médico legal e a necropsia
clínica
A. NECRÓPSIA MÉDICO-LEGAL
A necropsia médico legal é aquela realizada em todo caso de morte violenta ou suspeita. Entende-
se por morte violenta toda morte resultante de uma ação externa e lesiva, sendo ela acidental ou não. Já a
morte suspeita é aquela que ocorre sem qualquer justificativa, de forma duvidosa, para a qual não se tem
evidência concreta de sua causa. Assim, a morte pode ser considerada suspeita sempre que houver a
possibilidade de não ter sido natural a sua causa. Um exemplo de morte suspeita é o indivíduo ser
encontrado morto em um quarto de hotel. Como não se tem certeza da causa de sua morte, ou não se
pode afirmar se houve ou não violência que causasse a sua morte sem o exame necroscópico, a necropsia
é necessária para o esclarecimento deste óbito. Outro exemplo: o indivíduo encontrado morto no
banheiro de sua casa, trancado por dentro, tanto pode ter sido vítima de uma doença de evolução aguda
quanto pode ter cometido suicídio. Outro caso de morte suspeita é o cadáver encontrado em avançado
estado de putrefação.
O tipo de morte chamado morte súbita é aquela que ocorre sem uma patologia prévia que a justifique. Ela
inclui tanto a morte fulminante, em que a pessoa aparentemente normal sofre uma crise repentina, cai e
morre, quanto nos casos em que uma doença se instala em um indivíduo sadio e evolui muito rápido,
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levando a sua morte em torno de um dia. Geralmente, toda morte súbita também é considerada morte
suspeita.
A necropsia médico legal em todos estes casos (morte violenta e morte suspeita) é considerada de
caráter OBRIGATÒRIO, não dependendo de autorização da família para ser realizada. As suspeitas de
erro médico que levam à óbito também são investigadas por meio de necropsias médico-legais.
A necropsia médico legal se divide em exame externo e exame interno.
I. EXAME EXTERNO: São inspecionadas todas as regiões do cadáver, de forma a identificar
características externas relacionadas à causa da morte. Desta forma, são descritos e
relacionados pelo medico legista, com a ajuda do auxiliar em necropsia, os orifícios de
projéteis de armas de fogo, ou perfurações causadas por instrumentos perfuro-cortantes,
assim como escoriações, fraturas, equimoses, etc.
II. EXAME INTERNO: Com o cadáver em decúbito dorsal, um cepo de madeira é colocado sob a
nuca, e inicia-se uma incisão bimastóidea vertical, tendo o cuidado de desvia-lo se
porventura houver alguma lesão traumática em seu caminho. Rebatem-se para frente e para
trás os retalhos do couro cabeludo, utilizando-se uma rugina. Em seguida, retira-se o
periósteo da calvária, desinserindo e rebatendo os músculos temporais. Depois serra-se a
calvária em sentido horizontal, com o cuidado de não aprofundar-se em demasia, para não
lesarem os planos mais profundos. A serra mais indicada é a do tipo Stryker, própria para
ossos, mas também podem ser utilizadas serra de gesso ou até mesmo serras manuais.
Retirada a calvária, é feita a retirada das meninges, cortando-se a dura máter rente ao corte de
serra da calvária. O encéfalo é então tracionado levemente para trás, até se expor a tenda do
cerebelo, que é seccionada. Também deve ser seccionada neste momento a medula espinhal.
Desta forma todo o encéfalo é liberado, sendo retirado para exame. Geralmente após a
inspeção do encéfalo, nele são realizados vários cortes transversais, geralmente feitos com a
faca de Collin. Na base do crânio, é descolada toda a dura –máter, para se examinar todas as
fossas cranianas. Após o exame do crânio, é feita uma incisão biacrômio-esterno-pubiana,
ou mento pubiana, tendo novamente o cuidado de desviar a incisão de quaisquer lesões
encontradas no caminho. Rebate-se toda a musculatura do tórax lateralmente, deixando as
costelas expostas. A articulação costoclavicular é separada com o bisturi, e as demais costelas
são quebradas com o uso do costótomo, procedendo assim a retirada do plastrão costal (ou
condroesternal). A parte abdominal deve ser aberta tendo o cuidado de não se aprofundar
demais o corte para não perfurar as alças intestinais. No abdome, a incisão deve se desviar do
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umbigo. Após as cavidades estarem expostas, inicia-se o exame dos órgãos internos. Como se
trata de uma necropsia médico-legal, o interesse maior está em identificar e descrever as
lesões que foram encontradas: fraturas, hematomas, e também deve se proceder a retirada de
projéteis (se houver), e também a determinação da trajetória dos mesmos. Se houver sangue
na cavidade torácica (hemotórax) ou abdominal (hemoperitônio), o mesmo deve ser retirado e
seu volume dever ser medido. Se porventura algumas alterações foram encontradas em certos
órgãos (edema pulmonar, antracnose etc) elas também devem ser descritas no laudo
cadavérico. Porém, lembrando que o objetivo desta necropsia está relacionado ao seu aspecto
jurídico. A cavidade vertebral não é aberta na necropsia médico-legal, exceto quando existem
traumatismos (traumatismo raqui-medular) ou quando nela se alojam projéteis. Neste caso,
ela é aberta da seguinte forma: após ser feita uma incisão nos processos espinhosos, a pele é
rebatida juntamente com os planos musculares, até serem expostas as lâminas vertebrais. As
lâminas então são serradas de um lado e de outro, até serem retiradas em conjunto, expondo-
se a dura máter. Após estes exames, os órgãos que porventura foram retirados (de acordo
com a técnica de necropsia utilizada) são colocados novamente no cadáver, e o mesmo é
totalmente suturado e limpo pelo auxiliar em necropsia. Um importante detalhe que não pode
ser esquecido é a identificação correta do cadáver no final da necropsia, com a etiqueta sendo
presa no seu pé.
ATENÇÃO: A ORDEM DAS ETAPAS DA NECRÓPSIA MOSTRADA ACIMA TEM FINS DIDÁTICOS; FOI
RETIRADA DO LIVRO REFERÊNCIA DE MEDICINA LEGAL (GENIVAL FRANÇA). PORÉM, EM PROVAS
DE CONCURSO PARA AUXILIAR EM NECRÓPSIA, A ORDEM DA NECRÓPSIA É COBRADA DE FORMA
DIFERENTE, MAIS RELACIONADA COM A PRÁTICA DA NECRÓPSIA NO DIA-A-DIA, OU SEJA,
INICIANDO-SE COM A ABERTURA DO TÓRAX ANTES DA ABERTURA DO CRÂNIO, COMO PODE SER
OBSERVADO NA QUESTÃO ABAIXO:
HFA (2002) QUESTÃO 33 Assinale a opção que apresenta a seqüência correta, quanto à técnica de
retirada dos órgãos em uma necropsia: ( a resposta correta está em negrito)
A ( ) exame externo; incisão da pele, das cartilagens costais e articulações esternoclaviculares; extração
dos órgãos do crânio e da medula espinhal; exame das cavidades torácica e abdominal; extirpação dos
órgãos do tronco
B ( ) exame externo; incisão da pele, das cartilagens costais e articulações esternoclaviculares;
exame das cavidades torácica e abdominal; extirpação dos órgãos do tronco; extração dos órgãos
do crânio e da medula espinhal
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C ( ) incisão da pele, das cartilagens costais e articulações esternoclaviculares; exame externo;
extirpação dos órgãos do tronco; exame das cavidades torácica e abdominal; extração dos órgãos do
crânio e da medula espinhal
D ( ) exame externo; extração dos órgãos do crânio e da medula espinhal; incisão da pele, das cartilagens
costais e articulações esternoclaviculares; exame das cavidades torácica e abdominal; extirpação dos
órgãos do tronco
E ( ) extração dos órgãos do crânio e da medula espinhal; exame externo; incisão da pele, das cartilagens
costais e articulações esternoclaviculares; extirpação dos órgãos do tronco; exame das cavidades torácica
e abdominal
B. NECRÓPSIA CLÍNICA
A necrópsia clínica é feita em casos de morte natural. Os casos de morte natural não são da competência
dos Institutos de Medicina Legal a não ser em casos de morte natural com algum tipo de suspeita (como
por exemplo no caso de suspeita de erro médico, ou quando o corpo é encontrado em avançado estado
de putrefação).
No caso de morte natural ocorrida dentro de Hospital, público ou particular, é da competência do médico
que atendia o paciente o fornecimento da declaração de óbito. Mesmo os óbitos que ocorrem dentro de
ambulâncias são considerados óbitos hospitalares, já que estão sob responsabilidade do hospital. Cabe
salientar que estamos nos referindo somente aos casos de morte natural; se um paciente foi ferido por
arma de fogo e ficou internado em um hospital, vindo morrer depois de algum tempo, ele deverá ser
encaminhado ao IML, pois a causa de sua morte foi violenta.
No caso das mortes naturais ocorridas em residência, se o paciente estiver sob tratamento médico, cabe
ao médico fornecer a declaração de óbito. Caso não haja nenhum médico que ateste o óbito, o corpo
deverá ser enviado para o SVO- Serviço de Verificação de Óbito, subordinado a Secretaria de Saúde. O
SVO existe em diversas localidades do país. No caso do Distrito Federal, ele ainda não foi implantado.
Desta forma, os cadáveres vítimas de morte natural em residência também são enviados ao IML para
expedição da Declaração de óbito.
Quanto a pessoa dá entrada no hospital sem vida, vítima de morte natural, seu corpo também é enviado
para o SVO, ou, no caso do DF, para o IML.
A necropsia clínica, então , é a necropsia realizada em casos de mortes naturais, com a finalidade
de se verificar a causa da morte, que geralmente ocorre por causa de alguma patologia. Esta
patologia pode ser de evolução rápida (infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral) ou decorrente
de uma processo que já estava acometendo a pessoa durante algum tempo (tumores, pneumonia,etc)
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A necropsia clínica é particularmente indicada nos seguintes casos:
1. Pacientes internados que morrem sem diagnóstico firmado
2. Óbito hospitalar nas primeiras horas de internação
3. Óbito de mulheres no ciclo grávido-puerperal
4. Óbito inesperado de paciente com diagnóstico clínico e tratamentos corretos
5. Óbito de pacientes em protocolo de tratamento experimental
6. Pacientes com doenças ambientais ou ligadas à sua profissão
7. Morte de crianças e recém-nados
8. Óbitos inesperados no pós-operatório imediato
Atualmente há um declínio no número de necropsias realizadas no mundo inteiro. Isto se deve a
múltiplos fatores, entre eles o custo da necropsia, a falta de remuneração pela sua realização (de um
modo geral os planos de saúde não pagam pelo procedimento), o tempo despendido na sua realização, a
falta de interesse de médicos assistentes e patologistas, a crença infundada de que os novos métodos de
exame (principalmente radiológicos) a tornam desnecessária e a recusa pelos parentes do morto da
autorização para a sua realização.
C. AS TÉCNICAS DE NECRÓPSIA
I. INTRODUÇÃO:
Cada serviço de Patologia tem sua própria técnica de necrópsia, que na verdade é variante de uma das
quatro técnicas básicas - de Virchow, Ghon, M. Letulle e de Rokitansky.
a.Técnica de Virchow
Em 1874, o Dr. Rudolf Virchow, médico polonês, padronizou a técnica de necrópsia, cuja base é utilizada
até os dias atuais. Ele fundou as disciplinas de patologia celular e patologia. Na técnica de Virchow os
órgãos são retirados um a um, são pesados e examinados separadamente. A abertura do tórax e abdome
é a padrão (biacrômio esterno pubiana) e a do crânio, também (bimastóidea vertical). Após o exame dos
órgãos, eles são colocados novamente dentro do cadáver.
b.Técnica de Rokitansky
Carl Rokitansky (1804-1878) estabeleceu as bases estruturais das doenças e a técnica de necropsia com
o estudo sistemático de cada órgão. Em 1866, já tinha feito mais de 30 mil necropsias. Na sua técnica, os
órgãos são examinados “in situ”, ou seja, dentro do cadáver, um a um. Desta forma, nesta técnica são
realizados vários cortes em todos os órgãos internos, para depois eles serem retirados, um por um.
Observe que esta técnica possui uma grande semelhança com técnica de Virchow, com a diferença de
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que na de Virchow os órgãos são retirados um a um para depois serem examinados, enquanto na de
Rokitansky os órgãos são examinados ainda dentro do cadáver, para depois serem retirados , também
um por um.
c.Técnica de M. Letulle
Na técnica de M.Letulle, é feita a evisceração (retirada das vísceras do cadáver) através de um único
bloco. Esta retirada se dá, na parte torácica e abdominal da seguinte forma: a pele abaixo da região
mentoniana é rebatida, juntamente com os planos musculares, e é feito um corte nos músculos
localizados abaixo da língua. A língua então, será tracionada em sentindo antero-inferior, e o técnico
também irá começar a dissecar os músculos da região cervical, liberando a traquéia e o esôfago, que virão
juntamente com a língua. A dissecação deste conjunto continuará a ser feita, sendo que o mediastino
posterior será descolado da coluna vertebral, e os pulmões, liberados. O diafragma então será cortado na
sua porção mais posterior, e o fígado será liberado juntamente com o pâncreas e o estômago. O intestino
delgado e o grosso é então descolado da parece abdominal, através da secção do mesentério. No final do
intestino grosso, é feito um nó-duplo, para evitar o vazamento do conteúdo intestinal quando o corte
final for feito. Os rins também são retirados quando o intestino está sendo descolado.
d. Técnica de Ghon.
Na técnica de Ghon, a evisceração se dá através de monoblocos de órgãos anatomicamente e/ou
funcionalmente relacionados. Abaixo estão descritas as etapas da necropsia clinica utilizando a técnica de
Ghon:
Remoção do cérebro: A incisão no couro cabeludo deve se iniciar a 1-2 cm atrás da borda inferior da
orelha direita, se estendendo pela convexidade do crânio até alcançar o ponto correspondente
contralateral. As duas partes devem ser descoladas da calota craniana e rebatidas, a anterior até próximo
das órbitas, e a posterior até a protuberância occipital. Caso os cabelos sejam longos, devem ser
enrolados e protegidos. Há duas maneiras de se abrir a calota craniana de adultos: (1) fazer uma única
incisão circular 5 cm acima das órbitas e 2 cm acima dos ouvidos. É prática, mas tem a desvantagem de
permitir o deslocamento da calota após o fechamento do couro cabeludo, desfigurando o corpo; (2) fazer
três incisões - a primeira desde o ponto retro-auricular até a região occipital alguns cm acima, a segunda,
semelhante do outro lado, e a terceira, ligando os dois pontos retro-auriculares, passando pela região
frontal. É um pouco mais trabalhosa, mas dá melhor resultado estético. A serra não deve cortar
completamente o osso - a tábua interna deve ser quebrada com formão e martelo. Faz-se isso para evitar
lesões do cérebro, além da borda irregular formada fornecer pontos de fixação para a calota após o
fechamento. Não se precisa quebrar toda a circunferência da calota com o martelo e formão, basta
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quebrar 3 a 4 pontos e inserir o formão fazendo pressão para baixo e para os lados simultaneamente que
o restante do osso vai se quebrar. Feito isso, utiliza-se a extremidade em gancho do martelo e puxa-se a
calota. Deve-se então examiná-la procurando áreas de fratura, hematomas e lesões líticas (aparecem
como áreas mais transparentes quando a calota é colocada contra a luz, geralmente causadas por
destruição óssea por tumores, como o mieloma múltiplo e metástases). O próximo passo é a inspeção da
dura máter, membrana que reveste o cérebro, e a abertura do seio sagital. Retira-se a dura máter
cortando-a com a tesoura seguindo as linhas de incisão da calota e seccionando-se a foice do cérebro,
sem no entanto soltá-la totalmente atrás. Agora há exposição da convexidade cerebral. Para soltar o
cérebro deve-se introduzir os dedos indicador e médio esquerdos entre os lobos frontais e a dura máter e
tracioná-lo delicadamente para trás, até se ver os nervos ópticos, que devem ser cortados o mais distante
posssível. Continua-se tracionando o cérebro posteriormente até se seccionar os nervos cranianos e as
artérias carótidas internas. Depois afasta-se os lobos temporais e corta-se a tenda do cerebelo próximo a
sua inserção óssea. O último passo é cortar os nervos cranianos restantes e a medula espinhal o mais
profundo possível. O cérebro está solto, e deve ser retirado com a mão esquerda apoiando a convexidade
e os dedos médio e indicador direitos em torno do tronco cerebral, puxando-o para fora. Após a retirada
do encéfalo, deve-se examinar a base da caixa craniana, com a abertura dos seios venosos e retirada da
hipófise. Se houver suspeita de fratura de ossos da base do crânio a dura máter basal deve ser retirada.
Para não haver autólise das porcões mais internas do cérebro, este deve ser o primeiro órgão a ser
retirado e examinado, sendo colocado imediatamente em uma cuba grande cheia de solução de formol a
30%, suspenso por um fio passando sob a artéria basilar, para ser seccionado posteriormente.
Remoção da hipófise: Secciona-se o diafragma da sela túrcica em toda sua extensão. A ponta do formão
é colocada na borda posterior, e martela-se orientado para trás; visualiza-se a hipófise, que então é
dissecada e retirada. A hipófise também pode ser retirada envolta pelo arcabouço ósseo (em casos de
tumores hipofisários, por ex.), bastando serrar os ossos da base do crânio em torno da hipófise formando
um pentágono com o ápice voltado para frente. A hipófise deve ser colocada em um pequeno frasco
tampado contendo formol a 10% e colocado dentro da cuba com o cérebro.
Remoção da medula espinhal: Pode ser feita por via posterior, colocando-se o corpo virado de costas e
abrindo-se a pele ao longo da coluna vertebral, que então é seccionada nos processos laminares, expondo
a medula nervosa. É mais trabalhosa e tem o inconveniente de poder dar saída a líquidos quando o corpo
é colocado em decúbito dorsal. A técnica mais comum e prática é a por via anterior: após a evisceração
coloca-se um suporte de madeira sob a região torácica média, causando retificação da coluna torácica e
hiperextensão do pescoço. Faz-se um corte transversal com a serra no corpo vertebral mais alto possível.
A este corte seguem-se vários pequenos cortes longitudinais alternados e descendentes em ambos os
lados da coluna. Tais cortes passam um pouco além da articulação costo-vertebral, devendo-se ter
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cuidado para não aprofundar muito e lesar a medula. Fazendo cortes descendentes alternados previne-se
erros no plano de corte e facilita-se a extração dos corpos vertebrais, que pela hiperextensão vão
naturalmente se afastando. Prossegue-se assim até o nível de L4-5, onde se faz outro corte transversal.
Com isso tem-se quase toda a medula espinhal exposta, faltando apenas cortar a dura máter a nível do
forame magno, as raízes nervosas e a cauda eqüina para extraí-la totalmente, podendo-se tracioná-la
delicadamente para soltar áreas inacessíveis da região cervical. A medula deve então ser presa com
alfinetes em uma placa de isopor e colocada em cuba com formol a 10%. É útil marcar algumas raízes
nervosas com fios, para melhor localização das lesões posteriormente.
ABERTURA DAS CAVIDADES TORÁCICA E ABDOMINAL:
Incisão da pele: Inicia-se com uma incisão em Y partindo do ombro esquerdo, descendo, passando sob
os mamilos e ascendendo até o ombro direito. Aprofunda-se a incisão até se encontrar o gradil costal,
iniciando-se a dissecção por baixo dos planos musculares, em direção ao pescoço. Deve-se tracionar o
retalho cutâneo para cima e para trás. Alcançada a clavícula, a dissecção passa a ser subcutânea,
devendo-se alcançar a mandíbula e os acrômios. Deve-se ter cuidado para não lesar a pele, mantendo o
bisturi o mais vertical possível. Exposto o gradil costal, faz-se uma incisão mediana desde a margem do
corte anterior até o púbis, desviando da cicatriz umbilical, profunda o bastante para cortar o peritôneo,
mas sem lesar os órgãos subjacentes. Disseca-se a pele e secciona-se os músculos da parede abdominal
rente ao rebordo inferior do gradil costal de ambos os lados, expondo-se toda a cavidade abdominal. Os
órgãos devem ser examinados antes de eviscerados para se observar possíveis alterações na posição e
relação, presença de aderências, fístulas, deiscência de suturas, abscessos, peritonite etc. Depois de
retirados não se tem como observar muitas dessas alterações, ou se ter certeza que já existiam antes e
não foram provocadas pela evisceração (no caso de ruturas, por ex.). Após o exame geral deve-se medir a
área cardíaca, a altura das cúpulas diafragmáticas e as distâncias das margens inferiores do fígado e baço
do rebordo costal, quando este for ultrapassado.
Primeiro monobloco: Formado pelos órgaos torácicos e cervicais - pulmões, coração, laringe, traquéia,
esôfago, grandes vasos e estruturas mediastinais. Primeiramente, todas as aderências pleurais devem ser
desfeitas com o auxílio dos dedos ou do bisturi. Solta-se a extremidade superior do monobloco
seccionando-se, sob a mandíbula, a base da língua e a parte inferior da orofaringe. Traciona-se
anteriormente e solta-se o esôfago da coluna vertebral e secciona-se os feixes vásculo-nervosos
braquiais. Com a tesoura ou o bisturi isola-se o esôfago da traquéia e aorta, amarra-se seu terço distal e
corta-se pouco acima (exceto em casos suspeitos de varizes esofageanas, onde se amarra no terço
superior). Faz-se isso para evitar que o conteúdo esofageano extravaze. O segmento superior segue com
o primeiro monobloco, e o inferior, com o segundo. Passa-se a mão esquerda por trás do coração e, com o
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polegar e o indicador, circunda-se a aorta descendente e a veia cava inferior, que são cortadas logo
abaixo. Deve-se ter cuidado para não lesar o pericárdio.
Segundo monobloco: Representado pelo fígado, sistema biliar, estômago, segmentos de esôfago e
duodeno, baço e pâncreas. Secciona-se ambas as cúpulas diafragmáticas na região central, ântero-
posteriormente (permitindo que o fígado seja rechaçado, facilitando os passos seguintes). Depois libera-
se o baço, pâncreas e segmento de duodeno até a coluna vertebral, cortando-se a veia cava e artéria
celíaca, deixando a aorta intacta. Solta-se o fígado do diafragma dissecando-se os ligamentos e aderências
com o bisturi e os dedos. Deve-se ter muito cuidado para não lesar as supra-renais, que são retiradas com
o terceiro monobloco.
Terceiro monobloco: Composto pelo sistema uro-genital (rins, ureteres, bexiga, próstata e vesículas
seminais / útero, trompas e ovários), reto e supra-renais. Começa-se soltando o rim e a supra-renal
esquerda, cortando-se o peritôneo e dissecando-os dos músculos subjacentes, até a coluna vertebral.
Continua-se a dissecção para baixo, em direção à pelve, tendo-se cuidado para não lesar o ureter. A
dissecção deve chegar até a coluna vertebral lombar, por baixo da aorta. Faz-se o mesmo do lado direito.
Passa-se então para a liberação dos órgãos pélvicos, que é feita por dissecção às cegas com os dedos.
Primeiro solta-se a bexiga da sínfise púbica e depois passa-se os dedos ao redor e por trás dos órgãos
genitais e reto, até chegar à linha média. Agora o conteúdo pélvico pode ser solto da parede posterior por
continuação da dissecção anterior. O monobloco está praticamente solto, só faltando cortar as ligações
remanescentes no assoalho pélvico (uretra, vagina / próstata e reto) e os vasos ilíacos. Nos homens deve-
se também retirar os testículos (ver adiante).
Quarto monobloco: Constituído pelo segmento terminal do duodeno, jejuno, íleo e cólon. Deve ser o
primeiro monobloco a ser retirado e examinado após a abertura das cavidades abdominal e torácica, uma
vez que o trato gastro-intestinal autolisa muito rapidamente. Rebate-se todo o intestino delgado para a
direita, identificando-se a alça fixa do duodeno (área de passagem do duodeno do retroperitôneo para a
cavidade peritoneal), colocando-se duas ligaduras com 10 cm de intervalo entre si e seccionando-se o
segmento entre elas. Identifica-se o sigmóide, que também deve ser amarrado e seccionado de maneira
semelhante. Libera-se o intestino grosso, tendo-se o cuidado de retirá-lo com o mesocólon, sem lesar as
estruturas subjacentes, seguindo-se para a liberação do intestino delgado por secção da raiz do
mesentério o mais próximo possível da aorta.
Medula óssea : Devem ser retirados 1 a 2 fragmentos dos corpos vertebrais com o auxílio da serra e do
formão, rotineiramente. Em casos de doenças hematológicas ou metastáticas para a coluna, mais
segmentos podem ser necessários.
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Testículos : Faz-se uma abertura para o interior do canal inguinal, entre o púbis e a pele e, por dissecção
às cegas com os dedos, puxa-se o testículo por essa incisão e corta-se o cordão espermático, liberando-o.
Devem ser retirados de rotina.
Panturrilha : Faz-se uma incisão na pele das panturilhas, desde a região poplítea (atrás do joelho) até o
tornozelo, expondo-se os músculos. Corta-se os tendões dos músculos gastrocnêmios nessas duas regiões
e solta-se posteriormente junto à tíbia, tendo-se cuidado para trazer o feixe vásculo-nervoso íntegro.
Devem sempre ser retiradas.
Pele : Em casos de doeças dermatológicas deve ser retirada pequena elipse de pele com o bisturi, com o
cuidado de se atingir o tecido adiposo subcutâneo. Caso seja doença difusa retira-se o fragmento das
margens de uma das incisões cutâneas já realizadas para abrir as cavidades torácica e abdominal,
buscando não mutilar o cadáver. Caso seja lesão localizada fora dessas áreas deve-se depois suturar a
pele cobri-la com esparadrapo. O fragmento obtido deve ser colocado estendido sobre um pedaço de
papel e depois imerso em formol.
Reconstituição : O corpo deve ser reconstituído de forma que não haja evidências da necrópsia depois
de vestido. Todo líquido deve ser drenado das cavidades. As aberturas retal e vaginal devem ser ocluídas
com material absorvente (estopa, gaze, algodão). Os órgãos que não forem ser utilizados posteriormente
devem ser recolocados no corpo. O gradil costal deve ser reposicionado e, em casos de retirada da coluna
vertebral coloca-se uma vara de madeira ou metal no local para evita deformidades corporais. A pele
deve ser suturada por pontos oblíquos, de baixo para cima, distando 1cm entre si. O corpo deve ser
lavado cuidadosamente com água sanitária diluída (1:10 em água), retirando-se todas as manchas de
sangue ou secreções existentes
3. INSTRUMENTAÇÃO E EPI
Precauções : Todo paciente necropsiado é virtualmente uma fonte de infecção. Para se evitar a
contaminação deve-se conhecer e praticar medidas de segurança durante as necrópsias. Deve-se lembrar
que ocasionalmente o pedido de necrópsia não é corretamente preenchido ou a infecção não é suspeitada
pelos médicos atendentes, logo, toda necrópsia deve ser encarada como de risco e o prontuário deve ser
lido atentamente em busca de sinais, sintomas, dados epidemiológicos e laboratoriais sugestivos de
doença infecciosa de alto risco.
Para nos proteger, utilizamos roupas, sapatos e outros objetos de proteção:
 Calça e blusa específicas: impedem que se suje a própria roupa, visando não levar contaminantes
para outros ambientes dentro e fora do hospital.
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 Capote: protege os braços, além de ser uma segunda barreira. Deve ser bem ajustado ao corpo
para evitar que se molhe durante a evisceração, principalmente quando não for impermeável (pode-se
fazer isto usando fita adesiva para dobrar e prender as partes folgadas do braço e antebraço).
 Luvas cirúrgicas: É recomendado o uso de duas, sobrepostas, de tamanho apropriado. Não previne
contra cortes, mas evita a difusão de contaminantes. Diminui um pouco a sensação tátil.
 Touca e máscara: a touca tem como função impedir que os cabelos se sujem e carreguem o
contaminante para fora da sala de necrópsia, e a máscara serve para prevenir a ingestão e o contato com
a mucosa de pequenos fragmentos ou líquidos que porventura espirrem.
 Proteção para os olhos: óculos comuns não são o ideal porque fornecem proteção muito limitada.
O mais indicado são óculos de soldador, que têm um campo de visão amplo e protegem todas as laterais,
o inconveniente é que embaçam com a transpiração.
 Sapatos: devem ser impermeáveis e cobrir todo o pé. Devem ser colocados, retirados e guardados
dentro da sala de necrópsia, ou então se usar uma polaina sobre eles.
 Instrumentos: O técnico deve se limitar à mesa de necrópsia, evitando circular pela sala e,
principalmente, fora dela. Deve haver apenas um set de instrumentos bem posicionados e sempre limpos
à mão, evitando-se o uso simultâneo de diversos bisturis. As lâminas do bisturi devem ser trocadas sem o
auxílio de outros instrumentos para evitar que saiam "voando" e machuquem alguém.
Outras considerações :
 Os instrumentos, a mesa, o corpo e a sala devem ser mantidos limpos durante a necrópsia.
 Deve-se prevenir o contato dos líquidos corporais do cadáver com lesões de pele ou mucosas.
Para tanto, ou se protege a área ou não se participa da necrópsia.
 Lâminas de bisturi e agulhas usadas devem ser desprezadas em uma lata ou outro recipiente
resistente com tampa.
 Facas e tesouras devem ser mantidas afiadas.
 Em caso de corte ou espetada durante a necrópsia deve-se fazer a lesão sangrar livremente, lavar
com água e sabão e então aplicar desinfetantes. O HIV é inativado de diversas formas: álcool 50%, água
oxigenada a 3% (10 vol.), formol, água sanitária a 0,5% (1:10 em água) e Lysoform
 As margens costais devem ser cobertas com gaze para evitar exposição de áreas cortantes.
 Lavar externamente com água sanitária os tubos com material para ser enviado para exames
laboratoriais.
 Os instrumentos utilizados devem ser deixados de molho por 30 minutos em água sanitária
diluída 1:10 em água antes de serem lavados. Deve-se evitar um tempo maior de molho devido à ação
corrosiva da água sanitária.
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INSTRUMENTOS UTILIZADOS ROTINEIRAMENTE NA NECRÓPSIA E SUAS FUNÇÕES
CABO DE BISTURI: onde é encaixada a lâmina
LÂMINA DE BISTURI: usada para realizar os cortes no cadáver e também dissecação de estruturas
RUGINA: serve para rebater o couro cabeludo do crânio
COSTÓTOMO: serve para seccionar as costelas, e assim retirar o plastrão costal e expor a cavidade
torácica
PINÇAS ANATÔMICAS : para separar estruturas
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PINÇAS DENTE DE RATO: para prender firmemente estruturas
TESOURAS CURVAS DE PONTA ROMBA: realizar cortes e divulsionar tecidos
TESOURAS CURVAS DE PONTA FINA: realizar cortes e divulsionar tecidos
TESOURAS RETAS DE PONTA ROMBA: idem
TESOURAS RETAS DE PONTA FINA: idem
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AGULHAS DE SUTURA: suturar o cadáver
RÉGUA MÉTRICA METÁLICA: medir estruturas
FACA DE COLLIN: realizar cortes no cérebro
AFASTADORES DE FARABEUF: para aumentar as bordas de um determinado corte
PINÇA DE POZI: para unir as bordas do corte e facilitar a sutura
HISTERÔMETRO ou SONDA: utilizado para auxiliar na definição da trajetória de um projétil
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4. CONSERVAÇÃO DE CADÁVERES
Fixação, formolização e embalsamamento
O método mais antigo para a conservação de cadáveres é a mumificação. Na realidade é uma forma antiga
de desidratação precedida de um tratamento químico, com emprego de substâncias das quais não se tem
conhecimento exato.
Sabemos que a técnica original que os egípcios utilizavam era iniciada pelo esvaziamento quase completo
das cavidades do corpo, para depois retirar-se o conteúdo do crânio através das cavidades nasais com o
auxílio de um gancho nelas introduzido. Outra via de acesso para a retirada do encéfalo era a nuca,
através do forame magno. Após a retirada do encéfalo, a cavidade craniana era lavada com uma solução
de soda cáustica, recebendo, depois, essências aromáticas.
No tronco, na região lombar esquerda, os egípcios faziam a laparotomia, enquanto no períneo era feita
uma incisão circular ao redor do ânus. Através desta incisão, introduziam uma faca em forma de gancho
que extraía todas as vísceras, exceto o coração, que os egípcios acreditavam ser a sede da alma. As
vísceras retiradas eram cuidadosamente lavadas e imersas em vasos, contendo vinho de palmeira e
outras substâncias consagradas aos deuses. Em alguns casos, as vísceras depois de tratadas eram
novamente colocadas no interior do corpo.
Terminada a evisceração e o enchimento das cavidades, os cadáveres eram submersos em asfalto
derretido e fervido nessa substância, sendo depois banhados em azeites aromáticos e bálsamos, e
envolvidos em fitas de algodão impregnadas de resinas. A capa de asfalto que envolvia a múmia
apresentava vários centímetros de espessura, constituindo uma hermética cobertura que evitava a
putrefação. As substâncias balsâmicas evitavam o desenvolvimento de larvas de insetos nas cavidades da
múmia.
A mumificação também foi praticada por outros povos. Os etíopes usaram as mesmas técnicas dos
egípcios. Os persas, após a evisceração do cadáver, enchiam suas cavidades com essências. No Peru, a
civilização Inca também realizou embalsamamentos. O encéfalo era retirado pelas cavidades nasais e os
olhos extraídos, sendo as órbitas preenchidas com algodão. A seguir, a língua era retirada. Através de
uma incisão no períneo extraíam as vísceras abdominais, enchendo as cavidades com um pó
avermelhado que desidratava o cadáver. Os índios mundurucu, transformavam as cabeças de seus
inimigos em troféus que eram exibidos em cerimônias religiosas. Extraíam o cérebro através do forame
magno e depois untavam a pele várias vezes com azeites vegetais expondo a cabeça ao sol e a fumaça, e
preenchiam as órbitas com fumaça. Os índios jibaros, do Equador, usavam técnica semelhante e reduziam
as cabeças dos inimigos ao tamanho de um punho. Eles separavam o crânio da pele, e ferviam os tecidos
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durante longo tempo para curtir a pele. Depois iam enchendo o crânio com areia quente, modelando para
que pudesse ser reduzido.
O frio das regiões polares também atua eficientemente na conservação de cadáveres. Fragmentos
congelados de mamute foram encontrados em perfeitas condições nos anos 20. Em 1997 foi encontrado
nas geleiras entre a Áustria e a Itália um cadáver mumificado de mais de dois mil anos de idade.
Com o passar dos séculos as técnicas de embalsamento evoluíram bastante, e melhoraram muito com a
introdução de novas substâncias para a conservação de cadáveres. No final do século XVII o álcool etílico
foi usado com boa aceitação. Hunter utilizou-o associado a pimenta negra, no entanto a conservação de
peças anatômicas em álcool apresentou certos inconvenientes. Em 1717 Pedro, o Grande, famoso czar
russo, comprou na Holanda uma coleção de peças para o Museu da Universidade de São Petersburgo. As
peças não chegaram até a Rússia em boas condições, pois os russos encarregados do transporte beberam
o conteúdo dos frascos(álcool e com pimenta negra) para combater o frio.
A descoberta mais importante foi a do formol, ou aldeído fórmico, ocorrida em 1808, sendo desde então
utilizado em técnicas anatômicas e microscópicas
Os laboratórios de anatomia recebem, para estudo, cadáveres inteiros, partes, e vísceras para serem
conservadas. Esse material é fixado para evitar-se a deterioração dos tecidos. A função da fixação é
manter os tecidos firmes, insolúveis e protegidos contra a deterioração. Os requisitos para uma boa
fixação de peças isoladas são:
-pequeno intervalo entre a morte do indivíduo e a fixação
-contato do fixador com todas as superfícies da peça
-o líquido fixador deve ter volume vinte vezes superior ao da peça
-escolha do tipo adequado de fixador
Os fixadores mais utilizados no Brasil são o formol, álcool etílico, glicerina e fenol. O formol ou
formalina é uma solução aquosa saturada de aldeído fórmico a 40%. Pode ser comprado na forma
comercial em vasilhames de 1 litro. Para preparação de peças, é preparada uma solução aquosa deste
formol em 10%. Juntam-se 100 ml de formol puro (aquele que foi comprado já diluído em 40%) para 900
ml de água.
O formol, além de ser barato, penetra rapidamente nos tecidos (6 mm em doze horas). Apesar de seus
vapores serem irritantes para as mucosas e para a conjuntiva ocular, sua toxicidade é menor comparada
a de outros fixadores, tendo ainda a vantagem de não ser inflamável. As soluções de formol são irritantes
para a epiderme, de forma que devem ser usadas luvas sempre que manipularmos peças conservadas em
formol.
O álcool etílico a 96ºGL é também um bom fixador, tendo excelente capacidade de penetração nos
tecidos. Sua concentração dependerá do material a ser fixado.
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O fenol líquido é excelente para tornar o meio estéril, porém seus vapores são tóxicos, e também existem
suspeitas de que pode ser cancerígeno.
A glicerina não é tão bom fixador quanto os outros citados anteriormente, mas é indicada para evitar a
desidratação dos tecidos.
Além do formol, fenol, álcool e glicerina, existe um variedade enorme de substâncias e preparações para
conservação de peças.
A. Formolização e embalsamamento
Para conservarmos um cadáver inteiro, utilizamos uma técnica diferente daquelas utilizadas para a
conservação de peças. O cadáver a ser formolizado deve ser colocado sobre uma mesa, sendo lavado com
água e sabão. Movimenta-se as grandes articulações. Se o corpo a ser formolizado não tiver sido
necropsiado, é feito um corte profundo na região cervical anterior, acima do manúbrio esternal, com o
objetivo de atingirmos os vasos sanguíneos ali presentes e possibilitar a drenagem do sangue. Este
procedimento é necessário porque, uma vez que o líquido conservador irá se espalhar pela circulação
sanguínea do cadáver, o sangue deve ser retirado destes vasos. Após o corte ser feito na região cervical, é
necessário virar o cadáver para posição decúbito ventral, para que o sangue saia com mais facilidade.
Uma vez feito esta procedimento, o corpo é novamente colocado na posição de decúbito dorsal, e é feito
um corte na região anterior da coxa, lateralmente ao músculo reto femoral, para acessarmos a artéria
femoral, que uma via de acesso muito utilizada para a infusão do líquido conservador. Secciona-se a pele
com bisturi, afasta-se a tela subcutânea com o auxílio de uma tesoura de ponta romba, até atingirmos a
fascia crivosa, que é seccionada. Abaixo dela procura-se a artéria femoral, que está situada lateralmente a
veia do mesmo nome. Levantamos a artéria com o auxílio de uma pinça. Dois fios são passados abaixo
dessa artéria, transversalmente, deslocando um para cima e outro para baixo. Logo após é feita uma
secção transversal desta artéria entre os dois fios, fazendo-se, a seguir uma introdução de duas cânulas,
uma em direção distal e outra proximal, ou uma cânula de duas extremidades (Y ou T). Os fios são bem
amarrados em torno da artéria para evitar vazamento de fluído. O líquido fixador mais usado é o formol a
10%.
Outra forma de abordagem para injetarmos o líquido fixador é através das artérias carótidas. A pele da
região cervical anterior é incisada com lâmina de bisturi em trajetória transversal ao eixo da coluna,
prolongada por 4cm, até atingirmos a veia jugular , que deve ser cortada para drenagem do sangue.
Enquanto ocorre esta drenagem venosa, é feita a dissecção da artéria carótida, que se localiza posterior à
veia jugular. Na carótida, é introduzida a cânula de infusão, no sentido inferior (em direção ao corpo)
Enquanto a infusão do líquido conservante (formol a 10%) é feita, a veia jugular continua drenando o
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sangue, agora impulsionado pelo líquido que está sendo injetado. Durante este procedimento, o cadáver
deve ser movimentado e massageado, para que a solução se espalhe de maneira uniforme.
A solução deve ser colocada em um galão que deverá ficar a uma altura bastante superior a do cadáver,
para que o líquido penetre por pressão e se espalhe por todo o corpo. Geralmente, para um adulto são
utilizado 5 ou 6 litros
Após o término deste procedimento, tanto na abordagem cervical (artéria carótida) quanto pela
abordagem inferior (artéria femoral), o processo é interrompido, e as incisões, suturadas. O corpo então
é tamponado (seus orifícios são tampados com algodão), lavado, barbeado, penteado, vestido, maquiado
e preparado em sua urna.
No embalsamamento, o procedimento é diferente: após a formolização, ocorre a retirada do bloco com
todas as vísceras do cadáver. O crânio é aberto, e o cérebro também é retirado. As vísceras são retiradas e
guardadas em local apropriado. Os espaços vazios (cavidades torácica e abdominal) são preenchidos com
serragem ou algodão. O procedimento de embalsamamento é realizado nos casos onde há maior
necessidade de preservação do corpo (viagens longas, velórios prolongados, etc)

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  • 1. Curso Auxiliar de Necropsia 1 Profa. MSc. Janaina Fernandes ASSUNTO 4 - TANATOLOGIA Tanatologia é a parte da Medicina Legal que estuda a morte e os problemas médico-legais dela decorrentes. Com a morte cessa a personalidade civil do indivíduo, o que dá lugar a uma série de consequências jurídicas de alta relevância. A definição mais simples de morte é a cessação total e permanente das funções vitais. Porém, como avanço da tecnologia médica, surgiram novos questionamentos, principalmente em relação ao exato momento de se considerar alguém morto. (Isso é importante no caso da doação de órgãos para transplante, por exemplo). Desta forma, define-se atualmente morte clínica como o estado irreversível de defunção encefálica comprovada por exames específicos e não mais pela cessação da atividade cardiorrespiratória (uma vez que a pessoa com morte encefálica pode manter a função cardiorrespiratória preservada) Mas o que seria a morte encefálica? A morte encefálica é a situação em que as estruturas vitais do encéfalo encontram-se lesadas irreversivelmente. Caracterizando-se por: -ausência total de resposta cerebral, com perda absoluta de consciência; -abolição dos reflexos cefálicos, com hipotonia muscular e pupilas fixas indiferentes aos estímulos dolorosos e luminosidade. -ausência de respiração espontânea -eletroencefalograma EEG plano, isoelétrico em todas as derivações; -ausência de circulação cerebral em exame angiográfico. O receio de ser enterrado vivo está presente em várias pessoas. Os numerosos casos, quase lendários, contados pelos populares não passam de imaginação exaltada ou má observação. Existem raríssimos casos de morte aparente, que ocorriam geralmente na antiguidade e em meio a grandes epidemias, quando os médicos não faziam um exame mais apurado para diagnosticar a morte. Nos IMLs e Anatomias de todo o mundo não se tem notícia de se ter iniciado um exame necroscópico em uma pessoa ainda viva. O diagnóstico da realidade da morte é feito através de vários meios, e os fenômenos decorrentes da morte são divididos em várias etapas: Fenômenos abióticos imediatos: -perda da consciência -perda da sensibilidade -abolição da motilidade e do tônus muscular -cessação da respiração
  • 2. Curso Auxiliar de Necropsia 2 Profa. MSc. Janaina Fernandes -cessação da circulação (batimentos cardíacos) -cessação da atividade cerebral Existem alguns testes antigos, dos quais descreveremos alguns: -Introduzir uma agulha na região precordial. Se o coração ainda bater, a agulha se movimentará; -Fazer a ligadura de um dedo, se houver vida, o mesmo adquirirá cor violácea; -Instilar duas gotas de éter nos olhos, se houver vida, haverá hiperemia; -Aproximar uma vela da pele do indivíduo; se houver vida, haverá formação de uma vesícula sanguinolenta; -Fazer uma injeção de fluoresceína endovenosa. Se houver vida, em 30 minutos a pele adquire cor amarela e os olhos cor verde. Fenômenos abióticos consecutivos -Desidratação: a evaporação da água nos tecidos orgânicos leva a diminuição de peso, ao ressecamento da pele, os globos oculares sofrem opacificação das córneas, formando manchas negras na esclera. -Resfriamento do corpo: Não havendo mais funcionamento dos centros cerebrais termorreguladores, o cadáver perde calor, em média de 1 a 1,5 graus por hora, até atingir a temperatura ambiente. -Rigidez cadavérica: causada por fenômenos bioquímicos que ocorrem dentro das células musculares, começa entre 1 a 2 horas após a morte, chegando ao máximo cerca de 8 horas após. Desaparece com o início da putrefação, geralmente depois de 24 horas. Inicia-se nos músculos da mandíbula, e progressivamente dos membros superiores até os inferiores. Se desfaz com o início da putrefação, inversamente como se instalou. -Livores hipostáticos: São produzidos pela parada da circulação sanguínea, Surgem nas primeiras horas após a morte, formando um rendilhado puntiforme. Se tornam fixos por volta de 8 a 12 horas após a morte. De acordo com os livores, podemos descobrir a posição em que o cadáver estava na hora da morte. (por exemplo, se ele morreu em decúbito ventral, a parte anterior ficará com livores) Estes três últimos fenômenos podem ser assim descritos, para melhor memorização: ALGOR (resfriamento), LIVOR (manchas de hipóstase) e RIGOR (rigidez cadavérica) Fenômenos transformativos destrutivos São aqueles que alteram a estrutura do cadáver. Com a queda dos sistemas encefálicos superiores, as células permanecem ainda algumas horas em funcionamento, formando catabólitos que vão acidificando o ambiente celular (pois não está havendo entrada de oxigênio) de tal forma que a célula vai sendo destruída em um processo denominado autólise. Ela representa o início bioquímico da putrefação.
  • 3. Curso Auxiliar de Necropsia 3 Profa. MSc. Janaina Fernandes Entre 20 a 24 horas após a morte, o processo bacteriano presente no intestino passa a ser visualizável, a partir de uma mancha verde que se instala na fossa ilíaca direita, por causa da proximidade do ceco (início do intestino grosso) com a pele da parede abdominal. Essa fase é chamada de fase de coloração Há também a formação do gás sulfídrico bacteriano, que combinado com a hemoglobina do sangue cria um composto esverdeado denominado sulfometahemoglobina. Ocorre também a formação de dois derivados da decomposição das proteínas, chamadas de putrefacina e cadaverina, ambas de odor muito desagradável. Continuando com o desenvolvimento bacteriano, os gases decorrentes da putrefação começam a aumentar tremendamente nas pressões intracavitárias (caixa craniana, tórax e abdome), fazendo com que o sangue já parcialmente putrefeito procure áreas de menos pressão; desta forma se instala um mapeado dérmico conhecido como circulação póst mortem ou circulação póstuma de brouardel. Em decorrência destas mesmas pressões, acontece a protusão da língua e das órbitas, o agigantamento do cadáver, e nos homens, aumento da bolsa escrotal Encontramos ainda nessa fase a formação de bolhas ou flíctenas putrefativas, cheias de líquido, com descolamento da pele do cadáver. Ele então adquire uma posição chamada de “posição de boxeador”. A esse conjunto de características damos o nome de fase gasosa da putrefação. Ela geralmente dura vários dias até semanas, dependendo de fatores como condições climáticas, local onde o corpo se encontra etc. Um número incontável de bactérias agora auxiliadas por outros animais necrofágicos, começa a destruir a arquitetura orgânica. Principalmente as larvas de moscas e outros insetos. Com o passar dos dias, as partes moles vão se destruindo, e as partes ósseas mais proeminentes vão aparecendo; surge um líquido pútrido de cor escura que se espalha por todo o cadáver. Os cabelos caem, os restos viscerais se transformam em uma massa negra. Esta fase se chama coliquativa. Essa fase pode durar de semanas a meses. Passando esta fase, a pele e os músculos já estão destruídos por completo, deixando os ossos expostos; é a esqueletização. Esse processo demora vários anos para se concluir; Os cabelos, os ossos e os dentes resistem muito tempo aos fenômenos destrutivos. O resto, porém, desaparece por completo. Existem alguns fenômenos post mortem que alteram a ordem de putrefação mostrada acima, são os FENOMENOS CONSERVADORES. Fenômenos transformativos conservadores São aqueles que ocorrem atrasando o processo de putrefação, ou até mesmo impedindo o seu aparecimento.
  • 4. Curso Auxiliar de Necropsia 4 Profa. MSc. Janaina Fernandes O primeiro é a saponificação ou adipocera, que ocorre em cadáveres de indivíduos obesos, enterrados em terrenos com grande umidade, frios e pouco ventilados. Os ácidos graxos se transformam em sabão, impedindo a proliferação das bactérias. O outro é a mumificação, que ocorre com cadáveres de indivíduos magros, colocados em ambiente seco, quente e bem ventilado. Sua dessecação é tão intensa que as bactérias não sobrevivem e o corpo se mumificará. O ultimo deles é a maceração, que ocorre nos abortos retidos, onde o feto é mantido morto dentro do útero por várias semanas. Ele não entra em putrefação porque o líquido amniótico é estéril; porém ele se deforma, e a cabeça se tumefaz. 1. DIREITOS SOBRE O CADÁVER O CORPO HUMANO é de natureza extrapatrimonial, é res extra commercium, inacessível (teoricamente) aos negócios habituais. Ele não é um bem econômico. O direito sobre o corpo não é um direito de propriedade, e o cadáver não pode ser utilizado para fins lucrativos. O cadáver não faz parte da sucessão. A família tem direitos e deveres. Tem como dever primordial respeitar e executar a vontade do falecido, se essa vontade é lícita. A. DESTINO DO CADÁVER I. Inumação A inumação realiza-se em Sepultura de 1,70m de profundidade por 80cm de largura, espaçadas umas das outras pelo menos 60cm, em todos os sentidos. Só pode ser realizado 24 horas após a morte. É de hábito abrir-se o caixão para certificar-se da presença do cadáver. II. Cremação Consiste em reduzir o corpo, em fornos especiais, a cinzas, que poderão ser guardadas em pequenos recipientes. Do ponto de vista médico legal, existem argumentos contrários, porque a cremação impede qualquer verificação post-mortem que poderia ser realizada, como uma exumação. Por isso ela nunca deve ser permitida sem um exame minucioso do cadáver B. CRONOTANATOGNOSE É a parte da Medicina Legal destinada a estudar a data da morte. Baseia-se num conjunto de elementos que nos permitem dizer há quanto tempo ocorreu a morte. Esses elementos são:
  • 5. Curso Auxiliar de Necropsia 5 Profa. MSc. Janaina Fernandes a) resfriamento do cadáver: ocorre em um tempo que é calculado em cerca de 24 horas b) livores cadavéricos: levam de 4 a 5 horas para se instalarem, sendo deslocáveis nas 8 horas que se seguem. Após esse período se tornam fixos c) rigidez cadavérica: inicia-se na primeira hora, atinge o máximo em 8 a 12 horas e se desfaz completamente em 24 horas d) mancha verde abdominal: surge no fim de 24 horas, ou um pouco antes se o clima estiver quente e) crescimento da barba: só ocorre nas primeiras horas após a morte. A barba cresce cerca de 21 milésimos de milímetro por hora. Basta dividir-se o comprimento que os pelos da barba do cadáver apresentam por 21 milésimos de milímetro que saberemos o numero de horas decorridas após a ultima feitura da barba. f) Fauna cadavérica: existe uma parte da Medicina Legal chamada Entomologia Forense, que estuda os insetos que formam a fauna necrofágica, ou seja, que se alimentam dos cadáveres. Através dos tipos de insetos encontrados no cadáver, é possível determinar o tempo aproximado de morte, porque existe uma sequência de tipos de insetos e larvas que se alimentam do cadáver de acordo com sua fase de putrefação Nestas mesmas larvas ainda podem ser encontrados resíduos de substâncias como venenos e drogas. A Entomologia Forense infelizmente ainda não é muito estudada no Brasil, sendo mais desenvolvida na Europa e EUA. 2. NECRÓPSIA Exame necroscópico, necroscopia, autópsia, autopsia, necropsia, necropsia, tanatoscopia, autósia, são todos termos sinônimos utilizados para definir o exame externo e interno do cadáver realizado com o objetivo de definir a causa da morte do indivíduo, tanto do ponto de vista médico quanto do ponto de vista jurídico. A necropsia é um trabalho em equipe, e uma tarefa de paciência. A necrópsia constitui a maior fonte de ensinamento na medicina legal e também na Patologia. Trabalho árduo, nem sempre bem interpretado e aceito pela comunidade e inclusive pela comunidade hospitalar, a necrópsia deve ser realizada com a consciência de sua importância no aprimoramento da Medicina, na Medicina Legal e como instrumento de controle do seu próprio exercício. O médico legista, o patologista e o auxiliar em necropsia não podem deixar de considerar o trauma que representa a necrópsia para os familiares do morto, e a eles toda atenção e respeito devem ser dados, incluindo a preocupação de não mutilar o cadáver. A necrópsia não serve apenas para identificar a causa do óbito, ou apenas para finalidade médico-legal como muitos pensam. Ela tem diversas outras funções:
  • 6. Curso Auxiliar de Necropsia 6 Profa. MSc. Janaina Fernandes  Controle de qualidade do diagnóstico e do tratamento, através do conhecimento, por parte da equipe que atendeu o paciente, dos achados da necrópsia, visando identificar possíveis erros e suas causas, buscando sua correção, para que não se repitam em outro paciente.  Material para ensino dos residentes, alunos e professores. A correlação clínico-patológica realizada durante todas as etapas da necrópsia é um excelente exercício, trazendo um aperfeiçoamento crescente em todas as áreas da Patologia. Fornece também "peças" que são fixadas em formol e utilizadas no ensino.  Fonte de informação para a Secretaria de Saúde, permitindo a feitura de estatísticas precisas sobre as doenças mais frequentes, o que influi na política de saúde do Estado e do Município.  Material para pesquisa.  Reconhecimento de novas doenças e de novos padrões de lesão.  Reconhecimento do efeito do tratamento na evolução da doença.  Esclarecimento de casos sem diagnóstico clínico firmado ou naqueles em que a morte do paciente foi inesperada.  Casos suspeitos de doença ambiental ou ocupacional. Desta forma, existem dois tipos básicos de necropsia: a necropsia médico legal e a necropsia clínica A. NECRÓPSIA MÉDICO-LEGAL A necropsia médico legal é aquela realizada em todo caso de morte violenta ou suspeita. Entende- se por morte violenta toda morte resultante de uma ação externa e lesiva, sendo ela acidental ou não. Já a morte suspeita é aquela que ocorre sem qualquer justificativa, de forma duvidosa, para a qual não se tem evidência concreta de sua causa. Assim, a morte pode ser considerada suspeita sempre que houver a possibilidade de não ter sido natural a sua causa. Um exemplo de morte suspeita é o indivíduo ser encontrado morto em um quarto de hotel. Como não se tem certeza da causa de sua morte, ou não se pode afirmar se houve ou não violência que causasse a sua morte sem o exame necroscópico, a necropsia é necessária para o esclarecimento deste óbito. Outro exemplo: o indivíduo encontrado morto no banheiro de sua casa, trancado por dentro, tanto pode ter sido vítima de uma doença de evolução aguda quanto pode ter cometido suicídio. Outro caso de morte suspeita é o cadáver encontrado em avançado estado de putrefação. O tipo de morte chamado morte súbita é aquela que ocorre sem uma patologia prévia que a justifique. Ela inclui tanto a morte fulminante, em que a pessoa aparentemente normal sofre uma crise repentina, cai e morre, quanto nos casos em que uma doença se instala em um indivíduo sadio e evolui muito rápido,
  • 7. Curso Auxiliar de Necropsia 7 Profa. MSc. Janaina Fernandes levando a sua morte em torno de um dia. Geralmente, toda morte súbita também é considerada morte suspeita. A necropsia médico legal em todos estes casos (morte violenta e morte suspeita) é considerada de caráter OBRIGATÒRIO, não dependendo de autorização da família para ser realizada. As suspeitas de erro médico que levam à óbito também são investigadas por meio de necropsias médico-legais. A necropsia médico legal se divide em exame externo e exame interno. I. EXAME EXTERNO: São inspecionadas todas as regiões do cadáver, de forma a identificar características externas relacionadas à causa da morte. Desta forma, são descritos e relacionados pelo medico legista, com a ajuda do auxiliar em necropsia, os orifícios de projéteis de armas de fogo, ou perfurações causadas por instrumentos perfuro-cortantes, assim como escoriações, fraturas, equimoses, etc. II. EXAME INTERNO: Com o cadáver em decúbito dorsal, um cepo de madeira é colocado sob a nuca, e inicia-se uma incisão bimastóidea vertical, tendo o cuidado de desvia-lo se porventura houver alguma lesão traumática em seu caminho. Rebatem-se para frente e para trás os retalhos do couro cabeludo, utilizando-se uma rugina. Em seguida, retira-se o periósteo da calvária, desinserindo e rebatendo os músculos temporais. Depois serra-se a calvária em sentido horizontal, com o cuidado de não aprofundar-se em demasia, para não lesarem os planos mais profundos. A serra mais indicada é a do tipo Stryker, própria para ossos, mas também podem ser utilizadas serra de gesso ou até mesmo serras manuais. Retirada a calvária, é feita a retirada das meninges, cortando-se a dura máter rente ao corte de serra da calvária. O encéfalo é então tracionado levemente para trás, até se expor a tenda do cerebelo, que é seccionada. Também deve ser seccionada neste momento a medula espinhal. Desta forma todo o encéfalo é liberado, sendo retirado para exame. Geralmente após a inspeção do encéfalo, nele são realizados vários cortes transversais, geralmente feitos com a faca de Collin. Na base do crânio, é descolada toda a dura –máter, para se examinar todas as fossas cranianas. Após o exame do crânio, é feita uma incisão biacrômio-esterno-pubiana, ou mento pubiana, tendo novamente o cuidado de desviar a incisão de quaisquer lesões encontradas no caminho. Rebate-se toda a musculatura do tórax lateralmente, deixando as costelas expostas. A articulação costoclavicular é separada com o bisturi, e as demais costelas são quebradas com o uso do costótomo, procedendo assim a retirada do plastrão costal (ou condroesternal). A parte abdominal deve ser aberta tendo o cuidado de não se aprofundar demais o corte para não perfurar as alças intestinais. No abdome, a incisão deve se desviar do
  • 8. Curso Auxiliar de Necropsia 8 Profa. MSc. Janaina Fernandes umbigo. Após as cavidades estarem expostas, inicia-se o exame dos órgãos internos. Como se trata de uma necropsia médico-legal, o interesse maior está em identificar e descrever as lesões que foram encontradas: fraturas, hematomas, e também deve se proceder a retirada de projéteis (se houver), e também a determinação da trajetória dos mesmos. Se houver sangue na cavidade torácica (hemotórax) ou abdominal (hemoperitônio), o mesmo deve ser retirado e seu volume dever ser medido. Se porventura algumas alterações foram encontradas em certos órgãos (edema pulmonar, antracnose etc) elas também devem ser descritas no laudo cadavérico. Porém, lembrando que o objetivo desta necropsia está relacionado ao seu aspecto jurídico. A cavidade vertebral não é aberta na necropsia médico-legal, exceto quando existem traumatismos (traumatismo raqui-medular) ou quando nela se alojam projéteis. Neste caso, ela é aberta da seguinte forma: após ser feita uma incisão nos processos espinhosos, a pele é rebatida juntamente com os planos musculares, até serem expostas as lâminas vertebrais. As lâminas então são serradas de um lado e de outro, até serem retiradas em conjunto, expondo- se a dura máter. Após estes exames, os órgãos que porventura foram retirados (de acordo com a técnica de necropsia utilizada) são colocados novamente no cadáver, e o mesmo é totalmente suturado e limpo pelo auxiliar em necropsia. Um importante detalhe que não pode ser esquecido é a identificação correta do cadáver no final da necropsia, com a etiqueta sendo presa no seu pé. ATENÇÃO: A ORDEM DAS ETAPAS DA NECRÓPSIA MOSTRADA ACIMA TEM FINS DIDÁTICOS; FOI RETIRADA DO LIVRO REFERÊNCIA DE MEDICINA LEGAL (GENIVAL FRANÇA). PORÉM, EM PROVAS DE CONCURSO PARA AUXILIAR EM NECRÓPSIA, A ORDEM DA NECRÓPSIA É COBRADA DE FORMA DIFERENTE, MAIS RELACIONADA COM A PRÁTICA DA NECRÓPSIA NO DIA-A-DIA, OU SEJA, INICIANDO-SE COM A ABERTURA DO TÓRAX ANTES DA ABERTURA DO CRÂNIO, COMO PODE SER OBSERVADO NA QUESTÃO ABAIXO: HFA (2002) QUESTÃO 33 Assinale a opção que apresenta a seqüência correta, quanto à técnica de retirada dos órgãos em uma necropsia: ( a resposta correta está em negrito) A ( ) exame externo; incisão da pele, das cartilagens costais e articulações esternoclaviculares; extração dos órgãos do crânio e da medula espinhal; exame das cavidades torácica e abdominal; extirpação dos órgãos do tronco B ( ) exame externo; incisão da pele, das cartilagens costais e articulações esternoclaviculares; exame das cavidades torácica e abdominal; extirpação dos órgãos do tronco; extração dos órgãos do crânio e da medula espinhal
  • 9. Curso Auxiliar de Necropsia 9 Profa. MSc. Janaina Fernandes C ( ) incisão da pele, das cartilagens costais e articulações esternoclaviculares; exame externo; extirpação dos órgãos do tronco; exame das cavidades torácica e abdominal; extração dos órgãos do crânio e da medula espinhal D ( ) exame externo; extração dos órgãos do crânio e da medula espinhal; incisão da pele, das cartilagens costais e articulações esternoclaviculares; exame das cavidades torácica e abdominal; extirpação dos órgãos do tronco E ( ) extração dos órgãos do crânio e da medula espinhal; exame externo; incisão da pele, das cartilagens costais e articulações esternoclaviculares; extirpação dos órgãos do tronco; exame das cavidades torácica e abdominal B. NECRÓPSIA CLÍNICA A necrópsia clínica é feita em casos de morte natural. Os casos de morte natural não são da competência dos Institutos de Medicina Legal a não ser em casos de morte natural com algum tipo de suspeita (como por exemplo no caso de suspeita de erro médico, ou quando o corpo é encontrado em avançado estado de putrefação). No caso de morte natural ocorrida dentro de Hospital, público ou particular, é da competência do médico que atendia o paciente o fornecimento da declaração de óbito. Mesmo os óbitos que ocorrem dentro de ambulâncias são considerados óbitos hospitalares, já que estão sob responsabilidade do hospital. Cabe salientar que estamos nos referindo somente aos casos de morte natural; se um paciente foi ferido por arma de fogo e ficou internado em um hospital, vindo morrer depois de algum tempo, ele deverá ser encaminhado ao IML, pois a causa de sua morte foi violenta. No caso das mortes naturais ocorridas em residência, se o paciente estiver sob tratamento médico, cabe ao médico fornecer a declaração de óbito. Caso não haja nenhum médico que ateste o óbito, o corpo deverá ser enviado para o SVO- Serviço de Verificação de Óbito, subordinado a Secretaria de Saúde. O SVO existe em diversas localidades do país. No caso do Distrito Federal, ele ainda não foi implantado. Desta forma, os cadáveres vítimas de morte natural em residência também são enviados ao IML para expedição da Declaração de óbito. Quanto a pessoa dá entrada no hospital sem vida, vítima de morte natural, seu corpo também é enviado para o SVO, ou, no caso do DF, para o IML. A necropsia clínica, então , é a necropsia realizada em casos de mortes naturais, com a finalidade de se verificar a causa da morte, que geralmente ocorre por causa de alguma patologia. Esta patologia pode ser de evolução rápida (infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral) ou decorrente de uma processo que já estava acometendo a pessoa durante algum tempo (tumores, pneumonia,etc)
  • 10. Curso Auxiliar de Necropsia 10 Profa. MSc. Janaina Fernandes A necropsia clínica é particularmente indicada nos seguintes casos: 1. Pacientes internados que morrem sem diagnóstico firmado 2. Óbito hospitalar nas primeiras horas de internação 3. Óbito de mulheres no ciclo grávido-puerperal 4. Óbito inesperado de paciente com diagnóstico clínico e tratamentos corretos 5. Óbito de pacientes em protocolo de tratamento experimental 6. Pacientes com doenças ambientais ou ligadas à sua profissão 7. Morte de crianças e recém-nados 8. Óbitos inesperados no pós-operatório imediato Atualmente há um declínio no número de necropsias realizadas no mundo inteiro. Isto se deve a múltiplos fatores, entre eles o custo da necropsia, a falta de remuneração pela sua realização (de um modo geral os planos de saúde não pagam pelo procedimento), o tempo despendido na sua realização, a falta de interesse de médicos assistentes e patologistas, a crença infundada de que os novos métodos de exame (principalmente radiológicos) a tornam desnecessária e a recusa pelos parentes do morto da autorização para a sua realização. C. AS TÉCNICAS DE NECRÓPSIA I. INTRODUÇÃO: Cada serviço de Patologia tem sua própria técnica de necrópsia, que na verdade é variante de uma das quatro técnicas básicas - de Virchow, Ghon, M. Letulle e de Rokitansky. a.Técnica de Virchow Em 1874, o Dr. Rudolf Virchow, médico polonês, padronizou a técnica de necrópsia, cuja base é utilizada até os dias atuais. Ele fundou as disciplinas de patologia celular e patologia. Na técnica de Virchow os órgãos são retirados um a um, são pesados e examinados separadamente. A abertura do tórax e abdome é a padrão (biacrômio esterno pubiana) e a do crânio, também (bimastóidea vertical). Após o exame dos órgãos, eles são colocados novamente dentro do cadáver. b.Técnica de Rokitansky Carl Rokitansky (1804-1878) estabeleceu as bases estruturais das doenças e a técnica de necropsia com o estudo sistemático de cada órgão. Em 1866, já tinha feito mais de 30 mil necropsias. Na sua técnica, os órgãos são examinados “in situ”, ou seja, dentro do cadáver, um a um. Desta forma, nesta técnica são realizados vários cortes em todos os órgãos internos, para depois eles serem retirados, um por um. Observe que esta técnica possui uma grande semelhança com técnica de Virchow, com a diferença de
  • 11. Curso Auxiliar de Necropsia 11 Profa. MSc. Janaina Fernandes que na de Virchow os órgãos são retirados um a um para depois serem examinados, enquanto na de Rokitansky os órgãos são examinados ainda dentro do cadáver, para depois serem retirados , também um por um. c.Técnica de M. Letulle Na técnica de M.Letulle, é feita a evisceração (retirada das vísceras do cadáver) através de um único bloco. Esta retirada se dá, na parte torácica e abdominal da seguinte forma: a pele abaixo da região mentoniana é rebatida, juntamente com os planos musculares, e é feito um corte nos músculos localizados abaixo da língua. A língua então, será tracionada em sentindo antero-inferior, e o técnico também irá começar a dissecar os músculos da região cervical, liberando a traquéia e o esôfago, que virão juntamente com a língua. A dissecação deste conjunto continuará a ser feita, sendo que o mediastino posterior será descolado da coluna vertebral, e os pulmões, liberados. O diafragma então será cortado na sua porção mais posterior, e o fígado será liberado juntamente com o pâncreas e o estômago. O intestino delgado e o grosso é então descolado da parece abdominal, através da secção do mesentério. No final do intestino grosso, é feito um nó-duplo, para evitar o vazamento do conteúdo intestinal quando o corte final for feito. Os rins também são retirados quando o intestino está sendo descolado. d. Técnica de Ghon. Na técnica de Ghon, a evisceração se dá através de monoblocos de órgãos anatomicamente e/ou funcionalmente relacionados. Abaixo estão descritas as etapas da necropsia clinica utilizando a técnica de Ghon: Remoção do cérebro: A incisão no couro cabeludo deve se iniciar a 1-2 cm atrás da borda inferior da orelha direita, se estendendo pela convexidade do crânio até alcançar o ponto correspondente contralateral. As duas partes devem ser descoladas da calota craniana e rebatidas, a anterior até próximo das órbitas, e a posterior até a protuberância occipital. Caso os cabelos sejam longos, devem ser enrolados e protegidos. Há duas maneiras de se abrir a calota craniana de adultos: (1) fazer uma única incisão circular 5 cm acima das órbitas e 2 cm acima dos ouvidos. É prática, mas tem a desvantagem de permitir o deslocamento da calota após o fechamento do couro cabeludo, desfigurando o corpo; (2) fazer três incisões - a primeira desde o ponto retro-auricular até a região occipital alguns cm acima, a segunda, semelhante do outro lado, e a terceira, ligando os dois pontos retro-auriculares, passando pela região frontal. É um pouco mais trabalhosa, mas dá melhor resultado estético. A serra não deve cortar completamente o osso - a tábua interna deve ser quebrada com formão e martelo. Faz-se isso para evitar lesões do cérebro, além da borda irregular formada fornecer pontos de fixação para a calota após o fechamento. Não se precisa quebrar toda a circunferência da calota com o martelo e formão, basta
  • 12. Curso Auxiliar de Necropsia 12 Profa. MSc. Janaina Fernandes quebrar 3 a 4 pontos e inserir o formão fazendo pressão para baixo e para os lados simultaneamente que o restante do osso vai se quebrar. Feito isso, utiliza-se a extremidade em gancho do martelo e puxa-se a calota. Deve-se então examiná-la procurando áreas de fratura, hematomas e lesões líticas (aparecem como áreas mais transparentes quando a calota é colocada contra a luz, geralmente causadas por destruição óssea por tumores, como o mieloma múltiplo e metástases). O próximo passo é a inspeção da dura máter, membrana que reveste o cérebro, e a abertura do seio sagital. Retira-se a dura máter cortando-a com a tesoura seguindo as linhas de incisão da calota e seccionando-se a foice do cérebro, sem no entanto soltá-la totalmente atrás. Agora há exposição da convexidade cerebral. Para soltar o cérebro deve-se introduzir os dedos indicador e médio esquerdos entre os lobos frontais e a dura máter e tracioná-lo delicadamente para trás, até se ver os nervos ópticos, que devem ser cortados o mais distante posssível. Continua-se tracionando o cérebro posteriormente até se seccionar os nervos cranianos e as artérias carótidas internas. Depois afasta-se os lobos temporais e corta-se a tenda do cerebelo próximo a sua inserção óssea. O último passo é cortar os nervos cranianos restantes e a medula espinhal o mais profundo possível. O cérebro está solto, e deve ser retirado com a mão esquerda apoiando a convexidade e os dedos médio e indicador direitos em torno do tronco cerebral, puxando-o para fora. Após a retirada do encéfalo, deve-se examinar a base da caixa craniana, com a abertura dos seios venosos e retirada da hipófise. Se houver suspeita de fratura de ossos da base do crânio a dura máter basal deve ser retirada. Para não haver autólise das porcões mais internas do cérebro, este deve ser o primeiro órgão a ser retirado e examinado, sendo colocado imediatamente em uma cuba grande cheia de solução de formol a 30%, suspenso por um fio passando sob a artéria basilar, para ser seccionado posteriormente. Remoção da hipófise: Secciona-se o diafragma da sela túrcica em toda sua extensão. A ponta do formão é colocada na borda posterior, e martela-se orientado para trás; visualiza-se a hipófise, que então é dissecada e retirada. A hipófise também pode ser retirada envolta pelo arcabouço ósseo (em casos de tumores hipofisários, por ex.), bastando serrar os ossos da base do crânio em torno da hipófise formando um pentágono com o ápice voltado para frente. A hipófise deve ser colocada em um pequeno frasco tampado contendo formol a 10% e colocado dentro da cuba com o cérebro. Remoção da medula espinhal: Pode ser feita por via posterior, colocando-se o corpo virado de costas e abrindo-se a pele ao longo da coluna vertebral, que então é seccionada nos processos laminares, expondo a medula nervosa. É mais trabalhosa e tem o inconveniente de poder dar saída a líquidos quando o corpo é colocado em decúbito dorsal. A técnica mais comum e prática é a por via anterior: após a evisceração coloca-se um suporte de madeira sob a região torácica média, causando retificação da coluna torácica e hiperextensão do pescoço. Faz-se um corte transversal com a serra no corpo vertebral mais alto possível. A este corte seguem-se vários pequenos cortes longitudinais alternados e descendentes em ambos os lados da coluna. Tais cortes passam um pouco além da articulação costo-vertebral, devendo-se ter
  • 13. Curso Auxiliar de Necropsia 13 Profa. MSc. Janaina Fernandes cuidado para não aprofundar muito e lesar a medula. Fazendo cortes descendentes alternados previne-se erros no plano de corte e facilita-se a extração dos corpos vertebrais, que pela hiperextensão vão naturalmente se afastando. Prossegue-se assim até o nível de L4-5, onde se faz outro corte transversal. Com isso tem-se quase toda a medula espinhal exposta, faltando apenas cortar a dura máter a nível do forame magno, as raízes nervosas e a cauda eqüina para extraí-la totalmente, podendo-se tracioná-la delicadamente para soltar áreas inacessíveis da região cervical. A medula deve então ser presa com alfinetes em uma placa de isopor e colocada em cuba com formol a 10%. É útil marcar algumas raízes nervosas com fios, para melhor localização das lesões posteriormente. ABERTURA DAS CAVIDADES TORÁCICA E ABDOMINAL: Incisão da pele: Inicia-se com uma incisão em Y partindo do ombro esquerdo, descendo, passando sob os mamilos e ascendendo até o ombro direito. Aprofunda-se a incisão até se encontrar o gradil costal, iniciando-se a dissecção por baixo dos planos musculares, em direção ao pescoço. Deve-se tracionar o retalho cutâneo para cima e para trás. Alcançada a clavícula, a dissecção passa a ser subcutânea, devendo-se alcançar a mandíbula e os acrômios. Deve-se ter cuidado para não lesar a pele, mantendo o bisturi o mais vertical possível. Exposto o gradil costal, faz-se uma incisão mediana desde a margem do corte anterior até o púbis, desviando da cicatriz umbilical, profunda o bastante para cortar o peritôneo, mas sem lesar os órgãos subjacentes. Disseca-se a pele e secciona-se os músculos da parede abdominal rente ao rebordo inferior do gradil costal de ambos os lados, expondo-se toda a cavidade abdominal. Os órgãos devem ser examinados antes de eviscerados para se observar possíveis alterações na posição e relação, presença de aderências, fístulas, deiscência de suturas, abscessos, peritonite etc. Depois de retirados não se tem como observar muitas dessas alterações, ou se ter certeza que já existiam antes e não foram provocadas pela evisceração (no caso de ruturas, por ex.). Após o exame geral deve-se medir a área cardíaca, a altura das cúpulas diafragmáticas e as distâncias das margens inferiores do fígado e baço do rebordo costal, quando este for ultrapassado. Primeiro monobloco: Formado pelos órgaos torácicos e cervicais - pulmões, coração, laringe, traquéia, esôfago, grandes vasos e estruturas mediastinais. Primeiramente, todas as aderências pleurais devem ser desfeitas com o auxílio dos dedos ou do bisturi. Solta-se a extremidade superior do monobloco seccionando-se, sob a mandíbula, a base da língua e a parte inferior da orofaringe. Traciona-se anteriormente e solta-se o esôfago da coluna vertebral e secciona-se os feixes vásculo-nervosos braquiais. Com a tesoura ou o bisturi isola-se o esôfago da traquéia e aorta, amarra-se seu terço distal e corta-se pouco acima (exceto em casos suspeitos de varizes esofageanas, onde se amarra no terço superior). Faz-se isso para evitar que o conteúdo esofageano extravaze. O segmento superior segue com o primeiro monobloco, e o inferior, com o segundo. Passa-se a mão esquerda por trás do coração e, com o
  • 14. Curso Auxiliar de Necropsia 14 Profa. MSc. Janaina Fernandes polegar e o indicador, circunda-se a aorta descendente e a veia cava inferior, que são cortadas logo abaixo. Deve-se ter cuidado para não lesar o pericárdio. Segundo monobloco: Representado pelo fígado, sistema biliar, estômago, segmentos de esôfago e duodeno, baço e pâncreas. Secciona-se ambas as cúpulas diafragmáticas na região central, ântero- posteriormente (permitindo que o fígado seja rechaçado, facilitando os passos seguintes). Depois libera- se o baço, pâncreas e segmento de duodeno até a coluna vertebral, cortando-se a veia cava e artéria celíaca, deixando a aorta intacta. Solta-se o fígado do diafragma dissecando-se os ligamentos e aderências com o bisturi e os dedos. Deve-se ter muito cuidado para não lesar as supra-renais, que são retiradas com o terceiro monobloco. Terceiro monobloco: Composto pelo sistema uro-genital (rins, ureteres, bexiga, próstata e vesículas seminais / útero, trompas e ovários), reto e supra-renais. Começa-se soltando o rim e a supra-renal esquerda, cortando-se o peritôneo e dissecando-os dos músculos subjacentes, até a coluna vertebral. Continua-se a dissecção para baixo, em direção à pelve, tendo-se cuidado para não lesar o ureter. A dissecção deve chegar até a coluna vertebral lombar, por baixo da aorta. Faz-se o mesmo do lado direito. Passa-se então para a liberação dos órgãos pélvicos, que é feita por dissecção às cegas com os dedos. Primeiro solta-se a bexiga da sínfise púbica e depois passa-se os dedos ao redor e por trás dos órgãos genitais e reto, até chegar à linha média. Agora o conteúdo pélvico pode ser solto da parede posterior por continuação da dissecção anterior. O monobloco está praticamente solto, só faltando cortar as ligações remanescentes no assoalho pélvico (uretra, vagina / próstata e reto) e os vasos ilíacos. Nos homens deve- se também retirar os testículos (ver adiante). Quarto monobloco: Constituído pelo segmento terminal do duodeno, jejuno, íleo e cólon. Deve ser o primeiro monobloco a ser retirado e examinado após a abertura das cavidades abdominal e torácica, uma vez que o trato gastro-intestinal autolisa muito rapidamente. Rebate-se todo o intestino delgado para a direita, identificando-se a alça fixa do duodeno (área de passagem do duodeno do retroperitôneo para a cavidade peritoneal), colocando-se duas ligaduras com 10 cm de intervalo entre si e seccionando-se o segmento entre elas. Identifica-se o sigmóide, que também deve ser amarrado e seccionado de maneira semelhante. Libera-se o intestino grosso, tendo-se o cuidado de retirá-lo com o mesocólon, sem lesar as estruturas subjacentes, seguindo-se para a liberação do intestino delgado por secção da raiz do mesentério o mais próximo possível da aorta. Medula óssea : Devem ser retirados 1 a 2 fragmentos dos corpos vertebrais com o auxílio da serra e do formão, rotineiramente. Em casos de doenças hematológicas ou metastáticas para a coluna, mais segmentos podem ser necessários.
  • 15. Curso Auxiliar de Necropsia 15 Profa. MSc. Janaina Fernandes Testículos : Faz-se uma abertura para o interior do canal inguinal, entre o púbis e a pele e, por dissecção às cegas com os dedos, puxa-se o testículo por essa incisão e corta-se o cordão espermático, liberando-o. Devem ser retirados de rotina. Panturrilha : Faz-se uma incisão na pele das panturilhas, desde a região poplítea (atrás do joelho) até o tornozelo, expondo-se os músculos. Corta-se os tendões dos músculos gastrocnêmios nessas duas regiões e solta-se posteriormente junto à tíbia, tendo-se cuidado para trazer o feixe vásculo-nervoso íntegro. Devem sempre ser retiradas. Pele : Em casos de doeças dermatológicas deve ser retirada pequena elipse de pele com o bisturi, com o cuidado de se atingir o tecido adiposo subcutâneo. Caso seja doença difusa retira-se o fragmento das margens de uma das incisões cutâneas já realizadas para abrir as cavidades torácica e abdominal, buscando não mutilar o cadáver. Caso seja lesão localizada fora dessas áreas deve-se depois suturar a pele cobri-la com esparadrapo. O fragmento obtido deve ser colocado estendido sobre um pedaço de papel e depois imerso em formol. Reconstituição : O corpo deve ser reconstituído de forma que não haja evidências da necrópsia depois de vestido. Todo líquido deve ser drenado das cavidades. As aberturas retal e vaginal devem ser ocluídas com material absorvente (estopa, gaze, algodão). Os órgãos que não forem ser utilizados posteriormente devem ser recolocados no corpo. O gradil costal deve ser reposicionado e, em casos de retirada da coluna vertebral coloca-se uma vara de madeira ou metal no local para evita deformidades corporais. A pele deve ser suturada por pontos oblíquos, de baixo para cima, distando 1cm entre si. O corpo deve ser lavado cuidadosamente com água sanitária diluída (1:10 em água), retirando-se todas as manchas de sangue ou secreções existentes 3. INSTRUMENTAÇÃO E EPI Precauções : Todo paciente necropsiado é virtualmente uma fonte de infecção. Para se evitar a contaminação deve-se conhecer e praticar medidas de segurança durante as necrópsias. Deve-se lembrar que ocasionalmente o pedido de necrópsia não é corretamente preenchido ou a infecção não é suspeitada pelos médicos atendentes, logo, toda necrópsia deve ser encarada como de risco e o prontuário deve ser lido atentamente em busca de sinais, sintomas, dados epidemiológicos e laboratoriais sugestivos de doença infecciosa de alto risco. Para nos proteger, utilizamos roupas, sapatos e outros objetos de proteção:  Calça e blusa específicas: impedem que se suje a própria roupa, visando não levar contaminantes para outros ambientes dentro e fora do hospital.
  • 16. Curso Auxiliar de Necropsia 16 Profa. MSc. Janaina Fernandes  Capote: protege os braços, além de ser uma segunda barreira. Deve ser bem ajustado ao corpo para evitar que se molhe durante a evisceração, principalmente quando não for impermeável (pode-se fazer isto usando fita adesiva para dobrar e prender as partes folgadas do braço e antebraço).  Luvas cirúrgicas: É recomendado o uso de duas, sobrepostas, de tamanho apropriado. Não previne contra cortes, mas evita a difusão de contaminantes. Diminui um pouco a sensação tátil.  Touca e máscara: a touca tem como função impedir que os cabelos se sujem e carreguem o contaminante para fora da sala de necrópsia, e a máscara serve para prevenir a ingestão e o contato com a mucosa de pequenos fragmentos ou líquidos que porventura espirrem.  Proteção para os olhos: óculos comuns não são o ideal porque fornecem proteção muito limitada. O mais indicado são óculos de soldador, que têm um campo de visão amplo e protegem todas as laterais, o inconveniente é que embaçam com a transpiração.  Sapatos: devem ser impermeáveis e cobrir todo o pé. Devem ser colocados, retirados e guardados dentro da sala de necrópsia, ou então se usar uma polaina sobre eles.  Instrumentos: O técnico deve se limitar à mesa de necrópsia, evitando circular pela sala e, principalmente, fora dela. Deve haver apenas um set de instrumentos bem posicionados e sempre limpos à mão, evitando-se o uso simultâneo de diversos bisturis. As lâminas do bisturi devem ser trocadas sem o auxílio de outros instrumentos para evitar que saiam "voando" e machuquem alguém. Outras considerações :  Os instrumentos, a mesa, o corpo e a sala devem ser mantidos limpos durante a necrópsia.  Deve-se prevenir o contato dos líquidos corporais do cadáver com lesões de pele ou mucosas. Para tanto, ou se protege a área ou não se participa da necrópsia.  Lâminas de bisturi e agulhas usadas devem ser desprezadas em uma lata ou outro recipiente resistente com tampa.  Facas e tesouras devem ser mantidas afiadas.  Em caso de corte ou espetada durante a necrópsia deve-se fazer a lesão sangrar livremente, lavar com água e sabão e então aplicar desinfetantes. O HIV é inativado de diversas formas: álcool 50%, água oxigenada a 3% (10 vol.), formol, água sanitária a 0,5% (1:10 em água) e Lysoform  As margens costais devem ser cobertas com gaze para evitar exposição de áreas cortantes.  Lavar externamente com água sanitária os tubos com material para ser enviado para exames laboratoriais.  Os instrumentos utilizados devem ser deixados de molho por 30 minutos em água sanitária diluída 1:10 em água antes de serem lavados. Deve-se evitar um tempo maior de molho devido à ação corrosiva da água sanitária.
  • 17. Curso Auxiliar de Necropsia 17 Profa. MSc. Janaina Fernandes INSTRUMENTOS UTILIZADOS ROTINEIRAMENTE NA NECRÓPSIA E SUAS FUNÇÕES CABO DE BISTURI: onde é encaixada a lâmina LÂMINA DE BISTURI: usada para realizar os cortes no cadáver e também dissecação de estruturas RUGINA: serve para rebater o couro cabeludo do crânio COSTÓTOMO: serve para seccionar as costelas, e assim retirar o plastrão costal e expor a cavidade torácica PINÇAS ANATÔMICAS : para separar estruturas
  • 18. Curso Auxiliar de Necropsia 18 Profa. MSc. Janaina Fernandes PINÇAS DENTE DE RATO: para prender firmemente estruturas TESOURAS CURVAS DE PONTA ROMBA: realizar cortes e divulsionar tecidos TESOURAS CURVAS DE PONTA FINA: realizar cortes e divulsionar tecidos TESOURAS RETAS DE PONTA ROMBA: idem TESOURAS RETAS DE PONTA FINA: idem
  • 19. Curso Auxiliar de Necropsia 19 Profa. MSc. Janaina Fernandes AGULHAS DE SUTURA: suturar o cadáver RÉGUA MÉTRICA METÁLICA: medir estruturas FACA DE COLLIN: realizar cortes no cérebro AFASTADORES DE FARABEUF: para aumentar as bordas de um determinado corte PINÇA DE POZI: para unir as bordas do corte e facilitar a sutura HISTERÔMETRO ou SONDA: utilizado para auxiliar na definição da trajetória de um projétil
  • 20. Curso Auxiliar de Necropsia 20 Profa. MSc. Janaina Fernandes 4. CONSERVAÇÃO DE CADÁVERES Fixação, formolização e embalsamamento O método mais antigo para a conservação de cadáveres é a mumificação. Na realidade é uma forma antiga de desidratação precedida de um tratamento químico, com emprego de substâncias das quais não se tem conhecimento exato. Sabemos que a técnica original que os egípcios utilizavam era iniciada pelo esvaziamento quase completo das cavidades do corpo, para depois retirar-se o conteúdo do crânio através das cavidades nasais com o auxílio de um gancho nelas introduzido. Outra via de acesso para a retirada do encéfalo era a nuca, através do forame magno. Após a retirada do encéfalo, a cavidade craniana era lavada com uma solução de soda cáustica, recebendo, depois, essências aromáticas. No tronco, na região lombar esquerda, os egípcios faziam a laparotomia, enquanto no períneo era feita uma incisão circular ao redor do ânus. Através desta incisão, introduziam uma faca em forma de gancho que extraía todas as vísceras, exceto o coração, que os egípcios acreditavam ser a sede da alma. As vísceras retiradas eram cuidadosamente lavadas e imersas em vasos, contendo vinho de palmeira e outras substâncias consagradas aos deuses. Em alguns casos, as vísceras depois de tratadas eram novamente colocadas no interior do corpo. Terminada a evisceração e o enchimento das cavidades, os cadáveres eram submersos em asfalto derretido e fervido nessa substância, sendo depois banhados em azeites aromáticos e bálsamos, e envolvidos em fitas de algodão impregnadas de resinas. A capa de asfalto que envolvia a múmia apresentava vários centímetros de espessura, constituindo uma hermética cobertura que evitava a putrefação. As substâncias balsâmicas evitavam o desenvolvimento de larvas de insetos nas cavidades da múmia. A mumificação também foi praticada por outros povos. Os etíopes usaram as mesmas técnicas dos egípcios. Os persas, após a evisceração do cadáver, enchiam suas cavidades com essências. No Peru, a civilização Inca também realizou embalsamamentos. O encéfalo era retirado pelas cavidades nasais e os olhos extraídos, sendo as órbitas preenchidas com algodão. A seguir, a língua era retirada. Através de uma incisão no períneo extraíam as vísceras abdominais, enchendo as cavidades com um pó avermelhado que desidratava o cadáver. Os índios mundurucu, transformavam as cabeças de seus inimigos em troféus que eram exibidos em cerimônias religiosas. Extraíam o cérebro através do forame magno e depois untavam a pele várias vezes com azeites vegetais expondo a cabeça ao sol e a fumaça, e preenchiam as órbitas com fumaça. Os índios jibaros, do Equador, usavam técnica semelhante e reduziam as cabeças dos inimigos ao tamanho de um punho. Eles separavam o crânio da pele, e ferviam os tecidos
  • 21. Curso Auxiliar de Necropsia 21 Profa. MSc. Janaina Fernandes durante longo tempo para curtir a pele. Depois iam enchendo o crânio com areia quente, modelando para que pudesse ser reduzido. O frio das regiões polares também atua eficientemente na conservação de cadáveres. Fragmentos congelados de mamute foram encontrados em perfeitas condições nos anos 20. Em 1997 foi encontrado nas geleiras entre a Áustria e a Itália um cadáver mumificado de mais de dois mil anos de idade. Com o passar dos séculos as técnicas de embalsamento evoluíram bastante, e melhoraram muito com a introdução de novas substâncias para a conservação de cadáveres. No final do século XVII o álcool etílico foi usado com boa aceitação. Hunter utilizou-o associado a pimenta negra, no entanto a conservação de peças anatômicas em álcool apresentou certos inconvenientes. Em 1717 Pedro, o Grande, famoso czar russo, comprou na Holanda uma coleção de peças para o Museu da Universidade de São Petersburgo. As peças não chegaram até a Rússia em boas condições, pois os russos encarregados do transporte beberam o conteúdo dos frascos(álcool e com pimenta negra) para combater o frio. A descoberta mais importante foi a do formol, ou aldeído fórmico, ocorrida em 1808, sendo desde então utilizado em técnicas anatômicas e microscópicas Os laboratórios de anatomia recebem, para estudo, cadáveres inteiros, partes, e vísceras para serem conservadas. Esse material é fixado para evitar-se a deterioração dos tecidos. A função da fixação é manter os tecidos firmes, insolúveis e protegidos contra a deterioração. Os requisitos para uma boa fixação de peças isoladas são: -pequeno intervalo entre a morte do indivíduo e a fixação -contato do fixador com todas as superfícies da peça -o líquido fixador deve ter volume vinte vezes superior ao da peça -escolha do tipo adequado de fixador Os fixadores mais utilizados no Brasil são o formol, álcool etílico, glicerina e fenol. O formol ou formalina é uma solução aquosa saturada de aldeído fórmico a 40%. Pode ser comprado na forma comercial em vasilhames de 1 litro. Para preparação de peças, é preparada uma solução aquosa deste formol em 10%. Juntam-se 100 ml de formol puro (aquele que foi comprado já diluído em 40%) para 900 ml de água. O formol, além de ser barato, penetra rapidamente nos tecidos (6 mm em doze horas). Apesar de seus vapores serem irritantes para as mucosas e para a conjuntiva ocular, sua toxicidade é menor comparada a de outros fixadores, tendo ainda a vantagem de não ser inflamável. As soluções de formol são irritantes para a epiderme, de forma que devem ser usadas luvas sempre que manipularmos peças conservadas em formol. O álcool etílico a 96ºGL é também um bom fixador, tendo excelente capacidade de penetração nos tecidos. Sua concentração dependerá do material a ser fixado.
  • 22. Curso Auxiliar de Necropsia 22 Profa. MSc. Janaina Fernandes O fenol líquido é excelente para tornar o meio estéril, porém seus vapores são tóxicos, e também existem suspeitas de que pode ser cancerígeno. A glicerina não é tão bom fixador quanto os outros citados anteriormente, mas é indicada para evitar a desidratação dos tecidos. Além do formol, fenol, álcool e glicerina, existe um variedade enorme de substâncias e preparações para conservação de peças. A. Formolização e embalsamamento Para conservarmos um cadáver inteiro, utilizamos uma técnica diferente daquelas utilizadas para a conservação de peças. O cadáver a ser formolizado deve ser colocado sobre uma mesa, sendo lavado com água e sabão. Movimenta-se as grandes articulações. Se o corpo a ser formolizado não tiver sido necropsiado, é feito um corte profundo na região cervical anterior, acima do manúbrio esternal, com o objetivo de atingirmos os vasos sanguíneos ali presentes e possibilitar a drenagem do sangue. Este procedimento é necessário porque, uma vez que o líquido conservador irá se espalhar pela circulação sanguínea do cadáver, o sangue deve ser retirado destes vasos. Após o corte ser feito na região cervical, é necessário virar o cadáver para posição decúbito ventral, para que o sangue saia com mais facilidade. Uma vez feito esta procedimento, o corpo é novamente colocado na posição de decúbito dorsal, e é feito um corte na região anterior da coxa, lateralmente ao músculo reto femoral, para acessarmos a artéria femoral, que uma via de acesso muito utilizada para a infusão do líquido conservador. Secciona-se a pele com bisturi, afasta-se a tela subcutânea com o auxílio de uma tesoura de ponta romba, até atingirmos a fascia crivosa, que é seccionada. Abaixo dela procura-se a artéria femoral, que está situada lateralmente a veia do mesmo nome. Levantamos a artéria com o auxílio de uma pinça. Dois fios são passados abaixo dessa artéria, transversalmente, deslocando um para cima e outro para baixo. Logo após é feita uma secção transversal desta artéria entre os dois fios, fazendo-se, a seguir uma introdução de duas cânulas, uma em direção distal e outra proximal, ou uma cânula de duas extremidades (Y ou T). Os fios são bem amarrados em torno da artéria para evitar vazamento de fluído. O líquido fixador mais usado é o formol a 10%. Outra forma de abordagem para injetarmos o líquido fixador é através das artérias carótidas. A pele da região cervical anterior é incisada com lâmina de bisturi em trajetória transversal ao eixo da coluna, prolongada por 4cm, até atingirmos a veia jugular , que deve ser cortada para drenagem do sangue. Enquanto ocorre esta drenagem venosa, é feita a dissecção da artéria carótida, que se localiza posterior à veia jugular. Na carótida, é introduzida a cânula de infusão, no sentido inferior (em direção ao corpo) Enquanto a infusão do líquido conservante (formol a 10%) é feita, a veia jugular continua drenando o
  • 23. Curso Auxiliar de Necropsia 23 Profa. MSc. Janaina Fernandes sangue, agora impulsionado pelo líquido que está sendo injetado. Durante este procedimento, o cadáver deve ser movimentado e massageado, para que a solução se espalhe de maneira uniforme. A solução deve ser colocada em um galão que deverá ficar a uma altura bastante superior a do cadáver, para que o líquido penetre por pressão e se espalhe por todo o corpo. Geralmente, para um adulto são utilizado 5 ou 6 litros Após o término deste procedimento, tanto na abordagem cervical (artéria carótida) quanto pela abordagem inferior (artéria femoral), o processo é interrompido, e as incisões, suturadas. O corpo então é tamponado (seus orifícios são tampados com algodão), lavado, barbeado, penteado, vestido, maquiado e preparado em sua urna. No embalsamamento, o procedimento é diferente: após a formolização, ocorre a retirada do bloco com todas as vísceras do cadáver. O crânio é aberto, e o cérebro também é retirado. As vísceras são retiradas e guardadas em local apropriado. Os espaços vazios (cavidades torácica e abdominal) são preenchidos com serragem ou algodão. O procedimento de embalsamamento é realizado nos casos onde há maior necessidade de preservação do corpo (viagens longas, velórios prolongados, etc)