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CAPÍTULO 13 189
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CAPÍTULO
13
“Há algo de amedrontador em toda metamorfose.”
Simone de Beauvoir
Em culturas narcisistas, envelhecer é sinônimo de não ser. Nesta perspectiva, o tempo é o
grande inimigo a ser combatido. Contra ele ou qualquer um de seus vestígios, vale o uso de todos
os arsenais bélicos. Vive-se em um tempo de guerra. A luta contra o tempo se espalha em todas as
esferas. Tudo gira em função de ausentar o ser de seu pertencer.
“(...) dez e cinqüenta
dez e quarenta
dez e trinta
dez e vinte e sete
dez e dezessete
dez para sete
sete e trinta
trinta e sete
nove e dois
dois e cinco
e sete e nove
e cinco e três
e eu também (...)”
Roberto Galizia
A crença na continuidade do tempo é o que nos lança para o amanhã. Se não existisse a
idéia de continuidade temporal e histórica, nós não só viveríamos fixados no presente como
acreditaríamos poder mantê-lo eternamente. O enfraquecimento do sentido do tempo histórico é
apontado por autores, tais como Lasch (1983), como uma das principais características da cultu-
ra narcisista que vivemos. Viver para si, não para os que virão a seguir, ou para a posteridade, é
uma de suas premissas fundamentais. Daí também decorre a produção de novos sentidos sobre o
envelhecer e o morrer.
Envelhecer em culturas narcisistas significa, entre outras coisas, tornar visível o que se vislum-
bra como o mais temível, a inexorabilidade do tempo. O tempo voa, o tempo escoa, e por mais que
À Saúde da Mulher:
Reflexões sobre o
Envelhecer
Belkis Trench
190 CAPÍTULO 13
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tentemos fixá-lo a um só lugar, ele toma o nosso corpo e nos obriga a um deslocamento compulsório
para um lugar que desconhecemos. Basta que vejamos as nossas fotografias, elas nos mostram o que
fomos, o que somos, apenas não revelam o instante que não mais seremos. A morte, mostrada com
maestria por Norbert Ellias (1983), é um problema dos vivos; os mortos não têm problemas, pois,
diferentemente de outros animais, apenas os homens estão cientes de seu próprio fim. Entre as con-
seqüências mais visíveis da negação da morte em nossa cultura, está o desenvolvimento de uma
verdadeira aversão ao envelhecimento na nossa época, manifesto nas mais diferentes formas, das
mais explícitas às simbólicas. Tomemos, por exemplo, a palavra velho, que foi por muito tempo
utilizada no Brasil com um sentido de intimidade, de camaradagem, dado mesmo a quem não era
velho. Hoje não só identifica-se um repúdio explícito a este adjetivo e seus derivados como cha-
mar hoje alguém por este nome é, no mínimo, considerado uma indelicadeza e um sinal de desres-
peito, pois associa-se a algo obsoleto ou decadente. Da mesma forma quase ninguém gosta de ser
chamado de senhor ou senhora, pois é um dos indícios de que o processo de envelhecimento está
em curso, portanto, visível ao olhar do outro que o referende. Todos hoje transformaram-se em
tios e tias, mero signo da impessoalidade reinante em nossos dias. Simultaneamente novas pala-
vras entram em cena, “terceira idade, meia-idade, melhor idade”, e que, na realidade, nada signi-
ficam, pois o que mais as caracterizam é a tentativa de estender as fronteiras entre as idades e,
simultaneamente, deixá-las indefinidas.
É portanto ao corpo em processo de envelhecimento ou envelhecido que todos os olhares se
dirigem, seja querendo condená-lo ao desterro, seja querendo a todo custo mantê-lo preservado
das intempéries do tempo. É interessante neste caso perceber que um corpo envelhecido, tal como
uma roupa, ou qualquer objeto de uso, só é valorizado se a ele se agrega o adjetivo “conservado”:
aquele que resiste à idade, ao tempo. Não se trata aqui de fazer uma apologia ao envelhecimento
ou um apanágio a outros tempos e sim refletir sobre as mutações ocorridas no imaginário. Obvia-
mente, como nenhum de nós gosta de ser estigmatizado, todos os esforços são bem-vindos se
dirigidos para adiar os sinais do tempo em nossos corpos, sejam os visíveis (rugas, cabelos bran-
cos) ou os invisíveis (artérias, órgãos, músculos, glândulas, veias etc.).
O CORPO ENVELHE(SENDO)
Em culturas em que o tempo necessita ser constantemente diluído (o passado, presente, futuro
são esferas que não se interpenetram), considera-se como modelo de envelhecimento bem-sucedi-
do aquele que é manifesto pelos corpos que desenvolveram a capacidade de camuflar o máximo
possível todo sinal ou vestígio que esta cultura quer ver eliminado ou esquecido. O ideal de corpo
da nossa época não é longilíneo nem o curvilíneo, e sim um corpo que transgrida as fronteiras do
tempo, corpo sem idade, corpo atemporal.
“É aos domingos, por volta das cinco da tarde, que a socialite carioca Maria Aparecida
Marinho costuma passear na orla de Ipanema. Shortinho jeans, camiseta curta com umbigo
aparecendo, cabeleira loira esvoaçante, nem um pingo de maquiagem, a escultural Aparecida
(1,79m de altura e 61kg) atrai olhares voluptuosos dos homens e invejosos das mulheres. Suas
pernas são firmes, os braços expõem os músculos definidos, não há sinal de celulite e nem um
sopro de gordura em sua silhueta. Assim maravilhosa, segue empurrando um carrinho de
bebê. O bebê é seu neto. Aos 50 anos, Aparecida faz parte de uma geração de mulheres que
epitomam a reinvenção do conceito de meia-idade. Como encaixá-la no estereótipo da avó, da
‘coroa’, que ao completar 50 anos deveria aumentar o comprimento das saias e diminuir o do
cabelo?” (Pinheiro, 2003).
Para que a reinvenção do conceito de meia-idade seja concretizada o corpo deverá ser subme-
tido a contínuos processos de reciclagem, para tanto, vale o uso de todos os arsenais narcísicos
disponíveis no mercado e legitimados, como diz Lipovetsky (1997), mediante mil práticas cotidia-
nas: “angústia da idade e das rugas, obsessões com a saúde, com a ‘linha’, com a higiene, rituais de
CAPÍTULO 13 191
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controle (check-up) e de manutenção (massagem, sauna, desportos, regimes); cultos solares e tera-
pêuticos (superconsumo de cuidados médicos e de produtos farmacêuticos).”
O corpo atemporal é um corpo que objetiva se singularizar e se diferenciar de outros corpos da
mesma idade. Mas o que mais o caracteriza é a sua impessoalidade, seja porque nestes corpos é
visível a reprodução da grife do cirurgião plástico em alta no momento, seja porque o uso do botox
como diz outra socialite, transforma todas em “fofão” (Pinheiro, 2003), referindo-se ao bochechu-
díssimo personagem infantil que tem boca e bochecha estufada. Aparentemente é um corpo trans-
gressivo. Reinventa a noção de tempo, a história, rompe com alguns padrões de comportamento
associados ao envelhecimento. Na realidade, o que o caracteriza é justamente o seu conservadoris-
mo, pois mantém intacto e perpetua um dos mais resistentes mitos da nossa cultura, aquele que
associa mulher, beleza e juventude. A associação mulher-beleza-juventude, para ser mantida, não
só necessita que os diferentes discursos que circulam na nossa cultura os disseminem incessante-
mente, como é primordial que tenham o aval de outras instâncias que o referendem, seja fornecen-
do os subsídios biotecnológicos para a manutenção do padrão estético vigente, ou propiciando e
estimulando a criação de novos vínculos associativos, como, por exemplo, saúde-beleza-juventude.
Fig. 13.1 – Anúncio de revista/1933 (Reclames da Bayer — 1911-1942; 1986).
192 CAPÍTULO 13
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A relação estabelecida entre mulher-beleza-juventude não só está associada à saúde no nosso
imaginário, como, ao contrário do que se pensa, tal imagem é recorrente, antiga e persistente; a
encontramos no livro Porque as mulheres envelhecem, do Dr. Alberto Gusmão (1938). Entre
conselhos e advertências, o autor enumera algumas causas que contribuem para retirar o encanto e
a beleza das mulheres.
As extravagâncias, as imprudências, nem sempre têm conseqüências imediatas. Os seus efei-
tos são tardios. Hoje uma pequena indisposição, amanhã um mal-estar indefinido e, de futuro, uma
infecção grave que envelheceu a mulher e retirou os encantos de sua beleza. A saúde é a base da
beleza. Esta é a suprema aspiração do sexo feminino. Na exuberância do porte, do andar, do olhar,
do humor, da vivacidade, reside o encanto da mulher. E tudo isso de que depende? Do perfeito
funcionamento de todos os seus órgãos, especialmente das glândulas de secreção interna. Se as
glândulas de secreção interna são o pivô da beleza feminina, devemos chamar atenção para o
ovário fonte perene do maior número de males que atacam o organismo da mulher. É ele a porta
aberta para o envelhecimento precoce (Gusmão, 1938).
A associação saúde-beleza, saúde-juventude, surge neste livro em todos os capítulos, e mais
do que isto, parece ser a própria razão de ser da publicação. Obviamente não encontraríamos em
publicações médicas recentes um discurso tão ingênuo e ao mesmo tempo tão verdadeiro sobre a
relação entre a medicina e suas práticas de manutenção do mito do “belo sexo”, bem como de sua
participação na construção de outros mitos disseminados no imaginário coletivo. A construção
social do envelhecimento das mulheres não só conta com todo dispositivo da ciência biomédica
para sua sustentação, como tem na menopausa a possibilidade de sua concretização mais efetiva.
CORPO ENVELHE(SIDO) — MENOPAUSA: A PORTA DE ENTRADA PARA A
CONSTRUÇÃO DO ENVELHECIMENTO DAS MULHERES
Na vida das mulheres, diferentemente do que acontece com os homens, existem marcos con-
cretos e objetivos que sinalizam diferentes fases, ou passagens de suas vidas, tais como a menarca,
a ruptura do hímen, a última menstruação. São marcos visíveis no corpo físico e, obviamente, cada
cultura os investe de sua rubrica. Na nossa cultura, historicamente, associa-se ao fim do ciclo
reprodutivo das mulheres, imagens, palavras, gestos que se mostram impregnados de conteúdos
patológicos, negativos, ou desvalorativos. Algumas destas imagens que constituem o repertório sim-
bólico associado à mulher climatérica ou menopáusica, de tão esmaecidas, poderiam hoje ser alçadas
a condição de mito, tais como a definição que se encontra em um tratado médico do século XVIII:
“O climatério é um ano considerado superticiosamente como azarado. Tempo enfermo para o
temperamento e perigoso por suas circunstâncias. Se está climatérica quando se está de mau hu-
mor” (Palácios, 1996).
Obviamente, hoje não mais se associa o ano do climatério com tais supertições, de outro lado,
a relação climatério, enfermidade e distúrbios de temperamento continua em pleno vigor.
A palavra climatério do grego Klimacter, significa período crítico. Já o conceito de menopau-
sa surgiu a partir de um artigo de Gardanne, publicado em 1816, denominado “Conselho às mulhe-
res que entram na idade crítica”, em que descreve a síndrome denominada ”La menopausie”.
“Menopausa” é a soma de duas palavras gregas e que significam basicamente “mês” e “fim”. Até
a década de 1980 utilizava-se a palavra climatério para designar o período que antecedia o fim da
vida reprodutiva e menopausa para nomear o cessar definitivo do menstruo, porém, em 1980, um
grupo científico de investigação da menopausa da OMS propõe uma padronização da terminolo-
gia e sugere que o termo climatério seja abandonado e substituído por perimenopausa. Na prática,
o que vemos é o uso indiscriminado dos dois termos quer em publicações antigas e dirigidas ao
público leigo, tal como a que encontramos em um almanaque publicado no início do século XX:
— Diga o que disser e faça o que fizer, há uma idade em que necessariamente a mulher, se não
CAPÍTULO 13 193
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perde o seu sexo, deixa pelo menos de poder ser mãe. É uma lei da natureza a que não há de se
fugir por mais que se tente. A única coisa que sabíamos exatamente sobre o caso de declínio do
vigor num certo período da vida – ou como se diz ainda, da “menopausa” – é que era certo e fatal.
É pelos 45 anos, aproximadamente, nos nossos climas, que se produz esta mudança. Algumas
vezes esta mudança vem cedo, outras vezes vem tarde. Certas mulheres são “desfeminizadas” aos
35, 36, 38 anos. Outras não o são senão passados os 50 anos. Como explicar estas anomalias
bizarras?” (Almanack do Urudonal, 1930).
Fig. 13.2 – Anúncio de revista (O malho, 1930).
Quanto podemos identificar o uso da palavra climatério, bem como a reificação de certas
imagens e conceitos, até mesmo em publicações recentes e consideradas referência na área médi-
ca, tais como a que diz: — “(...) adolescentes e climatéricas encontram-se diante de conflitos que
chamaríamos de revolução somático-existencial. Mas a diferença se estabelece, uma vez que nas
jovens é subtraído o fator tempo, pois se abre diante delas um futuro, enquanto a climatérica se
acha diante do vazio que progressivamente vai tomando conta de sua existência. (...) Nestas cir-
194 CAPÍTULO 13
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cunstâncias só cabe à mulher que envelhece lançar mão da idade como álibi para suprimir a com-
petitividade física, profissional e até sexual. As insuficiências e as incompetências passam a fazer
parte de sua vida cotidiana” (Costa, 1995).
As questões relacionadas ao uso indiscriminado da terminologia são apenas acessórias, ou
mesmo mero reflexo da fragmentação e da imprecisão do conhecimento que até hoje é agregado
ao tema.
Ninguém sabe por que nem quando a ovulação cessa, nem que sintomas são causados pelo
encerramento das funções ovarianas e não pelo envelhecimento. É impossível mesmo prever qual-
quer coisa sobre a menopausa, isolar fatores de risco, sugerir medidas preventivas, pois a cada ano
acrescentam-se novos sintomas à síndrome climatérica, e, a cada ano, descartam-se alguns. Além
do mais, como diz, todos os resultados de experiências são comprometidos pela multiplicidade de
sintomas e pela natureza autolimitante do fenômeno (Greer, 1994).
Certamente, entre tantos mistérios e incertezas, algumas definições hoje são consideradas
indiscutíveis, a saber: — A menopausa é a fase da vida da mulher que cessa a capacidade reprodu-
tiva. Os ovários deixam de funcionar e a produção de esteróides e peptídeo hormonal diminui e
conseqüentemente se produz no organismo diversas mudanças fisiológicas, algumas resultantes
da cessão da função ovariana e de fenômenos menopáusicos a ela relacionados e outros devidos ao
processo de envelhecimento. Quando se aproximam da menopausa, muitas mulheres experimen-
tam certos sintomas, em geral passageiros e inócuos, porém não menos desagradáveis e às vezes
incapacitantes (OMS, 1996).
De outro lado, também é indiscutível que a sintomatologia associada à menopausa se desen-
volve dentro de parâmetros sociais, econômicos, culturais e étnicos muito distintos; por exemplo,
a prevalência de osteoporose e fratura de bacia varia segundo os países e segundo os grupos de
população destes. A osteoporose é rara na África, freqüente na Índia e muito comum na Europa e
América do Norte. Nos Estados Unidos, as mulheres de etnia negra apresentam maior massa óssea
no tecido cortical e vértebras do que as caucásicas, ainda que as de ascendência asiática tenham
menos tecido cortical que as caucásicas de idade similar. Até mesmo as famosas ondas de calor,
um dos sintomas mais característicos da menopausa, também podem ser relativizadas, pois variam
de uma cultura para outra: 85% das mulheres européias e norte-americanas experimentam ondas de
calor, o mesmo só acontece com 17% das japonesas e em cerca de 5% das maias da América
Central1. Os sintomas relacionados à menopausa também estão intimamente relacionados à ma-
neira que as diferentes culturas encaram o processo de envelhecimento; na sociedade americana,
por exemplo, há a tendência de focalizar os aspectos negativos do processo: doença, envelheci-
mento, perda do status social. Já em alguns países em desenvolvimento enfatizam-se os aspectos
positivos da mulher nesta fase: libertação da responsabilidade de ter filhos e das restrições sociais
culturais que às vezes são impostas sobre as mais jovens que ainda menstruam (OMS, 1996).
Por outro lado, é impossível desconsiderar o fato de que a vivência da menopausa, como
fenômeno socializado e como tal compartilhado, é um acontecimento que passa a ter visibilidade,
sobretudo a partir do século XX. Mankowitz (1987) aponta que historicamente em todas as socie-
dades a menopausa era considerada um “não evento”, ou seja, socialmente é um acontecimento
1
Parece haver uma relação muito significativa entre as ondas de calor e a ocorrência anterior de sintomas pré-mens-
truais e menstruais e o estado de saúde em geral. Além do mais, a temperatura do ar também parece contribuir para
sua freqüência. Alguns pesquisadores, por exemplo, supõem que, pelo fato de nos climas quentes a temperatura
ambiente normalmente ser mais elevada, as mulheres não percebem com tanta intensidade a sensação de calor, além
de usarem roupas mais folgadas. No caso das japonesas, que experimentam muito pouco esse fenômeno, a explica-
ção estaria na dieta rica em fitoestrogênio (soja e derivados). Out Look, Program for appropriate technology in
health (ath), 1994, p. 3. A respeito das diferenças entre a menopausa de japonesas e americanas, o livro de
Margareth Lock, Encontounters with Aging: Mythologies of menopause in Japan and North America é bastante
esclarecedor a respeito das diferenças culturais.
CAPÍTULO 13 195
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invisível, pois em nenhuma cultura ou sociedade existem ritos de passagens para esta fase tais
como existem para outros acontecimentos da vida da mulher, tal como a menarca, ou o rompimen-
to do hímen. Paradoxalmente, a menopausa é vivida pelas mulheres como um dos marcos mais
visíveis e temíveis de suas vidas, tendo que se deparar não só com questões relativas ao fim de sua
vida reprodutiva, mas também com o envelhecimento e com inúmeras fantasias associadas ao fim
de sua sexualidade e feminilidade.
Na realidade o que está em discussão na meia-idade não é apenas a menopausa ou o cessar do
ciclo ovariano ou reprodutivo, mas sim o entrecruzamento de diferentes discursos de uma cultura
em relação à mulher, reprodução, sexualidade e o envelhecimento. Desta forma, parece que o que
mais as assusta não são os sintomas físicos ou doenças associados ao envelhecimento, e sim a
vivência de algo que para elas é ainda desconhecido: a perda da imagem de si mesmas e o medo de
que o outro também não as reconheça, como ser ou existência, ou como claramente relata Jong
(1997): — “Olho ao meu redor aos 50 anos e vejo as mulheres da minha geração procurando
lidar com o fato de estar envelhecendo. Estão perplexas, e a resposta à sua perplexidade não é
mais um livro sobre hormônios. Tem a ver com a imagem global de si mesma em uma cultura
apaixonada pela juventude e desapaixonada das mulheres como seres humanos. Estamos aterro-
rizadas aos 50 anos porque não sabemos no que nos transformaremos quando já não formos
jovens e bonitas... o que nos tornamos agora que nossos hormônios nos libertaram?”
MENOPAUSA OU MENOPAUSAS?
A OMS considera que uma mulher encontra-se na menopausa após a ausência consecutiva da
menstruação por 12 meses, fato este que normalmente ocorre em suas vidas entre os 45 e 55 anos.
Nos países industrializados, em média, isto é vivido pelas mulheres de 50-52 anos, e um ou dois
anos a menos em países em desenvolvimento. Calcula-se que até o ano 2030, 1.200 milhões de
mulheres estejam vivendo a menopausa. Por outro lado, se considerarmos o fato de que a expecta-
tiva de vida das mulheres até o século XIX era de 38 anos, podemos dizer que não só a experiência
da menopausa é um acontecimento quase restrito as mulheres do século XX, bem como sua siste-
matização e medicalização.
A partir do início do século XX a medicina se apropria do tema de pelo menos duas maneiras:
minimizando os problemas relacionados a esta fase da vida e enfatizando o fato de esse período ser
menos estressante que outros períodos da vida da mulher, tais como a gravidez e parto, ou buscan-
do intervir neste corpo tentando estender o ciclo menstrual evitando assim a parada da menstrua-
ção. Nesta segunda perspectiva é que se desenvolvem técnicas que visam adiar ou eliminar a
menopausa, e que neste século foram as mais diversas: sangrias, purgações, bastões eletrificados
introduzidos no útero ou na vagina da mulher, hidroterapia, ou até mesmo a ingestão da associação
de extratos feitos de órgãos (seio, ovário) e plantas medicinais, tais como vemos em anúncios do
medicamento Fandorine, publicado em “almanaques” brasileiros do início do século XX.
A partir da metade do século XX, a visão intervencionista é que predomina; o término da
ovulação passa a ser considerado uma morte prematura da mulher e uma tragédia sob o ponto de
vista da medicina moderna, como ganha um poderoso aliado à terapia de reposição hormonal
(TRH). Wilson (1966), em seu famoso livro, Eternamente feminina, estabelece claramente a rela-
ção menopausa-doença, por exemplo, quando proclama que o “estrógeno era a cura para a meno-
pausa, da mesma forma que a insulina é para a diabete”: — “Ambas são causadas pela falta de
certa substância na química orgânica. Para curar a diabetes, suprimos a substância ausente com a
insulina. Uma lógica similar pode ser aplicada à menopausa: os hormônios que faltam podem ser
substituídos” (Wilson, 1966).
A partir da década de 1970, o tratamento à base de estereóides não só se sofisticam como se
disseminam, e medicamentos tais como o etinil estradiol são apresentados na forma de comprimi-
dos, adesivos e pomadas vaginais sob diferentes nomes-fantasia; paralelamente são criadas asso-
196 CAPÍTULO 13
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ciações de estudos tais como a International Menopause Society (1976), clínicas para o tratamento
da menopausa proliferam principalmente nos Estados Unidos e Inglaterra, e publicações científi-
cas, tais como a Woman’s guide to the menopause (1978), dedicam-se a narrar tanto os resultados
obtidos com os novos medicamentos como se detém à definição da “moléstia”. De outro lado, o
movimento feminista que desde o início nutre profundas suspeitas em relação aos esteróides tam-
bém se organiza, lançando manifestos, tais como o de Barbara Seaman (Woman and crises in sex
hormones) e a rede feminista (National Women’s Health Network), consegue com êxito obrigar as
indústrias farmacêuticas a incluir uma relação de todos os efeitos colaterais e contra-indicações
em todas as embalagens de hormônios de reposição colocados à venda. Outras publicações de
cunho feminista buscam valorizar este período e evidenciam o quanto esta fase pode ser rica e
produtiva. Neste enfoque, por exemplo, encontram-se os trabalhos de Mankovitz (1987), e o clás-
sico de Germaine Greer (1994), Mulher, maturidade e mudança que inclusive polemiza com os
livros de auto-ajuda dirigidos à mulher de meia-idade que afirmam que é desnecessária qualquer
mudança, que ela pode continuar o que sempre foi, amante atraente e receptiva, esposa dedicada,
profissional competente e que jamais consideram a possibilidade de que a mulher talvez esteja, de
fato, farta de tudo isto (Greer, 1994).
Fig. 13.3 – Anúncio de revista (Almanack do Urodonal, 1930).
CAPÍTULO 13 197
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Tomar ou não tomar hormônios é uma das questões fundamentais colocadas às mulheres que
hoje se aproximam da menopausa. A polêmica extrapola o meio médico e ocupa diferentes espa-
ços da mídia. A Organização Mundial de Saúde, assim se manifesta a respeito, a saber: “Nos
países desenvolvidos é muito freqüente receitar estrogênio e progesterona às mulheres na meno-
pausa. Considera-se que seu uso é indicado para dois fins distintos: o uso por curto prazo para
alívio dos transtornos da menopausa (especificamente os sintomas vasomotores), e o uso prolon-
gado com fins preventivos, principalmente das fraturas ósseas e das enfermidades cardiovascula-
res. Tanto os médicos como as potenciais usuárias dos hormônios deveriam compreender claramente
a distinção entre fins terapêuticos em curto prazo e fins preventivos em longo prazo, e que os
riscos e benefícios destes tipos de tratamento são muito distintos. Em alguns tratamentos preven-
tivos de longa duração podem estar associados os aumentos de risco do câncer de endométrio e
possivelmente câncer de mama (OMS; 1996).”
No livro Megatendências para as mulheres, Aburdene & Naissit (1993) mostram que nas
duas próximas décadas entre 40 e 50 milhões de mulheres estarão entrando na menopausa.
As novidades do fenômeno ficam por conta do tamanho sem precedente desta coorte, con-
seqüência da elevação das taxas de nascimento do pós-guerra e do fato de se tratar exatamente
das protagonistas da emancipação feminina, da abolição do sutiã, ao enfrentamento dos desafios
da dupla jornada. São estas mulheres que, aceitando ou desafiando as rugas, para usar a evoca-
ção de Aburdene & Naissit, irão redefinir o papel e a imagem da mulher madura para as próxi-
mas gerações. O material de propaganda e marketing dos laboratórios farmacêuticos não só faz
parte destas mutações do imaginário como participa da construção de expectativas e de padrões
normativos, em uma complexa e temerária recriação de estereótipos e de preconceitos, revesti-
dos da legitimidade do conhecimento científico, das vantagens do avanço humano e da moder-
nidade” (Oliveira, 1992).
Na realidade, o que parece estar em pauta na atual construção da menopausa, mostra a pesqui-
sa — Com Regras, sem pausas: imagens da mulher na menopausa em anúncios dos laboratórios
farmacêuticos (Trench, 2001) — não é mais a relação menopausa-patologia, até porque, ao que
tudo indica, ela sempre foi estabelecida, e sim o estabelecimento de novo vínculo associativo:
menopausa, hormônios, prevenção. Desta forma, a prescrição de hormônios extrapolaria o trata-
mento exclusivo da sintomatologia — tais como depressão, ondas de calor, secura vaginal etc. —
e teria o poder (ou deveria ser prescrito) para prevenir as possíveis patologias associadas à meno-
pausa, tais como: osteoporose, distúrbios cardíacos, mal de Alzheimer. Ou seja, os hormônios
passariam a ser indicados com objetivos profiláticos, e como uma espécie de antídoto contra o
envelhecimento. Neste caso, identifica-se que a atual construção da menopausa pressupõe dois
movimentos, associa-se menopausa a envelhecimento e simultaneamente possibilita-se por inter-
médio da intervenção hormonal que tal associação seja desfeita.
Para que os hormônios sejam consumidos pelas mulheres na menopausa, não só a associação
hormônios-rejuvenescimento, hormônios-prevenção deverão estar em constante circulação no
imaginário, como os médicos terão que ser parte integrante desta cadeia associativa e constituir-se
no mais importante vetor para sua disseminação. Neste caso, é necessário que o médico extrapole
o seu papel de prescritor legitimado e assuma também a função de imagem legitimitadora desta
prática de consumo (Temporão, 1986). De outro lado, para que as mulheres compartilhem deste
imaginário e sejam medicalizadas, além de apresentarem os ditos sintomas associados a menopau-
sa, outras condições mínimas também serão necessárias: a primeira, diz respeito à disponibilidade
de recursos financeiros para comprar o medicamento, sejam eles os tradicionais como a terapia de
reposição hormonal, ou os alternativos, tais como os fitoestrogênios. A segunda condição, ainda
que em se tratando do Brasil, estritamente associada a primeira, diz respeito a ter direito a um
acompanhamento médico sistemático e acesso aos exames de controle sofisticados (tais como
ultra-som e mamografia). Por ultimo, é necessário que disponha de tempo disponível para pensar
e atribuir aos vestígios da idade, e não à sua dura realidade, os seus problemas existenciais.
198 CAPÍTULO 13
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Em um estudo realizado com mulheres caiçaras que vivem no litoral norte do estado de
São Paulo (Trench, 2003), podemos perceber que as questões relacionadas à menopausa ou
envelhecimento não têm a mesma relevância em suas vidas, tal como aparecem em depoi-
mentos de mulheres de classes privilegiadas, como mostram os estudos de Menegon (1998),
Ciornay (1999) e Lemos (1994). O tema central de suas vidas não só diz respeito à luta
diária pela sobrevivência e o acúmulo de tarefas, mas a preocupação com o futuro dos filhos,
ou com o desemprego, a doença, ou o abandono do companheiro. Para tais mulheres não só
não existe espaço para viver a denominada “crise da idade crítica” como as questões relacio-
nadas ao fim da vida reprodutiva são vividas sem a estreita relação: menopausa-envelheci-
mento, sintomas-medicalização.
De outro lado, não podemos desconsiderar o fato de que a construção da menopausa e de sua
medicalização, tal como hoje está sendo disseminada pelo discurso médico, pelos laboratórios
farmacêuticos, pela mídia segmentada e até mesmo por alguns segmentos do discurso feminista,
Fig. 13.4 – Anúncio de laboratório farmacêutico (Journal of American Medical Association — JAMA-GO, 1996).
CAPÍTULO 13 199
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tem como público-alvo uma mulher socioeconomicamente diferenciada, intelectualmente refina-
da e com tempo e dinheiro disponível para cumprir os demais rituais de saúde que a elas são
atribuídos como medidas complementares: longas caminhadas, exercícios físicos, cremes e vita-
minas, alimentação balanceada etc. Nessa perspectiva, a construção da menopausa e de sua medi-
calização, tal como hoje se apresenta, não só exclui grande parte das mulheres que hoje vivenciam
o fim de sua vida reprodutiva como parte de um pressuposto de que as questões relacionadas à
menopausa e ao envelhecimento se apresentam igualitariamente a todas as mulheres, independen-
temente de sua inserção em dada cultura e segmento social.
A SAÚDE E O ENVELHE(SER)
O envelhecimento não só se apresenta diferentemente para cada cultura e extrato social como
é nesta fase da vida, que a desigualdade entre homens e mulheres mostra uma de suas facetas mais
perversas: a velhice, diz Sontag (1993): — é uma autêntica prova de fogo que homens e mulheres
sofrem de forma similar, porém o envelhecimento é sobretudo uma questão de imaginação, uma
enfermidade moral e uma patologia social a qual foi agregado o fato que deve afetar muito mais as
mulheres do que os homens. E são as mulheres, portanto, que experimentam o processo de enve-
lhecimento com tanto desgosto, sofrimento, vergonha (...) aos homens se permite envelhecer de
muitas maneiras e sem penalidades. Quando o desejo de ser amada, desejada, e reconhecida como
pessoa em sua totalidade é ancorado em valores predeterminados, normatizados e temporais, o
processo de envelhecimento provoca sentimentos que se assemelham ao que sente alguém que é
condenado a morte por um crime que não cometeu.
Como diz Wolf (1992): “Os homens morrem uma vez e as mulheres duas. Elas primeiro
morrem como beldades antes que seus corpos morram realmente.”
Nada parece produzir tanto sofrimento psíquico em um indivíduo quanto o fato de não ter sua
existência reconhecida. O olhar do outro, mostra Todorov (1996), não só me constitui como sujei-
to como a sua ausência, ou o seu não-reconhecimento, implica a mais absoluta solidão: “a condi-
ção física da falta de reconhecimento é a solidão: se os outros estiverem ausentes, não podemos
por definição captar seu olhar. Mas o que é ainda mais doloroso do que a solidão física, que pode
ser resolvida ou amenizada por diversos meios, é viver entre os outros sem deles receber qualquer
manifestação(..)”.
No livro Identidade, de Milan Kundera, a protagonista do romance, uma bela mulher mas não
tão jovem, explicita claramente a seu companheiro o que de mais profundo algumas mulheres
sentem quando o olhar do outro se ausenta: “Vivo num mundo em que os homens já não se viram
pra olhar para mim”, diz Chantall (Kundera, 1998). Ele a princípio é incapaz de compreender o
que ela diz, o que quer dizer... depois é tomado de uma imensa compaixão por esta mulher que ele
ama e que está envelhecendo. Ele sabe que os olhares do companheiro não podem bastar a uma
mulher, pois a confirmação de um núcleo muito profundo da intimidade feminina depende do
olhar de homens desconhecidos.
Em culturas que valorizam o ter e não o ser, o envelhecimento e a velhice é vivido antes deste
acontecimento inscrever neste corpo os seus signos mais perceptíveis. O medo da velhice, aponta
Lasch (1983), pode originar-se na estimativa racional, realista, do que acontece com as pessoas na
sociedade industrial adiantada, mas tem suas raízes no pânico irracional. O sinal mais óbvio deste
pânico é que ele surge na vida das pessoas cada vez mais prematuramente, especialmente entre as
mulheres.
O discurso de alguns especialistas em saúde da mulher não só contribuem para alimentar o
medo e o pânico associados ao envelhecimento como é por meio de apropriação e medicalização
do fim da vida reprodutiva que a normatização dos corpos das mulheres parece se concretizar de
maneira mais efetiva.
200 CAPÍTULO 13
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
Os cuidados médicos prescritos às mulheres a partir dos 40 anos consideram o corpo unica-
mente como objeto de uma fisiologia mecanicista e a ele associa-se inúmeras metáforas, tal como
se tratasse de engrenagens de uma máquina. A menopausa, nesta perspectiva, adquire o sentido de
“falha” ou “pane” em um de seus mecanismo, no caso, um dos mais valorizados, o reprodutivo. O
corpo, se visto unicamente desta forma, não só é destituído de subjetividade — e conseqüentemen-
te de singularidade, como se faz necessário para sua manutenção o constante aval dos especialis-
tas, seja mediante reforço de vitaminas, reposição hormonal, cuidados cosméticos, tal como mostra
o material de divulgação de um médico que mostramos anteriormente.
O corpo — o que comemos, como nos vestimos, os rituais diários mediante os quais cuidamos
dele — pode ser compreendido, como mostra Bordo (1997), tanto como agente da cultura quanto
como um lugar prático de controle social. O corpo das mulheres, enfatiza, nunca foi tão disciplina-
Fig. 13.5 – Anúncio de revista (Anuário das Senhoras, 1946).
CAPÍTULO 13 201
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do e normatizado quanto nesta época em que vivemos. O tempo dispendido na busca de um ideal
de feminilidade evanescente, homogeneizante, sempre em mutação, exige uma busca sem fim e
sem descanso, tornando os corpos femininos no que Foucault chama de “corpos dóceis”: aqueles
cujas forças e energias estão habituadas ao controle externo, à sujeição, à transformação e ao
aperfeiçoamento. Induzidas por estas disciplinas as mulheres memorizam em seus corpos o senti-
mento e a convicção de carência e insuficiência, levando tais práticas de feminilidade em casos
extremos à absoluta desmoralização, à debilitação e à morte.
Fig. 13.6 – Mala direta enviada por consultório ginecológico de São Paulo (2003).
A saúde das mulheres está diretamente relacionada à maneira que cada cultura normatiza e
disciplina seus corpos. As questões relacionadas ao envelhecimento se focalizadas de outras for-
mas poderiam incentivar a valorização da vida e não sua redução ou negação. O que caracteriza o
nosso tempo não é só o horror à morte e ao envelhecimento, é a negação de todo o movimento que
suscita a apropriação da vida tal como ela é: mutável, cíclica, finita. Muitas mulheres vivem suas
vidas em função das horas, senhoras que não se assenhoram; outras sabem que a vida não têm
idade, nem hora. Senhoras de outro tempo, sem horas.
202 CAPÍTULO 13
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
BIBLIOGRAFIA
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06. Elias N. A solidão dos moribundos. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
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REFERÊNCIAS IMAGÉTICAS
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Reclames da Bayer — 1911-1942. [snt]: Bayer do Brasil S.A., 1986.

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A saúde da mulher reflexões sobre o envelhecer

  • 1. CAPÍTULO 13 189 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. CAPÍTULO 13 “Há algo de amedrontador em toda metamorfose.” Simone de Beauvoir Em culturas narcisistas, envelhecer é sinônimo de não ser. Nesta perspectiva, o tempo é o grande inimigo a ser combatido. Contra ele ou qualquer um de seus vestígios, vale o uso de todos os arsenais bélicos. Vive-se em um tempo de guerra. A luta contra o tempo se espalha em todas as esferas. Tudo gira em função de ausentar o ser de seu pertencer. “(...) dez e cinqüenta dez e quarenta dez e trinta dez e vinte e sete dez e dezessete dez para sete sete e trinta trinta e sete nove e dois dois e cinco e sete e nove e cinco e três e eu também (...)” Roberto Galizia A crença na continuidade do tempo é o que nos lança para o amanhã. Se não existisse a idéia de continuidade temporal e histórica, nós não só viveríamos fixados no presente como acreditaríamos poder mantê-lo eternamente. O enfraquecimento do sentido do tempo histórico é apontado por autores, tais como Lasch (1983), como uma das principais características da cultu- ra narcisista que vivemos. Viver para si, não para os que virão a seguir, ou para a posteridade, é uma de suas premissas fundamentais. Daí também decorre a produção de novos sentidos sobre o envelhecer e o morrer. Envelhecer em culturas narcisistas significa, entre outras coisas, tornar visível o que se vislum- bra como o mais temível, a inexorabilidade do tempo. O tempo voa, o tempo escoa, e por mais que À Saúde da Mulher: Reflexões sobre o Envelhecer Belkis Trench
  • 2. 190 CAPÍTULO 13 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. tentemos fixá-lo a um só lugar, ele toma o nosso corpo e nos obriga a um deslocamento compulsório para um lugar que desconhecemos. Basta que vejamos as nossas fotografias, elas nos mostram o que fomos, o que somos, apenas não revelam o instante que não mais seremos. A morte, mostrada com maestria por Norbert Ellias (1983), é um problema dos vivos; os mortos não têm problemas, pois, diferentemente de outros animais, apenas os homens estão cientes de seu próprio fim. Entre as con- seqüências mais visíveis da negação da morte em nossa cultura, está o desenvolvimento de uma verdadeira aversão ao envelhecimento na nossa época, manifesto nas mais diferentes formas, das mais explícitas às simbólicas. Tomemos, por exemplo, a palavra velho, que foi por muito tempo utilizada no Brasil com um sentido de intimidade, de camaradagem, dado mesmo a quem não era velho. Hoje não só identifica-se um repúdio explícito a este adjetivo e seus derivados como cha- mar hoje alguém por este nome é, no mínimo, considerado uma indelicadeza e um sinal de desres- peito, pois associa-se a algo obsoleto ou decadente. Da mesma forma quase ninguém gosta de ser chamado de senhor ou senhora, pois é um dos indícios de que o processo de envelhecimento está em curso, portanto, visível ao olhar do outro que o referende. Todos hoje transformaram-se em tios e tias, mero signo da impessoalidade reinante em nossos dias. Simultaneamente novas pala- vras entram em cena, “terceira idade, meia-idade, melhor idade”, e que, na realidade, nada signi- ficam, pois o que mais as caracterizam é a tentativa de estender as fronteiras entre as idades e, simultaneamente, deixá-las indefinidas. É portanto ao corpo em processo de envelhecimento ou envelhecido que todos os olhares se dirigem, seja querendo condená-lo ao desterro, seja querendo a todo custo mantê-lo preservado das intempéries do tempo. É interessante neste caso perceber que um corpo envelhecido, tal como uma roupa, ou qualquer objeto de uso, só é valorizado se a ele se agrega o adjetivo “conservado”: aquele que resiste à idade, ao tempo. Não se trata aqui de fazer uma apologia ao envelhecimento ou um apanágio a outros tempos e sim refletir sobre as mutações ocorridas no imaginário. Obvia- mente, como nenhum de nós gosta de ser estigmatizado, todos os esforços são bem-vindos se dirigidos para adiar os sinais do tempo em nossos corpos, sejam os visíveis (rugas, cabelos bran- cos) ou os invisíveis (artérias, órgãos, músculos, glândulas, veias etc.). O CORPO ENVELHE(SENDO) Em culturas em que o tempo necessita ser constantemente diluído (o passado, presente, futuro são esferas que não se interpenetram), considera-se como modelo de envelhecimento bem-sucedi- do aquele que é manifesto pelos corpos que desenvolveram a capacidade de camuflar o máximo possível todo sinal ou vestígio que esta cultura quer ver eliminado ou esquecido. O ideal de corpo da nossa época não é longilíneo nem o curvilíneo, e sim um corpo que transgrida as fronteiras do tempo, corpo sem idade, corpo atemporal. “É aos domingos, por volta das cinco da tarde, que a socialite carioca Maria Aparecida Marinho costuma passear na orla de Ipanema. Shortinho jeans, camiseta curta com umbigo aparecendo, cabeleira loira esvoaçante, nem um pingo de maquiagem, a escultural Aparecida (1,79m de altura e 61kg) atrai olhares voluptuosos dos homens e invejosos das mulheres. Suas pernas são firmes, os braços expõem os músculos definidos, não há sinal de celulite e nem um sopro de gordura em sua silhueta. Assim maravilhosa, segue empurrando um carrinho de bebê. O bebê é seu neto. Aos 50 anos, Aparecida faz parte de uma geração de mulheres que epitomam a reinvenção do conceito de meia-idade. Como encaixá-la no estereótipo da avó, da ‘coroa’, que ao completar 50 anos deveria aumentar o comprimento das saias e diminuir o do cabelo?” (Pinheiro, 2003). Para que a reinvenção do conceito de meia-idade seja concretizada o corpo deverá ser subme- tido a contínuos processos de reciclagem, para tanto, vale o uso de todos os arsenais narcísicos disponíveis no mercado e legitimados, como diz Lipovetsky (1997), mediante mil práticas cotidia- nas: “angústia da idade e das rugas, obsessões com a saúde, com a ‘linha’, com a higiene, rituais de
  • 3. CAPÍTULO 13 191 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. controle (check-up) e de manutenção (massagem, sauna, desportos, regimes); cultos solares e tera- pêuticos (superconsumo de cuidados médicos e de produtos farmacêuticos).” O corpo atemporal é um corpo que objetiva se singularizar e se diferenciar de outros corpos da mesma idade. Mas o que mais o caracteriza é a sua impessoalidade, seja porque nestes corpos é visível a reprodução da grife do cirurgião plástico em alta no momento, seja porque o uso do botox como diz outra socialite, transforma todas em “fofão” (Pinheiro, 2003), referindo-se ao bochechu- díssimo personagem infantil que tem boca e bochecha estufada. Aparentemente é um corpo trans- gressivo. Reinventa a noção de tempo, a história, rompe com alguns padrões de comportamento associados ao envelhecimento. Na realidade, o que o caracteriza é justamente o seu conservadoris- mo, pois mantém intacto e perpetua um dos mais resistentes mitos da nossa cultura, aquele que associa mulher, beleza e juventude. A associação mulher-beleza-juventude, para ser mantida, não só necessita que os diferentes discursos que circulam na nossa cultura os disseminem incessante- mente, como é primordial que tenham o aval de outras instâncias que o referendem, seja fornecen- do os subsídios biotecnológicos para a manutenção do padrão estético vigente, ou propiciando e estimulando a criação de novos vínculos associativos, como, por exemplo, saúde-beleza-juventude. Fig. 13.1 – Anúncio de revista/1933 (Reclames da Bayer — 1911-1942; 1986).
  • 4. 192 CAPÍTULO 13 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. A relação estabelecida entre mulher-beleza-juventude não só está associada à saúde no nosso imaginário, como, ao contrário do que se pensa, tal imagem é recorrente, antiga e persistente; a encontramos no livro Porque as mulheres envelhecem, do Dr. Alberto Gusmão (1938). Entre conselhos e advertências, o autor enumera algumas causas que contribuem para retirar o encanto e a beleza das mulheres. As extravagâncias, as imprudências, nem sempre têm conseqüências imediatas. Os seus efei- tos são tardios. Hoje uma pequena indisposição, amanhã um mal-estar indefinido e, de futuro, uma infecção grave que envelheceu a mulher e retirou os encantos de sua beleza. A saúde é a base da beleza. Esta é a suprema aspiração do sexo feminino. Na exuberância do porte, do andar, do olhar, do humor, da vivacidade, reside o encanto da mulher. E tudo isso de que depende? Do perfeito funcionamento de todos os seus órgãos, especialmente das glândulas de secreção interna. Se as glândulas de secreção interna são o pivô da beleza feminina, devemos chamar atenção para o ovário fonte perene do maior número de males que atacam o organismo da mulher. É ele a porta aberta para o envelhecimento precoce (Gusmão, 1938). A associação saúde-beleza, saúde-juventude, surge neste livro em todos os capítulos, e mais do que isto, parece ser a própria razão de ser da publicação. Obviamente não encontraríamos em publicações médicas recentes um discurso tão ingênuo e ao mesmo tempo tão verdadeiro sobre a relação entre a medicina e suas práticas de manutenção do mito do “belo sexo”, bem como de sua participação na construção de outros mitos disseminados no imaginário coletivo. A construção social do envelhecimento das mulheres não só conta com todo dispositivo da ciência biomédica para sua sustentação, como tem na menopausa a possibilidade de sua concretização mais efetiva. CORPO ENVELHE(SIDO) — MENOPAUSA: A PORTA DE ENTRADA PARA A CONSTRUÇÃO DO ENVELHECIMENTO DAS MULHERES Na vida das mulheres, diferentemente do que acontece com os homens, existem marcos con- cretos e objetivos que sinalizam diferentes fases, ou passagens de suas vidas, tais como a menarca, a ruptura do hímen, a última menstruação. São marcos visíveis no corpo físico e, obviamente, cada cultura os investe de sua rubrica. Na nossa cultura, historicamente, associa-se ao fim do ciclo reprodutivo das mulheres, imagens, palavras, gestos que se mostram impregnados de conteúdos patológicos, negativos, ou desvalorativos. Algumas destas imagens que constituem o repertório sim- bólico associado à mulher climatérica ou menopáusica, de tão esmaecidas, poderiam hoje ser alçadas a condição de mito, tais como a definição que se encontra em um tratado médico do século XVIII: “O climatério é um ano considerado superticiosamente como azarado. Tempo enfermo para o temperamento e perigoso por suas circunstâncias. Se está climatérica quando se está de mau hu- mor” (Palácios, 1996). Obviamente, hoje não mais se associa o ano do climatério com tais supertições, de outro lado, a relação climatério, enfermidade e distúrbios de temperamento continua em pleno vigor. A palavra climatério do grego Klimacter, significa período crítico. Já o conceito de menopau- sa surgiu a partir de um artigo de Gardanne, publicado em 1816, denominado “Conselho às mulhe- res que entram na idade crítica”, em que descreve a síndrome denominada ”La menopausie”. “Menopausa” é a soma de duas palavras gregas e que significam basicamente “mês” e “fim”. Até a década de 1980 utilizava-se a palavra climatério para designar o período que antecedia o fim da vida reprodutiva e menopausa para nomear o cessar definitivo do menstruo, porém, em 1980, um grupo científico de investigação da menopausa da OMS propõe uma padronização da terminolo- gia e sugere que o termo climatério seja abandonado e substituído por perimenopausa. Na prática, o que vemos é o uso indiscriminado dos dois termos quer em publicações antigas e dirigidas ao público leigo, tal como a que encontramos em um almanaque publicado no início do século XX: — Diga o que disser e faça o que fizer, há uma idade em que necessariamente a mulher, se não
  • 5. CAPÍTULO 13 193 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. perde o seu sexo, deixa pelo menos de poder ser mãe. É uma lei da natureza a que não há de se fugir por mais que se tente. A única coisa que sabíamos exatamente sobre o caso de declínio do vigor num certo período da vida – ou como se diz ainda, da “menopausa” – é que era certo e fatal. É pelos 45 anos, aproximadamente, nos nossos climas, que se produz esta mudança. Algumas vezes esta mudança vem cedo, outras vezes vem tarde. Certas mulheres são “desfeminizadas” aos 35, 36, 38 anos. Outras não o são senão passados os 50 anos. Como explicar estas anomalias bizarras?” (Almanack do Urudonal, 1930). Fig. 13.2 – Anúncio de revista (O malho, 1930). Quanto podemos identificar o uso da palavra climatério, bem como a reificação de certas imagens e conceitos, até mesmo em publicações recentes e consideradas referência na área médi- ca, tais como a que diz: — “(...) adolescentes e climatéricas encontram-se diante de conflitos que chamaríamos de revolução somático-existencial. Mas a diferença se estabelece, uma vez que nas jovens é subtraído o fator tempo, pois se abre diante delas um futuro, enquanto a climatérica se acha diante do vazio que progressivamente vai tomando conta de sua existência. (...) Nestas cir-
  • 6. 194 CAPÍTULO 13 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. cunstâncias só cabe à mulher que envelhece lançar mão da idade como álibi para suprimir a com- petitividade física, profissional e até sexual. As insuficiências e as incompetências passam a fazer parte de sua vida cotidiana” (Costa, 1995). As questões relacionadas ao uso indiscriminado da terminologia são apenas acessórias, ou mesmo mero reflexo da fragmentação e da imprecisão do conhecimento que até hoje é agregado ao tema. Ninguém sabe por que nem quando a ovulação cessa, nem que sintomas são causados pelo encerramento das funções ovarianas e não pelo envelhecimento. É impossível mesmo prever qual- quer coisa sobre a menopausa, isolar fatores de risco, sugerir medidas preventivas, pois a cada ano acrescentam-se novos sintomas à síndrome climatérica, e, a cada ano, descartam-se alguns. Além do mais, como diz, todos os resultados de experiências são comprometidos pela multiplicidade de sintomas e pela natureza autolimitante do fenômeno (Greer, 1994). Certamente, entre tantos mistérios e incertezas, algumas definições hoje são consideradas indiscutíveis, a saber: — A menopausa é a fase da vida da mulher que cessa a capacidade reprodu- tiva. Os ovários deixam de funcionar e a produção de esteróides e peptídeo hormonal diminui e conseqüentemente se produz no organismo diversas mudanças fisiológicas, algumas resultantes da cessão da função ovariana e de fenômenos menopáusicos a ela relacionados e outros devidos ao processo de envelhecimento. Quando se aproximam da menopausa, muitas mulheres experimen- tam certos sintomas, em geral passageiros e inócuos, porém não menos desagradáveis e às vezes incapacitantes (OMS, 1996). De outro lado, também é indiscutível que a sintomatologia associada à menopausa se desen- volve dentro de parâmetros sociais, econômicos, culturais e étnicos muito distintos; por exemplo, a prevalência de osteoporose e fratura de bacia varia segundo os países e segundo os grupos de população destes. A osteoporose é rara na África, freqüente na Índia e muito comum na Europa e América do Norte. Nos Estados Unidos, as mulheres de etnia negra apresentam maior massa óssea no tecido cortical e vértebras do que as caucásicas, ainda que as de ascendência asiática tenham menos tecido cortical que as caucásicas de idade similar. Até mesmo as famosas ondas de calor, um dos sintomas mais característicos da menopausa, também podem ser relativizadas, pois variam de uma cultura para outra: 85% das mulheres européias e norte-americanas experimentam ondas de calor, o mesmo só acontece com 17% das japonesas e em cerca de 5% das maias da América Central1. Os sintomas relacionados à menopausa também estão intimamente relacionados à ma- neira que as diferentes culturas encaram o processo de envelhecimento; na sociedade americana, por exemplo, há a tendência de focalizar os aspectos negativos do processo: doença, envelheci- mento, perda do status social. Já em alguns países em desenvolvimento enfatizam-se os aspectos positivos da mulher nesta fase: libertação da responsabilidade de ter filhos e das restrições sociais culturais que às vezes são impostas sobre as mais jovens que ainda menstruam (OMS, 1996). Por outro lado, é impossível desconsiderar o fato de que a vivência da menopausa, como fenômeno socializado e como tal compartilhado, é um acontecimento que passa a ter visibilidade, sobretudo a partir do século XX. Mankowitz (1987) aponta que historicamente em todas as socie- dades a menopausa era considerada um “não evento”, ou seja, socialmente é um acontecimento 1 Parece haver uma relação muito significativa entre as ondas de calor e a ocorrência anterior de sintomas pré-mens- truais e menstruais e o estado de saúde em geral. Além do mais, a temperatura do ar também parece contribuir para sua freqüência. Alguns pesquisadores, por exemplo, supõem que, pelo fato de nos climas quentes a temperatura ambiente normalmente ser mais elevada, as mulheres não percebem com tanta intensidade a sensação de calor, além de usarem roupas mais folgadas. No caso das japonesas, que experimentam muito pouco esse fenômeno, a explica- ção estaria na dieta rica em fitoestrogênio (soja e derivados). Out Look, Program for appropriate technology in health (ath), 1994, p. 3. A respeito das diferenças entre a menopausa de japonesas e americanas, o livro de Margareth Lock, Encontounters with Aging: Mythologies of menopause in Japan and North America é bastante esclarecedor a respeito das diferenças culturais.
  • 7. CAPÍTULO 13 195 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. invisível, pois em nenhuma cultura ou sociedade existem ritos de passagens para esta fase tais como existem para outros acontecimentos da vida da mulher, tal como a menarca, ou o rompimen- to do hímen. Paradoxalmente, a menopausa é vivida pelas mulheres como um dos marcos mais visíveis e temíveis de suas vidas, tendo que se deparar não só com questões relativas ao fim de sua vida reprodutiva, mas também com o envelhecimento e com inúmeras fantasias associadas ao fim de sua sexualidade e feminilidade. Na realidade o que está em discussão na meia-idade não é apenas a menopausa ou o cessar do ciclo ovariano ou reprodutivo, mas sim o entrecruzamento de diferentes discursos de uma cultura em relação à mulher, reprodução, sexualidade e o envelhecimento. Desta forma, parece que o que mais as assusta não são os sintomas físicos ou doenças associados ao envelhecimento, e sim a vivência de algo que para elas é ainda desconhecido: a perda da imagem de si mesmas e o medo de que o outro também não as reconheça, como ser ou existência, ou como claramente relata Jong (1997): — “Olho ao meu redor aos 50 anos e vejo as mulheres da minha geração procurando lidar com o fato de estar envelhecendo. Estão perplexas, e a resposta à sua perplexidade não é mais um livro sobre hormônios. Tem a ver com a imagem global de si mesma em uma cultura apaixonada pela juventude e desapaixonada das mulheres como seres humanos. Estamos aterro- rizadas aos 50 anos porque não sabemos no que nos transformaremos quando já não formos jovens e bonitas... o que nos tornamos agora que nossos hormônios nos libertaram?” MENOPAUSA OU MENOPAUSAS? A OMS considera que uma mulher encontra-se na menopausa após a ausência consecutiva da menstruação por 12 meses, fato este que normalmente ocorre em suas vidas entre os 45 e 55 anos. Nos países industrializados, em média, isto é vivido pelas mulheres de 50-52 anos, e um ou dois anos a menos em países em desenvolvimento. Calcula-se que até o ano 2030, 1.200 milhões de mulheres estejam vivendo a menopausa. Por outro lado, se considerarmos o fato de que a expecta- tiva de vida das mulheres até o século XIX era de 38 anos, podemos dizer que não só a experiência da menopausa é um acontecimento quase restrito as mulheres do século XX, bem como sua siste- matização e medicalização. A partir do início do século XX a medicina se apropria do tema de pelo menos duas maneiras: minimizando os problemas relacionados a esta fase da vida e enfatizando o fato de esse período ser menos estressante que outros períodos da vida da mulher, tais como a gravidez e parto, ou buscan- do intervir neste corpo tentando estender o ciclo menstrual evitando assim a parada da menstrua- ção. Nesta segunda perspectiva é que se desenvolvem técnicas que visam adiar ou eliminar a menopausa, e que neste século foram as mais diversas: sangrias, purgações, bastões eletrificados introduzidos no útero ou na vagina da mulher, hidroterapia, ou até mesmo a ingestão da associação de extratos feitos de órgãos (seio, ovário) e plantas medicinais, tais como vemos em anúncios do medicamento Fandorine, publicado em “almanaques” brasileiros do início do século XX. A partir da metade do século XX, a visão intervencionista é que predomina; o término da ovulação passa a ser considerado uma morte prematura da mulher e uma tragédia sob o ponto de vista da medicina moderna, como ganha um poderoso aliado à terapia de reposição hormonal (TRH). Wilson (1966), em seu famoso livro, Eternamente feminina, estabelece claramente a rela- ção menopausa-doença, por exemplo, quando proclama que o “estrógeno era a cura para a meno- pausa, da mesma forma que a insulina é para a diabete”: — “Ambas são causadas pela falta de certa substância na química orgânica. Para curar a diabetes, suprimos a substância ausente com a insulina. Uma lógica similar pode ser aplicada à menopausa: os hormônios que faltam podem ser substituídos” (Wilson, 1966). A partir da década de 1970, o tratamento à base de estereóides não só se sofisticam como se disseminam, e medicamentos tais como o etinil estradiol são apresentados na forma de comprimi- dos, adesivos e pomadas vaginais sob diferentes nomes-fantasia; paralelamente são criadas asso-
  • 8. 196 CAPÍTULO 13 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. ciações de estudos tais como a International Menopause Society (1976), clínicas para o tratamento da menopausa proliferam principalmente nos Estados Unidos e Inglaterra, e publicações científi- cas, tais como a Woman’s guide to the menopause (1978), dedicam-se a narrar tanto os resultados obtidos com os novos medicamentos como se detém à definição da “moléstia”. De outro lado, o movimento feminista que desde o início nutre profundas suspeitas em relação aos esteróides tam- bém se organiza, lançando manifestos, tais como o de Barbara Seaman (Woman and crises in sex hormones) e a rede feminista (National Women’s Health Network), consegue com êxito obrigar as indústrias farmacêuticas a incluir uma relação de todos os efeitos colaterais e contra-indicações em todas as embalagens de hormônios de reposição colocados à venda. Outras publicações de cunho feminista buscam valorizar este período e evidenciam o quanto esta fase pode ser rica e produtiva. Neste enfoque, por exemplo, encontram-se os trabalhos de Mankovitz (1987), e o clás- sico de Germaine Greer (1994), Mulher, maturidade e mudança que inclusive polemiza com os livros de auto-ajuda dirigidos à mulher de meia-idade que afirmam que é desnecessária qualquer mudança, que ela pode continuar o que sempre foi, amante atraente e receptiva, esposa dedicada, profissional competente e que jamais consideram a possibilidade de que a mulher talvez esteja, de fato, farta de tudo isto (Greer, 1994). Fig. 13.3 – Anúncio de revista (Almanack do Urodonal, 1930).
  • 9. CAPÍTULO 13 197 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Tomar ou não tomar hormônios é uma das questões fundamentais colocadas às mulheres que hoje se aproximam da menopausa. A polêmica extrapola o meio médico e ocupa diferentes espa- ços da mídia. A Organização Mundial de Saúde, assim se manifesta a respeito, a saber: “Nos países desenvolvidos é muito freqüente receitar estrogênio e progesterona às mulheres na meno- pausa. Considera-se que seu uso é indicado para dois fins distintos: o uso por curto prazo para alívio dos transtornos da menopausa (especificamente os sintomas vasomotores), e o uso prolon- gado com fins preventivos, principalmente das fraturas ósseas e das enfermidades cardiovascula- res. Tanto os médicos como as potenciais usuárias dos hormônios deveriam compreender claramente a distinção entre fins terapêuticos em curto prazo e fins preventivos em longo prazo, e que os riscos e benefícios destes tipos de tratamento são muito distintos. Em alguns tratamentos preven- tivos de longa duração podem estar associados os aumentos de risco do câncer de endométrio e possivelmente câncer de mama (OMS; 1996).” No livro Megatendências para as mulheres, Aburdene & Naissit (1993) mostram que nas duas próximas décadas entre 40 e 50 milhões de mulheres estarão entrando na menopausa. As novidades do fenômeno ficam por conta do tamanho sem precedente desta coorte, con- seqüência da elevação das taxas de nascimento do pós-guerra e do fato de se tratar exatamente das protagonistas da emancipação feminina, da abolição do sutiã, ao enfrentamento dos desafios da dupla jornada. São estas mulheres que, aceitando ou desafiando as rugas, para usar a evoca- ção de Aburdene & Naissit, irão redefinir o papel e a imagem da mulher madura para as próxi- mas gerações. O material de propaganda e marketing dos laboratórios farmacêuticos não só faz parte destas mutações do imaginário como participa da construção de expectativas e de padrões normativos, em uma complexa e temerária recriação de estereótipos e de preconceitos, revesti- dos da legitimidade do conhecimento científico, das vantagens do avanço humano e da moder- nidade” (Oliveira, 1992). Na realidade, o que parece estar em pauta na atual construção da menopausa, mostra a pesqui- sa — Com Regras, sem pausas: imagens da mulher na menopausa em anúncios dos laboratórios farmacêuticos (Trench, 2001) — não é mais a relação menopausa-patologia, até porque, ao que tudo indica, ela sempre foi estabelecida, e sim o estabelecimento de novo vínculo associativo: menopausa, hormônios, prevenção. Desta forma, a prescrição de hormônios extrapolaria o trata- mento exclusivo da sintomatologia — tais como depressão, ondas de calor, secura vaginal etc. — e teria o poder (ou deveria ser prescrito) para prevenir as possíveis patologias associadas à meno- pausa, tais como: osteoporose, distúrbios cardíacos, mal de Alzheimer. Ou seja, os hormônios passariam a ser indicados com objetivos profiláticos, e como uma espécie de antídoto contra o envelhecimento. Neste caso, identifica-se que a atual construção da menopausa pressupõe dois movimentos, associa-se menopausa a envelhecimento e simultaneamente possibilita-se por inter- médio da intervenção hormonal que tal associação seja desfeita. Para que os hormônios sejam consumidos pelas mulheres na menopausa, não só a associação hormônios-rejuvenescimento, hormônios-prevenção deverão estar em constante circulação no imaginário, como os médicos terão que ser parte integrante desta cadeia associativa e constituir-se no mais importante vetor para sua disseminação. Neste caso, é necessário que o médico extrapole o seu papel de prescritor legitimado e assuma também a função de imagem legitimitadora desta prática de consumo (Temporão, 1986). De outro lado, para que as mulheres compartilhem deste imaginário e sejam medicalizadas, além de apresentarem os ditos sintomas associados a menopau- sa, outras condições mínimas também serão necessárias: a primeira, diz respeito à disponibilidade de recursos financeiros para comprar o medicamento, sejam eles os tradicionais como a terapia de reposição hormonal, ou os alternativos, tais como os fitoestrogênios. A segunda condição, ainda que em se tratando do Brasil, estritamente associada a primeira, diz respeito a ter direito a um acompanhamento médico sistemático e acesso aos exames de controle sofisticados (tais como ultra-som e mamografia). Por ultimo, é necessário que disponha de tempo disponível para pensar e atribuir aos vestígios da idade, e não à sua dura realidade, os seus problemas existenciais.
  • 10. 198 CAPÍTULO 13 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Em um estudo realizado com mulheres caiçaras que vivem no litoral norte do estado de São Paulo (Trench, 2003), podemos perceber que as questões relacionadas à menopausa ou envelhecimento não têm a mesma relevância em suas vidas, tal como aparecem em depoi- mentos de mulheres de classes privilegiadas, como mostram os estudos de Menegon (1998), Ciornay (1999) e Lemos (1994). O tema central de suas vidas não só diz respeito à luta diária pela sobrevivência e o acúmulo de tarefas, mas a preocupação com o futuro dos filhos, ou com o desemprego, a doença, ou o abandono do companheiro. Para tais mulheres não só não existe espaço para viver a denominada “crise da idade crítica” como as questões relacio- nadas ao fim da vida reprodutiva são vividas sem a estreita relação: menopausa-envelheci- mento, sintomas-medicalização. De outro lado, não podemos desconsiderar o fato de que a construção da menopausa e de sua medicalização, tal como hoje está sendo disseminada pelo discurso médico, pelos laboratórios farmacêuticos, pela mídia segmentada e até mesmo por alguns segmentos do discurso feminista, Fig. 13.4 – Anúncio de laboratório farmacêutico (Journal of American Medical Association — JAMA-GO, 1996).
  • 11. CAPÍTULO 13 199 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. tem como público-alvo uma mulher socioeconomicamente diferenciada, intelectualmente refina- da e com tempo e dinheiro disponível para cumprir os demais rituais de saúde que a elas são atribuídos como medidas complementares: longas caminhadas, exercícios físicos, cremes e vita- minas, alimentação balanceada etc. Nessa perspectiva, a construção da menopausa e de sua medi- calização, tal como hoje se apresenta, não só exclui grande parte das mulheres que hoje vivenciam o fim de sua vida reprodutiva como parte de um pressuposto de que as questões relacionadas à menopausa e ao envelhecimento se apresentam igualitariamente a todas as mulheres, independen- temente de sua inserção em dada cultura e segmento social. A SAÚDE E O ENVELHE(SER) O envelhecimento não só se apresenta diferentemente para cada cultura e extrato social como é nesta fase da vida, que a desigualdade entre homens e mulheres mostra uma de suas facetas mais perversas: a velhice, diz Sontag (1993): — é uma autêntica prova de fogo que homens e mulheres sofrem de forma similar, porém o envelhecimento é sobretudo uma questão de imaginação, uma enfermidade moral e uma patologia social a qual foi agregado o fato que deve afetar muito mais as mulheres do que os homens. E são as mulheres, portanto, que experimentam o processo de enve- lhecimento com tanto desgosto, sofrimento, vergonha (...) aos homens se permite envelhecer de muitas maneiras e sem penalidades. Quando o desejo de ser amada, desejada, e reconhecida como pessoa em sua totalidade é ancorado em valores predeterminados, normatizados e temporais, o processo de envelhecimento provoca sentimentos que se assemelham ao que sente alguém que é condenado a morte por um crime que não cometeu. Como diz Wolf (1992): “Os homens morrem uma vez e as mulheres duas. Elas primeiro morrem como beldades antes que seus corpos morram realmente.” Nada parece produzir tanto sofrimento psíquico em um indivíduo quanto o fato de não ter sua existência reconhecida. O olhar do outro, mostra Todorov (1996), não só me constitui como sujei- to como a sua ausência, ou o seu não-reconhecimento, implica a mais absoluta solidão: “a condi- ção física da falta de reconhecimento é a solidão: se os outros estiverem ausentes, não podemos por definição captar seu olhar. Mas o que é ainda mais doloroso do que a solidão física, que pode ser resolvida ou amenizada por diversos meios, é viver entre os outros sem deles receber qualquer manifestação(..)”. No livro Identidade, de Milan Kundera, a protagonista do romance, uma bela mulher mas não tão jovem, explicita claramente a seu companheiro o que de mais profundo algumas mulheres sentem quando o olhar do outro se ausenta: “Vivo num mundo em que os homens já não se viram pra olhar para mim”, diz Chantall (Kundera, 1998). Ele a princípio é incapaz de compreender o que ela diz, o que quer dizer... depois é tomado de uma imensa compaixão por esta mulher que ele ama e que está envelhecendo. Ele sabe que os olhares do companheiro não podem bastar a uma mulher, pois a confirmação de um núcleo muito profundo da intimidade feminina depende do olhar de homens desconhecidos. Em culturas que valorizam o ter e não o ser, o envelhecimento e a velhice é vivido antes deste acontecimento inscrever neste corpo os seus signos mais perceptíveis. O medo da velhice, aponta Lasch (1983), pode originar-se na estimativa racional, realista, do que acontece com as pessoas na sociedade industrial adiantada, mas tem suas raízes no pânico irracional. O sinal mais óbvio deste pânico é que ele surge na vida das pessoas cada vez mais prematuramente, especialmente entre as mulheres. O discurso de alguns especialistas em saúde da mulher não só contribuem para alimentar o medo e o pânico associados ao envelhecimento como é por meio de apropriação e medicalização do fim da vida reprodutiva que a normatização dos corpos das mulheres parece se concretizar de maneira mais efetiva.
  • 12. 200 CAPÍTULO 13 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Os cuidados médicos prescritos às mulheres a partir dos 40 anos consideram o corpo unica- mente como objeto de uma fisiologia mecanicista e a ele associa-se inúmeras metáforas, tal como se tratasse de engrenagens de uma máquina. A menopausa, nesta perspectiva, adquire o sentido de “falha” ou “pane” em um de seus mecanismo, no caso, um dos mais valorizados, o reprodutivo. O corpo, se visto unicamente desta forma, não só é destituído de subjetividade — e conseqüentemen- te de singularidade, como se faz necessário para sua manutenção o constante aval dos especialis- tas, seja mediante reforço de vitaminas, reposição hormonal, cuidados cosméticos, tal como mostra o material de divulgação de um médico que mostramos anteriormente. O corpo — o que comemos, como nos vestimos, os rituais diários mediante os quais cuidamos dele — pode ser compreendido, como mostra Bordo (1997), tanto como agente da cultura quanto como um lugar prático de controle social. O corpo das mulheres, enfatiza, nunca foi tão disciplina- Fig. 13.5 – Anúncio de revista (Anuário das Senhoras, 1946).
  • 13. CAPÍTULO 13 201 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. do e normatizado quanto nesta época em que vivemos. O tempo dispendido na busca de um ideal de feminilidade evanescente, homogeneizante, sempre em mutação, exige uma busca sem fim e sem descanso, tornando os corpos femininos no que Foucault chama de “corpos dóceis”: aqueles cujas forças e energias estão habituadas ao controle externo, à sujeição, à transformação e ao aperfeiçoamento. Induzidas por estas disciplinas as mulheres memorizam em seus corpos o senti- mento e a convicção de carência e insuficiência, levando tais práticas de feminilidade em casos extremos à absoluta desmoralização, à debilitação e à morte. Fig. 13.6 – Mala direta enviada por consultório ginecológico de São Paulo (2003). A saúde das mulheres está diretamente relacionada à maneira que cada cultura normatiza e disciplina seus corpos. As questões relacionadas ao envelhecimento se focalizadas de outras for- mas poderiam incentivar a valorização da vida e não sua redução ou negação. O que caracteriza o nosso tempo não é só o horror à morte e ao envelhecimento, é a negação de todo o movimento que suscita a apropriação da vida tal como ela é: mutável, cíclica, finita. Muitas mulheres vivem suas vidas em função das horas, senhoras que não se assenhoram; outras sabem que a vida não têm idade, nem hora. Senhoras de outro tempo, sem horas.
  • 14. 202 CAPÍTULO 13 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. BIBLIOGRAFIA 01. Aburdene P, Nasbitt J. Megatendências para as mulheres. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1993. 02. Almanack do Urodonal. [snt], 1930. 03. Bordo SR, Jaggar AM. Gênero, corpo, conhecimento. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos, 1997. 04. Ciornay S. Da contracultura à menopausa. São Paulo: Oficina de Textos, 1999. 05. Costa RR. Mulher climatérica: ponto de vista do ginecologista. In: Pinotti JA (Org). Menopausa. São Paulo: Roca, 1995. 06. Elias N. A solidão dos moribundos. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. 07. Greer G. Mulher, maturidade e mudança. São Paulo: Augustus, 1994. 08. Gusmão H. Por que as mulheres envelhecem. 3a ed. [snt], 1938. 09. Jong E. Medo dos cinqüenta. Rio de Janeiro: Forense, 1997. 10. Kundera M. A identidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. 11. Lasch C. A cultura do narcisismo. Rio de Janeiro: Imago, 1983. 12. Lemos R. Quarenta: a idade da loba. São Paulo: Globo, 1994. 13. Lock M. Encounters with aging – mythologies of menopause in Japan and North America. Los Angeles: University of California Press, 1993. 14. Lypovetsky G. A era do vazio – ensaio sobre o individualismo contemporâneo. Lisboa: Relógio D’Água [s./ d.]. 15. Mankowitz A. Menopausa, tempo de renascimento. São Paulo: Ed. Paulinas, 1987. 16. Menegon VM. Menopausa: imaginário social e converso do cotidiano. São Paulo: Departamento de Psi- cologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1998 (Dissertação). 17. Oliveira MCF. As mulheres, os hormônios. Rev Bras Est Pop 9(2), 1992. 18. OMS — Série de Informes Técnicos, n. 866. Investigaciones sobre la menopausia em los años noventa. Genebra: OMS, 1996. 19. Pallacios S. Climatério y menopausa. Madrid: Mirpal, 1996. 20. Pinheiro D. Inteiros na meia-idade. Revista Veja 36:88-92, 2003. 21. Sontag S. Mujeres: un doble patrón para envejecer. Santiago: Revista de la Red de Salud de las Mujeres Latinoamericanas y del Caribe 1:44-49, 1993. 22. Temporão JG. A propaganda de medicamentos e o mito da saúde. Rio de Janeiro: Graal, 1986. 23. Todorov J. A vida em comum – ensaio de antropologia geral. Campinas: Papirus, 1996. 24. Trench B. Com regras, sem pausas: imagens da mulher na menopausa em anúncios dos laboratórios farmacêuticos. In: Encontro de Estudos de gênero, 2001, Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2001. 25. ________. Projeto Ondas: Imagens, falas e gestos de mulheres caiçaras sobre envelhecimento e meno- pausa. In: II Seminário Internacional de Educação Intercultural, Gênero e Movimentos Sociais, 2003, abr. 8-11, Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2003. 26. Wilson R. Eternamente feminina. São Paulo: Edameris, 1966. 27. Wolf N. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Rio de Janeiro: Rocco, 1992. REFERÊNCIAS IMAGÉTICAS Almanack do Urodonal. [snt], 1930. Anuário das Senhoras. Rio de Janeiro: O malho, 1946. Journal of American Medical Association — JAMA (GO) 4. Rio de Janeiro, 1996. Mala direta enviada por Consultório Ginecológico de São Paulo, 2003. O malho. Rio de Janeiro, 1921, XX (1995). Reclames da Bayer — 1911-1942. [snt]: Bayer do Brasil S.A., 1986.