O documento discute os fundamentos da espiritualidade missionária pós-Concílio Vaticano II, que se baseia na Trindade, na promoção dos valores do Reino de Deus e na encarnação na história humana. Também aborda a relação íntima entre ser cristão e ser missionário, e como a missão deve ser contextualizada e solidária.
2. Espiritualidade missionária
fundamentação
Após o Concílio Vaticano II, a Teologia da missão definiu-se
em torno de três elementos fundamentais:
A sua fonte trinitária
A sua identificação com a promoção e os valores do Reino
E sua peregrinação pelos caminhos da humanidade, ou
seja, a sua encarnação na história.
Nesses elementos encontramos a chave de leitura da
Espiritualidade Missionária hoje.
O Vaticano II inicia processos que livram a missão da Igreja
de fixações e territórios geográficos.
A Igreja se declara POVO DE DEUS que é por “natureza
missionária” ( Ad gentes 2 e 6)
3. Caminho do discipulado
Desde o seu batismo, os cristãos participam dessa natureza missionária
como “adeptos do caminho” ( At 9,2) e seguidores de Jesus Cristo. Ele o
primeiro enviado do Pai ao mundo ( Jo 5,36)
Ele é o Caminho. E esse caminho é escolha, é escola.
Há uma íntima relação entre ser cristão e ser missionário. Começo a viver
a missão não somente como um movimento para os outros, um movimento
centrífugo, mas como um movimento para o coração de Deus.
Cabe-nos adentrar este movimento da Santíssima Trindade, para irmos
em direção ao coração do Deus Uno e Trino.
Antes de ser uma atividade, missão é contemplação e disposição para
mergulhar no projeto e na bondade de Deus.
Ao missionário cabe inserir-se neste amor de Deus para com todos, deixar-
se conduzir por Deus, situar-se no coração de Deus que dirige e leva a
nossa vida a um serviço maior.
Ser discípulo e missionário não é algo distante ou para outros povos da AL.
5. Fundamentos da espiritualidade missionária
O Elemento contemplativo da Missão
O Concílio situou a Missão na sua verdadeira fonte:
Ela nasce em Deus e é dom de Deus.
Nossa colaboração missionária consiste apenas em
deixarmo-nos envolver por esse dom.
Antes de se entregar as pessoas que quer evangelizar, o
missionário se entrega a Deus, de quem está enamorado.
No prólogo João declara a origem, a finalidade e as
dimensões cósmicas da Missão do Verbo.
A Palavra penetra toda a história humana e todas as
realidades, oferecendo-lhes a abundância e a plenitude do
dom de Deus. Ela abraça a história humana:”fez-se carne e
habitou entre nós” (Jo 1,14).
6. Novas relações com o Mestre
Esta leitura contemplativa da missão faz com que ela
seja um mistério, uma amizade que se descobre à
medida que nos abrimos a ela, e lhe entregarmos o
coração.
De fato em João, os discípulos, em vez de serem
chamados, como nos outros Evangelhos ( sinóticos),
são atraídos, são seduzidos por Jesus.
Aprofundando esta amizade, eles entram na Missão:
“ Mestre, onde moras?”. “ Vinde e vede!”
É preciso entrar na casa do Mestre. No evangelho de
João, a Missão é diálogo, encontro, partilha. É o espaço
privilegiado para Jesus comunicar o dom do Pai.
7. Atingir a dimensão do REINO
Ninguém é excluído do plano de salvação, que é único e
universal. A Missão da Igreja insere-se nesse projeto divino,
que ultrapassa as fronteiras da Igreja e atinge as dimensões
do Reino. Deus chegou a todos os povos, antes de o
missionário ter chegado lá, de um modo que só Ele conhece.
O Espírito de Deus continua atuando na história. A tarefa da
Igreja não é levar Deus, mas descobrir e fazer crescer a
presença e ação de Deus. O papel do missionário é encontrar
os valores que comprovam a passagem do Espírito pelo povo,
antes de ter chegado lá. Identificar as marcas do Espírito e
fortificá-las , aprender a ver por cima deles, como Deus vê.
O evangelho é muito mais uma maneira de ser e de se situar
frente aos grandes valores, do que capacidade para atuar.
Abrir-se ao Espírito Santo é, hoje, a sua essência.
8. Pelos caminhos da humanidade
“A criatura humana é o caminho que a Igreja deve percorrer para cumprir
a sua missão”.( J.P II)
Trata-se do homem e da mulher concretos, marcados pelo tempo em que
vivem, pela cultura que os identifica e os distingue no espaço e no tempo,
integrados numa rede de solidariedades concretas. Tem rosto, nome e
voz. A missão deve os atingir nas suas raízes..., nos caminhos por onde
passa a sua vida.
Antes de serem evangelizados, eles já tinham os sinais do amor de Deus,
que os chamou a vida e os criou à sua imagem e semelhança, até mesmo
desconhecendo-O.
A criação é o primeiro gesto missionário de Deus.
O mistério da encarnação e da redenção não atinge só os batizados: Toda
a humanidade é tocada por esta graça. Por isso podemos afirmar que o
modelo da missão é a encarnação de Jesus.
É uma Missão contextualizada, interpelada por múltiplas fidelidades, com
muitos rostos, tantos quantos são os caminhos percorridos pelas pessoas
hoje.
9. Atentos aos sinais dos tempos
A Missão é fruto de uma experiência que se vive e
do Espírito Santo que sopra onde quer. É um
caminho pessoal e eclesial no seguimento de
Jesus, descoberto no dia-a-dia, no qual se
misturam alegrias e esperanças, certezas e
dúvidas, de aspectos nem sempre fáceis de serem
definidos.
A primeira evidência desta caminhada espiritual é
que se trata de uma missão plural, que não tem
rosto único. Ela se diversifica conforme as
situações e os caminhos que se percorrem.
10. Gesto solidário do missionário
Viver hoje a missão é ultrapassar constantemente fronteiras
que separam etnias, culturas, religiões, além do abismo
entre ricos e pobres.
Esta espiritualidade reclama a aceitação do pluralismo como
benção e oportunidade para construir um mundo diferente.
A missão exige do missionário grande disponibilidade e
atenção constante aos sinais dos tempos para discernir a
ação do Espírito Santo e tornar-se instrumento nas suas
mãos.
A espiritualidade da solidariedade faz do missionário um
sinal da compaixão de Deus no meio das contradições
humanas. O gesto solidário torna o missionário uma
testemunha mais do que um mestre.
11. Espiritualidade Kenótica
O despojamento é necessário para captar os caminhos do
Espírito já presente na missão. É Ele que precede o
missionário e lhe indica os caminhos.
Com uma espiritualidade kenótica, os missionários
atravessam fronteiras, não como quem dá, mas como
quem recebe, faz do missionário uma pessoa da outra
margem, do outro lado.
O missionário é discípulo na itinerância e na busca do
essencial. Não fala a partir do próprio mundo, mas a partir
do mundo do outro, de suas inquietações e de suas
perguntas sobre o sentido mais radical da existência.
12. Espiritualidade de comunhão
A comunidade existe para revelar ao mundo o modo de ser de
Deus. O testemunho de vida em comunidade fraterna emerge
como sinal para quem quer pôr-se a serviço. A comunidade
existe para revelar ao mundo o modo de ser de Deus. É um
modo de viver em que as pessoas se sentem reconhecidas,
não tanto pelo que fazem, mas pelo que são. É a gratuidade
dessa atitude que anuncia o Reino. É essa a maneira de ser de
Deus. Viver a unidade na diversidade é uma escola de longa
aprendizagem. A missão não é uma empresa individual e
solitária. É a sinfonia coral de todo o povo de Deus. A missão
regride e morre quando uma comunidade se fecha, revitaliza e
encontra vigor quando se abre para a missão. Toda
comunidade amadurece quando um de seus membros é
enviado para a missão. O envio é condição para que uma
comunidade cresça.
13. Espiritualidade Missionária
O espaço dos direitos humanos e da luta pela justiça é
hoje um espaço significativo para uma espiritualidade
missionária, sobretudo para uma espiritualidade de
fronteira.
Viver na fronteira é viver na insegurança, e os nossos
esquemas espirituais situam-se quase sempre noutro
espaço muito mais confortável.
Temos dificuldade em encontrar uma espiritualidade,
situada no mundo dos oprimidos. Nossos parâmetros
espirituais são outros.
É necessário aprender a exprimir as realidades duras
numa espiritualidade adequada.
14. Espiritualidade missionária
Na fronteira a espiritualidade é simples, construída
a partir do cotidiano, do provisório, do dia -a –dia,
na crua realidade dos acontecimentos que se
vivem.
Na fronteira descobrimos a fisionomia da missão.
Podemos então nos perguntar: Como recuperar a
nossa disponibilidade, como viver na insegurança,
como aprender a simplicidade de vida, a
espontaneidade da oração, como fazer da vida
uma oração?
15. Espiritualidade em situação de conflito
Outro desafio da espiritualidade missionária hoje é o das
situações de conflitos.
O martírio do missionário, hoje, não nasce tanto de uma
profissão explícita da fé, mas da sua comunhão com os
outros mártires: os humilhados e excluídos da história.
O martírio da caridade, da não – violência ou dos inocentes,
o martírio da esperança. O martírio da caridade consiste em
amar os outros até dar a vida por eles: ficar a seu lado nas
horas em que a comunhão, a solidariedade, são a única
maneira de ficar ao lado de Cristo. É a missão da
comunhão, da presença, da solidariedade. O martírio dos
desarmados, dos despojados de todas as defesas, dos que
não sabem defender-se, nem têm quem os defenda.
16. Espiritualidade em situação de conflitos
É a missão da incompreensão, da solidão da
cruz, da hora de Jesus.
O martírio da esperança fala-nos de uma
confiança a toda prova no amor de Cristo
pelo mundo, da paciência de Deus, do viver
na fronteira quando tudo aconselha a
refugiar-se na retaguarda.
A única segurança que o missionário tem é a
do Espírito que o envia e que nos faz
caminhar.
18. Será que a espiritualidade missionária está em crise?
19. Espiritualidade é um caminho e não um momento
A espiritualidade é um caminho de confronto com o
projeto de vida de Deus e desejo crescente de
sintonia com esse Deus da vida, que nos interpela.
Cria-se uma relação exigente de transformação que
vai dando sentido e alegria à nossa vida.
Ela deve perpassar toda a vida e não se resume a
momentos de oração.
Nossa mística se alimenta da escuta diária da
palavra de Deus e da experiência de oração
pessoal, comunitária; experiência de fraternidade e
solidariedade.
20. Trindade – Fonte da Missão
Do Pai somos filhos/as
(ternura, acolhida, perdão)
Do Filho somos irmãos/as
( fraternidade, partilha, solidariedade)
No Espírito somos livre
( criatividade, talentos, novo ardor)
21. Espiritualidade e Missão
Espiritualidade e missão são realidades próximas. Se
missão é o agir cristão decorrente do mandato de Jesus, a
espiritualidade é a raiz, o ponto motivador, porque de fato
vivemos e agimos conduzidos pelo Espírito Santo.
A missão encontra seu fundamento na Trindade, na própria
essência de Deus ( DAp 347). A espiritualidade também ( DAp
240).
Deus que é amor não se contém. Ele precisa amar sempre
mais além e transborda, se comunica, sai de si já com a
criação do mundo e consequentemente com a história de
salvação.
Deus é o primeiro missionário que age na história por amor.
22. A missão é de Deus
A missão não é primeiramente da Igreja, mas é de Deus, é um
movimento do amor de Deus em direção do mundo.
Participar da missão é participar do movimento gratuito do
amor de Deus para com as pessoas, pois Deus é uma fonte
de amor que envia.
É necessário formar os discípulos numa
espiritualidade da ação missionária, que se baseia
na docilidade ao impulso do Espírito, à sua
potência de vida que mobiliza e transfigura todas
as dimensões da existência.
23. Docilidade ao Espírito Santo
Não é uma experiência que se limita aos
espaços privados da devoção, mas que
procura penetrá-los completamente com seu
fogo e sua vida. O discípulo e missionário
movido pelo estímulo e ardor que provém do
Espírito Santo, aprende a expressá-lo no
trabalho, no diálogo, no serviço e na missão
cotidiana. (DAp 284)
24. Aparecida lembra
Para ficar verdadeiramente parecido com o Mestre, é
necessário assumir a centralidade do Mandamento do
amor, que ele quis chamar seu e novo:
“Amem-se uns aos outros, como eu os amei” ( Jo 15,12)
Este amor, com a medida de cada cristão, não pode
deixar de ser a característica de sua Igreja,
comunidade discípula de Cristo, cujo testemunho de
caridade fraterna será o primeiro e principal anúncio:
“Todos reconhecerão que sois meus discípulos”
( Jo 13, 35) ( DAp 138)
25. Etapas dessa caminhada
Passagem da vivência de um amor ”ordinário”
Para um amor radical;
Passagem de um amor recíproco
Para um amor gratuito;
Passagem de um amor “tribal”
Para um amor universal
Essa última etapa corresponde com o topo da montanha, a
montanha do Grande Mandato onde Jesus envia seus
discípulos a todos os povos.
A espiritualidade missionária, na sua dimensão universal,
representa um ponto de chegada para a espiritualidade
cristã enquanto superação de barreiras, proposta de uma
abertura ao outro sem nenhuma fronteira.
26. Partilhar em Grupos
Com base nas motivações missionárias de Paulo:
1. Senso de Preocupação com a Missão
2. Senso de Responsabilidade com a Missão
3. Senso de Gratidão
E levando em contas a realidade da Igreja local,
escolha uma das três motivações acima que seu
grupo acha que urgentemente deve dedicar
maior atenção. Partilhar no grupo.
27. Partilhar em Grupos
Partilhe no grupo a importância da mística
missionária na formação do discipulado. E o que
o grupo sugere para melhorar a consciência
missionária em nossas comunidades?