1. Aparições de Maria
O que são? Critérios de discernimento.
Afonso Murad
www.maenossa.blogspot.com
2. A Revelação de Deus e as revelações
• Deus se revelou por gestos e palavras na história do Povo
de Israel.
• A Bíblia é Palavra de Deus em linguagem humana. Levam-
se em conta o contexto e os gêneros literários, para
interpretar sua mensagem.
• A Revelação de Deus alcança seu ápice em Jesus Cristo.
• A Revelação do ponto de vista constitutivo já se encerrou.
Do ponto de vista da interpretação, continua aberta -> O
Espírito os conduzirá à verdade plena (Jo 16,13).
• Interpretação e atualização da revelação são feitas de
muitas formas, pessoalmente e em grupos, com a ajuda de
místicos, de membros das comunidades, de teólogos e da
hierarquia.
3. Visões e Aparições
• Visões: a experiência do ponto de vista do ser humano.
Aparição: a mesma experiência compreendida a partir
do divino. Nem sempre uma visão corresponde à
Aparição.
• As visões são uma entre tantas maneiras de interpretar
e atualizar a revelação de Deus. Não são melhores nem
mais perfeitas.
• As visões são chamadas de “revelação privada ou
particular”, para diferenciar da “revelação pública” de
Jesus Cristo.
• Elas não comportam obrigação aos fiéis -> estão no
nível devocional
4. No decurso dos séculos tem havido
revelações ditas “privadas”, algumas das
quais foram reconhecidas pela
autoridade da Igreja. Todavia, não
pertencem ao depósito da fé. O seu papel
não é “aperfeiçoar” ou “completar” a
Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar
a vivê-la mais plenamente, numa
determinada época da história. Guiado
pelo Magistério da Igreja, o sentir dos
fiéis sabe discernir e guardar o que
nestas revelações constitui um apelo
autêntico de Cristo ou dos seus santos à
Igreja (Catecismo da Igreja Católica,67).
5. Finalidade da revelação privada
• Serve para atualizar, recordar, vivificar, explicar
ou aclarar a Revelação.
• Apresenta caráter mais prático, comunica
principalmente regras de conduta. Constitui um
apelo à realização da esperança cristã, e não
tanto ao conteúdo do ato de crer.
• Pode-se acentuar determinadas práticas
religiosas, posturas éticas ou forma de viver a
espiritualidade do seguimento de Jesus (René
Laurentin).
6. Para que servem carismas
extraordinários?
Crescimento do vidente
Animação espiritual
Operatividade pastoral
Aprofundamento da doutrina
7. Vidência e Graça divina
• Do ponto de vista da teologia da Graça,
sobrenatural indica a proveniência do Dom de
Deus e sua meta (salvação), mas não a forma de
manifestação ou o âmbito de atuação.
• Deus pode nos conceder a Graça (e as graças), no
cotidiano da existência, em fatos simples e
habituais. Não é necessário que seja fantástico
ou extraordinário.
• Também pode se dar nesse âmbito, pois o amor
de Deus é grande e não conhece limites.
8. A experiência psíquica da
vidência
• Pessoas sensitivas (paranormais) captam e
interpretam uma experiência mística de forma
diferente da maioria.
• Há muitas manifestações paranormais. Elas não
são necessariamente espirituais, embora sejam
traduzidas em chave religiosa.
• Exemplos: intuição, sonhos, locução (interior e
exterior), pré-monição, cura, levitação,
perscrutar as consciências, materialização,
visões.
• As visões acontecem sobretudo em estágios
alterados de consciência.
9. A vidência é humana!
• Toda experiência mística é simultaneamente
imediata (Deus se comunica) e mediada (passa
pelos condicionamentos humanos).
• Os condicionamentos possibilitam e interditam o
conteúdo da experiência religiosa.
• O conteúdo e a mensagem de visões/aparições
sofrem a influência da condição psíquica da
pessoa, da origem familiar e da cultura onde ela
está inserida.
• Os videntes são sustentados por um grupo de
pessoas, que também condicionam a mensagem e
a prática religiosa do movimento.
10. Condicionamentos em alguns
movimentos aparicionistas
• Reforçam a devocionismo mariano, não a
centralidade de Jesus.
• Sofrem influência do milenarismo e do temor
apocalíptico.
• Vertente pentecostal: experiência imediata de
Deus, centrada nos sentidos e no extraordinário.
• Reafirmam o catolicismo, contra as outras Igrejas
e religiões.
• Baixo senso profético (interpretação social da
realidade histórica).
11. Um exemplo de mensagem com forte
condicionamento devocional
Chegamos à Cova da Iria e começamos
a rezar o terço. Pouco depois, vimos o
reflexo de luz e, a seguir, Nossa
Senhora sobre a azinheira: “Continuem
a rezar o terço para alcançarem o fim
da guerra. Em outubro virá também
Nosso Senhor, Nossa Senhora das
Dores e do Carmo, São José com o
Menino Jesus para abençoarem o
mundo” (Irmã Lúcia. O segredo de Fátima.
Memórias e cartas. 7ª ed. Loyola, 1985. p. 146).
12. Critérios de
autenticidade
1. Equilíbrio mental do vidente.
2. Honestidade do vidente e de seu grupo.
3. Qualidade da mensagem: de acordo com o
Evangelho e a Igreja.
4. Frutos: melhoria na vida cristã e prováveis
sinais extraordinários.
13. Processo canônico
• Surge o fenômeno.
• O bispo local decide se inicia o processo de discernimento
• Pergunta-se aos videntes se aceitam passar pelos
critérios de discernimento.
• Constitui-se comissão multidisciplinar que analisará os
critérios de autenticidade.
• Se os critérios forem positivos, o bispo emite um parecer
à Congregação da Doutrina da Fé, que a confirma
• Caso perdure dúvidas, o Vaticano constitui outra
comissão, para avaliar o fenômeno.
• (Normalmente, as aparições devem ter cessado).
14. Posições possíveis do bispo:
• Não se pronunciar ainda, pois não há clareza e
condições suficientes para palavra abalizada.
• Não aprovação, quando há sérios equívocos
nas mensagens, desonestidade do vidente
e/ou desequilíbrio psicológico, mesmo que
acompanhados de conversões e curas.
• Declaração de que no fenômeno não há nada
contrário à fé, mas falta algo mais.
• Aprovação.
15. Em que consiste o
reconhecimento de uma Aparição?
-> Palavra da Igreja, por meio do bispo diocesano, da
Conferência Episcopal ou da Congregação da Doutrina da Fé:
- O fenômeno é “digno de fé humana” (quem acolhe a
mensagem dos videntes não está errado)
- Maria pode ser venerada com o nome dado pelos videntes
e com a imagem correspondente.
- Pode ser construído um santuário em honra de Maria, no
local.
- Permite-se difundir em todo o mundo esta devoção.
-> Não se afirma que Maria apareceu lá, nem se obriga os
fiéis a seguirem a mensagem dos videntes.
16. É preciso crer nas aparições?
• Elas são consideradas pela Igreja somente
como dignas de “fé humana”.
• O fiel não é obrigado a crer em aparições.
Elas não fazem parte do núcleo da nossa
experiência de fé. Tem valor devocional.
• O católico pode se servir das mensagens de
videntes e venerar Maria sob o título das
aparições (NS de Guadalupe, de Fátima, de Lurdes). É algo
legítimo, no horizonte devocional.
17. Algumas dicas pastorais
• Realizar acompanhamento pastoral de
videntes. Pessoa equilibrada psiquicamente,
sensível, com critérios teológicos e
espiritualidade profunda.
• Trabalhar em equipes interdisciplinares, de
presbíteros, religiosos(asO e leigos.
• Explicar como a Igreja considera o fenômeno.
• Valorizar todas as mediações de graça e de
interpretação da revelação, mostrando suas
possibilidades e limites.
19. Bibliografia
• ADNÈS, P., Revelações privadas em: Dicionário de Teologia
Fundamental, Vozes/Santuário, 1994, p. 853-855.
• CED-CNBB, Aparições e revelações particulares. Subsídios
doutrinais da CNBB, Ed. CNBB, 2010.
• DE FIORES, S., Vidente em: Dicionário de Espiritualidade. Paulinas,
1989, p.1177-1186
• LAURENTIN, R. et VASQUES, A., Aparições em: Dicionário de
Mariologia. Paulus, p. 113-125.
• MURAD, A., Visões e Aparições. Deus continua falando? Vozes,
1997.
• OLIVEIRA, J.L.M. Aparições de Nossa Senhora: uma avaliação
teológica em: REB 56 (1996), p. 564-597.
• VV.AA, Estudios Marianos 52 (1987). (Vários artigos)