Bernardo Soares e a transfiguração poética da realidade
1. Encontros – 12.o ano ▪ Noémia Jorge, Cecília Aguiar, Miguel Magalhães
Fernando Pessoa
Bernardo Soares,
Livro do Desassossego
Retoma de
conteúdos
2. Séc. XVII
BARROCO
Séc. XIX
ROMANTISMO
Fernando Pessoa | Poesia do ortónimo
Friso cronológico
IDADE
MÉDIA
Séc. XV-XVI
RENASCIMENTO REALISMO
Séc. XX
MODERNISMO
Fernando Pessoa
1888-1935
Fernando Pessoa – Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Retoma de conteúdos ● Manual, p. 68
3. Fernando Pessoa | Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Cesário Verde,
precursor de
Bernardo Soares
Fernando Pessoa – Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Retoma de conteúdos ● Manual, p. 68
4. Cânticos do
Realismo
(O Livro de
Cesário Verde)
Cesário
Verde
Representação minuciosa e realista da
cidade, segundo a perceção sensorial e a
reflexão/análise do sujeito poético.
Deambulação do sujeito poético
↓
Observação acidental
❶ Captação de exteriores e interiores e
de pequenos episódios do
quotidiano.
❷ Observação atenta e análise crítica
do real.
Fernando Pessoa – Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Retoma de conteúdos ● Manual, p. 68
Cesário Verde,
precursor de
Bernardo Soares
5. ● Representação
minuciosa e
realista da
cidade após
“dias de
aguaceiros” e do
trabalho dos
calceteiros.
● Perceção
sensorial.
Faz frio. Mas, depois duns dias de aguaceiros,
Vibra uma imensa claridade crua.
De cócoras, em linha, os calceteiros,
Com lentidão, terrosos e grosseiros,
Calçam de lado a lado a longa rua.
Como as elevações secaram do relento,
E o descoberto sol abafa e cria!
A frialdade exige o movimento;
E as poças de água, como em chão vidrento,
Refletem a molhada casaria.
VERDE, Cesário (2015). O Livro de Cesário Verde
(uma seleção). Porto: Porto Editora [p. 34]
Fernando Pessoa – Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Retoma de conteúdos ● Manual, p. 68
Cesário Verde,
precursor de
Bernardo Soares
6. Cânticos do
Realismo
(O Livro de
Cesário Verde)
Cesário
Verde
Nos Cânticos do Realismo, o sujeito poético
deambula pelas ruas de Lisboa, não se
limitando a pintar quadros da vida portuguesa
citadina, mas usando essa descrição como
forma de protesto contra a degradação
humana, dando visibilidade às classes sociais
trabalhadoras.
Desta forma, em poemas como “Num bairro
moderno”, “Cristalizações” ou “O sentimento
dum Ocidental”, o olhar do sujeito poético
maravilha-se com as vitrinas e o brilho das
luzes, mas também penetra no interior das
casas mais abjetas, descrevendo quadros
ocasionais ora de elogio à própria
modernidade, ora de censura à miséria
humana.
Fernando Pessoa – Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Retoma de conteúdos ● Manual, p. 68
Cesário Verde,
precursor de
Bernardo Soares
7. Livro do
Desassossego
Bernardo
Soares
Enfoque sobre a vida citadina, evidenciando
a modernidade do imaginário urbano
(já antecipada por Cesário Verde).
Deambulação e sonho
↓
Observação acidental
❶ Bernardo Soares faz da deambulação (física e
interior/onírica) a matéria principal da sua prosa.
❷ A essência da existência de Soares é marcada pela
centralidade dos atos de sonhar (“meus olhos
virados para dentro”) e de olhar (“ver”, “reparar”,
“pressentir”).
Fernando Pessoa – Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Retoma de conteúdos ● Manual, p. 68
Cesário Verde,
precursor de
Bernardo Soares
8. ● Deambulação,
física e interior.
● Centralidade dos
atos de sonhar e de
olhar.
● Modernidade do
imaginário urbano.
Vou num carro elétrico, e estou reparando
lentamente, conforme é meu costume, em todos os
pormenores das pessoas que vão adiante de
mim. Para mim os pormenores são coisas, vozes,
frases. Neste vestido da rapariga que vai em minha
frente decomponho o vestido em o estofo
de que se compõe, o trabalho com que o fizeram –
pois que o vejo vestido e não estofo – e o bordado
leve que orla a parte que contorna o
pescoço separa-se-me em retrós de seda, com que
se o bordou, e o trabalho que houve de o bordar. E
imediatamente, como num livro primário de
economia política, desdobram-se diante de mim as
fábricas e os trabalhos – a fábrica onde se fez o
tecido; a fábrica onde se fez o retrós, de um tom
mais escuro, com que se orla de coisinhas
retorcidas o seu lugar junto ao pescoço […].
SOARES, Bernardo (2013). Livro do Desassossego.
Lisboa: Assírio & Alvim [p. 65].
Transfiguração
poética do real
Fernando Pessoa – Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Retoma de conteúdos ● Manual, p. 68
Cesário Verde,
precursor de
Bernardo Soares
9. Cesário Verde, precursor de Bernardo Soares
Livro do
Desassossego
Bernardo
Soares
Bernardo Soares faz da deambulação, física e
interior (isto é, onírica) a matéria principal da
sua prosa, assumindo-se como um observador
acidental da realidade exterior. A essência da
existência de Soares é marcada pela
centralidade dos atos de sonhar e de olhar.
Para além disso, foca a vida citadina,
evidenciando a modernidade do imaginário
urbano e enternecendo-se com o quotidiano.
A observação da realidade exterior e a
focalização do pormenor são, na prosa de
Bernardo Soares, o ponto de partida para a
transfiguração poética do real e para uma
introspeção intensa, que culmina numa vida
interior vivida de forma ímpar.
Fernando Pessoa – Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Retoma de conteúdos ● Manual, p. 68