PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
Estudo accao personagens_contexto
1. Luís de Sttau Monteiro
Dramaturgo, encenador, jornalista e romancista português (1926-
1993), conhecido sobretudo pela peça em dois actos Felizmente Há Luar
(1961), ganhou o Grande Prémio de Teatro da Associação Portuguesa de
Escritores, mas seria representado no nosso País apenas em 1978, devido à
intervenção da censura.
A sua carreira literária iniciou-se em 1960, com a publicação do
romance Um Homem não Chora, a que se seguiu, em 1961, outra obra de
prosa ficcional - Angústia para o Jantar. As suas sátiras sobre a ditadura e a
Guerra Colonial tornaram-no objecto de perseguição política, chegando mesmo
o autor a ser preso.
Felizmente Há Luar (1961), só representada no D. Maria em 1978, é
protagonizada por Gomes Freire de Andrade (1575-1817), um estrangeirado
activo na política da fase final do Antigo Regime e que desembocará na
revolução de 24 de Agosto de 1820.
Raul Brandão, em Vida e Morte de Gomes Freire (1914), intitulara o
derradeiro capítulo «Felizmente há luar», homenagem a general e “maçon”
que, pelos vistos, inquietava o inglês Beresford, que superintendia entre nós,
na ausência da Corte do rei D. João VI, fugida para o Brasil, aquando das
invasões francesas. O debate, sendo entre um apaniguado de D. Miguel e um
popular revolucionário, deve ser lido, entretanto, como desejo de libertação das
tutelas que nos vinham sendo impostas, e, em 1961, da tutela salazarista,
entre a repressão e a aventura da guerra ultramarina.
O recurso à distanciação histórica e à descrição das injustiças
praticadas no início do século XIX, em que decorre a acção, permitiu-lhe,
assim, colocar também em destaque as injustiças do seu tempo.
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2. Peça em dois actos
• Publicada em 1961 – Grande Prémio de Teatro da Associação Portuguesa
de Escritores – censurada;
• 1962 – tentativa do Teatro Experimental do Porto – sem resultado;
• 1ª Representação – Paris – 1969;
• Representação em Portugal – 1978 – Teatro Nacional.
O primeiro acto mostra-nos o ambiente que precede a revolta que, a triunfar,
trará de volta o rei D. João VI a Portugal e promulgará uma monarquia
constitucional. Intrigas, denúncias, mas também o povo esperançado a avançar
na sua luta. O acto tem um ritmo rápido, através do qual são apresentados os
vários grupos sociais que estão em jogo e termina com a prisão de Gomes
Freire de Andrade.
O segundo acto mostra-nos o desânimo geral devido à prisão do General. Tal
como no tempo de Salazar a polícia actua sobre os civis evitando que a revolta
se propague.
Matilde, a mulher de Gomes Freire de Andrade, personagem que embora tendo
existido realmente, é na peça romantizada e enfatizada pelo autor que lhe
confere o papel da corajosa protagonista que tudo arrisca para salvar o “seu
herói” com quem partilhou amor, vida e convicções durante muitos anos. O
ritmo deste acto é mais lento, mais trágico, mais belo. Tudo caminha para a
fatalidade. O herói será sacrificado. No fim só nos resta esperar que o
heroísmo do grande patriota dê frutos e exemplo na resistência à tirania.
• Ao nível da estrutura externa, a peça divide-se em dois actos. No interior de
cada acto não existe divisão em cenas.
• Ao nível da estrutura interna, apresentamos uma síntese dos
momentos/episódios que ocorrem no primeiro acto:
- o povo, face à miséria e opressão em que vive, manifesta o seu
descontentamento e sonha com a sua salvação, movido pela esperança que
lhe inspira o general Gomes de Andrade, um homem generoso e “amigo do
povo”;
- Vicente, um elemento do povo, tece comentários desfavoráveis acerca do
general (“estrangeirado” e não aliado do povo);
- é levado por dois polícias à presença D. Miguel de Forjaz, manifestando-se
como traidor;
- os governadores tentam encontrar o nome de um responsável pela
conspiração que se prepara segundo Beresford, responsabilidade essa que vai
recair sobre Gomes Freire;
- Morais Sarmento e Andrade Corvo dispõem-se a denunciar o chefe da
conspiração;
- Vicente informa os governadores das pessoas que entram em casa de
Gomes Freire;
- D. Miguel ordena que se prendam os conspiradores e tenta que a sua atitude
surja de forma justificada.
• Apresentamos um breve resumo da acção que ocorre no segundo acto:
- O general, juntamente com outros conspiradores, é executado na praça
pública, em S. Julião da Barra.
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3. - A esposa do general, Matilde, e o seu grande amigo, Sousa Falcão, tentam
por todos os meios ao seu alcance salvar Gomes Freire, pedindo ajuda a
Beresford, aos populares, a D. Miguel e, por fim, a Principal Sousa, mas a
morte de Gomes Freire de Andrade era um mal necessário às razões de
Estado.
Síntese da Acção
• Perseguição política ao General Gomes Freire
• Prisão do General
• Condenação à morte
• Revolta desesperada de Matilde e Sousa Falcão
• Resignação do povo
Contexto da acção da peça
(período pós invasões francesas)
• Napoleão – Imperador dos franceses
• Aliança de Portugal com a Inglaterra
• Partida da corte portuguesa para o Brasil
• Administração do Reino entregue a uma Junta Provisória
• Instabilidade social;
• Perseguições políticas constantes reprimindo: a liberdade de expressão, a
circulação de ideias e as tentativas para implementar o liberalismo;
• Repressão contra os conjurados de 1817;
• Condenação à morte de Gomes Freire de Andrade.
Função das didascálias
• Nesta obra, as didascálias assumem especial relevância, pois constituem a
explicitação ideológica da peça. A par das palavras proferidas pelas
personagens, surgem como explicação, denúncia e explicitação da linguagem
destas.
Assim, as didascálias funcionam na obra como: explicações do autor,
referências à posição das personagens em cena, indicações aos actores,
caracterização das personagens, do tom de voz das personagens, indicação
das pausas, saída ou entrada de personagens, apresentação da dimensão
interior das personagens, indicações sonoras ou ausência de som, ilações que
funcionam como informações e como forma de caracterização das
personagens, sugestões do aspecto exterior das personagens, movimentação
cénica das personagens, expressão fisionómica dos actores, linguagem gestual
a que, por vezes, se acrescenta a visão do autor, expressão do estado de
espírito das personagens.
Título
• Matilde, na tentativa desesperada e derradeira de salvar o seu homem,
assume uma voz de consciência sobre a injustiça humana. Daqui nasce a
duplicidade do título: ironia e crueldade, nas palavras de D. Miguel, para quem,
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4. porque "felizmente há luar", a imagem da execução ficaria na memória dos
lisboetas durante muito tempo, como exemplo do que espera os que tentam
lutar pela liberdade, contraposta ao "Felizmente há luar" gritado por Matilde no
final da peça, para quem a imagem da fogueira onde arde o general será o
clarão que "há-de incendiar a terra e abrir as almas".
Personagens
• Na obra Felizmente Há Luar! é possível aglutinar as personagens em grupos,
de acordo com a função que desempenham ao longo da acção. Assim temos o
Povo, os Traidores do Povo e os Governantes. Os dois polícias que contribuem
para sustentar o regime inserem-se no segundo, assim como o Vicente, o
Andrade Corvo e o Morais Sarmento, um popular.
Principal Sousa, representante da Igreja, e da interferência desta no Estado, o
marechal Beresford e D. Miguel Forjaz inserem-se no terceiro grupo.
• Principal Sousa – Clero
Dito pelo autor, de forma irónica, um dos «três conscienciosos
governadores do Reino», Sua Reverência surge «imponentemente
vestido». Ao lado de D. Miguel, e típico defensor do Trono e do Altar –
descurando a caridade e misericórdia cristãs –, só arrisca a coberto da
opinião favorável dos outros, o que, julga ele, o desresponsabiliza de
decisões, sobretudo políticas, em que se mostra um falso ingénuo.
Sectário, hipócrita, este prelado representa a hierarquia eclesiástica, capaz
de estranho grito, que bem o define: «Morte aos inimigos de Cristo!
• Beresford – Exército
Poderoso, mercenário, interesseiro, calculista, trocista, sarcástico; a sua
opinião de Portugal fica claramente expressa na afirmação “neste país de
intrigas e de traições, só se entendem uns com os outros para destruir um
inimigo comum e eu posso transformar-me nesse inimigo comum, senão
tiver cuidado”.
• D. Miguel Forjaz – Nobreza
Primo de Gomes Freire, prepotente, assustado com transformações que
não deseja, corrompido pelo poder, vingativo, frio, desumano, calculista;
nas palavras de Sousa Falcão, D. Miguel “é a personificação da
mediocridade consciente e rancorosa”.
• Gomes Freire de Andrade
Figura carismática, que preocupa os poderosos, acredita na justiça e luta
pela liberdade e arrasta os pequenos. Considerado um “estrangeirado”,
revela-se simpatizante das novas ideias liberais, tornando-se para os
governantes um elemento subversivo e perigoso. O povo elege-o como
símbolo da luta pela liberdade, o que é incómodo para os “reis do Rossio”.
Daí a decisão dos governantes pelo enforcamento, seguido da queima, para
servir de exemplo a todos aqueles que tentem afrontar o poder político.
• Personagem central
• Homem instruído, militar honesto
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5. • Matilde
• Mulher de carácter forte
• Corajosa
• Denunciadora da hipocrisia do Estado e da Igreja
• Símbolo da mulher que ama e sofre.
• Sousa Falcão
• Amigo inseparável do general Gomes F.
• Representa a impotência perante os governadores
• Dominado pelo desânimo
• Assume a sua cobardia perante o exemplo de Gomes Freire.
• Manuel, Rita
• Representantes do povo oprimido e esmagado
• Símbolos da consciência popular
• Impotentes para alterar a situação
• Símbolos do desespero, da desilusão, da frustração
• Vicente
• Elemento do povo
• Traidor da sua classe – renega as suas origens
• Representa a hipocrisia e o oportunismo
• Materialista – pretende uma ascensão social rápida
• Morais Sarmento/ Andrade Corvo
Representam:
• Cobardia
• Traição
• Subserviência
• Vilania
Recursos de estilo
• Aliteração (pág. 111)
• Antítese (pág. 91)
• Comparação (pág. 28)
• Diminutivo (pág. 78)
• Hipálage (pág. 57)
• Hipérbole (pág. 56)
• Imagem (pág. 67)
• Interjeição (pág. 29)
• Interrogação Retórica (pág.57)
• Ironia (pág. 23)
• Metáfora (pág. 53)
• Onomatopeia (pág. 21)
• Paralelismo (pág. 21)
• Personificação (pág. 77)
• Repetição (pág. 23)
• Trocadilho (pág. 88)
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6. Simbologia
• A saia verde
Em vida
• Esperança
• Felicidade
• Liberdade
Na morte
• Alegria do reencontro
• Tranquilidade
• A fogueira
Presente
• Tristeza
• Escuridão
Futuro
• Esperança
• Liberdade
• O luar
Noite
• Morte
• Mal
• Infelicidade
Luz
• Vida
• Saúde
• Felicidade
• Felizmente Há Luar!
Opressores
• Efeito dissuasor porque ilumina o castigo
Oprimidos
• Coragem e estímulo para a revolta contra a tirania
Século XIX Metáfora do Século XX
Século XIX - 1817
• Regime absoluto
• Anti-liberalismo e nacionalismo
• Existência da Censura levada a cabo pela Inquisição
• Exploração das classes mais baixas que viviam na ignorância
• Grande contraste entre os poderosos e o povo que vivia na miséria
• Sociedade rural, atrasada em relação à Europa
• A guerra com os exércitos napoleónicos ainda está presente na memória do
povo
• Forças repressoras: polícia
• Os que se opunham ao governo eram presos e condenados injustamente
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7. • O povo e alguns militares portugueses, conscientes da situação em que
viviam, tentavam derrubar o governo
• Do Conselho de Regência faziam parte membros da Igreja
• A Regência assentava numa política maniqueísta - Quem não é por nós é
contra nós
• Delatores recebiam dinheiro para identificarem presumíveis conspiradores
• 1834 - Triunfo do Liberalismo
Século XX - 1961
• Regime autoritário – Estado Novo
• Salazar opõe-se ao liberalismo e defende o nacionalismo
• Existência da Censura levada a cabo pelo Comité de Censura
• Exploração das classes mais baixas; elevada taxa de analfabetismo
• Grande contraste entre os poderosos e o povo que vivia na miséria
• Sociedade rural, atrasada em relação à Europa
• Início da guerra colonial, responsável pela emigração e exílio de muitos
jovens
• PIDE: sustentáculo do regime
• A condenação sem provas levou muitos militantes anti-fascistas e
intelectuais às masmorras da PIDE
• Militantes anti-fascistas opõem-se à ditadura procurando mudar o regime
• O regime apoiou-se na Igreja Católica
• O regime salazarista assentava numa política maniqueísta - Quem não é
por nós é contra nós
• Muitos informantes, pagos para denunciarem, ajudaram o regime
• 1974 - Triunfo da Democracia
Sec. XIX / Séc. XX
• Épocas de crise - violência do poder e ausência de liberdade.
• Épocas em que aparecem manifestações reclamando o direito à justiça e à
liberdade.
• Épocas que anunciam o nascimento de novos tempos (liberalismo
oitocentista e o 25 de Abril de 74)
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