O documento discute intervenção social e elaboração de projetos. Apresenta três dimensões da intervenção social: assistencial, socioeducativa e sócio-política. Também discute a importância do diagnóstico no planejamento de projetos, incluindo a análise do contexto social, político e institucional, assim como das necessidades, potencialidades e atores envolvidos.
Aula 3-Definindo intervenção (CEEPIS -Curso elaboração de projeto e intervenção social )
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ELABORAÇÃO DE PROJETOS E INTERVENÇÃO SOCIAL
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INTRODUÇÃO
DEFININDO INTERVENÇÃO
...e os primeiros passos
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Duas funções básicas na intervenção social:
1-ajudar os sistemas-clientes a sair da situação de carência em que se encontram e
2- criar condições sociais para o exercício dos seus direitos cívicos (políticos,
económicos, sociais e culturais).
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Para a realização das duas funções a intervenção social operacionaliza-se
em três diferentes dimensões:
1-uma dimensão assistencial, que se traduz no fornecimento de recursos mínimos à subsistência
(por exemplo: alimentação, serviços sanitários, vestuário e moradia com contrapartidas muito
reduzidas (Por exemplo, a garantia de cumprimento de regras mínimas de higiene, segurança e
convivência);
2-uma dimensão socioeducativa, que se concretiza em ajudar o sistema-cliente a encetar um
processo de ressocialização, aprendendo a identificar e utilizar recursos próprios e do ambiente em
que vive, de modo a desenvolver-se como pessoa, e a descobrir-se ele próprio como recurso para o
desenvolvimento dos que o rodeiam(Para aprofundar o estudo da dimensão socioeducativa vale a
pena conhecer a chamada corrente da pedagogia social. Vide por exemplo, Ibañez, R.M. e Serrano,
G. P., 1985);
3-uma dimensão sócio-política, que se operacionaliza em ajudar o sistema-cliente a tomar
consciência dos seus direitos cívicos (por exemplo, os direito de opinião, de associação e de escolha
de representantes), económicos, sociais, culturais (por exemplo, os direitos a um trabalho
remunerado, a uma habitação condigna, à saúde, à segurança social e à educação.) e de
solidariedade (Integram-se nos direitos de solidariedade o direito à paz e ao desenvolvimento
(solidariedade económica e social), os direitos ambientais (solidariedade entre grupos vivos e entre
estes e as gerações futuras). Sobre os direitos humanos vide por exemplo Galtung, Johan (1994),
Dimenstein (1996) e relatórios da Amnistia Internacional) e a lutar por eles.
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Como qualquer outra atividade humana a intervenção social é orientada por um
quadro de valores que lhe define uma moldura axiológica, orientadora da ação
no campo Isto significa que se reveste de uma evidente intencionalidade o que
nega a hipótese ingénua da neutralidade ética e política do interventor:
(i)- a impossibilidade de uma neutralidade ética, decorre do facto da
intervenção social implicar escolhas entre o que numa dada cultura é
considerado Bem ou Mal e ter efeitos considerados benéficos ou maléficos;
(ii)- a impossibilidade de uma intervenção politicamente neutra, decorre
da observação dos seus efeitos objetivos(entendendo por efeito objetivo o
que ocorre independentemente da vontade de quem o provocou):
- o acréscimo de regulação social ou, pelo contrário, de
desregulação do status quo;
- a orientação para um ou mais dos quereres comuns (aplica-se aqui
a noção de querer comum no sentido que lhe é dado por Maria de
Lourdes Pintasilgo (1980): conjunto de orientações coletivamente
expressas por sectores significativos de uma dada sociedade numa
dada época) que se apresentam como alternativas em cada
conjuntura.
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Todos os fatores sublinham a dimensão política e ideológica da ação social e a
necessidade de que a prática da intervenção seja fortemente emoldurada por uma
teoria que a legitime e por uma metodologia que lhe dê consistência.
Como refere Ander-Egg, apesar de aspectos comuns, o movimento da re-
conceitualização da Intervenção apresentou uma grande diversidade de
contribuições.
CONTRIBUIÇOES:
• alguns autores como o argentino Natalio Kisnerman, sublinharam a necessidade de
escorar a prática da intervenção numa mais sólida preparação científica;
• outros como os brasileiros J. Paulo Neto e Vicente de Paula Faleiros ressaltaram a
dimensão metodológica do trabalho social;
• outros ainda como o chileno René Salinas puseram o acento tónico do trabalho
político
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O que são projetos sociais? (Stephanou; Müller e Carvalho, 2003)
Projetos sociais são iniciativas de grupos, instituições ou setores
governamentais que estejam relacionados a uma ampla possibilidade
de ações e objetivos. Devem ter em comum o direcionamento de
esforços e o planejamento a partir de diretrizes e metodologias
voltadas para a ação.
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O que são Projetos Sociais (Stephanou; Müller e Carvalho, 2003):
“Ferramenta de ação social”
Parênteses: Ação social é conceito desde o clássico M. Weber que estabelece
para as sociedades humanas nas quais a ação social só existe quando os indivíduos
estabelecem uma interação (comunicação) com os outros; quando partilham
significados, sentidos.
DAWE, A. (1980). Teorias da ação social In BOTTOMORE e NISBET (Orgs.). História da
análise sociológica. Rio de Janeiro: Zahar Editores. pp. 475-546.
“Os projetos são pontes entre o desejo e a realidade e um projeto não é uma ilha”
“Os projetos sociais são uma importante ferramenta de ação , amplamente
utilizada pelo Estado e pela Sociedade Civil”
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Perfil do gestor de projetos sociais
Capacidade de compreensão do contexto social, político e institucional em que se
dá a ação
Capacidade de comunicação e de negociação
Capacidade de definir, delegar e cobrar responsabilidades e tarefas
Capacidade de coordenar o processo global da ação
Capacidade de avaliação e agilidade para propor mudanças e correções
Capacidade de motivar as pessoas ar as pessoas, de administrar conflitos e
frustrações, de gerenciar o trabalho em equipe
Capacidade de valorizar e de promover a visibilidade do projeto e de seus
resultados
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Riscos da ação social sob a forma de projetos:
Fragmentação das ações
Excessiva dependência
Falta de legitimidade ou representatividade
Indefinição de responsabilidades e méritos
Descontinuidade
Baixo controle da efetividade das ações
Dificuldade na interpretação de desdobramentos dos do projeto
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Os Riscos para e nas intervenções
Como vários autores têm sublinhado, o discurso neutro manifesto por alguns
interventores sociais disfarça uma prática política conservadora, ainda que por vezes
não consciencializada.
Como referem Didier Vrancken et Kuty (2001), a Sociologia é tentada para encontrar a
chave da mudança social e reduzir a incerteza sobre o destino das organizações e das
sociedades, através de um conjunto de práticas e processos de investigação, que
possibilitam encontrar os fundamentos do caminho da mudança e a procura de leis
gerais.
O sociólogo dormita a ideia da mudança social, através da intervenção sociológica,
partindo do princípio da formação do conhecimento da realidade, para confrontar-se
com essa realidade, tentando transformá-la quando as circunstâncias o exigem (Rémi
Hess, 1984).
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Sociologia da Intervenção
A SI traduz-se na formação do conhecimento no próprio contexto de ação, tendo por base a
formação de um diagnóstico concreto, para, numa fase imediatamente a seguir, serem
definidas as medidas de intervenção, nesse mesmo contexto, envolvendo os intervenientes,
atores desse processo, rumo a uma situação de mudança, ou transformação parcial.
Esse trabalho, segundo Rémi Hess (1984), constrói-se a partir da formação de uma teia de
relações entre o especialista e os atores intervenientes, numa relação centrada na confiança,
para que seja concretizada uma fase de formação do conhecimento do problema, dos fatores
responsáveis e dos atores implicados (diagnóstico), que inclui a fase do inquérito e observação,
para posteriormente fomentar as condições para determinar o conjunto das estratégias e das
ações, através da participação dos atores envolvidos no processo.
Na formação do conhecimento e das metodologias de intervenção, são muito relevantes os
trabalhos desenvolvidos por Lewin e a metodologia que preconizou, para as técnicas da
pesquisa-ação. Neste contexto, Lewin introduziu no trabalho sociológico, através das técnicas
da pesquisa-ação, formas de conduzir a mudança, sustentadas na transformação das cognições
(VRANCKEN et al., 2001)
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Diagnóstico dos contextos, em termos de ação
estratégica para a intervenção social, tendo em
consideração o presente e as perspectivas de futuro.
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Sobre a capacidade de compreensão do contexto social, o social, o
social, político e institucional em que se dá a ação: O DIAGNOSTICO
A elaboração de um projeto pressupõe identificar, compreender e agir em uma
realidade constituída por rede de relações, em uma conjuntura dinâmica das forças
sociais. Isso implica em:
Identificação de necessidades, potencialidades e atores;
Articulação de atores
Viabilidade do projeto
Identificação de necessidades, potencialidades e atores
Quais as necessidades da população?
Que necessidades se traduzem em demandas?
Quais as prioridades?
Quais as potencialidades das organizações?
Como podem ser organizadas as reivindicações?
Que outros atores podem apoiar as ações?
Quais atores se opõem ao nosso projeto?
Que atores podem ser c es podem ser conquistados para nosso projeto?
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Diagnostico
O diagnóstico é um procedimento que visa recolher tratar, analisar e dar a
conhecer informação pertinente, de forma a possibilitar a caracterização o mais
rigorosa possível de um área geográfica ou organização, permitindo que se
tracem objetivos e metas a alcançar em função da informação recolhida.
...diagnóstico consiste na investigação, na análise da natureza ou da causa de
um problema, devendo este instrumento do conhecimento incluir no seu estado
final a formulação dos resultados dessa análise, bem como a exposição das
conclusões ... pelo que pode não se reduzir apenas à constatação e à explicação.
Implícita ou explicitamente orienta a decisão, sugere alternativas, leva a novas
investigações (UNESCO, 1970).
Também designado “análise de situação”, o diagnóstico tem assim por objeto
selecionar os tipos de ação mais adequados para modificar circunstâncias
previamente caracterizadas, geralmente desfavoráveis. (adaptado de Schiefer,
2000)
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Etapas e tarefas requeridas para a realização do diagnóstico
Formulação dos objetivos do diagnóstico;
Recolha e análise dos dados;
Identificação/Levantamento dos problemas;
Identificação das causas dos problemas;
Determinação das tendências evolutivas dos problemas;
Identificação das oportunidades e das ameaças;
Estabelecimento de prioridades.
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Diagnostico
Passado Identidade
Memoria/Historia
Experiência
Presente Oportunidades/Prioridades
Contexto
Futuro Expectativas
Desejos
Utopias
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Diagnóstico Rápido Participativo (DRP)
Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) consiste no conhecimento, analise e
interpretação dinâmica da maneira como se estrutura e viabiliza uma ‘situação’ Esse
processo baseia-se na participação, mediante o dialogo aberto entre os atores.
Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) como metodologia utilizada em
projetos
Definição dos objetivos e dos produtos a serem gerados
Entrevistas com informantes-chave e coleta de dados secundários
Aplicação de questionários
Tratamentos dos dados
Restituição do diagnostico aos atores
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REFERENCIAS
ANDER-EGG, Ezequiel Introdução ao trabalho social, Petrópolis:Vozes,1995
BAIÃO, José Manuel Carvalho. O diagnostico sociológico da ação estratégica das Misericórdias do Distrito de Beja (Tese de
doutoramento apresentada ao Instituto de Investigação e Formação Avançada para obtenção do grau de doutor em
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https://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/11411/1/Tese_Jos%C3%A9%20Manuel%20Bai%C3%A3o.pdf . Acesso dezembro
2016.
DIMENSTEIN. G. Democracia em pedaços. S. Paulo: Companhia de Letras,1996
FALEIROS, Vicente de Paula. Metodologia e ideologia do trabalho social, S. Paulo: Cortez, 1982 (3ª edição)
GALTUNG, J. Direitos humanos: uma nova perspectiva, Lisboa: Instituto Piaget,1994
GOMES DOS SANTOS, Marcos Olímpio. Texto de apoio sobre o diagnóstico em processos de intervenção social e desenvolvimento
local. Portugal: Universidade de Évora,2012. Disponível em
http://home.uevora.pt/~mosantos/download/Diagnostico_10Ag12.pdf. Acesso em dezembro de 2016.
HESS, Rémi (1984). Sociologia de intervenção. Porto: Rés editora
IBAÑEZ, Ricardo M.; SERRANO, Gloria P. Pedagogia social y sociologia de la educación, 3ª ed., Madrid: UNED,1985
KISNERMAN, N. Serviço social de grupos, Petrópolis: Vozes,1980
NETO, João Pereira. A cultura organizacional das empresas, Lisboa: Associação Portuguesa dos Gestores e Técnicos de Recursos
Humanos, s.d.
PINTASILGO, M. Lourdes Sulcos do nosso querer comum, Porto: Afrontamento.1980
SCHIEFER, Ulrich (coord.) (2000), MAPA - Método Aplicado de Planeamento e Avaliação - Manual de Planeamento de Projectos,
Mem Martins, Editorial do Ministério da Educação
STEPHANOU, Luís; MÜLLER, Lúcia Helena e CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Guia para a Elaboração de Projetos Sociais.
São Leopoldo, RS: Sinodal, Porto Alegre/RS: Fundação Luterana de Diaconia, 2003. Disponível em
http://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/ferramentas/docs/guia-para-elaboracao-de-projetos-sociais.pdf
VRANKEN, Didier; KUTY, Olgierd (2001). La Sociologie et l`intervention – Enjeux et perspectives. Bruxelas: de Boeck &Larcier