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CONCEITOS BÍBLICOS SOBRE CORPO, ALMA E ESPÍRITO
I–Conceitos com relação à alma
Dualismo – A visão do ser humano no contexto imortalista é que este possui uma natureza dualista, isto
é, tem um corpo e possui uma alma [nephesh, no hebraico, psiquê, no grego], que seria imortal e estaria
presa dentro do corpo e que é liberta por ocasião da morte deste, indo imediatamente para o Céu ou
para o inferno, durante toda a eternidade. Na ressurreição, apenas o corpo morto ressuscita, pois a alma
imortal já está lá, liberta do corpo, há muito tempo, religando-se a este por ocasião da ressurreição dos
mortos que se dá no momento da segunda vinda de Cristo (cf. 1Co.15:22,23).
Essa é a visão dualista da natureza humana, de imortalidade da alma. Noutras palavras, você é uma
pessoa que tem outra “pessoa” dentro de você. A visão tricotomista do ser humano ensina o mesmo
contraste dualista de corpo e alma e prega que nós somos um espírito, possuímos uma alma e moramos
em um corpo. Portanto, ambas as visões – dualista e tricotomista – serão refutadas da mesma forma,
visto que possuem os mesmos conceitos básicos sobre a constituição da natureza humana.
Holismo – O conceito holista da natureza humana prega, ao contrário da imortalidade, que o ser humano
não tem uma alma: ele é uma alma. Ele vive como uma alma, ele morre como uma alma. Uma alma
vivente significa apenas um “ser vivo”. Nós não temos uma alma imortal presa dentro do nosso corpo
que é liberta por ocasião da morte. A morte é o último inimigo a ser vencido (pelo fator “ressurreição”),
e não o libertador da “alma imortal” (cf. 1Co.15:26). Pessoas morrem, pessoas ressuscitam.
Corpo, alma e espírito são características da mesma pessoa e não pessoas separadas. O espírito é o
princípio ativador da vida, é aquilo que dá animação ao corpo, é o sopro de Deus por meio do qual
respiramos e somos seres (almas) viventes. É esse o simplismo bíblico sobre a criação da natureza
humana, que elimina os complexos malabarismos propostos por Platão em sua tese sobre a natureza
dualista e a sobrevivência da alma após a morte em um estado consciente.
II–Qual é o conceito correto?
“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o
homem tornou-se uma alma vivente” (cf. Gênesis 2:7)
Eis aí a passagem bíblica acerca da criação do ser humano, que nos dá um perfeito entendimento dos
conceitos bíblicos de corpo, alma e espírito. É aqui que entra em cena algo muito desconhecido pela
maioria das pessoas: biblicamente, o homem não tem uma alma, ele é uma alma. Ele “TORNOU-SE”
uma alma e não “obteve” uma! A alma é o que o homem passou a ser, e não o que ele obteve de Deus.
O corpo é a alma em sua forma exterior. A ideia hebraica de personalidade é a de um corpo animado
pelo fôlego de vida (espírito) que alimenta o corpo, e não de uma alma presa dentro deste corpo. Assim,
podemos entender que:
“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra [corpo], e soprou em suas narinas o fôlego de vida
[espírito], e o homem tornou-se uma alma vivente [alma]” (cf. Gênesis 2:7 – grifo meu)
A passagem bíblica que relata a criação do ser humano também nos deixa um sentido claro de corpo,
alma e espírito. Nenhum é um elemento que Deus implantou no homem, imaterial e imortal, que saia
dele após a morte, com consciência e personalidade. O espírito é tão somente o fôlego de vida que Deus
soprou em nós e que o possuímos pela duração de nossas vidas terrenas. Nós permanecemos com este
fôlego que nos concede respiração para continuarmos vivos durante a nossa existência terrestre, mas,
quando este sopro se vai, as “almas viventes” tornam-se “almas mortas”.
O que retorna a Deus é o princípio de vida que ele soprou em nós a fim de conceder animação ao corpo
formado do pó, e não uma alma imortal. Este princípio animador da vida é possuído tanto por homens
como por animais (cf. Gn.6:17; Gn.7:21,22; Ec.3:19,20; Gn.7:15; Sl.104:29). Este princípio é garantido
tanto aos seres humanos quanto aos animais pela duração de sua existência terrena. A alma, no conceito
bíblico, é que o ser humano “tornou-se” e não “obteve”. Deus não colocou uma alma no homem. Por
isso mesmo, morrendo o homem, morre a alma (cf. Nm.31:19; 35:15,30; Js.20:3, 9; Gn.37:21; Dt.19:6,
11; Jr.40:14, 15; Jz.16:30; Nm.23:10; Ez.18:4; Ez.18:21).
Já a visão dualista em sua totalidade defende que o sopro de vida que Deus soprou em nossas narinas é
a própria alma imortal implantada no ser humano. Sendo assim, o sopro de Deus em nossas narinas é o
espírito (alma) imortal implantado nele, totalmente independente do corpo, preso dentro dele e liberto
após a morte, com consciência e personalidade. Sendo assim, a narrativa de Gênesis 2:7 deveria ser
entendida da seguinte maneira:
“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra [corpo], e soprou em suas narinas o fôlego de vida
[espírito/alma imortal], e o homem tornou-se uma alma vivente” (cf. Gênesis 2:7 – grifo meu)
Essa é, contudo, uma interpretação tendenciosa que deturpa completamente a clareza do texto bíblico.
Não é necessário ser nenhum grande teólogo para perceber que tal interpretação é inválida pelo fato que
adultera os sentidos primários de corpo, alma e espírito, que são deixados de maneira bem clara na
narrativa da criação da natureza humana em Gênesis 2:7. Além de ignorar o fato de que a primeira vez
que alma [nephesh] é mencionada na Bíblia é relacionado ao próprio ser humano como um todo,
tornando-se uma alma e não obtendo uma, também altera nephesh para o meio do versículo quando na
realidade ela é claramente relacionada ao final deste. Tudo não passa de uma completa manipulação
bíblica textual.
A passagem da criação do homem coloca nephesh no fim do verso, e não no meio como querem os
imortalistas. A alma é o que o homem “tornou-se”; o “espírito” é o que foi soprado nele para dar animação
ao corpo formado do pó. Pelo fato de Deus não ter revelado a Moisés uma realidade dualista do ser
humano, este narra simplesmente o princípio animador da vida dando animação a uma “alma vivente”.
Esse total simplismo bíblico nega inteiramente que a natureza humana seja dualista, composta por uma
alma imortal e por um corpo mortal. A revelação de Deus a Moisés incluiu apenas um corpo proveniente
do pó tornando-se animado, sem qualquer tipo de alma sendo ingerida dentro da substância corporal
para lhe conceder imortalidade.
A forte tentativa de ignorar o simplismo bíblico no relato da criação humana não provém de alguma razão
teológica (de fato, os imortalistas fazem de tudo para colocar uma “alma imortal” no relato da criação
onde não aparece nada disso), mas sim porque negam em aceitar o fato óbvio de que a narração da
criação traz uma natureza holista e não dualista do ser humano. Isso, evidentemente, os faria negar a
sua crença de que Deus tenha implantado no homem um elemento eterno lhe concedendo imortalidade,
o que daria um fim na doutrina do “estado intermediário” e do tormento eterno.
Que nephesh não é o próprio espírito [ruach, no hebraico] implantado no ser humano com imortalidade
e personalidade, isso fica muito bem claro na Bíblia Sagrada, embora sejam coerentes em alguns de seus
sentidos secundários. A ignorância em aceitar o sentido claro de corpo, alma e espírito de acordo com a
Bíblia segundo Gênesis 2:7 causa, além de adulterações no sentido do texto, uma confusão ainda maior
para solucionar os problemas depois, por causa da interpretação tendenciosa e errônea por parte dos
dualistas. E este é apenas o início do fim da imortalidade da alma.
III–O que é o “espírito” [ruach] e o que é a “alma” [nephesh]?
Espírito, no original hebraico “ruach”, significa literalmente: “sopro, vento”. É o fôlego de vida que Deus
soprou em nossas narinas tornando-nos almas viventes. Para os imortalistas, significa nada a mais e
nada a menos do que a própria alma imortal implantada no homem, um segmento com consciência e
personalidade. Mas isso não é verdade. A seguir, apresento inúmeras provas de que o espírito não tem
parte nenhuma com um ser vivo inteligente que sobrevive fora do corpo:
O fôlego de vida sai do ser humano – Uma grande prova de que o fôlego de vida (espírito) que Deus
soprou em nós não é uma alma imortal, é que a Bíblia afirma categoricamente que nós o perdemos por
ocasião da morte (cf. Jó 27:3; Jó 34:14-15). Ora, se fosse uma entidade consciente presa dentro de nós,
então continuaria conosco após a nossa morte, mas isso não é verdade: a Bíblia caracteriza a morte
como a retirada do fôlego de vida (sopro). Isso prova que o “espírito” que possuímos nada mais é do
que o sopro da parte de Deus que concede animação ao corpo, sendo freqüentemente caracterizado
como sendo o “sopro de Deus” (cf. Jó 33:4).
Quando é retirado por Deus (expirando), o fôlego é reintegrado no ar, por Deus. O próprio fato de nós
possuirmos o “fôlego de vida” não significa possuir em si mesmo a imortalidade, porque na morte este
princípio volta para Deus. Isso nos mostra que a vida deriva de Deus, é sustida por Deus e retorna para
Deus por ocasião da morte. “Espírito”, no conceito bíblico, em nada tem a ver com uma entidade viva e
consciente tal como no estilo kardecista ou platônico.
Tal fato é acentuado por Jó ao declarar: “Enquanto em mim houver alento, e o sopro de Deus no meu
nariz, nunca os meus lábios falarão injustiça, nem a minha língua pronunciará engano” (cf. Jó 27:3,4).
Enquanto o sopro de Deus está nas nossas narinas, nunca Jó pronunciaria qualquer palavra de engano.
Quando, porém, o sopro se vai, o que é dele? Nada, não mais existe (cf. Jó 7:21; Jó 14:10-12).
Por isso ele acentua que enquanto estiver com ele o sopro de Deus nas suas narinas, os seus lábios
não pronunciariam engano. O sopro (fôlego de vida) é inteiramente dependente de estar nas nossas
narinas (corpo físico) para continuar ativo, dando continuidade a vida. Sem o corpo físico, este princípio
deixa de conceder vida em si mesmo. Ademais, se o espírito [ruach – sopro] fosse a própria alma imortal
implantada em nós, então a declaração de Jó nos levaria a crer que a “alma imortal” está situada no
nariz de cada indivíduo: “Enquanto em mim houver alento, e o sopro de Deus no meu nariz” (cf. Jó
27:3).
Também lemos na passagem anteriormente citada: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra,
e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem tornou-se uma alma vivente” (cf. Gn.2:7). Ora,
é aí que se situa essa “alma imortal”, no nariz de cada indivíduo? É mais do que evidente que o espírito
(fôlego de vida) não é a alma implantada no ser humano nas suas narinas, mas simplesmente o princípio
que anima o corpo, concedendo-lhe respiração a fim de se tornar um ser ativo.
Isso explica o fato bíblico deste princípio encontrar-se nas nossas narinas, e não na “alma” ou em alguma
outra parte do corpo. Evidentemente, o fôlego de vida (espírito) que possuímos não tem parte nenhuma
com uma noção dualista de corpo e alma; antes, é o princípio animador do corpo, que garante a
existência da vida terrestre de toda a carne, e que volta para Deus quando expiramos na morte. Dizer
que o fôlego de vida (espírito) que foi soprado no homem em Gênesis 2:7 é uma “alma imortal” é o
mesmo que dizer que possuímos a alma em nosso nariz, o que creio não ser nem um pouco razoável.
O princípio animador do corpo - O corpo é formado de matéria, de pó. O espírito é o que dá animação
ao corpo, e assim tornamo-nos almas viventes. Sem o espírito em nós, o nosso corpo morto não passa
de matéria (pó) inanimado, sem vida. O que é o “espírito”, então? É exatamente aquilo que dá animação
ao corpo, é a “vida” por assim dizer. Obviamente não tem parte nenhuma com algum outro “você” que
volta para Deus, mas representa tão somente a vida deixada nas mãos do Criador; é por isso que a Bíblia
apresenta os animais com o mesmo espírito-ruach possuído pelos humanos (cf. Gn.6:17; Gn.7:21,22;
Ec.3:19,20; Gn.7:15; Sl.104:29). No livro de Apocalipse é lido que até uma imagem de escultura é
dotada de espírito [pneuma, no grego] para tornar-se um ser animado:
“E foi-lhe concedido que desse espírito [pneuma] à imagem da besta, para que também a imagem da
besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta” (cf.
Apocalipse 13:15)
Aqui vemos que a imagem de escultura (um ser inanimado) foi dotada de espírito [pneuma] e assim foi
dada animação [vida] à imagem. É mais do que óbvio que Deus não colocou uma “alma imortal” dentro
da imagem e muito menos alguma entidade consciente que volta com personalidade e inteligência para
Deus, mas simplesmente concedeu-lhe o fôlego da vida para dar animação à imagem de pedra. É
exatamente a mesma coisa que sucedeu aos seres humanos.
A mesma coisa sucedeu a nós: fomos formados do pó da terra, de matéria inanimada; até que Deus
soprou em nós o espírito [vida] dando animação à matéria formada do pó – e assim o homem tornou-se
uma alma [ser] vivente. O espírito é o que vem da parte de Deus e que dá animação a um elemento
inanimado, tornando tal elemento em animado, concedendo-lhe vida. Quando as pessoas morrem, elas
perdem a vida [espírito], tornam-se novamente em matéria inanimada (pó), é por isso que a Bíblia
afirma que o espírito de todos retorna a Deus (cf. Ec.12:7), pois as pessoas perdem a vida, voltam a ser
pó.
Deus, contudo, ressuscitará os nossos corpos mortais, soprando novamente em nós o espírito [vida] na
ressurreição (para sermos novamente um ser animado, vivente) tornando-nos novamente em “almas
viventes”. Tal fato é relatado com clareza em Apocalipse:
“Então vi uns tronos; e aos que se assentaram sobre eles foi dado o poder de julgar; e vi as almas
daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e que não
adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam o sinal na fronte nem nas mãos; e reviveram,
e reinaram com Cristo durante mil anos” (cf. Apocalipse 20:4)
Aqui é nos dito que as almas dos que foram degolados por causa do testemunho de Jesus reviveram. Se
elas “reviveram”, é porque estavam mortas. O que aconteceu, então, nessa ressurreição? Aconteceu que
Deus soprou em nós novamente o espírito que vem da parte dEle, para que saíssemos do estado
inanimado (i.e, sem vida), tornando-nos novamente em almas viventes:
“Assim diz o Soberano, o Senhor, a estes ossos: Farei um espírito entrar em vocês, e vocês terão vida.
Porei tendões em vocês e farei aparecer carne sobre vocês e os cobrirei com pele; porei um espírito em
vocês, e vocês terão vida. Então vocês saberão que eu sou o Senhor” (cf. Ezequiel 37:5,6)
“Por isso profetize e diga-lhes: Assim diz o Soberano, o Senhor: Ó meu povo, vou abrir os seus túmulos
e fazê-los sair; trarei vocês de volta à terra de Israel. E quando eu abrir os seus túmulos e os fizer sair,
vocês, meu povo, saberão que eu sou o Senhor. Porei o meu espírito em vocês e vocês viverão, e eu os
estabelecerei em sua própria terra. Então vocês saberão que eu, o Senhor, falei, e fiz. Palavra do Senhor”
(cf. Ezequiel 37:12-14)
Notem que não é o nosso espírito que deixa o Céu para se religar ao corpo por ocasião da ressurreição,
mas sim o espírito de Deus que concede vida que nos é soprado novamente; fazendo-nos sair dos
túmulos, o local onde o povo que já morreu se encontraria. Nós estaríamos sem vida na morte, mas
Deus nos concederia novamente o espírito que parte dEle a fim de nos conceder novamente vida por
ocasião da ressurreição.
Não existe nenhuma religação entre corpo e alma, mas tão somente o princípio animador da vida sendo
novamente concedido a nós por ocasião da ressurreição dos mortos. Podemos assim traçar uma correta
analogia com a imagem inanimada de Apocalipse que recebeu o espírito para tornar-se animada:
A NATUREZA HUMANA
SEGUNDO GÊNESIS 2:7
A IMAGEM DE APOCALIPSE
13:15
Feito do pó da terra Feita de pedra
Material inanimado Material inanimado
Foi-lhe dado o espírito Foi-lhe dada o espírito
Passou a ter vida (tornou-se um
ser vivente)
Passou a ter vida
Tornou-se um ser animado Tornou-se um ser animado
Como vemos, o “espírito” que possuímos é nada a mais do que aquilo que dá animação ao corpo
(matéria), concedendo-lhe vida. A analogia com a imagem de pedra relatada no Apocalipse é válida
porque o mesmo que sucedeu aos seres humanos sucedeu também à imagem, ambos tornaram-se um
ser animado após ser lhes soprado o espírito. É evidente que o “espírito” soprado não é uma “alma
imortal” (pois se assim o fosse então por lógica a imagem de pedra também a deveria possuir, pois
também foi dotada de espírito-pneuma), mas é tão somente o princípio de vida concedido às criaturas
viventes durante a permanência de sua existência terrestre.
É claramente nos referido que o motivo dos ídolos mudos não serem vivos é decorrente do fato de não
possuírem “espírito-ruach”: “Eis que está coberto de ouro e de prata, mas no seu interior não há fôlego
[ruach] nenhum” (cf. Hc.2:9). E também em Jeremias: “Todo ourives é envergonhado pela imagem que
ele esculpiu; pois as suas imagens são mentira, e nelas não há fôlego [ruach]” (cf. Jr.10:4).
Aqui vemos que os que não têm vida são descritos como sem “espírito-ruach”. Os ídolos são considerados
como “sem vida” pelo fato de serem destituídos de espírito-ruach, que é o princípio animador de toda a
vida. Quando um ídolo ou uma imagem ganha animação, é descrito como constituído de “espírito-
pneuma” (cf. Ap.13:15), porque passou a ter vida. Em outras palavras, o espírito é nada a mais do que
o poder capacitador de vida a qualquer ser vivente, mesmo quando se trata de imagens de pedra ou de
animais, como veremos mais adiante.
Ele não é uma alma imortal, e nem algo que traz consigo imortalidade, consciência e personalidade após
a morte, mas apenas a vida que possuímos em nossa jornada em nossa terrestre. Se o espírito fosse
uma alma imortal, então a imagem de pedra de Ap.13:15 e os animais também teriam “almas
imortais”, pois são descritos possuindo “espírito-pneuma”. Quando o espírito é retirado do ser
humano, este volta para o pó da terra (cf. Sl.104:29; Sl.146:4; Gn.3:19). Da mesma forma, quando o
espírito concedido temporariamente àquela imagem lhe é retirado, esta volta a ser uma pedra inanimada.
O processo é o mesmo: seres ou objetos inanimados que temporariamente ganham vida pelo sopro do
espírito-ruach em seu interior e que tornam-se novamente inanimados (sem vida) após este sopro
retornar ao Criador.
Sai o espírito, volta ao pó – Confirmando o fato anterior, vemos que os autores bíblicos correspondiam
bem ao fato de que a saída do espírito-ruach por ocasião da morte não significa a continuação da vida
em um outro estágio ou em uma dimensão superior, mas sim a cessação dela. O salmista expressa em
palavras o que aconteceu na criação humana e o que acontece ao fim dela: “Quando sopras o teu fôlego,
eles são criados” (cf. Sl.104:30). O sopro de Deus [fôlego] nas nossas narinas, também denominado por
“espírito-ruach” (cf. Jó 33:4; Jó 32:8; Is.42:5), é o que nos faz vivos – nos transforma em “almas
viventes” (cf. Gn.2:7).
A pergunta que fica é: quando este “fôlego” ou “espírito” deixa o corpo por ocasião da morte (ao expirar),
o que acontece ao ser racional? O verso anterior do Salmo no qual acabamos de passar responde
corretamente a esta pergunta: “Quando escondes o teu rosto, entram em pânico; quando lhe retiras
o fôlego, morrem e voltam ao pó” (v.29). O ser racional simplesmente volta ao pó. Quando o fôlego
[espírito] é retirado do ser humano, este não parte desencarnado para um estado intermediário, mas
simplesmente deixa de existir – volta a ser pó.
A saída do espírito por ocasião da morte não significa um ser racional deixando o corpo. Jó declara isso
enfaticamente nas seguintes palavras: “Porém, morto o homem, é consumido; sim, rendendo o homem
o espírito, então onde está ele? Como as águas se retiram do mar, e o rio se esgota, e fica seco,
assim o homem se deita, e não se levanta; até que não haja mais céus, não acordará nem despertará
de seu sono” (cf. Jó 14:10-12).
Aqui vemos a entrega do espírito não significa levar consciência e personalidade na morte, porque mesmo
assim ele não é despertado até não existir mais céus. Após afirmar que o homem rende o seu espírito
na morte, Jó faz a pergunta que não quer calar: “Onde ele está”? Isto é, para onde ele vai? O que
acontece com ele? Simplesmente, deixa de existir. Não vai desencarnado para o Céu. Ele torna-se como
as águas que se retiram do mar e como um rio que se esgota e fica seco. Essa analogia feita por Jó nos
mostra claramente que o homem não mais existe.
Assim como quando as águas se retiram do mar este já não existe, e quando o rio se esgota fica seco e
desaparece, assim também do mesmo modo o homem na morte já não existe. O ser racional só volta a
atividade quando “não existir mais céus” (v.12), o que o Novo Testamento relaciona à “ressurreição do
último dia” (Jo.6:39,40), quando “os céus e a terra que agora existem estão reservados para o fogo,
guardados para o dia do juízo e para a destruição dos ímpios” (cf. 2Pe.3:7).
Se a retirada do espírito do homem na morte significa a ida imediata na presença de Deus em estado
desencarnado, então a analogia feita por Jó seria nula e sem sentido. Tal analogia nos revela que o ser
racional deixa de existir após a entrega do espírito-ruach. Tal fato é apresentado com ainda mais clareza
no Salmo 146:4 – “Quando o espírito deles se vai, eles voltam ao pó, e naquele dia perecem os seus
pensamentos” (cf. Sl.146:4).
A entrega do espírito não significa a continuação de vida em um estado desencarnado, mas sim a
cessação dela, pois os “pensamentos perecem”. Sendo que os próprios imortalistas atribuem o processo
de pensamento como função da alma, a sede dos pensamentos, seria imprescindível que eles
continuassem existindo após a entrega do espírito na morte, caso fosse um ser racional com inteligência
e consciência. Contudo, os próprios pensamentos perecem, pois não existe ser racional na morte.
A alma e o sangue – Em Levítico 17:11, lemos: “Porque a vida da carne está no sangue”. No texto
original hebraico, “vida” aqui é a tradução de nephesh, de modo que a transliteração correta da passagem
seria: “A alma da carne está no sangue”. O motivo pelo qual a alma é igualada ao sangue provém do
fato de que a vitalidade da vida-nephesh reside no sangue. Em outras palavras, sem sangue não há vida-
nephesh. O corpo não é a prisão de uma alma imaterial, pois a alma da carne está no sangue.
Isso não faz sentido caso a alma fosse algo imaterial implantado dentro de nós, pois se assim o fosse
não teria parte nenhuma com o sangue. Também lemos certa afirmação em Gênesis no mesmo estilo:
“Carne, porém, com sua vida [nephesh] isto é, com seu sangue, não comereis. Certamente requererei
o vosso sangue, o sangue da vossa vida [nephesh]; de todo animal o requererei, como também da mão
do homem, sim da mão do próximo de cada um requererei a vida [nephesh] do homem” (cf. Gn.9:4,5).
Ora, se a vida (alma- nephesh) do homem é o sangue, então sem o sangue não há vida (alma-nephesh).
Isto é somente lógica. O homem sem sangue não pode permanecer vivo de acordo com esta declaração
de Gênesis. Pois a vida [alma-nephesh] está no sangue. Como então assumir que uma pessoa sem
sangue (um espírito incorpóreo, por exemplo) possa ser considerada viva em um “estado intermediário”?
Não faz sentido. Sem sangue não há vida, pois “a alma da carne está no sangue”. Como o erudito Basil
Atkinson corretamente assinala: “A alma do homem está em seu sangue e, de fato, o seu sangue é a
sua alma”.
O maior problema da teologia imortalista é que eles pensam que o sangue está relacionado apenas ao
corpo físico, externo, e que, portanto, sem sangue não há mais vida no corpo, mas a alma não é afetada
com isso e permanece viva subsistindo sem o corpo em algum lugar. Em outras palavras, para os
dualistas é extremamente crucial que o sangue seja a vitalidade apenas do corpo e não da alma. Caso
contrário, a alma não escaparia da morte, tanto quanto o corpo. O texto bíblico, porém, ao invés de dizer
“o sangue do vosso corpo”, diz “o sangue da vossa alma” (nephesh – Gn.9:5). Isso mostra que a alma
subsiste viva através do sangue tanto quanto o corpo físico.
E assim matamos dois coelhos de uma só vez: o primeiro, é aquele que desassocia a alma do sangue e
ensina que somente o corpo é movido pelo sangue e só existe com a vitalidade deste (o que já vimos
que é falso, pois o sangue desempenha o mesmo papel para com a alma), e o segundo é o de que a
alma seria uma entidade espiritual imaterial infundida dentro de nós. Se fosse, não estaria dependente
de algo físico e tangível (como o sangue), e a Bíblia não diria que “a sua alma-nephesh, isto é, o seu
sangue, não comereis”, pois seria ilógico e sem qualquer possibilidade “comer a alma, ou seja, o sangue”.
Uma coisa estaria tão desassociada da outra que tal sentença seria no mínimo absurda. Uma seria
tangível e a outra intangível, uma seria material e a outra imaterial, uma desceria ao túmulo na morte e
a outra aos céus, uma estaria ligada ao corpo e a outra ao espírito. Como dizer que a alma é o sangue
com tantos contrastes que a teologia imortalista afirma que os separa? Uma coisa não teria nada a ver
com a outra, e, portanto, não seriam igualadas. Só foram porque a linha dualista que separa a alma do
corpo e os contrasta realmente não tem qualquer cabimento bíblico.
Portanto, não restam objeções ao fato de que não existe alma sem sangue; sem sangue não há vida.
Não existe qualquer chance ou possibilidade de existir um “estado intermediário” de “espíritos
incorpóreos” pré-ressurreição ausentes de corpo. O fato bíblico de que a alma da carne está no sangue
e de que a vida [nephesh] do homem é o seu sangue nos mostra que não pode uma pessoa ser
considerada como “viva” em algum lugar sem a vitalidade da vida-nephesh que reside no sangue.
Na morte, o coração deixa de bater, o sangue deixa de circular, e tornamo-nos almas mortas. Só
voltaremos ao estado de vida novamente quando estivermos com a vitalidade da vida, com o sangue,
sem o qual não existe vida [alma-nephesh]. Poderíamos resumir o argumento nas seguintes premissas:
(1) A alma da carne está no sangue – cf. Lv.17:11.
(2) Não existe vida [alma - nephesh] sem sangue – cf. Gn.9:4,5.
(3) Na morte, perdemos o sangue, a vitalidade da alma.
(4) Sem o sangue que dá vida a alma, não existe alma.
(5) Só voltaremos a ser reconstituídos de sangue novamente na ressurreição.
(6) Logo, a alma ganha vida novamente a partir da ressurreição dos mortos.
O homem torna-se uma alma vivente – Uma outra prova importante para que possamos compreender
que o espírito não é uma alma imortal é a própria continuação da passagem de Gênesis 2:7 – “...soprou
em suas narinas o fôlego de vida, e o homem tornou-se uma alma vivente”. Duas coisas são interessantes
aqui. Em primeiro lugar, a alma é o que o homem “tornou-se”, e não o que ele “obteve”. Como já vimos,
Deus não colocou uma alma no homem, como erroneamente pensa a doutrina dualista.
Em segundo lugar, com a implantação do sopro de Deus em nossas narinas, o homem tornou-se uma
“alma vivente”, e não uma “alma imortal”! Ora, se a interpretação correta fosse a dualista, então a
sequência imediata de tal passagem seria que o homem tornou-se (ou melhor, “obteve”) uma “alma
imortal”, “imaterial”, pois o termo “alma vivente” após a implantação do espírito-ruach implica que pode
se tornar “alma morta” após a retirada do espírito-ruach. Isso é somente lógica.
Quando a Bíblia diz que em resultado do sopro divino “o homem tornou-se uma alma vivente”, ela está
dizendo apenas que o corpo formado literalmente do pó da terra ganhou animação e se fez um ser vivo,
que respira – nada além disso. O sangue (vitalidade da alma – cf. Lv.17:11; Gn.9:4,5) começou a
circular, o cérebro começou a raciocinar e o coração a bater, com todos os sinais ativados. O homem
tornou-se uma “alma vivente”, ou seja, ou ser vivo, que deixa de existir na morte e volta à existência
na ressurreição gloriosa.
Não houve um componente imaterial e imortal colocado no ser humano. Declarado em termos simples,
“uma alma vivente” significa “um ser vivo”, e não “uma alma imortal”! Evidentemente a alma é
considerada “vivente” enquanto vive, passando a ser “alma morta” por ocasião da retirada do fôlego de
vida [espírito] no falecimento. Uma alma vivente significa simplesmente um ser vivo, que morre. Alma
é vista como a natureza humana como um todo, e não como uma parte do ser humano separada do
corpo e presa dentro deste.
O espírito sobe para Deus – Outra prova patente contra os imortalistas é o que Salomão descreve em
Eclesiastes: “E o pó volte a terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (cf. Ec.12:7). É fato
bíblico que todas as pessoas (sendo justas ou ímpias) desciam para o Sheol na morte (cf. Gn.37:35; Jó
10:21,22; Sl.94:17; Gn.42:38; Gn.42:29,31; Is.38:10,17; Sl.16:10; Sl.49:9,15; Sl.88:3-6,11; Jó
17:16). Para os imortalistas, Sheol é a habitação dos espíritos incorpóreos e conscientes. Já para os
mortalistas, significa puramente “sepultura”, em um sentido mais amplo, como veremos mais adiante.
O debate sobre o conceito correto sobre Hades/Sheol será abordado mais a frente neste livro.
O que temos de fato, por hora, é que todas as pessoas desciam ao Sheol por ocasião da morte. Onde se
localiza o Sheol? Localiza-se nas regiões inferiores da terra (cf. Ef.4:9), no “coração” desta terra (cf.
Mt.12:40), em oposição ao Céu (cf. Mt.11:23). Os seguidores da revolta de Coré “desceram... vivos ao
Sheol” (cf. Nm.16:30,33). Eis aqui já a primeira contradição dos imortalistas: O “espírito” sobe para
Deus, e não “desce” para o Sheol (cf. Ec.12:7)! Se o espírito fosse um elemento com consciência e
personalidade, ele deveria descer e não subir. Mas isso jamais é dito na Bíblia, pelo simples fato de que
o espírito é nada a mais do que o dom da vida [fôlego] concedido durante a duração de nossas vidas
terrenas, e não algum segmento que leva consigo consciência e personalidade após a morte.
Sobe para Deus por ocasião da morte porque deriva de Deus, e volta para Deus. Salomão é bem claro
em dizer que o espírito subiu para Deus, e não “que desceu para o Sheol”! Nisso vemos uma clara
evidência que o espírito está longe de ser a própria pessoa como uma entidade viva e consciente, mas é
tão somente o princípio de vida que retorna para Deus no momento da morte. Sendo que na época de
Salomão todas as pessoas desciam ao Sheol, que biblicamente fica nas regiões inferiores desta terra (cf.
Ef.4:9), como é que Salomão diz que o espírito sobre para Deus? Também em Atos 2:27, falando a
respeito de Jesus, entre a sua morte e ressurreição, o texto assim narra: “Porque não deixarás a minha
alma no Hades, nem permitirás que aquele que te é leal veja a corrupção”.
E também em Mateus 12:40 – “Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do
grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra”. A alma de
Jesus passou os três dias e três noites em que esteve morto no Sheol, que fica debaixo da terra, e não
no Paraíso! Isso, contudo, não impediu ele tivesse entregado o seu espírito ao Pai nos dias em que
esteve morto: “Pai, ao Senhor entrego o meu espírito. E com estas palavras morreu” (cf. Lc.23:46).
Ora, como é que Cristo passou os três dias em que esteve morto no Sheol (cf. Mt.12:40; At.2:27), que
fica nas regiões inferiores desta terra (cf. Ef.4:9), se a Bíblia diz que o “espírito” dele subiu para Deus?
Obviamente, porque o “espírito” não é o nosso “próprio eu”, não sendo uma “alma imortal”, mas é tão
somente o princípio animador da vida concedido por Deus tanto aos seres humanos quanto aos animais
pela duração de sua existência terrena, que volta para Deus por ocasião da morte.
Nisso fica claro que o espírito não é o nosso próprio “eu” liberto na morte, pois, se assim fosse, seguir-
se-ia que Cristo teria passado (os dias em que esteve morto) com o Pai, e não debaixo da terra, no Sheol
(cf. Mt.12:40; At.2:27), pois o espírito sobe, e não desce! Vemos, portanto, que se a visão dualista de
que o espírito é um segmento consciente que leva consigo personalidade, deveríamos pressupor que:
(1) O espírito desceria para o Sheol, e não voltaria a Deus (cf. Ec.12:7).
(2) Sendo que Cristo entregou seu espírito ao Pai, ele deveria ter subido aos céus na morte, e não
descido ao Sheol (cf. Mt.12:40; At.2:27).
Contudo, estas duas premissas imortalistas contrariam diretamente a Bíblia Sagrada, como já vimos.
NA BÍBLIA SAGRADA NA TEOLOGIA DUALISTA
O espírito sobe para Deus na
morte – cf. Ec.12:7
O espírito de todos deveria descer
(para o Sheol) na morte
Jesus entregou ao Pai o seu
espírito mas mesmo assim
esteve no Sheol (regiões
inferiores da terra – cf. Ef.4:9)
na morte
Se o espírito fosse um segmento
consciente com personalidade,
Cristo deveria logicamente estar
com o Pai enquanto esteve morto
Vale também ressaltar que Cristo, depois de três dias em que esteve morto, ainda assim declarou a
Maria Madalena: “Não me detenhas, porque ainda não subiu para o Pai” (cf. Jo.20:17). Óbvio, porque
a entrega de seu espírito ao Pai não significou o seu regresso a Ele, pelo fato de que o espírito não é um
segmento consciente e com personalidade, mas tão somente o princípio animador do corpo.
Tudo isso nos mostra de forma mais do que clara e lúcida de que o espírito que possuímos não é uma
outra pessoa que é liberta conscientemente após a morte, mas sim um princípio que ativa o corpo
concedendo-lhe animação. Como o corpo volta para o pó da terra na morte, ele deixa de ser animado e,
portanto, o espírito-ruach perde o seu sentido de animação do corpo e volta para Deus por ocasião da
morte.
A “salvação universal dos espíritos” – Uma verdade universal é dita em Eclesiastes 12:7 - “E o pó volte
a terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”. Essa é uma verdade universal, ou seja, o
espírito de todos volta para Deus, que o deu. Em lugar nenhum da Bíblia está escrito que o espírito dos
ímpios desce para o inferno ou para o diabo. Não, pois todos os espíritos sobem para Deus.
Nisso também fica mais do que claro que o espírito não é o nosso próprio “eu” fora do corpo, pois, se
assim o fosse, então teríamos uma salvação universal (de justos e ímpios), pois o espírito de todos sobre
para Deus! O que Salomão estava falando era simplesmente para que se lembrassem do seu Criador nos
dias da sua juventude (v.1), antes que chegue à velhice (v.2-6), e com a morte “o pó volte a terra, como
o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (v.12).
Esse processo é ocorrido em todos os seres humanos sejam justos ou ímpios. Assim como todas as
criaturas humanas devem se lembrar do Criador na juventude e assim como tanto justos como ímpios
envelhecem, assim também o espírito de todos sobre para Deus por ocasião da morte. Em momento
nenhum o autor deixa passar qualquer hipótese de que o termo se restringisse apenas aos salvos, porque
o próprio contexto mostra um processo que sucede a todos os seres humanos.
O que Salomão (autor do livro de Eclesiastes – cf. Ec.1:1) estava relatando é uma verdade universal de
que o espírito [de todos] por ocasião da morte retorna a Deus, quem o deu. O que retorna a Deus se
refere ao espírito de todos os homens, não somente dos justos, mas de “toda a carne”. O próprio fato
do espírito de todas as pessoas voltar a Deus na morte nos prova novamente que este espírito-ruach
não é uma alma imortal ou a própria pessoa em estado desencarnado, pois se assim sucedesse então
apenas o espírito das pessoas boas que subiria para Deus, e o das pessoas más desceria para o inferno
ou para o diabo.
Todos os espíritos sobem para Deus porque o nosso espírito não é uma entidade consciente com
personalidade com destinos diferentes entre bons e maus após a morte, mas tão somente o fôlego de
vida presente em todas as criaturas durante a nossa existência terrestre, princípio este que retorna para
Deus porque provém dEle mesmo a fim de dar animação para o corpo formado do pó. Por isso, o autor
não faz a mínima questão de diferenciar o destino do espírito de bons ou de maus por ocasião da morte.
Novamente a doutrina imortalista entra em choque contra os princípios da exegese e hermenêutica.
Os animais também como alma – Uma outra prova clara de que “alma vivente” não significa “alma
imortal” é o fato de que aos animais também foi designado o termo “alma vivente - nephesh hayyah”
(cf. Gn.1:20,21,24,30; 2:19; 9:10,12,15,16; Lv.11:46). A maioria das pessoas desconhecem tal fato
simplesmente porque os seus tradutores decidiram traduzir o termo hebraico “nephesh hayyah” como
“criaturas viventes” em referência aos animais, e como “alma vivente” nas referências a seres humanos.
O motivo, evidentemente, não é por causa dos manuscritos originais, mas sim por consequência de suas
convicções religiosas, de que o homem conta com uma alma imortal não possuída pelos animais. Em
decorrência disso não quiseram comprometer as suas doutrinas da imortalidade da alma humana criando
um dilema de primeira ordem, e tomaram a liberdade de traduzir o nephesh do hebraico como “criatura”
quando em referência aos animais e como “alma” quando em referência aos seres humanos.
Essa é a mesma adulteração reconhecida em outras inúmeras passagens bíblicas que mostram também
a alma-nephesh sendo morta ou destruída, o que também é ocultado pela grande maioria das versões,
embora fosse um conceito amplamente difundido na Bíblia. O original, contudo, traz nephesh [alma],
tanto a seres humanos, como também aos animais. O termo alma-nephesh é empregado tanto para as
pessoas quanto para os animais porque ambos são seres conscientes.
Tanto homens como animais partilham do mesmo princípio animador de vida, isto é, o “fôlego da vida”.
Todo o ser vivente relaciona-se a todas as criaturas, não somente ao homem, mas também aos animais
(cf. Jó 12:10). O homem não recebeu uma alma de Deus; ele tornou-se uma alma vivente, assim
como os animais. A natureza de todo o ser vivente é mortal, e não imortal, o que somente Deus é (cf.
1Tm.6:16).
Herdaremos uma natureza imortal com a ressurreição dos mortos na segunda vinda de Cristo (cf.
1Co.15:53; 1Co.15:23). A alma não é algo imaterial e nem imortal, pois até mesmo os animais são
referidos como alma-nephesh. Sendo que no mesmo contexto em que Deus dá a revelação a Moisés
sobre a criação em Gênesis 1 e 2 a palavra nephesh [alma] é uma referência não somente aos humanos
mas também aos animais, fica claro que Moisés não imaginava que este termo hebraico significasse em
si mesmo a detenção de imortalidade.
Doutra forma, teria ele apenas feito menção a este termo quando em referência aos humanos, somente.
Para ele o termo significava tão somente um ser consciente, sujeito a morte tanto quanto os animais.
Por isso, ele não se incomodava e nem se intimidava em fazê-lo em menção a humanos e a animais.
Quando os defensores da imortalidade da alma se deparam com o fato bíblico de que nephesh também
é mencionado em referência direta aos animais e no mesmo contexto dos seres humanos, se dão conta
do dilema intransponível que são obrigados a encarar.
Afinal, se a alma é imortal e imaterial, então os animais também partilhariam desta mesma qualidade
que deveria estar presente somente nos seres humanos. A única solução lógica para isso é exposta por
Basil Atkinson: “Eles [o homem e os animais] não são criaturas bipartites que consistem de uma alma e
um corpo que podem ser separados e prosseguir vivendo. Suas almas são a totalidade deles e
compreende seus corpos, bem como suas faculdades mentais”1
Os animais com espírito e fôlego – Ademais, exatamente a mesma palavra, no original hebraico ruach,
que é traduzida por “espírito”, é usada tanto em relação aos seres humanos quanto a animais (cf.
Gn.7:15; Gn.7:21,22; Ec.3:19,20; Gn.6:17; Sl.104:29). Ou seja: os animais também possuem espírito-
ruach da mesma forma que os seres humanos! A Bíblia não faz sequer a menor distinção entre eles. O
espírito “de toda a carne” entrou na arca de Noé, e não foram apenas seres humanos que lá entraram:
“E de toda a carne, em que havia espírito de vida, entraram de dois em dois para junto de Noé na
arca” (cf. Gênesis 7:15)
1 ATKINSON, Basil F. C. Life and Immortality. Londres, pp. 1-2;.
Note que de toda a carne em que havia espírito de vida entraram de dois em dois para a arca de Noé.
Será que foram apenas os humanos que entraram na arca? É claro que não. Isso deixa claro que os
animais também possuem espírito de vida, pois o espírito-ruach não é uma detenção apenas dos
humanos. Dizer que os animais têm fôlego, mas não tem espírito, é negar dois fatos claros na Bíblia
Sagrada.
O primeiro, é que espírito [ruach] é usado tanto a animais como a seres humanos indistintamente (cf.
Gn.7:15). A Bíblia não faz a mínima distinção, porque “entraram na arca de dois a dois de toda carne
em que há um espírito vivo” (cf. Gn.7:15 – Young’s Literal Translation). Se alguém alega que os animais
não têm espírito, então além de contradizer a Bíblia seria forçado a negar também que os seres humanos
o possuam, pois a mesma palavra é usada para os dois no mesmo contexto!
Também lemos em Gênesis 6:17:
“Porque eis que eu trago um dilúvio de águas sobre a terra, para desfazer toda a carne que há
espírito [ruach] de vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra expirará”
A passagem é bem clara em relatar a eliminação completa de toda a carne em que há o espírito-ruach,
por ocasião do dilúvio. Se fosse correta a interpretação dos dualistas de que o espírito significa uma alma
imortal e que apenas os humanos a possuem, então deveríamos pressupor que somente os seres
humanos foram eliminados por ocasião do dilúvio, pois a Bíblia relata bem claramente que toda a criatura
em que houvesse espírito-ruach seria desfeita. É evidente que os animais também foram eliminados no
dilúvio, porque eles também possuem espírito-ruach (cf. Gn.6:17; Gn.7:21,22; Gn.7:15; Sl.104:29;
Ec.3:19,20).
Em Gênesis 7:21,22 lemos novamente a confirmação bíblica de que os animais também possuem
espírito-ruach: “E expirou toda a carne que se movia sobre a terra, tanto de ave como de gado e de fera,
e de todo réptil que se roja sobre a terra, e todo homem, tudo o que tinha fôlego de espírito [ruach]
de vida em seus narizes, tudo o que havia na terra seca, morreu” (cf. Gn.7:21,22). Também lemos
no Salmo 104:29 o rei Davi afirmando que os peixes e os outros animais marinhos também possuem
ruach:
“Ó Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra
das tuas riquezas. Assim é este mar grande e muito espaçoso, onde há seres sem número, animais
pequenos e grandes. Ali andam os navios; e o leviatã que formaste para nele folgar. Todos esperam
de ti, que lhes dês o seu sustento em tempo oportuno. Dando-lho tu, eles o recolhem; abres a tua mão,
e se enchem de bens. Escondes o teu rosto, e ficam perturbados; se lhes tiras o fôlego, morrem, e
voltam para o seu pó. Envias o teu espírito, e são criados, e assim renovas a face da terra” (cf.
Salmos 104:24-30)
Diante do contexto, o escritor bíblico inspirado não está falando de seres humanos, mas de animais
marinhos, pequenos e grandes. E o que ele diz? Que, quando Deus retira-hes o fôego (que o original
hebraico traz ruach, espírito!), eles morrem e voltam ao pó! No verso seguinte, é nos dito como eles são
criados: Deus envia-lhes o espírito [ruach], e eles são criados, e quando esse espírito [ruach] lhes é
retirado, eles morrem e voltam ao pó. Ou seja: o que diferencia humanos de animais no quesito da vida
após a morte não é a suposta possessão de um espírito no íntimo do ser, nem a posse de um espírito na
criação ou a retirada dele appós a morte, pois isso tudo isso acontece também com os animais,
mas é o fato de que um ressuscita e o outro não. Daí toda a importância da ressurreição no NT, como
sendo a esperança dos cristãos.
Isso tudo mostra que é fato indiscutível que os animais também possuem o mesmo espírito-ruach
possuído pelos seres humanos. Será que os animais ao morrer irão para o estado intermediário junto
com os homens? Claro que não. Fica claro que espírito significa “vida”, e não um ser inteligente
que sai do corpo na hora da morte. O segundo erro provém do fato de que o espírito é o próprio
fôlego de vida, conforme descrição de Gênesis 2:7 e o paralelismo de Jó 33:4, de Jó 32:8 e de Isaías
42:5. E todos – humanos e animais – possuem o mesmo fôlego, e não fôlegos diferentes:
“Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a
mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos
homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade. Todos vão para o mesmo lugar;
todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó” (cf. Eclesiastes 3:19,20)
O que sucedeu na criação do homem é exatamente o mesmo que aconteceu na criação dos animais:
Deus soprou-lhes o fôlego de vida [espírito] e eles tornaram-se almas viventes. Não há diferença alguma
e nem vantagem nenhuma conosco em relação aos animais que nos permita desfrutar de uma
imortalidade inerente e incondicional diferentemente deles que voltam para o pó. Todos foram feitos do
pó e voltarão para exatamente o mesmo lugar: o pó.
O mais interessante sobre esta última passagem (cf. Ec.3:19,20) é que o autor faz uso do hebraico ruach
(espírito) no mesmo contexto dos seres humanos, dizendo ainda que ambos são iguais! “Todos tem o
mesmo espírito-ruach” (v.19)! O escritor inspirado faz questão de ressaltar o fato de que não apenas o
fôlego-neshamah, como também o espírito-ruach é possuído pelos animais, e, se adiantando a quaquer
objeção imortalista, afirma ainda que o espírito possuído por ambos é o mesmo, refutando qualquer
psosibilidade de o espírito dos humanos ser uma “alma imortal” e dos animais ser uma mera “respiração”!
Ele iguala em absoluto o espírito dos homens com o dos animais dizendo que são a mesma coisa (v.19),
e por consequência disso a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma (v.19), e,
finalmente, conclui dizendo que o local que os homens partem na morte é o mesmo caminho dos animais
(v.20). Francamente, mas apenas uma interpretação textual extremamente tendenciosa e mal feita que
poderia chegar ao ponto de negar o fato óbvio de que o espírito possuído pelos seres humanos não é
diferente daquele que é detido pelos animais, e que em decorrência deste fato ambos perecem
igualmente na morte e tem o mesmo destino: o pó da terra.
Aqui é claramente indicado a nós que o motivo pelo qual o homem não possui vantagem nenhuma sobre
os animais decorre do fato de que ambos possuem o mesmo espírito-ruach. Ora, se o espírito-ruach dos
animais não lhes concede uma imortalidade, então é óbvio que o dos seres humanos também não lhes
dá tal vantagem. Como os defensores da alma imortal fizeram com tão grande prova irrefutavelmente
contra o ensinamento dualista? Simples, adulteraram a tradução. Preferiram tomar a liberdade em
traduzir por “fôlego” antes do que por “espírito”, como deveria ser traduzido. O hebraico tem palavra
exata para ambos, mas Salomão faz menção do ruach [espírito] para os animais e o faz no mesmo
contexto dos seres humanos e igualando-os a estes!
É óbvio que o “espírito” possuído por nós não significa uma alma imortal e muito menos alguma
qualificação em nós presente que nos ofereça vantagem alguma sobre os animais ou que nos leve para
o Céu após a morte. Antes, é nada a mais do que a vida presente não apenas nos seres humanos, como
também nos animais. O destino de ambos é o pó da terra. Felizmente, a Bíblia nos assegura que existirá
a ressurreição dos mortos para todos os seres humanos (cf. Dn.12:2), que acontece na segunda vinda
de Cristo (cf. 1Co.15:22,23). É a ressurreição, e não a possessão de uma “alma” ou um “espírito”, que
nos distinguem dos animais no quesito “morte”.
Devemos também considerar mais alguns fatos importantes a ser mencionados. O primeiro deles é que
se os escritores bíblicos tivessem a ideia de que apenas os humanos possuem espírito e os animais
possuem apenas o “fôlego” (como ensinam os imortalistas), então eles utilizariam essa segunda palavra
para quando relacionado aos animais, pois o hebraico possui palavra para fôlego [neshamah] e para
espírito [ruach]. Mas quando aplicado aos animais, ao invés de mencionarem apenas o fôlego-neshamah,
eles mencionavam o espírito-ruach (cf. Gn.6:17; Gn.7:21,22; Gn.7:15; Sl.104:29)!
E, pior ainda, eles a mencionavam junto com os seres humanos sem fazer a menor distinção entre eles
(cf. Gn.7:15; Gn.6:17; Gn.7:21,22)! E mais, quando o rei Davi foi tratar de peixes, ao invés de ele
mencionar apenas o fôlego (como qualquer imortalista faria), ele faz questão de mencionar o próprio
espírito-ruach (Sl.104:29). Finalmente, se o fôlego é aquilo que dá animação ao corpo e o espírito é uma
alma imortal e consciente, então a estátua de pedra do Apocalipse deveria ter sido revestida de fôlego
para dar animação à imagem, e não de espírito. Vemos, contudo, que o apóstolo João descreve a imagem
de pedra recebendo espírito-pneuma para conceder animação, e não “fôlego” (cf. Ap.13:15)!
Portanto, a não ser que os imortalistas queiram dar lições de Bíblia aos escritores bíblicos, fica mais do
que claro que o espírito que possuímos nada mais é do que o próprio fôlego de vida que nos dá animação
ao corpo formado do pó. Isso explica o paralelismo bíblico entre fôlego e espírito (cf. Jó 33:4; Jó 32:8;
Is.42:5), indicando que ambos tratam-se do mesmo elemento e não de elementos diferentes; ambos
são aquilo que dá animação à matéria, nenhum sendo uma “alma imortal” ou algum elemento eterno
constituído de personalidade, pois até mesmo os animais o possuem.
A imensa dificuldade por parte dos imortalistas em conciliar os conceitos de corpo, alma e espírito com
a Bíblia Sagrada, é que eles usam os conceitos kardecistas e platônicos de dualidade de corpo e alma
com o espírito sendo uma entidade consciente com personalidade. Quando tentam conciliar isso com a
Bíblia (que nos deixa um conceito simples, claro e coerente desses princípios básicos) resulta em uma
total confusão de ideias, pois o dualismo grego de corpo e alma influenciado pelas doutrinas de origens
pagãs não se mistura com as doutrinas bíblicas acerca da criação do homem.
“Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede
a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego [ruach –
espírito], e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade.
Todos vão para o mesmo lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó” (cf. Eclesiastes
3:19,20)
O espírito não é uma entidade que traz consigo vida e personalidade após a morte – Uma prova muito
forte disso é o fato de que, falando de meros peixes, o salmista afirma: “Se lhes cortas a respiração
[ruach], morrem, e voltam ao seu pó” (cf. Sl.104:29). Ora, nem mesmo qualquer imortalista chegaria
ao ponto de alegar que o espírito-ruach dos peixes leva consigo personalidade e consciência na morte.
Dizer que com os seres humanos é totalmente diferente é forçar o texto, pois a mesma expressão é
empregada para ambos (cf. Sl.104:29; Gn.7:15; Gn.7:22; Ec.3:21).
O processo que acontece com os humanos é o mesmo que acontece com os peixes: “Escondes a tua face
- e ficam perturbados, Tu ajunta o seu espírito – eles expiram, e voltam para o pó” (cf. Sl.104:29 -
Young’s Literal Translation). Embora você provavelmente já tenha ouvido algo assim antes com relação
aos seres humanos, essa passagem está falando de meros peixes! Compare, por exemplo, tal passagem
acima (referindo-se a peixes) com o que Jó declara: “Se fosse a intenção dele, e de fato retirasse o seu
espírito e o seu sopro, a humanidade pereceria toda de uma vez, e o homem voltaria ao pó” (cf. Jó
34:14,15).
Veja que o mesmo processo que ocorre com os seres humanos acontece também com os peixes: Deus
retira o seu espírito [ruach], e eles voltam ao pó. Não há a mínima diferença entre o processo que ocorre
com um e o que sucede ao outro. Claro, os imortalistas evidentemente preferiram traduzir na maioria
das vezes “respiração” no Salmo 104:9 para os peixes e “espírito” para os homens em Jó 34:14,15. Mas
a palavra usada no original hebraico é a mesma para ambos [ruach] e o processo que ocorre também é
exatamente o mesmo.
Sendo assim, o “espírito” que Cristo e que Estêvão entregaram a Deus nada mais era do que as suas
vidas humanas que voltavam para Deus que soprou-lhes o fôlego enquanto estes ainda viviam. O espírito
que retorna para Deus é, como vimos, simplesmente o princípio animador da vida que concedido por
Deus tanto para homens como para animais durante a jornada terrestre.
O “espírito” não é o nosso “verdadeiro eu” – Certa vez, vi uma exemplificação que compreende muito
bem os sentidos reais de alma e espírito humanos no contexto da criação. A vida surge quando um corpo
inanimado (pó) se une com a força vital, denominada de ruach (espírito ou respiração). Como resultado
desta união, o homem tornou-se uma alma vivente (cf. Gn.2:7). Em momento nenhum lhe é infundida
uma alma; ao contrário, ele se faz uma alma vivente quando Deus lhes sopra a respiração
[fôlego/espírito] nos seus corpos.
Poderíamos compará-lo com a “eletricidade” nesta analogia. A questão que fica é: O que sucede à alma
vivente, como resultado da junção da respiração com o pó? A resposta para essa pergunta pode ser
ilustrada através da nossa ilustração com a lâmpada. A lâmpada pode ser analogicamente comparada
com o corpo e a eletricidade com o espírito. Enquanto a eletricidade circula por dentro da lâmpada, há
luz. A luz é como a alma vivente, o ser racional. Quando, porém, desligamos o interruptor da luz e a
eletricidade cessa de circular na lâmpada, para onde é que a luz vai?
Simplesmente deixa de existir. Não vai para uma outra dimensão. Ao sair da lâmpada, ela simplesmente
acaba. Igualmente, quando Deus resolve desligar a “eletricidade” da nossa vida, o fôlego deixa de entrar
de entrar em nosso corpo. Para onde vai a alma vivente? Para onde vai a pessoa? Vai imediatamente
para o Céu, para o inferno ou para o purgatório? Não, deixa de existir. Exatamente como a luz. A Bíblia
descreve este estado como um sono pacífico (cf. Sl.13:3).
Mais um outro exemplo elucidativo: a alma é o resultado da junção do pó da terra com o fôlego da vida
(cf. Gn.2:7). Assim, entendemos que não há uma alma viva [vivente] sem o corpo (pó) com o espírito
(fôlego de vida). É como a água, que é a combinação de oxigênio e hidrogênio. Mas se você separar os
dois elementos a água desaparece. Não existe uma alma vivente sem o corpo com o fôlego de vida.
Poderíamos elucidar a questão da seguinte maneira:
LÂMPADA + ELETRECIDADE = LUZ
LÂMPADA – ELETRECIDADE = SEM LUZ
OXIGÊNIO + HIDROGÊNIO = ÁGUA
OXIGÊNIO – HIDROGÊNIO = SEM ÁGUA
PÓ DA TERRA + FÔLEGO DA VIDA [ESPÍRITO] = ALMA VIVENTE [vida]
PÓ DA TERRA – FÔLEGO DA VIDA [ESPÍRITO] = ALMA MORTA [sem vida]
Estêvão conhecia a Bíblia, e sabia que o espírito voltava para Deus que é quem o deu (cf. Ec.12:7). E
quando ele entregou o espírito (cf. At.7:59,60), para onde Estêvão foi? Ele foi para o Céu ou para o
inferno? Ele foi arrebatado? Foi levado para junto de Cristo? Não. A Bíblia diz simplesmente que ele
“adormeceu” (cf. At.7:60). Igualmente, Jesus Cristo entrega o espírito no momento da morte (cf.
Lc.23:46), mas a Bíblia afirma que a sua alma esteve no Sheol (cf. At.2:27), no coração da terra durante
os três dias e três noites em que esteve morto (cf. Mt.12:40), e não no Paraíso! Além disso, declara à
Maria Madalena, após três dias que esteve morto, que ainda não subiu para o Pai (cf. Jo.20:17). Isso
nos revela que o comprometimento de seu espírito (cf. Lc.23:46) não foi o seu regresso ao Pai. O espírito
separado do corpo não é o "real" você!
Na morte, o real volta ao pó (cf. Gn.3:19). O espírito de todos volta para Deus (cf. Ec.12:7), pois foi
Deus quem o deu. Esse é o princípio básico da vida: a vida deriva de Deus, é sustida por Deus e volta
para Deus por ocasião da morte. O corpo se desintegra (volta a ser pó) e o fôlego da vida (espírito), que
Deus assoprou originalmente nas narinas de Adão, retorna para Ele. Esse é um princípio universal de
que Deus recebe o espírito de todos, evidentemente não sendo o nosso “verdadeiro eu”. Outra
designação comum na Bíblia com relação ao sentido de “alma” é de “vida”. A vida é o resultado do que
o homem foi formado (ou seja, pó da terra + fôlego de vida = vida [alma vivente]). Por isso mesmo, em
muitas ocasiões a palavra “alma” é corretamente traduzida simplesmente por “vida” ou como “vida
eterna” no sentido ampliado de alma-psiquê empregado no Novo Testamento.
Tal sentido secundário não adultera o sentido primário simplesmente porque não apresenta nenhuma
contradição com outras verdades bíblicas (como Gênesis 2:7 que narra o simplismo bíblico da alma como
resultado e não como parte da porção), e, ainda mais, é um significado secundário plausível uma vez
que a vida é o resultado dos elementos que tornaram o homem um ser animado. Em outras palavras, se
uma “alma vivente” é simplesmente um “ser vivo”, a alma pode ser assim classificada, então, como a
própria vida humana. Veremos mais detalhes sobre isso neste estudo ao explorarmos algumas passagens
bíblicas tais como, por exemplo, a de Mateus 10:28, usada pelos imortalistas como suposta “prova” da
imortalidade da alma.
O corpo é a alma visível – A partir do relato da criação humana em Gênesis 2:7, podemos perceber
claramente que o homem é uma alma e possui um fôlego de vida que dá a animação ao corpo formado
do pó. O que seria então o “corpo”? Nada mais é do que a alma visível. A alma é a pessoa integral, como
o resultado do corpo formado do pó da terra com a fusão do fôlego de vida [espírito] soprado em suas
narinas para o homem tornar-se um ser vivente. Dito em termos simples, o corpo não é a prisão da
alma, mas reflete a própria alma como visivelmente ela é. O Dr. Hans Walter Wolff faz a seguinte
ponderação:
“O que nephesh [alma] significa? Certamente não a alma [no sentido dualístico tradicional] (...) O homem
não possui nephesh [alma], ele é nephesh [alma], ele vive como nephesh [alma]”2
A Bíblia confirma tal posição relatando inúmeras vezes a morte do corpo como a morte da alma (ver
Lv.19:28; 21:1, 11; 22:4; Nm.5:2; 6:6,11; 9:6, 7, 10; 19:11, 13; Ag.2:13). Nestas passagens, o original
hebraico traz alma [nephesh] embora fosse o corpo (ou “carne”) que jazia morto. Por exemplo: “Todos
os dias da sua consagração para o Senhor, não se aproximará de um cadáver” (cf. Nm.6:6). No original
hebraico dessa mesma passagem lemos: “kol-yemêy hazziyro layhvh `al-nephesh mêth lo' yâbho'” (cf.
Nm.6:6).
Também lemos em Números 9:7 – “Estamos imundos por termos tocado o cadáver de um homem;
por que havemos de ser privados de apresentar a oferta do Senhor, a seu tempo, no meio dos filhos de
Israel?” (cf. Nm.9:7); no original hebraico: “vayyo'mru hâ'anâshiym hâhêmmâh 'êlâyv 'anachnu
2
WOLFF, Hans Walter. Anthropology of the Old Testament. Filadélfia, 1974, p. 1.
themê'iymlenephesh 'âdhâm lâmmâh niggâra` lebhiltiy haqribh 'eth-qorbanAdonay bemo`adho
bethokh benêy yisrâ'êl” (cf. Nm.9:7).
Lemos também em Números 19:11 – “Aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem,
imundo será sete dias” (cf. Nm.19:11); no original hebraico: “hannoghêa` bemêth lekhol-nephesh
'âdhâm vethâmê' shibh`ath yâmiym” (cf. Nm.9:11). E dois versos à frente: “Todo aquele que tocar em
algum morto, cadáver de algum homem, e não se purificar, contamina o tabernáculo do Senhor; essa
pessoa será eliminada de Israel; porque a água purificadora não foi aspergida sobre ele, imundo será;
está nele ainda a sua imundícia” (cf. Nm.19:13). No texto original hebraico: “kol-hannoghêa` bemêth
benephesh hâ'âdhâm 'asher-yâmuth velo'yithchathâ' 'eth-mishkan Adonay thimmê' venikhrethâh
hannephesh hahiv'miyyisrâ'êl kiy mêy niddâh lo'-zoraq `âlâyv thâmê' yihyeh `odhthum'âtho bho” (cf.
Nm.19:13).
Poderíamos ficar o livro todo repassando inúmeras passagens bíblicas que demonstram de maneira clara
que para os hebreus o corpo nada mais era do que a própria alma visível, não tinha absolutamente parte
nenhuma com qualquer segmento imaterial ou imortal. Por isso, o cadáver de um homem era
frequentemente relacionado à alma que jazia morta porque o corpo é a alma visível.
Para Moisés e para os hebreus, a alma nunca foi imortal. Mas, para aquelas pessoas que insistem em se
opor à doutrina da mortalidade bíblica, “estarão em apuros para explicar aquelas passagens que falam
de uma pessoa morta como uma alma-nephesh morta (Lev. 19:28; 21:1, 11; 22:4; Núm. 5:2; 6:6, 11;
9:6, 7, 10; 19:11, 13: Ageu 2:13). Para elas é inconcebível que uma alma imortal possa morrer com o
corpo”3
A alma não é algo imaterial – Nenhum escritor bíblico tinha em mente a crença de que o corpo é a prisão
de uma alma imaterial dentro dele. Isso fica muito claro na Bíblia por inúmeras razões. Em primeiro
lugar, porque a Bíblia afirma que a alma emagrece: “E ele lhes cumpriu o seu desejo, mas enviou
magreza às suas almas” (cf. Sl.106:5). Evidente que, se a alma fosse uma entidade imaterial, então
ela não poderia “emagrecer” de jeito nenhum! É óbvio que a alma é o ser integral do homem e, sendo
assim, ela também emagrece junto com o corpo (lembre-se de que o corpo é a alma visível).
Se a alma emagrece, então ela não é imaterial mas sim algo bem material, que nasce, que cresce, que
emagrece, que engorda, que sente sede, que envelhece e que morre. Se a crença dos escritores bíblicos
fosse de que apenas o corpo que sofre todas essas alterações físicas naturais (como nascer, crescer,
emagrecer, morrer, etc), então o salmista certamente teria empregado a palavra hebraica bashar, que
significa “corpo”, e não nephesh (alma). O mesmo pode ser dito com relação aos demais pontos que
apresentarei a seguir.
Isaías nos diz que “será também como o faminto que sonha, que está a comer, porém, acordando, sente-
se vazio; ou como o sedento que sonha que está a beber, porém, acordando, eis que ainda desfalecido
se acha, e a sua alma com sede; assim será toda a multidão das nações, que pelejarem contra o monte
Sião” (cf. Is.29:8). Uma entidade imaterial não pode sentir sede, pois a sede é uma característica do
corpo físico. No máximo poderia sentir sede em um sentido puramente metafórico, como quando o
salmista afirma que tem “sede de ti [de Deus]” (cf. Sl.143:6). Mas no contexto no qual o texto de Isaías
está inserido percebemos facilmente que se trata não de uma linguagem poética ou alegórica, mas
natural e literal.
3 BACCHIOCCHI, Samuele. Imortalidade ou Ressurreição: Uma abordagem bíblica sobre a natureza e o destino
eterno. Unaspress, 1ª edição, 2007.
Ele fala de pessoas fisicamente famintas que sonham em comer algo, mas que acordam e veem que
estão vazias, e de pessoas com sede que sonham que estão bebendo algo, mas que acordam e ainda
estão desfalecidas, e a sua alma com sede. Sede do que? Sede de Deus? Não, sede de beber algo, como
o contexto indica. Trata-se de pessoas fisicamente com sede, que sonham em estar bebendo algo, mas
acordam e percebem que não beberam nada, que ainda estão desfalecidas fisicamente, que a sua alma
continua com sede. Nisso fica muito claro que a alma é o próprio ser vivente como pessoa, e não algo
imaterial dentro dele.
Outro exemplo semelhante ocorre quando os israelitas murmuravam no deserto na insistência por carne:
“Agora, porém, seca-se a nossa alma [nephesh], e nenhuma cousa vemos senão este maná” (cf.
Nm.11:16). Eles estavam falando de um maná físico, e de uma sede real, não meramente de algo
simbólico ou em algum sentido espiritual. Portanto, a alma que está seca se refere ao próprio físico que
clama por outra comida além do maná. Ou seja, a alma é identificada novamente como sendo algo físico
e visível na forma do corpo, e não em uma substância imaterial residente dentro do corpo.
Existem muitas coisas que um elemento imaterial não pode fazer. Uma dessas é chorar, por exemplo.
Contudo, lemos na Bíblia que a alma de tristeza verte lágrimas: “Chora de tristeza a minha alma;
reconfortai-me segundo vossa promessa” (cf. Sl.119:28). Se a alma derrama lágrimas, então ela não é
imaterial. Nada há nas Escrituas nada que possa mostrar que a alma é um segmento imaterial na
natureza do homem, afinal, se assim fosse esperaríamos que ela não pudesse derramar lágrimas, uma
vez sendo isso um fenômeno natural, material, físico, visível.
Além disso, a Bíblia afirma categoricamente que a alma desce à cova após a morte (cf. Jó
33:18,22,28,30; Is.38:17; Sl.94:17). Se a alma fosse algo imaterial, então ela de maneira nenhuma
poderia descer à sepultura na morte (ela deveria era subir ao Céu ou ir para o inferno). Também sabemos
que a Bíblia afirma inúmeras e incansáveis vezes que a alma morre, e uma entidade imaterial não pode
falecer (ver a morte da alma em Nm.31:19; Nm.35:15,30; Js.20:3,9; Jo.20:3,28; Gn.37:21; Dt. 19:6,
11; Jr.40:14,15; Jz.16:30; Nm.23:10; Ez.18:4,20; Jz.16:30; Nm.23:10; Mt.10:28; Ez.22:25,27; Jó
11:20; At.3:23; Tg.5:20, etc).
Jó fala que “se comi os seus frutos sem dinheiro, e sufoquei a alma dos seus donos, por trigo me
produza cardos, e por cevada joio. Acabaram-se as palavras de Jó” (cf. Jó 31:39,40). “Sufocar a alma”
significa sufocar a própria pessoa, porque algo imaterial não pode ser sufocado. Por fim, a Bíblia declara
a alma como em Gênesis 2:7: uma pessoa, e não uma entidade imaterial. Assim podemos entender que
Abraão “tomou a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e
as almas que lhe acresceram em Harã; e saíram para irem à terra de Canaã; e chegaram à terra de
Canaã” (cf. Gn.12:5). Abraão não estava tomando para si substâncias imateriais, mas sim algo bem
material, pessoas, de carne e osso.
Concluímos, pois, que a alma não é um segmento imaterial, mas sim a própria vida humana como o
resultado da junção do pó da terra com o fôlego de vida (para dar animação ao corpo morto), resultando
em um ser vivo. Enquanto o dualismo platônico ensina que a alma-psiquê é algo imaterial, intangível,
invisível, eterno e imortal, as Sagradas Escrituras apresentam a alma como referência a criaturas
terrestres, incluindo os animais, referindo-se a algo bem material, tangível, visível e mortal.
Sumariando, corpo e alma não são duas pessoas dentro de um único ser (um mortal e outro imortal),
mas sim duas características da mesma pessoa. A alma é a sede dos pensamentos, que também perecem
com a morte (cf. Sl.146:4). O corpo é um homem como um ser concreto. Isso não significa dualismo
entre corpo e alma, mas sim duas características da mesma pessoa.
Como disse Dom Wulstan Mork:
“Não havia a dicotomia grega de alma e corpo, de duas substâncias opostas, mas uma unidade, homem,
que é bashar [corpo] de um aspecto e nephesh [alma] de outro. Bashar, pois, é a realidade concreta da
existência humana, nephesh é a personalidade da existência humana”4
De fato, a própria Enciclopédia Católica fez uma interpretação muito feliz daquilo que realmente significa
“alma”, sem ter parte com algum segmento imaterial preso dentro do homem:
“Nephesh [né·fesh] é um termo de muito maior extensão do que nossa ‘alma’, significando vida (Êx
21.23; Dt 19.21) e suas várias manifestações vitais: respiração (Gn 35.18; Jó 41.13,21), sangue [Gn
9.4; Dt 12.23; Sl 140(141).8], desejo (2 Sm 3.21; Pr 23.2). A alma no Antigo Testamento significa, não
uma parte do homem, mas o homem inteiro — o homem como ser vivente. Similarmente, no Novo
Testamento significa vida humana: a vida duma entidade individual, consciente (Mt 2.20; 6.25; Lu 12.22-
23; 14.26; Jo 10.11, 15, 17; 13.37)”5
A alma na cova – Outro fator importante que mostra que os escritores do Antigo e do Novo Testamento
não imaginavam uma natureza dualista do ser humano é a resposta para a pergunta: para onde vai o
corpo quando morre? Biblicamente, para a cova, a sepultura. De acordo com os imortalistas, a alma tem
um destino diferente do corpo, prosseguindo de imediato ao Céu ou ao inferno.
Sendo a alma a própria pessoa integral como o resultado do pó da terra com o fôlego de vida, entendemos
que não há uma alma viva sem a combinação de corpo e espírito. Sem corpo não há uma alma vivente
e sem espírito também não há alma viva. O que a Bíblia diz a respeito disso? A alma regressa ao lugar
de silêncio (a sepultura) ou seria levada para tormentos eternos ou imediatamente ao Céu, tendo
destinos diferentes do corpo? No livro de Jó temos a resposta a esta questão:
“Para apartar o homem do seu designo e livrá-lo da soberba; para livrar a sua alma da cova, e a sua
vida da espada” (cf. Jó 33:18). Como vemos, o lugar para onde a alma regressaria seria à cova
(sepultura), e não para uma outra dimensão! Também continuamos lendo no mesmo capítulo: “Sua
alma aproxima-se da cova, e sua vida, dos mensageiros da morte” (cf. Jó 33:22). Novamente é
relatado o fato bíblico de que o lugar para onde a alma se aproxima não é para o Céu ou para o inferno,
mas para a cova. E novamente continuamos lendo:
“Ele resgatou a minha alma, impedindo-a de descer para a cova, e viverei para desfrutar a luz” (cf.
Jó 33:28). A clareza da linguagem é tão evidente que não necessita de maiores elucidações. O lugar para
onde a alma iria era para a cova, não era o destino apenas do corpo! Por que Eliú no livro de Jó omite
completamente que a alma suba consciente para o Céu, inferno, ou qualquer outro canto, mas diz que
ela desce para a cova?
Ele estava tentando enganar os teólogos da doutrina da imortalidade? Bom, talvez. Mas, apesar de ter
todas as possibilidades de narrar a sobrevivência da alma à parte do corpo, já assegurada em algum
lugar “entre os salvos”, ele afirma de maneira categórica que o local da alma é na cova. Ele manifesta
claramente a sua visão holista bíblica de que a alma não tem destinos diferentes do corpo após a morte. Ademais, além de relatar
que a sua alma desceria para a cova caso morresse, ele ainda afirma que, uma vez que continua com vida, “viverei para desfrutar
a luz”.
4 MORK, Dom Wulstan. The Biblical Meaning of Man. Milwaukee, Wisconsin, 1967, p. 34.
5 New Catholic Encyclopedia, 1967, Vol. XIII, p. 467.
Em outras palavras, caso ele morresse já não veria mais luz nenhuma! Como se isso tudo não fosse suficientemente
claro, o salmista declara o mesmo ponto de vista do livro de Jó, assumindo exatamente a mesma posição
de que não é apenas o corpo que jaz na sepultura, mas a alma também: “Se o Senhor não fora em meu auxílio,
já a minha alma habitaria no lugar do silêncio” (cf. Sl.94:17). Ora, qual era o lugar do silêncio no qual o salmista declara que
partiria a sua alma?
Evidentemente não é uma referência ao Céu com altos louvores e muito menos aos terrores e gritarias do fogo do inferno; sendo,
antes, uma clara referência à sepultura, o verdadeiro lugar do silêncio para o qual o salmista afirma categoricamente que não o
corpo tão somente, mas também a alma partiria após a morte. Quando o rei Ezequias estava à beira da morte, ele relata a sua
convicção de que a sua alma partiria para a cova, para a corrupção:
“Foi para minha paz que tive eu grande amargura; tu, porém, amaste a minha alma e a livraste da
cova da corrupção, porque lançaste para trás de ti todos os meus pecados” (cf. Is.38:17). O Senhor livrou
a sua alma de ir para onde? Pro Céu? Pro inferno? Pro purgatório? Não, de ir pra cova. Ezequias sabia que o destino de sua alma
seria para a cova, para o lugar de corrupção. Por isso mesmo, ele clama pela manutenção de sua vida no capítulo inteiro (cf. Isaías
38). No Salmo 88:3, o salmista expressa a mesma ideia:
“Porque a minha alma está cheia de angústia, e a minha vida se aproxima da sepultura” (cf. Sl.88:3).
Outro fato interessante encontra-se no Salmo 49:8,9, que diz: “Pois o resgate da alma deles é caríssima,
e cessará a tentativa para sempre, para que viva para sempre e não sofra decomposição” (cf.
Sl.49:8,9). Aqui fica claro que a alma também pode sofrer decomposição; contudo, é passível de ser
resgatada [na ressurreição] para viver para sempre e não sofrer decomposição [na sepultura].
Com toda a clareza necessária, a Bíblia não deixa espaços para a heresia de que o corpo é a prisão de uma alma imaterial e imortal
que tem destinos diferentes após a morte partindo para o Céu ou para o inferno. Antes, a alma, como é a própria pessoa humana
como o resultado do pó da terra com o fôlego da vida (cf. Gn.2:7), jaz na sepultura. Não obstante a isso, o salmista afirma: “Na
prosperidade repousará a sua alma, e a sua descendência herdará a terra” (cf. Sl.25:13). A alma
também “repousa”, não é só o corpo que dorme!
Muito embora os escritores bíblicos tivessem a sua disposição a plena condição de relatar que o corpo somente é que desce a
cova ou que “repousa”, eles insistem em declarar que a alma [nephesh] desce a cova, a corrupção, ao silêncio. Ponderamos: iriam
todos eles relatar que a alma jaz na cova caso tivessem em mente que após as suas mortes a sua alma partiria logo para qualquer
lugar, menos para a cova?
É óbvio que não! A crença dos escritores bíblicos era de uma natureza holista e não dualista do ser humano, de modo que a alma
não escapava da sepultura. É digno de nota, também, o fato de que nunca em passagem nenhuma da Bíblia há qualquer declaração
de algum relato da alma subindo ao Céu ou descendo para o inferno. Em absolutamente todas as vezes em que alguém relata o
local onde a sua alma partiria com a morte, diz respeito somente a sepultura.
Evidentemente a alma descer para a cova é a conclusão dos escritores bíblicos diante do fato de que a alma morre, e é exatamente
isso o que veremos a seguir. Afinal, “que homem há, que viva, e não veja a morte? Livrará ele a sua alma do
poder da sepultura?” (cf. Sl.88:48). Não! Ninguém! Todos os homens são mortais e não tem uma vida
inerentemente imortal; a alma de todos está sujeita ao poder da sepultura! O salmista deixa nítido que
todos os homens morrem e descem à sepultura, e que esta morte não se resume apenas ao corpo, mas
também à alma, fazendo a pergunta retórica: “livrará ele a sua alma do poder da sepultura”?
Diante de tudo isso, apenas alguém bem mal intencionado para acreditar que os escritores bíblicos
acreditavam que a alma tinha destinos diferentes do corpo após a morte, uma vez que a Bíblia apresenta
tantas vezes não só a morte da alma, mas também a sua descida ao silêncio e a cova (sepultura), bem
como que a alma está “repousando”. Sendo assim, a visão bíblica, como vimos, é holista, e não dualista.
Paralelismo entre corpo e alma - Somente aquele que entende que corpo e alma são duas características
da mesma pessoa e não duas coisas opostas, entenderá o paralelismo bíblico entre corpo e alma: “Ó
Deus, tu és o meu Deus forte, eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de Ti; meu corpo Te
almeja” (cf. Sl.63:1). Corpo e alma não são dois opostos; doutra forma seria impossível que eles fossem
colocados intercambiavelmente. Isso seria uma afronta para a doutrina dualista, que prega
exatamente o contrário disso, isto é, que corpo e alma são dois opostos, dois extremos distintos, material
e imaterial, mortal e imortal.
Qual nada, ambos são colocados intercambiavelmente em um paralelismo bíblico, porque são duas
manifestações da mesma pessoa, e não formas diferentes de existência. Nisso fica muito claro a visão
bíblica holista em detrimento da doutrina dualista. Colocar corpo e alma intercambiavelmente como
paralelismo seria uma completa afronta à visão grega dualista, que prega exatamente o inverso disso,
isto é, que um é antagônico – oposto – ao outro.
O mesmo paralelismo é feito no Salmo 84:2 entre alma, coração e carne e também em Jó 14:22 incluindo
corpo e alma. Devemos sempre lembrar que, de acordo com o dicionário, paralelismo é “um
encadeamento de funções sintáticas idênticas ou um encadeamento de orações de valores sintáticos
iguais. Orações que se apresentam com a mesma estrutura sintática externa, ao ligarem-se umas às
outras em processo no qual não se permite estabelecer maior relevância de uma sobre a outra”6
.
Paralelismo é, portanto, quando duas linhas expressam o mesmo pensamento em linguagem
ligeiramente diferente, ou quando o pensamento da primeira linha é completado, ampliado ou
intensificado na segunda, tendo a mesma aplicação prática. Noutras palavras, se corpo e alma fossem
dois distintos opostos como pregam os dualistas (o corpo mortal e a alma imortal; o corpo corruptível e
a alma incorruptível; o corpo material e a alma imaterial), então o que esperaríamos seria justamente
uma antítese, isto é, um contraste nítido entre ambos que expressaria tal discrepância.
Contudo, o que vemos na Bíblia é que corpo e alma são usados intercambiavelmente como paralelismo,
porque não são dois opostos e nem duas “pessoas” dentro de um único ser, mas sim duas características
da mesma pessoa, pois os dois estão intimamente relacionados; o corpo é a forma exterior da alma e a
alma é a vida interior do corpo humano. Por isso, eles não são opostos (como ensinavam os gregos
dualistas), mas intercambiáveis (como apregoa o holismo bíblico). Tal definição fere gritantemente o
conceito platônico da “alma imortal”.
A sede dos pensamentos – Alguma parte dos defensores da imortalidade da alma sustentam que o fato
dela ser utilizada biblicamente como fonte dos pensamentos humanos significa que ela é um segmento
imortal. Sustentam a diferença entre a parte mortal (que não pensa) e a imaterial implantada por Deus
(que comanda os sentimentos humanos). Essa conclusão, contudo, carece inteiramente de respaldo
teológico. Isso porque o coração também é utilizado biblicamente como sede dos pensamentos, ainda
mais do que a própria alma.
Por exemplo, é nos dito que o coração é sede de alegria (cf. Pv.27:11), coragem (cf. Sm.17:10), tristeza
(cf. Ne.2:2), desânimo (cf. Nm.32:7), perturbação (cf. 2Rs.6:11), tenção (cf. Is.35:4), ódio (cf.
Lv.19:17), amor (cf. Dt.13:3), confiança (cf. Pv.31;11), generosidade (cf. 2Cr.29:31), inveja (cf.
Pv.23:17). O coração estremece (cf. 1Sm.28:5), excita-se (cf. Sl.38:10), desmaia (cf. Gn.45:26), adoece
(cf. Pv.13:13), desfalece (cf. Gn.42:28), agita-se (cf. Pv.13:12).
6 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Paralelismo_sint%C3%A1tico>. Acesso em: 15/08/2013.
Em outras ocasiões, o coração é claramente indicado como sendo a fonte dos pensamentos e sentimentos
do ser humano: “Pois do coração procedem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as
imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias” (cf. Mt.15:39). Por isso mesmo,
“sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (cf.
Pv.4:23). E quando Davi diz a Salomão: "E você, meu filho Salomão, reconheça o Deus de seu pai, e
sirva-o de todo o coração e espontaneamente, pois o Senhor sonda todos os corações e conhece a
motivação dos pensamentos” (cf. 1Cr.28:9).
Portanto, se a alma é imortal porque em determinadas ocasiões é utilizada como fonte de sentimentos
e emoções, então o coração certamente não pode deixar de ser também. O próprio fato de organismos
materiais que perecem com a morte do corpo serem utilizados como sede dos pensamentos juntamente
com a alma, nos mostra que ambos não são duas partes distintas (uma pensante e outra matéria
irracional), mas sim duas manifestações do mesmo ser mortal.
Não existe um aspecto espiritual em contraposição ao físico, nem o ser “interior” em oposição ao
“exterior”, mas sim o ser como criatura viva, consciente e pessoal. O paralelismo bíblico entre alma e
coração como sede dos pensamentos nos mostra que eles não são duas entidades distintas, mas
consistem em duas maneiras de se referir a si próprio. Os escritores bíblicos se utilizavam de paralelismo
entre coração e espírito como sede dos sentimentos: “O coração alegre é bom remédio, mas o espírito
abatido faz secar os ossos” (cf. Pv.17:22).
E também de paralelismo entre coração e alma: “O Senhor, o seu Deus, está pondo vocês à prova para
ver se o amam de todo o coração e de toda a alma” (cf. Dt.13:3). Tal paralelismo entre coração e alma
nos mostra que ambos são tão somente agentes materiais utilizados intercambiavelmente ao tratar-se
dos pensamentos e sentimentos humanos. O coração e a alma não são dois opostos (um material e outro
imaterial; um mortal e outro imortal), mas dois agentes que estão intimamente ligados entre si, sendo
duas características da mesma pessoa, e não entidades opostas.
Isso nos permite perfeitamente acentuarmos o parelelismo entre alma e coração e colocarmos ambos
como sede dos pensamentos, o que infelizmente não é possível no modelo dualista tradicional. A verdade
bíblica é a de que o sopro de Deus que nos traz fôlego de vida é visivelmente presente na forma da
respiração, e a alma é visivelmente presente na forma do corpo. Por isso, corpo, alma, espírito e coração
não são opostos e nem distintos, mas características da mesma pessoa, o ser integral holista do ser
humano. A Bíblia Sagrada, em sua totalidade, contradiz gritantemente os conceitos platônicos da “alma
imortal”.
IV–A morte da alma
No Antigo Testamento – A Bíblia relata a morte da alma tantas inúmeras vezes que eu tive que resumir
citações condensadas aqui ao invés de passar uma a uma. O arsenal bíblico da morte da alma é tão
significativo ao ponto de nenhum exegeta sério poder contestar que este é um fato. Ela não sobrevive a
parte do corpo, mas, pelo contrário, morre com ele, pelo que não existe “alma vivente” sem o corpo com
o fôlego de vida. Quando o fôlego de vida [espírito] é retirado, nós que somos almas viventes nos
tornamos almas mortas. É por isso que a Bíblia fala tão frequentemente na morte da alma também.
No Antigo Testamento, os escritores bíblicos quase cansaram de falar que a alma morre. No texto original
hebraico, a alma morria, era transpassada, podia ser morta, morria para esta vida e morria para a
próxima, a alma morria a toda hora. Josué conseguiu o “feito” de exterminar muitas almas... (ver Josué
10:28 no original hebraico: “Ve'eth-maqqêdhâh lâkhadh yehoshua` bayyom hahu' vayyakkehâlephiy-
cherebh ve'eth-malkâh hecherim 'othâm ve'eth-kâl-hannephesh 'asher-bâh lo' hish'iyr sâriydh vayya`as
lemelekh maqqêdhâh ka'asher `âsâhlemelekh yeriycho”).
A tradução literal ficaria assim: “Naquele dia tomou Maquedá. Atacou a cidade e matou o rei a espada e
exterminou toda a alma que nela vivia, sem deixar sobreviventes. E fez com o rei de Maquedá o que
tinha feito com o rei de Jericó”. E não foi só essa vez que Josué conseguiu o feito extraordinário de matar
não só o corpo, mas a alma também: em Josué 10:30, 31, 34, 36 e 38, a alma costumava morrer
sempre. No original hebraico, Josué “matou a espada todas as almas” (cf. Js.10:30), e “exterminou
toda a alma” (cf. Js.10:28). Definitivamente, se existia uma imortalidade da alma, então Josué deveria
ganhar uma medalha de honra ao mérito por tais feitos.
Se alguém “matava uma alma acidentalmente”, podia fugir para uma cidade de refúgio (cf. Js.20:3).
Era possível aniquilar uma alma sem intenção (cf. Js.20:9). A alma morria tantas vezes, que uma
referência completa a todas as passagens nos faria superar os limites de escopo deste livro. É claro que
a maioria das versões bíblicas a nossa disposição simplesmente não traduzem a palavra “alma” como
colocada no original hebraico [nephesh] pelo simples fato de que isso seria uma afronta à teoria
imortalista de que é só o corpo que morre e a alma não. Os personagens bíblicos não acreditavam que
seria apenas o corpo que morreria, pois eles categoricamente afirmam: “Quem contará o pó de Jacó e o
número da quarta parte de Israel? Que a minha alma morra da morte dos justos, e seja o meu fim
como o seu” (cf. Nm.23:10).
Veja que ele não diz: “que meu corpo morra a morte dos justos”, o que presumivelmente seria a única
coisa que os defensores da imortalidade da alma afirmariam. A própria alma não escaparia da morte, e
essa era a tão forte convicção de toda a Bíblia. A esperança deles não era que as suas almas fossem
imortais, mas sim que elas morressem as mortes dignas dos justos, isto é, com honra. Este seria o fim
deles, e não um início de uma nova existência!
Tal convicção de que a alma também não escapa da morte pode ser encontrada mais inúmeras vezes:
“Dai-me um sinal seguro de que salvareis meu pai, minha mãe, meus irmãos, minhas irmãs e todos os
que lhe pertencem e livrareis as nossas vidas da morte” (cf. Js.2:13). Caso os israelitas atacassem Jericó,
as “vidas” da família de Raabe seriam mortas. Poucos sabem, contudo, que o original hebraico verte
novamente a morte da alma-nephesh ao invés de “vida” como é traduzido por muitas versões. A Versão
King James é uma das versões que traduzem nesta passagem corretamente a morte da alma, como
sendo o próprio término da vida, a cessação da existência.
Em Deuteronômio 19:11, a tradução em português assim reza: “Mas, se alguém odiar o seu próximo,
ficar à espreita dele, atacá-lo e matá-lo, e fugir para uma dessas cidades...”. Contudo, o original
hebraico traz novamente a morte da alma: “Vekhiy-yihyeh 'iysh sonê'lerê`êhu ve'ârabh lo veqâm `âlâyv
vehikkâhu nephesh vâmêth venâs'el-'achath he`âriym hâ'êl”. “Matá-lo” aqui é a tradução do original
hebraico que traz nephesh: matar a alma!
Em Jó 27:8, quando lemos que Deus eliminaria os ímpios, tirando a sua vida, o original traduz por “tira
a alma” [nephesh]: “Pois, qual é a esperança do ímpio, quando é eliminado, quando Deus lhe tira a alma
[nephesh]”? O fato bíblico é que “a alma que pecar, essa morrerá” (cf. Ez.18:4; Ez.18:21). Se Deus
tivesse feito a alma imortal, teria dito a Ezequiel que “a alma que pecar viverá eternamente em estado
desencarnado”; ou, então, diria que “a alma que pecar nunca morrerá”! Contudo, vemos que nem
mesmo a alma está isenta da morte.
Os autores bíblicos usavam e abusavam da morte da alma. Outro fato interessante encontra-se no Salmo
49:8,9, que diz: “Pois o resgate da alma deles é caríssima, e cessará a tentativa para sempre, para que
viva para sempre e não sofra decomposição” (cf. Sl.49:8,9). Se a alma fosse algo à parte do corpo
que se desliga deste por ocasião da morte, então ela jamais poderia em circunstância alguma sofrer
decomposição. O que deveria sofrer decomposição seria o corpo, somente, e não a alma. Contudo, o
verso 8 faz menção a nephesh - alma!
A verdade é que no original hebraico a alma é explicitamente morta: “Para que nelas se acolha aquele
que matar alguém [nephesh] involuntariamente” (cf. Nm.35:15). Evidentemente o hebraico nephesh
[alma] nunca é traduzido na maior parte das versões pelo simples fato de que isso iria suscitar o
questionamento de que a alma claramente morre com a morte do corpo. Por isso, traduzem até o “matar
alguém”... e daí pulam imediatamente para o: “...involuntariamente”.
Não traduzem por “matar alguma alma”, pois desta forma é muito mais fácil enganar os leitores que não
tem como descobrir usando apenas a linguagem disponível no texto em português se o verso verte a
morte apenas do corpo ou também da alma. O que bem podemos observar, ao longo de toda a Bíblia, é
que a alma morre tanto quanto o corpo (ou até mais), mas isso é escondido dos leitores pela maioria
das traduções. Tais casos semelhantes ocorrem inúmeras vezes nas Escrituras.
Alguns, na tentativa de provar que a alma é imortal, argumentam usando o texto de 1ª Reis 17:21-22,
que assim diz: “E estendendo-se três vezes sobre o menino, clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor meu
Deus, rogo-Te que faças a alma deste menino tornar a entrar nele. E o Senhor atendeu à voz de Elias;
e a alma do menino tornou a entrar nele, e reviveu” (cf. 1Rs.17:20-22). Mas, na realidade, tudo o que
este texto nos mostra é que a alma do menino, que estava morta, voltou a ter vida – ele tornou-se
novamente um ser vivente, uma alma vivente. Corrobora com isso a variante linguística do texto, como
observa o Dr. Samuelle Bacchiocchi:
“Esta leitura, que se acha à margem da versão AV, apresenta uma construção linguística diferente. O
que retorna às partes interiores é a respiração. A alma como tal nunca se liga a algum órgão ‘interior’ do
corpo. O retorno da respiração às partes interiores resulta no reavivamento do corpo, ou, poderíamos
dizer, faz com que se torne uma vez mais uma alma vivente”7
Concorda com isso também o significado secundário de alma como sendo "vida". Cristo disse que aquele
que queria segui-lo teria que odiar a sua alma-psiquê (cf. Jo.12:25). Odiar a "si mesmo"8
ou a um
elemento imortal que o próprio Deus tenha implantado no homem, como creem os imortalistas, não faz
qualquer sentido, razão pela qual a maioria das traduções bíblicas tem vertido a passagem por "vida"9
.
Isso é o mesmo que ocorre em 1ª Reis 17:22, onde alma aparece no sentido de vida. A "vida" voltou ao
menino, como diz a NVI: "O Senhor ouviu o clamor de Elias, e a vida voltou ao menino, e ele viveu"
(cf. 1Rs.17:22), e desta forma ele passou a ser uma alma vivente novamente, não mais uma alma
morta10
. Sobre isso, Bacchiocchi acrescenta:
“Até mesmo o Interpreter’s Dictionary of the Bible [Dicionário bíblico do intérprete], de concepção liberal,
em seu verbete sobre a morte declara explicitamente: ‘A partida do nephesh [alma] deve ser vista como
uma figura de linguagem, pois não continua a existir independentemente do corpo, mas morre com ele
7 BACCHIOCCHI, Samuele. Imortalidade ou Ressurreição: Uma abordagem bíblica sobre a natureza e o destino
eterno. Unaspress, 1ª edição, 2007.
8 Cristo disse para amar o próximo como a si mesmo (cf. Mt.22:39), e não para odiar a si mesmo, o que seria uma
contradição.
9 Tal como fazem a Almeida Revisada e Imprensa Bíblica, a Nova Versão Internacional e a Sociedade Bíblica
Britânica, além das versões católicas Ave Maria, a Bíblia de Jerusalém e versão da CNBB.
10 Algum imortalista poderia aproveitar essa ocasião para objetar dizendo que "alma" também deveria ser traduzida
por "vida" nas mais de 58 citações explícitas onde ela morre, como se resolvesse o problema da morte da alma.
Contudo, "matar a vida" não faz qualquer sentido, mostrando que nessas ocasiões alma aparece em seu significado
primário, de um ser vivo, e eliminando aqui a possibilidade de se tratar de um elemento imortal que sobrevive à parte
do corpo após a morte, que é o significado principal de alma na visão imortalista.
(Núm. 31:19; Juí. 16:30; Eze. 13:19). Nenhum texto bíblico autoriza a declaração de que a ‘alma’ é
separada do corpo no momento da morte. O ruach, ‘espírito’, que faz do homem um ser vivente (cf. Gên.
2:7), e que ele perde por ocasião da morte, não é, falando-se apropriadamente, uma realidade
antropológica, mas um dom de Deus que retorna a Ele ao tempo da morte. (Ecl. 12:7)’”11
Além disso, aquele que matasse alguma alma deveria ficar sete dias fora do arraial: “Acampai-vos por
sete dias fora do arraial; todos vós, tanto o que tiver matado alguma alma [nephesh], como o que
tiver tocado algum morto” (cf. Nm.31:9). Se tais “exterminadores de alma” vivessem no século presente
e vissem o que o conceito de “alma” se tornou após a adoção universal do conceito platônico para este
termo, iriam ficar realmente assombrados em descobrir que mataram almas imortais!
A morte do corpo está sempre ligada à morte da alma porque o corpo é a forma visível da alma. Nós não
temos uma alma presa dentro de nós que é liberta por ocasião da morte; nós somos essa “pessoa” que
morre e que revive por ocasião da ressurreição (cf. Ap.20:4)! É por isso que, quando Josué conquistou
as várias cidades além do Jordão, a Bíblia nos diz repetidas vezes que “ele destruiu totalmente toda
alma [nephesh]” (cf. Js.10:28, 30, 31, 34, 36, 38). Definitivamente não haviam avisado Josué que no
máximo o que ele matou foi somente um corpo!
Em Deuteronômio 11:9, lemos que “havendo alguém que aborrece o seu próximo, e lhe arma ciladas, e
se levanta contra ele, e o fere de golpe mortal, e se acolhe a uma destas cidades...”. A frase “o fere de
golpe mortal” é uma infeliz tradução do original hebraico que diz “fere a alma-nephesh mortalmente”.
Jamais poderíamos imaginar que um cidadão iria com a sua espada transpassar tanto um indivíduo num
combate ao ponto de matar até a alma “imortal” e imaterial que essa pessoa possui dentro dela! É nítido
que a alma não era crido como sendo algo imaterial com imortalidade preso dentro de nós, o que também
fica claro em Jeremias:
“Então disse eu: Ah, Senhor Deus! Verdadeiramente enganaste grandemente a este povo e a Jerusalém,
dizendo: Tereis paz; pois a espada penetra-lhe até à alma” (cf. Jr.4:10). Se a alma fosse algo
imaterial, não poderia ser atingida por objeto algum material e nem ser penetrada! Uma entidade imortal
e imaterial não pode ser ferida com espada ou algum outro instrumento; contudo, lemos que “vos
estejam à mão cidades que vos sirvam de cidades de refúgio, para que ali se acolha o homicida que ferir
a alguma alma [nephesh] por engano” (cf. Nm.35:11).
Aqui o “ferir” é propriamente a morte, porque o que a atinge é um homicida. Obviamente a morte do
corpo é a morte da alma, pelo fato de que a alma não é um segmento imaterial que não pode ser atingido
e nem destruído. Nenhum autor bíblico acreditava que existia uma alma imortal e imaterial presa dentro
do nosso corpo, pois, se assim fosse, então a alma jamais e em circunstância alguma poderia ser morta
e nem destruída em hipótese nenhuma!
Isaías fala a respeito de Jesus nessas palavras: “Por isso lhe darei a sua parte com os grandes, e com os
fortes ele partilhará os despojos; porque derramou a sua alma até a morte, e foi contado com os
transgressores. Contudo levou sobre si os pecados de muitos, e intercedeu pelos transgressores” (cf.
Is.53:12). Comentando essa passagem, o Dr. Samuelle Bacchiocchi afirma: “’Ele derramou’ é versão do
hebraico arah que significa ‘esvazia, desnudar, ou deixar a descoberto’. Isso significa que o Servo
Sofredor esvaziou-Se de toda a vitalidade e força da alma. Na morte, a alma não mais funciona como o
princípio animador da vida, mas descansa na sepultura”12
11 BACCHIOCCHI, Samuele. Imortalidade ou Ressurreição: Uma abordagem bíblica sobre a natureza e o destino
eterno. Unaspress, 1ª edição, 2007.
12 ibid.
De qualquer forma, eles não insistiriam tanto na morte da alma, com os tradutores bíblicos na grande
maioria dos casos traduzindo por “pessoa” ao invés de “alma-nephesh”, como deve ser traduzido,
presumivelmente por causa de crerem que a alma é imortal e não pode ser morta, contrariando a Bíblia
toda (cf. Nm.31:19; 35:15,30; Js.20:3, 9; Gn.37:21; Dt.19:6, 11; Jr.40:14, 15; Jz.16:30; Nm.23:10;
Ez.18:4; Ez.18:21). Em Números 31:19, lemos que a morte do corpo é a morte da alma:
“Acampai-vos sete dias fora do arraial; qualquer de vós que tiver matado alguma pessoa [nephesh] e
qualquer que tiver tocado em algum morto, ao terceiro dia e ao sétimo dia, vos purificareis, tanto vós
como os vossos cativos” (cf. Nm.31:19). O original novamente traz a morte da alma: “Ve'attem chanu
michutslammachaneh shibh`ath yâmiym kol horêgh nephesh vekhol noghêa` bechâlâltithchathe'u
bayyom hasheliyshiy ubhayyom hashebhiy`iy 'attem ushebhiykhem”.
Qualquer erudito familiarizado com as Escrituras também irá se deparar repetidamente com a forte
convicção bíblica de que, caso as pessoas morressem, as suas almas não escapariam da morte. Isso
explica o porquê que, em tantos casos, vemos os salmistas agradecendo a Deus por ter livrado a alma
deles da morte, prolongando os dias de vida deles, ou, então, dizendo que a sua alma morreria a morte
dos justos:
“Porque tu livraste a minha alma da morte, os meus olhos das lágrimas, e os meus pés da queda” (cf.
Sl.116:8).
“Para lhes livrar as almas da morte, e para os conservar vivos na fome” (cf. Sl.39:19)
“Pois tu livraste a minha alma da morte; não livrarás os meus pés da queda, para andar diante de
Deus na luz dos viventes?” (cf. Sl.56:13)
“Quem contará o pó de Jacó e o número da quarta parte de Israel? Que a minha alma morra da morte
dos justos, e seja o meu fim como o seu” (cf. Nm.23:10)
“E a sua alma se vai chegando à cova, e a sua vida aos que trazem a morte” (cf. Jó 33:22)
“Portanto guardareis o sábado, porque santo é para vós; aquele que o profanar certamente morrerá;
porque qualquer que nele fizer alguma obra, aquela alma será eliminada do meio do seu povo” (cf.
Êx.31:14)
“Preparou caminho à sua ira; não poupou as suas almas da morte, mas entregou à pestilência as
suas vidas” (cf. Sl.78:50)
“E sucedeu que, importunando-o ela todos os dias com as suas palavras, e molestando-o, a sua alma
se angustiou até a morte” (cf. Jz.16:16)
“Conspiração dos seus profetas há no meio dela, como um leão que ruge, que arrebata a presa; eles
devoram as almas; tomam tesouros e coisas preciosas, multiplicam as suas viúvas no meio dela” (cf.
Ez.22:25)
“E naquele mesmo dia tomou Josué a Maquedá, feriu-a a fio de espada, e destruiu o seu rei, a eles, e a
toda a alma que nela havia; nada deixou de resto: e fez ao rei de Maquedá como fizera ao rei de
Jericó” (cf. Js.10:28)
“Os seus príncipes no meio dela são como lobos que arrebatam a presa, para derramarem sangue, para
destruírem as almas, para seguirem a avareza” (cf. Ez.22:27)
CONCEITOS BÍBLICOS SOBRE CORPO, ALMA E ESPÍRITO
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CONCEITOS BÍBLICOS SOBRE CORPO, ALMA E ESPÍRITO

  • 1. CONCEITOS BÍBLICOS SOBRE CORPO, ALMA E ESPÍRITO I–Conceitos com relação à alma Dualismo – A visão do ser humano no contexto imortalista é que este possui uma natureza dualista, isto é, tem um corpo e possui uma alma [nephesh, no hebraico, psiquê, no grego], que seria imortal e estaria presa dentro do corpo e que é liberta por ocasião da morte deste, indo imediatamente para o Céu ou para o inferno, durante toda a eternidade. Na ressurreição, apenas o corpo morto ressuscita, pois a alma imortal já está lá, liberta do corpo, há muito tempo, religando-se a este por ocasião da ressurreição dos mortos que se dá no momento da segunda vinda de Cristo (cf. 1Co.15:22,23). Essa é a visão dualista da natureza humana, de imortalidade da alma. Noutras palavras, você é uma pessoa que tem outra “pessoa” dentro de você. A visão tricotomista do ser humano ensina o mesmo contraste dualista de corpo e alma e prega que nós somos um espírito, possuímos uma alma e moramos em um corpo. Portanto, ambas as visões – dualista e tricotomista – serão refutadas da mesma forma, visto que possuem os mesmos conceitos básicos sobre a constituição da natureza humana. Holismo – O conceito holista da natureza humana prega, ao contrário da imortalidade, que o ser humano não tem uma alma: ele é uma alma. Ele vive como uma alma, ele morre como uma alma. Uma alma vivente significa apenas um “ser vivo”. Nós não temos uma alma imortal presa dentro do nosso corpo que é liberta por ocasião da morte. A morte é o último inimigo a ser vencido (pelo fator “ressurreição”), e não o libertador da “alma imortal” (cf. 1Co.15:26). Pessoas morrem, pessoas ressuscitam. Corpo, alma e espírito são características da mesma pessoa e não pessoas separadas. O espírito é o princípio ativador da vida, é aquilo que dá animação ao corpo, é o sopro de Deus por meio do qual respiramos e somos seres (almas) viventes. É esse o simplismo bíblico sobre a criação da natureza humana, que elimina os complexos malabarismos propostos por Platão em sua tese sobre a natureza dualista e a sobrevivência da alma após a morte em um estado consciente. II–Qual é o conceito correto? “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem tornou-se uma alma vivente” (cf. Gênesis 2:7) Eis aí a passagem bíblica acerca da criação do ser humano, que nos dá um perfeito entendimento dos conceitos bíblicos de corpo, alma e espírito. É aqui que entra em cena algo muito desconhecido pela maioria das pessoas: biblicamente, o homem não tem uma alma, ele é uma alma. Ele “TORNOU-SE” uma alma e não “obteve” uma! A alma é o que o homem passou a ser, e não o que ele obteve de Deus. O corpo é a alma em sua forma exterior. A ideia hebraica de personalidade é a de um corpo animado pelo fôlego de vida (espírito) que alimenta o corpo, e não de uma alma presa dentro deste corpo. Assim, podemos entender que: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra [corpo], e soprou em suas narinas o fôlego de vida [espírito], e o homem tornou-se uma alma vivente [alma]” (cf. Gênesis 2:7 – grifo meu) A passagem bíblica que relata a criação do ser humano também nos deixa um sentido claro de corpo, alma e espírito. Nenhum é um elemento que Deus implantou no homem, imaterial e imortal, que saia dele após a morte, com consciência e personalidade. O espírito é tão somente o fôlego de vida que Deus soprou em nós e que o possuímos pela duração de nossas vidas terrenas. Nós permanecemos com este
  • 2. fôlego que nos concede respiração para continuarmos vivos durante a nossa existência terrestre, mas, quando este sopro se vai, as “almas viventes” tornam-se “almas mortas”. O que retorna a Deus é o princípio de vida que ele soprou em nós a fim de conceder animação ao corpo formado do pó, e não uma alma imortal. Este princípio animador da vida é possuído tanto por homens como por animais (cf. Gn.6:17; Gn.7:21,22; Ec.3:19,20; Gn.7:15; Sl.104:29). Este princípio é garantido tanto aos seres humanos quanto aos animais pela duração de sua existência terrena. A alma, no conceito bíblico, é que o ser humano “tornou-se” e não “obteve”. Deus não colocou uma alma no homem. Por isso mesmo, morrendo o homem, morre a alma (cf. Nm.31:19; 35:15,30; Js.20:3, 9; Gn.37:21; Dt.19:6, 11; Jr.40:14, 15; Jz.16:30; Nm.23:10; Ez.18:4; Ez.18:21). Já a visão dualista em sua totalidade defende que o sopro de vida que Deus soprou em nossas narinas é a própria alma imortal implantada no ser humano. Sendo assim, o sopro de Deus em nossas narinas é o espírito (alma) imortal implantado nele, totalmente independente do corpo, preso dentro dele e liberto após a morte, com consciência e personalidade. Sendo assim, a narrativa de Gênesis 2:7 deveria ser entendida da seguinte maneira: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra [corpo], e soprou em suas narinas o fôlego de vida [espírito/alma imortal], e o homem tornou-se uma alma vivente” (cf. Gênesis 2:7 – grifo meu) Essa é, contudo, uma interpretação tendenciosa que deturpa completamente a clareza do texto bíblico. Não é necessário ser nenhum grande teólogo para perceber que tal interpretação é inválida pelo fato que adultera os sentidos primários de corpo, alma e espírito, que são deixados de maneira bem clara na narrativa da criação da natureza humana em Gênesis 2:7. Além de ignorar o fato de que a primeira vez que alma [nephesh] é mencionada na Bíblia é relacionado ao próprio ser humano como um todo, tornando-se uma alma e não obtendo uma, também altera nephesh para o meio do versículo quando na realidade ela é claramente relacionada ao final deste. Tudo não passa de uma completa manipulação bíblica textual. A passagem da criação do homem coloca nephesh no fim do verso, e não no meio como querem os imortalistas. A alma é o que o homem “tornou-se”; o “espírito” é o que foi soprado nele para dar animação ao corpo formado do pó. Pelo fato de Deus não ter revelado a Moisés uma realidade dualista do ser humano, este narra simplesmente o princípio animador da vida dando animação a uma “alma vivente”. Esse total simplismo bíblico nega inteiramente que a natureza humana seja dualista, composta por uma alma imortal e por um corpo mortal. A revelação de Deus a Moisés incluiu apenas um corpo proveniente do pó tornando-se animado, sem qualquer tipo de alma sendo ingerida dentro da substância corporal para lhe conceder imortalidade. A forte tentativa de ignorar o simplismo bíblico no relato da criação humana não provém de alguma razão teológica (de fato, os imortalistas fazem de tudo para colocar uma “alma imortal” no relato da criação onde não aparece nada disso), mas sim porque negam em aceitar o fato óbvio de que a narração da criação traz uma natureza holista e não dualista do ser humano. Isso, evidentemente, os faria negar a sua crença de que Deus tenha implantado no homem um elemento eterno lhe concedendo imortalidade, o que daria um fim na doutrina do “estado intermediário” e do tormento eterno. Que nephesh não é o próprio espírito [ruach, no hebraico] implantado no ser humano com imortalidade e personalidade, isso fica muito bem claro na Bíblia Sagrada, embora sejam coerentes em alguns de seus sentidos secundários. A ignorância em aceitar o sentido claro de corpo, alma e espírito de acordo com a Bíblia segundo Gênesis 2:7 causa, além de adulterações no sentido do texto, uma confusão ainda maior para solucionar os problemas depois, por causa da interpretação tendenciosa e errônea por parte dos dualistas. E este é apenas o início do fim da imortalidade da alma.
  • 3. III–O que é o “espírito” [ruach] e o que é a “alma” [nephesh]? Espírito, no original hebraico “ruach”, significa literalmente: “sopro, vento”. É o fôlego de vida que Deus soprou em nossas narinas tornando-nos almas viventes. Para os imortalistas, significa nada a mais e nada a menos do que a própria alma imortal implantada no homem, um segmento com consciência e personalidade. Mas isso não é verdade. A seguir, apresento inúmeras provas de que o espírito não tem parte nenhuma com um ser vivo inteligente que sobrevive fora do corpo: O fôlego de vida sai do ser humano – Uma grande prova de que o fôlego de vida (espírito) que Deus soprou em nós não é uma alma imortal, é que a Bíblia afirma categoricamente que nós o perdemos por ocasião da morte (cf. Jó 27:3; Jó 34:14-15). Ora, se fosse uma entidade consciente presa dentro de nós, então continuaria conosco após a nossa morte, mas isso não é verdade: a Bíblia caracteriza a morte como a retirada do fôlego de vida (sopro). Isso prova que o “espírito” que possuímos nada mais é do que o sopro da parte de Deus que concede animação ao corpo, sendo freqüentemente caracterizado como sendo o “sopro de Deus” (cf. Jó 33:4). Quando é retirado por Deus (expirando), o fôlego é reintegrado no ar, por Deus. O próprio fato de nós possuirmos o “fôlego de vida” não significa possuir em si mesmo a imortalidade, porque na morte este princípio volta para Deus. Isso nos mostra que a vida deriva de Deus, é sustida por Deus e retorna para Deus por ocasião da morte. “Espírito”, no conceito bíblico, em nada tem a ver com uma entidade viva e consciente tal como no estilo kardecista ou platônico. Tal fato é acentuado por Jó ao declarar: “Enquanto em mim houver alento, e o sopro de Deus no meu nariz, nunca os meus lábios falarão injustiça, nem a minha língua pronunciará engano” (cf. Jó 27:3,4). Enquanto o sopro de Deus está nas nossas narinas, nunca Jó pronunciaria qualquer palavra de engano. Quando, porém, o sopro se vai, o que é dele? Nada, não mais existe (cf. Jó 7:21; Jó 14:10-12). Por isso ele acentua que enquanto estiver com ele o sopro de Deus nas suas narinas, os seus lábios não pronunciariam engano. O sopro (fôlego de vida) é inteiramente dependente de estar nas nossas narinas (corpo físico) para continuar ativo, dando continuidade a vida. Sem o corpo físico, este princípio deixa de conceder vida em si mesmo. Ademais, se o espírito [ruach – sopro] fosse a própria alma imortal implantada em nós, então a declaração de Jó nos levaria a crer que a “alma imortal” está situada no nariz de cada indivíduo: “Enquanto em mim houver alento, e o sopro de Deus no meu nariz” (cf. Jó 27:3). Também lemos na passagem anteriormente citada: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem tornou-se uma alma vivente” (cf. Gn.2:7). Ora, é aí que se situa essa “alma imortal”, no nariz de cada indivíduo? É mais do que evidente que o espírito (fôlego de vida) não é a alma implantada no ser humano nas suas narinas, mas simplesmente o princípio que anima o corpo, concedendo-lhe respiração a fim de se tornar um ser ativo. Isso explica o fato bíblico deste princípio encontrar-se nas nossas narinas, e não na “alma” ou em alguma outra parte do corpo. Evidentemente, o fôlego de vida (espírito) que possuímos não tem parte nenhuma com uma noção dualista de corpo e alma; antes, é o princípio animador do corpo, que garante a existência da vida terrestre de toda a carne, e que volta para Deus quando expiramos na morte. Dizer que o fôlego de vida (espírito) que foi soprado no homem em Gênesis 2:7 é uma “alma imortal” é o mesmo que dizer que possuímos a alma em nosso nariz, o que creio não ser nem um pouco razoável.
  • 4. O princípio animador do corpo - O corpo é formado de matéria, de pó. O espírito é o que dá animação ao corpo, e assim tornamo-nos almas viventes. Sem o espírito em nós, o nosso corpo morto não passa de matéria (pó) inanimado, sem vida. O que é o “espírito”, então? É exatamente aquilo que dá animação ao corpo, é a “vida” por assim dizer. Obviamente não tem parte nenhuma com algum outro “você” que volta para Deus, mas representa tão somente a vida deixada nas mãos do Criador; é por isso que a Bíblia apresenta os animais com o mesmo espírito-ruach possuído pelos humanos (cf. Gn.6:17; Gn.7:21,22; Ec.3:19,20; Gn.7:15; Sl.104:29). No livro de Apocalipse é lido que até uma imagem de escultura é dotada de espírito [pneuma, no grego] para tornar-se um ser animado: “E foi-lhe concedido que desse espírito [pneuma] à imagem da besta, para que também a imagem da besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta” (cf. Apocalipse 13:15) Aqui vemos que a imagem de escultura (um ser inanimado) foi dotada de espírito [pneuma] e assim foi dada animação [vida] à imagem. É mais do que óbvio que Deus não colocou uma “alma imortal” dentro da imagem e muito menos alguma entidade consciente que volta com personalidade e inteligência para Deus, mas simplesmente concedeu-lhe o fôlego da vida para dar animação à imagem de pedra. É exatamente a mesma coisa que sucedeu aos seres humanos. A mesma coisa sucedeu a nós: fomos formados do pó da terra, de matéria inanimada; até que Deus soprou em nós o espírito [vida] dando animação à matéria formada do pó – e assim o homem tornou-se uma alma [ser] vivente. O espírito é o que vem da parte de Deus e que dá animação a um elemento inanimado, tornando tal elemento em animado, concedendo-lhe vida. Quando as pessoas morrem, elas perdem a vida [espírito], tornam-se novamente em matéria inanimada (pó), é por isso que a Bíblia afirma que o espírito de todos retorna a Deus (cf. Ec.12:7), pois as pessoas perdem a vida, voltam a ser pó. Deus, contudo, ressuscitará os nossos corpos mortais, soprando novamente em nós o espírito [vida] na ressurreição (para sermos novamente um ser animado, vivente) tornando-nos novamente em “almas viventes”. Tal fato é relatado com clareza em Apocalipse: “Então vi uns tronos; e aos que se assentaram sobre eles foi dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam o sinal na fronte nem nas mãos; e reviveram, e reinaram com Cristo durante mil anos” (cf. Apocalipse 20:4) Aqui é nos dito que as almas dos que foram degolados por causa do testemunho de Jesus reviveram. Se elas “reviveram”, é porque estavam mortas. O que aconteceu, então, nessa ressurreição? Aconteceu que Deus soprou em nós novamente o espírito que vem da parte dEle, para que saíssemos do estado inanimado (i.e, sem vida), tornando-nos novamente em almas viventes: “Assim diz o Soberano, o Senhor, a estes ossos: Farei um espírito entrar em vocês, e vocês terão vida. Porei tendões em vocês e farei aparecer carne sobre vocês e os cobrirei com pele; porei um espírito em vocês, e vocês terão vida. Então vocês saberão que eu sou o Senhor” (cf. Ezequiel 37:5,6) “Por isso profetize e diga-lhes: Assim diz o Soberano, o Senhor: Ó meu povo, vou abrir os seus túmulos e fazê-los sair; trarei vocês de volta à terra de Israel. E quando eu abrir os seus túmulos e os fizer sair, vocês, meu povo, saberão que eu sou o Senhor. Porei o meu espírito em vocês e vocês viverão, e eu os estabelecerei em sua própria terra. Então vocês saberão que eu, o Senhor, falei, e fiz. Palavra do Senhor” (cf. Ezequiel 37:12-14)
  • 5. Notem que não é o nosso espírito que deixa o Céu para se religar ao corpo por ocasião da ressurreição, mas sim o espírito de Deus que concede vida que nos é soprado novamente; fazendo-nos sair dos túmulos, o local onde o povo que já morreu se encontraria. Nós estaríamos sem vida na morte, mas Deus nos concederia novamente o espírito que parte dEle a fim de nos conceder novamente vida por ocasião da ressurreição. Não existe nenhuma religação entre corpo e alma, mas tão somente o princípio animador da vida sendo novamente concedido a nós por ocasião da ressurreição dos mortos. Podemos assim traçar uma correta analogia com a imagem inanimada de Apocalipse que recebeu o espírito para tornar-se animada: A NATUREZA HUMANA SEGUNDO GÊNESIS 2:7 A IMAGEM DE APOCALIPSE 13:15 Feito do pó da terra Feita de pedra Material inanimado Material inanimado Foi-lhe dado o espírito Foi-lhe dada o espírito Passou a ter vida (tornou-se um ser vivente) Passou a ter vida Tornou-se um ser animado Tornou-se um ser animado Como vemos, o “espírito” que possuímos é nada a mais do que aquilo que dá animação ao corpo (matéria), concedendo-lhe vida. A analogia com a imagem de pedra relatada no Apocalipse é válida porque o mesmo que sucedeu aos seres humanos sucedeu também à imagem, ambos tornaram-se um ser animado após ser lhes soprado o espírito. É evidente que o “espírito” soprado não é uma “alma imortal” (pois se assim o fosse então por lógica a imagem de pedra também a deveria possuir, pois também foi dotada de espírito-pneuma), mas é tão somente o princípio de vida concedido às criaturas viventes durante a permanência de sua existência terrestre. É claramente nos referido que o motivo dos ídolos mudos não serem vivos é decorrente do fato de não possuírem “espírito-ruach”: “Eis que está coberto de ouro e de prata, mas no seu interior não há fôlego [ruach] nenhum” (cf. Hc.2:9). E também em Jeremias: “Todo ourives é envergonhado pela imagem que ele esculpiu; pois as suas imagens são mentira, e nelas não há fôlego [ruach]” (cf. Jr.10:4). Aqui vemos que os que não têm vida são descritos como sem “espírito-ruach”. Os ídolos são considerados como “sem vida” pelo fato de serem destituídos de espírito-ruach, que é o princípio animador de toda a vida. Quando um ídolo ou uma imagem ganha animação, é descrito como constituído de “espírito- pneuma” (cf. Ap.13:15), porque passou a ter vida. Em outras palavras, o espírito é nada a mais do que o poder capacitador de vida a qualquer ser vivente, mesmo quando se trata de imagens de pedra ou de animais, como veremos mais adiante. Ele não é uma alma imortal, e nem algo que traz consigo imortalidade, consciência e personalidade após a morte, mas apenas a vida que possuímos em nossa jornada em nossa terrestre. Se o espírito fosse uma alma imortal, então a imagem de pedra de Ap.13:15 e os animais também teriam “almas imortais”, pois são descritos possuindo “espírito-pneuma”. Quando o espírito é retirado do ser humano, este volta para o pó da terra (cf. Sl.104:29; Sl.146:4; Gn.3:19). Da mesma forma, quando o espírito concedido temporariamente àquela imagem lhe é retirado, esta volta a ser uma pedra inanimada.
  • 6. O processo é o mesmo: seres ou objetos inanimados que temporariamente ganham vida pelo sopro do espírito-ruach em seu interior e que tornam-se novamente inanimados (sem vida) após este sopro retornar ao Criador. Sai o espírito, volta ao pó – Confirmando o fato anterior, vemos que os autores bíblicos correspondiam bem ao fato de que a saída do espírito-ruach por ocasião da morte não significa a continuação da vida em um outro estágio ou em uma dimensão superior, mas sim a cessação dela. O salmista expressa em palavras o que aconteceu na criação humana e o que acontece ao fim dela: “Quando sopras o teu fôlego, eles são criados” (cf. Sl.104:30). O sopro de Deus [fôlego] nas nossas narinas, também denominado por “espírito-ruach” (cf. Jó 33:4; Jó 32:8; Is.42:5), é o que nos faz vivos – nos transforma em “almas viventes” (cf. Gn.2:7). A pergunta que fica é: quando este “fôlego” ou “espírito” deixa o corpo por ocasião da morte (ao expirar), o que acontece ao ser racional? O verso anterior do Salmo no qual acabamos de passar responde corretamente a esta pergunta: “Quando escondes o teu rosto, entram em pânico; quando lhe retiras o fôlego, morrem e voltam ao pó” (v.29). O ser racional simplesmente volta ao pó. Quando o fôlego [espírito] é retirado do ser humano, este não parte desencarnado para um estado intermediário, mas simplesmente deixa de existir – volta a ser pó. A saída do espírito por ocasião da morte não significa um ser racional deixando o corpo. Jó declara isso enfaticamente nas seguintes palavras: “Porém, morto o homem, é consumido; sim, rendendo o homem o espírito, então onde está ele? Como as águas se retiram do mar, e o rio se esgota, e fica seco, assim o homem se deita, e não se levanta; até que não haja mais céus, não acordará nem despertará de seu sono” (cf. Jó 14:10-12). Aqui vemos a entrega do espírito não significa levar consciência e personalidade na morte, porque mesmo assim ele não é despertado até não existir mais céus. Após afirmar que o homem rende o seu espírito na morte, Jó faz a pergunta que não quer calar: “Onde ele está”? Isto é, para onde ele vai? O que acontece com ele? Simplesmente, deixa de existir. Não vai desencarnado para o Céu. Ele torna-se como as águas que se retiram do mar e como um rio que se esgota e fica seco. Essa analogia feita por Jó nos mostra claramente que o homem não mais existe. Assim como quando as águas se retiram do mar este já não existe, e quando o rio se esgota fica seco e desaparece, assim também do mesmo modo o homem na morte já não existe. O ser racional só volta a atividade quando “não existir mais céus” (v.12), o que o Novo Testamento relaciona à “ressurreição do último dia” (Jo.6:39,40), quando “os céus e a terra que agora existem estão reservados para o fogo, guardados para o dia do juízo e para a destruição dos ímpios” (cf. 2Pe.3:7). Se a retirada do espírito do homem na morte significa a ida imediata na presença de Deus em estado desencarnado, então a analogia feita por Jó seria nula e sem sentido. Tal analogia nos revela que o ser racional deixa de existir após a entrega do espírito-ruach. Tal fato é apresentado com ainda mais clareza no Salmo 146:4 – “Quando o espírito deles se vai, eles voltam ao pó, e naquele dia perecem os seus pensamentos” (cf. Sl.146:4). A entrega do espírito não significa a continuação de vida em um estado desencarnado, mas sim a cessação dela, pois os “pensamentos perecem”. Sendo que os próprios imortalistas atribuem o processo de pensamento como função da alma, a sede dos pensamentos, seria imprescindível que eles continuassem existindo após a entrega do espírito na morte, caso fosse um ser racional com inteligência e consciência. Contudo, os próprios pensamentos perecem, pois não existe ser racional na morte.
  • 7. A alma e o sangue – Em Levítico 17:11, lemos: “Porque a vida da carne está no sangue”. No texto original hebraico, “vida” aqui é a tradução de nephesh, de modo que a transliteração correta da passagem seria: “A alma da carne está no sangue”. O motivo pelo qual a alma é igualada ao sangue provém do fato de que a vitalidade da vida-nephesh reside no sangue. Em outras palavras, sem sangue não há vida- nephesh. O corpo não é a prisão de uma alma imaterial, pois a alma da carne está no sangue. Isso não faz sentido caso a alma fosse algo imaterial implantado dentro de nós, pois se assim o fosse não teria parte nenhuma com o sangue. Também lemos certa afirmação em Gênesis no mesmo estilo: “Carne, porém, com sua vida [nephesh] isto é, com seu sangue, não comereis. Certamente requererei o vosso sangue, o sangue da vossa vida [nephesh]; de todo animal o requererei, como também da mão do homem, sim da mão do próximo de cada um requererei a vida [nephesh] do homem” (cf. Gn.9:4,5). Ora, se a vida (alma- nephesh) do homem é o sangue, então sem o sangue não há vida (alma-nephesh). Isto é somente lógica. O homem sem sangue não pode permanecer vivo de acordo com esta declaração de Gênesis. Pois a vida [alma-nephesh] está no sangue. Como então assumir que uma pessoa sem sangue (um espírito incorpóreo, por exemplo) possa ser considerada viva em um “estado intermediário”? Não faz sentido. Sem sangue não há vida, pois “a alma da carne está no sangue”. Como o erudito Basil Atkinson corretamente assinala: “A alma do homem está em seu sangue e, de fato, o seu sangue é a sua alma”. O maior problema da teologia imortalista é que eles pensam que o sangue está relacionado apenas ao corpo físico, externo, e que, portanto, sem sangue não há mais vida no corpo, mas a alma não é afetada com isso e permanece viva subsistindo sem o corpo em algum lugar. Em outras palavras, para os dualistas é extremamente crucial que o sangue seja a vitalidade apenas do corpo e não da alma. Caso contrário, a alma não escaparia da morte, tanto quanto o corpo. O texto bíblico, porém, ao invés de dizer “o sangue do vosso corpo”, diz “o sangue da vossa alma” (nephesh – Gn.9:5). Isso mostra que a alma subsiste viva através do sangue tanto quanto o corpo físico. E assim matamos dois coelhos de uma só vez: o primeiro, é aquele que desassocia a alma do sangue e ensina que somente o corpo é movido pelo sangue e só existe com a vitalidade deste (o que já vimos que é falso, pois o sangue desempenha o mesmo papel para com a alma), e o segundo é o de que a alma seria uma entidade espiritual imaterial infundida dentro de nós. Se fosse, não estaria dependente de algo físico e tangível (como o sangue), e a Bíblia não diria que “a sua alma-nephesh, isto é, o seu sangue, não comereis”, pois seria ilógico e sem qualquer possibilidade “comer a alma, ou seja, o sangue”. Uma coisa estaria tão desassociada da outra que tal sentença seria no mínimo absurda. Uma seria tangível e a outra intangível, uma seria material e a outra imaterial, uma desceria ao túmulo na morte e a outra aos céus, uma estaria ligada ao corpo e a outra ao espírito. Como dizer que a alma é o sangue com tantos contrastes que a teologia imortalista afirma que os separa? Uma coisa não teria nada a ver com a outra, e, portanto, não seriam igualadas. Só foram porque a linha dualista que separa a alma do corpo e os contrasta realmente não tem qualquer cabimento bíblico. Portanto, não restam objeções ao fato de que não existe alma sem sangue; sem sangue não há vida. Não existe qualquer chance ou possibilidade de existir um “estado intermediário” de “espíritos incorpóreos” pré-ressurreição ausentes de corpo. O fato bíblico de que a alma da carne está no sangue e de que a vida [nephesh] do homem é o seu sangue nos mostra que não pode uma pessoa ser considerada como “viva” em algum lugar sem a vitalidade da vida-nephesh que reside no sangue.
  • 8. Na morte, o coração deixa de bater, o sangue deixa de circular, e tornamo-nos almas mortas. Só voltaremos ao estado de vida novamente quando estivermos com a vitalidade da vida, com o sangue, sem o qual não existe vida [alma-nephesh]. Poderíamos resumir o argumento nas seguintes premissas: (1) A alma da carne está no sangue – cf. Lv.17:11. (2) Não existe vida [alma - nephesh] sem sangue – cf. Gn.9:4,5. (3) Na morte, perdemos o sangue, a vitalidade da alma. (4) Sem o sangue que dá vida a alma, não existe alma. (5) Só voltaremos a ser reconstituídos de sangue novamente na ressurreição. (6) Logo, a alma ganha vida novamente a partir da ressurreição dos mortos. O homem torna-se uma alma vivente – Uma outra prova importante para que possamos compreender que o espírito não é uma alma imortal é a própria continuação da passagem de Gênesis 2:7 – “...soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem tornou-se uma alma vivente”. Duas coisas são interessantes aqui. Em primeiro lugar, a alma é o que o homem “tornou-se”, e não o que ele “obteve”. Como já vimos, Deus não colocou uma alma no homem, como erroneamente pensa a doutrina dualista. Em segundo lugar, com a implantação do sopro de Deus em nossas narinas, o homem tornou-se uma “alma vivente”, e não uma “alma imortal”! Ora, se a interpretação correta fosse a dualista, então a sequência imediata de tal passagem seria que o homem tornou-se (ou melhor, “obteve”) uma “alma imortal”, “imaterial”, pois o termo “alma vivente” após a implantação do espírito-ruach implica que pode se tornar “alma morta” após a retirada do espírito-ruach. Isso é somente lógica. Quando a Bíblia diz que em resultado do sopro divino “o homem tornou-se uma alma vivente”, ela está dizendo apenas que o corpo formado literalmente do pó da terra ganhou animação e se fez um ser vivo, que respira – nada além disso. O sangue (vitalidade da alma – cf. Lv.17:11; Gn.9:4,5) começou a circular, o cérebro começou a raciocinar e o coração a bater, com todos os sinais ativados. O homem tornou-se uma “alma vivente”, ou seja, ou ser vivo, que deixa de existir na morte e volta à existência na ressurreição gloriosa. Não houve um componente imaterial e imortal colocado no ser humano. Declarado em termos simples, “uma alma vivente” significa “um ser vivo”, e não “uma alma imortal”! Evidentemente a alma é considerada “vivente” enquanto vive, passando a ser “alma morta” por ocasião da retirada do fôlego de vida [espírito] no falecimento. Uma alma vivente significa simplesmente um ser vivo, que morre. Alma é vista como a natureza humana como um todo, e não como uma parte do ser humano separada do corpo e presa dentro deste. O espírito sobe para Deus – Outra prova patente contra os imortalistas é o que Salomão descreve em Eclesiastes: “E o pó volte a terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (cf. Ec.12:7). É fato bíblico que todas as pessoas (sendo justas ou ímpias) desciam para o Sheol na morte (cf. Gn.37:35; Jó 10:21,22; Sl.94:17; Gn.42:38; Gn.42:29,31; Is.38:10,17; Sl.16:10; Sl.49:9,15; Sl.88:3-6,11; Jó 17:16). Para os imortalistas, Sheol é a habitação dos espíritos incorpóreos e conscientes. Já para os mortalistas, significa puramente “sepultura”, em um sentido mais amplo, como veremos mais adiante. O debate sobre o conceito correto sobre Hades/Sheol será abordado mais a frente neste livro. O que temos de fato, por hora, é que todas as pessoas desciam ao Sheol por ocasião da morte. Onde se localiza o Sheol? Localiza-se nas regiões inferiores da terra (cf. Ef.4:9), no “coração” desta terra (cf. Mt.12:40), em oposição ao Céu (cf. Mt.11:23). Os seguidores da revolta de Coré “desceram... vivos ao Sheol” (cf. Nm.16:30,33). Eis aqui já a primeira contradição dos imortalistas: O “espírito” sobe para
  • 9. Deus, e não “desce” para o Sheol (cf. Ec.12:7)! Se o espírito fosse um elemento com consciência e personalidade, ele deveria descer e não subir. Mas isso jamais é dito na Bíblia, pelo simples fato de que o espírito é nada a mais do que o dom da vida [fôlego] concedido durante a duração de nossas vidas terrenas, e não algum segmento que leva consigo consciência e personalidade após a morte. Sobe para Deus por ocasião da morte porque deriva de Deus, e volta para Deus. Salomão é bem claro em dizer que o espírito subiu para Deus, e não “que desceu para o Sheol”! Nisso vemos uma clara evidência que o espírito está longe de ser a própria pessoa como uma entidade viva e consciente, mas é tão somente o princípio de vida que retorna para Deus no momento da morte. Sendo que na época de Salomão todas as pessoas desciam ao Sheol, que biblicamente fica nas regiões inferiores desta terra (cf. Ef.4:9), como é que Salomão diz que o espírito sobre para Deus? Também em Atos 2:27, falando a respeito de Jesus, entre a sua morte e ressurreição, o texto assim narra: “Porque não deixarás a minha alma no Hades, nem permitirás que aquele que te é leal veja a corrupção”. E também em Mateus 12:40 – “Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra”. A alma de Jesus passou os três dias e três noites em que esteve morto no Sheol, que fica debaixo da terra, e não no Paraíso! Isso, contudo, não impediu ele tivesse entregado o seu espírito ao Pai nos dias em que esteve morto: “Pai, ao Senhor entrego o meu espírito. E com estas palavras morreu” (cf. Lc.23:46). Ora, como é que Cristo passou os três dias em que esteve morto no Sheol (cf. Mt.12:40; At.2:27), que fica nas regiões inferiores desta terra (cf. Ef.4:9), se a Bíblia diz que o “espírito” dele subiu para Deus? Obviamente, porque o “espírito” não é o nosso “próprio eu”, não sendo uma “alma imortal”, mas é tão somente o princípio animador da vida concedido por Deus tanto aos seres humanos quanto aos animais pela duração de sua existência terrena, que volta para Deus por ocasião da morte. Nisso fica claro que o espírito não é o nosso próprio “eu” liberto na morte, pois, se assim fosse, seguir- se-ia que Cristo teria passado (os dias em que esteve morto) com o Pai, e não debaixo da terra, no Sheol (cf. Mt.12:40; At.2:27), pois o espírito sobe, e não desce! Vemos, portanto, que se a visão dualista de que o espírito é um segmento consciente que leva consigo personalidade, deveríamos pressupor que: (1) O espírito desceria para o Sheol, e não voltaria a Deus (cf. Ec.12:7). (2) Sendo que Cristo entregou seu espírito ao Pai, ele deveria ter subido aos céus na morte, e não descido ao Sheol (cf. Mt.12:40; At.2:27). Contudo, estas duas premissas imortalistas contrariam diretamente a Bíblia Sagrada, como já vimos. NA BÍBLIA SAGRADA NA TEOLOGIA DUALISTA O espírito sobe para Deus na morte – cf. Ec.12:7 O espírito de todos deveria descer (para o Sheol) na morte Jesus entregou ao Pai o seu espírito mas mesmo assim esteve no Sheol (regiões inferiores da terra – cf. Ef.4:9) na morte Se o espírito fosse um segmento consciente com personalidade, Cristo deveria logicamente estar com o Pai enquanto esteve morto
  • 10. Vale também ressaltar que Cristo, depois de três dias em que esteve morto, ainda assim declarou a Maria Madalena: “Não me detenhas, porque ainda não subiu para o Pai” (cf. Jo.20:17). Óbvio, porque a entrega de seu espírito ao Pai não significou o seu regresso a Ele, pelo fato de que o espírito não é um segmento consciente e com personalidade, mas tão somente o princípio animador do corpo. Tudo isso nos mostra de forma mais do que clara e lúcida de que o espírito que possuímos não é uma outra pessoa que é liberta conscientemente após a morte, mas sim um princípio que ativa o corpo concedendo-lhe animação. Como o corpo volta para o pó da terra na morte, ele deixa de ser animado e, portanto, o espírito-ruach perde o seu sentido de animação do corpo e volta para Deus por ocasião da morte. A “salvação universal dos espíritos” – Uma verdade universal é dita em Eclesiastes 12:7 - “E o pó volte a terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”. Essa é uma verdade universal, ou seja, o espírito de todos volta para Deus, que o deu. Em lugar nenhum da Bíblia está escrito que o espírito dos ímpios desce para o inferno ou para o diabo. Não, pois todos os espíritos sobem para Deus. Nisso também fica mais do que claro que o espírito não é o nosso próprio “eu” fora do corpo, pois, se assim o fosse, então teríamos uma salvação universal (de justos e ímpios), pois o espírito de todos sobre para Deus! O que Salomão estava falando era simplesmente para que se lembrassem do seu Criador nos dias da sua juventude (v.1), antes que chegue à velhice (v.2-6), e com a morte “o pó volte a terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (v.12). Esse processo é ocorrido em todos os seres humanos sejam justos ou ímpios. Assim como todas as criaturas humanas devem se lembrar do Criador na juventude e assim como tanto justos como ímpios envelhecem, assim também o espírito de todos sobre para Deus por ocasião da morte. Em momento nenhum o autor deixa passar qualquer hipótese de que o termo se restringisse apenas aos salvos, porque o próprio contexto mostra um processo que sucede a todos os seres humanos. O que Salomão (autor do livro de Eclesiastes – cf. Ec.1:1) estava relatando é uma verdade universal de que o espírito [de todos] por ocasião da morte retorna a Deus, quem o deu. O que retorna a Deus se refere ao espírito de todos os homens, não somente dos justos, mas de “toda a carne”. O próprio fato do espírito de todas as pessoas voltar a Deus na morte nos prova novamente que este espírito-ruach não é uma alma imortal ou a própria pessoa em estado desencarnado, pois se assim sucedesse então apenas o espírito das pessoas boas que subiria para Deus, e o das pessoas más desceria para o inferno ou para o diabo. Todos os espíritos sobem para Deus porque o nosso espírito não é uma entidade consciente com personalidade com destinos diferentes entre bons e maus após a morte, mas tão somente o fôlego de vida presente em todas as criaturas durante a nossa existência terrestre, princípio este que retorna para Deus porque provém dEle mesmo a fim de dar animação para o corpo formado do pó. Por isso, o autor não faz a mínima questão de diferenciar o destino do espírito de bons ou de maus por ocasião da morte. Novamente a doutrina imortalista entra em choque contra os princípios da exegese e hermenêutica. Os animais também como alma – Uma outra prova clara de que “alma vivente” não significa “alma imortal” é o fato de que aos animais também foi designado o termo “alma vivente - nephesh hayyah” (cf. Gn.1:20,21,24,30; 2:19; 9:10,12,15,16; Lv.11:46). A maioria das pessoas desconhecem tal fato simplesmente porque os seus tradutores decidiram traduzir o termo hebraico “nephesh hayyah” como “criaturas viventes” em referência aos animais, e como “alma vivente” nas referências a seres humanos.
  • 11. O motivo, evidentemente, não é por causa dos manuscritos originais, mas sim por consequência de suas convicções religiosas, de que o homem conta com uma alma imortal não possuída pelos animais. Em decorrência disso não quiseram comprometer as suas doutrinas da imortalidade da alma humana criando um dilema de primeira ordem, e tomaram a liberdade de traduzir o nephesh do hebraico como “criatura” quando em referência aos animais e como “alma” quando em referência aos seres humanos. Essa é a mesma adulteração reconhecida em outras inúmeras passagens bíblicas que mostram também a alma-nephesh sendo morta ou destruída, o que também é ocultado pela grande maioria das versões, embora fosse um conceito amplamente difundido na Bíblia. O original, contudo, traz nephesh [alma], tanto a seres humanos, como também aos animais. O termo alma-nephesh é empregado tanto para as pessoas quanto para os animais porque ambos são seres conscientes. Tanto homens como animais partilham do mesmo princípio animador de vida, isto é, o “fôlego da vida”. Todo o ser vivente relaciona-se a todas as criaturas, não somente ao homem, mas também aos animais (cf. Jó 12:10). O homem não recebeu uma alma de Deus; ele tornou-se uma alma vivente, assim como os animais. A natureza de todo o ser vivente é mortal, e não imortal, o que somente Deus é (cf. 1Tm.6:16). Herdaremos uma natureza imortal com a ressurreição dos mortos na segunda vinda de Cristo (cf. 1Co.15:53; 1Co.15:23). A alma não é algo imaterial e nem imortal, pois até mesmo os animais são referidos como alma-nephesh. Sendo que no mesmo contexto em que Deus dá a revelação a Moisés sobre a criação em Gênesis 1 e 2 a palavra nephesh [alma] é uma referência não somente aos humanos mas também aos animais, fica claro que Moisés não imaginava que este termo hebraico significasse em si mesmo a detenção de imortalidade. Doutra forma, teria ele apenas feito menção a este termo quando em referência aos humanos, somente. Para ele o termo significava tão somente um ser consciente, sujeito a morte tanto quanto os animais. Por isso, ele não se incomodava e nem se intimidava em fazê-lo em menção a humanos e a animais. Quando os defensores da imortalidade da alma se deparam com o fato bíblico de que nephesh também é mencionado em referência direta aos animais e no mesmo contexto dos seres humanos, se dão conta do dilema intransponível que são obrigados a encarar. Afinal, se a alma é imortal e imaterial, então os animais também partilhariam desta mesma qualidade que deveria estar presente somente nos seres humanos. A única solução lógica para isso é exposta por Basil Atkinson: “Eles [o homem e os animais] não são criaturas bipartites que consistem de uma alma e um corpo que podem ser separados e prosseguir vivendo. Suas almas são a totalidade deles e compreende seus corpos, bem como suas faculdades mentais”1 Os animais com espírito e fôlego – Ademais, exatamente a mesma palavra, no original hebraico ruach, que é traduzida por “espírito”, é usada tanto em relação aos seres humanos quanto a animais (cf. Gn.7:15; Gn.7:21,22; Ec.3:19,20; Gn.6:17; Sl.104:29). Ou seja: os animais também possuem espírito- ruach da mesma forma que os seres humanos! A Bíblia não faz sequer a menor distinção entre eles. O espírito “de toda a carne” entrou na arca de Noé, e não foram apenas seres humanos que lá entraram: “E de toda a carne, em que havia espírito de vida, entraram de dois em dois para junto de Noé na arca” (cf. Gênesis 7:15) 1 ATKINSON, Basil F. C. Life and Immortality. Londres, pp. 1-2;.
  • 12. Note que de toda a carne em que havia espírito de vida entraram de dois em dois para a arca de Noé. Será que foram apenas os humanos que entraram na arca? É claro que não. Isso deixa claro que os animais também possuem espírito de vida, pois o espírito-ruach não é uma detenção apenas dos humanos. Dizer que os animais têm fôlego, mas não tem espírito, é negar dois fatos claros na Bíblia Sagrada. O primeiro, é que espírito [ruach] é usado tanto a animais como a seres humanos indistintamente (cf. Gn.7:15). A Bíblia não faz a mínima distinção, porque “entraram na arca de dois a dois de toda carne em que há um espírito vivo” (cf. Gn.7:15 – Young’s Literal Translation). Se alguém alega que os animais não têm espírito, então além de contradizer a Bíblia seria forçado a negar também que os seres humanos o possuam, pois a mesma palavra é usada para os dois no mesmo contexto! Também lemos em Gênesis 6:17: “Porque eis que eu trago um dilúvio de águas sobre a terra, para desfazer toda a carne que há espírito [ruach] de vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra expirará” A passagem é bem clara em relatar a eliminação completa de toda a carne em que há o espírito-ruach, por ocasião do dilúvio. Se fosse correta a interpretação dos dualistas de que o espírito significa uma alma imortal e que apenas os humanos a possuem, então deveríamos pressupor que somente os seres humanos foram eliminados por ocasião do dilúvio, pois a Bíblia relata bem claramente que toda a criatura em que houvesse espírito-ruach seria desfeita. É evidente que os animais também foram eliminados no dilúvio, porque eles também possuem espírito-ruach (cf. Gn.6:17; Gn.7:21,22; Gn.7:15; Sl.104:29; Ec.3:19,20). Em Gênesis 7:21,22 lemos novamente a confirmação bíblica de que os animais também possuem espírito-ruach: “E expirou toda a carne que se movia sobre a terra, tanto de ave como de gado e de fera, e de todo réptil que se roja sobre a terra, e todo homem, tudo o que tinha fôlego de espírito [ruach] de vida em seus narizes, tudo o que havia na terra seca, morreu” (cf. Gn.7:21,22). Também lemos no Salmo 104:29 o rei Davi afirmando que os peixes e os outros animais marinhos também possuem ruach: “Ó Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das tuas riquezas. Assim é este mar grande e muito espaçoso, onde há seres sem número, animais pequenos e grandes. Ali andam os navios; e o leviatã que formaste para nele folgar. Todos esperam de ti, que lhes dês o seu sustento em tempo oportuno. Dando-lho tu, eles o recolhem; abres a tua mão, e se enchem de bens. Escondes o teu rosto, e ficam perturbados; se lhes tiras o fôlego, morrem, e voltam para o seu pó. Envias o teu espírito, e são criados, e assim renovas a face da terra” (cf. Salmos 104:24-30) Diante do contexto, o escritor bíblico inspirado não está falando de seres humanos, mas de animais marinhos, pequenos e grandes. E o que ele diz? Que, quando Deus retira-hes o fôego (que o original hebraico traz ruach, espírito!), eles morrem e voltam ao pó! No verso seguinte, é nos dito como eles são criados: Deus envia-lhes o espírito [ruach], e eles são criados, e quando esse espírito [ruach] lhes é retirado, eles morrem e voltam ao pó. Ou seja: o que diferencia humanos de animais no quesito da vida após a morte não é a suposta possessão de um espírito no íntimo do ser, nem a posse de um espírito na criação ou a retirada dele appós a morte, pois isso tudo isso acontece também com os animais, mas é o fato de que um ressuscita e o outro não. Daí toda a importância da ressurreição no NT, como sendo a esperança dos cristãos.
  • 13. Isso tudo mostra que é fato indiscutível que os animais também possuem o mesmo espírito-ruach possuído pelos seres humanos. Será que os animais ao morrer irão para o estado intermediário junto com os homens? Claro que não. Fica claro que espírito significa “vida”, e não um ser inteligente que sai do corpo na hora da morte. O segundo erro provém do fato de que o espírito é o próprio fôlego de vida, conforme descrição de Gênesis 2:7 e o paralelismo de Jó 33:4, de Jó 32:8 e de Isaías 42:5. E todos – humanos e animais – possuem o mesmo fôlego, e não fôlegos diferentes: “Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade. Todos vão para o mesmo lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó” (cf. Eclesiastes 3:19,20) O que sucedeu na criação do homem é exatamente o mesmo que aconteceu na criação dos animais: Deus soprou-lhes o fôlego de vida [espírito] e eles tornaram-se almas viventes. Não há diferença alguma e nem vantagem nenhuma conosco em relação aos animais que nos permita desfrutar de uma imortalidade inerente e incondicional diferentemente deles que voltam para o pó. Todos foram feitos do pó e voltarão para exatamente o mesmo lugar: o pó. O mais interessante sobre esta última passagem (cf. Ec.3:19,20) é que o autor faz uso do hebraico ruach (espírito) no mesmo contexto dos seres humanos, dizendo ainda que ambos são iguais! “Todos tem o mesmo espírito-ruach” (v.19)! O escritor inspirado faz questão de ressaltar o fato de que não apenas o fôlego-neshamah, como também o espírito-ruach é possuído pelos animais, e, se adiantando a quaquer objeção imortalista, afirma ainda que o espírito possuído por ambos é o mesmo, refutando qualquer psosibilidade de o espírito dos humanos ser uma “alma imortal” e dos animais ser uma mera “respiração”! Ele iguala em absoluto o espírito dos homens com o dos animais dizendo que são a mesma coisa (v.19), e por consequência disso a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma (v.19), e, finalmente, conclui dizendo que o local que os homens partem na morte é o mesmo caminho dos animais (v.20). Francamente, mas apenas uma interpretação textual extremamente tendenciosa e mal feita que poderia chegar ao ponto de negar o fato óbvio de que o espírito possuído pelos seres humanos não é diferente daquele que é detido pelos animais, e que em decorrência deste fato ambos perecem igualmente na morte e tem o mesmo destino: o pó da terra. Aqui é claramente indicado a nós que o motivo pelo qual o homem não possui vantagem nenhuma sobre os animais decorre do fato de que ambos possuem o mesmo espírito-ruach. Ora, se o espírito-ruach dos animais não lhes concede uma imortalidade, então é óbvio que o dos seres humanos também não lhes dá tal vantagem. Como os defensores da alma imortal fizeram com tão grande prova irrefutavelmente contra o ensinamento dualista? Simples, adulteraram a tradução. Preferiram tomar a liberdade em traduzir por “fôlego” antes do que por “espírito”, como deveria ser traduzido. O hebraico tem palavra exata para ambos, mas Salomão faz menção do ruach [espírito] para os animais e o faz no mesmo contexto dos seres humanos e igualando-os a estes! É óbvio que o “espírito” possuído por nós não significa uma alma imortal e muito menos alguma qualificação em nós presente que nos ofereça vantagem alguma sobre os animais ou que nos leve para o Céu após a morte. Antes, é nada a mais do que a vida presente não apenas nos seres humanos, como também nos animais. O destino de ambos é o pó da terra. Felizmente, a Bíblia nos assegura que existirá a ressurreição dos mortos para todos os seres humanos (cf. Dn.12:2), que acontece na segunda vinda de Cristo (cf. 1Co.15:22,23). É a ressurreição, e não a possessão de uma “alma” ou um “espírito”, que nos distinguem dos animais no quesito “morte”.
  • 14. Devemos também considerar mais alguns fatos importantes a ser mencionados. O primeiro deles é que se os escritores bíblicos tivessem a ideia de que apenas os humanos possuem espírito e os animais possuem apenas o “fôlego” (como ensinam os imortalistas), então eles utilizariam essa segunda palavra para quando relacionado aos animais, pois o hebraico possui palavra para fôlego [neshamah] e para espírito [ruach]. Mas quando aplicado aos animais, ao invés de mencionarem apenas o fôlego-neshamah, eles mencionavam o espírito-ruach (cf. Gn.6:17; Gn.7:21,22; Gn.7:15; Sl.104:29)! E, pior ainda, eles a mencionavam junto com os seres humanos sem fazer a menor distinção entre eles (cf. Gn.7:15; Gn.6:17; Gn.7:21,22)! E mais, quando o rei Davi foi tratar de peixes, ao invés de ele mencionar apenas o fôlego (como qualquer imortalista faria), ele faz questão de mencionar o próprio espírito-ruach (Sl.104:29). Finalmente, se o fôlego é aquilo que dá animação ao corpo e o espírito é uma alma imortal e consciente, então a estátua de pedra do Apocalipse deveria ter sido revestida de fôlego para dar animação à imagem, e não de espírito. Vemos, contudo, que o apóstolo João descreve a imagem de pedra recebendo espírito-pneuma para conceder animação, e não “fôlego” (cf. Ap.13:15)! Portanto, a não ser que os imortalistas queiram dar lições de Bíblia aos escritores bíblicos, fica mais do que claro que o espírito que possuímos nada mais é do que o próprio fôlego de vida que nos dá animação ao corpo formado do pó. Isso explica o paralelismo bíblico entre fôlego e espírito (cf. Jó 33:4; Jó 32:8; Is.42:5), indicando que ambos tratam-se do mesmo elemento e não de elementos diferentes; ambos são aquilo que dá animação à matéria, nenhum sendo uma “alma imortal” ou algum elemento eterno constituído de personalidade, pois até mesmo os animais o possuem. A imensa dificuldade por parte dos imortalistas em conciliar os conceitos de corpo, alma e espírito com a Bíblia Sagrada, é que eles usam os conceitos kardecistas e platônicos de dualidade de corpo e alma com o espírito sendo uma entidade consciente com personalidade. Quando tentam conciliar isso com a Bíblia (que nos deixa um conceito simples, claro e coerente desses princípios básicos) resulta em uma total confusão de ideias, pois o dualismo grego de corpo e alma influenciado pelas doutrinas de origens pagãs não se mistura com as doutrinas bíblicas acerca da criação do homem. “Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego [ruach – espírito], e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade. Todos vão para o mesmo lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó” (cf. Eclesiastes 3:19,20) O espírito não é uma entidade que traz consigo vida e personalidade após a morte – Uma prova muito forte disso é o fato de que, falando de meros peixes, o salmista afirma: “Se lhes cortas a respiração [ruach], morrem, e voltam ao seu pó” (cf. Sl.104:29). Ora, nem mesmo qualquer imortalista chegaria ao ponto de alegar que o espírito-ruach dos peixes leva consigo personalidade e consciência na morte. Dizer que com os seres humanos é totalmente diferente é forçar o texto, pois a mesma expressão é empregada para ambos (cf. Sl.104:29; Gn.7:15; Gn.7:22; Ec.3:21). O processo que acontece com os humanos é o mesmo que acontece com os peixes: “Escondes a tua face - e ficam perturbados, Tu ajunta o seu espírito – eles expiram, e voltam para o pó” (cf. Sl.104:29 - Young’s Literal Translation). Embora você provavelmente já tenha ouvido algo assim antes com relação aos seres humanos, essa passagem está falando de meros peixes! Compare, por exemplo, tal passagem acima (referindo-se a peixes) com o que Jó declara: “Se fosse a intenção dele, e de fato retirasse o seu espírito e o seu sopro, a humanidade pereceria toda de uma vez, e o homem voltaria ao pó” (cf. Jó 34:14,15).
  • 15. Veja que o mesmo processo que ocorre com os seres humanos acontece também com os peixes: Deus retira o seu espírito [ruach], e eles voltam ao pó. Não há a mínima diferença entre o processo que ocorre com um e o que sucede ao outro. Claro, os imortalistas evidentemente preferiram traduzir na maioria das vezes “respiração” no Salmo 104:9 para os peixes e “espírito” para os homens em Jó 34:14,15. Mas a palavra usada no original hebraico é a mesma para ambos [ruach] e o processo que ocorre também é exatamente o mesmo. Sendo assim, o “espírito” que Cristo e que Estêvão entregaram a Deus nada mais era do que as suas vidas humanas que voltavam para Deus que soprou-lhes o fôlego enquanto estes ainda viviam. O espírito que retorna para Deus é, como vimos, simplesmente o princípio animador da vida que concedido por Deus tanto para homens como para animais durante a jornada terrestre. O “espírito” não é o nosso “verdadeiro eu” – Certa vez, vi uma exemplificação que compreende muito bem os sentidos reais de alma e espírito humanos no contexto da criação. A vida surge quando um corpo inanimado (pó) se une com a força vital, denominada de ruach (espírito ou respiração). Como resultado desta união, o homem tornou-se uma alma vivente (cf. Gn.2:7). Em momento nenhum lhe é infundida uma alma; ao contrário, ele se faz uma alma vivente quando Deus lhes sopra a respiração [fôlego/espírito] nos seus corpos. Poderíamos compará-lo com a “eletricidade” nesta analogia. A questão que fica é: O que sucede à alma vivente, como resultado da junção da respiração com o pó? A resposta para essa pergunta pode ser ilustrada através da nossa ilustração com a lâmpada. A lâmpada pode ser analogicamente comparada com o corpo e a eletricidade com o espírito. Enquanto a eletricidade circula por dentro da lâmpada, há luz. A luz é como a alma vivente, o ser racional. Quando, porém, desligamos o interruptor da luz e a eletricidade cessa de circular na lâmpada, para onde é que a luz vai? Simplesmente deixa de existir. Não vai para uma outra dimensão. Ao sair da lâmpada, ela simplesmente acaba. Igualmente, quando Deus resolve desligar a “eletricidade” da nossa vida, o fôlego deixa de entrar de entrar em nosso corpo. Para onde vai a alma vivente? Para onde vai a pessoa? Vai imediatamente para o Céu, para o inferno ou para o purgatório? Não, deixa de existir. Exatamente como a luz. A Bíblia descreve este estado como um sono pacífico (cf. Sl.13:3). Mais um outro exemplo elucidativo: a alma é o resultado da junção do pó da terra com o fôlego da vida (cf. Gn.2:7). Assim, entendemos que não há uma alma viva [vivente] sem o corpo (pó) com o espírito (fôlego de vida). É como a água, que é a combinação de oxigênio e hidrogênio. Mas se você separar os dois elementos a água desaparece. Não existe uma alma vivente sem o corpo com o fôlego de vida. Poderíamos elucidar a questão da seguinte maneira: LÂMPADA + ELETRECIDADE = LUZ LÂMPADA – ELETRECIDADE = SEM LUZ OXIGÊNIO + HIDROGÊNIO = ÁGUA OXIGÊNIO – HIDROGÊNIO = SEM ÁGUA PÓ DA TERRA + FÔLEGO DA VIDA [ESPÍRITO] = ALMA VIVENTE [vida] PÓ DA TERRA – FÔLEGO DA VIDA [ESPÍRITO] = ALMA MORTA [sem vida] Estêvão conhecia a Bíblia, e sabia que o espírito voltava para Deus que é quem o deu (cf. Ec.12:7). E quando ele entregou o espírito (cf. At.7:59,60), para onde Estêvão foi? Ele foi para o Céu ou para o inferno? Ele foi arrebatado? Foi levado para junto de Cristo? Não. A Bíblia diz simplesmente que ele
  • 16. “adormeceu” (cf. At.7:60). Igualmente, Jesus Cristo entrega o espírito no momento da morte (cf. Lc.23:46), mas a Bíblia afirma que a sua alma esteve no Sheol (cf. At.2:27), no coração da terra durante os três dias e três noites em que esteve morto (cf. Mt.12:40), e não no Paraíso! Além disso, declara à Maria Madalena, após três dias que esteve morto, que ainda não subiu para o Pai (cf. Jo.20:17). Isso nos revela que o comprometimento de seu espírito (cf. Lc.23:46) não foi o seu regresso ao Pai. O espírito separado do corpo não é o "real" você! Na morte, o real volta ao pó (cf. Gn.3:19). O espírito de todos volta para Deus (cf. Ec.12:7), pois foi Deus quem o deu. Esse é o princípio básico da vida: a vida deriva de Deus, é sustida por Deus e volta para Deus por ocasião da morte. O corpo se desintegra (volta a ser pó) e o fôlego da vida (espírito), que Deus assoprou originalmente nas narinas de Adão, retorna para Ele. Esse é um princípio universal de que Deus recebe o espírito de todos, evidentemente não sendo o nosso “verdadeiro eu”. Outra designação comum na Bíblia com relação ao sentido de “alma” é de “vida”. A vida é o resultado do que o homem foi formado (ou seja, pó da terra + fôlego de vida = vida [alma vivente]). Por isso mesmo, em muitas ocasiões a palavra “alma” é corretamente traduzida simplesmente por “vida” ou como “vida eterna” no sentido ampliado de alma-psiquê empregado no Novo Testamento. Tal sentido secundário não adultera o sentido primário simplesmente porque não apresenta nenhuma contradição com outras verdades bíblicas (como Gênesis 2:7 que narra o simplismo bíblico da alma como resultado e não como parte da porção), e, ainda mais, é um significado secundário plausível uma vez que a vida é o resultado dos elementos que tornaram o homem um ser animado. Em outras palavras, se uma “alma vivente” é simplesmente um “ser vivo”, a alma pode ser assim classificada, então, como a própria vida humana. Veremos mais detalhes sobre isso neste estudo ao explorarmos algumas passagens bíblicas tais como, por exemplo, a de Mateus 10:28, usada pelos imortalistas como suposta “prova” da imortalidade da alma. O corpo é a alma visível – A partir do relato da criação humana em Gênesis 2:7, podemos perceber claramente que o homem é uma alma e possui um fôlego de vida que dá a animação ao corpo formado do pó. O que seria então o “corpo”? Nada mais é do que a alma visível. A alma é a pessoa integral, como o resultado do corpo formado do pó da terra com a fusão do fôlego de vida [espírito] soprado em suas narinas para o homem tornar-se um ser vivente. Dito em termos simples, o corpo não é a prisão da alma, mas reflete a própria alma como visivelmente ela é. O Dr. Hans Walter Wolff faz a seguinte ponderação: “O que nephesh [alma] significa? Certamente não a alma [no sentido dualístico tradicional] (...) O homem não possui nephesh [alma], ele é nephesh [alma], ele vive como nephesh [alma]”2 A Bíblia confirma tal posição relatando inúmeras vezes a morte do corpo como a morte da alma (ver Lv.19:28; 21:1, 11; 22:4; Nm.5:2; 6:6,11; 9:6, 7, 10; 19:11, 13; Ag.2:13). Nestas passagens, o original hebraico traz alma [nephesh] embora fosse o corpo (ou “carne”) que jazia morto. Por exemplo: “Todos os dias da sua consagração para o Senhor, não se aproximará de um cadáver” (cf. Nm.6:6). No original hebraico dessa mesma passagem lemos: “kol-yemêy hazziyro layhvh `al-nephesh mêth lo' yâbho'” (cf. Nm.6:6). Também lemos em Números 9:7 – “Estamos imundos por termos tocado o cadáver de um homem; por que havemos de ser privados de apresentar a oferta do Senhor, a seu tempo, no meio dos filhos de Israel?” (cf. Nm.9:7); no original hebraico: “vayyo'mru hâ'anâshiym hâhêmmâh 'êlâyv 'anachnu 2 WOLFF, Hans Walter. Anthropology of the Old Testament. Filadélfia, 1974, p. 1.
  • 17. themê'iymlenephesh 'âdhâm lâmmâh niggâra` lebhiltiy haqribh 'eth-qorbanAdonay bemo`adho bethokh benêy yisrâ'êl” (cf. Nm.9:7). Lemos também em Números 19:11 – “Aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, imundo será sete dias” (cf. Nm.19:11); no original hebraico: “hannoghêa` bemêth lekhol-nephesh 'âdhâm vethâmê' shibh`ath yâmiym” (cf. Nm.9:11). E dois versos à frente: “Todo aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, e não se purificar, contamina o tabernáculo do Senhor; essa pessoa será eliminada de Israel; porque a água purificadora não foi aspergida sobre ele, imundo será; está nele ainda a sua imundícia” (cf. Nm.19:13). No texto original hebraico: “kol-hannoghêa` bemêth benephesh hâ'âdhâm 'asher-yâmuth velo'yithchathâ' 'eth-mishkan Adonay thimmê' venikhrethâh hannephesh hahiv'miyyisrâ'êl kiy mêy niddâh lo'-zoraq `âlâyv thâmê' yihyeh `odhthum'âtho bho” (cf. Nm.19:13). Poderíamos ficar o livro todo repassando inúmeras passagens bíblicas que demonstram de maneira clara que para os hebreus o corpo nada mais era do que a própria alma visível, não tinha absolutamente parte nenhuma com qualquer segmento imaterial ou imortal. Por isso, o cadáver de um homem era frequentemente relacionado à alma que jazia morta porque o corpo é a alma visível. Para Moisés e para os hebreus, a alma nunca foi imortal. Mas, para aquelas pessoas que insistem em se opor à doutrina da mortalidade bíblica, “estarão em apuros para explicar aquelas passagens que falam de uma pessoa morta como uma alma-nephesh morta (Lev. 19:28; 21:1, 11; 22:4; Núm. 5:2; 6:6, 11; 9:6, 7, 10; 19:11, 13: Ageu 2:13). Para elas é inconcebível que uma alma imortal possa morrer com o corpo”3 A alma não é algo imaterial – Nenhum escritor bíblico tinha em mente a crença de que o corpo é a prisão de uma alma imaterial dentro dele. Isso fica muito claro na Bíblia por inúmeras razões. Em primeiro lugar, porque a Bíblia afirma que a alma emagrece: “E ele lhes cumpriu o seu desejo, mas enviou magreza às suas almas” (cf. Sl.106:5). Evidente que, se a alma fosse uma entidade imaterial, então ela não poderia “emagrecer” de jeito nenhum! É óbvio que a alma é o ser integral do homem e, sendo assim, ela também emagrece junto com o corpo (lembre-se de que o corpo é a alma visível). Se a alma emagrece, então ela não é imaterial mas sim algo bem material, que nasce, que cresce, que emagrece, que engorda, que sente sede, que envelhece e que morre. Se a crença dos escritores bíblicos fosse de que apenas o corpo que sofre todas essas alterações físicas naturais (como nascer, crescer, emagrecer, morrer, etc), então o salmista certamente teria empregado a palavra hebraica bashar, que significa “corpo”, e não nephesh (alma). O mesmo pode ser dito com relação aos demais pontos que apresentarei a seguir. Isaías nos diz que “será também como o faminto que sonha, que está a comer, porém, acordando, sente- se vazio; ou como o sedento que sonha que está a beber, porém, acordando, eis que ainda desfalecido se acha, e a sua alma com sede; assim será toda a multidão das nações, que pelejarem contra o monte Sião” (cf. Is.29:8). Uma entidade imaterial não pode sentir sede, pois a sede é uma característica do corpo físico. No máximo poderia sentir sede em um sentido puramente metafórico, como quando o salmista afirma que tem “sede de ti [de Deus]” (cf. Sl.143:6). Mas no contexto no qual o texto de Isaías está inserido percebemos facilmente que se trata não de uma linguagem poética ou alegórica, mas natural e literal. 3 BACCHIOCCHI, Samuele. Imortalidade ou Ressurreição: Uma abordagem bíblica sobre a natureza e o destino eterno. Unaspress, 1ª edição, 2007.
  • 18. Ele fala de pessoas fisicamente famintas que sonham em comer algo, mas que acordam e veem que estão vazias, e de pessoas com sede que sonham que estão bebendo algo, mas que acordam e ainda estão desfalecidas, e a sua alma com sede. Sede do que? Sede de Deus? Não, sede de beber algo, como o contexto indica. Trata-se de pessoas fisicamente com sede, que sonham em estar bebendo algo, mas acordam e percebem que não beberam nada, que ainda estão desfalecidas fisicamente, que a sua alma continua com sede. Nisso fica muito claro que a alma é o próprio ser vivente como pessoa, e não algo imaterial dentro dele. Outro exemplo semelhante ocorre quando os israelitas murmuravam no deserto na insistência por carne: “Agora, porém, seca-se a nossa alma [nephesh], e nenhuma cousa vemos senão este maná” (cf. Nm.11:16). Eles estavam falando de um maná físico, e de uma sede real, não meramente de algo simbólico ou em algum sentido espiritual. Portanto, a alma que está seca se refere ao próprio físico que clama por outra comida além do maná. Ou seja, a alma é identificada novamente como sendo algo físico e visível na forma do corpo, e não em uma substância imaterial residente dentro do corpo. Existem muitas coisas que um elemento imaterial não pode fazer. Uma dessas é chorar, por exemplo. Contudo, lemos na Bíblia que a alma de tristeza verte lágrimas: “Chora de tristeza a minha alma; reconfortai-me segundo vossa promessa” (cf. Sl.119:28). Se a alma derrama lágrimas, então ela não é imaterial. Nada há nas Escrituas nada que possa mostrar que a alma é um segmento imaterial na natureza do homem, afinal, se assim fosse esperaríamos que ela não pudesse derramar lágrimas, uma vez sendo isso um fenômeno natural, material, físico, visível. Além disso, a Bíblia afirma categoricamente que a alma desce à cova após a morte (cf. Jó 33:18,22,28,30; Is.38:17; Sl.94:17). Se a alma fosse algo imaterial, então ela de maneira nenhuma poderia descer à sepultura na morte (ela deveria era subir ao Céu ou ir para o inferno). Também sabemos que a Bíblia afirma inúmeras e incansáveis vezes que a alma morre, e uma entidade imaterial não pode falecer (ver a morte da alma em Nm.31:19; Nm.35:15,30; Js.20:3,9; Jo.20:3,28; Gn.37:21; Dt. 19:6, 11; Jr.40:14,15; Jz.16:30; Nm.23:10; Ez.18:4,20; Jz.16:30; Nm.23:10; Mt.10:28; Ez.22:25,27; Jó 11:20; At.3:23; Tg.5:20, etc). Jó fala que “se comi os seus frutos sem dinheiro, e sufoquei a alma dos seus donos, por trigo me produza cardos, e por cevada joio. Acabaram-se as palavras de Jó” (cf. Jó 31:39,40). “Sufocar a alma” significa sufocar a própria pessoa, porque algo imaterial não pode ser sufocado. Por fim, a Bíblia declara a alma como em Gênesis 2:7: uma pessoa, e não uma entidade imaterial. Assim podemos entender que Abraão “tomou a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e as almas que lhe acresceram em Harã; e saíram para irem à terra de Canaã; e chegaram à terra de Canaã” (cf. Gn.12:5). Abraão não estava tomando para si substâncias imateriais, mas sim algo bem material, pessoas, de carne e osso. Concluímos, pois, que a alma não é um segmento imaterial, mas sim a própria vida humana como o resultado da junção do pó da terra com o fôlego de vida (para dar animação ao corpo morto), resultando em um ser vivo. Enquanto o dualismo platônico ensina que a alma-psiquê é algo imaterial, intangível, invisível, eterno e imortal, as Sagradas Escrituras apresentam a alma como referência a criaturas terrestres, incluindo os animais, referindo-se a algo bem material, tangível, visível e mortal. Sumariando, corpo e alma não são duas pessoas dentro de um único ser (um mortal e outro imortal), mas sim duas características da mesma pessoa. A alma é a sede dos pensamentos, que também perecem com a morte (cf. Sl.146:4). O corpo é um homem como um ser concreto. Isso não significa dualismo entre corpo e alma, mas sim duas características da mesma pessoa. Como disse Dom Wulstan Mork:
  • 19. “Não havia a dicotomia grega de alma e corpo, de duas substâncias opostas, mas uma unidade, homem, que é bashar [corpo] de um aspecto e nephesh [alma] de outro. Bashar, pois, é a realidade concreta da existência humana, nephesh é a personalidade da existência humana”4 De fato, a própria Enciclopédia Católica fez uma interpretação muito feliz daquilo que realmente significa “alma”, sem ter parte com algum segmento imaterial preso dentro do homem: “Nephesh [né·fesh] é um termo de muito maior extensão do que nossa ‘alma’, significando vida (Êx 21.23; Dt 19.21) e suas várias manifestações vitais: respiração (Gn 35.18; Jó 41.13,21), sangue [Gn 9.4; Dt 12.23; Sl 140(141).8], desejo (2 Sm 3.21; Pr 23.2). A alma no Antigo Testamento significa, não uma parte do homem, mas o homem inteiro — o homem como ser vivente. Similarmente, no Novo Testamento significa vida humana: a vida duma entidade individual, consciente (Mt 2.20; 6.25; Lu 12.22- 23; 14.26; Jo 10.11, 15, 17; 13.37)”5 A alma na cova – Outro fator importante que mostra que os escritores do Antigo e do Novo Testamento não imaginavam uma natureza dualista do ser humano é a resposta para a pergunta: para onde vai o corpo quando morre? Biblicamente, para a cova, a sepultura. De acordo com os imortalistas, a alma tem um destino diferente do corpo, prosseguindo de imediato ao Céu ou ao inferno. Sendo a alma a própria pessoa integral como o resultado do pó da terra com o fôlego de vida, entendemos que não há uma alma viva sem a combinação de corpo e espírito. Sem corpo não há uma alma vivente e sem espírito também não há alma viva. O que a Bíblia diz a respeito disso? A alma regressa ao lugar de silêncio (a sepultura) ou seria levada para tormentos eternos ou imediatamente ao Céu, tendo destinos diferentes do corpo? No livro de Jó temos a resposta a esta questão: “Para apartar o homem do seu designo e livrá-lo da soberba; para livrar a sua alma da cova, e a sua vida da espada” (cf. Jó 33:18). Como vemos, o lugar para onde a alma regressaria seria à cova (sepultura), e não para uma outra dimensão! Também continuamos lendo no mesmo capítulo: “Sua alma aproxima-se da cova, e sua vida, dos mensageiros da morte” (cf. Jó 33:22). Novamente é relatado o fato bíblico de que o lugar para onde a alma se aproxima não é para o Céu ou para o inferno, mas para a cova. E novamente continuamos lendo: “Ele resgatou a minha alma, impedindo-a de descer para a cova, e viverei para desfrutar a luz” (cf. Jó 33:28). A clareza da linguagem é tão evidente que não necessita de maiores elucidações. O lugar para onde a alma iria era para a cova, não era o destino apenas do corpo! Por que Eliú no livro de Jó omite completamente que a alma suba consciente para o Céu, inferno, ou qualquer outro canto, mas diz que ela desce para a cova? Ele estava tentando enganar os teólogos da doutrina da imortalidade? Bom, talvez. Mas, apesar de ter todas as possibilidades de narrar a sobrevivência da alma à parte do corpo, já assegurada em algum lugar “entre os salvos”, ele afirma de maneira categórica que o local da alma é na cova. Ele manifesta claramente a sua visão holista bíblica de que a alma não tem destinos diferentes do corpo após a morte. Ademais, além de relatar que a sua alma desceria para a cova caso morresse, ele ainda afirma que, uma vez que continua com vida, “viverei para desfrutar a luz”. 4 MORK, Dom Wulstan. The Biblical Meaning of Man. Milwaukee, Wisconsin, 1967, p. 34. 5 New Catholic Encyclopedia, 1967, Vol. XIII, p. 467.
  • 20. Em outras palavras, caso ele morresse já não veria mais luz nenhuma! Como se isso tudo não fosse suficientemente claro, o salmista declara o mesmo ponto de vista do livro de Jó, assumindo exatamente a mesma posição de que não é apenas o corpo que jaz na sepultura, mas a alma também: “Se o Senhor não fora em meu auxílio, já a minha alma habitaria no lugar do silêncio” (cf. Sl.94:17). Ora, qual era o lugar do silêncio no qual o salmista declara que partiria a sua alma? Evidentemente não é uma referência ao Céu com altos louvores e muito menos aos terrores e gritarias do fogo do inferno; sendo, antes, uma clara referência à sepultura, o verdadeiro lugar do silêncio para o qual o salmista afirma categoricamente que não o corpo tão somente, mas também a alma partiria após a morte. Quando o rei Ezequias estava à beira da morte, ele relata a sua convicção de que a sua alma partiria para a cova, para a corrupção: “Foi para minha paz que tive eu grande amargura; tu, porém, amaste a minha alma e a livraste da cova da corrupção, porque lançaste para trás de ti todos os meus pecados” (cf. Is.38:17). O Senhor livrou a sua alma de ir para onde? Pro Céu? Pro inferno? Pro purgatório? Não, de ir pra cova. Ezequias sabia que o destino de sua alma seria para a cova, para o lugar de corrupção. Por isso mesmo, ele clama pela manutenção de sua vida no capítulo inteiro (cf. Isaías 38). No Salmo 88:3, o salmista expressa a mesma ideia: “Porque a minha alma está cheia de angústia, e a minha vida se aproxima da sepultura” (cf. Sl.88:3). Outro fato interessante encontra-se no Salmo 49:8,9, que diz: “Pois o resgate da alma deles é caríssima, e cessará a tentativa para sempre, para que viva para sempre e não sofra decomposição” (cf. Sl.49:8,9). Aqui fica claro que a alma também pode sofrer decomposição; contudo, é passível de ser resgatada [na ressurreição] para viver para sempre e não sofrer decomposição [na sepultura]. Com toda a clareza necessária, a Bíblia não deixa espaços para a heresia de que o corpo é a prisão de uma alma imaterial e imortal que tem destinos diferentes após a morte partindo para o Céu ou para o inferno. Antes, a alma, como é a própria pessoa humana como o resultado do pó da terra com o fôlego da vida (cf. Gn.2:7), jaz na sepultura. Não obstante a isso, o salmista afirma: “Na prosperidade repousará a sua alma, e a sua descendência herdará a terra” (cf. Sl.25:13). A alma também “repousa”, não é só o corpo que dorme! Muito embora os escritores bíblicos tivessem a sua disposição a plena condição de relatar que o corpo somente é que desce a cova ou que “repousa”, eles insistem em declarar que a alma [nephesh] desce a cova, a corrupção, ao silêncio. Ponderamos: iriam todos eles relatar que a alma jaz na cova caso tivessem em mente que após as suas mortes a sua alma partiria logo para qualquer lugar, menos para a cova? É óbvio que não! A crença dos escritores bíblicos era de uma natureza holista e não dualista do ser humano, de modo que a alma não escapava da sepultura. É digno de nota, também, o fato de que nunca em passagem nenhuma da Bíblia há qualquer declaração de algum relato da alma subindo ao Céu ou descendo para o inferno. Em absolutamente todas as vezes em que alguém relata o local onde a sua alma partiria com a morte, diz respeito somente a sepultura. Evidentemente a alma descer para a cova é a conclusão dos escritores bíblicos diante do fato de que a alma morre, e é exatamente isso o que veremos a seguir. Afinal, “que homem há, que viva, e não veja a morte? Livrará ele a sua alma do poder da sepultura?” (cf. Sl.88:48). Não! Ninguém! Todos os homens são mortais e não tem uma vida inerentemente imortal; a alma de todos está sujeita ao poder da sepultura! O salmista deixa nítido que todos os homens morrem e descem à sepultura, e que esta morte não se resume apenas ao corpo, mas também à alma, fazendo a pergunta retórica: “livrará ele a sua alma do poder da sepultura”? Diante de tudo isso, apenas alguém bem mal intencionado para acreditar que os escritores bíblicos acreditavam que a alma tinha destinos diferentes do corpo após a morte, uma vez que a Bíblia apresenta tantas vezes não só a morte da alma, mas também a sua descida ao silêncio e a cova (sepultura), bem como que a alma está “repousando”. Sendo assim, a visão bíblica, como vimos, é holista, e não dualista.
  • 21. Paralelismo entre corpo e alma - Somente aquele que entende que corpo e alma são duas características da mesma pessoa e não duas coisas opostas, entenderá o paralelismo bíblico entre corpo e alma: “Ó Deus, tu és o meu Deus forte, eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de Ti; meu corpo Te almeja” (cf. Sl.63:1). Corpo e alma não são dois opostos; doutra forma seria impossível que eles fossem colocados intercambiavelmente. Isso seria uma afronta para a doutrina dualista, que prega exatamente o contrário disso, isto é, que corpo e alma são dois opostos, dois extremos distintos, material e imaterial, mortal e imortal. Qual nada, ambos são colocados intercambiavelmente em um paralelismo bíblico, porque são duas manifestações da mesma pessoa, e não formas diferentes de existência. Nisso fica muito claro a visão bíblica holista em detrimento da doutrina dualista. Colocar corpo e alma intercambiavelmente como paralelismo seria uma completa afronta à visão grega dualista, que prega exatamente o inverso disso, isto é, que um é antagônico – oposto – ao outro. O mesmo paralelismo é feito no Salmo 84:2 entre alma, coração e carne e também em Jó 14:22 incluindo corpo e alma. Devemos sempre lembrar que, de acordo com o dicionário, paralelismo é “um encadeamento de funções sintáticas idênticas ou um encadeamento de orações de valores sintáticos iguais. Orações que se apresentam com a mesma estrutura sintática externa, ao ligarem-se umas às outras em processo no qual não se permite estabelecer maior relevância de uma sobre a outra”6 . Paralelismo é, portanto, quando duas linhas expressam o mesmo pensamento em linguagem ligeiramente diferente, ou quando o pensamento da primeira linha é completado, ampliado ou intensificado na segunda, tendo a mesma aplicação prática. Noutras palavras, se corpo e alma fossem dois distintos opostos como pregam os dualistas (o corpo mortal e a alma imortal; o corpo corruptível e a alma incorruptível; o corpo material e a alma imaterial), então o que esperaríamos seria justamente uma antítese, isto é, um contraste nítido entre ambos que expressaria tal discrepância. Contudo, o que vemos na Bíblia é que corpo e alma são usados intercambiavelmente como paralelismo, porque não são dois opostos e nem duas “pessoas” dentro de um único ser, mas sim duas características da mesma pessoa, pois os dois estão intimamente relacionados; o corpo é a forma exterior da alma e a alma é a vida interior do corpo humano. Por isso, eles não são opostos (como ensinavam os gregos dualistas), mas intercambiáveis (como apregoa o holismo bíblico). Tal definição fere gritantemente o conceito platônico da “alma imortal”. A sede dos pensamentos – Alguma parte dos defensores da imortalidade da alma sustentam que o fato dela ser utilizada biblicamente como fonte dos pensamentos humanos significa que ela é um segmento imortal. Sustentam a diferença entre a parte mortal (que não pensa) e a imaterial implantada por Deus (que comanda os sentimentos humanos). Essa conclusão, contudo, carece inteiramente de respaldo teológico. Isso porque o coração também é utilizado biblicamente como sede dos pensamentos, ainda mais do que a própria alma. Por exemplo, é nos dito que o coração é sede de alegria (cf. Pv.27:11), coragem (cf. Sm.17:10), tristeza (cf. Ne.2:2), desânimo (cf. Nm.32:7), perturbação (cf. 2Rs.6:11), tenção (cf. Is.35:4), ódio (cf. Lv.19:17), amor (cf. Dt.13:3), confiança (cf. Pv.31;11), generosidade (cf. 2Cr.29:31), inveja (cf. Pv.23:17). O coração estremece (cf. 1Sm.28:5), excita-se (cf. Sl.38:10), desmaia (cf. Gn.45:26), adoece (cf. Pv.13:13), desfalece (cf. Gn.42:28), agita-se (cf. Pv.13:12). 6 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Paralelismo_sint%C3%A1tico>. Acesso em: 15/08/2013.
  • 22. Em outras ocasiões, o coração é claramente indicado como sendo a fonte dos pensamentos e sentimentos do ser humano: “Pois do coração procedem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias” (cf. Mt.15:39). Por isso mesmo, “sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (cf. Pv.4:23). E quando Davi diz a Salomão: "E você, meu filho Salomão, reconheça o Deus de seu pai, e sirva-o de todo o coração e espontaneamente, pois o Senhor sonda todos os corações e conhece a motivação dos pensamentos” (cf. 1Cr.28:9). Portanto, se a alma é imortal porque em determinadas ocasiões é utilizada como fonte de sentimentos e emoções, então o coração certamente não pode deixar de ser também. O próprio fato de organismos materiais que perecem com a morte do corpo serem utilizados como sede dos pensamentos juntamente com a alma, nos mostra que ambos não são duas partes distintas (uma pensante e outra matéria irracional), mas sim duas manifestações do mesmo ser mortal. Não existe um aspecto espiritual em contraposição ao físico, nem o ser “interior” em oposição ao “exterior”, mas sim o ser como criatura viva, consciente e pessoal. O paralelismo bíblico entre alma e coração como sede dos pensamentos nos mostra que eles não são duas entidades distintas, mas consistem em duas maneiras de se referir a si próprio. Os escritores bíblicos se utilizavam de paralelismo entre coração e espírito como sede dos sentimentos: “O coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido faz secar os ossos” (cf. Pv.17:22). E também de paralelismo entre coração e alma: “O Senhor, o seu Deus, está pondo vocês à prova para ver se o amam de todo o coração e de toda a alma” (cf. Dt.13:3). Tal paralelismo entre coração e alma nos mostra que ambos são tão somente agentes materiais utilizados intercambiavelmente ao tratar-se dos pensamentos e sentimentos humanos. O coração e a alma não são dois opostos (um material e outro imaterial; um mortal e outro imortal), mas dois agentes que estão intimamente ligados entre si, sendo duas características da mesma pessoa, e não entidades opostas. Isso nos permite perfeitamente acentuarmos o parelelismo entre alma e coração e colocarmos ambos como sede dos pensamentos, o que infelizmente não é possível no modelo dualista tradicional. A verdade bíblica é a de que o sopro de Deus que nos traz fôlego de vida é visivelmente presente na forma da respiração, e a alma é visivelmente presente na forma do corpo. Por isso, corpo, alma, espírito e coração não são opostos e nem distintos, mas características da mesma pessoa, o ser integral holista do ser humano. A Bíblia Sagrada, em sua totalidade, contradiz gritantemente os conceitos platônicos da “alma imortal”. IV–A morte da alma No Antigo Testamento – A Bíblia relata a morte da alma tantas inúmeras vezes que eu tive que resumir citações condensadas aqui ao invés de passar uma a uma. O arsenal bíblico da morte da alma é tão significativo ao ponto de nenhum exegeta sério poder contestar que este é um fato. Ela não sobrevive a parte do corpo, mas, pelo contrário, morre com ele, pelo que não existe “alma vivente” sem o corpo com o fôlego de vida. Quando o fôlego de vida [espírito] é retirado, nós que somos almas viventes nos tornamos almas mortas. É por isso que a Bíblia fala tão frequentemente na morte da alma também. No Antigo Testamento, os escritores bíblicos quase cansaram de falar que a alma morre. No texto original hebraico, a alma morria, era transpassada, podia ser morta, morria para esta vida e morria para a próxima, a alma morria a toda hora. Josué conseguiu o “feito” de exterminar muitas almas... (ver Josué 10:28 no original hebraico: “Ve'eth-maqqêdhâh lâkhadh yehoshua` bayyom hahu' vayyakkehâlephiy-
  • 23. cherebh ve'eth-malkâh hecherim 'othâm ve'eth-kâl-hannephesh 'asher-bâh lo' hish'iyr sâriydh vayya`as lemelekh maqqêdhâh ka'asher `âsâhlemelekh yeriycho”). A tradução literal ficaria assim: “Naquele dia tomou Maquedá. Atacou a cidade e matou o rei a espada e exterminou toda a alma que nela vivia, sem deixar sobreviventes. E fez com o rei de Maquedá o que tinha feito com o rei de Jericó”. E não foi só essa vez que Josué conseguiu o feito extraordinário de matar não só o corpo, mas a alma também: em Josué 10:30, 31, 34, 36 e 38, a alma costumava morrer sempre. No original hebraico, Josué “matou a espada todas as almas” (cf. Js.10:30), e “exterminou toda a alma” (cf. Js.10:28). Definitivamente, se existia uma imortalidade da alma, então Josué deveria ganhar uma medalha de honra ao mérito por tais feitos. Se alguém “matava uma alma acidentalmente”, podia fugir para uma cidade de refúgio (cf. Js.20:3). Era possível aniquilar uma alma sem intenção (cf. Js.20:9). A alma morria tantas vezes, que uma referência completa a todas as passagens nos faria superar os limites de escopo deste livro. É claro que a maioria das versões bíblicas a nossa disposição simplesmente não traduzem a palavra “alma” como colocada no original hebraico [nephesh] pelo simples fato de que isso seria uma afronta à teoria imortalista de que é só o corpo que morre e a alma não. Os personagens bíblicos não acreditavam que seria apenas o corpo que morreria, pois eles categoricamente afirmam: “Quem contará o pó de Jacó e o número da quarta parte de Israel? Que a minha alma morra da morte dos justos, e seja o meu fim como o seu” (cf. Nm.23:10). Veja que ele não diz: “que meu corpo morra a morte dos justos”, o que presumivelmente seria a única coisa que os defensores da imortalidade da alma afirmariam. A própria alma não escaparia da morte, e essa era a tão forte convicção de toda a Bíblia. A esperança deles não era que as suas almas fossem imortais, mas sim que elas morressem as mortes dignas dos justos, isto é, com honra. Este seria o fim deles, e não um início de uma nova existência! Tal convicção de que a alma também não escapa da morte pode ser encontrada mais inúmeras vezes: “Dai-me um sinal seguro de que salvareis meu pai, minha mãe, meus irmãos, minhas irmãs e todos os que lhe pertencem e livrareis as nossas vidas da morte” (cf. Js.2:13). Caso os israelitas atacassem Jericó, as “vidas” da família de Raabe seriam mortas. Poucos sabem, contudo, que o original hebraico verte novamente a morte da alma-nephesh ao invés de “vida” como é traduzido por muitas versões. A Versão King James é uma das versões que traduzem nesta passagem corretamente a morte da alma, como sendo o próprio término da vida, a cessação da existência. Em Deuteronômio 19:11, a tradução em português assim reza: “Mas, se alguém odiar o seu próximo, ficar à espreita dele, atacá-lo e matá-lo, e fugir para uma dessas cidades...”. Contudo, o original hebraico traz novamente a morte da alma: “Vekhiy-yihyeh 'iysh sonê'lerê`êhu ve'ârabh lo veqâm `âlâyv vehikkâhu nephesh vâmêth venâs'el-'achath he`âriym hâ'êl”. “Matá-lo” aqui é a tradução do original hebraico que traz nephesh: matar a alma! Em Jó 27:8, quando lemos que Deus eliminaria os ímpios, tirando a sua vida, o original traduz por “tira a alma” [nephesh]: “Pois, qual é a esperança do ímpio, quando é eliminado, quando Deus lhe tira a alma [nephesh]”? O fato bíblico é que “a alma que pecar, essa morrerá” (cf. Ez.18:4; Ez.18:21). Se Deus tivesse feito a alma imortal, teria dito a Ezequiel que “a alma que pecar viverá eternamente em estado desencarnado”; ou, então, diria que “a alma que pecar nunca morrerá”! Contudo, vemos que nem mesmo a alma está isenta da morte. Os autores bíblicos usavam e abusavam da morte da alma. Outro fato interessante encontra-se no Salmo 49:8,9, que diz: “Pois o resgate da alma deles é caríssima, e cessará a tentativa para sempre, para que viva para sempre e não sofra decomposição” (cf. Sl.49:8,9). Se a alma fosse algo à parte do corpo
  • 24. que se desliga deste por ocasião da morte, então ela jamais poderia em circunstância alguma sofrer decomposição. O que deveria sofrer decomposição seria o corpo, somente, e não a alma. Contudo, o verso 8 faz menção a nephesh - alma! A verdade é que no original hebraico a alma é explicitamente morta: “Para que nelas se acolha aquele que matar alguém [nephesh] involuntariamente” (cf. Nm.35:15). Evidentemente o hebraico nephesh [alma] nunca é traduzido na maior parte das versões pelo simples fato de que isso iria suscitar o questionamento de que a alma claramente morre com a morte do corpo. Por isso, traduzem até o “matar alguém”... e daí pulam imediatamente para o: “...involuntariamente”. Não traduzem por “matar alguma alma”, pois desta forma é muito mais fácil enganar os leitores que não tem como descobrir usando apenas a linguagem disponível no texto em português se o verso verte a morte apenas do corpo ou também da alma. O que bem podemos observar, ao longo de toda a Bíblia, é que a alma morre tanto quanto o corpo (ou até mais), mas isso é escondido dos leitores pela maioria das traduções. Tais casos semelhantes ocorrem inúmeras vezes nas Escrituras. Alguns, na tentativa de provar que a alma é imortal, argumentam usando o texto de 1ª Reis 17:21-22, que assim diz: “E estendendo-se três vezes sobre o menino, clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor meu Deus, rogo-Te que faças a alma deste menino tornar a entrar nele. E o Senhor atendeu à voz de Elias; e a alma do menino tornou a entrar nele, e reviveu” (cf. 1Rs.17:20-22). Mas, na realidade, tudo o que este texto nos mostra é que a alma do menino, que estava morta, voltou a ter vida – ele tornou-se novamente um ser vivente, uma alma vivente. Corrobora com isso a variante linguística do texto, como observa o Dr. Samuelle Bacchiocchi: “Esta leitura, que se acha à margem da versão AV, apresenta uma construção linguística diferente. O que retorna às partes interiores é a respiração. A alma como tal nunca se liga a algum órgão ‘interior’ do corpo. O retorno da respiração às partes interiores resulta no reavivamento do corpo, ou, poderíamos dizer, faz com que se torne uma vez mais uma alma vivente”7 Concorda com isso também o significado secundário de alma como sendo "vida". Cristo disse que aquele que queria segui-lo teria que odiar a sua alma-psiquê (cf. Jo.12:25). Odiar a "si mesmo"8 ou a um elemento imortal que o próprio Deus tenha implantado no homem, como creem os imortalistas, não faz qualquer sentido, razão pela qual a maioria das traduções bíblicas tem vertido a passagem por "vida"9 . Isso é o mesmo que ocorre em 1ª Reis 17:22, onde alma aparece no sentido de vida. A "vida" voltou ao menino, como diz a NVI: "O Senhor ouviu o clamor de Elias, e a vida voltou ao menino, e ele viveu" (cf. 1Rs.17:22), e desta forma ele passou a ser uma alma vivente novamente, não mais uma alma morta10 . Sobre isso, Bacchiocchi acrescenta: “Até mesmo o Interpreter’s Dictionary of the Bible [Dicionário bíblico do intérprete], de concepção liberal, em seu verbete sobre a morte declara explicitamente: ‘A partida do nephesh [alma] deve ser vista como uma figura de linguagem, pois não continua a existir independentemente do corpo, mas morre com ele 7 BACCHIOCCHI, Samuele. Imortalidade ou Ressurreição: Uma abordagem bíblica sobre a natureza e o destino eterno. Unaspress, 1ª edição, 2007. 8 Cristo disse para amar o próximo como a si mesmo (cf. Mt.22:39), e não para odiar a si mesmo, o que seria uma contradição. 9 Tal como fazem a Almeida Revisada e Imprensa Bíblica, a Nova Versão Internacional e a Sociedade Bíblica Britânica, além das versões católicas Ave Maria, a Bíblia de Jerusalém e versão da CNBB. 10 Algum imortalista poderia aproveitar essa ocasião para objetar dizendo que "alma" também deveria ser traduzida por "vida" nas mais de 58 citações explícitas onde ela morre, como se resolvesse o problema da morte da alma. Contudo, "matar a vida" não faz qualquer sentido, mostrando que nessas ocasiões alma aparece em seu significado primário, de um ser vivo, e eliminando aqui a possibilidade de se tratar de um elemento imortal que sobrevive à parte do corpo após a morte, que é o significado principal de alma na visão imortalista.
  • 25. (Núm. 31:19; Juí. 16:30; Eze. 13:19). Nenhum texto bíblico autoriza a declaração de que a ‘alma’ é separada do corpo no momento da morte. O ruach, ‘espírito’, que faz do homem um ser vivente (cf. Gên. 2:7), e que ele perde por ocasião da morte, não é, falando-se apropriadamente, uma realidade antropológica, mas um dom de Deus que retorna a Ele ao tempo da morte. (Ecl. 12:7)’”11 Além disso, aquele que matasse alguma alma deveria ficar sete dias fora do arraial: “Acampai-vos por sete dias fora do arraial; todos vós, tanto o que tiver matado alguma alma [nephesh], como o que tiver tocado algum morto” (cf. Nm.31:9). Se tais “exterminadores de alma” vivessem no século presente e vissem o que o conceito de “alma” se tornou após a adoção universal do conceito platônico para este termo, iriam ficar realmente assombrados em descobrir que mataram almas imortais! A morte do corpo está sempre ligada à morte da alma porque o corpo é a forma visível da alma. Nós não temos uma alma presa dentro de nós que é liberta por ocasião da morte; nós somos essa “pessoa” que morre e que revive por ocasião da ressurreição (cf. Ap.20:4)! É por isso que, quando Josué conquistou as várias cidades além do Jordão, a Bíblia nos diz repetidas vezes que “ele destruiu totalmente toda alma [nephesh]” (cf. Js.10:28, 30, 31, 34, 36, 38). Definitivamente não haviam avisado Josué que no máximo o que ele matou foi somente um corpo! Em Deuteronômio 11:9, lemos que “havendo alguém que aborrece o seu próximo, e lhe arma ciladas, e se levanta contra ele, e o fere de golpe mortal, e se acolhe a uma destas cidades...”. A frase “o fere de golpe mortal” é uma infeliz tradução do original hebraico que diz “fere a alma-nephesh mortalmente”. Jamais poderíamos imaginar que um cidadão iria com a sua espada transpassar tanto um indivíduo num combate ao ponto de matar até a alma “imortal” e imaterial que essa pessoa possui dentro dela! É nítido que a alma não era crido como sendo algo imaterial com imortalidade preso dentro de nós, o que também fica claro em Jeremias: “Então disse eu: Ah, Senhor Deus! Verdadeiramente enganaste grandemente a este povo e a Jerusalém, dizendo: Tereis paz; pois a espada penetra-lhe até à alma” (cf. Jr.4:10). Se a alma fosse algo imaterial, não poderia ser atingida por objeto algum material e nem ser penetrada! Uma entidade imortal e imaterial não pode ser ferida com espada ou algum outro instrumento; contudo, lemos que “vos estejam à mão cidades que vos sirvam de cidades de refúgio, para que ali se acolha o homicida que ferir a alguma alma [nephesh] por engano” (cf. Nm.35:11). Aqui o “ferir” é propriamente a morte, porque o que a atinge é um homicida. Obviamente a morte do corpo é a morte da alma, pelo fato de que a alma não é um segmento imaterial que não pode ser atingido e nem destruído. Nenhum autor bíblico acreditava que existia uma alma imortal e imaterial presa dentro do nosso corpo, pois, se assim fosse, então a alma jamais e em circunstância alguma poderia ser morta e nem destruída em hipótese nenhuma! Isaías fala a respeito de Jesus nessas palavras: “Por isso lhe darei a sua parte com os grandes, e com os fortes ele partilhará os despojos; porque derramou a sua alma até a morte, e foi contado com os transgressores. Contudo levou sobre si os pecados de muitos, e intercedeu pelos transgressores” (cf. Is.53:12). Comentando essa passagem, o Dr. Samuelle Bacchiocchi afirma: “’Ele derramou’ é versão do hebraico arah que significa ‘esvazia, desnudar, ou deixar a descoberto’. Isso significa que o Servo Sofredor esvaziou-Se de toda a vitalidade e força da alma. Na morte, a alma não mais funciona como o princípio animador da vida, mas descansa na sepultura”12 11 BACCHIOCCHI, Samuele. Imortalidade ou Ressurreição: Uma abordagem bíblica sobre a natureza e o destino eterno. Unaspress, 1ª edição, 2007. 12 ibid.
  • 26. De qualquer forma, eles não insistiriam tanto na morte da alma, com os tradutores bíblicos na grande maioria dos casos traduzindo por “pessoa” ao invés de “alma-nephesh”, como deve ser traduzido, presumivelmente por causa de crerem que a alma é imortal e não pode ser morta, contrariando a Bíblia toda (cf. Nm.31:19; 35:15,30; Js.20:3, 9; Gn.37:21; Dt.19:6, 11; Jr.40:14, 15; Jz.16:30; Nm.23:10; Ez.18:4; Ez.18:21). Em Números 31:19, lemos que a morte do corpo é a morte da alma: “Acampai-vos sete dias fora do arraial; qualquer de vós que tiver matado alguma pessoa [nephesh] e qualquer que tiver tocado em algum morto, ao terceiro dia e ao sétimo dia, vos purificareis, tanto vós como os vossos cativos” (cf. Nm.31:19). O original novamente traz a morte da alma: “Ve'attem chanu michutslammachaneh shibh`ath yâmiym kol horêgh nephesh vekhol noghêa` bechâlâltithchathe'u bayyom hasheliyshiy ubhayyom hashebhiy`iy 'attem ushebhiykhem”. Qualquer erudito familiarizado com as Escrituras também irá se deparar repetidamente com a forte convicção bíblica de que, caso as pessoas morressem, as suas almas não escapariam da morte. Isso explica o porquê que, em tantos casos, vemos os salmistas agradecendo a Deus por ter livrado a alma deles da morte, prolongando os dias de vida deles, ou, então, dizendo que a sua alma morreria a morte dos justos: “Porque tu livraste a minha alma da morte, os meus olhos das lágrimas, e os meus pés da queda” (cf. Sl.116:8). “Para lhes livrar as almas da morte, e para os conservar vivos na fome” (cf. Sl.39:19) “Pois tu livraste a minha alma da morte; não livrarás os meus pés da queda, para andar diante de Deus na luz dos viventes?” (cf. Sl.56:13) “Quem contará o pó de Jacó e o número da quarta parte de Israel? Que a minha alma morra da morte dos justos, e seja o meu fim como o seu” (cf. Nm.23:10) “E a sua alma se vai chegando à cova, e a sua vida aos que trazem a morte” (cf. Jó 33:22) “Portanto guardareis o sábado, porque santo é para vós; aquele que o profanar certamente morrerá; porque qualquer que nele fizer alguma obra, aquela alma será eliminada do meio do seu povo” (cf. Êx.31:14) “Preparou caminho à sua ira; não poupou as suas almas da morte, mas entregou à pestilência as suas vidas” (cf. Sl.78:50) “E sucedeu que, importunando-o ela todos os dias com as suas palavras, e molestando-o, a sua alma se angustiou até a morte” (cf. Jz.16:16) “Conspiração dos seus profetas há no meio dela, como um leão que ruge, que arrebata a presa; eles devoram as almas; tomam tesouros e coisas preciosas, multiplicam as suas viúvas no meio dela” (cf. Ez.22:25) “E naquele mesmo dia tomou Josué a Maquedá, feriu-a a fio de espada, e destruiu o seu rei, a eles, e a toda a alma que nela havia; nada deixou de resto: e fez ao rei de Maquedá como fizera ao rei de Jericó” (cf. Js.10:28) “Os seus príncipes no meio dela são como lobos que arrebatam a presa, para derramarem sangue, para destruírem as almas, para seguirem a avareza” (cf. Ez.22:27)