Para muitos religiosos, o Espírito Santo é apenas uma "força impessoal" que emana de Deus. Porém, de acordo com as Escrituras o Espírito Santo é tanto pessoal quanto divino. Ele tem todos os atributos que revelam Sua personalidades, pois, pensa, sente e tem vontade própria.
A PESSOA E A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NO ANTIGO TESTAMENTO - I
1. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
1
A Pessoa e a Obra do Espírito Santo
no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil Gonçalves
2. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
2
DEDICATÓRIA
Aos servos de Deus consagrados e fiéis que labutam na pregação do Evangelho e na edificação da Igreja de
Cristo através dos dons recebidos do Espírito Santo este trabalho de pesquisa é fraternal e amorosamente
dedicado.
3. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
3
GRATIDÃO
Primeiramente, ao meu Deus que me abençoou e me guiou na realização deste estudo.
À minha querida esposa Jane Almeida da Silva, “a minha melhor metade” e companheira de todas as horas,
que sempre me apoia nos meus projetos e me incentiva muito para a concretização dos meus objetivos.
4. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
4
PREFÁCIO
Escrever sobre a Pessoa e a obra do Espírito Santo é uma tarefa desafiadora e empolgante ao mesmo
tempo. Conhecer o Espírito Santo é crucial para cada cristão. Entretanto, o Espírito Santo não é, como muitos
pensam e ensinam, apenas uma “força” ou “poder” sobrenatural que emana de Deus. Ele é um ser divino
dotado de personalidade, pois, tem sentimentos (Efésios 4.30; Romanos 15.13), vontade (I Coríntios 12.7-11;
Atos 13.1-4) e inteligência (Romanos 8.9). Ele é o nosso Ajudador e Companheiro que habita conosco e está
em nós. Ele é a Terceira Pessoa da Trindade Divina. Ele é Deus. Logo, não temos capacidade para entender
tudo sobre Ele. Os caminhos da Divindade (Pai, Filho e Espírito Santo) são insondáveis. É impossível para o
homem, que é mortal e pecador, esquadrinhar a mente e o caráter de Deus. Quanto mais estudamos sobre o
Espírito Santo mais nos damos conta de nossa ignorância acerca dEle. Nossa mente finita jamais poderá
perscrutar a Pessoa e as Obras sobrenaturais do Espírito Santo de Deus. Podemos dizer que aquilo que sabemos
sobre Ele é apenas “uma gota”, mas o que ignoramos é “um oceano”. Como está escrito nas Escrituras “Você
pensa que pode descobrir os segredos de Deus e conhecer completamente o Todo-Poderoso?” (Jó 11.7 –
NTLH).
Porém, o fato de conhecermos parcial e limitadamente a gloriosa pessoa do Espírito Santo, não deve
nos tornar apáticos ou alheios à sua presença poderosa em nosso meio. Somos totalmente dependentes da ação
bendita do Espírito de Deus. Sem Ele e sem a Sua operação sobrenatural não teríamos condições de servir a
Deus e, muito menos de realizar a Sua obra de redenção através da pregação do Evangelho. É o Espírito Santo
quem gera no ser humano o arrependimento. Ele opera na mente e no coração daqueles que ouvem a Sua voz
e os conduz à conversão e à santificação. Ele transmite virtude e poder para uma vida frutífera e vitoriosa. Ele
dirige o nosso pensar, o nosso sentir e o nosso caminhar, pois, é o nosso Guia, Orientador e Ajudador.
Devido à Sua operação espiritual e interior na mente e no coração do homem, as obras do Espírito
Santo, em certas circunstâncias não são percebidas, pois, Ele age, muitas vezes, “nos bastidores”,
discretamente. Seu trabalho é misterioso e silencioso, como o vento que esculpe as rochas, moldando-as e
dando-lhes formas sui generis. Talvez por esse motivo Jesus tenha comparado o agir do Espírito com: “O
vento que sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece
com todos os nascidos do Espírito.” (João 3.8 – NVI). Jesus ensinou que o Espírito Santo não falaria de Si
mesmo (João 16.13). Sem dúvida, o Espírito Santo é discreto e silencioso. Mas, a sua obra é poderosa e
transformadora. São raras as ocasiões que o Espírito Santo faz uso da palavra para transmitir uma mensagem
específica para alguém ou para a Igreja usando o pronome pessoal “Eu” (Atos 10.19,20; 13.1,2). Mas, isso
não significa que Ele está omisso. Precisamos aguçar nossos ouvidos e quebrantar nossos corações para
ouvirmos o que o “Espírito diz às Igrejas” do Senhor Jesus (Apocalipse 2.6,11).
O propósito deste livro não é fornecer uma abordagem completa e exaustiva sobre a Pessoa e a Obra
do Espírito Santo ou responder a todas as dúvidas sobre este tema, mesmo porque, conforme já dissemos, esta
tarefa é humanamente impossível. Queremos, porém, iniciar uma jornada nos livros bíblicos e averiguar nas
Escrituras como o Espírito Santo agiu no meio do povo de Deus em diferentes épocas e lugares. Tal
conhecimento, com certeza, nos enriquecerá e trará fortalecimento para a nossa vida espiritual.
Rogamos a Deus que abençoe grandemente cada leitor que entrar em contato com este livro. Que
através deste estudo possa crescer mais ainda na graça e no conhecimento de Jesus Cristo. Que o Espírito
Santo possa iluminar cada mente e cada coração para receber a orientação e sabedoria necessárias para uma
vida espiritual frutífera, abençoada e fiel diante do nosso Deus.
Com amor fraternal em Cristo Jesus,
Celso do Rozário Brasil Gonçalves1
Belém (PA), agosto de 2020
1
Curso Livre de Bacharel em Teologia pela FATAP (SP) 2016. Bacharel em Teologia (Convalidação) pela FATEBE
(2017), Pós-Graduado em Teologia pela FATEBE (2018-1), Acadêmico do Curso de Teologia da Uniasselvi (2021)
5. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
5
APessoa e a Obra do Espírito Santo - I
Celso do Rozário Brasil Gonçalves2
Índice
Introdução
A Etimologia da Palavra “Espírito”
I. O Espírito Santo no Antigo Testamento
1. O Espírito Santo no Pentateuco
1.1. O Espírito Santo como Criador de Todas as Coisas
1.2. O Espírito Santo é o Autor e Sustentador da Vida
1.3. O Espírito Santo Antes do Dilúvio
1.4. O Espírito Santo na vida de Abraão
1.5. O Espírito Santo na Vida de José
1.6. O Espírito Santo na vida de Moisés
(a) Moisés foi usado pelo Espírito Santo para operar diversos milagres
(b) O Espírito Santo e a construção do tabernáculo
1.7. O Espírito Santo e os Setenta Anciãos
1.8. O Espírito Santo na Vida de Josué
2. O Espírito Santo nos Livros Históricos
2.1. O Espírito Santo e os Juízes de Israel
(a) Otoniel
(b) Gideão
(c) Jefté
(d) Sansão
2.2. O Espírito Santo na vida de Saul
2.3. O Espírito Santo na vida de Davi
2.4. O Espírito Santo na Vida de Neemias
3. O Espírito Santo nos Livros Poéticos
3.1. O Espírito Santo no Livro de Jó
3.2. O Espírito Santo no livro de Salmos
3.3. O Espírito Santo em Provérbios, Eclesiastes e Cantares
4. O Espírito Santo nos Livros Proféticos
5. Evidências da Personalidade do Espírito Santo no Antigo Testamento
2
Bacharel em Teologia (Curso livre, 2016) pela FATAP (Faculdade de Teologia Adventista da Promessa) e FATEBE (Faculdade
Teológica Batista Equatorial de Belém, 2018), Pós-graduado em Teologia pela FATEBE.
celsobrasilgon@gmail.com
6. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
6
Introdução
Faz pouco tempo que li alguns capítulos do livro: “A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo
Testamento” da autoria do teólogo Stanley M. Horton. O autor deste livro, de forma bíblica e objetiva, trata
da pessoa e obra do Espírito Santo ao longo das páginas das Escrituras. Horton relata a seguinte experiência:
Há vários anos, quando eu estava no seminário, um dos meus professores perguntou a uma
classe, com 100 alunos de cerca de 25 denominações diferentes: “Quantos de vocês ouviram
um sermão sobre o Espírito Santo nesses últimos cinco anos?” Somente três ou quatro entre
nós levantamos a mão. O professor acrescentou: “Nos últimos dez anos?” Mais dois ou três
levantaram as mãos. Naquela época, havia poucos livros sobre o Espírito Santo.3
Confesso que fiquei preocupado com esta situação apresentada pelo referido escritor, pois, percebi.
que de lá para cá, pouca coisa mudou. Embora alguns estudiosos considerem o século XX como o “século do
Espírito Santo”4
, entretanto, constatamos, que muitos cristãos em nossos dias (já no século XXI) se
assemelham bastante com aqueles cristãos que Paulo encontrou na cidade de Éfeso que nem mesmo sabiam
da existência do Espírito Santo (Atos 19.2). Quando Paulo escreveu a sua carta aos irmãos em Corinto disse
que eles não deveriam ser “ignorantes acerca dos dons espirituais” (I Coríntios 12.1). Vemos assim que ao
longo da história eclesiástica havia muitas dúvidas sobre o Espírito Santo e Sua obra.
O surgimento e a expansão do pentecostalismo a partir de 1906, em Los Angeles, EUA, trouxe uma
ênfase extraordinária aos ministérios do Espírito Santo. Porém, o ensino bíblico da Terceira Pessoa da
Trindade ficou em segundo plano durante muitos anos. Atualmente, há o perigo da “pentecostalização”
desenfreada e alheia aos princípios bíblicos que, em alguns casos, tem acarretado alguns problemas sérios que
ameaçam a Igreja Brasileira. Queremos esclarecer que não somos contra o pentecostalismo, mesmo porque
que o problema não reside neste movimento religioso. A questão aqui é de ordem espiritual e está relacionada
com a falta de conhecimento bíblico sobre a bendita pessoa do Espírito Santo. Como bem explicou o teólogo
Hatcher:
Um dos mais sérios problemas com que se defrontam as igrejas e os crentes individuais, hoje
em dia, é o da compreensão distorcida e da confusão concernentes à obra do Espírito
Santo. Trata-se de um problema sério porque o poder das igrejas e a satisfação e utilidade dos
crentes se veem impedidos e destruídos quando há falta de conhecimento e entendimento
bíblicos a respeito das obras do Espírito Santo.”5
Talvez a doutrina bíblica do Espírito Santo seja a mais confusa de todas para alguns cristãos. O motivo
disso pode ser a pouca informação escrita nas páginas da Bíblia. As Escrituras falam muito do Pai e do Filho,
porém, não expõem detalhadamente a pessoa do Espírito Santo. Assim sendo, o Espírito Santo talvez seja a
pessoa da Trindade Divina menos conhecida pelos cristãos. Parece que Ele é apenas “um Deus desconhecido”
em nosso meio (Atos 17.23). Por quê? Porque falamos muito, em sermões e estudos bíblicos, sobre o Pai e
sobre Jesus, porém, dificilmente comentamos, demoradamente, sobre a pessoa e a obra do Espírito Santo em
nossos cultos. Provavelmente esta ignorância acerca do Espírito Santo tenha motivado Francis Chan a escrever
um livro com o seguinte título: “O Deus Esquecido – Revertendo Nossa Trágica Negligência para com o
Espírito Santo.” Neste livro, o referido autor afirma, em tom de lamento:
Do meu ponto de vista, o Espírito Santo é tristemente negligenciado e, em todos os sentidos
práticos, até mesmo esquecido. Ainda que nenhum cristão negue a existência dessa pessoa da
Trindade, posso até apostar que há milhões de frequentadores de igreja em todo o mundo
incapazes de dizer, de maneira confiante, que experimentaram a presença ou a operação do
3
HORTON, Stanley M. 1993, p. 13.
4
RYRIE, Charles C. 2004, p. 397
5
HATCHER, John A. 1982, p. 9
7. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
7
Espírito Santo em sua vida nos últimos meses. E muitos deles não acreditam que possam senti-
la.6
O renomado teólogo Langston também comentou sobre a falta de conhecimento por parte de alguns
cristãos acerca da doutrina do Espírito Santo. Ele disse:
“Infelizmente, o estudo desta doutrina é um dos mais negligenciados, não obstante ser ela uma das
mais importantes em toda a Teologia [...] Há, talvez, mais ignorância sobre o Espírito Santo e o seu trabalho
do que sobre qualquer outra fase importante da Teologia.”7
Diante desta situação, tive a oportunidade de conversar com alguns irmãos sobre este assunto
relacionado à Terceira Pessoa da Trindade. Confesso que fiquei decepcionado com alguns deles que se
mostraram céticos e duvidosos acerca da personalidade do Espírito Santo. Alguns acham difícil aceitar que o
Espírito Santo seja, de fato, dotado de personalidade, uma vez que escutam na igreja onde congregam
expressões afirmando que devemos “buscar o poder de Deus” e isso transmite a ideia de que Ele é apenas uma
“força” que emana do Pai e que, na concepção deles, não se trata de um ser pessoal.
Foi tudo isso que me motivou ao estudo bíblico relacionado ao Espírito Santo. E, assim sendo, quero
partilhar este conhecimento com aqueles que tiverem acesso a esta singela pesquisa. Sei que a Pneumatologia8
é extensa e inesgotável. Muitos livros excelentes já foram publicados sobre este tema. Porém, nós precisamos
empreender uma pesquisa séria e profunda, se quisermos conhecer um pouco mais sobre o Espírito Santo.
Quero ressaltar que, antes de qualquer coisa, cada cristão precisa buscar um relacionamento íntimo e
pessoal com o Espírito Santo. Porém, como se relacionar com alguém que não se conhece? Se nós desejamos
ter comunhão profunda com o Espírito Santo e queremos desfrutar de Sua assistência, precisamos,
primeiramente conhecê-lo bem. É importante destacar aqui que, de acordo com a Bíblia, o verbo “conhecer”
envolve muito mais que um simples conhecimento teórico. Não significa apenas “saber alguma coisa sobre...”
Envolve “relacionamento íntimo”. Quando conhecemos a pessoa e a obra do Espírito Santo mediante a Palavra
de Deus temos mais probabilidade de desfrutar de Sua companhia e direção.
Há, em nossos dias, um erro em relação ao Espírito Santo, que muitos cristãos cometem: Eles tentam
ser revestidos do poder do Espírito Santo sem primeiramente conhecê-Lo como pessoa divina que tem
sentimentos e vontade própria. O Espírito Santo não pode ser visto por nós como uma simples “influência”
ou “força” que vem de Deus e que está à nossa disposição para que a usemos como nos convém. O Espírito
Santo é Deus soberano. É ele quem usa cada cristão quando e como Ele deseja, e não o contrário.
Nosso sincero desejo é que este material seja proveitoso e edificante para todos os que anseiam, de
coração, conhecer o que a Bíblia ensina sobre o Espírito Santo.
Que o bondoso Deus nos guie neste estudo!
6
CHAN, Francis. 2010, p. 7
7
LANGSTON, A. B. 1988, p. 252
8
Pneumatologia é parte da Teologia que estuda a pessoa e obra do Espírito Santo. O termo deriva do termo
grego “pneuma” (“espírito”)
8. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
8
A Etimologia da Palavra “Espírito”
“Espírito” é um termo polissêmico (com vários significados).
“A palavra ruah aparece 389 vezes no AT (378 vezes em hebraico e 11 vezes em aramaico). Deve-se
ressaltar que é difícil classificar algumas ocorrências, porque dependem de como seu contexto, significado e
teologia são compreendidos. Assim, o significado exato de algumas ocorrências é uma questão de
interpretação.”9
A palavra grega “pneuma” (“espírito”) deriva de pnéo, que significa “respirar” ou “soprar” e a palavra
hebraica “ruah” (“espírito”) que se origina de uma raiz que tem o mesmo sentido. Pode se referir à
“respiração”, “fôlego de vida”, “vento”, “anjo” (bom ou mal), “sentimento” “Deus”, “Espírito de Deus”, etc.
O fato é que a palavra hebraica traduzida por espírito (ruach) da mesma forma que a palavra
grega (pneuma), pode significar vento, fôlego ou espírito. É usada para representar uma gama
de expressões relacionadas com a natureza, com a vida dos animais e do homem, e com Deus.
Alguém calculou que há pelo menos 33 diferenças de sentido que esta palavra pode apresentar
em seus diferentes contextos.10
Na Bíblia, a primeira vez que o “Espírito Santo” é mencionado é em Gênesis 1.2 onde é chamado de
“O Espírito de Deus.” A partir deste texto em diante, ao longo das Escrituras, o Espírito Santo assume o papel
de agente de Deus em todas as obras criativas, quer seja na Terra, na natureza, na Igreja, no novo nascimento.
Muitos religiosos entendem que a expressão: “Espírito de Deus” que ocorre em Gênesis 1.2 deve ser
traduzida como: “O vento de Deus”, porém, o que vai determinar qual palavra deve ser usada na tradução das
línguas originais para o nosso idioma é o contexto no qual o vocábulo está sendo usado. Por exemplo: Em
Gênesis 1.2 está escrito: “[...] e o ESPÍRITO DE DEUS pairava por sobre as águas.”11
Porém, outras
traduções dizem: “[...] e UM SOPRO DE DEUS agitava a superfície das águas” (BJ); “[...] UM VENTO
IMPETUOSO soprava sobre as águas” (EP); "[...] UM VENTO FORTE soprava sobre as águas." (NAB).12
Notamos que nas versões mencionadas a expressão hebraica: VËRUACH ELOHYM (“O Espírito de
Deus”) que consta na Septuaginta13
como: “Pneuma Theou” (“Espírito de Deus”) foi traduzida como: “Sopro
de Deus” ou “um vento impetuoso ou forte”. Porém, o texto mostra que “o Espírito de Deus PAIRAVA [ou
“se movia” – NVI] sobre as águas.” O verbo hebraico: “merachefeth” traduzido como: “pairar” significa:
“Voar de maneira vagarosa”, assim sendo, “um vento forte ou impetuoso” não “paira”. Ocorre apenas
duas vezes no AT: Em Deuteronômio 32.1 é usado para descrever o ato da águia voejar sobre os filhotes. A
águia não paira absortamente sobre os filhotes, mas voa sobre eles de maneira vigilante e protetora. A outra
ocorrência do verbo “pairar” é Jeremias 23.9 e tem o significado de “tremer”.
“O verbo pairava exprime uma comparação poética com a ação da águia, que move suas asas
permanecendo a pairar sobre o próprio ninho.”14
Logo no início da história bíblica, encontramos: rüah ’èlõhim, o Espírito de Deus, no ato da
criação (Gn 1.2). Ferguson afirma que a referência aqui deve ser ao Espírito de Deus, e não
apenas a um vento impessoal. Em outros versículos, rüah ’èlõhim significa o Espírito de
Deus, e não há razão suficiente para indicar que aqui a expressão não teria o mesmo
significado. No Salmo 104, o Espírito renova a face da terra, no ato criativo de Deus (104.30).
E Jó atribui a sua criação ao Espírito (Jó 33.4).15
99
TIMM, Alberto R. e SIQUEIRA, Reinaldo W. 2017, p. 23
10
HORTON, Stanley M. 1993, p.16
11
Todas as citações bíblicas são da Versão Almeida Revista e Atualizada (ARA), exceto quando há outra indicação
12
Disponível em: https://www.bibliacatolica.com.br/the-new-american-bible/genesis/1/
13
Septuaginta ou Versão dos Setenta ou LXX é a versão grega do AT. Disponível em:
https://biblehub.com/sepd/genesis/1.htm
14
BALLARINI, Teodorico, 1975, p. 153
15
FERREIRA, Franklin e MYATT, Alan, 2007, p. 678
9. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
9
Sem dúvida a obra do Espírito Santo tem conexão com Sua atividade de criar ordem a partir do caos.
Ele estava ali presente no início de tudo organizando, operando e agindo em todas as coisas que foram criadas.
É desse modo que as Escrituras apresentam o Espírito Santo: Ele sempre esteve presente e participou
poderosamente na criação de todas as coisas.
Torna-se difícil aceitar a ideia de um “vento forte”, semelhante a um furacão “pairando mansamente
sobre as águas”. Logo, a tradução mais coerente e de acordo com o contexto é: “[...] o ESPÍRITO DE DEUS
pairava por sobre as águas.” “Pairando como uma águia sobre um abismo original, o poderoso Espírito faz
da terra a habitação para os seres humanos.”16
Além disso, conforme veremos a seguir, outros textos bíblicos
mostram o Espírito de Deus como um ser pessoal envolvido ativamente na obra criativa de Deus.
O conceito do Espírito do Senhor aparentemente passou por um processo de desenvolvimento
no Velho Testamento. A palavra ruah usa-se no sentido do poder, da vida e do Espírito de
Deus. Diz Davi, no seu cântico de louvor: “Então apareceram as profundezas do mar; os
fundamentos do mundo se descobriram, pela repreensão do Senhor, pelo ASSOPRO DO
VENTO DAS SUAS NARINAS” (II Samuel 22.16).17
Em outras traduções bíblicas, o texto de II Samuel 22.16 consta das seguintes maneiras:
“...pelo SOPRO DO VENTO das Suas narinas” (AS21).
“...pelo VENTO SOPRANDO de Suas narinas” (EP).
Não necessitamos de uma leitura extensa da Palavra de Deus para encontrarmos o Espírito Santo
revelado nas Escrituras Sagradas. O texto inicial da Bíblia (Gênesis 1.2) e o final (Apocalipse 22.17) revelam
que o Espírito Santo tem um ministério ativo tanto revelado nas Escrituras como na história da humanidade.
Ele é mencionado na Bíblia cerca de 100 vezes no AT e 200 vezes no NT. Logo, precisamos conhecer a Sua
natureza e o seu modo de agir, especialmente hoje, quando temos várias doutrinas errôneas que negam aquilo
que a Bíblia ensina sobre a pessoa gloriosa do Espírito Santo.
I. O ESPÍRITO SANTO NO ANTIGO TESTAMENTO
O teólogo Bancroft explica que há muitos erros relacionados à pessoa e obra do Espírito Santo:
Muito erro e confusão existem em nossos dias no tocante à personalidade, às operações e às
manifestações do Espírito Santo. Eruditos conscientes, mas equivocados têm sustentado
pontos de vista errôneos a respeito dessa doutrina. É vital para a fé de todo crente cristão, que
o ensino bíblico a respeito do Espírito Santo seja visto em sua verdadeira luz e mantido em
suas corretas proporções.18
Muitos cristãos têm dificuldade de ver a pessoa e as obras do Espírito Santo nas páginas do AT. Porém,
a Bíblia apresenta o Espírito Santo ativo em todo o AT. “As cerca de 100 referências feitas ao Espírito de
Deus no Antigo Testamento dão evidência de Sua obra durante esse período.”19
Logo, a doutrina que prega
um tempo específico para a Sua operação e a denominam de “Dispensação do Espírito” não se harmoniza com
a Bíblia. Dos 39 livros do AT apenas 16 não fazem referência direta ao Espírito Santo.
Naturalmente que o Espírito esteve ativo durante aquele período; porém, o número de vezes
que Ele é mencionado no Antigo Testamento, em contraste com o número de vezes que é
mencionado no Novo Testamento, mostra-nos a notável diferença existente em Suas
ministrações no Antigo e no Novo Testamentos. Ele é referido por oitenta e oito vezes no
Antigo Testamento, e mais da metade desse número de vezes somente no livro de Atos,
16
Bíblia de Estudo de Genebra. 1999, p. 8
17
CRABTREE, A. R., p. 38
18
BANCROFT, E. H. 1983, p.177
19
RYRIE, Charles C. 2004, p.
10. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
10
enquanto que em todo o Novo Testamento Ele é mencionado mais de três vezes para cada
referência que lhe é feita no Antigo.20
Sem dúvida, o Espírito Santo sempre esteve operante em todos os tempos e épocas. A ação do Espírito
de Deus na história humana é uma realidade desde o alvorecer da criação. Ele sempre esteve ao lado dos fiéis
comunicando força e orientando seus passos. Ele participou ao lado do Pai e do Filho na criação de todas as
coisas; Ele ungiu homens escolhidos por Deus e transmitiu-lhes capacitações especiais para a realização da
obra divina; inspirou os profetas que anunciavam e registravam as Escrituras; dirigiu o povo Deus em toda a
sua trajetória e em todos os momentos cruciais levantou homens “ungidos” com Seu poder para conduzir os
servos de Deus ao arrependimento e à comunhão com o Senhor.
No AT a ação do Espírito Santo ungindo e dando poder é vista em relação aos homens escolhidos por
Deus para a realizações de obras específicas. Deste modo, o Espírito Santo usava os servos de Deus,
esporadicamente, mas não acontecia ainda aquilo que chamamos de “habitação” permanente em cada filho de
Deus. Este fenômeno só acontece a partir do NT (João 7.39; 14.17).
Porém, a obra do Espírito Santo começou muito antes da criação de todas as coisas quando o homem
ainda não havia sido criado. O Espírito Santo sempre existiu. Ele é Deus. Ele sempre esteve atuante ao lado
do Pai e do Filho. Esta atuação do Espírito Santo prosseguiu mesmo depois que o primeiro homem caiu em
pecado. Encontramos nas Escrituras homens como: Noé, Enoque, Abraão, Isaque, Jacó, etc., que foram cheios
do Espírito Santo e eram dirigidos por Ele. Embora não possamos encontrar informações específicas na Bíblia
sobre os patriarcas citados, não temos dúvida de que foram guiados e inspirados pelo Espírito Santo durante
sua trajetória terrena. Como o Espírito Santo sempre age de modo discreto e silencioso, sem chamar a atenção
para a Sua pessoa, estes homens foram usados por Ele de modo discreto, sem manifestações sobrenaturais.
Por outro lado, na vida de José, Moisés e Josué encontramos alusões específicas à operação do Espírito
Santo. Estes homens foram ungidos pelos Espírito Santo e usados poderosamente por Deus na realização da
Sua obra perante o seu povo no AT.
Vamos examinar à luz da Bíblia a pessoa e a obra do Espírito Santo no AT. Comecemos com os cinco
primeiros livros, chamados de Pentateuco.
1. O ESPÍRITO SANTO NO PENTATEUCO
1.1. O Espírito Santo como Criador de Todas as Coisas
As Escrituras Sagradas mostram a cada membro da Trindade, tanto individual como coletivamente
envolvidos na Criação de todas as coisas: O Pai (Gênesis 1.1); o Filho (João 1.1-3) e o Espírito Santo (Gênesis
1.2; Salmo 104.29,30; Jó 26.13; 33.4). Cada um deles tem sua função definida. Porém, os três operam em
perfeita harmonia e cooperação em todo tempo. Antes que o universo tivesse sido formado, pela Palavra de
Deus (Hebreus 11.3) e quando o nosso planeta ainda era envolvido por caos, escuridão e se apresentava sem
forma e vazio, o Espírito Santo já estava presente ativamente. “O Espírito de Deus se movia...” revelando que
Ele não estava presente no princípio como mero observador da Criação (Gênesis 1.2). Cremos que o Espírito
Santo estava presente de modo ativo e influente na criação do mundo, a Sua atuação é marcante neste período,
dando forma às coisas inanimadas e se movendo sobre a face das águas. De igual modo, Jesus estava “no
princípio” como Criador de todas as coisas (João 1.1-3).
Sete versículos falam dos diversos aspectos da obra do Espírito na criação. São eles: Gênesis
1:2; Jó 26:13; 27:3; 33:4; Salmos 33:6; 104:30 e Isaías 40:12-14. Embora alguns pensem que
essas não são referências claras ao Espírito, na verdade não há bons motivos para
desconsiderá-las. Contudo, deve ser observado que, em certas traduções, alguns desses
versículos dizem “sopro” em vez de “Espírito”, pois no original esse é um dos sentidos da
palavra.21
20
BANCROFT, E. H. 1983, p. 177
21
RYRIE, Charles C. 2004, p. 401
11. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
11
O texto de Gênesis 1.1,2 revela claramente a presença ativa do Espírito Santo no “princípio” quando
tudo foi criado. Este texto mostra o Espírito de Deus tomando parte na criação do universo. Foi através do
poder do Espírito Santo que o cosmo e todos os seres foram criados. Ele não estava ali, no princípio, por acaso
ou sem objetivo. Ele tinha o propósito de comunicar vida aos seres criados.
É claro que a expressão: “Espírito de Deus” (em hebraico: rūaḥ ’ĕlōhîm) não indica, por exemplo, o
“um vento forte” como muitos ensinam. Nunca a Bíblia usa essa expressão hebaica mencionada com esse
sentido. No Antigo Testamento, rūaḥ ’ĕlōhîm aparecee 12 vezes e, sem dúvida se refere ao “Espírito de Deus”
(Gênesis 1.2; 41.38; Êxodo31.3; 35.31; Números 24.2; I Samuel 10.10; 11.6; 19.20,23; II Crônicas 15.1;
24.20; Ezequiel 11.24). No livro de Jó 27.3 encontramos: rūaḥ 'ĕlōwah traduzido como: “sopro de Deus”
(ARA, ARC, ACRF, NTLH, KJA); e “fôlego de Deus” (NVT) e o contexto indica que se trata da “vida”
recebida de Deus através do “sopro” ou “fôlego” divino. Na versão ARA isso se torna bem claro porque há
um paralelismo sinonímico com os termos: “vida” e “sopro de Deus”.
O Espírito Santo estava, no princípio, envolvido com a criação do Universo (Isaías 40.12-14). Ele
participou da criação das Estrelas (Salmo 33.6); da criação da Terra (Gênesis 1.2); da criação dos animais
(Salmo 104.30) e da criação do homem (Jó 27.3; 33.4).
O Espírito Santo mostrou-se ativo durante a criação. A Palavra e o Espírito transmitiram vida.
Enquanto a Palavra de Deus falava, o Espírito de Deus movia-se por sobre a superfície das
águas, a fim de produzir vida e beleza à criação. O Espírito não se movimentava como se fosse
um observador. Ele pairava por sobre... a fim de conceber e produzir vida.22
O verbo “movia-se” que ocorre em Gênesis 1.2 em hebraico é: mërachefet e tem o sentido de “incubar”
ou “chocar ovos.”23
Logo, “o Espírito de Deus se movia”, ou seja, “chocava e trazia ordem ao caos”. A
expressão “pairava sobre a face das águas” poderia ser literalmente traduzida “continuava cobrindo-a”, como
faz a ave ao chocar seus ovos.
Garner A. Dutton ratifica que “a palavra ‘pairava’ significa literalmente, ‘estar ansioso a respeito de.’
É a ideia de uma galinha por cima dos seus ovos, cuidando e estando ansiosa a respeito da ninhada. Um dos
trabalhos do Espírito Santo é trazer ordem.”24
Também, o teólogo Charles C. Ryrie ensina que “a palavra “pairava” (ARA) (que no original é usada
novamente apenas em Deuteronômio 32.11, com a tradução de “voejar”, e em Jeremias 23.9 como
“estremecer”) significa que o Espírito estava sobre a Terra e cuidava do planeta, que ainda não era habitado.”25
O Espírito traz ordem onde há o vazio, abrindo caminho para a poderosa atuação do Deus Criador.
Temos visto as obras da criação atribuídas ao Pai e ao Filho, e a mesma autoridade é atribuída
ao Espírito Santo. Após o “haja” que trouxe a matéria à existência, a primeira agência
empregada que encontramos na construção do universo é a do Espírito Santo. Antes do céu e
da terra terem recebido a forma que eles têm quando a massa caótica era sem forma e vazia, e
as trevas estavam sobre a face do abismo, o Espírito de Deus se movia ou pairava sobre a
massa inerte e ainda em confusão, penetrando-a com a sua energia onipotente e vivificadora,
impregnando a agregação de coisas com suas qualidades apropriadas, afinidades e leis;
arranjando e dispondo a totalidade de acordo com sua sabedoria inerrante e de acordo com o
seu prazer soberano.26
Quando a Bíblia diz que “no princípio criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1.1), não quer dizer que
neste ato agiu apenas uma das pessoas da divindade. O Pai, o Filho e o Espírito estavam diretamente
envolvidos na obra da criação. Em Colossenses 1.16, Paulo afirma que todas as coisas foram criadas em Jesus,
22
HATCHER, John A. 1982, p. 16
23
STRONG, James. 2009, p. 1926
24
DUTTON, Garner Allen. 1980, p. 33
25
RYRIE, Charles C. 2004, pp. 401,402
26
CHAFER, Lewis Sperry. 2003, pp. 373,374
12. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
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“por meio dele e para ele”. O salmista apresenta o Pai, o Filho e o Espírito juntos em um só versículo em sua
descrição da Criação: “Pela Palavra (Cristo) do SENHOR (Jeová) foram feitos os céus, e todo o exército deles
pelo Espírito (Espírito Santo) da sua boca.” (Salmo 33.6 - ACF). Podemos, então, inferir do texto que a
Trindade Divina criou todas as coisas.
O texto de Jó 26.13 é muito interessante: “Pelo seu Espírito ornou os céus [...]” O verbo destacado
“ornar” significa: “Pôr ornatos ou adornos em; adornar, ataviar, enfeitar, guarnecer; aformosear,
embelezar”27
. Somente um ser poderoso e sábio poderia embelezar o Céu. Quando olhamos para o firmamento
pontilhado de estrelas ficamos admirados com tanta beleza e grandiosidade. Tudo é obra do Espírito Santo.
Não há dúvida de que o Espírito de Deus foi o agente divino pelo qual todas as maravilhas do universo vieram
à existência. Foi “o Espírito Santo” quem “ornou” ou “enfeitou” o céu pelo seu infinito poder. A cada dia
contemplamos o magnífico nascer do sol e no fim da tarde a beleza do seu ocaso. Não é à toa que a Bíblia
afirma que “os Céus proclamam a glória de Deus” (Salmo 19.1). Sem dúvida, “em cada ato sucessivo da
energia criadora o bendito Espírito participou, porque, diz Jó, “pelo seu sopro [Espírito] ornou o céu”
(26.13).”28
O Espírito Santo que, ao lado do Pai e do Filho, participou na criação de todas as coisas, também
sustenta, vivifica e renova todas as obras criadas: “Envias o teu Espírito, e são criados, e assim renovas a face
da terra” (Salmo 104.30).
O texto bíblico acima citado revela que o Espírito Santo de Deus é enviado especificamente para
renovar a terra. O teólogo Berkhof explica, de modo claro, como o Espírito de Deus realiza esta obra:
[...] é evidente que o Espírito de Deus não é um simples poder, mas uma pessoa. Já a
primeira passagem em que o Espírito é mencionado, Gn 1.2, chama a atenção para
esta função de comunicar vida, e este fato é particularizado com relação à criação do
homem, Gn 2.7. O Espírito de Deus gera vida e leva a completar-se a obra criadora de
Deus, Jó 33.4; 34.14, 45; Sl 104.29, 30; Is 42.5. No Velho Testamento é evidente que
a origem da vida, sua manutenção e seu desenvolvimento dependem da operação do
Espírito Santo. A retirada do Espírito significa morte.29
Somos gratos a Deus pelo Espírito Santo que é enviado para colocar em ordem todo o caos, despertar
a beleza em todas as coisas criadas, renovar a vida e sustentar tudo quanto existe.
Certa ocasião, Jesus expulsou um demônio que atormentava a vida de um homem deixando-o cego e
mudo. Isto causou admiração nas pessoas. Porém, os fariseus murmuravam e diziam que Jesus “expulsava
demônios pelo poder de Belzebu, maioral dos demônios” (Mateus 12.22-24). Naquela ocasião Jesus explicou:
“Se, porém, Eu expulso demônios pelo ESPÍRITO DE DEUS certamente é chegado o Reino de Deus
sobre vós” (Mateus 12.28).
O evangelista Lucas também trata deste episódio, mas seu relato difere um pouco daquele expresso
por Mateus. Por exemplo, em Lucas 11.20 ele retrata as palavras de Cristo do seguinte modo: “Se, porém, Eu
expulso os demônios pelo DEDO DE DEUS, certamente, é chagado o Reino de Deus sobre vós.”
Não há dúvida de que tanto Lucas como Mateus estão se referindo ao Espírito Santo. Porém, Lucas
está descrevendo, através de uma figura de linguagem, a função do Espírito Santo e não a Sua Pessoa. A
Bíblia usa o “antropomorfismo” para descrever tanto a Pessoa de Deus quanto a do Espírito Santo.
[...] algumas passagens bíblicas representam Deus como tendo olhos, ouvidos e/ou braços
(Isaías 52.10; Salmo 34.15). Essas figuras de linguagem são chamadas de antropomorfismo,
que significa “semelhante ao homem”. As Escrituras condescendem com a nossa limitação,
atribuem a Deus (em sentido figurado) “ouvido” para ouvir nossos gemidos ou “braços” para
nos socorrer [...] algumas vezes, representado aparecendo como que em forma humana
(Gênesis 17,18,19; Josué 5.13-15). Embora Deus seja em essência Espírito, Ele, que fez todos
27
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em: https://dicionario.priberam.org/ornar
28
CHAFER, Lewis Sperry. 2003, p. 374
29
BERKHOF, Louis, 2009, p. 418
13. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
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os seres e coisas, pode, para seus sábios fins, assumir qualquer forma adequada aos seus
propósitos. A Bíblia apresenta vários casos em que Deus aparece visivelmente. Por exemplo,
a Abraão, a fim de lhe assegurar o filho prometido, por meio de cujos descendentes todas as
nações seriam abençoadas. Essas aparições são chamadas de “teofanias”.30
“Teofania [Gr.: Θεοφάνεια - tem origem na combinação de duas palavras gregas, theos, que significa
“Deus”, e phainein, que significa “mostrar” ou “manifestar”] é uma palavra grega usada no meio teológico
que significa: ‘a manifestação da glória de Deus diante dos homens’”.31
Portanto, podemos deduzir que assim como Deus, o Espírito Santo também pode ser descrito como “o
dedo de Deus.” Em Êxodo 8.19 está escrito: “Então, disseram os magos a Faraó: Isto é o DEDO DE DEUS
[...]”. Neste relato bíblico vemos que: “[...] os falsos magos do Egito foram forçados a confessar que os
milagres de Moisés eram obras genuínas de Deus, não simplesmente truques como os que eles haviam
realizado.”32
Também no livro de Êxodo está escrito que os Dez Mandamentos foram escritos “pelo dedo de
Deus”. A expressão: “O Dedo de Deus” aplicada ao Espírito Santo indica que Ele é o agente da divindade.
As palavras ditas por Jesus se referindo ao “Dedo de Deus” não devem ser interpretadas literalmente
porque “Deus é espírito” (João 4.24), e “um espírito não tem carne nem ossos” (Lucas 24.39).
Logo, vemos nas Escrituras que a função do Espírito Santo não é só descrita como o “dedo de Deus”,
mas também como “a mão de Deus”, e “o braço de Deus.” A Bíblia declara que Deus libertou Seu povo “com
mão forte, e com braço estendido” (Salmo 136.12, ACF). O Salmos 8.3 declara: “Quando contemplo os
Teus céus, obra dos Teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste [...]” O Salmo 95.5 afirma: “Dele é o mar,
pois Ele o fez; obra de SUAS MAÕS, os continentes.” Finalmente, o Salmo 102.25 diz que “[...] os céus são
obra das TUAS MÃOS.” A maioria dos crentes não percebe que o Espírito Santo é Aquele que “ornou” ou
“enfeitou” o Céu com as estrelas e os planetas; porém, nós sabemos que foi Ele que embelezou toda a criação
(Jó 26.13).
1.2. O Espírito Santo é o Autor e Sustentador da Vida
Quando Deus criou o primeiro homem Adão foi, sem dúvida alguma, o Seu Espírito quem soprou no
homem o “fôlego da vida” (Gênesis 2.7). Eliú, amigo de Jó, afirmou: “O Espírito de Deus me fez, e o sopro
do Todo-Poderoso me dá vida.” (Jó 33.4). O Espírito Santo é tanto o Criador como o sustentador de toda a
vida. Por isso o Salmo 104.29,30 diz que: “Se ocultas o rosto, eles se perturbam; se lhes cortas a respiração,
morrem e voltam ao seu pó. Envias o teu Espírito, eles são criados, e, assim, renovas a face da terra.” O
salmista diz aqui que o Espírito Santo continua agindo hoje com o fim de renovar a natureza e do cosmo. Deus
não apenas criou, mas continua mantendo, renovando a criação. O texto se refere, pois, à preservação da vida,
dizendo que Deus prossegue sustentando-a através da ação poderosa do Seu Espírito (Salmo 104.30). De
acordo com o AT é claro que a origem da vida, sua manutenção e seu desenvolvimento dependem da operação
do Espírito Santo. A retirada do Espírito significa morte. Wayne Grudem comenta que:
No domínio da natureza, é papel do Espírito Santo dar vida a todas as criaturas animadas na
terra, no céu ou no mar, como está escrito: "Envias o teu Espírito, eles são criados" (Salmo
104.30). E no sentido inverso, se Deus "para si recolhesse o seu Espírito e o seu sopro, toda a
carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó" Jó 34.1415). Vemos aqui o papel
do Espírito Santo dando e sustentando a vida humana e animal.33
Podemos dizer que não há nada que justifique a negação do Espírito Santo na obra da criação ao lado
do Pai e do Filho. A expressão registrada em Gênesis 1.26 é muito clara neste sentido: Também disse Deus:
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança [...]” (Gênesis 1.26). O verbo “fazer” que
30
SANTOS, William A. 2013, p. 95, vol. I
31
Idem, vol. II, p. 54 – Colchetes acrescentados
32
MACARTHUR, John. 2010, p. 1345
33
GRUDEM, Wayne. 2009, pp. 531,532
14. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
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está no plural “façamos” e, indica que Deus não estava sozinho quando trouxe à existência o primeiro homem.
Ali estava a Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo
Convém ressaltar aqui que a Criação é uma obra divina. Quando a Bíblia afirma que “no princípio
criou Deus os Céus e a Terra” (Gênesis 1.1), o nome “Deus” em hebraico está no plural: ELOHIM
(literalmente: “Deuses”), e indica a pluralidade de “pessoas” na Divindade. Outro ponto importante está
relacionado com o verbo “criar” que no original é: “Bārā” (significa “criar do nada”), e de acordo com James
Strong é “usado para a ação criadora: do Céu e da Terra (Gênesis 1.1); da humanidade (Gênesis 1.27); do
exército celestial (Isaías 40.26); dos confins da Terra (Isaías 40.28), etc.”34
1.3. O Espírito Santo Antes do Dilúvio
Os episódios históricos que antecedem o Dilúvio revelam dois homens cheios do Espírito Santo, que
foram fiéis a Deus no meio daquela geração corrupta e pecadora:
(1) Enoque, o homem que andou com Deus” (Gênesis 5.22)35
e “Deus o tomou para Si” (Gênesis 5.24;
Judas versos 14,15). Ele sabia que sozinho e independente de Deus não seria possível manter sua vida
espiritual vitoriosa. O mesmo acontece conosco: Sem “andar com Deus” em comunhão diária não temos
nenhuma vida espiritual frutífera e abençoada. Enoque andou com Deus “pela fé”. É isso que lemos nas
Escrituras: “Pela fé Enoque foi arrebatado, de modo que não experimentou a morte; ‘e já não foi encontrado,
porque Deus o havia arrebatado’, pois antes de ser arrebatado recebeu testemunho de que tinha agradado a
Deus.” (Hebreus 11.5 – NVI). “Andar com Deus” agrada muito ao Senhor. A Bíblia nos mostra que Deus Se
agradou de Enoque, pois, “antes da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus.” (Hebreus
11.5).
(2) Noé, foi um homem fiel que achou graça diante de Deus. Foi chamado de “pregoeiro da justiça”
(Gênesis 6.8; II Pedro 2.5). Tudo isso só foi possível por causa da presença do Espírito Santo na vida dele. À
semelhança de Enoque, Noé também “andava com Deus”: “Esta é a história da família de Noé: Noé era
homem justo, íntegro entre o povo da sua época; ele andava com Deus.” (Gênesis 6.9 – NVI). Na ´poca de
Noé a humanidade estava corrompida e mergulhada no pecado (Gênesis 6.5,11), assim sendo, como pôde este
servo de Deus se manter “justo e íntegro” diante de Deus? Simplesmente, ele “andava com Deus.” Vivendo
uma vida espiritual isolada, afastados da comunhão com o Senhor e seguindo os próprios caminhos ninguém
consegue manter-se “justo e íntegro” diante de Deus.
Os primeiros versos de Gênesis 6 apresentam um quadro tenebroso da humanidade naquela época. A
Bíblia mostra que nos dias anteriores ao Dilúvio “a Terra estava corrompida” por causa da maldade do coração
do homem (Gênesis 6.5,11). A situação se tornou tão crítica que Deus deu o ultimato para aquelas pessoas.
“Então, disse o Senhor: O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os
seus dias serão cento e vinte anos.” (Gênesis 6.3). Outras traduções dizem:
“Meu Espírito não tolerará os humanos por muito tempo” (NVT);
“O meu Espírito não continuará com o homem” (NBV);
“Meu espírito não animará o ser humano para sempre.” (CNBB);
"Meu espírito não permanecerá para sempre no homem" (AM).
Esse texto de Gênesis 6.3 revela que o Espírito Santo, que é chamado por Pedro de “Espírito de Cristo”
“agiu” para conduzir a humanidade ao arrependimento mediante a pregação de Noé (I Pedro 3.20; II Pedro
2.5).
34
STRONG, James. 2009, p. 1565
35
Gênesis 5.24 é a primeira vez que a Bíblia menciona alguém que “andava com Deus.” O texto traz a ideia de um
andar progressivo e constante. Enoque persistiu em andar com Deus e esta foi uma decisão pessoal.
15. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
15
Em Gênesis 6.3, a obra realizada no homem pelo Espírito Santo, antes do Dilúvio, aparece retratada
no verbo hebraico: yāḏōwn, e de acordo com os eruditos traz a ideia de “julgar, contender, porfiar, disputar,
agir.” Logo, este verbo indica a ação do Espírito “fazendo justiça ou agindo como juiz” diante daquela geração
corrompida pelo pecado. Porém, devido à rebeldia à voz de Deus, o Seu Espírito não mais “agiria” com tais
pessoas, isto é, não mais as conduziria ao arrependimento (I Pedro 3.18-20). Sem essa ação sobrenatural do
Espírito de Deus, o homem não poderia se arrepender, e assim, ser justificado e salvo do seu pecado, pois,
obstinadamente, “vivia segundo a carne”, (Romanos 8.4), ou como afirma o texto: “pois este é carnal”
(Gênesis 6.3) e fechou completamente seu coração à voz do Espírito Santo.
O Espírito luta com os homens, procurando refreá-los para que não prossigam em um
caminho de insubordinação e impiedade. Essa luta é travada por meio de instrumentalidades
humanas, tais como Enoque, Noé e todos os crentes. Disse Jesus: “Vós sois o sal da terra.” A
função da luz é de refrear ou segurar as trevas, e a função do sal é preservar da corrupção.
Assim também o Espírito Santo, por meio da Igreja e dos crentes individuais, mediante
influência, exemplo e testemunho, luta com os homens contra carreiras de pecado e
iniquidade.36
Sem dúvida, nos dias anteriores ao Dilúvio, o Espírito Santo estava com Noé usando-o para conduzir
os homens ao arrependimento. Porém, os contemporâneos de Noé “endureceram seus corações e não deram
ouvidos à voz do Espírito Santo” (Hebreus 3.7,8). Qual foi o resultado? Sabemos que Deus destruiu todas as
pessoas naquele tempo, exceto Noé e sua família.
Os homens poderiam ter sido salvos do Dilúvio se escutassem à voz do Espírito Santo. Porém, todos
estavam corrompidos, seus pensamentos e intentos eram maus e, neste estado deplorável fecharam seus
corações e não deram espaço para que o Espírito Santo agisse, de modo a conduzi-los à salvação. A vida
dissoluta e afastada de Deus revela claramente a desobediência dos antediluvianos às advertências contínuas
do Espírito de Deus através da pregação de Noé.
Deus revelou a sua graça a Noé e providenciou um meio de salvação para este e sua família. Visto que
ele “era homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos” e, também “andava com Deus.” (Gênesis 6.9).
Deus enviou naqueles dias o Seu Espírito Santo para convencer a humanidade do pecado e deu-lhe 120 anos
de tempo para atender aos apelos transmitidos através da mensagem de Noé, o “pregoeiro da justiça” (II Pedro
2.5).
Contudo, as pessoas persistiram no caminho da obstinação e desobediência. Resistiram à ação do
Espírito Santo e não se arrependeram dos seus pecados. Conforme já vimos, foi neste contexto que Deus disse:
“Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem, porque ele também é carne” (Gênesis 6.3 –
ARC). Já vimos também que, alguns significados para o verbo “contender” são: “Disputar, altercar, ter
influência, não ser alheio, ter algum ponto de contato, etc.”37
Tais expressões provam que o Espírito Santo é
um ser pessoal, pois, ele “contende”. Somente uma pessoa pode “disputar” ou “contender” com outra no
sentido de convencê-la. Vimos, ainda, que o verbo hebraico que ocorre aqui é “yāḏōwn” e, segundo James
Strong pode significar: “Contender, agir como juiz, defender uma causa, porfiar, disputar.”38
Tais palavras
denotam que, de fato, o Espírito Santo foi enviado por Deus para agir na vida dos seres humanos pecadores
na época de Noé e conduzi-los ao arrependimento, porém, eles não se renderam ao apelo divino e, deste modo,
infelizmente, foram condenados. Aprendemos aqui que é demais perigoso manter-se obstinado à voz do
Espírito Santo.
Stanley Horton explica que:
[...] o significado mais simples do verbo, traduzido por “contender com” é “julgar entre” [...]
Em certo sentido, “julgar” também corresponde à interpretação tradicional de “contender
com” [...] O Espírito Santo agiria como juiz, usando a Palavra até àqueles dias, para instruir,
36
BANCROFT, E. H., 1983, p. 193
37
Disponível em: https://dicionario.priberam.org/contender
38
STRONG, James. 2009, p.1593
16. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
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exortar, repreender e convencer os homens. Nesse sentido, o Espírito, ao julgar, estaria
realmente contendendo com os homens para “refreá-los dos seus maus caminhos”.39
1.4. O Espírito Santo na vida de Abraão
Alguns relatos bíblicos do AT atestam a operação do Espírito Santo após o Dilúvio. Vários servos de
Deus, em diferentes épocas, foram usados, poderosamente, por Deus. O Espírito Santo os ungiu e os capacitou
para o desempenho de várias atividades coordenada por Deus. Alguém disse que: "A história da Bíblia é a
narração de homens cheios do Espírito Santo."40
Abraão, por exemplo, foi homem chamado por Deus e capacitado pelo Espírito Santo para a realização
de uma grande e importante tarefa: Trazer à existência a linhagem escolhida por Deus para ser detentora dos
oráculos divinos e ancestrais do vindouro Messias – Salvador do Mundo.
A Bíblia nos informa que quando Abraão foi chamado por Deus, pela fé, ele “saiu sem saber para onde
ia” (Hebreus 11.8). Durante a sua longa jornada de 175 anos ele foi dirigido pelo Espírito Santo: “Porque
todos os que são guiados pelo Espírito de Deus esses são filhos de Deus.” (Romanos 8.14 – ACF).
Como sabemos que Abraão era guiado pelo Espírito Santo. O texto de Gênesis 20.7 atribui a ele o
título de “profeta.” Ora, de acordo com as Escrituras, “profeta” é o “mensageiro” ou “porta-voz” de Deus
(Êxodo 4.16; 7.1; Deuteronômio 18.18-22). O apóstolo Pedro quando se refere aos profetas do AT afirma que:
“[...] Esses homens foram impulsionados pelo Espírito Santo e falaram da parte de Deus.” (II Pedro 1.21
– NVT). Logo, Abraão, como profeta de Deus era, sem dúvida, um homem “cheio do Espírito Santo.” Além
disso, em vários textos bíblicos lemos que “Deus falava” com Abraão e este recebia de Deus as orientações
para a sua vida (Gênesis 17.9,15; 18.13).
1.5. O Espírito Santo na Vida de José
Foi o Espírito Santo quem capacitou os líderes escolhidos por Deus de acordo com os ministérios que
eles assumiram na Obra de Deus. É o Espírito Santo que age poderosamente na vida dos servos de Deus
capacitando-os para os maiores empreendimentos. Por exemplo: José foi o governador do Egito graças a ação
do Espírito Santo que o encheu de sabedoria para administrar aquela grande e poderosa nação.
O Gênesis mostra que Faraó, rei do Egito ficou profundamente preocupado com a significação de seus
sonhos (Gênesis 41.8). José, jovem fiel diante de Deus, orientado e iluminado pelo Espírito Santo recebeu a
revelação divina e interpretou os sonhos de Faraó. As sombrias revelações quanto ao futuro sombrio que
estava diante daquela nação foram expostas por José perante Faraó. Num futuro próximo, de acordo com José,
viriam sete anos de fartura seguidos, imediatamente de sete anos de fome. Os sete anos de fome serão
assoladores e terríveis. Assim sendo, José, sabiamente orientou o monarca egípcio para que nomeasse um
administrador inteligente e capaz para coordenar o armazenamento de gêneros alimentícios no período de
fartura, preparando assim a nação para os anos de escassez. Mas, quem teria tamanha capacidade para tão
grande empreitada?
O texto de Gênesis 41.38-40 nos traz a resposta a esta questão crucial:
“Então Faraó perguntou aos seus oficiais: Será que poderíamos achar alguém melhor do que José, um
homem em quem está o Espírito de Deus? Depois Faraó disse a José: Visto que Deus revelou tudo isto a
você, não há ninguém tão ajuizado e sábio como você. Você será o administrador da minha casa, e todo o meu
povo obedecerá à sua palavra. Somente no trono eu serei maior do que você.” (NAA).
Faraó, um governante pagão, de modo surpreendente reconheceu que José foi adornado com sabedoria
vinda de Deus. De fato, foi o Espírito Santo quem concedeu a José conhecimento, ciência e a capacidade para
a revelação de mistérios divinos. Sem dúvida, os sonhos de Faraó, rei do Egito, o deixaram “muito perturbado”
39
HORTON, Stanley. 1993, p. 22
40
BARCLAY, William. The Promise of the Spirit, p. 11 apud: HORTON, Stanley. 1993, p. 22
17. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
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17
e além disso: “não havia ninguém que pudesse dar a interpretação” dos sonhos para o rei (Gênesis 41.8). Mas,
o Espírito Santo deu a José sabedoria para entender e interpretar os sonhos.
Depois de José ter interpretado o sonho de Faraó, este disse: "Acharíamos um varão como
este, em quem haja o Espírito de Deus?" (Gênesis 41.38). Faraó viu que não havia outra
explicação para a sabedoria e para o entendimento que esse escravo e ex-presidiário hebreu
possuía. José era verdadeiramente um homem espiritual, equipado pelo Espírito de Deus para
a obra a que foi chamado.41
José foi usado pelo Espírito Santo no sentido de interpretar os sonhos do monarca egípcio e para
orientar Faraó sobre a iminente crise de víveres que duraria sete anos. Logo, vemos que José tanto interpretou
os anos de crise que se aproximavam quanto indicou o meio de escape (Gênesis 41.33-36). Ele foi usado pelo
Espírito Santo para salvar da morte milhões de pessoas.””
José recebeu sabedoria do Espírito Santo para administrar. Faraó perguntou para seus servos:
“Acharíamos, porventura, homem como este, em quem há o Espírito de Deus?” (Gênesis 41.38). Em outras
palavras: A quem Faraó iria recorrer que fosse capaz de armazenar mantimentos para suprir a nação egípcia
durante os sete anos consecutivos de fome? Talvez Faraó tenha pensado e falado consigo mesmo sobre José:
“Se o Espírito de Deus tem revelado a este rapaz a interpretação dos meus sonhos, com certeza poderá
capacitá-lo com sabedoria para enfrentar os anos de fome que virão.” De fato, o Espírito Santo encheu José
de sabedoria divina para administrar (Gênesis 47.14,17,20).
Aos dezessete anos de idade, José enfrentou a oposição dos seus irmãos porque era o filho mais amado
de Jacó, porque era o filho da sua velhice (Gênesis 37.3). Esta predileção de Jacó por José fez com que seus
irmãos o odiassem e “já não lhe podiam falar pacificamente” (Gênesis 37.4). Para piorar a situação de
inimizade entre José e seus irmãos, este lhes contou um sonho que despertou um ódio muito maior e ciúmes
neles (Gênesis 37.5-11). José foi traído e vendido como escravo por seus irmãos para mercadores midianitas
que o levaram para o Egito. Neste país, ele foi servir a Potifar, oficial de Faraó, comandante da guarda egípcia
(Gênesis 39.1). A Bíblia nos informa que: “o SENHOR estava com José, e foi homem próspero; e estava na
casa de seu senhor egípcio. Vendo, pois, o seu senhor que o SENHOR estava com ele, e tudo o que fazia o
SENHOR prosperava em sua mão, José achou graça em seus olhos, e servia-o; e ele o pôs sobre a sua casa, e
entregou na sua mão tudo o que tinha.” (Gênesis 39.2-4). Tudo estava indo muito bem até que a esposa de
Potifar acusou falsamente a José de “assédio sexual”. Ele foi enviado como prisioneiro ao cárcere (Gênesis
39.20). Porém, apesar de todas as lutas e tribulações enfrentadas por José no Egito, há algo que sempre é
frisado em sua trajetória: “O Senhor era com ele” (Gênesis 39.2,3,21,23). Mesmo na prisão, José foi
abençoado por Deus e ali interpretou os sonhos do copeiro-chefe e do padeiro-chefe de Faraó (Gênesis 40.1-
23). A vida de José revela claramente que ele era guiado pelo Espírito Santo. Ele foi abençoado com um dom
sobrenatural para entender e interpretar sonhos e foi cheio de sabedoria para administrar assuntos seculares.
Foi assim que ele recebeu de Faraó o nome egípcio de “Zafenate-Paneia” (Gênesis 41.45). “O nome egípcio
de José reconhecia a sua fé no Deus de Israel. Zafenate–Paneia significa ‘Deus fala e vive.’”42
1.6. O Espírito Santo na vida de Moisés
Os descendentes de José que desceram para o Egito foram escravizados durante 400 anos. Mas, Deus
levantou um libertador, chamado Moisés, um homem cheio do Espírito Santo, escolhido para resgatar os
israelitas da opressão egípcia.
O Espírito Santo deu a Moisés sabedoria e capacidade para liderar o povo de Deus. Ele foi, sem dúvida,
o maior profeta do AT, logo, não há menção de outro profeta maior do que ele até o aparecimento de João
Batista (Mateus 11.11). Moisés tinha intimidade com Deus, de modo que a Bíblia relata o seguinte em Êxodo
33.11: “Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala a seu amigo [...].”
Moisés foi escolhido e ungido pelo Espírito Santo para ser um profeta de Deus (Deuteronômio 18.18).
Porém, em determinada ocasião o seu irmão Arão e sua irmã Miriã “falaram contra Moisés” por ele ter tomado
41
HORTON, Stanley. 1993, p. 23
42
Bíblia de Estudo Defesa da Fé. 2010, p. 78
18. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
18
uma mulher cuxita43
como esposa (Números 12.1). Isto colocou em xeque a autoridade profética de Moisés.
Qual foi o resultado? Deus mesmo defendeu seu servo Moisés e vindicou o ministério profético do Seu
escolhido. O relato bíblico nos informa que Deus disse:
“Ouvi, agora, as minhas palavras; se entre vós há profeta, eu, o Senhor, em visão a ele, me faço
conhecer ou falo com ele em sonhos. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa.
Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a forma do Senhor; como, pois, não
temestes falar contra o meu servo, contra Moisés?” (Números 12.6-8).
Como resultado “a ira do Senhor contra eles se acendeu; e retirou-se. A nuvem afastou-se de sobre a
tenda; e eis que Miriã achou-se leprosa, branca como neve; e olhou Arão para Miriã, e eis que estava leprosa”
(Números 12.9).
Miriã ficou em isolamento durante sete dias e, nesse intervalo de tempo o povo de Deus ficou
impossibilitado de continuar sua caminhada.
Aqui podemos tirar duas lições importantes para nós.
(1) Devemos ter cuidado com as críticas dirigidas àqueles que se encontram na liderança do povo de
Deus. Assim como Moisés, os líderes da Igreja de Cristo são escolhidos e separados pelo Espírito Santo para
conduzir o povo de Deus. “Falar contra eles” é falar contra Deus. A palavra de Deus nos adverte do seguinte
modo: “Irmãos, não falem mal uns dos outros. Se criticam e julgam uns aos outros, criticam e julgam a
lei. Cabe-lhes, porém, praticar a lei, e não a julgar” (Tiago 4.11). Esta advertência ainda é válida para os nossos
dias.
(2) Sempre há resultados desastrosos quando alguém emite críticas destrutivas. No caso dos israelitas,
a caminhada foi suspensa. Hoje, muitas igrejas caminham com dificuldade ou estão paradas por causa da
murmuração, da crítica, da maledicência.
O apóstolo Paulo traça um paralelo impressionante tomando como exemplo a trajetória do povo de
Israel no deserto e a nossa caminhada cristã no mundo. Vejamos:
“Porque não quero, irmãos, que vocês ignorem o fato de que todos os nossos antepassados estiveram
sob a nuvem e todos passaram pelo mar. Em Moisés, todos eles foram batizados na nuvem e no mar. Todos
comeram do mesmo alimento espiritual e beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam da rocha espiritual
que os acompanhava, e essa rocha era Cristo. Contudo, Deus não se agradou da maioria deles; por isso os
seus corpos ficaram espalhados no deserto. Essas coisas ocorreram como exemplos para nós, para que não
cobicemos coisas más, como eles fizeram. Não sejam idólatras, como alguns deles foram, conforme está
escrito: “O povo se assentou para comer e beber, e levantou-se para se entregar à farra”. Não pratiquemos
imoralidade, como alguns deles fizeram e num só dia morreram vinte e três mil. Não devemos pôr o Senhor à
prova, como alguns deles fizeram e foram mortos por serpentes. E não se queixem, como alguns deles se
queixaram e foram mortos pelo anjo destruidor. Essas coisas aconteceram a eles como exemplos e foram
escritas como advertência para nós, sobre quem tem chegado o fim dos tempos.” (I Coríntios 10.1-11 –
NVI).
Na época que Moisés liderou os israelitas, o Espírito Santo operou grandes maravilhas. O profeta Isaías
faz referência a este tempo e relembra que o Espírito de Deus sempre esteve presente no meio da congregação
de Israel orientando e exortando o povo de Deus:
“Em toda a angústia deles, Ele também ficou angustiado, e o anjo da sua presença os salvou; no seu
amor e na sua compaixão, Ele os redimiu, e os tomou, e os carregou por todos os dias da antiguidade. Mas
43
Cuxita é o mesmo que Etíope
19. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
19
eles se rebelaram e entristeceram o Seu Santo Espírito; por isso Ele se tornou inimigo deles, e Ele mesmo
os combateu. Entretanto, lembrou-se dos dias passados, de Moisés, e do seu povo, dizendo: Onde está
aquele que os fez passar pelo mar com os pastores do seu rebanho? Onde está aquele que pôs o seu Santo
Espírito no meio deles? Aquele que com o seu braço glorioso conduziu Moisés pela mão direita? Aquele
que dividiu as águas diante deles, para fazer um nome eterno para Si? Aquele que os guiou pelos abismos,
como a um cavalo no deserto, de modo que nunca tropeçaram? O Espírito do SENHOR deu-lhes descanso
como ao gado que desce para o vale. Assim guiaste o teu povo, a fim de fazer um nome glorioso para ti.”
(Isaías 63.9-14- AS21).
O texto revela que as obras miraculosas ora foram operadas por Deus, ora pelo Espírito de Deus. A
expressão: “Mas eles se rebelaram e entristeceram o Seu Santo Espírito; por isso Ele se tornou inimigo
deles, e Ele mesmo os combateu.” Relembra um fato registrado no livro de Êxodo:
“E deu àquele lugar o nome de Massa e Meriba, por causa da discussão dos israelitas e porque
colocaram Iahweh à prova, dizendo: ‘Está Iahweh no meio de nós, ou não?’” (Êxodo 17.7 – BJ).
O texto mostra que Iahweh foi posto à prova pelos israelitas. Contudo, em Hebreus 3.7-10 ensina que
foi o Espírito Santo que foi colocado à prova no deserto. Vejamos:
“Assim, como diz o Espírito Santo: Hoje, se vocês ouvirem a Sua voz, não endureçam o coração,
como na rebelião, durante o tempo de provação no deserto, onde os seus antepassados me tentaram, pondo-
me à prova, apesar de, durante quarenta anos, terem visto o que eu fiz. Por isso fiquei irado contra aquela
geração e disse: Os seus corações estão sempre se desviando, e eles não reconheceram os meus caminhos.”
(Hebreus 3.7-10 – NVI).
O Salmo 106 retrata a triste situação de rebeldia do povo de Deus durante a sua permanência no Egito
e sua jornada pelo deserto:
“Nossos pais, no Egito, não atentaram às tuas maravilhas; não se lembraram da multidão das tuas
misericórdias e foram rebeldes junto ao mar, o mar Vermelho [...] Cedo, porém, se esqueceram das suas
obras e não lhe aguardaram os desígnios; entregaram-se à cobiça, no deserto; e tentaram a Deus na solidão
[...] Em Horebe, fizeram um bezerro e adoraram o ídolo fundido. E, assim, trocaram a glória de Deus pelo
simulacro de um novilho que come erva. Esqueceram-se de Deus, seu Salvador, que, no Egito, fizera coisas
portentosas, maravilhas na terra de Cam, tremendos feitos no mar Vermelho. Tê-los-ia exterminado,
como dissera, se Moisés, seu escolhido, não se houvesse interposto, impedindo que sua cólera os destruísse
[...] Depois, o indignaram nas águas de Meribá, e, por causa deles, sucedeu mal a Moisés, pois foram rebeldes
ao Espírito de Deus, e Moisés falou irrefletidamente [...] Olhou-os, contudo, quando estavam angustiados e
lhes ouviu o clamor.” (Salmo 106.7,13,14,19-23,32,33,44).
Os israelitas sofreram as consequências de suas rebeldias durante a peregrinação no deserto. Deus
havia colocado no meio deles o Seu Espírito Santo para guiar os seus passos. Porém, eles foram rebeldes e
não deram ouvidos à voz divina. O profeta Zacarias relembra os tristes episódios que marcaram este tempo:
“Sim, fizeram os seus corações duros como diamantes, para que não ouvissem a lei, nem as palavras
que o Senhor dos Exércitos enviara pelo Seu Espírito mediante os profetas que nos precederam. Por isso veio
a grande ira do Senhor dos Exércitos.” (Zacarias 7.12 – AEC).
Moisés foi um grande líder do povo de Deus que nos deixou um precioso legado graças a presença e
manifestação do Espírito Santo em toda a sua vida. Sem esta operação sobrenatural, seu fracasso seria
inevitável. Quando observamos a chamada de Moisés vemos as várias deficiências dele: Era, provavelmente
atormentado por pesada culpa por ter tirado a vida de um homem (Êxodo 2.11-15); falta de autoconfiança e
baixa autoestima (Êxodo 3.11); deficiência teológica: Não sabia o nome de Deus (Êxodo 3.13); negativismo
20. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
20
exacerbado: presumiu que o povo questionaria sua chamada e não valorizaria a sua missão (Êxodo 4.1);
deficiência de elocução: dificuldade de articular suas ideias e apresenta-las com persuasão (Êxodo 4.10). Logo,
não há dúvida de que, se não fosse o Espírito Santo, Moisés dificilmente seria o líder e profeta eficiente e
poderoso que se tornou. Cremos que foi o Espírito Santo que o transformou num profeta e líder eficaz
(Deuteronômio 18.18).
(a) Moisés foi usado pelo Espírito Santo para operar diversos milagres
As Escrituras relatam vários milagres e fatos extraordinários operados no meio do povo de Deus por
homens ungidos pelo Espírito Santo que serviram de instrumentos para revelar a grandiosidade de Deus em
diferentes tempos e lugares.
Mas, o que são “milagres”? John Davis explica que:
“No sentido estritamente bíblico, os milagres são acontecimentos do mundo externo,
operados pelo imediato poder de Deus, com o fim de servir de sinal ou testemunho. A
possibilidade dos milagres baseia-se no fato indiscutível que Deus é onipotente, que ele
governa e dirige todas as cousas como ente pessoal que é.”44
Herbert Lockyer nos fornece uma explicação importante a palavra “milagre”:
O que é um milagre? Um milagre tem sido definido como um trabalho feito por um poder
divino para um propósito divino por meio fora do alcance do homem. A idéia geral é que
é algo maravilhoso ou incomum, um evento [...] O termo "milagre", então, do ponto de vista
bíblico, é usado para descrever os fenômenos maravilhosos que acompanham as revelações
judaica e cristã, especialmente em momentos críticos. A concepção bíblica de um milagre é
que de algum trabalho extraordinário de divindade transcende os poderes ordinários da
natureza e operou em conexão com as extremidades da revelação.45
A Bíblia relata vários milagres operados por Moisés. O Espírito Santo usou este servo de Deus para
realizar prodígios, sinais e maravilhas tanto no Egito quanto no deserto.
Eis alguns dos milagres que Moisés operou como instrumento de Deus:
1. O milagre da sarça ardente (Êxodo 3)
2. A vara de Moisés se transforma em serpente (Êxodo 4.3; 7.1)
3. A vara restaurada (Êxodo 4.4)
4. A mão fica leprosa (Êxodo 4.6.7)
5. Água se transforma em sangue (Êxodo 4.9,30)
6. Rio transforma em sangue (Êxodo 7.20)
7. A praga das rãs (Êxodo 8.6,13)
8. A praga dos piolhos (Êxodo 8.17)
9. A praga das moscas (Êxodo 8.21,31)
10. A pestilência (Êxodo 9.3)
11. A praga das úlceras (Êxodo 9.10)
12. A praga do granizo (Êxodo 9.23)
13. A praga dos gafanhotos (Êxodo 10.13,19)
14. A praga das trevas (Êxodo 10.22)
15. A morte dos primogênitos (Êxodo 2.29)
16. A coluna de nuvem de dia, e de fogo durante a noite (Êxodo 13.21)
44
DAVIS, John D. 1985, p. 395
45
LOCKYER, Herbert, pp. 4,5
21. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
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17. O mar Vermelho dividido (Êxodo 14.21)
18. O exército egípcio afogado (Êxodo 14.26-28)
19. A água amarga se transforma em potável (Êxodo 15.25)
20. A água que sai da rocha (Êxodo 17.6)
21. A derrota de Amaleque (Êxodo 17.11)
22. Miriã é ferida e curada da lepra (Números 12.10,13-15)
23. A destruição de Coré e seu grupo (Números 16.32)
24. A água brota da rocha (Números 20.11)
25. O envio de codornizes e maná (Êxodo 16.13,14)
26. A praga mata 14.700 pessoas (Números 16.47-49)
27. O milagre da serpente de metal (Números 21.8)
28. A vara de Arão floresce (Números 17.8).
O texto bíblico de Deuteronômio 34.10-12 que sintetiza a biografia de Moisés, diz o seguinte:
“Em Israel nunca mais se levantou profeta como Moisés, a quem o Senhor conheceu face a face, e que
fez todos aqueles sinais e maravilhas que o Senhor o tinha enviado para fazer no Egito, contra o faraó,
contra todos os seus servos e contra toda a sua terra. Pois ninguém jamais mostrou tamanho poder como
Moisés nem executou os feitos temíveis que Moisés realizou aos olhos de todo o Israel.” (NVI).
Moisés é chamado na Bíblia de “homem de Deus” em (Êxodo 33.1), o próprio Deus se refere a Moisés
como: “meu servo” (Malaquias 4.4). No Apocalipse (15.3) ele é chamado “servo de Deus”.
Com certeza, Moisés recebeu todos estes atributos porque “foi fiel em toda a sua casa” (Hebreus 3.5).
Ele foi usado por Deus para liderar o povo de Israel em sua trajetória até a fronteira da terra prometida. Nesta
jornada, ele foi usado poderosamente para a realização de grandes milagres. A Bíblia afirma que Deus, “como
um pastor, dirigiu o seu povo pelas mãos de Moisés e Arão” (Salmo 77.20 – NTLH).
O nome de Moisés aparece em destaque na galeria dos heróis da fé em Hebreus 11.24-29. A expressão:
“Pela fé, Moisés [...] (11.23) revela que ele era um homem de fé e era movido pela sua fé em Deus, daí os
vários milagres e prodígios realizados por Deus através dele. Sabemos que a fé em Deus opera milagres
(Mateus 17.18-21; Atos 3.16; 6.8). O apóstolo Paulo explica que um dos dons espirituais concedido pelo
Espírito Santo é o da fé (I Coríntios 12.9). Moisés recebeu diretamente do Espírito Santo a fé que opera sinais
e maravilhas.
A Bíblia relata que Moisés e Arão realizaram muitos milagres diante de Faraó e seus oficiais no período
que precedeu a saída de Israel do Egito (Êxodo 4-12). Esses milagres em forma de “pragas” tinham por
objetivo demonstrar publicamente que os deuses do Egito nada eram diante do Deus Todo-Poderoso de Israel
(Êxodo 12.12; Números 33.4).
A Bíblia relata um episódio triste e desastroso na vida de Moisés. Em Êxodo 2.11 ele “viu que um
varão egípcio feria um varão hebreu.” Moisés investiu contra o agressor e o matou, e depois, escondeu o
cadáver na areia (Êxodo 2.12). Ali estava o homem escolhido por Deus para ser o libertador e líder de Seu
povo, cometendo um homicídio e ocultando um corpo sem vida. Talvez, Moisés tenha pensado que usando a
sua própria força física, estaria agindo de modo correto. Porém, não era assim que Deus queria usá-lo. Não
seria “por força nem por violência, mas pelo Espírito do Senhor” que Deus manifestaria o Seu poder (Zacarias
4.6). Esta postura de Moisés revela que o seu preparo intelectual, cultural, social e emocional, adquirido no
Egito, não lhe davam condições de equilíbrio e serenidade, tão necessários para um autêntico líder do povo de
Deus. Lamentavelmente, o descontrole emocional não aconteceu apenas com Moisés. Atualmente, é comum
ver-se pastores e líderes ministeriais totalmente despreparados, em termos emocionais, para o exercício de
suas funções na Igreja. Isso tem “matado” muita gente, por tratamento grosseiro e desprovido de amor cristão.
Tal comportamento é contrários à Palavra de Deus, que diz o seguinte para os servos de Deus:
(1) Considerar os outros superiores a si mesmo (Filipenses 2.3);
22. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
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22
(2) Só fazer aos outros o que deseja para si mesmo (Mateus 7.12);
(3) Não agir “como por força” nem “como tendo domínio sobre o rebanho de Deus” (I Pedro 5.2,3).
(b) O Espírito Santo e a construção do tabernáculo
Uma função importantíssima do Espírito Santo no Pentateuco é a de capacitar a liderança que foi por
Deus separada para realizar, com eficiência e eficácia certos ministérios, visando especificamente a glória do
Seu bendito nome. Apesar dos talentos, competências e habilidades pessoais, é certo que os líderes escolhidos
fracassariam em suas funções se não tivessem a ajuda do Espírito Santo.
O Espírito Santo aparece em ação no livro de Êxodo. Por exemplo: O óleo da unção é uma
representação simbólica da unção do Espírito Santo. O óleo da unção era usado para consagrar tanto os fiéis
quanto os sacerdotes para o serviço sagrado (Êxodo 30.31).
No livro de Êxodo as citações diretas à pessoa do Espírito Santo acham-se em: 31.3-11; 35.30; 36.1
quando homens são capacitados e se se tornam sábios artesãos. Através da ação direta do Espírito do Senhor,
as habilidades naturais de alguns servos de Deus foram enriquecidas e aperfeiçoadas com o propósito de
melhor servir a Deus na obra do santuário.
Antes de qualquer coisa precisamos esclarecer que não podemos confundir dons espirituais com
talentos naturais. Todos possuímos talentos naturais herdados. Devemos dedicar todos os nossos talentos na
obra de Deus.
Deus pode usar dons naturais na sua obra. O Espírito Santo capacita com dons espirituais e também
com dons ou habilidades naturais os homens escolhidos por Deus para determinada missão.
Por exemplo, os construtores do tabernáculo no deserto foram chamados e receberam habilidades
especiais do Senhor Deus. Embora estas habilidades artísticas e de construção sejam mencionadas no livro
de Êxodo, elas não fazem parte da lista de dons espirituais do Novo Testamento. Porém, Deus concedeu
sabedoria e inteligência para determinados homens que construíram o tabernáculo e seus utensílios durante a
peregrinação de Israel no deserto. Vejamos os relatos bíblicos:
“Depois falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Eis que eu tenho chamado por nome a Bezalel, o filho
de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de
ciência, em todo o lavor, para elaborar projetos, e trabalhar em ouro, em prata, e em cobre, e em lapidar
pedras para engastar, e em entalhes de madeira, para trabalhar em todo o lavor. E eis que eu tenho
posto com ele a Aoliabe, o filho de Aisamaque, da tribo de Dã, e tenho dado sabedoria ao coração de
todos aqueles que são hábeis, para que façam tudo o que te tenho ordenado. A saber: a tenda da congregação,
e a arca do testemunho, e o propiciatório que estará sobre ela, e todos os pertences da tenda.” (Êxodo 31.1-7
– ACF).
Bezalel é o maior artífice do Antigo Testamento. Juntamente com Aoliabe recebe talentos especiais
para trabalhar com ouro, prata, madeira e bronze na confecção dos utensílios para o Tabernáculo. Suas
habilidades incomuns dadas diretamente pelo Espírito Santo tornaram possível a produção de todos os
equipamentos usados no culto israelita feito na Tenda da Congregação.
Muitos questionam e dizem: “Como foi possível Bezalel fabricar as peças do santuário com tanta
beleza e perfeição em pleno deserto? Lá no ermo não havia escola técnica ou universidade e, muito menos, os
recursos modernos que temos hoje. Devemos ter em mente que a capacidade de Bezalel e Aoliabe não vinha
deles mesmos. Era um dom especial dado pelo Espírito Santo para a Obra do Senhor.
Não resta dúvida de que tantos os dons espirituais quanto os dons de sabedoria, conhecimento e
habilidades para a obra secular são dados pelo Espírito Santo (I Coríntios 12.8).
Pouco sabemos sobre Bezalel. Ele era filho de Hur e pertencia à tribo de Judá. Ele foi chamado por
Deus e usado extraordinariamente na fabricação dos utensílios sagrados do santuário durante a peregrinação
no deserto, no tempo de Moisés. Sem dúvida, como instrumento divino nas mãos de Deus, Bezalel contou
com a unção do Espírito Santo durante o seu trabalho como artesão.
23. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
23
Em relação a Aoliabe, companheiro de Bezalel na obra de Deus, podemos dizer, com base em Êxodo
38.23, que este deveria cuidar da produção de tecidos e bordados para o santuário. Logo, mesmo sendo muito
capacitado, Bezalel não trabalhou sozinho ou isolado. Aoliabe devia, por ordem divina, trabalhar em conjunto
com aquele. Assim sendo, Bezalel mostrou-se um excelente mestre ensinou e preparou o seu ajudante naquela
gloriosa empreitada. Como é maravilhoso o trabalho quando é feito com união, confiança e apoio.
O nosso Deus deseja, de igual maneira, que compartilhemos nossos talentos, conhecimentos e
experiências. Pois, se não agirmos assim, dificilmente, teremos trabalhadores preparados e que saibam
manejar bem a Palavra de Deus.
A lição para nós hoje é a seguinte: Se nos dedicarmos à obra de Deus, com o desejo sincero de glorificar
ao Senhor, seremos adornados com dons que nos capacitarão na tarefa divina a nós confiada. Em Deus faremos
proezas! Quando o Espírito Santo nos concede dons e habilidades especiais tornamo-nos capazes de realizar
as importantes tarefas a nós confiadas para o progresso do Reino de Deus. Muitos irmãos não se julgam
capazes quando são chamados para determinado ministério. Afirmam que não têm sabedoria. Porém, o
apóstolo Tiago ensina que “se algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente
e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida.” (Tiago 1.5). É Deus, através do Espírito Santo, que abre o nosso
entendimento e nos faz compreender a Sua Palavra para que possamos expor todos os seus propósitos para as
pessoas que estão ao nosso redor.
A obra do Senhor requer especialistas em várias áreas, visto que o ministério é muito
diversificado, tal como um corpo humano compõe-se de muitos membros, cada qual com a
sua função específica [...] Bezalel [Êxodo 31.1) e Aoliabe (Verso 6) foram homens especiais,
dotados de habilidades necessárias para assumirem a liderança na construção do tabernáculo
e seus móveis e utensílios. Eles foram os homens de Deus para aquele momento, capazes de
cumprir aquela tarefa. Cada indivíduo tem seu próprio papel e seu momento próprio, de acordo
com os ditames da vontade divina.46
O texto de Êxodo afirma que foi o próprio Espírito de Deus quem encheu Bezalel e Aoliabe de
sabedoria:
“Depois disse Moisés aos filhos de Israel: Eis que o Senhor tem chamado por nome a Bezalel, filho
de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá. E o Espírito de Deus o encheu de sabedoria, entendimento, ciência
e em todo o lavor, e para criar invenções, para trabalhar em ouro, e em prata, e em cobre e em lapidar
de pedras para engastar, e em entalhar madeira, e para trabalhar em toda a obra esmerada. Também
lhe dispôs o coração para ensinar a outros; a ele e a Aoliabe, o filho de Aisamaque, da tribo de Dã. Encheu-
os de sabedoria do coração, para fazer toda a obra de mestre, até a mais engenhosa, e a do gravador,
em azul, e em púrpura, em carmesim, e em linho fino, e do tecelão; fazendo toda a obra, e criando
invenções” (Êxodo 35.30-35 - ACF).
“Assim trabalharam Bezalel e Aoliabe, e todo o homem sábio de coração, a quem o SENHOR dera
sabedoria e inteligência, para saber como haviam de fazer toda a obra para o serviço do santuário,
conforme a tudo o que o SENHOR tinha ordenado. Então Moisés chamou a Bezalel e a Aoliabe, e a todo o
homem sábio de coração, em cujo coração o Senhor tinha dado sabedoria; a todo aquele a quem o seu
coração moveu a se chegar à obra para fazê-la” (Êxodo 36.1,2 – ACF).
Queira notar que as habilidades concedidas a esses homens eram aparentemente uma combinação de
talentos [ou dons] naturais enriquecidos pelas bênçãos do Senhor e dons espirituais, como a capacidade de
ensinar, para que mais pessoas pudessem ajudar na construção do tabernáculo.47
A expressão: “Eis que chamei pelo nome” significa escolha especial para um propósito específico.
46
CHAMPLIN. Russell Norman. 2001, p, 1443, vol. I
47
É importante notar que em I Reis 7.13,14, um homem chamado Hirão foi escolhido por Salomão para fazer os
utensílios do Templo. Ele era “cheio de sabedoria e entendimento e de ciência para fazer toda obra de bronze.”
24. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
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24
E o enchi do Espírito de Deus. Nos dias primitivos do Velho Testamento, toda forma de
habilidade, força e excelência é creditada abertamente ao “Espírito de Deus”. Isso se deve
ao fato de Deus ser corretamente considerado a fonte de toda a sabedoria. À medida que o
Velho Testamento se desenrola, com maior revelação quanto à natureza santa do Espírito,
mais e mais se lhe atribuem qualidades morais e espirituais, sem contudo, negar a verdade
teológica acima enunciada.48
Compete ao Espírito santo selecionar, ungir e instruir os servos de Deus para a realização da obra do
Senhor. Por exemplo, Bezalel e Aoliabe foram homens chamados por Deus para um trabalho específico
relacionado ao Tabernáculo e seus utensílios. Para que eles desempenhassem com excelência a obra de Deus
foram cheios do Espírito Santo e dotados de sabedoria, de ciência e inteligência. Deus disse para Moisés:
“Eu escolhi Bezalel, filho de Uri e neto de Hur, da tribo de Judá, e o enchi com o meu Espírito. Eu
lhe dei inteligência, competência e habilidade para fazer todo tipo de trabalho artístico” (Êxodo 31.3 -
NTLH).
Moisés disse ao povo de Israel: — O Senhor Deus escolheu Bezalel, filho de Uri e neto de Hur, da
tribo de Judá. Deus o encheu com o seu Espírito e lhe deu inteligência, competência e habilidade para
fazer todo tipo de trabalho artístico; para fazer desenhos e trabalhar em ouro, prata e bronze; para lapidar e
montar pedras preciosas; para entalhar madeira; e para fazer todo tipo de artesanato. O Senhor deu a Bezalel
e a Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã, o dom de ensinar os outros. Ele lhes deu habilidade para
fazerem todos os trabalhos de gravador e de desenhista, para tecerem linho fino e fios de lã azul, púrpura e
vermelha e para fazerem outros tecidos. Eles têm habilidade para todo tipo de trabalho e para fazer
desenhos.” (Êxodo 35.30-35 – NTLH).
Nestes textos ocorrem a palavra hebraica: Uvëdaat que é traduzida como “inteligência” ou
“sabedoria”. De acordo com o Dicionário Strong esta palavra hebraica “descreve o dom de Deus de
conhecimento técnico ou específico juntamente com a sabedoria e o entendimento que Ele concedeu a Bezalel
a fim de que este pudesse construir o tabernáculo (Êxodo 31.3; 35.31 cf. Salmo 94.10).”49
Bezalel era mais que um mero artífice. Um homem pode ser muito capaz em sua arte, sem ser
um homem espiritual. Mas o artífice que Deus escolheu para dirigir a ereção do tabernáculo
era homem espiritual, cheio de sabedoria, intelectual e espiritualmente qualificado. Sua tarefa
não era comum. Era um empreendimento espiritual. Seu conhecimento foi posto a serviço da
espiritualidade, onde temos a situação ideal. Os dois grandes esteios da espiritualidade são o
amor e o conhecimento, nessa ordem. Bezalel possuía inúmeras habilidades. Mas a sua
espiritualidade também era multifacetada. O conhecimento é uma dádiva divina (Êxodo 31.6);
o trabalho é nobre quando efetuado em defesa de uma causa boa.50
O Espírito Santo é o mestre por excelência. Ele instrui, guia e dirige os servos de Deus.
O ensino está associado com a unção pelo Espírito Santo. Bezalel e Aoliabe foram inspirados
a ensinar suas habilidades artesanais de maneira que se pudesse construir o tabernáculo e seus
apetrechos (Êx 35.34). O próprio Deus é especificamente descrito como um mestre. Ele
ensinou a Moisés tanto o que fazer quanto o que dizer (Êx 4.15). Ele também ensina aos
pecadores o caminho da retidão (Sl 25.8) e instrui aqueles que o temem quanto ao caminho
que devem escolher (Sl 25.12). Por essa razão, o salmista com frequência procura a Deus para
que o ensine a guardar os estatutos e a andar no caminho da verdade (SI 27.11; 86.11; 119.33
cf. Jó 6.24; 34.32).51
48
COLE, R. Alan. 1981, p. 203
49
STRONG, James. 2015, p. 1597
50
CHAMPLIN, Russell Norman. 2001, p. 444, vol. I
51
HARRIS, R. Laird, ARCHER, Gleason, WALTKE, Bruce K. 1998, pp. 661,662
25. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
25
Bezalel e Aoliabe obedeceram às instruções de Moisés (Êxodo 31.7-11). Além disso, deveriam ensinar
outros que também receberam capacitação divina para a obra que deveria ser efetivada, Deus disse:
“[...] conferi habilidade especial a todos os artesãos de talento para que façam tudo que lhe ordenei.”
(Êxodo 31.6 – NVT).
Este verso está se referindo à capacitação natural que pode ser aperfeiçoada pela operação do Espírito
Santo. Sabemos que alguns talentos naturais podem ser dedicados a Deus e usados pelo Espírito Santo
“É possível que o homem moderno se destrua com seu gênio científico, porque, infelizmente, os
controles dos produtos da ciência caem nas mãos de homens maus. Mas os cristãos devem se esforçar para
usar as habilidades científicas para a glória de Deus. É possível dedicar as habilidades pessoais a Deus para
serem usadas diretamente na obra do Senhor, na melhoria da sociedade ou no ganho de meios para sustentar
a causa de Cristo.”52
Assim, conforme mostramos, os talentos naturais podem ser transformados por Deus em dons
espirituais. Tanto os dons naturais quanto espirituais concedidos pelo Espírito Santo devem ser usados pelos
cristãos para a glória de Deus e a “edificação do Corpo de Cristo” – a Igreja do Senhor Jesus.
1.7. O Espírito Santo e os Setenta Anciãos
O Espírito Santo não apenas capacitou Moisés para o seu ministério profético, mas, também ungiu e
consagrou setenta anciãos para ajuda-lo (Números 11.17,25).
O Espírito Santo é mencionado em Números 11. Nesta passagem, Ele é descrito realizando duas obras
específicas: Ungindo homens escolhidos por Deus para a liderança do Seu povo e inspirando-os através do
dom de profecia.
O relato bíblico de Números 11.10 mostra o povo de Israel se lamentando e chorando em suas tendas
no deserto e isto acendeu a ira do Senhor e pareceu mal aos olhos de Moisés. Nesta ocasião, Moisés perguntou
para Deus: “[...] por que não achei favor aos teus olhos, visto que puseste sobre mim a carga de todo este
povo?” (Números 11.11). Na verdade, ele estava colocando diante de Deus o seguinte dilema: “Eu sozinho
não posso levar todo este povo, pois me é pesado demais.” (Números 11.14). Devido ao peso da sua
responsabilidade como líder do povo de Deus, Moisés cogitou até mesmo a ideia de ser “morto” por Deus:
“Sozinho, não sou capaz de carregar todo este povo! O peso é grande demais! Se é assim que pretendes
me tratar, mata-me de uma vez; para mim seria um favor, pois eu não veria esta calamidade!” (Números
11.14,15).
Deus ordenou o seguinte para Moisés:
“Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, que sabes serem anciãos e superintendentes do povo;
e os trarás perante a tenda da congregação, para que assistam ali contigo. Então, descerei e ali falarei contigo;
tirarei do Espírito que está sobre ti e o porei sobre eles; e contigo levarão a carga do povo, para que não a
leves tu somente.” (Números 11.16,17).
A resposta dada pelo Senhor nem permitiu que Moisés morresse e nem tirou dele a posição de
liderança. Em vez disso, Deus criou uma estrutura de sublíderes, permitindo que Moisés
52
LIVINGSTON, George Herbert. 2012, p. 223, vol. 1
26. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
Celso do Rozário Brasil
26
delegasse responsabilidade. Deus instruiu Moisés para que selecionasse setenta anciãos de
Israel, homens de boa reputação, sobre quem seria derramado o mesmo Espírito que
repousava sobre e dava poder a Moisés (cf. Êxodo 18.21-26; Atos 6.3).53
No AT, o Espírito de Deus agia através de um grupo restrito de pessoas: sacerdotes, reis, juízes e
profetas. Naquele tempo não há registro de que alguém tenha sido alvo da “habitação permanente” do Espírito
Santo, nos mesmos moldes encontrados no NT. A ação do Espírito Santo no AT era temporária e seletiva. Ele
se “apoderava” de determinados homens, como por exemplo, Josué (Números 27.18), Gideão (Juízes 6.34),
Saul (I Samuel 11.6), Davi (I Samuel 16.13).
No livro de Juízes, principalmente, vemos o Espírito “apoderando-se” dos vários juízes que Deus
levantara para libertar Israel de seus opressores. O Espírito Santo viera sobre estes indivíduos somente em
momentos específicos com o fim de realizar uma obra determinada por Deus.
Portanto, no AT que quando alguém era escolhido por Deus para a realização de uma obra específica
recebia a unção do Espírito Santo. Nem todos os membros do povo de Deus eram cheios do Espírito porque
naquele tempo a ação do Espírito de Deus era mais específica e pontual. Somente pessoas escolhidas e
separadas diretamente por Deus recebiam esta unção do Espírito Santo. Isso aconteceu com Moisés, homem
cheio do Espírito Santo, escolhido como líder do povo de Israel. Porém, ele achou a sua função pesada demais.
Deus, então, selecionou setenta homens, que receberam do mesmo Espírito que havia em Moisés, para ajudá-
lo no cumprimento de sua missão.
Deus instruiu Moisés a escolher setenta anciãos das doze tribos para dividir com ele o fardo
de liderar o povo (11:16-17). Essa solução ressalta a importância de dividir o trabalho e
envolver outros na liderança. Os líderes de hoje também precisam reconhecer que não
podem fazer tudo sozinhos; precisam buscar a ajuda de outros membros da
comunidade.54
Os dois problemas enfrentados por Moisés: A carga pesada de sua liderança e a falta de carne para o
povo murmurador tiveram resposta imediata da parte de Deus (Números 11.16-20).
Os setenta anciãos receberam parte do Espírito que estava sobre Moisés e assim foram capacitados
para ajudá-lo a carregar a pesada carga de liderança que estava sobre os ombros deste. Alguns homens que
tinham sido escolhidos já auxiliavam Moisés no seu trabalho administrativo (Êxodo 18.13ss). Os setenta
anciãos escolhidos deveriam dar a Moisés o suporte espiritual que ele precisava. Naqueles dias, o povo era
constituído de seiscentos mil homens, logo havia carência de uma quantidade enorme de carne para satisfazê-
los.
Moisés duvidou de que Deus seria capaz de prover came para tamanha multidão durante um mês inteiro
(11.21-22) e, pensando em termos humanos, perguntou: Matar-se-ão para eles rebanhos de ovelhas e de gado
que lhes bastem? Ou se ajuntarão para eles todos os peixes do marque lhes bastem? (11.22).
A despeito da incredulidade de Moisés (Números 11.22), Deus responde da seguinte maneira: “[...]
Ter-se-ia encurtado a mão do Senhor? Agora mesmo, verás se se cumprirá ou não a minha palavra!” (Números
11.23).
A Palavra do Senhor se cumpriu fielmente: O Espírito do Senhor foi dado aos setenta anciãos e este
profetizaram (Números 11.25,26) e “soprou um vento do Senhor, e trouxe codornizes do mar, e as espalhou
pelo arraial quase caminho de um dia, ao seu redor, cerca de dois côvados sobre a terra.” (Números 11.35).
Moisés duvidou de que Deus seria capaz de prover came para tamanha multidão durante um mês inteiro
(11:21-22) e, pensando em termos humanos, perguntou: Matar-se-ão para eles rebanhos de ovelhas e de gado
que lhes bastem? Ou se ajuntarão para eles todos os peixes do marque lhes bastem? (11:22).
Tirarei do Espírito [...]. Neste ponto, Orígenes e Teodoreto nos forneceram uma excelente
metáfora. Moisés foi retratado como uma lâmpada, e os anciãos como lâmpadas menores,
53
CHAMPLIN, Russell Norman. 2001, p. 643, vol. I
54
ADEYEMO, Tokunboh. 2010, p. 185
27. A Pessoa e a Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento - I
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acesas por ele. As lâmpadas menores, visto que derivaram dele a sua luz, por isso mesmo sua
luz maior em nada era diminuída. “O gracioso Deus nunca chamou um homem para realizar
um trabalho sem lhe fornecer a força adequada; e recusar-se a fazer isso, sob a alegação de
incapacidade, anda perto de ser rebeldia contra Deus.55
Moisés reuniu os setenta anciãos de acordo com as instruções recebidas de Deus (Números 11.16,17),
e “os pôs ao redor da tenda.” (verso 24). Neste local eles receberam a presença de Deus e foram capacitados
pelo Espírito Santo, o mesmo Espírito que habitava em Moisés, assim, eles profetizaram (verso 25).
Geralmente, nas Escrituras, a presença do Espírito Santo na vida de alguém vem acompanhada com a
“profecia” ((I Samuel 10.6-13; 19.20-24; Joel 2.28; Atos 2.4; I Coríntios 12.10).
Por algum motivo não revelado, dois anciãos que foram convocados não se fizeram presentes naquele
encontro na tenda designada. Contudo, Deus também derramou o Espírito Santo sobre eles e eles profetizaram
no meio do arraial (Números 11.26), de modo semelhante aos outros. Josué correu para contar a Moisés este
fato (verso 27). Na opinião de Josué, tanto Eldade como Meade deveriam ser proibidos de profetizar (verso
28). Moisés não concordou com Josué e disse:
“[...] Tens tu ciúmes por mim? Tomara todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse
o seu Espírito!” (Números 11.29).
Moisés repreendeu Josué e expressou o desejo de que todo o povo recebesse o Espírito de
Deus (11.29). Alegrou-se pelo fato de outros terem recebido o Espírito e não se apegou a ele
como uma prerrogativa da liderança. Não se mostrou possessivo com algo que lhe havia sido
concedido; antes, desejou compartilhar a experiência espiritual com o restante do povo de
Deus, mesmo que isso representasse uma ameaça à sua liderança. Devemos aprender com a
lição que Moisés nos ensina ao mostrar que o Espírito de Deus não se restringe a um âmbito
institucional. Vemos a cobiça por poder tanto na política quanto nas igrejas [...]. Aqueles que
conquistam cargos de liderança se recusam a dividir o poder, apegando-se a seus cargos
e a todos os elementos associados a ele. Moisés, no entanto, reconheceu humildemente que
o mesmo Deus que lhe havia concedido o Espírito de liderança podia concedê-lo a qualquer
outra pessoa. Deus não é limitado pelas nossas estruturas institucionais e nem sempre opera
de acordo com os padrões com os quais estamos acostumados. Ele age conforme lhe apraz,
pois seu poder e Espírito são ilimitados.56
Moisés demonstrou para Josué que a operação do Espírito Santo não estava sob o seu controle, nem
tampouco dependia de lugares ou datas específicas. Por outro lado, Josué não devia imaginar que a liderança
de Moisés estava sendo usurpada pelo fato de Eldade e Meade não terem ido ao tabernáculo. De modo algum,
o ministério profético de Moisés estava correndo risco ou desprezado simplesmente porque o Espírito Santo
descera sobre estes dois homens e eles profetizaram.
Moisés ressaltou para Josué um ensino válido em todos os tempos: Nem todos os que, de fato servem
a Deus são chamados da mesma maneira, e nem todos atendem à vocação divina da mesma forma (Lucas
9.49,50).
Em Êxodo 15.8 temos um texto interessante. Diz o seguinte: “E, com o sopro dos teus narizes,
amontoaram-se as águas; as correntes pararam como montão; os abismos coalharam-se no coração do mar.”
(ARC). Sabemos que foi Deus quem abriu o Mar Vermelho e nele destruiu o exército de Faraó. Logo, como
podemos entender a expressão destacada acima: “...com o sopro dos teus narizes.”? É bem provável que aqui
tenhamos um antropomorfismo (partes do corpo humano (nesse caso, “narizes”), são atribuídas a Deus ou ao
Seu Espírito. “Com o resfolgar das tuas narinas. Esta é a interpretação teológica do ‘vento oriental’ que Deus
enviara para secar o mar (cf Sl18:15). Os antropomorfismos são comuns em toda espécie de poesia [...]”57
55
CHAMPLIN, Russell Norman. 2001, pp. 643,644, vol. I
56
ADEYEMO, Tokunboh. 2010, p. 186
57
COLE, Alan, 1981, p.120