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Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus?
Celso do Rozário Brasil Gonçalves
ABSTINÊNCIA - O QUE A BÍBLIA ENSINA SOBRE AS LEIS DIETÉTICAS
ESTABELECIDAS POR DEUS?
Celso do Rozário Brasil Gonçalves1
Índice dos Assuntos
Introdução
1. A Origem da Lei da Abstinência
2. A Universalidade da Lei da Abstinência
3. A Vigência da Lei Dietética
4. Explicação dos Pontos Polêmicos
(a) “O imundo e o limpo dela comerão” – Deuteronômio 12.15
(b) “Comei de tudo que se vende no açougue” – I Coríntios 10.25
(c) “O Que Contamina o homem não é o que entra pela boca” – Mateus 15.11
(d) “Comei de tudo que vos puserem diante de Vós” – Lucas 10.8
(e) A Visão de Pedro em Atos 10
(f) “Um crê que de tudo se pode comer” – Romanos 14.2
(g) Toda criatura de Deus é boa – I Timóteo 4.4,5
(h) Ninguém vos julgue pelo comer – I Coríntios 2.16,17
5. Algumas Refutações
Conclusão
Apêndices e gravuras
Referências bibliográficas
1
Bacharel em Teologia pela FATAP – Faculdade Teológica Adventista da Promessa (Curso Livre - 2016), Bacharel em
Teologia pela FATEBE – Faculdade Teológica Batista de Belém (Convalidação - 2017) e Discente Acadêmico do Curso de
Pós-Graduação em Teologia pela FATEBE (2018).
celsobrasilgon@gmail.com
2
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Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus?
Celso do Rozário Brasil Gonçalves
Introdução
Este trabalho de pesquisa foi feito com o propósito de ajudar os servos de Deus que desejam conhecer
mais profundamente acerca das leis bíblicas referentes à alimentação. Iremos embasar nossos argumentos em
textos bíblicos e também em comentários bíblicos e citações diretas de autores de diversas denominações
religiosas. Vamos estudar o assunto tendo em consideração que as leis dietéticas, bem como todas as leis
instituídas por Deus, têm como objetivo a nossa saúde (física e espiritual), o nosso bem-estar e felicidade.
A questão que muitas vezes divide a opinião dos religiosos sobre este tema é: A lei registrada em
Levítico 11.1-45 e Deuteronômio 14.3-20 ainda está em vigor e deve ser obedecida pelos cristãos atuais?
“Em algumas religiões não cristãs, como o judaísmo e o islamismo, o conceito não foi abolido e os
seguidores destas religiões evitam se alimentar da carne de alguns animais, por os considerar impuros.”2
Por outro lado, quando se trata da dieta alimentar diversas pessoas adotam ideias diferentes sobre o que
podemos ou não comer. Alguns desconhecem as leis que tratam do regime alimentar prescrito por Deus nas
Escrituras. Muitos líderes religiosos ensinam que podemos comer de tudo. Por exemplo, Édino Melo ensina
“sobre a proibição de certos alimentos no N.T.”, o seguinte: “O Novo Testamento mostra que TODOS os
animais agora são puros e podem ser comidos pelo homem.3
”
Mas, o que a Bíblia ensina sobre as leis dietéticas? Muitos pensam que Deus jamais se preocuparia em
ensinar o ser humano em questões alimentares. Por que o Senhor Deus gastaria tempo tratando de assuntos
relacionados com a nossa dieta? Ora, porque Deus nos orienta e nos ensina o que é útil para a nossa vida diária
(Salmo 143.10; Isaías 48.17). Como dissemos, anteriormente, Ele está interessado em nossa saúde física, nosso
bem-estar e felicidade. Somos valiosíssimos para Ele (Isaías 13.12; 43.4; Zacarias 2.8). Além disso, podemos
(ou não) glorificar a Deus através daquilo que “comemos e bebemos” diariamente (I Coríntios 10.31).
Deus nos deu os melhores alimentos (Salmo 81.16; 147.14). Assim sendo, Todas as leis dietéticas
estabelecidas por Deus servem para a nossa saúde (Salmo 84.11). Não podemos ter a falsa ideia de que os
mandamentos e as leis referentes à alimentação que Deus nos deu são meramente normas proibitivas que
cerceiam a nossa liberdade. Ao contrário, elas nos ensinam as normas divinas justas e verdadeiras para a nossa
saúde e felicidade. Através de todas as leis divinas sabemos a distinção entre o bem e o mal, entre o certo e o
errado, entre o que é bom e o que é mau. Por intermédio das leis que emanam de Deus podemos fazer a
diferença entre o que é santo e o que é profano. As leis de Deus nos preparam para um viver justo, fiel e santo
diante de Deus.
Quando obedecemos e aplicamos as leis de Deus em nosso viver cotidiano há uma mudança radical,
experimentamos um novo modo de vida, uma nova forma de pensar e, nossas atitudes passam por uma
transformação profunda. A felicidade é maior ainda quando cumprimos fielmente com as leis divinas.
Sabemos que as Escrituras estabelecem normas e princípios para o nosso viver diário. Às vezes somos
incentivados a fazer algo e, outras vezes somos proibidos de praticar determinada coisa. Vamos estudar alguns
regulamentos divinos que se referem à alimentação. Chamamos, normalmente, este ensino de abstinência (ou
2
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Animais_impuros
3
MELO, Édino, p. 38.
3
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Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus?
Celso do Rozário Brasil Gonçalves
lei da abstinência). Biblicamente, refere-se às leis dietéticas ordenadas por Deus que nos ensinam que tipos de
alimentos são próprios para o consumo.
O termo “abstinência” deriva do latim “abstinentia” e significa: “Ação de abster, de se privar de alguma
coisa, em particular de um alimento, por uma razão religiosa; privação: abstinência de carne4
”.
“O ensino bíblico sobre abstinência consiste na crença de que o Deus da Bíblia alistou para o seu povo
“as carnes permitidas” e “as carnes proibidas” para o consumo humano. Os textos em que encontramos essa
lista claramente delineada são: Lv 11 e Dt 14.5
”
Sabemos que o que ingerimos como alimento e o modo como nos alimentamos podem influenciar
positiva ou negativamente em nossa comunhão com Deus. A Bíblia ensina que “[...] seja comendo, seja
bebendo, seja fazendo qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus (I Coríntios 10.31 – Nova
Tradução na Linguagem de Hoje). De acordo com este texto: “Deus pode ser ou não glorificado, quando
estivermos comendo ou bebendo. Por isso, precisamos entender tanto o que podemos ou não comer quanto o
quanto devemos comer. A Bíblia tem ensinos instrutivos nessa área.6
”
Deus, em sua infinita sabedoria, classificou os animais criados por Ele em duas categorias: Limpos e
imundos (Levítico 11; Deuteronômio 14.1-20). Logo, a Bíblia não proíbe o uso de animais limpos para a
alimentação. Porém, a dieta original dada por Deus ao homem não incluía alimentos cárneos porque não fazia
parte do seu plano que fosse ceifada a vida dos animais e, além disso, uma dieta à base de vegetais é, sem
dúvida, a melhor para a saúde.
Foi somente depois do dilúvio que Deus permitiu o uso da carne de animais limpos para a
alimentação do homem porque toda vegetação havia sido destruída. Assim sendo, Noé e sua
família foram autorizados por Deus a usar os animais limpos em sua dieta alimentar. O único
cuidado que deveriam ter era em relação ao sangue. De forma alguma deveriam comer o sangue
dos animais (Gênesis 9.3-5). Reiteramos que Deus deu a Noé como alimento apenas os animais
identificados como limpos. Por exemplo, Deus o instruiu a tomar consigo na arca, sete pares de
animais limpos, porém, apenas um par dos animais imundos (Gênesis 7.2,3; 8.20). Foi pelo fato
de que Noé e sua família iriam necessitar desses animais limpos, tanto para alimentação quanto
para o sacrifício que Deus o orientou a tomar consigo sete pares de todos os animais limpos,
porém, apenas um par dos animais imundos para conservar suas espécies. Logo, “o texto de
Gênesis 7.2 registra nitidamente que este costume de diferenciar o limpo e o imundo é muito
mais antigo que Moisés.7
O teólogo Francis D. Nichol comenta que: “[...] a distinção entre animais limpos e imundos, que se
tornou definitiva em Levítico 11, precede a nação judaica. A distinção foi feita por Deus e respeitada por Noé
ao supervisionar a entrada de animais na arca (Gn 7.2 cf. Gn 8.20).8
”
A quantidade de animais puros, que Deus fez vir até Noé para ser posta na arca, era maior do
que a quantidade de animais impuros (Gn 7.2). Guarde isto: Essa é a primeira referência a
4
Dicionário Online de Português. Disponível em: < https://www.dicio.com.br/abstinencia/> Acesso em: 07 de abril de 2019
5
ROCHA, 2012, p. 156.
6
Idem, p. 156
7
LIVINGSTON, 2012, p. 280, vol. 1.
8
NICHOL, 2014, p. 251, vol. 6.
4
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Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus?
Celso do Rozário Brasil Gonçalves
animais puros e impuros da Bíblia. E quem a faz é o próprio Deus, bem antes de o povo de Israel
existir. Logo depois do dilúvio, por ordem de Deus, a alimentação do ser humano deixou de ser
apenas de origem vegetal: Passou a ser também de origem animal. Mas nem todos os tipos de
carnes seriam próprios para o consumo humano: só as carnes dos animais puros, que já eram
utilizados em sacrifícios. Por isso, o seu número tinha que ser maior.9
Vemos, ao longo das Escrituras, o cuidado de Deus com a saúde do seu povo. E neste quesito, o tipo de
alimento que Deus determina para os seus servos é fundamental para saúde física e espiritual. Observe o
seguinte comentário:
As pessoas que andam com Deus devem ser santas, porque Ele é santo. Esta exigência é
responsável pela forte ênfase na diferença entre o limpo e o imundo, o puro e o abominável, o
santo e o profano. Levítico é um manual sobre “o santo”. A santidade exigida não é meramente
cerimonial. É também ética e social, como no capítulo 19, que em grande parte é recapitulação
do Decálogo.10
1. A Origem da Lei da Abstinência
“Porque eu sou o Senhor, que vos fiz subir da terra do Egito, para que eu seja vosso Deus, e para que
sejais santos; porque eu sou santo.” (Levítico 11.45).
A primeira menção que encontramos nas Escrituras sobre a diferença entre animais limpos e não limpos
acha-se no livro de Gênesis 6.19; 7.2. Isso aconteceu muitos anos antes da existência de Israel como nação
escolhida pelo Senhor. Foi mais ou menos mil anos antes do pacto firmado entre Deus e Israel no monte Sinai
que Ele deu instruções a Noé dizendo:
“De tudo o que vive, de toda carne, dois de cada espécie, macho e fêmea, farás entrar na arca, para os
conservares vivos contigo. Das aves segundo as suas espécies, do gado segundo as suas espécies, de todo réptil
da terra segundo as suas espécies, dois de cada espécie virão a ti, para os conservares em vida. Leva contigo
de tudo o que se come, ajunta-o contigo; ser-te-á para alimento, a ti e a eles. Assim fez Noé, consoante a
tudo o que Deus lhe ordenara” (Gênesis 6.19-22).
O que nos ensina este episódio de Noé é que séculos antes da Aliança que Deus celebrou com Israel, já
se tinha conhecimento de que havia uma diferença entre os animais limpos e os impuros.
Deus falou ainda o seguinte para Noé:
“Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque reconheço que tens sido justo diante de mim no meio desta
geração. De todo animal limpo levarás contigo sete pares: o macho e sua fêmea; mas dos animais imundos,
9
Lições Bíblicas da IAP, p. 65, 4° trim. 2010
10
LIVINGSTON, 2012, p. 254, vol. 1.
5
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Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus?
Celso do Rozário Brasil Gonçalves
um par: o macho e sua fêmea. Também das aves dos céus, sete pares: macho e fêmea; para se conservar a
semente sobre a face da terra” (Gênesis 7.1,2).
Observamos que Deus não explica para Noé porque chama alguns animais de “limpos” e outros de
“imundos”. Talvez, Noé já conhecesse muito bem esta diferença. Assim sendo, Deus simplesmente ordenou
para que procedesse levando em consideração a diferença entre as duas categorias de animais. Na verdade, Deus
não teve que explicar para Noé o que significa “animal limpo” e “animal imundo”, pois, ele já sabia claramente
do que Deus estava falando e, assim, o obedeceu sem qualquer questionamento. Nós, porém, se desejamos
entender mais detalhadamente sobre a lei da abstinência teremos que estudar os textos de Levítico 11 e
Deuteronômio 14. Ali, o Senhor nos fornece as listas dos animais que podem e os que não podem ser usados
para alimentação.
Os animais foram classificados na lei levítica como limpos e imundos, isto é, próprios e
impróprios para o consumo humano. Os quadrúpedes que não ruminam e que não têm os cascos
das patas divididos foram proibidos (ver Lev. 11:4-8; Deut. 14:7,8). Os peixes lisos, isto é, sem
escamas, como as enguias, para exemplificar, também foram proibidos (ver Lev. 11:9-12). Toda
ave de rapina, bem como aquelas que se alimentam de carniça, foram vedadas (ver Lev. 11:13-
19). Outro tanto se dava com serpentes, insetos e algumas variedades de gafanhotos, Todo
sangue era absolutamente proibido para o consumo humano (ver Lev. 3:17; 7:26. Deu.
12:16,23).11
A lei referente à classificação e distinção dos animais já existia, conforme já vimos, séculos antes da
saída de Israel do Egito. Assim, aqueles que ensinam que a lei da abstinência foi dada exclusivamente para os
israelitas estão equivocados. Como Deus poderia estabelecer uma lei para um povo que ainda não existia?
O estudioso John Walton reconhece que “a distinção entre animais limpos e impuros não foi uma
inovação estabelecida no monte Sinai; essa distinção remonta aos dias de Noé.”12
A Bíblia sempre ensinou a diferença entre os animais, tanto os “limpos” como os “imundos”. A lei que
faz esta distinção nunca perdeu a sua validade, a sua importância e aplicação no meio do povo de Deus, pois
continua valendo em nossos dias.
Muitos afirmam que a lei da abstinência só vigorou, naquilo que eles chamam de “antiga aliança” e, que
agora na “nova aliança” não tem validade, pois Cristo ab-rogou tal ordenança. Porém, em Mateus 5.17-19
vemos que Jesus não veio “anular a Lei”. Logo, este raciocínio não está correto porque olvida a natureza perene
dos princípios espirituais que embasam as instruções de Deus para a humanidade. Há outra coisa. O que os
religiosos confundem é o seguinte: Deus estabeleceu leis eternas e leis transitórias. Conforme veremos mais
adiante, as leis morais não foram abolidas por Cristo na Cruz. Elas estão em vigor em nossos dias porque tratam
de questões éticas e visam à santidade do povo de Deus.
As determinações de Deus para o seu povo são fundamentadas nos princípios espirituais que sempre
existiram. Assim como Deus é eterno (Deuteronômio 33.27: Salmo 90.2), assim também são os mandamentos
estabelecidos por Ele, pois refletem o Seu caráter e Sua natureza (Salmo 119.142,144; Malaquias 3.6; Hebreus
11
CHAMPLIN, 2001, p. 3766, vol. 6.
12
WALTON, John H. 2003, p. 37
6
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Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus?
Celso do Rozário Brasil Gonçalves
13.8). A lei de Deus está fundada em seu caráter, que é imutável, e não depende de acontecimentos, eventos ou
atitudes que ocorram na vida humana.
Do Gênesis ao Apocalipse, a Palavra de Deus é um livro da lei e acerca da lei. Como assim? Bem, isso
não quer dizer que temos nas suas páginas somente “leis” e “normas” a cumprir. A palavra “lei” em hebraico é
“torah” e significa: “direção” e “instrução”. Sabemos que tais conceitos vão muito além de um simples código
legal. Paulo nos informa que “a lei é espiritual” (Romanos 7.14). A Palavra de Deus é um livro que trata de
relações interpessoais, especialmente a maneira como as pessoas se relacionavam com Deus no passado e,
também como devemos nos relacionar hoje com Ele. Logo, a lei de Deus nos instrui, orienta e revela os
princípios para que possamos cultivar com Ele um relacionamento tão íntimo que nos conduza à vida eterna
(João 17.2,3). Quando temos uma relação pessoal íntima com Deus, o que mais nos alegra é guardar os seus
mandamentos (I João 5.2). Além disso: “[...] este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os
seus mandamentos não são pesados” (I João 5.3). Os mandamentos e as leis de Deus foram dados a nós visando
o nosso bem-estar físico e espiritual. A lei da abstinência não é uma exceção.
2. A Universalidade da Lei da Abstinência
Muitos religiosos afirmam que a proibição de usar, como alimento, carne de animais imundos, só se
aplicava aos israelitas, porque está escrito: “FALA AOS FILHOS DE ISRAEL, dizendo: Estes são os animais
que comereis de todos os animais que há sobre a terra [...]” (Levítico 11.2). Porém, tal argumento é
insustentável à luz das Escrituras pelos seguintes motivos:
(a) Israel tinha um governo teocrático (governo de Deus) todas as suas leis emanavam de Deus como o
supremo legislador do seu povo (Números 36.13; Levítico 27.34). A lei da abstinência, por exemplo, não era
uma lei criada por Moisés. Este apenas recebia as leis de Deus as transmitia ao povo. Porém, tanto judeus
quanto estrangeiros deviam obedecer às leis impostas por Deus: “Uma mesma lei e uma mesma ordenança
haverá para vós (israelitas) e para o estrangeiro que peregrinar convosco” (Números 15.16). Portanto, as leis de
Deus são universais, porque todos os homens, em todos os tempos e lugares devem temer a Deus e guardar os
seus mandamentos (Eclesiastes 12.13).
Já mostramos que a lei que faz a distinção entre animais limpos e imundos já era conhecida desde os
mais remotos tempos (Gênesis 6.19-21; 7.1-3; 8.19,20). Ao longo das Escrituras notamos que esta lei ainda
vigora. Tanto o primeiro livro (Gênesis 8.20) como o último da Bíblia (Apocalipse 18.2) referem-se a AVE
LIMPA E AVE IMUNDA provando que as leis que as classifica ainda está em vigência (Levítico 11.13;
Deuteronômio 14.11).
Temos algumas informações importantes sobre a lei da abstinência. Vejamos:
As nações da antiguidade faziam distinção entre alimentações limpas e impuras. Alguns
animais eram tidos como próprios para a comida e para os sacrifícios, ao passo que outros não.
A distinção baseava-se, em parte, no saber-se que a carne de certos animais era prejudicial à
saúde, e em parte também nos hábitos de alimentação, e ainda em um inexplicável
aborrecimento a certos animais. A legislação mosaica respeitou o sentimento dos povos daquela
época incorporando no seu código a distinção entre o limpo e o imundo, destinado à
alimentação do povo [...]. Os modernos povos do Egito consideram tais peixes, prejudiciais à
7
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Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus?
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saúde. Alguns destes peixes sem escamas e sem barbatanas tinham a conformação de cobras, e
faziam lembrar a tentação do Éden e suas consequências [...] A carne dos animais limpos
também estava sujeita a tornar-se imunda. A lei proibia comer as carnes sacrificadas aos
ídolos dos animais estrangulados, ou mortos pelas bestas-feras, ou que por si morressem.13
Outra fonte de informação (católica) nos dá conta de que:
As leis da alimentação existiam em Israel, como na maior parte dos povos antigos e
primitivos; baseavam-se na distinção entre puro e impuro. Comer coisas impuras torna a
pessoa impura, e é, por isso, severamente proibido [...] Não se pode comer a carne de
animais impuros (Lev 11; Dt 14,3-9). [...] A lei mosaica ameaça com os mais duros castigos
aquele que consumir sangue (Lev 17.10.14) e prescreve um rito de purificação para todo aquele
que comer animais impuros ou que neles tocar (Lev 11.24-28.39s). No tempo dos Macabeus,
alguns judeus preferiram morrer a transgredir as 1eis da alimentação (2 Mac 6,14-31; 7). No
tempo do NT as interpretações e a observância das leis da alimentação eram muito severas (At
10,14).14
Convém frisar que Deus estabeleceu para o seu povo leis cerimoniais (transitórias) e leis morais
(eternas). Compete a cada estudante da Palavra de Deus atentar, através do estudo bíblico, para as leis que
foram abolidas e as que continuam em vigor. Sabemos que a Lei da abstinência não é uma lei cerimonial porque
trata da santidade do povo de Deus (Levítico 11.44-47).
Observemos o seguinte comentário extraído de um autor batista:
Essa legislação, prescrita por Deus por intermédio de Moisés, no Monte Sinai, algo das LEIS
CERIMONIAIS E LEIS MORAIS, estas imutáveis e eternas e aquelas de efeito passageiro e
vigorando somente durante a era da lei do Velho Testamento [...] A lei continha dois elementos:
o eterno e o efêmero. Um elemento é eterno, portanto, trata da moral, que não se muda.
Encontramo-lo nos Dez mandamentos, frequentemente denominados o Decálogo e em estatutos
com este relacionado. O elemento efêmero compõe-se de leis, tanto civis como cerimoniais.
Evidentemente as leis civis se mudariam ou se revogariam segundo as mudanças na vida da
nação e nas suas relações com os povos vizinhos. E as leis cerimoniais, cuja finalidade era
ensinar por meio dos sacrifícios e culto ritualísticos o desígnio redentor de Deus, haviam de
terminar com o advento do Messias.15
Muitos cristãos pensam que os adventistas inventaram a distinção entre leis morais e cerimoniais.
Porém, sabemos que isso não é verdade. Todas as referências acima citadas são de autores que pertencem às
denominações que não seguem às leis da abstinência (Católicos e Batistas).
Em relação ao texto de Levítico 11.44,45, John Fullerton MacArthur, Jr. (Pastor e professor na Igreja
evangélica "Grace Community Church", na cidade de Sun Valley, na Califórnia). afirma o seguinte:
13
DAVIS, 1985, pp. 36,37.
14
BORN, A. Van Den. 1977, p. 45.
15
Conciso Dicionário Bíblico, 1996, pp. 114,150.
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Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus?
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Em tudo isso, Deus está ensinando o seu povo a viver de maneira autêntica. Ou seja, Ele está
usando essas distinções entre puro e imundo, a fim de separar Israel de outros povos idólatras
que não tinham tais restrições, e está ilustrando por meio dessas prescrições, que seu povo deve
aprender a viver da maneira prescrita por Deus. Por meio de leis dietéticas e rituais, Deus está
ensinando a realidade de viver como ele determina em todos os aspectos. Os israelitas são
ensinados a obedecer a Deus em todas as áreas da vida aparentemente mundanas, a fim de
aprender quão crucial a obediência é. Sacrifícios, rituais, dieta e até mesmo vestimenta e cozinha
são cuidadosamente ordenados por Deus para ensinar que Israel deve viver diferentemente de
todos os outros. Isso devia ser uma ilustração externa de separarem-se do pecado em seus
corações. Pelo fato do Senhor ser o seu Deus, eles devem ser radicalmente distintos. No v. 44,
pela primeira vez é feita a afirmação: ‘Eu sou o SENHOR, vosso Deus’, como sendo a razão
porque ele requeria separação e santidade. Depois desse versículo, a frase é mencionada c. 50
vezes mais no livro, ao lado da igualmente importante constatação: ‘Eu sou santo’ [...] A única
motivação dada para todas essas leis é aprender a ser santo porque Deus é santo. O tema da
santidade é central em Levítico (10.3; 19.2; 20.7; 21.6-8)16
É importante percebermos que em nenhum momento do seu comentário, o autor acima citado afirma que
a lei dietética de Levítico 11 é de origem mosaica. Pelo contrário, ele afirma algumas vezes que tal
regulamentação foi dada por Deus ao seu povo.
As pessoas que andam com Deus devem ser santas, porque Ele é santo. Esta exigência é
responsável pela forte ênfase na diferença entre o limpo e o imundo, o puro e o abominável, o
santo e o profano. Levítico é um manual sobre “o santo”. A santidade exigida não é meramente
cerimonial. É também ética e social, como no capítulo 19, que em grande parte é recapitulação
do Decálogo. O tema do livro é a justiça moral e interior.17
(b) Vejamos a seguinte incoerência daqueles que combatem a lei dietética dada por Deus. As pessoas
que afirmam que a lei da abstinência foi somente para Israel continuam obedecendo a ordens dadas diretamente
ao povo israelita. Por exemplo: Os dízimos e as ofertas (Levítico 27.30; Números 18.21); Os Dez Mandamentos
(Êxodo 20.1,2); não consultar necromantes e adivinhos (Levítico 19.31; Deuteronômio 18.10,11); Não comer
carne de animal sufocado ou dilacerado por feras (Levítico 22.8), etc. Ora, todas essas leis foram dadas ao povo
israelitas. Se não devemos obedecer a lei dietética porque foi dada aos israelitas, então por que continuam
obedecendo tais regulamentações? Vemos aí a contradição daqueles que se recusam em reconhecer os preceitos
bíblicos. Sabemos que é tão ofensivo hoje, aos olhos de Deus, comer animais imundos, por parte de um judeu
ou estrangeiro, como o era outrora.
Quando Deus criou o homem no princípio, prescreveu uma dieta sem carne de animais. O regime
alimentar do primeiro casal Adão e Eva era à base de frutos, cereais, nozes e legumes. Observem: “E disse Deus
ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas
as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento” (Gênesis 1.29 – Versão
16
MACARTHUR, John. 2010, p. 160.
17
LIVINGSTON, George Herbert. 2012, p. 254, vol. 1.
9
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Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus?
Celso do Rozário Brasil Gonçalves
Almeida Revista e Atualizada – ARA18
). Mais tarde Deus ordenou ao homem: “[...] tu comerás a erva do
campo” (Gênesis 3.18). Vemos que, o homem tinha no começo uma dieta vegetariana.
“A dieta dos primeiros seres humanos era vegetariana. Ainda hoje, nenhum tipo de fruta ou vegetal é
apontada como inaceitável, o que não acontece com as carnes.19
”
O naturalista, de posse de um dente de um cão, tem logo a noção clara de se tratar de um animal
carniceiro. Ao contrário, examinando o dente de um carneiro, ou de um boi, também não pode
enganar-se: vê logo que se trata de animais herbívoros [...] Por aí se está vendo que pelo estudo
de um dente humano pode saber-se qual a sua alimentação [...] O Criador não deu presas ao
homem, como as deu ao leão, ao tigre, a onça, de maneira que o homem [...] não é capaz de
pegar um porco ou uma vaca com os dentes e matar o animal a mordidas, a exemplo de uma
fera.20
Conforme já comentamos, foi somente depois do Dilúvio que Deus permitiu ao homem alimentar-se da
carne de animais: “Abençoou Deus a Noé e a seus filhos e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a
terra. Pavor e medo de vós virão sobre todos os animais da terra e sobre todas as aves dos céus; tudo o que se
move sobre a terra e todos os peixes do mar nas vossas mãos serão entregues. Tudo o que se move e vive
ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora. Carne, porém, com sua vida, isto
é, com seu sangue, não comereis (Gênesis 9.1-4).
A lei que fazia a distinção entre os animais limpos e imundos (Levítico 11; Deuteronômio 14) não era
somente uma regra judaica. Conforme já mostramos, esta lei existe antes de Abraão. Vejamos a prova: “Disse o
Senhor a Noé: Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque reconheço que tens sido justo diante de mim no meio
desta geração. De todo animal limpo levarás contigo sete pares: o macho e sua fêmea; mas dos animais
imundos, um par: o macho e sua fêmea” (Gênesis 7.1,2). Mais tarde quando Noé saiu da arca “Levantou Noé
um altar ao Senhor e, tomando de animais limpos e de aves limpas, ofereceu holocaustos sobre o altar” (Gênesis
8.20).
Quando o povo israelita chegou à Terra Prometida (Canaã) Deus permitiu o uso de carne, mas com
algumas restrições. Por exemplo: O uso da carne de porco era proibido, bem como de outros animais
considerados imundos por Deus (Levítico 11.7,8,46,47). Os israelitas foram proibidos também de ingerir o
sangue de animais mortos, a gordura animal e animais dilacerados por feras ou aqueles animais que morreram
naturalmente, do qual o sangue não havia sido extraído (Levítico 3.17; 17.12; 22.8).
Observamos que em “Lv 11.1-23,29 e Dt 14.3-21 registram a lei referente a animais permitidos
ou proibidos como alimento. Em adição ao boi, à ovelha e ao bode, era permitido comer sete
outros tipos de carne (Dt 14.5), bem como todos os animais de cascos bipartidos que ruminam.
Os animais que não estivessem de conformidade com essas duas exigências estavam vedados e
não podiam ser ingeridos, pois eram reputados ‘imundos’, juntamente com mais de uma vintena
de diferentes espécies de aves.21
18
Os textos bíblicos usados são da Versão Almeida Revista e Atualizada, exceto quando há outra indicação.
19
ROCHA, Allan Pereira. 2012, p. 156.
20
BALBACH, 2000, pp. 11,12.
21
DOUGLAS, J.D. 1990, p. 59.
10
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Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus?
Celso do Rozário Brasil Gonçalves
Tanto em Levítico 11 quanto em Deuteronômio 14 explica-se que o motivo pelo qual Deus instruiu o
seu povo acerca dos animais limpos e imundos está relacionado com a santidade. Vemos que em Deuteronômio
14 o Senhor falando para o seu povo se abster de “coisas abomináveis” (verso 3) “porque sois povo santo ao
Senhor, vosso Deus (versos 2 e 21). Sabemos que ser santo é ser separado e dedicado a Deus. É claro que “ser
santo envolve muito mais do que não comer carnes de animais imundos. Em Deuteronômio 28 Deus lista as
maldições que viriam sobre os israelitas se eles desobedecessem às leis de Deus. Entretanto, Deus falou que se
eles obedecessem às suas leis, eles seriam um povo santo (verso 9).
Deus sempre almejou que seu povo fosse santo. Como disse Paulo: “Assim como nos escolheu, nele,
antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor 5nos predestinou
para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Efésios 1.4
cf. I Pedro 1.14-16; Levítico 11.44,45). Paulo retoma esse mesmo ensino referente a santidade quando se dirige
aos irmãos em Corinto: “Por isso, retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas
impuras; e eu vos receberei, serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso.
Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito,
aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.” (II Coríntios 6.17-20; 7.1).
Não devemos, em hipótese alguma, nos envergonhar em obedecer às leis de Deus. Somos diferentes do
mundo que nos rodeia. É por isso que a Bíblia fala do povo de Deus da seguinte maneira: “Vós, porém, sois
raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as
virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pedro 2.9). Como povo de Deus
fomos chamados para a santidade!
De Gênesis ao Apocalipse não encontramos um só caso que mostre algum servo de Deus se alimentando
de animais imundos. Para a esposa de Manoá, o anjo disse: “não comas coisa imunda” (Juízes 13.4,7);
igualmente o seu filho Sansão devia abster-se de “coisa imunda” (Juízes 13.14); Jó faz a seguinte pergunta:
“Quem do imundo tirará o puro?”. Ele mesmo responde: “NINGUÉM” (Jó 14.4); o profeta Isaías, inspirado por
Deus, ordena: “não toqueis coisa imunda” (Isaías 52.11); Ezequiel afirma: “nunca comi animal morto de si
mesmo nem dilacerado por feras, nem carne abominável entrou na minha boca”. (Ezequiel 4.14). “Resolveu
Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então,
pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se” (Daniel 1.8); Pedro afirma: “nunca comi
coisa alguma comum e imunda” (Atos 10.14; 11.18); Paulo, se referindo à Palavra do próprio Deus, recomenda
aos irmãos em Corinto, diz: “Não toqueis nada imundo” (II Coríntios 6.17). Ora. Se em algum momento a lei
dietética tivesse deixado de vigorar, com certeza encontraríamos pelo menos um exemplo de algum servo de
Deus usado alimento imundo como alimentação. Mas, tal não acontece.
As Escrituras ensinam que a carne dos animais imundos é “abominação” (Levítico 11.10-
13,20,23,41,42) e “abominável” (Deuteronômio 14.3). E, é por esse motivo que Deus nos ordena para não
usarmos tais animais como alimentos. A palavra hebraica para “abominação” é: ‫ץ‬ֶׁ‫ק‬ ֶׁ‫ש‬ [SHEQETS] e indica:
“uma coisa impura, uma abominação, algo detestável.22
”. São palavras duras, mas devemos aceitá-las
humildemente como sendo, de fato, a Palavra de Deus para nós.
Quando evitamos animais impuros como alimento, demonstramos nosso cuidado com a separação
daquilo que contamina e corrompe (Levítico 20.24-26; Deuteronômio 14.2). Sabemos que o nosso corpo é o
santuário de Deus, onde o próprio Espírito Santo habita.
22
STRONG, James. 2002.
11
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Celso do Rozário Brasil Gonçalves
Deus quer que tenhamos uma vida saudável. Ele sabe os animais que não são bons para nossa
saúde. Recentemente em um estudo científico viram que o porco [o porco é imundo e não
podemos comê-lo] tem um vírus perigosíssimo e se engolido poderá causar muito dores e até
morte. A lagosta, o Caranguejo, o Siri e o camarão [os quatro são imundos] que são delicias para
algumas pessoas, estudos tem constatado que eles têm um altíssimo nível de colesterol.23
Não existe qualquer evidência, nem no Antigo e nem no Novo Testamento que indique que a lei
dietética tenha sido abolida ou que a mesma era cerimonial e transitória ou que não deve ser observada hoje
pelos cristãos. Como a lei da abstinência antecede a entrega das leis ao povo de Israel e remonta ao tempo de
Noé, podemos afirmar que são baseadas em princípios de saúde e tem a característica de eterna obrigação para o
homem. O que acontece é que aqueles que defendem a anulação desta lei baseiam-se em textos mal-
interpretados da Bíblia.
Tivemos a oportunidade de ler um artigo interessante postado na internet que tem como título: “Leis
Dietéticas das Escrituras—O Que Dizem Pesquisadores Sérios a Respeito24
”. Vejamos alguns pontos
importantes do referido artigo:25
“1ª Pergunta, dirigida ao Dr. Gerhard Hasel: Como se pode provar que as leis dietéticas dadas a
Israel tinham aplicação a todos, não só aos israelitas?
RESPOSTA: Em Levítico 17-18 há vários regulamentos que se aplicam tanto a israelitas quanto a
não-israelitas. A sentença “Qualquer homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros [gerîm] que entre vós
peregrinam” (Lev. 17:8, 10, 12, 13) acentua isso. Essas leis pertencem aos israelitas e aos “estrangeiros” ou
“peregrinos”[32] e, portanto, não podem restringir-se aos israelitas. Em outras palavras, certas leis têm
aplicação universal; ultrapassam o limitado enfoque da lei cerimonial, ritual, *palavra proibida*ltica. Essas leis
são universais em natureza.
Lev. 17:8, 10, 12, 13:
“Dir-lhes-ás pois: Qualquer homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros que entre vós peregrinam,
que oferecer holocausto ou sacrifício. Também, qualquer homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros que
peregrinam entre eles, que comer algum sangue, contra aquela alma porei o meu rosto, e a extirparei do seu
povo. Portanto tenho dito aos filhos de Israel: Nenhum de vós comerá sangue; nem o estrangeiro que
peregrina entre vós comerá sangue. Também, qualquer homem dos filhos de Israel, ou dos estrangeiros que
peregrinam entre eles, que apanhar caça de fera ou de ave que se pode comer, derramará o sangue dela e o
cobrirá com pó”.
23
Disponível em:< https://osmisteriosdedeus.com/category/animais-limpos-e-imundos/> Acesso em: 10 maio 2019
24
Disponível em: <http://www.c-224.com/39-Leis-Dieteticas-1.html> Acesso em: 14 maio 2019.
25
Neste artigo temos a opinião do Dr. Gerhard F. Hasel, Ph. D., já falecido, que chegou a dirigir o Seminário Teológico da
Universidade Andrews, de Berrien Springs, Mich e uma dissertação da aluna universitária Vanessa Silva, da Universidade
York, de Toronto, ON, Canadá. Talvez o mais importante para alguns seja a rica bibliografia nas notas de rodapé propiciadas
por ambos os investigadores onde as fontes em que firmam suas pesquisas são reveladas. A metodologia de referenciamento
difere entre ambos os autores. O artigo tem o formato de entrevista com perguntas e respostas e sofreu algumas adaptações no
seu conteúdo por questões didáticas.
12
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As leis de sacrifícios de Levítico 1-7 não mencionam especificamente “estrangeiro” ou
“peregrino”. Não se aplicam universalmente a todos os não-israelitas, a menos que os últimos sejam membros
plenos da comunidade do concerto.[33] Mas a lei universal conhecida desde Gênesis 9:4, antes da existência de
uma entidade conhecida como Israel, que proíbe o comer sangue, prossegue com aplicação universal ao israelita
e ao “estrangeiro” em Levítico 17:10-12. A lei de caça em Levítico 17:13 é assim vista como pertencendo à lei
universal também, tão em desígnio quanto em aplicação, porque tanto se refere ao israelita quanto
ao “estrangeiro” (ger).
Gênesis 9:4:
“A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis”.
Nessa lei, é feita distinção com respeito a aves limpas que “podereis comer” (Deu. 14:11) e aves
abomináveis que “não se comerão” (Lev. 11:13). A razão, embora não diretamente estipulada, mas
subentendida, é que são “limpas”. Por implicação, há outros animais e aves de caça que não podem ser
comidos porque são imundos. A distinção entre limpos e imundos é aqui aplicada a animais de caça e serve
tanto a israelitas quanto a “estrangeiros”. Uma vez que tanto israelitas quanto não-israelitas são abrangidos,
parece-nos haver indicação de que a distinção de animais que podem ser comidos e os que não podem sê-lo é
universalmente válido e não podem ser restritos somente ao israelita ou judeu.
Deuteronômio 14.11:
“De todas as aves limpas podereis comer”.
Levítico 11.13:
“Dentre as aves, a estas abominareis; não se comerão, serão abomináveis: a águia, o quebrantosso, o
xofrango”.
As leis não-cerimoniais e universais de Lev. 18 aplicam-se novamente tanto ao israelita quanto
ao “estrangeiro” (ger). Essas leis incluem casamentos probidos (Lev. 18:6-17), pecados contra a
castidade (Lev. 18:18-21), homossexualismo (Lev. 18:22), e bestialidade (Lev. 18:23). Essas leis universais
têm feito com que nações pagãs fossem expulsas (Lev 18:24) de modo que “a terra vomita os seus
habitantes”(vs. 25). O vs. 26 sintetiza: “Nem o natural, nem o estrangeiro que peregrina entre vós” praticará
essas “abominações” (tô’ebôth).
Levítico 18:6-17,22-25.
É particularmente digno de nota que os animais imundos fazem parte das “abominações” (tô’ebôth). O
termo “abominável” (tô’ebôth) é empregado na declaração introdutória de Deuteronômio 14:3-21. A palavra
“abominação” tem várias conotações, mas significa essencialmente algo que, por sua natureza, é definido em
oposição ao que é aceitável e/ou permissível por Deus.
13
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Deuteronômio 14.3-21.
Neste ponto há uma consideração linguística adicional de que a lei de animais puros e imundos é uma lei
não-cerimonial universal. As “nações” pagãs de Canaã envolviam-se em “abominações” (tô’ebôth) que eram
proibidas nas leis universais e sofreram as consequências de tais atividades em juízo divino por atacado (Lev.
18.24-30). Exatamente nessa linha, comer animais imundos é algo “abominável”, envolvendo outra lei universal
que é válida para toda a humanidade (ver também Isa. 66:16-18)
Isaías 66.16-18.
Confirmando a universalidade da lei dietética, temos o seguinte comentário:
Os princípios dietéticos de Levítico 11, em conjunto com outros regulamentos sanitários, foram
dados pelo sábio Criador, a fim de promover a saúde e a longevidade (Êxodo 15.26; 23.25;
Deuteronômio 7.15; Salmo 105.37). Como se baseiam na natureza e nas exigências do corpo
humano, esses princípios não poderiam de modo algum ser afetados pela cruz ou pelo
desaparecimento de Israel como nação escolhida. Os princípios que contribuíram para promover
saúde há 3,5 mil anos produzirão os mesmos resultados hoje. O cristão sincero considera o seu
corpo o templo do Espírito Santo (I Coríntios 3.16,17; 6.19,20). Valorizar esse fato o levará,
entre outras coisas, a comer e a beber para a glória de Deus, ou seja, regulamentar sua dieta de
acordo com a revelada vontade de Deus (I Coríntios 9.27; 10.31). Assim, para ser coerente, o
crente deve aceitar e obedecer aos princípios ordenados em Levítico 11.26
3. A Vigência da Lei Dietética
As normas divinas referentes à alimentação estabelecidas em Levítico 11 continuam em vigor em nossos
dias. Não foram abolidas com a morte de Jesus na Cruz, mas se aplicam a todos os servos de Deus em todos os
tempos e lugares. Deus falou claramente para o seu povo: “São estes os animais que comereis [...] Destes,
porém, não comereis” (Levítico 11.2,4). Tal determinação protege a saúde dos fiéis que se abstêm de alimentos
nocivos que podem arruinar o corpo físico e minar a santidade e comunhão com Deus (Levítico 20.25,26).
Em Levítico 11 e Deuteronômio 14 encontramos as listas dos animais limpos e os imundos. A primeira
foi dada à geração de israelitas que havia sido resgatada da escravidão no Egito. Em Deuteronômio, Deus
repetiu e reafirmou suas instruções para a próxima geração, que estava a ponto de herdar a Terra Prometida.
Em ambas as passagens se explica a razão pela qual foram dadas estas instruções. Em Levítico 11 Deus diz que
para se poder ser “santos” é necessário evitar o que é imundo. Em Deuteronômio 14 lemos que Israel não devia
comer “coisa alguma abominável” (versículo 3), “porque sois povo santo ao Senhor, vosso Deus” (versículos 2,
21). Ser santo significa ser apartado ou separado por, e para, Deus. Se examinarmos cuidadosamente estes
capítulos veremos que o motivo específico pelo qual Deus nos proíbe consumir a carne de animais imundos é o
da santidade. Deus quer que sejamos santos. Sendo que lhe pertencemos, e ademais nos comprou com o sangue
26
NICHOL, Francis D. 2011, p. 819, volume 1.
14
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de Jesus Cristo, Deus não quer que nos profanemos com nenhum tipo de contaminação, seja física ou espiritual
(1 Coríntios 6:15-20). Para Deus, o facto de não consumir animais imundos é um dos sinais de santidade que
identificam a todos aqueles que ele apartou para ter uma relação especial com ele.
Deus sempre desejou que seu povo fosse santo. Como expressou o apóstolo Paulo: “como também nos
elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade
[amor]” (Efésios 1:4).
Por sua vez, o apóstolo Pedro exortou aos cristãos com estas palavras: “como filhos obedientes, não vos
conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos
chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque
eu sou santo” (1 Pedro 1.14-16 cf. Levítico 11.44-45).
Certamente, ao dizer isto, Pedro tinha em mente todos os aspectos da conduta cristã, não só o deixar de
comer carne imunda. Paulo também lembrou aos Coríntios as instruções que Deus havia dado a respeito: “Pelo
que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei
para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso. Ora, amados, pois que temos
tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor
de Deus” (II Coríntios 6.17; 7.1).
De acordo com a Bíblia, o que foi abolido com a morte de Cristo é considerado como sombra que
apontava para Ele (Hebreus 10.1). Porém, as leis dietéticas não são sombras de coisas vindouras. Não têm nada
a ver com os fatores circunstâncias de tempo, lugar ou povo, assim são mandamentos válidos para todos os
povos porque são atemporais.
Em nossos dias, muitos cristãos tornam-se infiéis pela falta de mordomia na alimentação.
Desconsideram totalmente às recomendações bíblicas sobre o cuidado com o corpo físico e com a dieta
prescrita por Deus em sua Palavra. Como bem disse certo escritor:
“Alguns abusam comendo demais e sofrem as devidas consequências, enquanto outros não têm o que
comer e sofrem os resultados negros da fome. Deveria haver muito mais mordomia no comer do que
normalmente tem havido. Muitos hoje vivem em função da comida e prejudicam a saúde por esta razão. Jesus
disse: ‘Nem só de pão viverá o homem...’ É claro que precisa de pão, mas não vive só em função de pão ou
comida a ponto de ficar condicionado ao alimento com prejuízo da vida como um todo.27
”
Faz parte da mordomia cristã do corpo zelar pela boa saúde. Primeiro porque tudo o que Deus criou foi
para o nosso bem-estar e saúde (Gênesis 2.8,9). Segundo porque devemos prestar serviço a Deus: Louvor,
adoração, testemunho... E para tanto, precisamos ter saúde física, caso contrário, como uma pessoa doente terá
prazer para louvar a Deus?
Cuide da saúde do seu corpo. Cuide da sua alimentação. O seu corpo, segundo a Bíblia, pertence a Deus
e só deve ser usado de acordo com a vontade de Deus, que é boa, agradável e perfeita. Isso não significa que
uma pessoa portadora de uma enfermidade ou deficiência física não possa servir a Deus. Claro que pode, e
muitos cristãos têm servido a Deus eficientemente, mesmo chorando e gemendo. Paulo é um bom exemplo,
como lemos em Gálatas 4.13,14. Portanto, zele pelo seu corpo.
Cristãos onívoros que não têm controle no comer e no beber, geralmente, sofrem as consequências da
sua intemperança com diversas doenças nutricionais: Pressão alta, diabetes, obesidade, problemas cardíacos,
etc. Contudo, a Palavra de Deus mostra que a saúde física deve ser valorizada pelos servos de Deus. O apóstolo
27
CÂNDIDO, Daniel de Oliveira. 1982, p. 32.
15
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João ao escrever para o presbítero Gaio disse: “Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde,
assim como é próspera a tua alma” (III João verso 2).
No passado, Deus prometeu para o seu povo: “[...] Tirarei a doença do meio de vocês” (Êxodo 23.25b -
NVI). Porém, esta promessa era condicional. O Senhor disse também: “Se ouvires atentamente a voz do
Senhor teu Deus, e fizeres o que é reto diante de seus olhos, e inclinares os ouvidos aos seus mandamentos, e
guardares todos os seus estatutos, sobre ti não enviarei nenhuma das enfermidades que enviei sobre os
egípcios; porque eu sou o Senhor que te sara” (Êxodo 15.26). De fato, é o Senhor “quem perdoa todas as
nossas iniquidades e sara todas as nossas enfermidades” (Salmo 103.3). Mas, para que isto seja uma realidade
constante em nossas vidas, a obediência é fundamental.
O nosso corpo é “o templo do Espírito Santo” (I Coríntios 6.19), logo, não deve de forma alguma ser
contaminado com a ingestão de alimentos impuros e nem tampouco poluído com drogas, bebidas alcoólicas ou
substâncias intoxicantes: “Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e
no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” (I Coríntios 6.20 - ARC). Sabemos que, para aqueles que
ignoram ou menosprezam as ordens divinas e destroem seu corpo com comidas e bebidas proibidas por Deus
sofrerão as devidas consequências através da condenação: “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o
destruirá; porque sagrado é o santuário de Deus, que sois vós” (I Coríntios 3.17). No livro do profeta Isaías,
temos uma palavra divina dirigida para aqueles que insistem em comer “carne de porco e rato”. Vejamos: “Que
habita entre as sepulturas, e passa as noites junto aos lugares secretos; come carne de porco e tem caldo de
coisas abomináveis nos seus vasos [...] Os que se santificam, e se purificam, nos jardins uns após outros; os
que comem carne de porco, e a abominação, e o rato, juntamente serão consumidos, diz o Senhor” (Isaías
65.4; 66.17). Ora, se aquilo que o ser humano come é de somenos importância, então, porque Deus irá destruir,
conforme Isaías, a todos aqueles que se alimentam de “carne de porco, rato e coisas abomináveis”?
Quão diferente foi a atitude de Daniel quando estava cativo em Babilônia. O relato bíblico nos informa
que ele: “[...] tomou a resolução de não se contaminar com os alimentos do rei e com seu vinho. Pediu ao
chefe dos eunucos para deles se abster” (Daniel 1.828
). A Versão Almeida Revisada Imprensa Bíblica29
diz
que: “Daniel, porém, propôs no seu coração [...]”.
Daniel e seus amigos resolveram arriscar-se a enfrentar a ira do rei (que lhes seria fatal), a fim
de permanecerem fiéis. Eles se revoltaram contra o alimento não-kosher que lhes era servido. Os
alimentos consumidos pelos pagãos continham coisas consideradas cerimonialmente imundas
para os judeus [...] Daniel fez um propósito ‘em seu coração’ (Segundo a King James Version e
nossa versão portuguesa). Ele tinha profundas convicções sobre essas questões.30
Daniel era fiel a Deus e abstinente. Conhecia a lei dietética de Levítico 11. Jamais se deixaria seduzir
pelos manjares abomináveis do rei babilônico. O verbo hebraico que indica a firme resolução de Daniel em não
se contaminar com o manjar do rei é: ‫ם‬ ֶׁ‫ָּש‬‫י‬ַ‫ו‬ [wayyāśem] e significa, dentre outras coisas: “Pôr, colocar,
depositar, estabelecer, determinar, fixar31
”. Daniel não apenas pediu para se abster do alimento impuro da mesa
real babilônica, mas solicitou: “[...] ao despenseiro [...] Experimenta, peço-te, os teus servos dez dias; e que se
28
Versão Católica. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/vc/dn/1> Acesso em: 10 maio 2019
29
Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/aa/dn/1> Acesso em: 10 maio 2019.
30
CHAMPLIN, Russell Norman. 2001, p. 3374, vol. 5.
31
STRONG, James. 2002.
16
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nos deem legumes a comer e água a beber” (Daniel 1.11,12). Qual foi o resultado dessa dieta seguida por Daniel
e seus amigos? “E, ao fim dos dez dias, apareceram os seus semblantes melhores, e eles estavam mais gordos do
que todos os jovens que comiam das iguarias reais. Pelo que o despenseiro lhes tirou as iguarias e o vinho que
deviam beber, e lhes dava legumes [...] Então o rei conversou com eles; e entre todos eles não foram achados
outros tais como Daniel, Hananias, Misael e Azarias; por isso ficaram assistindo diante do rei. E em toda
matéria de sabedoria e discernimento, a respeito da qual lhes perguntou o rei, este os achou dez vezes mais
doutos do que todos os magos e encantadores que havia em todo o seu reino” (Daniel 1.15,16,19,20).
Daniel sabia que fazia parte de um povo diferente, um povo santo. Ele conhecia a Palavra de Deus que
diz: “Porque és povo santo ao Senhor teu Deus, e o Senhor te escolheu para lhe seres o seu próprio povo, acima
de todos os povos que há sobre a face da terra. Nenhuma coisa abominável comereis.” (Deuteronômio 14.2,3).
Reiteramos: O Novo Testamento não aboliu a distinção entre animais limpos e imundos. Alguns
religiosos pensam que, pelo fato de as leis dietéticas serem mencionadas em Levítico eram meramente leis
cerimoniais ou ritualísticas, que não mais estariam em vigor sob a era cristã. Sabemos, porém, que as leis
alimentícias têm princípios de saúde, assim sendo essas leis dietéticas trazem consigo um caráter de permanente
obrigação. Os mesmíssimos animais que outrora foram classificados como impróprios para a alimentação e,
consequentemente prejudiciais para a saúde continuam tendo essas mesmas características, e, portanto, devem
ser evitados.
Sabemos que todas as leis morais de Deus existiam muito antes de Moisés e do povo de Israel. Por
exemplo, Deus disse o seguinte acerca de Abraão: “Porque Abraão obedeceu à minha palavra e guardou os
meus mandados, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis” (Gênesis 26.5). Podemos dizer que
Deus, quando fez aliança com Israel, não outorgou ou enunciou a Sua lei pela primeira vez. Ele a declarou a um
povo que estava saindo de um cativeiro que durara cerca de quatro séculos, assim, eram pessoas que tinham
sido escravas por várias gerações (Êxodo 12.41). Como elas poderiam, em tais circunstâncias, recordarem da lei
de Deus ou mesmo obedecer a tais preceitos? Deus teve o cuidado de organizar e codificar as suas leis para o
seu povo escolhido.
Mesmo antes da saída do povo de Deus do Egito, Deus já havia começado a orientá-los sobre suas festas
cerimoniais (Êxodo 5.1; 12.1-51). Logo no começo de sua jornada no deserto lhes ensinou sobre a relevância do
descanso semanal sabático (Êxodo 16.23), Deus corroborou este mandamento acerca do santo sábado ao enviar-
lhes porção dobrada do maná no sexto dia e suprimindo o seu fornecimento no sétimo dia (Êxodo 16.25-29).
Quando alguns do povo de Deus desobedeceram às ordens divinas sobre o descanso no santo sábado e saíram
na busca do maná, Deus os reprovou com as seguintes palavras: “Até quando recusareis guardar os meus
mandamentos e as minhas leis?” (Êxodo 16.28). Este fato ocorreu antes da chegada dos israelitas no monte
Sinai (Êxodo 19.1,2). Pois, foi ali naquele monte onde Deus promulgou e codificou os seus mandamentos e as
suas leis. Tais normas contribuiriam, decisivamente, para a felicidade, saúde, proteção e prosperidade do povo
de Deus (Êxodo 23.25-33).
Já vimos que em Levítico 11 e Deuteronômio 14 a lei que estabelece a distinção entre os animais limpos
e imundos. Em Levítico 11 foi Deus se dirige àquela geração de povo de Israel que havia saído da escravidão do
Egito. Já em Deuteronômio 14 Deus reitera e repete esta lei para a geração futura que tomaria posse da Canaã.
Em ambos os textos Deus esclarece porque deu tais instruções dietéticas para os israelitas: “[...] portanto, vós
sereis santos, porque eu sou santo.” (Levítico 11.45). Para tanto, o povo de Deus não deve comer “coisa alguma
abominável” - animal imundo (Deuteronômio 14.3). “Porque sois povo santo ao Senhor, vosso Deus, e o Senhor
vos escolheu de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe serdes seu povo próprio [...] porquanto sois
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povo santo ao Senhor, vosso Deus” (Deuteronômio 14.2,21). A palavra hebraica para “santo” é ‫דֹוש‬ָּ‫ק‬
(QÅDOSH) e significa: “sagrado, santo, o Santo, separado.32
” para uso exclusivo de Deus.
Quando examinamos com cuidado os capítulos acima mencionados notamos que a razão pela qual Deus
veda o consumo da carne de animais imundos é a santidade do seu povo. Deus quer que sejamos santos. Somos
propriedades de Deus porque Ele nos comprou com Seu próprio sangue. Logo, não devemos contaminar nem
física ou espiritualmente a nossa vida (I Coríntios 6.15-20). Quando nos abstemos de animais imundos ou de
quaisquer coisas que contaminem a nossa vida e nos dedicamos a Deus estamos, de fato, santificando para uma
relação íntima com Deus.
No Antigo Testamento a vigência da lei da abstinência é clara, pois, diversos textos comprovam a
existência de animais considerados como imundos, que contaminam o homem (Levítico 5.2; 10.10,11; Juízes
13.4; Isaías 52.11). Em Ezequiel 22.26 temos um texto esclarecedor: “Os seus sacerdotes violentam a minha lei,
e profanam as minhas coisas santas; não fazem diferença entre o santo e o profano, nem ensinam a
discernir entre o impuro e o puro; e de meus sábados escondem os seus olhos, e assim sou profanado no
meio deles.”
Vamos comparar o texto de Ezequiel com outros textos:
O POVO DE DEUS DEMAIS POVOS
“E a meu povo ensinarão a distinguir entre o santo
e o profano, e o farão discernir entre o impuro e o
puro” (Ezequiel 44.23 cf. Levítico 10.10; 11.46,47;
20.25,26)
“Os seus sacerdotes violentam a minha lei, e profanam as
minhas coisas santas; não fazem diferença entre o santo e
o profano, nem ensinam a discernir entre o impuro e o
puro; e de meus sábados escondem os seus olhos, e assim
sou profanado no meio deles.” (Ezequiel 22.26).
Deus sabe o que podemos ou não comer. Como criador de todas as coisas, conhece o melhor
tipo de alimentos que produz efeito nutritivo sem causar males ao organismo. Isto é prova de
que Deus tem cuidado de nossa saúde, e quer o nosso bem. Diz a Bíblia, que nosso corpo é
templo do Espírito Santo (I Cor 6.19). Se nosso corpo é assim considerado por Deus, tem de ser
separado para tal. Nada que se contamine e o adoeça deve estar nele. Por isso Deus delimitou as
espécies de carnes que servem de alimento ao homem.33
O padrão de Deus para o seu povo de hoje é o mesmo. Ele exige culto (Rm 12.1) e vida (1 Pd
1.5) santos, assim como exigiu do seu povo de outra época. A doutrina bíblica da abstinência,
também associada à santidade, continua válida para nós, que vivemos neste século, e para todos
que viverão nos séculos seguintes.34
”
32
STRONG, James. 2002, p. 987.
33
Revista: O Restaurador, set/out. 1988. Igreja Adventista da Promessa: São Paulo.
34
Lições Bíblicas da IAP, p. 66, 4° trim. 2010, n° 293.
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4. Explicação dos Pontos Polêmicos
As leis dietéticas que constam no Pentateuco foram abolidas no Novo Testamento com a morte de Jesus?
Alguns textos do Novo Testamento confirmam que a distinção entre animais limpos e imundos deixou de
existir? O que diz a Escritura sobre isso?
A santificação do povo de Deus é, atualmente, é tão importante como no passado. E a santificação tem
relação com a dieta alimentar dos servos de Deus (Levítico 11.44-47; 19.2; 20.7; 21.8). As Escrituras
neotestamentárias continuam frisando a necessidade do povo de Deus ser santo (Efésios 1.4: I Pedro 1.14-16).
Antes de analisarmos os textos polêmicos, vamos estudar um pouco sobre a importância do contexto na
interpretação de qualquer verso bíblico.
Normalmente, os textos usados por aqueles que advogam a anulação da lei dietética dada por Deus ao
seu povo são tirados do seu contexto. É muito perigoso arrancar um texto do seu contexto e atribuir-lhe um
significado diferente do original. Há quem diga que “um texto tirado do seu contexto é um pretexto para
heresia”.
Quando alguém isola um texto bíblico, sem levar em conta tudo o que a Bíblia diz poderá chegar a
errônea de que a Bíblia é apenas um amontoado de pensamentos desconexos, em vez da revelação inspirada de
Deus. Em II Timóteo 3.16,17 Paulo nos ensina como podemos proceder em nosso estudo bíblico. Ele afirma
que “TODA a Escritura é a inspirada Palavra de Deus.”
“No momento que voltamos a nossa atenção para este ou aquele versículo isolado e nos esquecemos
daquilo que vem antes ou vai depois dele, no mesmo texto, corremos o risco de interpretar o texto de forma
errada.35
”
Em Gênesis 9.3 encontramos um exemplo de como podemos interpretar corretamente um texto bíblico.
Lá está escrito: “Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou
agora”. Alguns que seguem um método erróneo para interpretar as Escrituras afirmam que esta passagem anula
a distinção entre os animais limpos e os imundos. Porém, a palavra “tudo” é a chave para a compreensão do
texto. Não podemos deduzir que “tudo” se refira a todos os tipos de seres vivos. Esse “tudo” não é absoluto,
mas sim relativo. A expressão: “Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento [...]” refere-se somente aos
animais liberados para alimentação. Pois, ninguém “come de tudo”. Por exemplo: Quem se alimenta de sapo,
urubu, cobra, minhoca? O texto também fala de vegetais que devem ser usados na dieta alimentar: “como vos
dei a erva verde”. Entretanto, ninguém se alimenta de todas as plantas. Mesmo porque há vegetais que são
venenosos e ouros que têm espinhos e não servem para alimentação.
Quando estudamos o texto em tela dentro de um contexto mais amplo, vemos que aquilo que se afirma
aqui, é que há tanto animais como vegetais que foram criados para a alimentação do homem.
Em outros textos bíblicos Deus nos ensina que nem todos os animais são adequados para a alimentação
do ser humano, o mesmo se aplica aos vegetais. Conforme já falamos, há determinados vegetais e animais que
são venenosos e podem causar a morte de quem os ingerir. Porém, Deus deixou à disposição do homem todos
os recursos para sua alimentação. E é exatamente disso que Gênesis 9.3 está tratando.
Aqueles que interpretam as Escrituras isolando o texto do seu contexto ensinam que a passagem que
estamos considerando anula a lei da abstinência que estabelece a diferença entre animais limpos (adequados
35
GUSSO, 2004, p. 25
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para a alimentação) e animais imundos (inadequados para a alimentação). Porém, percebemos que a incoerência
deste método interpretativo consiste em deduzir do texto aquilo que ele não está ensinando.
Sem dúvida, Deus deseja que o Espírito Santo nos ajude a compreender e a aplicar corretamente a Sua
Palavra (João 14.26). Não podemos esquecer de que a Bíblia interpreta a própria Bíblia! Nada de isolar textos
dos seus contextos, porque isso leva ao erro doutrinário.
Falando sobre a importância do contexto para a interpretação bíblica temos o seguinte comentário:
Um dos reconhecidos problemas hermenêuticos são os chamados textos de "prova". São textos
isolados do contexto e usados por determinados intérpretes para aquilatar certas asseverações
teológicas dogmáticas ou culturais. Texto de prova, segundo a hermenêutica contextual, é
secundário para a validação de uma interpretação simplesmente porque erra ao desconsiderar o
contexto.36
Não resta dúvida de que o contexto é fundamental para o entendimento correto de um texto bíblico.
Quando essa regra fundamental da hermenêutica é aplicada evita que o estudante da Escritura deduza de um
verso aquilo que ele não está ensinando.
Há algumas questões que devem ser imediatamente respondidas na análise de qualquer texto bíblico, por
exemplo: O que o autor sagrado estava ensinando na época que escreveu? Para quem ele escreveu? Quando ele
escreveu? Seu texto é descritivo ou prescritivo? Literal ou simbólico? Etc. O contextos próximo (contexto
imediato) e distante (contexto remoto) nos auxiliam nas respostas das perguntas acima elencadas. Ignorar o
contexto origina interpretações falsas, além de ser uma “eisegese”.
Sabemos que há grande diferença entre: “Exegese” e “Eisegese”.
O termo exegese é derivado de uma palavra grega que significa "conduzir para fora" e eisegese
de um vocábulo que significa "conduzir para dentro". Assim, a exegese é o processo de ir ao
texto a fim de determinar O seu sentido, e, "trazer para fora" a interpretação correta. Por outro
lado, a eisegese ocorre quando a pessoa aborda o texto com pré-conceitos e altera a mensagem
da Bíblia, extraindo dela um sentido que se deseja de antemão [...] Resumindo: a exegese ocorre
se a aplicação provém genuinamente do texto e a eisegese se a aplicação é artificialmente
imposta sobre o texto.37
No quarto trimestre de 2005 (out/dez), a IAP lançou uma série de lições bíblicas para a EBS abordando
dois temas: O sábado e a Abstinência. Na apresentação da referida lição lemos o seguinte:
A explicação de textos bíblicos respeita as regras hermenêuticas de interpretação, ou seja, cada
texto é explicado dentro do seu contexto, sendo que os versículos são explicados à luz de toda a
Bíblia e não o contrário.38
” De fato, como já dissemos o contexto é que vai determinar o sentido
do texto. A lição bíblica prossegue mencionando os seguintes contextos: “(1) Contexto Próximo;
(2) Contexto Mais Amplo; (3) Contexto Histórico e (4) Contexto Temático.39
36
BENTHO, Esdras Costa. p. 56.
37
MARTINS, Francisco. Exegese X Eisegese.
38
FILHO, José Lima de Farias (Diretor do DECR da IAP). Lições Bíblicas, p. 6, out/dez, 2005, n° 273.
39
Ibidem
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Ressaltamos que pretendemos estudar os textos bíblicos difíceis de entender à luz do seu contexto
conforme preceitua o método hermenêutico histórico gramatical porque:
[...] nossa teologia encontra seu fundamento sólido apenas no sentido gramatical da Escritura. O
conhecimento teológico será falho na proporção do seu desvio do significado claro da Bíblia.
Embora esse princípio seja perfeitamente óbvio, é repetidamente violado por aqueles que
colocam suas ideias preconcebidas para sustentar a interpretação da Bíblia. Pela exegese
forçada, eles tentam ajustar o sentido da Escritura às suas opiniões ou teorias preferidas.40
Vamos às explicações dos textos polêmicos sobre a lei da abstinência:
(a) “O Imundo e o Limpo Dela Comerão” – Deuteronômio 12.15.
O texto de Deuteronômio 12.15 afirma: “Porém, consoante todo desejo da tua alma, poderás matar e
comer carne nas tuas cidades, segundo a bênção do SENHOR, teu Deus; o imundo e o limpo dela comerão,
assim como se come da carne do corço e do veado”.
O que o texto está ensinando? Que podemos comer de tudo? A explicação deste verso, erroneamente
usado para defender a ideia de que o cristão é livre para comer tanto alimento imundo quanto limpo, se encontra
na comparação com outras versões bíblicas modernas. Vejamos:
“Porém, quando vocês quiserem comer carne, poderão comer os seus animais em qualquer lugar onde
vocês estiverem morando. Vocês poderão comer tantos animais quantos o Senhor, nosso Deus, lhes der. Todos
vocês, quer estejam puros ou impuros, poderão comê-los, como comeriam carne de gazela ou de veado”
(Deuteronômio 12.15 – NTLH41
).
Observamos que o texto não está falando da ingestão de alimentos “limpos e imundos”. Mas, sim de
pessoas. Os adjetivos: “puros” ou “impuros” são aplicados às pessoas que iriam comer a carne dos animais.
Mas, que animais? O próprio texto responde: “da gazela ou de veado” (que, evidentemente, são animais limpos
porque têm unhas fendidas e remoem – Levítico 11.3; Deuteronômio 14.4,5). Logo, o texto em lide está
ensinando que: “Ambos, puros e impuros, podem comer de todos os animais puros em qualquer parte da
terra.42
”
AFINAL, POSSO OU NÃO COMER TUDO? Certo pastor pregava à sua igreja: ― Podemos
comer tudo o que nosso coração desejar, pois Deus assim autorizou. Depois abriu a Bíblia para
confirmar, e leu: Deuteronômio 12:15: ―Porém, conforme a todo o desejo da tua alma,
degolarás e comerás carne segundo a bênção do Senhor teu Deus, que te dá dentro de todas as
tuas portas; o imundo e o limpo dela comerá, como de corço e do veado [...] podemos assegurar
que a declaração do pastor é um equívoco sincero. Uma afirmação não aprofundada no que diz o
Senhor. Ele entende que, pelo fato do verso mencionar LIMPO e IMUNDO, tudo agora é lícito
comer. Ele não compreendeu bem o texto bíblico e está induzindo a igreja ao caminho errado,
lamentavelmente.43
40
BERKHOF, 2004, Louis, pp. 58,59.
41
NTLH – Nova Tradução na Linguagem de Hoje
42
DAKE, Finis Jennings. 2014, p. 301.
43
GONZALES, Lourenço. 1993, p. 41.
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Dentre os diversos métodos que levam o intérprete a praticar a “eisegese” de um texto qualquer,
deturpando o seu sentido original, destacamos os seguintes: (1) Quando não elucida um texto à luz do outro.
Foi esse o erro do pastor acima citado. Se ele tivesse “conferido um texto com outro” (Eclesiastes 7.27), não
teria “ido além do que está escrito” (I Coríntios 4.6). (2) Quando força o texto a dizer o que não diz: O
intérprete está cônscio de que a interpretação por ele asseverada não está condizente com o texto, ou entáo, está
inconsciente quanto ao objetivo do autor ou propósito da obra. Entretanto, voluntária ou involuntariamente
manipula o texto a fim de que sua loquacidade possa ser aceita como princípio escriturístico.
Vejamos o que nos informa o contexto imediato do texto em questão. Observemos o que diz
Deuteronômio 15.22:
“Todas as pessoas, tanto as que estão puras como as que estão impuras, poderão comer carne desses
animais, como comeriam carne de gazela ou de veado” (NTLH). Com base neste texto podemos afirmar que a
Escritura não está liberando quem quer que seja para comer de tudo. O contexto da passagem bíblica não
menciona nenhum animal imundo, mas apenas aqueles que são próprios para consumo:
“[...] matarás das tuas vacas e tuas ovelhas, que o SENHOR te houver dado, como te ordenei; e comerás
dentro da tua cidade, segundo todo o teu desejo. Porém, como se come da carne do corço e do veado, assim
comerás destas carnes; destas comerá tanto o homem imundo como o limpo” (ARA). Sabemos que, de
acordo com a Bíblia, “vaca, ovelha, corço e veado” são animais limpos e, portanto, próprios para a alimentação.
A última parte do texto acima transcrito afirma: “assim comerás destas carnes; destas [carnes] comerá tanto o
homem imundo como o limpo”. O verso está se referindo ao estado do homem que iria se alimentar dos
referidos animais, não tendo nada a ver com o tipo de alimento. O texto de Deuteronômio 12.22 diz claramente:
“Porém, como se come da carne do corço e do veado, assim comerás destas carnes; destas comerá tanto o
homem imundo como o limpo”.
Segundo a Bíblia, qualquer homem que, por exemplo, tocasse em algum cadáver de homem ou animal,
ficaria imundo (Levítico 11.24-28,31,39,40); o leproso era considerado “imundo” (Levítico 13.3); o homem
ímpio é considerado imundo (Salmo 14.3). Logo, a expressão: “imundo e limpo” aplicam-se às pessoas, que
eventualmente poderiam participar daquele alimento. Conforme podemos ver os textos de II Crônicas 23.19 e
Ageu 2.13 mencionam pessoas imundas. O que aprendemos do texto de Deuteronômio 12.15? Que os animais
limpos podem ser usados na alimentação tanto de homens limpos quanto de homens imundos.
(b) “Comei de tudo que se vende no açougue” – I Coríntios 10.25
Uma regra de interpretação bíblica orienta que:
É necessário consultar as passagens paralelas, ‘explicando cousas espirituais pelas espirituais’
(1 Cor. 2:13). Com passagens paralelas entendemos aqui as que fazem referência uma à outra,
que tenham entre si alguma relação, ou tratem de um modo ou outro de um mesmo assunto.44
Vamos lançar mão desta norma para a compreensão daquilo que Paulo está tratando no texto em
questão.
Outra regra hermenêutica afirma que:
44
LUND, 1968, p. 41.
22
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As Escrituras interpretam as Escrituras. Com frequência, aquilo que é obscuro numa parte da
Bíblia fica claro em outra parte. A ferramenta da hermenêutica a ser usada aqui é a de passagens
paralelas. Quando o contexto imediato não ajuda os intérpretes a descobrirem o significado da
passagem, eles podem utilizar dois tipos de passagens paralelas encontradas em outras partes das
Escrituras.45
Primeiramente, para uma compreensão correta do texto de I Coríntios 10.25 precisamos entender do que
o apóstolo Paulo está tratando neste capítulo 10 de sua carta aos coríntios. O que ele queria dizer quando disse:
“comei de tudo que se vende no açougue?” Será que com estas palavras ele liberou o cristão para comer de
tudo? Será que ele mesmo comia de tudo? Será que ele está advogando a anulação da lei dietética ou será que
ele está tratando de outro assunto que não tem nada a ver com as leis dietéticas?
É importante ressaltar que não existe nenhum texto nas cartas paulinas ensinando que o cristão pode
comer animais imundos. Paulo jamais poderia ensinar tal heresia, pois, se assim procedesse, estaria contrariando
a Palavra de Deus. Paulo era judeu, extremamente zeloso e observador da lei de Deus (Atos 22.3; Filipenses
3.5,6), portanto, seria muita infantilidade concluir, precipitadamente, que ele autorizou o uso de alimentos
proibidos por Deus.
Muitos irmãos entendem mal as palavras ditas por Paulo. Por quê? Porque aqui temos um problema de
comunicação. “Um orador ou escritor pode ser mal interpretado se os ouvintes ou leitores não souberem
exatamente o que ele quis dizer com determinada palavra ou frase. Às vezes, numa conversa, uma pessoa diz
para a outra: ‘Ah, eu pensei que você estava querendo dizer isso.’46
” O que Paulo comunicou para os irmãos de
Corinto (seus ouvintes primários) é interpretado erradamente por seus ouvintes finais (atuais). Qual deve ser
então o nosso objetivo no estudo bíblico? “Nossa meta no estudo bíblico é descobrir com a maior exatidão
possível o que Deus quis dizer com cada uma das palavras e frases que colocou nas Escrituras.47
” Para que isto
aconteça, sempre devemos levar em consideração o contexto bíblico da passagem que está sendo estudada.
Uma coisa é certa: Não podemos entender I Coríntios 10.25 isoladamente.
Quando analisamos o contexto imediato da passagem notamos que Paulo começa um argumento em
relação à abstinência das “carnes sacrificadas aos ídolos” (I Coríntios 10.14,19-21,28,31). Logo, usar de modo
isolado, apenas o verso de I Coríntios 10.25, fora do seu contexto e tentar extrair dele algo que Paulo nunca
ensinou é algo perigoso, pois, conduz ao erro doutrinário.
O teólogo Leon Morris nos fornece a seguinte explicação:
[...] a maior parte do alimento vendido nos armazéns, primeiro tinha sido oferecida em
sacrifício. Parte da vítima era sempre oferecida sobre o altar ao deus, parte ia para os sacerdotes,
e geralmente uma parte ia para os cultuadores. Os sacerdotes costumeiramente vendiam o que
não podiam utilizar. Muitas vezes era muito difícil saber com certeza se a comida de
determinado armazém fizera parte de um sacrifício ou não. Note-se que há duas questões
distintas: o tomar parte em festividades idolátricas, e o comer comida comprada nos armazéns,
mas previamente parte de um sacrifício.48
45
KAISER, Walter C. 2002, p. 193.
46
ZUCK, Roy B. 1994, p. 114.
47
Idem, p. 115.
48
MORRIS, Leon. 1986, p. 99
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Como saber se determinada carne havia sido oferecida em sacrifício a um ídolo pagão? Este era o
problema enfrentado pelos irmãos da cidade de Corinto. Paulo procurou, com a ajuda de Deus, orientar a
membresia daquela congregação. Desde I Coríntios 8 até o capítulo 11 ele trata deste assunto.
A ingestão das carnes oferecidas aos ídolos era um assunto que transcendia uma simples
questão de dieta. Envolvia um aspecto básico dos costumes da religião pagã e das práticas
sociais daquela época. Quando um homem oferecia o sacrifício de um animal a um ídolo, uma
parte desse animal era colocada no altar para ser consumida pelo fogo, outra parte era oferecida
ao sacerdote oficiante, e o remanescente era reservado para o ofertante do sacrifício. A parte que
cabia a ele podia ser comida em uma festa no templo em honra ao ídolo, ou na sua casa em um
evento festivo particular, ou ainda podia ser colocada à venda no mercado público. Como o
sacerdote recebia mais do que podia consumir pessoalmente, ele também podia dispor dessa
carne extra no mesmo mercado. As questões relacionadas à permissão ou não de os cristãos
comerem carne, provavelmente se originou de dois pontos. Um deles seria o direito de comer
essa carne em sua própria casa ou na casa de um amigo. Outro problema maior seria a
participação de cristãos em banquetes realizados nos templos pagãos ou em outros festivais em
honra ao ídolo. A ingestão de refeições que incluíam carne oferecida aos ídolos era, como diz
Moffatt, “parte integrante da etiqueta formal da sociedade”. Como muitos destes convertidos de
Corinto haviam adorado ídolos pagãos antes da sua conversão a Cristo, eles ainda teriam amigos
e parentes entre os não convertidos. Em certas ocasiões, os cristãos eram convidados a
comemorar eventos festivos junto aos seus antigos amigos ou parentes que ainda eram idólatras.
Um escritor sugere: “como o sacrifício era geralmente realizado em conexão com alguma
circunstância feliz, parentes e amigos eram convidados para a festa e podia facilmente haver
entre eles alguns cristãos”. Dessa forma, o problema passou a envolver os relacionamentos
sociais. “Não participar de tais reuniões significava afastar-se da maior parte dos
relacionamentos com os amigos pessoais”. Esta carne oferecida aos ídolos podia ser vendida no
mercado público “como carne comum de açougue, sem qualquer informação de que havia sido
parte de um sacrifício”.4 Paulo afirma que todo cristão esclarecido sabe que nenhuma
contaminação espiritual pode ocorrer se uma pessoa ingerir carne nessas circunstâncias.49
Já que o assunto tratado pelo apóstolo Paulo em I Coríntios 10 está relacionado com “carnes sacrificadas
aos ídolos”, não é conveniente interpretar esta passagem para defender outro assunto que não faz parte da
intenção do autor sagrado. Usar o referido capítulo para tentar negar a vigência da lei dietética é desconsiderar
completamente o contexto da passagem bíblica. A maioria dos estudiosos concorda que desde o capítulo 8 até o
capítulo 10 de I Coríntios, a orientação de Paulo aos irmãos de Corinto é sobre “animais sacrificados aos
ídolos”.
Os versos 10.25-30 tratam especificamente da questão dos alimentos consumidos longe das
festas dos templos pagãos, que podem ter sido oferecidos a ídolos. Sobre isto, Paulo diz:
“Comei de tudo quanto se vende no açougue [ou mercado], sem perguntar nada, por causa da
consciência” (v.25) [...]. Os versos 10.31—11.1 concluem o longo tratamento de Paulo sobre
a comida oferecida aos ídolos. Amplia os princípios que esboçou para aplicá-los a seu
49
GREATHOUSE, William M.; METZ, Donald S. e CARVER, Frank G. 2006, p. 307
24
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raciocínio de que o que quer que fizessem deveria ser para a glória de Deus, dizendo: “fazei tudo
para a glória de Deus”. Tudo o que o cristão fizer, qualquer decisão tomada, deve ser “para a
glória de Deus” (v.31; cf. 6.20; Cl 3.17), não por presunção, autossatisfação ou afirmação de
seus “direitos”.50
Precisamos, para uma compreensão correta do texto, levar em consideração a passagem paralela (I
Coríntios 8).
Vejamos o que dizem os seguintes comentários baseados em I Coríntios 8:
No capítulo 8, Paulo volta-se para um novo problema: as carnes sacrificadas aos ídolos.
Possivelmente, a igreja em Corinto o havia consultado a respeito desse problema. Esse
problema recebe um tratamento extensivo, terminando em 11:1 [...] Paulo discute, em 8:1-
13 e 10:14-33, o fato de os coríntios comerem a carne que havia sido sacrificada aos ídolos
[...] Quando um cristão comprava carne no mercado, não sabia se havia sido sacrificada a
algum deus pagão. E, também, muitas vezes as pessoas davam, em suas casas, banquetes feitos
com a carne que sobrara dos sacrifícios que haviam feito.51
Hernandes Dias Lopes explica que:
Os crentes convertidos em Corinto eram egressos da idolatria. Eles eram adoradores de ídolos.
Então, surgia uma dúvida na mente deles: Podemos comer carne que os pagãos oferecem aos
ídolos? É pecado fazer isso? A pergunta deles era: Comer carne sacrificada aos ídolos é a
mesma coisa que adorar a um ídolo?52
Hernandes Dias Lopes53
também destaca que havia três lugares onde se encontrava carne sacrificada
aos ídolos em Corinto:
(1) O próprio templo dos ídolos (8.10);
(2) A casa dos amigos idólatras (10.27,28). Algumas pessoas traziam a carne para casa depois do
sacrifício e convidavam seus amigos para comer.
(3) Nos mercados públicos (10.25). Paulo aconselha: “Comei de tudo o que se vende no mercado, sem
nada perguntardes por motivo de consciência” (10.25). Tanto os sacerdotes quanto os adoradores
costumavam vender a carne que sobrava dos sacrifícios para os açougueiros.
O princípio de Paulo é que o amor deve reger a nossa liberdade cristã: “E, por isso, se comida
serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-
lo” (8.13). E preciso abrir mão de um direito seu, porque a vida do seu irmão é mais importante
que o seu direito. Isso é ética cristã! O amor deve nos reger [...] O crente pode comer carne
sacrificada ao ídolo no templo do ídolo? Paulo diz que não. Comer carne sacrificada ao ídolo
não é o problema. Você não tem a obrigação de fazer uma investigação da procedência de tudo
50
ARRINGTON, French L. e STRONSTAD, Roger. 2006, pp. 998,999
51
ALLEN, Clifton J. 1994, pp. 391,393, vol. 10.
52
LOPES, Hernandes Dias. 2008, p. 148.
53
Idem, pp. 150, 151.
25
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àquilo que compra no supermercado. E uma tolice o crente ficar perturbado com isso. Isso é
consciência fraca [...]. Comer carne é amoral, mas comer carne consagrada ao ídolo, no templo
do ídolo, se torna imoral [...] Lembra-se de Daniel na Babilônia? Ele não era vegetariano, mas
resolveu firmemente no seu coração não se contaminar com as iguarias da mesa do rei (Dn 1.8).
Por que ele não quis comer as iguarias da mesa do rei? Porque essas iguarias eram oferecidas
aos ídolos. Então, esta deve ser a postura do cristão: se eu sei, eu não como.54
No texto que estamos analisando, Paulo orienta: “Comei de tudo que se vende no açougue” (I Coríntios
10.25). Que informação temos acerca do “açougue” daqueles dias?
A palavra grega traduzida como mercado (makellon) é uma forma helenizada da palavra latina
macelium. Visto que Corinto já se tomara colônia romana quando Paulo esteve lá, muitas das
inscrições eram feitas na língua latina. Os arqueologistas encontraram a palavra macelium em
uma pedra, que, provavelmente, se referia à espécie de mercado que Paulo menciona. Macella
(mercados), em Pompéia, eram lojas abertas em três lados, onde se vendia came, peixe,
frutas e pão. Provavelmente, o mercado em Corinto era do mesmo tipo de mercado aberto
— quase uma feira livre. Ao lado dele, bem provavelmente havia um templo consagrado a
um dos deuses pagãos.55
Seguindo o mesmo raciocínio acima exposto, Russell N. Champlin comenta o seguinte:
Encontrou-se uma pedra em Corinto na qual há uma antiga inscrição latina, “macellum”, e que
provavelmente veio do local do “mercado” a que Paulo se refere aqui. Não sabemos em que
localização exata ficava tal mercado, porém, supondo que esses mercados muito se
assemelhavam uns aos outros, nas diversas localidades do mundo greco-romano daquela época,
temos uma boa idéia sobre o que Paulo se refere aqui. Nossa idéia mais clara sobre essa questão
se deriva das descobertas arqueológicas de Pompéia, na Itália. Ali o “mercado” era uma área
fechada, com lojas em dois andares, em pelo menos três dos lados do edifício. Nesses lugares,
isto é, nas lojas, é que eram vendidos os itens geralmente vendidos nos mercados, como
carnes, peixes, frutas, legumes e pão. Em Pompéia havia um pequeno templo, dentro do
recinto desse mercado, dedicado ao culto do imperador. É possível que as carnes a que
Paulo se refere aqui fossem vendidas nessas lojas, não sem antes terem sido usadas nos
ritos religiosos dó lugar. E não há motivo algum para supormos que os templos da cidade,
após terem oferecido os seus respectivos sacrifícios, também não fossem dedicados ao
comércio comum, enviando as carnes e os couros dos animais abatidos para o mercado; e
assim a maior parte das carnes vendidas naquela época fossem carnes oferecidas a ídolos,
visto que os sacrifícios de animais, nos países do mundo greco-romano, eram tão
numerosos como em Israel.56
54
Idem, pp. 153, 160, 161,162.
55
ALLEN, Clifton J. 1994, p. 409.
56
CHAMPLIN, Russell Norman. 1995, p. 161, vol. 4
26
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Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus?
Celso do Rozário Brasil Gonçalves
Paulo ainda adverte: “Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada perguntardes.” Ora, se
toda carne fosse sempre oferecida aos ídolos antes de ir para o mercado, ninguém precisava ter dúvidas; mas
como não o era, o cristão não tinha necessidade de perguntar coisa alguma.
Visto que grande parte da carne vendida no mercado era o que sobrara dos sacrifícios aos
deuses, seria bem difícil aos cristãos ficarem sabendo se a carne havia sido sacrificada aos ídolos
e achar carne que não o tivesse sido. Os cristãos tinham liberdade para comprar carne no
makellon, de acordo com Paulo, e não se preocuparem se ela havia sido sacrificada a um ídolo.57
O apóstolo Paulo encerra a sua argumentação estabelecendo o seguinte princípio: “Portanto, quer
comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.” (I Coríntios 10.31). A
pessoa que se alimenta de animais imundos está glorificando a Deus através daquilo que come?
[...] nós temos a responsabilidade de glorificar a Deus em todas as coisas [...] Os crentes de
Corinto estavam pensando assim: Por que eu não poderia desfrutar gostosamente a comida que
eu dou graças? Ora, eu estou comendo comida sacrificada ao ídolo, mas eu dei graças. E tudo o
que é santificado pode ser recebido. Por que minha liberdade seria limitada pela consciência do
irmão mais fraco? A resposta de Paulo é que não podemos glorificar a Deus sendo um tropeço
para os nossos irmãos.58
Paulo estabeleceu em suas epístolas alguns princípios que devem reger a vida cristã. Devemos glorificar
a Deus em tudo em nossa vida (Colossenses 3.17). Até mesmo através daquilo que “comemos e bebemos” (I
Coríntios 10.31).
Em toda refeição, em qualquer ato, devemos conduzir-nos de tal modo que possamos louvar e
honrar sempre a Deus. Nossa satisfação pessoal por meio dessa dádiva divina que é o alimento e
que constitui a essência de uma refeição cristã, deve estar sempre subordinada à nossa
consideração para com os escrúpulos religiosos de outros; devemos evitar fazer qualquer coisa
que os escandalize e enfraqueça sua fé. Embora nosso conhecimento de Deus possa dar-nos uma
liberdade mais ampla em relação à conduta pessoal, podemos colocar um limite a ela por
consideração a outros, em nome do amor cristão.59
O escritor Clifton J. Allen nos informa o seguinte:
Calvino diz que não existe nenhuma parte de nossa vida ou conduta que não deva ser para a
glória de Deus, e que devemos nos preocupar em comer e beber para promovê-la. E ele cita
um provérbio antigo: ‘Precisamos não viver para comer, mas comer para viver.’ O homem
glorifica a Deus quando é sensível para com o seu próximo. Como pode ele glorificar a
Deus se prejudicar a consciência cristã de um crente mais fraco? O zelo pela glória de Deus
57
ALLEN, Clifton J. 1994, p. 410.
58
LOPES, Hernandes Dias. 2008, p. 197
59
MEYER, F. B. 2002, p. 178
27
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é o primeiro princípio pelo qual devemos governar nossas ações, tanto em referência a nós
mesmos quanto em referência aos outros (cf. 6:20).60
Podemos dizer que, usar o texto de I Coríntios 10.25, isoladamente, para combater a lei da abstinência é
um exemplo de como muitos irmãos interpretam um verso bíblico fora do seu contexto. Porém, para nós é
fundamental saber quais são as lições que aprendemos com o apóstolo Paulo no referido texto?
O crente pode ir ao mercado, comprar a carne e comê-la? Paulo responde: Sim, não e talvez!
Comer de tudo que vende no mercado? Sim. No templo do ídolo? Não. Na casa do amigo? Sim
ou não. Depende da informação que você tiver. Se for à casa do amigo, não pergunte a
procedência da carne (10.27). Se souber que é sacrificada aos ídolos, não coma (10.28).61
No texto que analisamos, podemos concluir, com as seguintes palavras:
De uma coisa não duvidemos: Paulo não deixa implícito neste texto (I Coríntios 10.25), que a
distinção entre carnes limpas e imundas tenha sido abolida. Tal assunto não está sob
consideração [...]. Consequentemente, o assunto sob análise é especificamente o comer carnes
que possam ter sido sacrificadas aos ídolos [...]. o Concílio de Jerusalém (Atos 15),
determinou que os cristãos se abstivessem das carnes sacrificadas aos ídolos (Atos 15:29).62
Segundo Paulo, se um crente comprava a carne num açougue, ou se numa visita lhe fosse oferecida a
carne, não era necessário averiguar se esta tinha sido oferecida aos ídolos (I Coríntios 10.25-27). O que mais lhe
preocupava era que se considerasse e respeitasse a quem tivesse uma crença diferente. Segundo suas instruções,
nestes casos era preferível não comer carne para não servir de tropeço ao irmão (I Coríntios 8.13; 10.28-29).
(c) “O Que Contamina o Homem não é o que Entra pela Boca” – Mateus 15.11
Não é necessário ser um perito em exegese bíblica para perceber que Cristo está Se referindo
aqui não à contaminação física e sim à contaminação espiritual do homem. Se realmente
pudéssemos ingerir qualquer coisa, sem que isso prejudicasse o nosso organismo, então não
haveria mais necessidade de conhecermos os princípios básicos de nutrição e higiene, de
procurarmos consumir apenas os alimentos da melhor qualidade e de advertirmos os jovens a
respeito dos malefícios das drogas.63
Nossa análise do texto acima transcrito deve, em alguns aspectos, seguir os mesmos princípios que
utilizamos na interpretação de I Coríntios 10.25. Algumas questões precisam ser colocadas aqui: O que Jesus
quis ensinar quando disse que “o que contamina o homem não é o que entra pela boca?” Será que Jesus está
liberando o cristão para comer de tudo? Será que Ele, com estas palavras está ensinando que as leis dietéticas
foram abolidas?
60
ALLEN, Clifton J. 1994, p. 410.
61
LOPES, Hernandes Dias. 2008, p. 163.
62
GONZALEZ, Lourenço. 1993, p. 440.
63
Disponível em: https://setimodia.wordpress.com/2010/06/01/como-podemos-entender-mateus-1510-20-ali-e-dito-que-
%e2%80%9cnao-e-o-que-entra-pela-boca-o-que-contamina-o-homem%e2%80%9d-verso-11/
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O que revela o contexto imediato de Mateus 15.11? Vejamos o que dizem os versos 1 e 2:
“Então, chegaram ao pé de Jesus uns escribas e fariseus de Jerusalém, dizendo: Por que transgridem os
teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem pão.” (ARC).
Observamos que o texto não está tratando de doutrina, mas sim da “tradição dos anciãos”.
A palavra grega referente à “tradição” que ocorre no texto é: παράδοσιν [paradosin] e significa
“literalmente, ‘uma entrega’ ou ‘uma transferência’, por isso, ‘uma tradição’ que é transferida a
outros oralmente ou por escrito. Como usado nos evangelhos, ‘paradosis’ se refere ao pesado
fardo de regras orais rabínicas que haviam se desenvolvido em torno da Torah. As tradições dos
doutores da lei eram o alvo específico dos ataques de Jesus sobre o sistema religioso judaico de
Sua época. Em português, a palavra ‘tradição’ significa ‘transmissão oral [...] de geração em
geração’.64
Como, na maioria das vezes, as tradições judaicas contrariavam a Lei de Deus ou anulavam os Seus
mandamentos (Mateus 15.5,6) Jesus rechaçou tais ensinos baseados em mandamentos meramente humanos
(Mateus 15.9).
O que era a tradição dos anciãos?
O evangelista Marcos explica com detalhes esta questão:
E, vendo que alguns dos discípulos dele comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar
(pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos, não comem sem
lavar cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça, não comem sem se aspergirem; e
há muitas outras coisas que receberam para observar, como a lavagem de copos, jarros e
vasos de metal [e camas]), interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que não andam os teus
discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar?
(Marcos 7.2-5).
O teólogo John MacArthur tece o seguinte comentário sobre este assunto:
A tradição dos anciãos era um conjunto de leis extrabíblicas que existiam apenas em forma
oral desde a época do cativeiro babilônico. Mais tarde, foram compiladas em forma escrita na
Mishiná perto do fim do século 2°. A Lei de Moisés não continha nenhum mandamento sobre
lavar as mãos antes das refeições, a não ser para os sacerdotes, de quem era pedido que lavassem
as mãos antes de comer das ofertas sagradas (Levítico 22.6,7).65
O problema dos fariseus da época de Jesus consistia em querer impor para os judeus leis extrabíblicas
como se fossem mandamentos de Deus. Jesus não aceitou esta atitude e mostrou que nenhuma tradição deve
64
NICHOL, Francis D. 2013, p. 679, vol. 5.
65
MACARTHUR, John. 2010, p. 1235.
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ABSTINÊNCIA - O QUE A BÍBLIA ENSINA SOBRE AS LEIS DIETÉTICAS ESTABELECIDAS POR DEUS?

  • 2. 1 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves ABSTINÊNCIA - O QUE A BÍBLIA ENSINA SOBRE AS LEIS DIETÉTICAS ESTABELECIDAS POR DEUS? Celso do Rozário Brasil Gonçalves1 Índice dos Assuntos Introdução 1. A Origem da Lei da Abstinência 2. A Universalidade da Lei da Abstinência 3. A Vigência da Lei Dietética 4. Explicação dos Pontos Polêmicos (a) “O imundo e o limpo dela comerão” – Deuteronômio 12.15 (b) “Comei de tudo que se vende no açougue” – I Coríntios 10.25 (c) “O Que Contamina o homem não é o que entra pela boca” – Mateus 15.11 (d) “Comei de tudo que vos puserem diante de Vós” – Lucas 10.8 (e) A Visão de Pedro em Atos 10 (f) “Um crê que de tudo se pode comer” – Romanos 14.2 (g) Toda criatura de Deus é boa – I Timóteo 4.4,5 (h) Ninguém vos julgue pelo comer – I Coríntios 2.16,17 5. Algumas Refutações Conclusão Apêndices e gravuras Referências bibliográficas 1 Bacharel em Teologia pela FATAP – Faculdade Teológica Adventista da Promessa (Curso Livre - 2016), Bacharel em Teologia pela FATEBE – Faculdade Teológica Batista de Belém (Convalidação - 2017) e Discente Acadêmico do Curso de Pós-Graduação em Teologia pela FATEBE (2018). celsobrasilgon@gmail.com
  • 3. 2 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves Introdução Este trabalho de pesquisa foi feito com o propósito de ajudar os servos de Deus que desejam conhecer mais profundamente acerca das leis bíblicas referentes à alimentação. Iremos embasar nossos argumentos em textos bíblicos e também em comentários bíblicos e citações diretas de autores de diversas denominações religiosas. Vamos estudar o assunto tendo em consideração que as leis dietéticas, bem como todas as leis instituídas por Deus, têm como objetivo a nossa saúde (física e espiritual), o nosso bem-estar e felicidade. A questão que muitas vezes divide a opinião dos religiosos sobre este tema é: A lei registrada em Levítico 11.1-45 e Deuteronômio 14.3-20 ainda está em vigor e deve ser obedecida pelos cristãos atuais? “Em algumas religiões não cristãs, como o judaísmo e o islamismo, o conceito não foi abolido e os seguidores destas religiões evitam se alimentar da carne de alguns animais, por os considerar impuros.”2 Por outro lado, quando se trata da dieta alimentar diversas pessoas adotam ideias diferentes sobre o que podemos ou não comer. Alguns desconhecem as leis que tratam do regime alimentar prescrito por Deus nas Escrituras. Muitos líderes religiosos ensinam que podemos comer de tudo. Por exemplo, Édino Melo ensina “sobre a proibição de certos alimentos no N.T.”, o seguinte: “O Novo Testamento mostra que TODOS os animais agora são puros e podem ser comidos pelo homem.3 ” Mas, o que a Bíblia ensina sobre as leis dietéticas? Muitos pensam que Deus jamais se preocuparia em ensinar o ser humano em questões alimentares. Por que o Senhor Deus gastaria tempo tratando de assuntos relacionados com a nossa dieta? Ora, porque Deus nos orienta e nos ensina o que é útil para a nossa vida diária (Salmo 143.10; Isaías 48.17). Como dissemos, anteriormente, Ele está interessado em nossa saúde física, nosso bem-estar e felicidade. Somos valiosíssimos para Ele (Isaías 13.12; 43.4; Zacarias 2.8). Além disso, podemos (ou não) glorificar a Deus através daquilo que “comemos e bebemos” diariamente (I Coríntios 10.31). Deus nos deu os melhores alimentos (Salmo 81.16; 147.14). Assim sendo, Todas as leis dietéticas estabelecidas por Deus servem para a nossa saúde (Salmo 84.11). Não podemos ter a falsa ideia de que os mandamentos e as leis referentes à alimentação que Deus nos deu são meramente normas proibitivas que cerceiam a nossa liberdade. Ao contrário, elas nos ensinam as normas divinas justas e verdadeiras para a nossa saúde e felicidade. Através de todas as leis divinas sabemos a distinção entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, entre o que é bom e o que é mau. Por intermédio das leis que emanam de Deus podemos fazer a diferença entre o que é santo e o que é profano. As leis de Deus nos preparam para um viver justo, fiel e santo diante de Deus. Quando obedecemos e aplicamos as leis de Deus em nosso viver cotidiano há uma mudança radical, experimentamos um novo modo de vida, uma nova forma de pensar e, nossas atitudes passam por uma transformação profunda. A felicidade é maior ainda quando cumprimos fielmente com as leis divinas. Sabemos que as Escrituras estabelecem normas e princípios para o nosso viver diário. Às vezes somos incentivados a fazer algo e, outras vezes somos proibidos de praticar determinada coisa. Vamos estudar alguns regulamentos divinos que se referem à alimentação. Chamamos, normalmente, este ensino de abstinência (ou 2 Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Animais_impuros 3 MELO, Édino, p. 38.
  • 4. 3 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves lei da abstinência). Biblicamente, refere-se às leis dietéticas ordenadas por Deus que nos ensinam que tipos de alimentos são próprios para o consumo. O termo “abstinência” deriva do latim “abstinentia” e significa: “Ação de abster, de se privar de alguma coisa, em particular de um alimento, por uma razão religiosa; privação: abstinência de carne4 ”. “O ensino bíblico sobre abstinência consiste na crença de que o Deus da Bíblia alistou para o seu povo “as carnes permitidas” e “as carnes proibidas” para o consumo humano. Os textos em que encontramos essa lista claramente delineada são: Lv 11 e Dt 14.5 ” Sabemos que o que ingerimos como alimento e o modo como nos alimentamos podem influenciar positiva ou negativamente em nossa comunhão com Deus. A Bíblia ensina que “[...] seja comendo, seja bebendo, seja fazendo qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus (I Coríntios 10.31 – Nova Tradução na Linguagem de Hoje). De acordo com este texto: “Deus pode ser ou não glorificado, quando estivermos comendo ou bebendo. Por isso, precisamos entender tanto o que podemos ou não comer quanto o quanto devemos comer. A Bíblia tem ensinos instrutivos nessa área.6 ” Deus, em sua infinita sabedoria, classificou os animais criados por Ele em duas categorias: Limpos e imundos (Levítico 11; Deuteronômio 14.1-20). Logo, a Bíblia não proíbe o uso de animais limpos para a alimentação. Porém, a dieta original dada por Deus ao homem não incluía alimentos cárneos porque não fazia parte do seu plano que fosse ceifada a vida dos animais e, além disso, uma dieta à base de vegetais é, sem dúvida, a melhor para a saúde. Foi somente depois do dilúvio que Deus permitiu o uso da carne de animais limpos para a alimentação do homem porque toda vegetação havia sido destruída. Assim sendo, Noé e sua família foram autorizados por Deus a usar os animais limpos em sua dieta alimentar. O único cuidado que deveriam ter era em relação ao sangue. De forma alguma deveriam comer o sangue dos animais (Gênesis 9.3-5). Reiteramos que Deus deu a Noé como alimento apenas os animais identificados como limpos. Por exemplo, Deus o instruiu a tomar consigo na arca, sete pares de animais limpos, porém, apenas um par dos animais imundos (Gênesis 7.2,3; 8.20). Foi pelo fato de que Noé e sua família iriam necessitar desses animais limpos, tanto para alimentação quanto para o sacrifício que Deus o orientou a tomar consigo sete pares de todos os animais limpos, porém, apenas um par dos animais imundos para conservar suas espécies. Logo, “o texto de Gênesis 7.2 registra nitidamente que este costume de diferenciar o limpo e o imundo é muito mais antigo que Moisés.7 O teólogo Francis D. Nichol comenta que: “[...] a distinção entre animais limpos e imundos, que se tornou definitiva em Levítico 11, precede a nação judaica. A distinção foi feita por Deus e respeitada por Noé ao supervisionar a entrada de animais na arca (Gn 7.2 cf. Gn 8.20).8 ” A quantidade de animais puros, que Deus fez vir até Noé para ser posta na arca, era maior do que a quantidade de animais impuros (Gn 7.2). Guarde isto: Essa é a primeira referência a 4 Dicionário Online de Português. Disponível em: < https://www.dicio.com.br/abstinencia/> Acesso em: 07 de abril de 2019 5 ROCHA, 2012, p. 156. 6 Idem, p. 156 7 LIVINGSTON, 2012, p. 280, vol. 1. 8 NICHOL, 2014, p. 251, vol. 6.
  • 5. 4 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves animais puros e impuros da Bíblia. E quem a faz é o próprio Deus, bem antes de o povo de Israel existir. Logo depois do dilúvio, por ordem de Deus, a alimentação do ser humano deixou de ser apenas de origem vegetal: Passou a ser também de origem animal. Mas nem todos os tipos de carnes seriam próprios para o consumo humano: só as carnes dos animais puros, que já eram utilizados em sacrifícios. Por isso, o seu número tinha que ser maior.9 Vemos, ao longo das Escrituras, o cuidado de Deus com a saúde do seu povo. E neste quesito, o tipo de alimento que Deus determina para os seus servos é fundamental para saúde física e espiritual. Observe o seguinte comentário: As pessoas que andam com Deus devem ser santas, porque Ele é santo. Esta exigência é responsável pela forte ênfase na diferença entre o limpo e o imundo, o puro e o abominável, o santo e o profano. Levítico é um manual sobre “o santo”. A santidade exigida não é meramente cerimonial. É também ética e social, como no capítulo 19, que em grande parte é recapitulação do Decálogo.10 1. A Origem da Lei da Abstinência “Porque eu sou o Senhor, que vos fiz subir da terra do Egito, para que eu seja vosso Deus, e para que sejais santos; porque eu sou santo.” (Levítico 11.45). A primeira menção que encontramos nas Escrituras sobre a diferença entre animais limpos e não limpos acha-se no livro de Gênesis 6.19; 7.2. Isso aconteceu muitos anos antes da existência de Israel como nação escolhida pelo Senhor. Foi mais ou menos mil anos antes do pacto firmado entre Deus e Israel no monte Sinai que Ele deu instruções a Noé dizendo: “De tudo o que vive, de toda carne, dois de cada espécie, macho e fêmea, farás entrar na arca, para os conservares vivos contigo. Das aves segundo as suas espécies, do gado segundo as suas espécies, de todo réptil da terra segundo as suas espécies, dois de cada espécie virão a ti, para os conservares em vida. Leva contigo de tudo o que se come, ajunta-o contigo; ser-te-á para alimento, a ti e a eles. Assim fez Noé, consoante a tudo o que Deus lhe ordenara” (Gênesis 6.19-22). O que nos ensina este episódio de Noé é que séculos antes da Aliança que Deus celebrou com Israel, já se tinha conhecimento de que havia uma diferença entre os animais limpos e os impuros. Deus falou ainda o seguinte para Noé: “Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque reconheço que tens sido justo diante de mim no meio desta geração. De todo animal limpo levarás contigo sete pares: o macho e sua fêmea; mas dos animais imundos, 9 Lições Bíblicas da IAP, p. 65, 4° trim. 2010 10 LIVINGSTON, 2012, p. 254, vol. 1.
  • 6. 5 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves um par: o macho e sua fêmea. Também das aves dos céus, sete pares: macho e fêmea; para se conservar a semente sobre a face da terra” (Gênesis 7.1,2). Observamos que Deus não explica para Noé porque chama alguns animais de “limpos” e outros de “imundos”. Talvez, Noé já conhecesse muito bem esta diferença. Assim sendo, Deus simplesmente ordenou para que procedesse levando em consideração a diferença entre as duas categorias de animais. Na verdade, Deus não teve que explicar para Noé o que significa “animal limpo” e “animal imundo”, pois, ele já sabia claramente do que Deus estava falando e, assim, o obedeceu sem qualquer questionamento. Nós, porém, se desejamos entender mais detalhadamente sobre a lei da abstinência teremos que estudar os textos de Levítico 11 e Deuteronômio 14. Ali, o Senhor nos fornece as listas dos animais que podem e os que não podem ser usados para alimentação. Os animais foram classificados na lei levítica como limpos e imundos, isto é, próprios e impróprios para o consumo humano. Os quadrúpedes que não ruminam e que não têm os cascos das patas divididos foram proibidos (ver Lev. 11:4-8; Deut. 14:7,8). Os peixes lisos, isto é, sem escamas, como as enguias, para exemplificar, também foram proibidos (ver Lev. 11:9-12). Toda ave de rapina, bem como aquelas que se alimentam de carniça, foram vedadas (ver Lev. 11:13- 19). Outro tanto se dava com serpentes, insetos e algumas variedades de gafanhotos, Todo sangue era absolutamente proibido para o consumo humano (ver Lev. 3:17; 7:26. Deu. 12:16,23).11 A lei referente à classificação e distinção dos animais já existia, conforme já vimos, séculos antes da saída de Israel do Egito. Assim, aqueles que ensinam que a lei da abstinência foi dada exclusivamente para os israelitas estão equivocados. Como Deus poderia estabelecer uma lei para um povo que ainda não existia? O estudioso John Walton reconhece que “a distinção entre animais limpos e impuros não foi uma inovação estabelecida no monte Sinai; essa distinção remonta aos dias de Noé.”12 A Bíblia sempre ensinou a diferença entre os animais, tanto os “limpos” como os “imundos”. A lei que faz esta distinção nunca perdeu a sua validade, a sua importância e aplicação no meio do povo de Deus, pois continua valendo em nossos dias. Muitos afirmam que a lei da abstinência só vigorou, naquilo que eles chamam de “antiga aliança” e, que agora na “nova aliança” não tem validade, pois Cristo ab-rogou tal ordenança. Porém, em Mateus 5.17-19 vemos que Jesus não veio “anular a Lei”. Logo, este raciocínio não está correto porque olvida a natureza perene dos princípios espirituais que embasam as instruções de Deus para a humanidade. Há outra coisa. O que os religiosos confundem é o seguinte: Deus estabeleceu leis eternas e leis transitórias. Conforme veremos mais adiante, as leis morais não foram abolidas por Cristo na Cruz. Elas estão em vigor em nossos dias porque tratam de questões éticas e visam à santidade do povo de Deus. As determinações de Deus para o seu povo são fundamentadas nos princípios espirituais que sempre existiram. Assim como Deus é eterno (Deuteronômio 33.27: Salmo 90.2), assim também são os mandamentos estabelecidos por Ele, pois refletem o Seu caráter e Sua natureza (Salmo 119.142,144; Malaquias 3.6; Hebreus 11 CHAMPLIN, 2001, p. 3766, vol. 6. 12 WALTON, John H. 2003, p. 37
  • 7. 6 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves 13.8). A lei de Deus está fundada em seu caráter, que é imutável, e não depende de acontecimentos, eventos ou atitudes que ocorram na vida humana. Do Gênesis ao Apocalipse, a Palavra de Deus é um livro da lei e acerca da lei. Como assim? Bem, isso não quer dizer que temos nas suas páginas somente “leis” e “normas” a cumprir. A palavra “lei” em hebraico é “torah” e significa: “direção” e “instrução”. Sabemos que tais conceitos vão muito além de um simples código legal. Paulo nos informa que “a lei é espiritual” (Romanos 7.14). A Palavra de Deus é um livro que trata de relações interpessoais, especialmente a maneira como as pessoas se relacionavam com Deus no passado e, também como devemos nos relacionar hoje com Ele. Logo, a lei de Deus nos instrui, orienta e revela os princípios para que possamos cultivar com Ele um relacionamento tão íntimo que nos conduza à vida eterna (João 17.2,3). Quando temos uma relação pessoal íntima com Deus, o que mais nos alegra é guardar os seus mandamentos (I João 5.2). Além disso: “[...] este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados” (I João 5.3). Os mandamentos e as leis de Deus foram dados a nós visando o nosso bem-estar físico e espiritual. A lei da abstinência não é uma exceção. 2. A Universalidade da Lei da Abstinência Muitos religiosos afirmam que a proibição de usar, como alimento, carne de animais imundos, só se aplicava aos israelitas, porque está escrito: “FALA AOS FILHOS DE ISRAEL, dizendo: Estes são os animais que comereis de todos os animais que há sobre a terra [...]” (Levítico 11.2). Porém, tal argumento é insustentável à luz das Escrituras pelos seguintes motivos: (a) Israel tinha um governo teocrático (governo de Deus) todas as suas leis emanavam de Deus como o supremo legislador do seu povo (Números 36.13; Levítico 27.34). A lei da abstinência, por exemplo, não era uma lei criada por Moisés. Este apenas recebia as leis de Deus as transmitia ao povo. Porém, tanto judeus quanto estrangeiros deviam obedecer às leis impostas por Deus: “Uma mesma lei e uma mesma ordenança haverá para vós (israelitas) e para o estrangeiro que peregrinar convosco” (Números 15.16). Portanto, as leis de Deus são universais, porque todos os homens, em todos os tempos e lugares devem temer a Deus e guardar os seus mandamentos (Eclesiastes 12.13). Já mostramos que a lei que faz a distinção entre animais limpos e imundos já era conhecida desde os mais remotos tempos (Gênesis 6.19-21; 7.1-3; 8.19,20). Ao longo das Escrituras notamos que esta lei ainda vigora. Tanto o primeiro livro (Gênesis 8.20) como o último da Bíblia (Apocalipse 18.2) referem-se a AVE LIMPA E AVE IMUNDA provando que as leis que as classifica ainda está em vigência (Levítico 11.13; Deuteronômio 14.11). Temos algumas informações importantes sobre a lei da abstinência. Vejamos: As nações da antiguidade faziam distinção entre alimentações limpas e impuras. Alguns animais eram tidos como próprios para a comida e para os sacrifícios, ao passo que outros não. A distinção baseava-se, em parte, no saber-se que a carne de certos animais era prejudicial à saúde, e em parte também nos hábitos de alimentação, e ainda em um inexplicável aborrecimento a certos animais. A legislação mosaica respeitou o sentimento dos povos daquela época incorporando no seu código a distinção entre o limpo e o imundo, destinado à alimentação do povo [...]. Os modernos povos do Egito consideram tais peixes, prejudiciais à
  • 8. 7 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves saúde. Alguns destes peixes sem escamas e sem barbatanas tinham a conformação de cobras, e faziam lembrar a tentação do Éden e suas consequências [...] A carne dos animais limpos também estava sujeita a tornar-se imunda. A lei proibia comer as carnes sacrificadas aos ídolos dos animais estrangulados, ou mortos pelas bestas-feras, ou que por si morressem.13 Outra fonte de informação (católica) nos dá conta de que: As leis da alimentação existiam em Israel, como na maior parte dos povos antigos e primitivos; baseavam-se na distinção entre puro e impuro. Comer coisas impuras torna a pessoa impura, e é, por isso, severamente proibido [...] Não se pode comer a carne de animais impuros (Lev 11; Dt 14,3-9). [...] A lei mosaica ameaça com os mais duros castigos aquele que consumir sangue (Lev 17.10.14) e prescreve um rito de purificação para todo aquele que comer animais impuros ou que neles tocar (Lev 11.24-28.39s). No tempo dos Macabeus, alguns judeus preferiram morrer a transgredir as 1eis da alimentação (2 Mac 6,14-31; 7). No tempo do NT as interpretações e a observância das leis da alimentação eram muito severas (At 10,14).14 Convém frisar que Deus estabeleceu para o seu povo leis cerimoniais (transitórias) e leis morais (eternas). Compete a cada estudante da Palavra de Deus atentar, através do estudo bíblico, para as leis que foram abolidas e as que continuam em vigor. Sabemos que a Lei da abstinência não é uma lei cerimonial porque trata da santidade do povo de Deus (Levítico 11.44-47). Observemos o seguinte comentário extraído de um autor batista: Essa legislação, prescrita por Deus por intermédio de Moisés, no Monte Sinai, algo das LEIS CERIMONIAIS E LEIS MORAIS, estas imutáveis e eternas e aquelas de efeito passageiro e vigorando somente durante a era da lei do Velho Testamento [...] A lei continha dois elementos: o eterno e o efêmero. Um elemento é eterno, portanto, trata da moral, que não se muda. Encontramo-lo nos Dez mandamentos, frequentemente denominados o Decálogo e em estatutos com este relacionado. O elemento efêmero compõe-se de leis, tanto civis como cerimoniais. Evidentemente as leis civis se mudariam ou se revogariam segundo as mudanças na vida da nação e nas suas relações com os povos vizinhos. E as leis cerimoniais, cuja finalidade era ensinar por meio dos sacrifícios e culto ritualísticos o desígnio redentor de Deus, haviam de terminar com o advento do Messias.15 Muitos cristãos pensam que os adventistas inventaram a distinção entre leis morais e cerimoniais. Porém, sabemos que isso não é verdade. Todas as referências acima citadas são de autores que pertencem às denominações que não seguem às leis da abstinência (Católicos e Batistas). Em relação ao texto de Levítico 11.44,45, John Fullerton MacArthur, Jr. (Pastor e professor na Igreja evangélica "Grace Community Church", na cidade de Sun Valley, na Califórnia). afirma o seguinte: 13 DAVIS, 1985, pp. 36,37. 14 BORN, A. Van Den. 1977, p. 45. 15 Conciso Dicionário Bíblico, 1996, pp. 114,150.
  • 9. 8 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves Em tudo isso, Deus está ensinando o seu povo a viver de maneira autêntica. Ou seja, Ele está usando essas distinções entre puro e imundo, a fim de separar Israel de outros povos idólatras que não tinham tais restrições, e está ilustrando por meio dessas prescrições, que seu povo deve aprender a viver da maneira prescrita por Deus. Por meio de leis dietéticas e rituais, Deus está ensinando a realidade de viver como ele determina em todos os aspectos. Os israelitas são ensinados a obedecer a Deus em todas as áreas da vida aparentemente mundanas, a fim de aprender quão crucial a obediência é. Sacrifícios, rituais, dieta e até mesmo vestimenta e cozinha são cuidadosamente ordenados por Deus para ensinar que Israel deve viver diferentemente de todos os outros. Isso devia ser uma ilustração externa de separarem-se do pecado em seus corações. Pelo fato do Senhor ser o seu Deus, eles devem ser radicalmente distintos. No v. 44, pela primeira vez é feita a afirmação: ‘Eu sou o SENHOR, vosso Deus’, como sendo a razão porque ele requeria separação e santidade. Depois desse versículo, a frase é mencionada c. 50 vezes mais no livro, ao lado da igualmente importante constatação: ‘Eu sou santo’ [...] A única motivação dada para todas essas leis é aprender a ser santo porque Deus é santo. O tema da santidade é central em Levítico (10.3; 19.2; 20.7; 21.6-8)16 É importante percebermos que em nenhum momento do seu comentário, o autor acima citado afirma que a lei dietética de Levítico 11 é de origem mosaica. Pelo contrário, ele afirma algumas vezes que tal regulamentação foi dada por Deus ao seu povo. As pessoas que andam com Deus devem ser santas, porque Ele é santo. Esta exigência é responsável pela forte ênfase na diferença entre o limpo e o imundo, o puro e o abominável, o santo e o profano. Levítico é um manual sobre “o santo”. A santidade exigida não é meramente cerimonial. É também ética e social, como no capítulo 19, que em grande parte é recapitulação do Decálogo. O tema do livro é a justiça moral e interior.17 (b) Vejamos a seguinte incoerência daqueles que combatem a lei dietética dada por Deus. As pessoas que afirmam que a lei da abstinência foi somente para Israel continuam obedecendo a ordens dadas diretamente ao povo israelita. Por exemplo: Os dízimos e as ofertas (Levítico 27.30; Números 18.21); Os Dez Mandamentos (Êxodo 20.1,2); não consultar necromantes e adivinhos (Levítico 19.31; Deuteronômio 18.10,11); Não comer carne de animal sufocado ou dilacerado por feras (Levítico 22.8), etc. Ora, todas essas leis foram dadas ao povo israelitas. Se não devemos obedecer a lei dietética porque foi dada aos israelitas, então por que continuam obedecendo tais regulamentações? Vemos aí a contradição daqueles que se recusam em reconhecer os preceitos bíblicos. Sabemos que é tão ofensivo hoje, aos olhos de Deus, comer animais imundos, por parte de um judeu ou estrangeiro, como o era outrora. Quando Deus criou o homem no princípio, prescreveu uma dieta sem carne de animais. O regime alimentar do primeiro casal Adão e Eva era à base de frutos, cereais, nozes e legumes. Observem: “E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento” (Gênesis 1.29 – Versão 16 MACARTHUR, John. 2010, p. 160. 17 LIVINGSTON, George Herbert. 2012, p. 254, vol. 1.
  • 10. 9 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves Almeida Revista e Atualizada – ARA18 ). Mais tarde Deus ordenou ao homem: “[...] tu comerás a erva do campo” (Gênesis 3.18). Vemos que, o homem tinha no começo uma dieta vegetariana. “A dieta dos primeiros seres humanos era vegetariana. Ainda hoje, nenhum tipo de fruta ou vegetal é apontada como inaceitável, o que não acontece com as carnes.19 ” O naturalista, de posse de um dente de um cão, tem logo a noção clara de se tratar de um animal carniceiro. Ao contrário, examinando o dente de um carneiro, ou de um boi, também não pode enganar-se: vê logo que se trata de animais herbívoros [...] Por aí se está vendo que pelo estudo de um dente humano pode saber-se qual a sua alimentação [...] O Criador não deu presas ao homem, como as deu ao leão, ao tigre, a onça, de maneira que o homem [...] não é capaz de pegar um porco ou uma vaca com os dentes e matar o animal a mordidas, a exemplo de uma fera.20 Conforme já comentamos, foi somente depois do Dilúvio que Deus permitiu ao homem alimentar-se da carne de animais: “Abençoou Deus a Noé e a seus filhos e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra. Pavor e medo de vós virão sobre todos os animais da terra e sobre todas as aves dos céus; tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar nas vossas mãos serão entregues. Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora. Carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis (Gênesis 9.1-4). A lei que fazia a distinção entre os animais limpos e imundos (Levítico 11; Deuteronômio 14) não era somente uma regra judaica. Conforme já mostramos, esta lei existe antes de Abraão. Vejamos a prova: “Disse o Senhor a Noé: Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque reconheço que tens sido justo diante de mim no meio desta geração. De todo animal limpo levarás contigo sete pares: o macho e sua fêmea; mas dos animais imundos, um par: o macho e sua fêmea” (Gênesis 7.1,2). Mais tarde quando Noé saiu da arca “Levantou Noé um altar ao Senhor e, tomando de animais limpos e de aves limpas, ofereceu holocaustos sobre o altar” (Gênesis 8.20). Quando o povo israelita chegou à Terra Prometida (Canaã) Deus permitiu o uso de carne, mas com algumas restrições. Por exemplo: O uso da carne de porco era proibido, bem como de outros animais considerados imundos por Deus (Levítico 11.7,8,46,47). Os israelitas foram proibidos também de ingerir o sangue de animais mortos, a gordura animal e animais dilacerados por feras ou aqueles animais que morreram naturalmente, do qual o sangue não havia sido extraído (Levítico 3.17; 17.12; 22.8). Observamos que em “Lv 11.1-23,29 e Dt 14.3-21 registram a lei referente a animais permitidos ou proibidos como alimento. Em adição ao boi, à ovelha e ao bode, era permitido comer sete outros tipos de carne (Dt 14.5), bem como todos os animais de cascos bipartidos que ruminam. Os animais que não estivessem de conformidade com essas duas exigências estavam vedados e não podiam ser ingeridos, pois eram reputados ‘imundos’, juntamente com mais de uma vintena de diferentes espécies de aves.21 18 Os textos bíblicos usados são da Versão Almeida Revista e Atualizada, exceto quando há outra indicação. 19 ROCHA, Allan Pereira. 2012, p. 156. 20 BALBACH, 2000, pp. 11,12. 21 DOUGLAS, J.D. 1990, p. 59.
  • 11. 10 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves Tanto em Levítico 11 quanto em Deuteronômio 14 explica-se que o motivo pelo qual Deus instruiu o seu povo acerca dos animais limpos e imundos está relacionado com a santidade. Vemos que em Deuteronômio 14 o Senhor falando para o seu povo se abster de “coisas abomináveis” (verso 3) “porque sois povo santo ao Senhor, vosso Deus (versos 2 e 21). Sabemos que ser santo é ser separado e dedicado a Deus. É claro que “ser santo envolve muito mais do que não comer carnes de animais imundos. Em Deuteronômio 28 Deus lista as maldições que viriam sobre os israelitas se eles desobedecessem às leis de Deus. Entretanto, Deus falou que se eles obedecessem às suas leis, eles seriam um povo santo (verso 9). Deus sempre almejou que seu povo fosse santo. Como disse Paulo: “Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor 5nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Efésios 1.4 cf. I Pedro 1.14-16; Levítico 11.44,45). Paulo retoma esse mesmo ensino referente a santidade quando se dirige aos irmãos em Corinto: “Por isso, retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas impuras; e eu vos receberei, serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso. Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.” (II Coríntios 6.17-20; 7.1). Não devemos, em hipótese alguma, nos envergonhar em obedecer às leis de Deus. Somos diferentes do mundo que nos rodeia. É por isso que a Bíblia fala do povo de Deus da seguinte maneira: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pedro 2.9). Como povo de Deus fomos chamados para a santidade! De Gênesis ao Apocalipse não encontramos um só caso que mostre algum servo de Deus se alimentando de animais imundos. Para a esposa de Manoá, o anjo disse: “não comas coisa imunda” (Juízes 13.4,7); igualmente o seu filho Sansão devia abster-se de “coisa imunda” (Juízes 13.14); Jó faz a seguinte pergunta: “Quem do imundo tirará o puro?”. Ele mesmo responde: “NINGUÉM” (Jó 14.4); o profeta Isaías, inspirado por Deus, ordena: “não toqueis coisa imunda” (Isaías 52.11); Ezequiel afirma: “nunca comi animal morto de si mesmo nem dilacerado por feras, nem carne abominável entrou na minha boca”. (Ezequiel 4.14). “Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se” (Daniel 1.8); Pedro afirma: “nunca comi coisa alguma comum e imunda” (Atos 10.14; 11.18); Paulo, se referindo à Palavra do próprio Deus, recomenda aos irmãos em Corinto, diz: “Não toqueis nada imundo” (II Coríntios 6.17). Ora. Se em algum momento a lei dietética tivesse deixado de vigorar, com certeza encontraríamos pelo menos um exemplo de algum servo de Deus usado alimento imundo como alimentação. Mas, tal não acontece. As Escrituras ensinam que a carne dos animais imundos é “abominação” (Levítico 11.10- 13,20,23,41,42) e “abominável” (Deuteronômio 14.3). E, é por esse motivo que Deus nos ordena para não usarmos tais animais como alimentos. A palavra hebraica para “abominação” é: ‫ץ‬ֶׁ‫ק‬ ֶׁ‫ש‬ [SHEQETS] e indica: “uma coisa impura, uma abominação, algo detestável.22 ”. São palavras duras, mas devemos aceitá-las humildemente como sendo, de fato, a Palavra de Deus para nós. Quando evitamos animais impuros como alimento, demonstramos nosso cuidado com a separação daquilo que contamina e corrompe (Levítico 20.24-26; Deuteronômio 14.2). Sabemos que o nosso corpo é o santuário de Deus, onde o próprio Espírito Santo habita. 22 STRONG, James. 2002.
  • 12. 11 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves Deus quer que tenhamos uma vida saudável. Ele sabe os animais que não são bons para nossa saúde. Recentemente em um estudo científico viram que o porco [o porco é imundo e não podemos comê-lo] tem um vírus perigosíssimo e se engolido poderá causar muito dores e até morte. A lagosta, o Caranguejo, o Siri e o camarão [os quatro são imundos] que são delicias para algumas pessoas, estudos tem constatado que eles têm um altíssimo nível de colesterol.23 Não existe qualquer evidência, nem no Antigo e nem no Novo Testamento que indique que a lei dietética tenha sido abolida ou que a mesma era cerimonial e transitória ou que não deve ser observada hoje pelos cristãos. Como a lei da abstinência antecede a entrega das leis ao povo de Israel e remonta ao tempo de Noé, podemos afirmar que são baseadas em princípios de saúde e tem a característica de eterna obrigação para o homem. O que acontece é que aqueles que defendem a anulação desta lei baseiam-se em textos mal- interpretados da Bíblia. Tivemos a oportunidade de ler um artigo interessante postado na internet que tem como título: “Leis Dietéticas das Escrituras—O Que Dizem Pesquisadores Sérios a Respeito24 ”. Vejamos alguns pontos importantes do referido artigo:25 “1ª Pergunta, dirigida ao Dr. Gerhard Hasel: Como se pode provar que as leis dietéticas dadas a Israel tinham aplicação a todos, não só aos israelitas? RESPOSTA: Em Levítico 17-18 há vários regulamentos que se aplicam tanto a israelitas quanto a não-israelitas. A sentença “Qualquer homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros [gerîm] que entre vós peregrinam” (Lev. 17:8, 10, 12, 13) acentua isso. Essas leis pertencem aos israelitas e aos “estrangeiros” ou “peregrinos”[32] e, portanto, não podem restringir-se aos israelitas. Em outras palavras, certas leis têm aplicação universal; ultrapassam o limitado enfoque da lei cerimonial, ritual, *palavra proibida*ltica. Essas leis são universais em natureza. Lev. 17:8, 10, 12, 13: “Dir-lhes-ás pois: Qualquer homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros que entre vós peregrinam, que oferecer holocausto ou sacrifício. Também, qualquer homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros que peregrinam entre eles, que comer algum sangue, contra aquela alma porei o meu rosto, e a extirparei do seu povo. Portanto tenho dito aos filhos de Israel: Nenhum de vós comerá sangue; nem o estrangeiro que peregrina entre vós comerá sangue. Também, qualquer homem dos filhos de Israel, ou dos estrangeiros que peregrinam entre eles, que apanhar caça de fera ou de ave que se pode comer, derramará o sangue dela e o cobrirá com pó”. 23 Disponível em:< https://osmisteriosdedeus.com/category/animais-limpos-e-imundos/> Acesso em: 10 maio 2019 24 Disponível em: <http://www.c-224.com/39-Leis-Dieteticas-1.html> Acesso em: 14 maio 2019. 25 Neste artigo temos a opinião do Dr. Gerhard F. Hasel, Ph. D., já falecido, que chegou a dirigir o Seminário Teológico da Universidade Andrews, de Berrien Springs, Mich e uma dissertação da aluna universitária Vanessa Silva, da Universidade York, de Toronto, ON, Canadá. Talvez o mais importante para alguns seja a rica bibliografia nas notas de rodapé propiciadas por ambos os investigadores onde as fontes em que firmam suas pesquisas são reveladas. A metodologia de referenciamento difere entre ambos os autores. O artigo tem o formato de entrevista com perguntas e respostas e sofreu algumas adaptações no seu conteúdo por questões didáticas.
  • 13. 12 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves As leis de sacrifícios de Levítico 1-7 não mencionam especificamente “estrangeiro” ou “peregrino”. Não se aplicam universalmente a todos os não-israelitas, a menos que os últimos sejam membros plenos da comunidade do concerto.[33] Mas a lei universal conhecida desde Gênesis 9:4, antes da existência de uma entidade conhecida como Israel, que proíbe o comer sangue, prossegue com aplicação universal ao israelita e ao “estrangeiro” em Levítico 17:10-12. A lei de caça em Levítico 17:13 é assim vista como pertencendo à lei universal também, tão em desígnio quanto em aplicação, porque tanto se refere ao israelita quanto ao “estrangeiro” (ger). Gênesis 9:4: “A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis”. Nessa lei, é feita distinção com respeito a aves limpas que “podereis comer” (Deu. 14:11) e aves abomináveis que “não se comerão” (Lev. 11:13). A razão, embora não diretamente estipulada, mas subentendida, é que são “limpas”. Por implicação, há outros animais e aves de caça que não podem ser comidos porque são imundos. A distinção entre limpos e imundos é aqui aplicada a animais de caça e serve tanto a israelitas quanto a “estrangeiros”. Uma vez que tanto israelitas quanto não-israelitas são abrangidos, parece-nos haver indicação de que a distinção de animais que podem ser comidos e os que não podem sê-lo é universalmente válido e não podem ser restritos somente ao israelita ou judeu. Deuteronômio 14.11: “De todas as aves limpas podereis comer”. Levítico 11.13: “Dentre as aves, a estas abominareis; não se comerão, serão abomináveis: a águia, o quebrantosso, o xofrango”. As leis não-cerimoniais e universais de Lev. 18 aplicam-se novamente tanto ao israelita quanto ao “estrangeiro” (ger). Essas leis incluem casamentos probidos (Lev. 18:6-17), pecados contra a castidade (Lev. 18:18-21), homossexualismo (Lev. 18:22), e bestialidade (Lev. 18:23). Essas leis universais têm feito com que nações pagãs fossem expulsas (Lev 18:24) de modo que “a terra vomita os seus habitantes”(vs. 25). O vs. 26 sintetiza: “Nem o natural, nem o estrangeiro que peregrina entre vós” praticará essas “abominações” (tô’ebôth). Levítico 18:6-17,22-25. É particularmente digno de nota que os animais imundos fazem parte das “abominações” (tô’ebôth). O termo “abominável” (tô’ebôth) é empregado na declaração introdutória de Deuteronômio 14:3-21. A palavra “abominação” tem várias conotações, mas significa essencialmente algo que, por sua natureza, é definido em oposição ao que é aceitável e/ou permissível por Deus.
  • 14. 13 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves Deuteronômio 14.3-21. Neste ponto há uma consideração linguística adicional de que a lei de animais puros e imundos é uma lei não-cerimonial universal. As “nações” pagãs de Canaã envolviam-se em “abominações” (tô’ebôth) que eram proibidas nas leis universais e sofreram as consequências de tais atividades em juízo divino por atacado (Lev. 18.24-30). Exatamente nessa linha, comer animais imundos é algo “abominável”, envolvendo outra lei universal que é válida para toda a humanidade (ver também Isa. 66:16-18) Isaías 66.16-18. Confirmando a universalidade da lei dietética, temos o seguinte comentário: Os princípios dietéticos de Levítico 11, em conjunto com outros regulamentos sanitários, foram dados pelo sábio Criador, a fim de promover a saúde e a longevidade (Êxodo 15.26; 23.25; Deuteronômio 7.15; Salmo 105.37). Como se baseiam na natureza e nas exigências do corpo humano, esses princípios não poderiam de modo algum ser afetados pela cruz ou pelo desaparecimento de Israel como nação escolhida. Os princípios que contribuíram para promover saúde há 3,5 mil anos produzirão os mesmos resultados hoje. O cristão sincero considera o seu corpo o templo do Espírito Santo (I Coríntios 3.16,17; 6.19,20). Valorizar esse fato o levará, entre outras coisas, a comer e a beber para a glória de Deus, ou seja, regulamentar sua dieta de acordo com a revelada vontade de Deus (I Coríntios 9.27; 10.31). Assim, para ser coerente, o crente deve aceitar e obedecer aos princípios ordenados em Levítico 11.26 3. A Vigência da Lei Dietética As normas divinas referentes à alimentação estabelecidas em Levítico 11 continuam em vigor em nossos dias. Não foram abolidas com a morte de Jesus na Cruz, mas se aplicam a todos os servos de Deus em todos os tempos e lugares. Deus falou claramente para o seu povo: “São estes os animais que comereis [...] Destes, porém, não comereis” (Levítico 11.2,4). Tal determinação protege a saúde dos fiéis que se abstêm de alimentos nocivos que podem arruinar o corpo físico e minar a santidade e comunhão com Deus (Levítico 20.25,26). Em Levítico 11 e Deuteronômio 14 encontramos as listas dos animais limpos e os imundos. A primeira foi dada à geração de israelitas que havia sido resgatada da escravidão no Egito. Em Deuteronômio, Deus repetiu e reafirmou suas instruções para a próxima geração, que estava a ponto de herdar a Terra Prometida. Em ambas as passagens se explica a razão pela qual foram dadas estas instruções. Em Levítico 11 Deus diz que para se poder ser “santos” é necessário evitar o que é imundo. Em Deuteronômio 14 lemos que Israel não devia comer “coisa alguma abominável” (versículo 3), “porque sois povo santo ao Senhor, vosso Deus” (versículos 2, 21). Ser santo significa ser apartado ou separado por, e para, Deus. Se examinarmos cuidadosamente estes capítulos veremos que o motivo específico pelo qual Deus nos proíbe consumir a carne de animais imundos é o da santidade. Deus quer que sejamos santos. Sendo que lhe pertencemos, e ademais nos comprou com o sangue 26 NICHOL, Francis D. 2011, p. 819, volume 1.
  • 15. 14 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves de Jesus Cristo, Deus não quer que nos profanemos com nenhum tipo de contaminação, seja física ou espiritual (1 Coríntios 6:15-20). Para Deus, o facto de não consumir animais imundos é um dos sinais de santidade que identificam a todos aqueles que ele apartou para ter uma relação especial com ele. Deus sempre desejou que seu povo fosse santo. Como expressou o apóstolo Paulo: “como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade [amor]” (Efésios 1:4). Por sua vez, o apóstolo Pedro exortou aos cristãos com estas palavras: “como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pedro 1.14-16 cf. Levítico 11.44-45). Certamente, ao dizer isto, Pedro tinha em mente todos os aspectos da conduta cristã, não só o deixar de comer carne imunda. Paulo também lembrou aos Coríntios as instruções que Deus havia dado a respeito: “Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso. Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus” (II Coríntios 6.17; 7.1). De acordo com a Bíblia, o que foi abolido com a morte de Cristo é considerado como sombra que apontava para Ele (Hebreus 10.1). Porém, as leis dietéticas não são sombras de coisas vindouras. Não têm nada a ver com os fatores circunstâncias de tempo, lugar ou povo, assim são mandamentos válidos para todos os povos porque são atemporais. Em nossos dias, muitos cristãos tornam-se infiéis pela falta de mordomia na alimentação. Desconsideram totalmente às recomendações bíblicas sobre o cuidado com o corpo físico e com a dieta prescrita por Deus em sua Palavra. Como bem disse certo escritor: “Alguns abusam comendo demais e sofrem as devidas consequências, enquanto outros não têm o que comer e sofrem os resultados negros da fome. Deveria haver muito mais mordomia no comer do que normalmente tem havido. Muitos hoje vivem em função da comida e prejudicam a saúde por esta razão. Jesus disse: ‘Nem só de pão viverá o homem...’ É claro que precisa de pão, mas não vive só em função de pão ou comida a ponto de ficar condicionado ao alimento com prejuízo da vida como um todo.27 ” Faz parte da mordomia cristã do corpo zelar pela boa saúde. Primeiro porque tudo o que Deus criou foi para o nosso bem-estar e saúde (Gênesis 2.8,9). Segundo porque devemos prestar serviço a Deus: Louvor, adoração, testemunho... E para tanto, precisamos ter saúde física, caso contrário, como uma pessoa doente terá prazer para louvar a Deus? Cuide da saúde do seu corpo. Cuide da sua alimentação. O seu corpo, segundo a Bíblia, pertence a Deus e só deve ser usado de acordo com a vontade de Deus, que é boa, agradável e perfeita. Isso não significa que uma pessoa portadora de uma enfermidade ou deficiência física não possa servir a Deus. Claro que pode, e muitos cristãos têm servido a Deus eficientemente, mesmo chorando e gemendo. Paulo é um bom exemplo, como lemos em Gálatas 4.13,14. Portanto, zele pelo seu corpo. Cristãos onívoros que não têm controle no comer e no beber, geralmente, sofrem as consequências da sua intemperança com diversas doenças nutricionais: Pressão alta, diabetes, obesidade, problemas cardíacos, etc. Contudo, a Palavra de Deus mostra que a saúde física deve ser valorizada pelos servos de Deus. O apóstolo 27 CÂNDIDO, Daniel de Oliveira. 1982, p. 32.
  • 16. 15 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves João ao escrever para o presbítero Gaio disse: “Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma” (III João verso 2). No passado, Deus prometeu para o seu povo: “[...] Tirarei a doença do meio de vocês” (Êxodo 23.25b - NVI). Porém, esta promessa era condicional. O Senhor disse também: “Se ouvires atentamente a voz do Senhor teu Deus, e fizeres o que é reto diante de seus olhos, e inclinares os ouvidos aos seus mandamentos, e guardares todos os seus estatutos, sobre ti não enviarei nenhuma das enfermidades que enviei sobre os egípcios; porque eu sou o Senhor que te sara” (Êxodo 15.26). De fato, é o Senhor “quem perdoa todas as nossas iniquidades e sara todas as nossas enfermidades” (Salmo 103.3). Mas, para que isto seja uma realidade constante em nossas vidas, a obediência é fundamental. O nosso corpo é “o templo do Espírito Santo” (I Coríntios 6.19), logo, não deve de forma alguma ser contaminado com a ingestão de alimentos impuros e nem tampouco poluído com drogas, bebidas alcoólicas ou substâncias intoxicantes: “Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” (I Coríntios 6.20 - ARC). Sabemos que, para aqueles que ignoram ou menosprezam as ordens divinas e destroem seu corpo com comidas e bebidas proibidas por Deus sofrerão as devidas consequências através da condenação: “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque sagrado é o santuário de Deus, que sois vós” (I Coríntios 3.17). No livro do profeta Isaías, temos uma palavra divina dirigida para aqueles que insistem em comer “carne de porco e rato”. Vejamos: “Que habita entre as sepulturas, e passa as noites junto aos lugares secretos; come carne de porco e tem caldo de coisas abomináveis nos seus vasos [...] Os que se santificam, e se purificam, nos jardins uns após outros; os que comem carne de porco, e a abominação, e o rato, juntamente serão consumidos, diz o Senhor” (Isaías 65.4; 66.17). Ora, se aquilo que o ser humano come é de somenos importância, então, porque Deus irá destruir, conforme Isaías, a todos aqueles que se alimentam de “carne de porco, rato e coisas abomináveis”? Quão diferente foi a atitude de Daniel quando estava cativo em Babilônia. O relato bíblico nos informa que ele: “[...] tomou a resolução de não se contaminar com os alimentos do rei e com seu vinho. Pediu ao chefe dos eunucos para deles se abster” (Daniel 1.828 ). A Versão Almeida Revisada Imprensa Bíblica29 diz que: “Daniel, porém, propôs no seu coração [...]”. Daniel e seus amigos resolveram arriscar-se a enfrentar a ira do rei (que lhes seria fatal), a fim de permanecerem fiéis. Eles se revoltaram contra o alimento não-kosher que lhes era servido. Os alimentos consumidos pelos pagãos continham coisas consideradas cerimonialmente imundas para os judeus [...] Daniel fez um propósito ‘em seu coração’ (Segundo a King James Version e nossa versão portuguesa). Ele tinha profundas convicções sobre essas questões.30 Daniel era fiel a Deus e abstinente. Conhecia a lei dietética de Levítico 11. Jamais se deixaria seduzir pelos manjares abomináveis do rei babilônico. O verbo hebraico que indica a firme resolução de Daniel em não se contaminar com o manjar do rei é: ‫ם‬ ֶׁ‫ָּש‬‫י‬ַ‫ו‬ [wayyāśem] e significa, dentre outras coisas: “Pôr, colocar, depositar, estabelecer, determinar, fixar31 ”. Daniel não apenas pediu para se abster do alimento impuro da mesa real babilônica, mas solicitou: “[...] ao despenseiro [...] Experimenta, peço-te, os teus servos dez dias; e que se 28 Versão Católica. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/vc/dn/1> Acesso em: 10 maio 2019 29 Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/aa/dn/1> Acesso em: 10 maio 2019. 30 CHAMPLIN, Russell Norman. 2001, p. 3374, vol. 5. 31 STRONG, James. 2002.
  • 17. 16 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves nos deem legumes a comer e água a beber” (Daniel 1.11,12). Qual foi o resultado dessa dieta seguida por Daniel e seus amigos? “E, ao fim dos dez dias, apareceram os seus semblantes melhores, e eles estavam mais gordos do que todos os jovens que comiam das iguarias reais. Pelo que o despenseiro lhes tirou as iguarias e o vinho que deviam beber, e lhes dava legumes [...] Então o rei conversou com eles; e entre todos eles não foram achados outros tais como Daniel, Hananias, Misael e Azarias; por isso ficaram assistindo diante do rei. E em toda matéria de sabedoria e discernimento, a respeito da qual lhes perguntou o rei, este os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos e encantadores que havia em todo o seu reino” (Daniel 1.15,16,19,20). Daniel sabia que fazia parte de um povo diferente, um povo santo. Ele conhecia a Palavra de Deus que diz: “Porque és povo santo ao Senhor teu Deus, e o Senhor te escolheu para lhe seres o seu próprio povo, acima de todos os povos que há sobre a face da terra. Nenhuma coisa abominável comereis.” (Deuteronômio 14.2,3). Reiteramos: O Novo Testamento não aboliu a distinção entre animais limpos e imundos. Alguns religiosos pensam que, pelo fato de as leis dietéticas serem mencionadas em Levítico eram meramente leis cerimoniais ou ritualísticas, que não mais estariam em vigor sob a era cristã. Sabemos, porém, que as leis alimentícias têm princípios de saúde, assim sendo essas leis dietéticas trazem consigo um caráter de permanente obrigação. Os mesmíssimos animais que outrora foram classificados como impróprios para a alimentação e, consequentemente prejudiciais para a saúde continuam tendo essas mesmas características, e, portanto, devem ser evitados. Sabemos que todas as leis morais de Deus existiam muito antes de Moisés e do povo de Israel. Por exemplo, Deus disse o seguinte acerca de Abraão: “Porque Abraão obedeceu à minha palavra e guardou os meus mandados, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis” (Gênesis 26.5). Podemos dizer que Deus, quando fez aliança com Israel, não outorgou ou enunciou a Sua lei pela primeira vez. Ele a declarou a um povo que estava saindo de um cativeiro que durara cerca de quatro séculos, assim, eram pessoas que tinham sido escravas por várias gerações (Êxodo 12.41). Como elas poderiam, em tais circunstâncias, recordarem da lei de Deus ou mesmo obedecer a tais preceitos? Deus teve o cuidado de organizar e codificar as suas leis para o seu povo escolhido. Mesmo antes da saída do povo de Deus do Egito, Deus já havia começado a orientá-los sobre suas festas cerimoniais (Êxodo 5.1; 12.1-51). Logo no começo de sua jornada no deserto lhes ensinou sobre a relevância do descanso semanal sabático (Êxodo 16.23), Deus corroborou este mandamento acerca do santo sábado ao enviar- lhes porção dobrada do maná no sexto dia e suprimindo o seu fornecimento no sétimo dia (Êxodo 16.25-29). Quando alguns do povo de Deus desobedeceram às ordens divinas sobre o descanso no santo sábado e saíram na busca do maná, Deus os reprovou com as seguintes palavras: “Até quando recusareis guardar os meus mandamentos e as minhas leis?” (Êxodo 16.28). Este fato ocorreu antes da chegada dos israelitas no monte Sinai (Êxodo 19.1,2). Pois, foi ali naquele monte onde Deus promulgou e codificou os seus mandamentos e as suas leis. Tais normas contribuiriam, decisivamente, para a felicidade, saúde, proteção e prosperidade do povo de Deus (Êxodo 23.25-33). Já vimos que em Levítico 11 e Deuteronômio 14 a lei que estabelece a distinção entre os animais limpos e imundos. Em Levítico 11 foi Deus se dirige àquela geração de povo de Israel que havia saído da escravidão do Egito. Já em Deuteronômio 14 Deus reitera e repete esta lei para a geração futura que tomaria posse da Canaã. Em ambos os textos Deus esclarece porque deu tais instruções dietéticas para os israelitas: “[...] portanto, vós sereis santos, porque eu sou santo.” (Levítico 11.45). Para tanto, o povo de Deus não deve comer “coisa alguma abominável” - animal imundo (Deuteronômio 14.3). “Porque sois povo santo ao Senhor, vosso Deus, e o Senhor vos escolheu de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe serdes seu povo próprio [...] porquanto sois
  • 18. 17 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves povo santo ao Senhor, vosso Deus” (Deuteronômio 14.2,21). A palavra hebraica para “santo” é ‫דֹוש‬ָּ‫ק‬ (QÅDOSH) e significa: “sagrado, santo, o Santo, separado.32 ” para uso exclusivo de Deus. Quando examinamos com cuidado os capítulos acima mencionados notamos que a razão pela qual Deus veda o consumo da carne de animais imundos é a santidade do seu povo. Deus quer que sejamos santos. Somos propriedades de Deus porque Ele nos comprou com Seu próprio sangue. Logo, não devemos contaminar nem física ou espiritualmente a nossa vida (I Coríntios 6.15-20). Quando nos abstemos de animais imundos ou de quaisquer coisas que contaminem a nossa vida e nos dedicamos a Deus estamos, de fato, santificando para uma relação íntima com Deus. No Antigo Testamento a vigência da lei da abstinência é clara, pois, diversos textos comprovam a existência de animais considerados como imundos, que contaminam o homem (Levítico 5.2; 10.10,11; Juízes 13.4; Isaías 52.11). Em Ezequiel 22.26 temos um texto esclarecedor: “Os seus sacerdotes violentam a minha lei, e profanam as minhas coisas santas; não fazem diferença entre o santo e o profano, nem ensinam a discernir entre o impuro e o puro; e de meus sábados escondem os seus olhos, e assim sou profanado no meio deles.” Vamos comparar o texto de Ezequiel com outros textos: O POVO DE DEUS DEMAIS POVOS “E a meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano, e o farão discernir entre o impuro e o puro” (Ezequiel 44.23 cf. Levítico 10.10; 11.46,47; 20.25,26) “Os seus sacerdotes violentam a minha lei, e profanam as minhas coisas santas; não fazem diferença entre o santo e o profano, nem ensinam a discernir entre o impuro e o puro; e de meus sábados escondem os seus olhos, e assim sou profanado no meio deles.” (Ezequiel 22.26). Deus sabe o que podemos ou não comer. Como criador de todas as coisas, conhece o melhor tipo de alimentos que produz efeito nutritivo sem causar males ao organismo. Isto é prova de que Deus tem cuidado de nossa saúde, e quer o nosso bem. Diz a Bíblia, que nosso corpo é templo do Espírito Santo (I Cor 6.19). Se nosso corpo é assim considerado por Deus, tem de ser separado para tal. Nada que se contamine e o adoeça deve estar nele. Por isso Deus delimitou as espécies de carnes que servem de alimento ao homem.33 O padrão de Deus para o seu povo de hoje é o mesmo. Ele exige culto (Rm 12.1) e vida (1 Pd 1.5) santos, assim como exigiu do seu povo de outra época. A doutrina bíblica da abstinência, também associada à santidade, continua válida para nós, que vivemos neste século, e para todos que viverão nos séculos seguintes.34 ” 32 STRONG, James. 2002, p. 987. 33 Revista: O Restaurador, set/out. 1988. Igreja Adventista da Promessa: São Paulo. 34 Lições Bíblicas da IAP, p. 66, 4° trim. 2010, n° 293.
  • 19. 18 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves 4. Explicação dos Pontos Polêmicos As leis dietéticas que constam no Pentateuco foram abolidas no Novo Testamento com a morte de Jesus? Alguns textos do Novo Testamento confirmam que a distinção entre animais limpos e imundos deixou de existir? O que diz a Escritura sobre isso? A santificação do povo de Deus é, atualmente, é tão importante como no passado. E a santificação tem relação com a dieta alimentar dos servos de Deus (Levítico 11.44-47; 19.2; 20.7; 21.8). As Escrituras neotestamentárias continuam frisando a necessidade do povo de Deus ser santo (Efésios 1.4: I Pedro 1.14-16). Antes de analisarmos os textos polêmicos, vamos estudar um pouco sobre a importância do contexto na interpretação de qualquer verso bíblico. Normalmente, os textos usados por aqueles que advogam a anulação da lei dietética dada por Deus ao seu povo são tirados do seu contexto. É muito perigoso arrancar um texto do seu contexto e atribuir-lhe um significado diferente do original. Há quem diga que “um texto tirado do seu contexto é um pretexto para heresia”. Quando alguém isola um texto bíblico, sem levar em conta tudo o que a Bíblia diz poderá chegar a errônea de que a Bíblia é apenas um amontoado de pensamentos desconexos, em vez da revelação inspirada de Deus. Em II Timóteo 3.16,17 Paulo nos ensina como podemos proceder em nosso estudo bíblico. Ele afirma que “TODA a Escritura é a inspirada Palavra de Deus.” “No momento que voltamos a nossa atenção para este ou aquele versículo isolado e nos esquecemos daquilo que vem antes ou vai depois dele, no mesmo texto, corremos o risco de interpretar o texto de forma errada.35 ” Em Gênesis 9.3 encontramos um exemplo de como podemos interpretar corretamente um texto bíblico. Lá está escrito: “Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora”. Alguns que seguem um método erróneo para interpretar as Escrituras afirmam que esta passagem anula a distinção entre os animais limpos e os imundos. Porém, a palavra “tudo” é a chave para a compreensão do texto. Não podemos deduzir que “tudo” se refira a todos os tipos de seres vivos. Esse “tudo” não é absoluto, mas sim relativo. A expressão: “Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento [...]” refere-se somente aos animais liberados para alimentação. Pois, ninguém “come de tudo”. Por exemplo: Quem se alimenta de sapo, urubu, cobra, minhoca? O texto também fala de vegetais que devem ser usados na dieta alimentar: “como vos dei a erva verde”. Entretanto, ninguém se alimenta de todas as plantas. Mesmo porque há vegetais que são venenosos e ouros que têm espinhos e não servem para alimentação. Quando estudamos o texto em tela dentro de um contexto mais amplo, vemos que aquilo que se afirma aqui, é que há tanto animais como vegetais que foram criados para a alimentação do homem. Em outros textos bíblicos Deus nos ensina que nem todos os animais são adequados para a alimentação do ser humano, o mesmo se aplica aos vegetais. Conforme já falamos, há determinados vegetais e animais que são venenosos e podem causar a morte de quem os ingerir. Porém, Deus deixou à disposição do homem todos os recursos para sua alimentação. E é exatamente disso que Gênesis 9.3 está tratando. Aqueles que interpretam as Escrituras isolando o texto do seu contexto ensinam que a passagem que estamos considerando anula a lei da abstinência que estabelece a diferença entre animais limpos (adequados 35 GUSSO, 2004, p. 25
  • 20. 19 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves para a alimentação) e animais imundos (inadequados para a alimentação). Porém, percebemos que a incoerência deste método interpretativo consiste em deduzir do texto aquilo que ele não está ensinando. Sem dúvida, Deus deseja que o Espírito Santo nos ajude a compreender e a aplicar corretamente a Sua Palavra (João 14.26). Não podemos esquecer de que a Bíblia interpreta a própria Bíblia! Nada de isolar textos dos seus contextos, porque isso leva ao erro doutrinário. Falando sobre a importância do contexto para a interpretação bíblica temos o seguinte comentário: Um dos reconhecidos problemas hermenêuticos são os chamados textos de "prova". São textos isolados do contexto e usados por determinados intérpretes para aquilatar certas asseverações teológicas dogmáticas ou culturais. Texto de prova, segundo a hermenêutica contextual, é secundário para a validação de uma interpretação simplesmente porque erra ao desconsiderar o contexto.36 Não resta dúvida de que o contexto é fundamental para o entendimento correto de um texto bíblico. Quando essa regra fundamental da hermenêutica é aplicada evita que o estudante da Escritura deduza de um verso aquilo que ele não está ensinando. Há algumas questões que devem ser imediatamente respondidas na análise de qualquer texto bíblico, por exemplo: O que o autor sagrado estava ensinando na época que escreveu? Para quem ele escreveu? Quando ele escreveu? Seu texto é descritivo ou prescritivo? Literal ou simbólico? Etc. O contextos próximo (contexto imediato) e distante (contexto remoto) nos auxiliam nas respostas das perguntas acima elencadas. Ignorar o contexto origina interpretações falsas, além de ser uma “eisegese”. Sabemos que há grande diferença entre: “Exegese” e “Eisegese”. O termo exegese é derivado de uma palavra grega que significa "conduzir para fora" e eisegese de um vocábulo que significa "conduzir para dentro". Assim, a exegese é o processo de ir ao texto a fim de determinar O seu sentido, e, "trazer para fora" a interpretação correta. Por outro lado, a eisegese ocorre quando a pessoa aborda o texto com pré-conceitos e altera a mensagem da Bíblia, extraindo dela um sentido que se deseja de antemão [...] Resumindo: a exegese ocorre se a aplicação provém genuinamente do texto e a eisegese se a aplicação é artificialmente imposta sobre o texto.37 No quarto trimestre de 2005 (out/dez), a IAP lançou uma série de lições bíblicas para a EBS abordando dois temas: O sábado e a Abstinência. Na apresentação da referida lição lemos o seguinte: A explicação de textos bíblicos respeita as regras hermenêuticas de interpretação, ou seja, cada texto é explicado dentro do seu contexto, sendo que os versículos são explicados à luz de toda a Bíblia e não o contrário.38 ” De fato, como já dissemos o contexto é que vai determinar o sentido do texto. A lição bíblica prossegue mencionando os seguintes contextos: “(1) Contexto Próximo; (2) Contexto Mais Amplo; (3) Contexto Histórico e (4) Contexto Temático.39 36 BENTHO, Esdras Costa. p. 56. 37 MARTINS, Francisco. Exegese X Eisegese. 38 FILHO, José Lima de Farias (Diretor do DECR da IAP). Lições Bíblicas, p. 6, out/dez, 2005, n° 273. 39 Ibidem
  • 21. 20 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves Ressaltamos que pretendemos estudar os textos bíblicos difíceis de entender à luz do seu contexto conforme preceitua o método hermenêutico histórico gramatical porque: [...] nossa teologia encontra seu fundamento sólido apenas no sentido gramatical da Escritura. O conhecimento teológico será falho na proporção do seu desvio do significado claro da Bíblia. Embora esse princípio seja perfeitamente óbvio, é repetidamente violado por aqueles que colocam suas ideias preconcebidas para sustentar a interpretação da Bíblia. Pela exegese forçada, eles tentam ajustar o sentido da Escritura às suas opiniões ou teorias preferidas.40 Vamos às explicações dos textos polêmicos sobre a lei da abstinência: (a) “O Imundo e o Limpo Dela Comerão” – Deuteronômio 12.15. O texto de Deuteronômio 12.15 afirma: “Porém, consoante todo desejo da tua alma, poderás matar e comer carne nas tuas cidades, segundo a bênção do SENHOR, teu Deus; o imundo e o limpo dela comerão, assim como se come da carne do corço e do veado”. O que o texto está ensinando? Que podemos comer de tudo? A explicação deste verso, erroneamente usado para defender a ideia de que o cristão é livre para comer tanto alimento imundo quanto limpo, se encontra na comparação com outras versões bíblicas modernas. Vejamos: “Porém, quando vocês quiserem comer carne, poderão comer os seus animais em qualquer lugar onde vocês estiverem morando. Vocês poderão comer tantos animais quantos o Senhor, nosso Deus, lhes der. Todos vocês, quer estejam puros ou impuros, poderão comê-los, como comeriam carne de gazela ou de veado” (Deuteronômio 12.15 – NTLH41 ). Observamos que o texto não está falando da ingestão de alimentos “limpos e imundos”. Mas, sim de pessoas. Os adjetivos: “puros” ou “impuros” são aplicados às pessoas que iriam comer a carne dos animais. Mas, que animais? O próprio texto responde: “da gazela ou de veado” (que, evidentemente, são animais limpos porque têm unhas fendidas e remoem – Levítico 11.3; Deuteronômio 14.4,5). Logo, o texto em lide está ensinando que: “Ambos, puros e impuros, podem comer de todos os animais puros em qualquer parte da terra.42 ” AFINAL, POSSO OU NÃO COMER TUDO? Certo pastor pregava à sua igreja: ― Podemos comer tudo o que nosso coração desejar, pois Deus assim autorizou. Depois abriu a Bíblia para confirmar, e leu: Deuteronômio 12:15: ―Porém, conforme a todo o desejo da tua alma, degolarás e comerás carne segundo a bênção do Senhor teu Deus, que te dá dentro de todas as tuas portas; o imundo e o limpo dela comerá, como de corço e do veado [...] podemos assegurar que a declaração do pastor é um equívoco sincero. Uma afirmação não aprofundada no que diz o Senhor. Ele entende que, pelo fato do verso mencionar LIMPO e IMUNDO, tudo agora é lícito comer. Ele não compreendeu bem o texto bíblico e está induzindo a igreja ao caminho errado, lamentavelmente.43 40 BERKHOF, 2004, Louis, pp. 58,59. 41 NTLH – Nova Tradução na Linguagem de Hoje 42 DAKE, Finis Jennings. 2014, p. 301. 43 GONZALES, Lourenço. 1993, p. 41.
  • 22. 21 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves Dentre os diversos métodos que levam o intérprete a praticar a “eisegese” de um texto qualquer, deturpando o seu sentido original, destacamos os seguintes: (1) Quando não elucida um texto à luz do outro. Foi esse o erro do pastor acima citado. Se ele tivesse “conferido um texto com outro” (Eclesiastes 7.27), não teria “ido além do que está escrito” (I Coríntios 4.6). (2) Quando força o texto a dizer o que não diz: O intérprete está cônscio de que a interpretação por ele asseverada não está condizente com o texto, ou entáo, está inconsciente quanto ao objetivo do autor ou propósito da obra. Entretanto, voluntária ou involuntariamente manipula o texto a fim de que sua loquacidade possa ser aceita como princípio escriturístico. Vejamos o que nos informa o contexto imediato do texto em questão. Observemos o que diz Deuteronômio 15.22: “Todas as pessoas, tanto as que estão puras como as que estão impuras, poderão comer carne desses animais, como comeriam carne de gazela ou de veado” (NTLH). Com base neste texto podemos afirmar que a Escritura não está liberando quem quer que seja para comer de tudo. O contexto da passagem bíblica não menciona nenhum animal imundo, mas apenas aqueles que são próprios para consumo: “[...] matarás das tuas vacas e tuas ovelhas, que o SENHOR te houver dado, como te ordenei; e comerás dentro da tua cidade, segundo todo o teu desejo. Porém, como se come da carne do corço e do veado, assim comerás destas carnes; destas comerá tanto o homem imundo como o limpo” (ARA). Sabemos que, de acordo com a Bíblia, “vaca, ovelha, corço e veado” são animais limpos e, portanto, próprios para a alimentação. A última parte do texto acima transcrito afirma: “assim comerás destas carnes; destas [carnes] comerá tanto o homem imundo como o limpo”. O verso está se referindo ao estado do homem que iria se alimentar dos referidos animais, não tendo nada a ver com o tipo de alimento. O texto de Deuteronômio 12.22 diz claramente: “Porém, como se come da carne do corço e do veado, assim comerás destas carnes; destas comerá tanto o homem imundo como o limpo”. Segundo a Bíblia, qualquer homem que, por exemplo, tocasse em algum cadáver de homem ou animal, ficaria imundo (Levítico 11.24-28,31,39,40); o leproso era considerado “imundo” (Levítico 13.3); o homem ímpio é considerado imundo (Salmo 14.3). Logo, a expressão: “imundo e limpo” aplicam-se às pessoas, que eventualmente poderiam participar daquele alimento. Conforme podemos ver os textos de II Crônicas 23.19 e Ageu 2.13 mencionam pessoas imundas. O que aprendemos do texto de Deuteronômio 12.15? Que os animais limpos podem ser usados na alimentação tanto de homens limpos quanto de homens imundos. (b) “Comei de tudo que se vende no açougue” – I Coríntios 10.25 Uma regra de interpretação bíblica orienta que: É necessário consultar as passagens paralelas, ‘explicando cousas espirituais pelas espirituais’ (1 Cor. 2:13). Com passagens paralelas entendemos aqui as que fazem referência uma à outra, que tenham entre si alguma relação, ou tratem de um modo ou outro de um mesmo assunto.44 Vamos lançar mão desta norma para a compreensão daquilo que Paulo está tratando no texto em questão. Outra regra hermenêutica afirma que: 44 LUND, 1968, p. 41.
  • 23. 22 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves As Escrituras interpretam as Escrituras. Com frequência, aquilo que é obscuro numa parte da Bíblia fica claro em outra parte. A ferramenta da hermenêutica a ser usada aqui é a de passagens paralelas. Quando o contexto imediato não ajuda os intérpretes a descobrirem o significado da passagem, eles podem utilizar dois tipos de passagens paralelas encontradas em outras partes das Escrituras.45 Primeiramente, para uma compreensão correta do texto de I Coríntios 10.25 precisamos entender do que o apóstolo Paulo está tratando neste capítulo 10 de sua carta aos coríntios. O que ele queria dizer quando disse: “comei de tudo que se vende no açougue?” Será que com estas palavras ele liberou o cristão para comer de tudo? Será que ele mesmo comia de tudo? Será que ele está advogando a anulação da lei dietética ou será que ele está tratando de outro assunto que não tem nada a ver com as leis dietéticas? É importante ressaltar que não existe nenhum texto nas cartas paulinas ensinando que o cristão pode comer animais imundos. Paulo jamais poderia ensinar tal heresia, pois, se assim procedesse, estaria contrariando a Palavra de Deus. Paulo era judeu, extremamente zeloso e observador da lei de Deus (Atos 22.3; Filipenses 3.5,6), portanto, seria muita infantilidade concluir, precipitadamente, que ele autorizou o uso de alimentos proibidos por Deus. Muitos irmãos entendem mal as palavras ditas por Paulo. Por quê? Porque aqui temos um problema de comunicação. “Um orador ou escritor pode ser mal interpretado se os ouvintes ou leitores não souberem exatamente o que ele quis dizer com determinada palavra ou frase. Às vezes, numa conversa, uma pessoa diz para a outra: ‘Ah, eu pensei que você estava querendo dizer isso.’46 ” O que Paulo comunicou para os irmãos de Corinto (seus ouvintes primários) é interpretado erradamente por seus ouvintes finais (atuais). Qual deve ser então o nosso objetivo no estudo bíblico? “Nossa meta no estudo bíblico é descobrir com a maior exatidão possível o que Deus quis dizer com cada uma das palavras e frases que colocou nas Escrituras.47 ” Para que isto aconteça, sempre devemos levar em consideração o contexto bíblico da passagem que está sendo estudada. Uma coisa é certa: Não podemos entender I Coríntios 10.25 isoladamente. Quando analisamos o contexto imediato da passagem notamos que Paulo começa um argumento em relação à abstinência das “carnes sacrificadas aos ídolos” (I Coríntios 10.14,19-21,28,31). Logo, usar de modo isolado, apenas o verso de I Coríntios 10.25, fora do seu contexto e tentar extrair dele algo que Paulo nunca ensinou é algo perigoso, pois, conduz ao erro doutrinário. O teólogo Leon Morris nos fornece a seguinte explicação: [...] a maior parte do alimento vendido nos armazéns, primeiro tinha sido oferecida em sacrifício. Parte da vítima era sempre oferecida sobre o altar ao deus, parte ia para os sacerdotes, e geralmente uma parte ia para os cultuadores. Os sacerdotes costumeiramente vendiam o que não podiam utilizar. Muitas vezes era muito difícil saber com certeza se a comida de determinado armazém fizera parte de um sacrifício ou não. Note-se que há duas questões distintas: o tomar parte em festividades idolátricas, e o comer comida comprada nos armazéns, mas previamente parte de um sacrifício.48 45 KAISER, Walter C. 2002, p. 193. 46 ZUCK, Roy B. 1994, p. 114. 47 Idem, p. 115. 48 MORRIS, Leon. 1986, p. 99
  • 24. 23 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves Como saber se determinada carne havia sido oferecida em sacrifício a um ídolo pagão? Este era o problema enfrentado pelos irmãos da cidade de Corinto. Paulo procurou, com a ajuda de Deus, orientar a membresia daquela congregação. Desde I Coríntios 8 até o capítulo 11 ele trata deste assunto. A ingestão das carnes oferecidas aos ídolos era um assunto que transcendia uma simples questão de dieta. Envolvia um aspecto básico dos costumes da religião pagã e das práticas sociais daquela época. Quando um homem oferecia o sacrifício de um animal a um ídolo, uma parte desse animal era colocada no altar para ser consumida pelo fogo, outra parte era oferecida ao sacerdote oficiante, e o remanescente era reservado para o ofertante do sacrifício. A parte que cabia a ele podia ser comida em uma festa no templo em honra ao ídolo, ou na sua casa em um evento festivo particular, ou ainda podia ser colocada à venda no mercado público. Como o sacerdote recebia mais do que podia consumir pessoalmente, ele também podia dispor dessa carne extra no mesmo mercado. As questões relacionadas à permissão ou não de os cristãos comerem carne, provavelmente se originou de dois pontos. Um deles seria o direito de comer essa carne em sua própria casa ou na casa de um amigo. Outro problema maior seria a participação de cristãos em banquetes realizados nos templos pagãos ou em outros festivais em honra ao ídolo. A ingestão de refeições que incluíam carne oferecida aos ídolos era, como diz Moffatt, “parte integrante da etiqueta formal da sociedade”. Como muitos destes convertidos de Corinto haviam adorado ídolos pagãos antes da sua conversão a Cristo, eles ainda teriam amigos e parentes entre os não convertidos. Em certas ocasiões, os cristãos eram convidados a comemorar eventos festivos junto aos seus antigos amigos ou parentes que ainda eram idólatras. Um escritor sugere: “como o sacrifício era geralmente realizado em conexão com alguma circunstância feliz, parentes e amigos eram convidados para a festa e podia facilmente haver entre eles alguns cristãos”. Dessa forma, o problema passou a envolver os relacionamentos sociais. “Não participar de tais reuniões significava afastar-se da maior parte dos relacionamentos com os amigos pessoais”. Esta carne oferecida aos ídolos podia ser vendida no mercado público “como carne comum de açougue, sem qualquer informação de que havia sido parte de um sacrifício”.4 Paulo afirma que todo cristão esclarecido sabe que nenhuma contaminação espiritual pode ocorrer se uma pessoa ingerir carne nessas circunstâncias.49 Já que o assunto tratado pelo apóstolo Paulo em I Coríntios 10 está relacionado com “carnes sacrificadas aos ídolos”, não é conveniente interpretar esta passagem para defender outro assunto que não faz parte da intenção do autor sagrado. Usar o referido capítulo para tentar negar a vigência da lei dietética é desconsiderar completamente o contexto da passagem bíblica. A maioria dos estudiosos concorda que desde o capítulo 8 até o capítulo 10 de I Coríntios, a orientação de Paulo aos irmãos de Corinto é sobre “animais sacrificados aos ídolos”. Os versos 10.25-30 tratam especificamente da questão dos alimentos consumidos longe das festas dos templos pagãos, que podem ter sido oferecidos a ídolos. Sobre isto, Paulo diz: “Comei de tudo quanto se vende no açougue [ou mercado], sem perguntar nada, por causa da consciência” (v.25) [...]. Os versos 10.31—11.1 concluem o longo tratamento de Paulo sobre a comida oferecida aos ídolos. Amplia os princípios que esboçou para aplicá-los a seu 49 GREATHOUSE, William M.; METZ, Donald S. e CARVER, Frank G. 2006, p. 307
  • 25. 24 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves raciocínio de que o que quer que fizessem deveria ser para a glória de Deus, dizendo: “fazei tudo para a glória de Deus”. Tudo o que o cristão fizer, qualquer decisão tomada, deve ser “para a glória de Deus” (v.31; cf. 6.20; Cl 3.17), não por presunção, autossatisfação ou afirmação de seus “direitos”.50 Precisamos, para uma compreensão correta do texto, levar em consideração a passagem paralela (I Coríntios 8). Vejamos o que dizem os seguintes comentários baseados em I Coríntios 8: No capítulo 8, Paulo volta-se para um novo problema: as carnes sacrificadas aos ídolos. Possivelmente, a igreja em Corinto o havia consultado a respeito desse problema. Esse problema recebe um tratamento extensivo, terminando em 11:1 [...] Paulo discute, em 8:1- 13 e 10:14-33, o fato de os coríntios comerem a carne que havia sido sacrificada aos ídolos [...] Quando um cristão comprava carne no mercado, não sabia se havia sido sacrificada a algum deus pagão. E, também, muitas vezes as pessoas davam, em suas casas, banquetes feitos com a carne que sobrara dos sacrifícios que haviam feito.51 Hernandes Dias Lopes explica que: Os crentes convertidos em Corinto eram egressos da idolatria. Eles eram adoradores de ídolos. Então, surgia uma dúvida na mente deles: Podemos comer carne que os pagãos oferecem aos ídolos? É pecado fazer isso? A pergunta deles era: Comer carne sacrificada aos ídolos é a mesma coisa que adorar a um ídolo?52 Hernandes Dias Lopes53 também destaca que havia três lugares onde se encontrava carne sacrificada aos ídolos em Corinto: (1) O próprio templo dos ídolos (8.10); (2) A casa dos amigos idólatras (10.27,28). Algumas pessoas traziam a carne para casa depois do sacrifício e convidavam seus amigos para comer. (3) Nos mercados públicos (10.25). Paulo aconselha: “Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada perguntardes por motivo de consciência” (10.25). Tanto os sacerdotes quanto os adoradores costumavam vender a carne que sobrava dos sacrifícios para os açougueiros. O princípio de Paulo é que o amor deve reger a nossa liberdade cristã: “E, por isso, se comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá- lo” (8.13). E preciso abrir mão de um direito seu, porque a vida do seu irmão é mais importante que o seu direito. Isso é ética cristã! O amor deve nos reger [...] O crente pode comer carne sacrificada ao ídolo no templo do ídolo? Paulo diz que não. Comer carne sacrificada ao ídolo não é o problema. Você não tem a obrigação de fazer uma investigação da procedência de tudo 50 ARRINGTON, French L. e STRONSTAD, Roger. 2006, pp. 998,999 51 ALLEN, Clifton J. 1994, pp. 391,393, vol. 10. 52 LOPES, Hernandes Dias. 2008, p. 148. 53 Idem, pp. 150, 151.
  • 26. 25 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves àquilo que compra no supermercado. E uma tolice o crente ficar perturbado com isso. Isso é consciência fraca [...]. Comer carne é amoral, mas comer carne consagrada ao ídolo, no templo do ídolo, se torna imoral [...] Lembra-se de Daniel na Babilônia? Ele não era vegetariano, mas resolveu firmemente no seu coração não se contaminar com as iguarias da mesa do rei (Dn 1.8). Por que ele não quis comer as iguarias da mesa do rei? Porque essas iguarias eram oferecidas aos ídolos. Então, esta deve ser a postura do cristão: se eu sei, eu não como.54 No texto que estamos analisando, Paulo orienta: “Comei de tudo que se vende no açougue” (I Coríntios 10.25). Que informação temos acerca do “açougue” daqueles dias? A palavra grega traduzida como mercado (makellon) é uma forma helenizada da palavra latina macelium. Visto que Corinto já se tomara colônia romana quando Paulo esteve lá, muitas das inscrições eram feitas na língua latina. Os arqueologistas encontraram a palavra macelium em uma pedra, que, provavelmente, se referia à espécie de mercado que Paulo menciona. Macella (mercados), em Pompéia, eram lojas abertas em três lados, onde se vendia came, peixe, frutas e pão. Provavelmente, o mercado em Corinto era do mesmo tipo de mercado aberto — quase uma feira livre. Ao lado dele, bem provavelmente havia um templo consagrado a um dos deuses pagãos.55 Seguindo o mesmo raciocínio acima exposto, Russell N. Champlin comenta o seguinte: Encontrou-se uma pedra em Corinto na qual há uma antiga inscrição latina, “macellum”, e que provavelmente veio do local do “mercado” a que Paulo se refere aqui. Não sabemos em que localização exata ficava tal mercado, porém, supondo que esses mercados muito se assemelhavam uns aos outros, nas diversas localidades do mundo greco-romano daquela época, temos uma boa idéia sobre o que Paulo se refere aqui. Nossa idéia mais clara sobre essa questão se deriva das descobertas arqueológicas de Pompéia, na Itália. Ali o “mercado” era uma área fechada, com lojas em dois andares, em pelo menos três dos lados do edifício. Nesses lugares, isto é, nas lojas, é que eram vendidos os itens geralmente vendidos nos mercados, como carnes, peixes, frutas, legumes e pão. Em Pompéia havia um pequeno templo, dentro do recinto desse mercado, dedicado ao culto do imperador. É possível que as carnes a que Paulo se refere aqui fossem vendidas nessas lojas, não sem antes terem sido usadas nos ritos religiosos dó lugar. E não há motivo algum para supormos que os templos da cidade, após terem oferecido os seus respectivos sacrifícios, também não fossem dedicados ao comércio comum, enviando as carnes e os couros dos animais abatidos para o mercado; e assim a maior parte das carnes vendidas naquela época fossem carnes oferecidas a ídolos, visto que os sacrifícios de animais, nos países do mundo greco-romano, eram tão numerosos como em Israel.56 54 Idem, pp. 153, 160, 161,162. 55 ALLEN, Clifton J. 1994, p. 409. 56 CHAMPLIN, Russell Norman. 1995, p. 161, vol. 4
  • 27. 26 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves Paulo ainda adverte: “Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada perguntardes.” Ora, se toda carne fosse sempre oferecida aos ídolos antes de ir para o mercado, ninguém precisava ter dúvidas; mas como não o era, o cristão não tinha necessidade de perguntar coisa alguma. Visto que grande parte da carne vendida no mercado era o que sobrara dos sacrifícios aos deuses, seria bem difícil aos cristãos ficarem sabendo se a carne havia sido sacrificada aos ídolos e achar carne que não o tivesse sido. Os cristãos tinham liberdade para comprar carne no makellon, de acordo com Paulo, e não se preocuparem se ela havia sido sacrificada a um ídolo.57 O apóstolo Paulo encerra a sua argumentação estabelecendo o seguinte princípio: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.” (I Coríntios 10.31). A pessoa que se alimenta de animais imundos está glorificando a Deus através daquilo que come? [...] nós temos a responsabilidade de glorificar a Deus em todas as coisas [...] Os crentes de Corinto estavam pensando assim: Por que eu não poderia desfrutar gostosamente a comida que eu dou graças? Ora, eu estou comendo comida sacrificada ao ídolo, mas eu dei graças. E tudo o que é santificado pode ser recebido. Por que minha liberdade seria limitada pela consciência do irmão mais fraco? A resposta de Paulo é que não podemos glorificar a Deus sendo um tropeço para os nossos irmãos.58 Paulo estabeleceu em suas epístolas alguns princípios que devem reger a vida cristã. Devemos glorificar a Deus em tudo em nossa vida (Colossenses 3.17). Até mesmo através daquilo que “comemos e bebemos” (I Coríntios 10.31). Em toda refeição, em qualquer ato, devemos conduzir-nos de tal modo que possamos louvar e honrar sempre a Deus. Nossa satisfação pessoal por meio dessa dádiva divina que é o alimento e que constitui a essência de uma refeição cristã, deve estar sempre subordinada à nossa consideração para com os escrúpulos religiosos de outros; devemos evitar fazer qualquer coisa que os escandalize e enfraqueça sua fé. Embora nosso conhecimento de Deus possa dar-nos uma liberdade mais ampla em relação à conduta pessoal, podemos colocar um limite a ela por consideração a outros, em nome do amor cristão.59 O escritor Clifton J. Allen nos informa o seguinte: Calvino diz que não existe nenhuma parte de nossa vida ou conduta que não deva ser para a glória de Deus, e que devemos nos preocupar em comer e beber para promovê-la. E ele cita um provérbio antigo: ‘Precisamos não viver para comer, mas comer para viver.’ O homem glorifica a Deus quando é sensível para com o seu próximo. Como pode ele glorificar a Deus se prejudicar a consciência cristã de um crente mais fraco? O zelo pela glória de Deus 57 ALLEN, Clifton J. 1994, p. 410. 58 LOPES, Hernandes Dias. 2008, p. 197 59 MEYER, F. B. 2002, p. 178
  • 28. 27 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves é o primeiro princípio pelo qual devemos governar nossas ações, tanto em referência a nós mesmos quanto em referência aos outros (cf. 6:20).60 Podemos dizer que, usar o texto de I Coríntios 10.25, isoladamente, para combater a lei da abstinência é um exemplo de como muitos irmãos interpretam um verso bíblico fora do seu contexto. Porém, para nós é fundamental saber quais são as lições que aprendemos com o apóstolo Paulo no referido texto? O crente pode ir ao mercado, comprar a carne e comê-la? Paulo responde: Sim, não e talvez! Comer de tudo que vende no mercado? Sim. No templo do ídolo? Não. Na casa do amigo? Sim ou não. Depende da informação que você tiver. Se for à casa do amigo, não pergunte a procedência da carne (10.27). Se souber que é sacrificada aos ídolos, não coma (10.28).61 No texto que analisamos, podemos concluir, com as seguintes palavras: De uma coisa não duvidemos: Paulo não deixa implícito neste texto (I Coríntios 10.25), que a distinção entre carnes limpas e imundas tenha sido abolida. Tal assunto não está sob consideração [...]. Consequentemente, o assunto sob análise é especificamente o comer carnes que possam ter sido sacrificadas aos ídolos [...]. o Concílio de Jerusalém (Atos 15), determinou que os cristãos se abstivessem das carnes sacrificadas aos ídolos (Atos 15:29).62 Segundo Paulo, se um crente comprava a carne num açougue, ou se numa visita lhe fosse oferecida a carne, não era necessário averiguar se esta tinha sido oferecida aos ídolos (I Coríntios 10.25-27). O que mais lhe preocupava era que se considerasse e respeitasse a quem tivesse uma crença diferente. Segundo suas instruções, nestes casos era preferível não comer carne para não servir de tropeço ao irmão (I Coríntios 8.13; 10.28-29). (c) “O Que Contamina o Homem não é o que Entra pela Boca” – Mateus 15.11 Não é necessário ser um perito em exegese bíblica para perceber que Cristo está Se referindo aqui não à contaminação física e sim à contaminação espiritual do homem. Se realmente pudéssemos ingerir qualquer coisa, sem que isso prejudicasse o nosso organismo, então não haveria mais necessidade de conhecermos os princípios básicos de nutrição e higiene, de procurarmos consumir apenas os alimentos da melhor qualidade e de advertirmos os jovens a respeito dos malefícios das drogas.63 Nossa análise do texto acima transcrito deve, em alguns aspectos, seguir os mesmos princípios que utilizamos na interpretação de I Coríntios 10.25. Algumas questões precisam ser colocadas aqui: O que Jesus quis ensinar quando disse que “o que contamina o homem não é o que entra pela boca?” Será que Jesus está liberando o cristão para comer de tudo? Será que Ele, com estas palavras está ensinando que as leis dietéticas foram abolidas? 60 ALLEN, Clifton J. 1994, p. 410. 61 LOPES, Hernandes Dias. 2008, p. 163. 62 GONZALEZ, Lourenço. 1993, p. 440. 63 Disponível em: https://setimodia.wordpress.com/2010/06/01/como-podemos-entender-mateus-1510-20-ali-e-dito-que- %e2%80%9cnao-e-o-que-entra-pela-boca-o-que-contamina-o-homem%e2%80%9d-verso-11/
  • 29. 28 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Abstinência – O que a Bíblia ensina sobre as Leis Dietéticas Estabelecidas por Deus? Celso do Rozário Brasil Gonçalves O que revela o contexto imediato de Mateus 15.11? Vejamos o que dizem os versos 1 e 2: “Então, chegaram ao pé de Jesus uns escribas e fariseus de Jerusalém, dizendo: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem pão.” (ARC). Observamos que o texto não está tratando de doutrina, mas sim da “tradição dos anciãos”. A palavra grega referente à “tradição” que ocorre no texto é: παράδοσιν [paradosin] e significa “literalmente, ‘uma entrega’ ou ‘uma transferência’, por isso, ‘uma tradição’ que é transferida a outros oralmente ou por escrito. Como usado nos evangelhos, ‘paradosis’ se refere ao pesado fardo de regras orais rabínicas que haviam se desenvolvido em torno da Torah. As tradições dos doutores da lei eram o alvo específico dos ataques de Jesus sobre o sistema religioso judaico de Sua época. Em português, a palavra ‘tradição’ significa ‘transmissão oral [...] de geração em geração’.64 Como, na maioria das vezes, as tradições judaicas contrariavam a Lei de Deus ou anulavam os Seus mandamentos (Mateus 15.5,6) Jesus rechaçou tais ensinos baseados em mandamentos meramente humanos (Mateus 15.9). O que era a tradição dos anciãos? O evangelista Marcos explica com detalhes esta questão: E, vendo que alguns dos discípulos dele comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar (pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça, não comem sem se aspergirem; e há muitas outras coisas que receberam para observar, como a lavagem de copos, jarros e vasos de metal [e camas]), interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que não andam os teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar? (Marcos 7.2-5). O teólogo John MacArthur tece o seguinte comentário sobre este assunto: A tradição dos anciãos era um conjunto de leis extrabíblicas que existiam apenas em forma oral desde a época do cativeiro babilônico. Mais tarde, foram compiladas em forma escrita na Mishiná perto do fim do século 2°. A Lei de Moisés não continha nenhum mandamento sobre lavar as mãos antes das refeições, a não ser para os sacerdotes, de quem era pedido que lavassem as mãos antes de comer das ofertas sagradas (Levítico 22.6,7).65 O problema dos fariseus da época de Jesus consistia em querer impor para os judeus leis extrabíblicas como se fossem mandamentos de Deus. Jesus não aceitou esta atitude e mostrou que nenhuma tradição deve 64 NICHOL, Francis D. 2013, p. 679, vol. 5. 65 MACARTHUR, John. 2010, p. 1235.