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Alberto Caeiro

  1. 1. Eu Nunca Guardei Rebanhos
  2. 2. Alberto Caeiro <ul><li>Alberto Caeiro , o «mestre», em torno do qual se determinam os outros heterónimos, nasceu em Abril de 1889 em Lisboa, mas viveu grande parte da sua vida numa quinta no Ribatejo onde viria a conhecer Álvaro de Campos. A sua educação cingiu-se à instrução primária, o que combina com a simplicidade e naturalidade de que ele próprio se reclama. Louro, de olhos azuis, estatura média, um pouco mais baixo que Ricardo Reis, é dotado de uma aparência muito diferente dos outros dois heterónimos. É também frágil, embora não o aparente muito, e morreu, precocemente (tuberculoso), em 1915. O mestre é aquele de cuja biografia menos se ocupou Fernando Pessoa. A sua vida foram os seus poemas, como disse Ricardo Reis: « A vida de Caeiro não pode narrar-se pois que não há nela mais de que narrar. Seus poemas são o que houve nele de vida. Em tudo o mais não houve incidentes, nem há história ». Aparece a Fernando Pessoa no dia 8 de Março de 1914, de forma aparentemente não planeada, numa altura em que o poeta se debatia com a necessidade de ultrapassar o paúlismo, o subjectivismo e o misticismo. É nesse momento conflituoso que aparece, de rompante, uma voz que se ri desses misticismos, que reage contra o ocultismo, nega o transcendental, defendendo a sinceridade da produção poética, um ser manifestamente apologista da simplicidade, da serenidade e nitidez das coisas, um ser dotado de uma natureza positivo-materialista e que rejeita doutrinas e filosofias. </li></ul>
  3. 3. <ul><li>É este ser que no dia 8 de Março escreve de rajada 30 e tal poemas de O Guardador De Rebanhos . </li></ul><ul><li>Grande parte da produção poética de Ricardo Reis parece ter sido sempre escrita deste jeito impetuoso em momentos de súbita inspiração. A essa voz, Fernando Pessoa dá o nome de Alberto Caeiro. </li></ul><ul><li>Alberto Caeiro dá também voz ao paganismo. Segundo Fernando Pessoa, « A obra de Caeiro representa uma reconstrução integral do paganismo, na sua essência absoluta, tal como nem os gregos nem os romanos que viveram nele e por isso o não pensaram, o puderam fazer ». Apresenta-se como o poeta das sensações; a sua poesia sensacionista assenta na substituição do pensamento pela sensação (« Sou um guardador de rebanhos. / O rebanho é os meus pensamentos / E os meus pensamentos são todos sensações ».). Alberto Caeiro é o poeta da natureza, o poeta de atitude antimística (« Se quiserem que eu tenha um misticismo, está bem, tenho-o. / Sou místico, mas só com o corpo. / A minha alma é simples e não pensa. / O meu misticismo é não querer saber. / É viver e não pensar nisso »). </li></ul>
  4. 4. <ul><li>É o poeta do objectivismo absoluto. Ricardo Reis afirma que « Caeiro, no seu objectivismo total, ou, antes, na sua tendência constante para um objectivismo total, é frequentemente mais grego que os próprios gregos ». É também o poeta que repudia as filosofias quando escreve, por exemplo, que « Os poetas místicos são filósofos doentes / E os filósofos são homens doidos e que nega o mistério e o a busca do sentido íntimo das coisas: O único sentido íntimo das coisas / É elas não terem sentido íntimo nenhum. ». Fernando Pessoa deixou um texto em que explicita o valor de Caeiro e a mensagem que este poeta nos deixou e pode servir de base para a comprrensão da sua obra: « A um mundo mergulhado em diversos géneros de subjectivismo vem trazer o Objectivismo Absoluto, mais absoluto do que os objectivistas pagãos jamais tiveram. A um mundo ultracivilizado vem restituir a Natureza Absoluta. A um mundo afundado em humanitarismos, em problemas de operários, em sociedades éticas, em movimentos sociais, traz um desprezo absoluto pelo destino e pela vida do homem, o que, se pode considerar-se excessivo, é afinal natural para ele e um correctivo magnífico ». </li></ul>
  5. 5. Alberto Caeiro <ul><li>Alberto Caeiro é o mestre de Pessoa e dos outros heterónimos, dá especial importância ao acto de ver, mas é sobretudo inteligência que discorre sobre sensações. É o poeta da simplicidade completa a da clareza total, descreve o mundo sem pensar nele. </li></ul><ul><li>Apresenta-se como um simples guardador de rebanhos que só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade com a qual contacta a todo o momento. </li></ul><ul><li>Para Caeiro “pensar é estar doente dos olhos”, por isso pensa ouvindo e vendo, “pensar é não compreender”. </li></ul><ul><li>Alberto Caeiro é então um poeta de sensações, um sensacionista que só se importa com aquilo que vê. </li></ul><ul><li>“ A sensação é a única realidade para nós” </li></ul><ul><li>Este heterónimo de Fernando Pessoa considera que é necessário aprender a não pensar , libertando-se de tudo o que possa prender a apreensão da realidade limpa e concreta das coisas. Tem que se fazer uma “aprendizagem de desaprender”. </li></ul>
  6. 6.                                                                  Carta astral de Alberto Caeiro Carta Astral
  7. 7. Eu Nunca Guardei Rebanhos <ul><li>Eu nunca guardei rebanhos,   Mas é como se os guardasse.   Minha alma é como um pastor,   Conhece o vento e o sol   E anda pela mão das Estações    A seguir e a olhar.   Toda a paz da Natureza sem gente    Vem sentar-se a meu lado.   Mas eu fico triste como um pôr de sol    Para a nossa imaginação,   Quando esfria no fundo da planície    E se sente a noite entrada   Como uma borboleta pela janela.   </li></ul><ul><li>Mas a minha tristeza é sossego   Porque é natural e justa   E é o que deve estar na alma   Quando já pensa que existe   E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.   </li></ul>
  8. 8. <ul><li>Como um ruído de chocalhos   Para além da curva da estrada,   Os meus pensamentos são contentes.   Só tenho pena de saber que eles são contentes,   Porque, se o não soubesse,   Em vez de serem contentes e tristes,    Seriam alegres e contentes.   </li></ul><ul><li>Pensar incomoda como andar à chuva   Quando o vento cresce e parece que chove mais.   </li></ul><ul><li>Não tenho ambições nem desejos    Ser poeta não é uma ambição minha    É a minha maneira de estar sozinho.   </li></ul><ul><li>E se desejo às vezes   Por imaginar, ser cordeirinho    (Ou ser o rebanho todo   Para andar espalhado por toda a encosta   A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo), </li></ul>
  9. 9. <ul><li>É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,   Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz   E corre um silêncio pela erva fora.   </li></ul><ul><li>Quando me sento a escrever versos   Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,   Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,   Sinto um cajado nas mãos   E vejo um recorte de mim   No cimo dum outeiro,   Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,   Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,   E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz   E quer fingir que compreende.   </li></ul>
  10. 10. <ul><li>Saúdo todos os que me lerem,   Tirando-lhes o chapéu largo   Quando me vêem à minha porta   Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.   Saúdo-os e desejo-lhes sol,   E chuva, quando a chuva é precisa,   E que as suas casas tenham   Ao pé duma janela aberta   Uma cadeira predileta   Onde se sentem, lendo os meus versos.   E ao lerem os meus versos pensem   Que sou qualquer cousa natural —   Por exemplo, a árvore antiga   À sombra da qual quando crianças   Se sentavam com um baque, cansados de brincar,   E limpavam o suor da testa quente   Com a manga do bibe riscado. </li></ul>
  11. 11. Ideologia deste poema face ao lirismo de Pessoa e face ao drama da sua «dor de pensar». <ul><li>Caeiro surge-nos neste poema como o poeta da objectividade, do imediatismo das sensações: «Toda a paz da natureza sem gente/Vem sentar-se ao meu lado». O poeta deseja que os seus versos levem os leitores a imaginá-lo como uma coisa natural, como uma árvore, por exemplo á sombra da qual se sentavam, quando crianças, cansados de brincar… </li></ul><ul><li>O poeta apresenta-se como um pastor, o poeta da natureza, de olhos ingénuos sempre abertos para as coisas: «Minha alma é como um pastor,/…E anda pela mão das estações/A seguir e a olhar…/ e desejo ás vezes ser um cordeirinho, ou ser o rebanho de todos…». </li></ul><ul><li>Finalmente Caeiro apresenta-se como anti-metafísico, negando o valor ao pensamento: </li></ul><ul><li>Os meus versos são contentes. </li></ul><ul><li>Só tenho pena de saber que são contentes, </li></ul><ul><li>Porque se não o soubesse </li></ul><ul><li>Em vez de serem contentes e tristes </li></ul><ul><li>Seriam alegres e contentes. </li></ul>
  12. 12. <ul><li>O pensamento tem mesmo um valor negativo: se não pensasse os seus versos não teriam nada de tristeza, seriam apenas «alegres e contentes». </li></ul><ul><li>«Pensar incomoda como andar á chuva.» </li></ul><ul><li>Foi este incómodo de pensar que Fernando pessoa nunca conseguiu evitar. Já vimos como «a dor de pensar» sempre o torturou, inventado muitas saídas para o drama do seu «eu» dividido entre o real e o imaginário, entre o ser e o não ser. Todas as tentativas foram frustradas. </li></ul><ul><li>A tentativa mais radical de fugir á «dor de pensar» foi esta de transferir a sua alma para um poeta bucólico que olha e sente o mundo com a simplicidade com que uma criança olha uma flor. Mas nem assim o poeta consegue libertar-se da inteligência que vem sempre toldar a simples alegria de ver. </li></ul><ul><li>«Os meus pensamentos são contentes. / Só tenho pena de saber que são contentes», porque assim, ficam «contentes e tristes». </li></ul><ul><li>A plena felicidade exige não só o olhar simples de uma criança, mas também a sua inconsciência. </li></ul><ul><li>Não é apenas nisto que o sistema de Caeiro claudica. Como se pode ver, por exemplo, no poema V de «O guardador de rebanhos», o poeta não é capaz de dispensar nem o pensamento, nem o raciocínio, nem a inteligência, para nos convencer de que para ele há apenas sensações («Eu não tenho filosofia: tenho sentidos»). O que poderemos concluir é que o poeta, ao negar a metafísica, está a construir uma anti-metafísica. </li></ul>
  13. 13. <ul><li>De harmonia com um poema escrito por um poeta que se diz “guardador de rebanhos” , teoricamente com a cultura correspondente à de quem tenha feito apenas a 4ªclasse do ensino primário, a linguagem é simples, nunca ultrapassando os limites da norma. </li></ul><ul><li>Reflectem a ingenuidade de um camponês certas expressões, como: «Minha alma é como um pastor…/E anda pela mão das estações / A seguir e a olhar»; «Como um ruído de chocalhos / Os meus pensamentos são contentes»; «E se desejo às vezes / …ser cordeirinho / Ou ser o rebanho todo…»; »quando uma nuvem passa a mão por cima da luz»; «..corre um silêncio pela erva fora» (pleonasmo); «Escrevo os versos num papel que é o meu pensamento»; «…sou… a árvore antiga…». </li></ul><ul><li>O interessante (ou o contraditório) é que algumas das expressões citadas, não obstante reflectirem a ingenuidade campestre, contêm comparações, personificações e metáforas. Começamos então a ver sinais de contradição no discurso deste poeta que se pretende de linguagem nítida como o seu «0olhar nítido como um girassol». Mas o cerne da contradição está em que, como observa J. A. Seabra, «o poeta se visualiza a si mesmo em termos metafóricos: um pastor, de cajado na mão; guardando o seu rebanho. Caeiro é então, como os outros heterónimos, um poeta metáfora». </li></ul>Linguagem e Estilo
  14. 14. <ul><li>Na realidade, a metáfora não está ausente deste poema. Assim: o poeta escreve versos num «papel« que é o seu «pensamento» e olhando para os seus «pensamentos» vê os eu «rebanho», donde se conclui que o rebanho é os seus pensamentos (as sua ideias) e vice-versa. O quiasma (cruzamento simétrico de rebanho-pensamento, pensamento-rebanho9 acentua a expressividade da metáfora. </li></ul><ul><li>Examinemos algumas comparações, que embora de grande simplicidade e reflectindo uma certa cor local, campestre, obedecendo a uma preocupação de objectividade, não deixam de conferir uma expressiva visualidade e impressionismo literário ao texto: «…é como se os guardasse», «minha alma é como um pastor», «triste como um pôr-do-sol», «a noite entrada / Como uma borboleta pela janela», «Pensar incomoda como andar á chuva», «sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz…». </li></ul><ul><li>Apesar de Caeiro não querer fazer literatura (ser poeta não é uma ambição minha), a verdade é que há literatura, há expressividade literária neste texto. E isto está em contradição com o que o poeta afirma noutro poema: «Penso e escrevo como as flores têm cor / E a minha poesia é natural como levantar-se o vento…». </li></ul>
  15. 15. <ul><li>O tempo verbal dominante é o presente, a assinalar as sensações ocasionais do poeta, é o presente durativo que situa o poeta no momento em que vive, sem pensar nem no passado, nem no futuro. O gerúndio é também frequente, exprimindo a simultaneidade e o fluir das sensações: «passeando», «olhando», «vendo», «sorrindo» (de notar que predomina os verbos sensitivos). </li></ul><ul><li>As frase são ligadas quase sempre por coordenação, processo de harmonia com o deslizar, ou o desfiar de factos sensitivos que o poeta vai enumerando, sem pretender equacioná-los com relações de causalidade, tempo, consequência, ou condição. </li></ul><ul><li>A irregularidade dos versos, o seu desmedido tamanho, estão também de acordo com o ritmo tranquilo da Natureza, que está dentro do poeta. </li></ul><ul><li>Parece-nos perspicaz a relacionalização entre estilo e ideologia em Pessoa ortónimo e Caeiro feita por Georges Guntert. Os poemas de Pessoa abundam em orações subordinadas, ao passo que, como vimos, nos de Caeiro predomina a coordenação. É que, enquanto Caeiro exprime a sua relação directa com a natureza, com o mundo real, revendo-se claramente a clareza das coisas («o meu olhar é nítido como um girassol»), Pessoa ele mesmo «é um novelo embrulhado para o lado de dentro», que nunca conseguiu harmonizar o seu «eu» com o mundo, o sujeito com o objecto. </li></ul>
  16. 16. <ul><li>Daí o seu recurso frequente à subordinação, que corresponde à necessidade psicológica de se explicar, recorrendo a orações subordinadas (causais, finais, etc.). </li></ul><ul><li>A subordinação poucas vezes aparece nos poemas de Caeiro e, quando aparece, é para justificar, ou confirmar a sua sintonia com a natureza: «Mas a minha tristeza é sossego / Porque é natural e justa». O poeta aceita a dor porque é natural e tudo o que é natural é justo. </li></ul>
  17. 17. Escola Secundária Padre benjamim Salgado Ano lectivo: 2006/07 <ul><li>Realizado por: </li></ul><ul><li>Cristiana Coelho </li></ul><ul><li>Juliana Costa </li></ul><ul><li>Liliana Ribeiro </li></ul><ul><li>Tânia Gomes </li></ul>Alberto caeiro 12º K

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