2. Os heterônimos são concebidos
como individualidades distintas
da do autor, este criou-lhes uma
biografia e até um horóscopo
próprios. Encontram-se ligados a
alguns dos problemas centrais
da sua obra: a unidade ou a
pluralidade do eu, a sinceridade,
a noção de realidade e a
estranheza da existência.
3. Traduzem a consciência da fragmentação do
eu, reduzindo o eu “real” de Pessoa a um
papel que não é maior que o de qualquer
um dos seus heterônimos na existência
literária do poeta. São a mentalização de
certas emoções e perspectivas, a sua
representação irônica. De entre os vários
heterônimos de Pessoa destacam-se:
Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de
Campos.
4.
5. Alberto Caeiro nasceu em
Lisboa, em 1889 e morreu em
1915, mas viveu quase toda a
sua vida no campo, com uma
tia-avó idosa, porque tinha
ficado órfão de pais cedo.
Como educação, apenas tinha
tirado a instrução primária e
não tinha profissão.
6. Como surgiu Alberto Caiero?
Conta o próprio Fernando Pessoa que “se
lembrou um dia de fazer uma partida a Sá-
Carneiro — de inventar um poeta bucólico, de
espécie complicada, e apresentar-lho, já me
não lembro como, em qualquer espécie de
realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta
mas nada consegui. Num dia em que
finalmente desistira — foi em 8 de Março de
1914 — acerquei-me de uma cômoda alta, e,
tomando um papel, comecei a escrever, de pé,
como escrevo sempre que posso.
7. E escrevi trinta e tantos poemas a
fio, numa espécie de êxtase cuja
natureza não conseguirei definir. Foi o
dia triunfal da minha vida, e nunca
poderei ter outro assim. Abri com um
título, O Guardador de Rebanhos. E o
que se seguiu foi o aparecimento de
alguém em mim, a quem dei desde logo
o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me
o absurdo da frase: aparecera em mim
o meu mestre. Foi essa a sensação
imediata que tive.”
8. Quando Fernando Pessoa escreve em
nome de Caeiro, diz que o faz “por
pura e inesperada inspiração, sem
saber ou sequer calcular que iria
escrever.”
9. Características físicas de Alberto
Caeiro
Estatura média;
Frágil;
Louro quase sem cor;
Olhos Azuis;
Cara Raspada;
10. Motivos temáticos da poesia de Alberto
Caiero
A postura Antimetafísica:
•Recusa do pensamento;
•Rejeição do social (artificial).
A atitude sensacionalista:
•Sobrevalorização das sensações;
•Importância atribuída à visão.
A defesa do objetivismo:
•Observação objetivo do mundo;
•Negação de atitudes de análise e interpretação.
A comunhão com a natureza:
•Integração na natureza;
•Identificação com os elementos naturais;
•Poesia deambulatória.
11. O paganismo e o panteísmo naturalista:
•Existência material como única verdade das coisas;
•Presença da divindade no mundo;
•Relação intrínseca com a natureza.
A vivência calma e pacífica:
•Aceitação exclusiva do presente (passado e futuro como
conceitos elaborados).
A contradição entre a teoria e prática:
•Poesia pensada e trabalhada;
•Disfarçada simplicidade.
12. O guardador de rebanhos
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
13. Creio no mundo como num
malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso
nele
Porque pensar é não
compreender...
O Mundo não se fez para
pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e
estarmos de acordo...
14. Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que
ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Alberto Caeiro